ReCria #7

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Apontando sentidos

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- 1666: o ano da besta

Segundo a tradição cristã, o núme-

ro “666” é o número da besta, re-

ferente à marca que o inimigo das

almas humanas portaria no fim dos

tempos.: O passar dos anos levou a

humanidade a um fato inevitável) a

chegada do ano 1666 (assim como

também houve o ano 666, mas isso

é outra história). Com base nes-

se princípio, os europeus cristãos

aguardavam o “ano da besta” com

grande pavor. Em 1665, uma praga

dizimou 100 mil pessoas no conti-

nente europeu (1/5 da população

de Londres) deixando uma expec-

tativa ainda mais pessimista para o

ano que viria. No dia 2 de setem-

bro de 1666, um incêndio que se

inciou em uma padaria, durou três

dias inteiros e destruiu grande parte

da cidade de Londres. Apesar de se

pregar que o fim do mundo chega-

ria nesse ano, o mais próximo que

se teve disso foi o enorme estrago

gerado na antiga Catedral de São

Paulo (St Paul’s Cathedral), terceira

maior da Europa; fato trágico para o

patrimônio cultural europeu.

O início do mundo. Assunto polêmico e instigante que tem movido a curiosidade de várias pessoas durante

centenas de anos Prova disso são as várias teorias desenvolvidas sobre a origem do planeta, por volta

de 4,56 bilhões de anos atrás, e sobre as ousadas formas de vida que o habitam há aproximadamente

195 mil anos; dados estipulados com a mesma ousadia.

O que bibliografias científicas, livros sagrados e documentários maçantes do Discovery Channel possuem em

comum nesse aspecto é que buscam mostrar como e quando se deu um evento passado: a origem da Terra. Temos

certeza de que nosso planeta existe e mais certeza ainda de que essas várias teorias, apesar de interessantes, não

alteram o fato de ele já existir. Com base nesse pensamento e em outro que encontrei um livro de auto ajuda que diz

que “não se pode mudar o passado, mas sim, procurar escrever o futuro”.

Assim, me ocorreu o quão interessante seria se fizéssemos o caminho inverso e especulássemos sobre como

seria o fim do nosso Planeta Azul - afinal, a certeza que temos da origem de algo vem acompanhada da certeza de

seu fim (Não retirei esse pensamento do meu livro de auto ajuda, se é o que está pensando. Ou talvez tenha retirado

sim...). No entanto, não seria de mesmo fascínio procurar apenas por teorias sobre o fim do mundo. Os efeitos que as

teorias sobre a origem do mundo têm sobre nós seriam os mesmos das teorias sobre o seu fim? Os oito aconteci-

mentos a seguir ajudarão a responder essa questão.

TEORIAS DO FIM ReCria7 PONTO

Texto: Larissa Souza - Arte: Helena A. Araújo

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- 1844: a volta de Cristo segundo

William Miller

A fé cristã diz que Jesus virá à Terra

pela segunda vez e buscará aqueles

que n’Ele creem para desfrutarem

da vida eterna nas dependências

celestiais. O pastor americano ad-

ventista William Miller, (Guilherme

Miller para seus seguidores brasi-

leiros), apesar de cristão, ignorou a

passagem bíblica de Mateus 25:13

“Portanto, vigiai, pois não sabeis

o dia, tampouco a hora em que o

Filho do homem chegará.” E deci-

diu prever por si mesmo uma data

para a volta de Cristo. Cristo deveria

voltar à Terra entre as primaveras de

1843 e 1844. Os palpites de Miller

foram amplamente divulgados, e

aproximadamente 100 mil segui-

dores venderam tudo o que tinham

e se dirigiram para as montanhas a

fim de esperar a vinda de Jesus, que

antecederia o fim do mundo. A tão

aguardada “data limite” para a volta

de Cristo chegou, os fiéis seguido-

res de William Miller aguardaram

ansiosos e não viram nada aconte-

cer. O pastor alegou ter se confun-

dido em seus complexos cálculos

e arriscou-se a marcar uma nova

data para o grande fim: 22 de ou-

tubro de 1844. A nova data também

foi um fiasco e entrou para a história

dos Estados Unidos como o Dia da

Grande Decepção. O resultado foi

a desilusão de milhares de fiéis e a

expulsão de Miller e sua família da

denominação batista.

- 1978: O suicídio em massa de

Jim Jones

James Warren Jones (ou apenas

Jim Jones), filho de um membro

da Ku Klux Klan, nasceu nos Estados

Unidos em 1931 e foi fundador da

Igreja “Templo dos Povos” (People’s

Temple) em São Francisco. Jones

estudou em um seminário meto-

dista, do qual foi expulso por con-

denar a segregação racial existente

em seu país. Com o passar do tem-

po Jim Jones foi expandindo sua

seita, tendo em meados de 1970

aproximadamente três mil adeptos,

grande parte afro-americanos. Mais

adiante, Jim Jones fundou a “Jo-

nestown”, uma colônia localizada

na Guiana Inglesa na América do

Sul, sucursal do Templo dos Povos.

A comunidade era isenta de tributa-

ção e recebia endosso da mídia lo-

cal e estadunidense. O radicalismo

religioso de Jones, que afirmava ser

a encarnação de Jesus Cristo, Buda

e Gandhi, era tamanho que em 18

de novembro de 1978, mais de 900

pessoas entre crianças e adultos

morreram em um suicídio coletivo,

induzidas a beber poções mortais

de cianureto. As que se recusaram a

beber as poções foram executadas

com tiros ou com injeções letais. O

corpo de Jim Jones foi encontrado

em sua colônia com um tiro. A tra-

gédia acarretou na maior perda de

civis americanos até os ataques de

11 de setembro.

- 1914,1925 e 1975: Os fins do mundo

das Testemunhas de Jeová

Em 1876, Charles T. Russell, funda-

dor da seita “Testemunhas de Jeová”

nos Estados Unidos, apontou o ano

de 1914 como sendo o momento

do “Fim dos tempos dos gentios”

ou “Armagedom”, que segundo a

crença, será quando o reino global

de Cristo na Terra será estabeleci-

do. No entanto, o mais próximo do

fim que o mundo chegou naquele

tempo foi a Primeira Grande Guer-

ra, que mesmo sem previsão, se

aproximou e muito da destruição

do planeta. Mais tarde, em um dis-

curso realizado na cidade de Nova

York em 1920, Joseph Franklin Ru-

therford, sucessor de Russel no co-

mando das Testemunhas de Jeová,

declarou que o ano de 1925 seria de

fato o do aguardado fim dos tem-

pos. A previsão de Rutherford tam-

bém não teve muita sorte. Dessa

vez, houve drástica queda na assi-

duidade dos fiéis. Ainda assim, 1975

foi o novo ano para o Armagedom

das Testemunhas de Jeová. Seria

o ano em que a vida humana, se-

gundo eles, completaria 6.000 anos

desde a criação de Adão. Mais uma

data em que o mundo não viu nada

além de expectativas frustradas.

ReCria7

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- 2000: A virada do milênio

A chegada do novo milênio trou-

xe consigo especulações sobre o

fim do mundo. Os motivos para tal

preocupação, apesar de pouquíssi-

mo plausíveis, amedrontaram muita

gente. Os computadores existentes

até então só reconheciam anos in-

dicados por meio de dois números.

Dessa forma, com a virada do mi-

lênio, todos os computadores da

rede mundial entrariam em pane

por deduzirem que o mundo havia

voltado ao ano de 1900, difundindo

o caos por todo o planeta. Além de

prováveis erros técnicos em alguns

sistemas operacionais, nenhum

caos cibernético atingiu a Terra

naquele ano. Porém, havia outra

previsão para o fim do mundo em

2000. Richard Noone, autor do livro

“5/5/2000 Ice: The Ultimate Disas-

ter” (“Gelo: o desastre final”), argu-

mentou em sua obra que o gelo da

Antártida teria 5 km de espessura no

dia 5 de maio de 2000, devido a um

alinhamento planetário e tempesta-

des solares. O livro foi um sucesso

de vendas, mas o mundo permane-

ceu sem maiores catástrofes.

- 2012: Teoria maia

O filme “2012”, dirigido por Roland

Emmerich, mostra a teoria maia

sobre o fim do mundo. 21/12/2012

é a data em que finda o calendário

Maia. Com esse fato, são previstos

vários acontecimentos desastrosos

em nosso planeta. Por sorte, assisti

o filme apenas em 2013, comemo-

rando o engano dos maias.

O ponto final que o nosso pla-

neta terá é incerto para todos nós.

Mas até lá, não faltam teorias e gen-

te para acreditar nelas. E você, tem

alguma?

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Avenida Álvares Cabral,

Belo Horizonte. Várias

pessoas esperam pelo

ônibus em uma das paradas mais

movimentadas da Savassi. Alguns

olhares curiosos encontram os títu-

los de obras literárias dispostas em

uma estrutura transparente na cal-

çada. É o Ponto do Livro, iniciativa

que promove a leitura e o intercâm-

bio de livros entre as pessoas.

Inspirado na Parada do Livro

de São Paulo, o Ponto do Livro che-

gou a Belo Horizonte em janeiro de

2014 devido ao interesse dos cole-

tivos We Love, Feira Grátis da Gra-

tidão e Desestressa BH em adaptar

o projeto para a capital mineira. A

ideia é simples: são fixadas estru-

turas nos pontos de ônibus que

abrigam livros de todos os gêneros

e gostos. Qualquer pessoa pode ler

enquanto aguarda a condução e

até mesmo levar o exemplar para

casa, sem necessidade de cadastro

ou prazo de devolução.

O primeiro Ponto do Livro foi

inaugurado na Praça da Liberdade,

diante da fachada do Centro Cultu-

ral Banco do Brasil. Não demorou

muito para que mais um surgisse do

lado oposto da praça e um terceiro

fosse instalado na Avenida Álvares

Cabral, em frente ao número 1881.

Desde então, o movimento tem

crescido e ganhado a simpatia dos

belo-horizontinos.

Administrar o Ponto do Livro

não é tarefa fácil, mas a dedica-

ção dos colaboradores do projeto

mantém o sonho de pé apesar das

dificuldades enfrentadas, como a

degradação das estruturas e a logís-

tica da manutenção, além da falta

de financiamento. A gestão do Pon-

to atualmente é responsabilidade

de três voluntários, que repõem as

estruturas com novos livros todos

os dias. Cada ponto recebe treze

exemplares pela manhã e em pou-

cas horas já é difícil encontrar as “es-

tantes” completamente abastecidas,

tamanho o engajamento do públi-

co com a iniciativa. Calcula-se que

Como um projeto de incentivo à leitura tem transformado pontos de ônibus em bibliotecas móveis

ReCria7 PONTO

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mais de 7 mil livros já circu-

laram pelo Ponto do Livro, fora as

doações feitas diretamente nas pa-

radas de ônibus.

Para sustentar o acervo e ga-

rantir a reposição diária dos livros, o

Ponto recebe doações individuais e

de bibliotecas e organiza mutirões

para a arrecadação de exemplares.

Este espírito colaborativo é o que

motiva o desenvolvimento do pro-

jeto. O sucesso do Ponto do Livro

ultrapassa os limites de Belo Hori-

zonte e chegou ao Rio de Janeiro e

a Patos de Minas, com previsão de

expandir para outras cidades con-

forme as parcerias forem firmadas.

A ideia é levar a intervenção para

onde quer que haja disposição e

interesse em recebêla, desde que

sejam atendidos alguns critérios

para o estabelecimento dessas

“franquias”.

Mais do que facilitar o acesso

da população aos benefícios in-

questionáveis da leitura, movimen-

tos como este são uma manifesta-

ção de gentileza nas ruas da cidade

e sobrevivem graças à confiança de

seus idealizadores e ao amor com

que o trabalho é desempenhado.

O poder da literatura é aliado à for-

ça das mobilizações urbanas para

transformar vidas e nos mostrar o

que costuma passar despercebido

na correria da cidade: cabem mui-

tas histórias em um ponto.

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ReCria7

Uma lágrima que escorre pelo rosto. Um dia que se vai pelo horizonte finito. Uma noite que chega mais escura que os sonhos. Um rastro de dor pelo caminho. Não sei mais o que é alegria ou o que é riso. Não lembro mais o que é verdade e o que é mentira. Quem me dera eu tivesse uma dose extra de dopamina. As angústias não se vão junto com as semanas. Os pensamentos perturbam, ardem como chamas. E meu Eu se esvanece como a neblina. Se um dia eu irei parar de me questionar sobre o mundo, não posso afirmar. As dúvidas me caçam, me prendem, me deixam sem ar. Não há onde se esconder. Nas manhãs, vago pelas ruas lembrando do que foi dito. Do que foi sentido. Daquilo que foi prometido. O céu se enche de nuvens, a vida se acaba em cinza. O amanhã parece distante. Quando olho para cima, vejo lágrimas dos anjos. Eles choram por mim. Choram pelo fim. Os sentidos se perdem na realidade avassaladora. O que é real? Longe de serem respondidas, as interrogações mudam meus rumos, mantêm- me perto do que é inseguro. Deixam -me preso no que era para ser entendido como um fim. Elas me derrubam. O que pensar, como pen-sar, se pensar. Não pensar. Não se questionar. Aceitar. Durante a noite sento- me e enxugo o que restou de minhas lágrimas. Não há mais nada a ser tirado. Não há mais nada a ser revelado. As respostas flutuam como as estrelas, inalcançáveis como as galáxias Parece -me que elas não podem descer. E o sol vai sumindo novamente, junto com meu coração. O breu vem acompanhado do medo. E o medo me traz mais dúvidas.Não há um fim, afinal de contas. Não há um fim para aquilo que chamo de dor. Observo o horizonte, e vejo que você não se vai. Grito!

Cinzas

Por: Leonardo GalesiA r t e : P e d r o B e z z i

Exclamação eInterrogação

PONTO

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ser e como que quero fazer. A distân-cia me trouxe certezas e uma calmaria jamais imaginada. Trouxe -me um eu, um vocês e um eles/elas. Trouxe- me todos os possíveis sujeitos de uma frase bem finalizada. As três pessoas do singular, as três do plural. Mas o nós pode ser res-saltado. O nós que me deixa em vocês, o vocês que se torna um eu. E como é bom falar em alto tom sobre o que eu amo aqui. E como é bom. E como vale a pena esperar, e lutar, e não desistir. É com esse sorriso que me vejo todos os dias no espelho. É com essa vontade de sempre em frente continuar. São as certezas perdidas que foram finalmen-te encontradas. Os meus olhos brilham como o sol que nunca nos deixará. A cada abraço, a saudade diminui um pouco. A cada sorriso conjunto, um nós para sempre marcado no tempo. Se pudesse, voltaria para ver eu e você, e a gente, rindo, parados no exato lugar de antes. Sei que estaremos nós em uma mesma sentença, pronta para ser re-escrita e para ter seus verbos trocados de lugar. O que, então, estaria por vir?

GramaticÁlia

A saudade às vezes aperta. Perco -me um pouco na hora de saber a quem recorrer. Porém, sei que sozinho não estou. Os abraços surgem tão naturais quanto a neve no inverno. O amor nas-ce e renasce. E a felicidade torna -se algo palpável de novo. Exclamo a vontade de estar aqui. Os momentos difíceis foram, afinal, deixados para trás. Um passa-do a não ser relembrado. Ou melhor, a ser relembrado, pois já foi superado. Grandes coisas. Pequenas coisas. Sentimentos. Uma experiência nova por dia. É isso que me move. Move -nos, pessoas em sintonia. Ninguém diria que um Adia eu estaria aqui. As lembranças fluem de um jeito nunca antes percebi-do. As memórias se reconstroem como se fossem momentos futuros presos em um passado recente. Aquilo que está por vir na verdade já foi. Sinto -me em um lugar conhecido. Sinto- me com pessoas de anos. Sinto. E sentir me faz sorrir. E sorrir me faz querer mais. Nova-mente, exclamo a vida. Posso eu pensar que um dia me arrependerei de algu-mas coisas feitas e ditas. Mas, por agora, me sinto bem. Bem com quem quero

Gramaticália

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Texto: Milena Breder Arte: Isabella Mello

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Ciente da impor-

tância de visitar os

pontos turísticos

da minha nova cidade, decidi

explorar tudo que parecia in-

teressante, independente das

atrações serem listadas ou

não em guias e sites especia-

lizados em viagem. Nos meus

primeiros dias como forasteira

em BH, comecei minha própria

“expedição de reconhecimen-

to”, saindo da praça da Estação

sem rumo específico. Subindo

a Rua da Bahia, dá pra brincar

de adivinhar a idade de algu-

mas construções cujo estilo

se destaca entre a arquitetura

moderna do centro. E por falar

em construções históricas, foi

nessas andanças que descobri

a Praça da Liberdade, comple-

xo paisagístico e arquitetônico

inicialmente idealizado para

integrar a sede do governo de

Minas, mas que agora cumpre

o papel de ser o maior ponto

de encontro de arte, cultura,

turismo, esporte e lazer em

Belo Horizonte.

Belo Horizonte é conhecida como a capita l dos bares , mas não foi isso que chamou minha

atenção quando me mudei pra cá. Tampouco foram os prédios , a agitação e os shoppings motivo

da minha empolgação em começar uma outra v ida longe de casa. O que me encanta até hoje é

a possibi l idade de descobrir as histór ias escondidas em cada esquina e escrever uma totalmente

nova a part i r da exper iência . A cidade oferece ínumeras a l ternat ivas de lazer, tanto para os belo-

horizont inos quanto para quem está só de passagem. A l i á s , q u e m p e n s a q u e t u r i s m o é s ó p ra

q u e m é d e fo ra n ã o s a b e o que es tá pe rdendo .

Conhecendoa LiberdadeTexto: Milena Breder Arte: Isabella Mello

ReCria7 PONTO

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ReCria7

A história da Praça da

Liberdade se confunde com a

história de BH. Construído no

final do século XIX, o lugar já

foi palco de inúmeros even-

tos e manifestações de todo

tipo, como da Feira Hippie,

que acontecia na praça até

1991. Aos poucos, o potencial

turístico do local recebeu in-

vestimentos e os antigos pré-

dios das secretarias do Estado

passaram a abrigar instituições

culturais que deram nova vida

ao entorno dos jardins inspira-

dos em Versalhes.

O que se vê na praça é uma

mistura de tudo: gente correndo,

gente escrevendo, gente tirando

foto, gente fazendo música. Ca-

chorros que passeiam com os do-

nos, senhoras se escondendo do

sol debaixo de suas sombrinhas,

escolas em excursão com os alu-

nos. Chafarizes, palmeiras imperiais,

coreto, bancos e postes de luz que

guardam segredos de gerações.

E ao redor disso tudo, edifícios no

estilo barroco, clássico, moderno,

neoclássico e pós-moderno con-

centram alguns dos pontos turís-

ticos mais interessantes da capital

mineira.

O Circuito Cultural Praça da

Liberdade foi inaugurado em 2010

com o objetivo de reunir atrações

que dialogam com a cultura local

e tornar estes pontos acessíveis ao

público. Vários museus, centros de

formação e espaços culturais fazem

parte do circuito, além do Palácio da

Liberdade e outros recintos em pro-

cesso de implantação. Localizadas

na Praça da Liberdade e em suas

proximidades, todas as paradas têm

entrada gratuita. Dá para conhecer

cada lugar aos pouquinhos ou ver

tudo de uma vez – sim, é possível

visitar todos os espaços no mesmo

dia, basta ter disposição e curiosi-

dade de sobra. Chame os amigos e

programe um passeio, ou se prefe-

rir, vá sozinho e sinta-se inspirado

pela diversidade da programação

da atmosfera da praça, tão contras-

tante com a correria do cotidiano.

Aqui vão algumas dicas sobre os

lugares que você pode visitar:

Memorial Minas Gerais Vale

Centro Cultural Banco do Brasil

Como o nome indica, o mu-

seu é um memorial à história de

Minas Gerais e a artistas mineiros

como Guimarães Rosa, Sebastião

Salgado e Carlos Drummond de

Andrade. São três andares de ga-

lerias interativas no local, que foi

construído em 1897 sobre a pedra

fundamental de Belo Horizonte.

Uma overdose de história para você

se apaixonar ainda mais por Minas.

Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa

O imponente prédio amarelo

conta mais de oito mil metros qua-

drados abertos ao público e possui

programação diversificada, como

exposições de arte e apresentações

de música, dança, teatro e artes vi-

suais. No interior do CCBB, as salas

e galerias conversam com o estilo

requintado da fachada. Não deixe

de ver os cafés localizados no pátio.

Assim como o Edifício Nie-

meyer, que fica do outro lado da

praça, o prédio da Biblioteca Pública

foi projetado pelo célebre arquiteto

e dispõe de aproximadamente 200

mil títulos em seu acervo. A Biblio-

teca Pública Estadual Luiz de Bessa

também oferece cursos, palestras

e oficinas, além de dispor de salas,

galerias de arte e um teatro com ca-

pacidade para 200 pessoas.

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Para fechar o tour com chave

de ouro, o Palácio da Liberdade é

para onde toda a estrutura da praça

converge. O prédio de três andares

já serviu de casa para os governa-

dores do estado e funcionou como

sede do governo até a transferência

desta para a Cidade Administrati-

va. São tantos detalhes no interior

do palácio que é quase impossível

não pensar que os candelabros,

mobília, escadarias, janelas e até o

papel de parede são de uma osten-

tação fora do normal. A visita guiada

dura aproximadamente uma hora e

é uma ótima oportunidade para

aprender (e esquecer logo depois)

a diferença entre os estilos Luís XV

e Luís XVI.

Museu das Minas e do Metal

Confesso que este foi o que

eu menos tive vontade de ver, mas

fiquei surpresa: é muito mais legal

do que parece. O museu combina

mineração, metal e arte, tabela peri-

ódica e Xica da Silva, pedras precio-

sas e softwares que ajudam a gente

a entender o que realmente signi-

ficou o período mais lucrativo da

Coroa Portuguesa nas Minas Gerais.

Museu Mineiro

Espaço do Conhecimento UFMG

dernas e dinâmicas e pelo me-

nos uma vez por semana aconte-

cem sessões de observação com

telescópios. Alunos de escolas e

universidades públicas entram gra-

tuitamente no planetário, cujos in-

gressos são vendidos à parte (R$6 a

inteira e R$3 a meia).

Se você gosta de arte sacra,

saiba que o Museu Mineiro está

bem mais perto do que as cidades

históricas. Embora o acervo não

seja tão rico quanto o de Ouro

Preto, por exemplo, estão expostas

várias peças de períodos diferentes.

O museu foi instalado em uma casa

tão antiga quanto a própria BH, lo-

calizada na Avenida João Pinheiro.

Destaque para o restaurante anexo

com cadeiras coloridas dignas de

foto.

Palácio da Liberdade

Inaugurado em parceria da

TIM com a Universidade Federal

de Minas Gerais, o espaço funciona

como um grande centro interativo,

abordando temáticas como a ori-

gem do universo a partir de diversas

perspectivas. A exposição principal

reúne aspectos distintos da ação

do homem no mundo, mas o que

realmente atrai o visitante é a pos-

sibilidade de conhecer as estrelas,

graças ao planetário e ao terraço

astronômico localizados no quin-

to andar. Os mistérios do céu são

revelados em apresentações mo-

Estar em BH e não aproveitar

a cultura pulsante de pontos turís-

ticos como a Praça da Liberdade e

espaços adjacentes é aprisionar-se

deliberadamente. Há tanta beleza

espalhada pelas ruas que a gente

até se acostuma e custa a enxergar

o belo horizonte por trás da rotina

e do concreto. Ouse ser livre. Co-

nhecer a cidade com outros olhos é

mais uma forma de viajar.

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ReCria7 PONTO

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Fim do expediente. As ruas faziam frestas nos quarteirões. Via o por do sol com gosto de baunilha e morango. Ofegava à medida que passava e pesava e pisava e pousava de novo os pés sedentários na ladeira. Sede por fim. Aquietou-se no ponto. Reparou o relógio e estava ainda cedo. Parou o relógio e quase sorriu. Não lhe importavam quantos minutos desde a última hora inteira. Olhou as árvores sobre o lado do céu em que o sol não se punha. Permanecia céu. Contou três árvores e dois sorrisos antes que o ônibus chegasse. Mal tinha espaço. Carregou-se em pé por mais três pontos. Ima-ginou que as pessoas voluntariamente houves-sem desistido do ônibus e preferido perseguir o sol. Talvez não. Sentou-se à janela. Ele e o banco vago. Pela janela não achou nem o sol nem o terceiro sorriso. Uma descida e dois quartei-rões. Ponto. Um uniforme de colégio roubou-lhe o banco vago. Ele a perce-bia com o canto do olho. Despreocupou-se com a música e agora a decifrava. Tentava. Passou a igreja e ele fez o sinal da cruz. Ela tirou um caderninho e um lápis ou uma caneta. Aguar-dou talvez a inspiração lotar-lhe e lançou riscos

na folha. Do canto do olho não dava pra ler. Cogitou lhe conversar. Não. Recan-tou o trecho da música e voltou a contar árvores. Os riscos ao lado seguiam. Cogitou lhe conversar. Não. Talvez. Contorno. 6800.Perguntou-lhe se o movi-mento não incomodava sua escrita. Só quando eu leio. Quis saber se estu-dava eu só escrevia. Ado-ro escrever. Também. Seu rosto era mistura de arte e catarse. Como um diário escrito em porcelana. Mais perguntas vazias. Respos-tas bonitas. Ele não tinha coragem para ler. Mantinha os olhos escapando aos riscos. Gosto de escrever poesia. Eu amo. Perguntou sobre o que escrevia. Espe-rou que ela oferecesse uma leitura. Recolheu as pági-nas. Perguntou se podia lê-las. É coisa minha. Por isso mesmo. Tenho vergo-nha. Ele esperou. Agora só encontrou a arte no seu rosto. Calculou se insistia.Quis saber por que não. Ouviu só o trecho boni-to do Coldplay que pre-encheu a não-resposta dela. Eu desço no próximo ponto. Não vai voltar a me ver. Franziu o rosto e sor-riu que deixasse. E ela lhe estendeu o papel sem pauta.Ele foi lendo a sua poesia-travesseiro. Versos confortáveis. Ritmo de so-

nho. Palavras de bênção. Rima de vez em quando. Falava de histórias. Con-testava pontuações. Queria os pontos finais abrindo as frases em vez de fechá-las. Há ainda muito depois que se diz que acaba. Desnecessário guilhotinar uma história ou uma declaração de amor com um ponto final. Por isso poesia. Soprava um verso e logo descia. Antes que ele pudesse se pontuar ou virgular. Neologizava sem ser preciso. Era música instrumental ao direito e ao avesso. Era tranquilo. Era autêntico. Era nuvem unigênita em céu uniforme azul. Era muita baunilha e muito morango. Era maravilhoso e ele provavelmente ja ia se apaixonar. Ponto.

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Você conhece uma menina. Ela conhece um cara que tem um amigo

que é primo de uma amiga sua. Parece loucura isso, mas essa teia

de relações é mais comum do que pensamos. Quem nunca passou

por aquela embaraçosa situação de comentar algo sobre uma pessoa com

alguém, que acaba por ser parente da dita cuja? Por mais que nos conside-

remos um ponto no espaço, agora, mais do que nunca, temos que nos ver

envolvidos numa teia de constelações.

Devaneios à parte, esse é um

pensamento já antigo, e até do

campo da psicologia. A teoria dos

seis graus de separação tenta pro-

var, desde 1929 (!!!), que o mundo

é essa rede e que estaríamos todos

conectados a qualquer pessoa do

planeta através de uma corrente de

contatos que tem, no máximo, seis

componentes. Ou seja, pode pegar

sua árvore genealógica e o nome

de todas as suas pessoas conheci-

das: vamos procurar o grau de se-

paração entre você e o Obama!

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SERÁ QUETe Conheco?

Texto: Mariana Franco - Arte: Helena A. Araújo

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Ok, vamos com calma com

essas conexões. Por causa dessas

fantasias, esse estudo acabou se

transformando em uma lenda ur-

bana. Porém, há um tempo, pesqui-

sadores da Microsoft ressuscitaram

a teoria. Após 6 anos de estudo e

análise de conversa de dois técni-

cos da multinacional, eles viram

que estamos a 6,6 passos de nos

conectar a qualquer pessoa do

mundo.

Parece pouco? Pois saiba que

desde a invenção de tal teoria o

mundo já evoluiu muito, e pode-

mos dizer que tal distância é ainda

menor hoje em dia: 4,74 pessoas,

para ser precisa. Esse novo número

foi descoberto por uma pesquisa do

Facebook, em parceria com a Uni-

versidade de Milão, e essa diminui-

ção tem muito a ver com nosso dia

a dia de redes sociais.

E é bem fácil conceber isso.

Quantos amigos no Facebook você

tem? 600? 700? 1000? 5000? Por

mais popular que se ache (e agora

não fique se gabando), você co-

nhece muito mais pessoas, estando

você ciente delas ou não. A mulher

da padaria é um ponto da sua rede

de conhecidos e, indiretamente,

o filho dela também. A namorada

do filho da atendente da padaria,

coincidentemente, é a menina que

estava na foto com sua amiga da

primeira série no Facebook.

E taí uma coisa de que não dá

pra fugir: os fantasmas do passado!

Incrível como temos a capacida-

de de pegar o mesmo ônibus que

aquele menino por quem éramos

apaixonadas no colégio, justo no

seu dia mais desarrumada! Mas é

isso, quem é vivo sempre aparece e,

acredite, às vezes isso é uma coisa

boa! Mas pontos finais só em textos

mesmo; quando se trata da vida,

uma boa vírgula já basta.

E nem vem culpar BH, ou

Minas, ou o Brasil por isso! Repen-

se antes sua rotina, seu grupo de

conhecidos e os lugares que você

frequenta: você vê sempre as pes-

soas da região em que você mora,

no shopping do bairro, na boate de

renome, no bar de todo dia. Sex-

tafeira de madrugada, depois da

festa, você costuma ir pra (rugir de

tambores): Savassi! Para fugir dessas

pessoas que te perseguem, que tal

mudar sua rotina?

Então já sabe, um bom tópico

pra puxar assunto com aquele cara

estranho num encontro arrumado

pode ser essa investigação de co-

nhecidos em comum, o que, como

sabemos, não é nada difícil! Você

mesmo que está lendo agora, mo-

rou onde? Estudou em que colégio?

Vai em que bares? Aposto que te-

mos pontos em comum, hein?

Page 31: ReCria #7

Gastronomia: No ranking de

muita gente, comer e dormir estão

entre as melhores coisas da vida.

Mas não são? O prazer de sentir o

cheirinho do seu prato favorito, ver

aquele queijo douradinho e derre-

tido ou aquele molho cremoso e

suculento. Hmmmm! Tem pessoas

que se sentem tão bem comendo

que até gemem durante a refei-

ção. Segundo o filósofo italiano e

também professor de estética do

alimento na Universidade da Ciên-

cia Gastronômica na Itália, Nicola

Perulloo, o prazer de se alimentar

é transformador e pode nos apri-

morar como indivíduos, pois assim

podemos conhecer outras culturas,

mudar nossa percepção de um am-

biente e até nossas opiniões sobre

assuntos aparentemente distantes

do alimento. Além de tudo isso,

nos permite vivenciar a experiên-

cia do alimento com outras pes-

soas. É legal isso né? Ter gente que

Dizem que são gritos, gemidos ou apenas grunhidos. Várias podem ser as expressões que surgem quando finalmente o Ponto G é encontrado. Mito ou não, impossível ou acessível, a verdade é que o “G” é sinônimo de prazer para diversos outros pontos. Duvida? Te provamos

agora o quanto essa letrinha pode te satisfazer. Aprecie sem moderação!

GJuliana Rezende e Virgínia Badaró

ReCria7 PONTO

estuda comida. Não só a culinária

em si, mas também bebidas, ma-

teriais usados para a alimentação

e até os aspectos culturais dos ali-

mentos.

Sorte dessas pes-

soas que se deliciam no conheci-

mento de novos prazeres e sabo-

“Tem pessoas que se sentem tão bem comendo que até gemem durante a refeição”

Texto: Juliana Rezende e Virgínia Badaró Arte: Gustavo Lima Fotografia: Tatiane Alves

Page 32: ReCria #7

em si, os efeitos dele no sangue e

nas atitudes fazem com que o goró

seja uma das mais puras fontes de

prazer. A liberdade, o poder e a fe-

licidade que o álcool traz é incrível,

além do fato de que ele é um gran-

de responsável por nos sentirmos

capazes de ir em busca de mais

novos prazeres. Tudo bem que a

ressaca e o arrependimento que

chegam no outro dia não são nada

prazerosos, mas não dizem que

tudo que é bom custa caro? Pois é…

Gol: Como já dizia Samuel

Rosa, “Bola na trave não altera o

placar”, então a gente espera an-

siosamente pela “Bola na rede pra

fazer o Gol”. Essa palavrinha mágica

originada do termo em inglês goal

(meta), teve sua primeira aparição

por escrito no Brasil na revista “O

Malho”, em 1904. Ah, e que bom que

ela existe! Se tem uma coisa que é

super prazerosa é soltar aquele grito

de Gol guardado na garganta e no

fundo do coração por todo a par-

tida. Quando chega nos finalmen-

tes… AHHHH! Aquela tensão é libe-

rada e a gente abraça todo mundo,

faz novos amigos, seja no bar ou no

estádio e é só alegria! Toda a torcida

grita, canta e o coro até arrepia. Só

é chato quando o grito de gol vem

do adversário e ainda várias ve-

zes. Não é mesmo, Alemanha?

Goró: Pode até ser que a pri-

meira vez que colocou uma gota de

álcool na boca, você se sentiu mal

e pediu o velho e bom refrigerante

de volta, como acontece na maioria

das vezes. Mas, depois da segunda

vez em que algum líquido alcoóli-

co arranha a garganta, sensações

sempre tão novas e surpreenden-

temente deliciosas aparecem. Mais

do que o próprio gosto do álcool

“Quando chega nos final-mentes… AHHHH! Aquela tensão é liberada e a gente abraça todo mundo, faz no-vos amigos, seja no bar ou no estádio e é só alegria!”

“Mais do que o próprio gosto do álcool em si, os efeitos dele no sangue e nas atitudes fazem com que o goró seja uma das mais puras fontes de prazer.”

ReCria7 PONTO

Page 33: ReCria #7

Gatos, gatinhos, gatões: Des-

de que o Youtube se consagrou

como principal plataforma de ver

vídeos descobrimos cada dia mais

pérolas como crianças desastradas,

dancinhas hilárias, cantores terrí-

veis, canais de humor etc. Mas um

tipo de vídeo que faz muito sucesso

e nunca nos cansa são os gatinhos

nho. Complicado…

Ponto G: Por último, não po-

deríamos deixar de falar daquele

que promete ser a fonte do maior-

prazer. O Ponto G é altamente con-

testado, tanto quanto sua localiza-

ção, textura e tamanho, quanto sua

própria existência. Mas está longe

de nós darmos uma de ginecolo-

gistas e comprovar se ele existe ou

não, e é por isso que, para falar de

prazer, o ponto G não é nosso pon-

to principal. Se ele pode prometer

maravilhas com apenas um toque,

todo o sexo está aí para provar que

muitas vezes isso nem é necessá-

rio. Toda a conquista, a atração, o

cheiro, os toques e o envolvimento

já são uma escada para um pra-

zer que, quando culmina,dispensa

qualquer fala. Com ponto G ou não,

a verdade é que Gozar é um dos

maiores verbos que fazem nos-

sa letra G tão poderosa e prazerosa!

da internet. Gente, quem nunca fi-

cou horas assistindo aquelas com-

pilações de momentos engraçados

de gatinhos fofos ? Inclusive agora

aqui, pesquisando para escrever

essa matéria me distrai com uns 2

ou 3 (Inclusive, um deles, Keyboard

cat, clássico!). O amor por gatinhos

é um negócio tão sério que virou

num site uma forma de elogio.

Como assim? No site Better than

Kittens você pode postar um traba-

lho artístico seu e ele batalhará com

uma foto de gatinho. Os usuários

podem avaliar sua arte dizendo se

é melhor ou pior que a foto do gati-

“Mas um tipo de vídeo que faz muito suces-so e nunca nos cansa são os gatinhos da internet.”

“Toda a conquista, a atra-ção, o cheiro, os toques e o envolvimento já são uma escada para um prazer que, quando culmina,-dispensa qualquer fala.”

Page 34: ReCria #7

Qualquer que seja o

método utilizado, os

esportes necessitam

de uma forma para medir o que

acontece em um jogo. Afinal, não

podemos dar a vitória ao time que

julgamos ter jogado melhor (bem

que às vezes podíamos, né?). Jus-

to ou não, a pontuação existe, em

cada esporte à sua maneira. A pon-

tuação do tênis, por exemplo, é úni-

ca. Na primeira bola certeira já vai

pra 15, depois 30 e em seguida 40.

Aí se fizer mais um pontinho ganha

o game. Ganhando seis games (ou

sete, se o adversário vencer pelo

menos cinco games), você leva o

set. E cada campeonato possui um

número de sets para vencer a parti-

da. Complicado, né? No basquete é

mais fácil: se a cesta for de dentro

da área marcada vale dois pontos,

se for de fora vale três e no caso do

lance livre, quando ocorre uma fal-

ta, vale um. No voleibol, cada bola

que cai dentro da quadra adversária

vale apenas um pontinho, simples

assim. Os jogos são melhores de

três sets e cada set tem 25 pontos.

Se empatar em dois a dois, tem o

tiebreak (quebra de empate, ao pé

da letra), que vai até 15 pontos.

Uma cesta de longa distância, aquele saque que vai direto na quadra ou até mesmo um

touchdown nos últimos minutos da partida. Seja qual for o esporte, o ponto está sempre presente,

marcando os feitos dos atletas e mostrando quem é mais merecedor da vitória. No entanto, o

ponto não se trata apenas de um meio de decretar quem ganha e quem perde. Ele carrega consigo

um potencial de despertar os mais variados tipos de emoções, seja nos jogadores, nos técnicos ou

em toda uma torcida. Emoções essas que sustentam e dão significado a uma disputa, que fazem

jogadores treinarem arduamente para a conquista de um título, que convocam uma multidão de

apaixonados a gritar para apoiar uma equipe.

ReCria7 PONTO

Texto: Lucas Brasil Arte: Gustavo Lima

Page 35: ReCria #7
Page 36: ReCria #7

São muitas maneiras de pon-

tuar uma partida. O que há em co-

mum é o instante, o ato, o feito de

alcançar o objetivo maior naquele

desporto, o que todos os atletas

que estão em quadra ou no cam-

po buscam durante todo o tempo.

Pode até ser bem rápido, mas o

ponto não se resume a apenas um

momento.

Durante a partida, ou mesmo

antes dela, o ponto é construído ao

longo de uma série de eventos. O

ato final pode ser aquele pequeno

segundo no qual o atleta consegue

bloquear um corte do adversário.

Só que antes disso, estão semanas

de treinamento intenso, onde o

esportista repetiu inúmeras vezes

o mesmo movimento para poder

executá lo com perfeição na hora

necessária. Ou até durante o jogo,

quando uma jogada começa a ser

montada aos 24 segundos do bas-

quete até a bola chegar livre para

um belo arremesso de três, sem

marcação, no último segundo.

Um ponto marca um cam-

peonato, a carreira de um atleta, a

história de um time ou até mesmo

do próprio esporte. Mas, muito além

disso, marca também a vida daque-

le anônimo torcedor fanático que

sempre comparece ao estádio, ou

de um criança, que mesmo sem ter

total conhecimento do que aquilo

significa, acaba reconhecendo seu

ídolo, ali mesmo, em meio aos brin-

quedos espalhados no chão, ob-

servando por vezes a TV ligada ao

seu lado. E é assim que nasce uma

paixão, aquela que quando cresce-

mos nem sabemos explicar direito

o porquê.

Quantos não foram os peque-

nos brasileirinhos que, no ano de

1997, ao ver aquele jovem jogador

de tênis, até então pouco conheci-

do no país, vencendo seu primeiro

Grand Slam, escolheram a raquete

e a bolinha amarela, ao invés do fu-

tebol ou do vôlei? Gustavo Kuerten,

carinhosamente chamado de Guga

por nós brasileiros, não estava nem

entre os top 50 do mundo naquela

época e, sem que ninguém pudes-

se prever, foi eliminando nomes

já consagrados do tênis mundial,

como Thomas Muster e Yevgeny

Kafelnikov, até vencer o espanhol

Sergi Bruguera na grande final.

Aquele ponto final no famoso sai-

bro de Roland Garros deu início a

uma carreira de sucesso para Guga,

que viria a se tornar o número um

do mundo anos mais tarde.

Pontos são capazes de trans-

formar meros jogadores em ídolos,

em lendas. Pontos fazem a história

de um atleta e um time se confun-

direm, como é o caso de Michael

gos. Vinte e seis vezes fui escolhido

para fazer o arremesso final e errei.

Eu falhei repetidas vezes na minha

vida. E é por isso que fui vencedor.”

Um ponto é também o que

separa uma geração de uma con-

quista inédita. Quando Giovane pe-

gou a bola para realizar o saque na-

quela final do Campeonato Mundial

de Vôlei de 2002, o jogo estava 14

a 13 para o Brasil no tiebreak. Nesse

momento, o país inteiro torceu, de-

sejou, rezou para que a bola caísse

na quadra da Rússia. E quando ela

viajou, certeira, quicando em cima

da linha, o Brasil sagrou -se vence-

dor desse título pela primeira vez.

Um instante memorável, marcante

para o esporte brasileiro, que depois

viria a conquistar os dois campeo-

natos subsequentes, em 2006 e

2010.

Um ponto. Isso é mais do que

o suficiente para abrir largos sorri-

sos, libertar gritos de alegria e deixar

cair muitas lágrimas emocionadas.

É o que separa o orgulho da frus-

tração, o reconhecimento da re-

provação, a euforia da dor. Envolve

o sentimento, a energia, o esforço

e tenta medir o inexplicável, que é

essa paixão de milhões de pessoas

ao redor do mundo, essa paixão a

que chamamos de esporte.

Jordan e o Chicago Bulls. Consi-

derado o melhor jogador de bas-

quete de todos os tempos, Jordan,

que marcou mais de 30 mil pontos

em sua carreira, venceu seis títulos

da NBA vestindo a camisa rubra

do Chicago. E para chegar a esses

impressionantes números, precisou

treinar, batalhar e também falhar:

“Eu errei mais de 9000 lances na

minha carreira. Perdi quase 300 jo-

ReCria7

Page 37: ReCria #7

Havia uma cidade cha-

mada Português. Ela era gran-

de, mas um pouco rígida, o que

fazia com que muitas pessoas

evitassem visitá la. Porém, sem-

pre tinha algum aventureiro – eu,

por exemplo – que tomava cora-

gem de sair para explorá la e gosta-

va tanto que decidia ficar.

Português era calma, tinha

poucas mudanças – até porque,

por ser cheia de regras, a popula-

ção reclamava muito se alguém

quisesse mudar alguma coisa. Cer-

ta vez, houve o caso da reforma

que fizeram na cidade. O objetivo

dos governantes era que tudo fi-

casse mais fácil, tivesse mais senti-

do. Só que muita gente ficou cheia

de preconceito ao saber da notí-

cia; diziam: “Eles não tinham mais

o que fazer, e agora resolveram

mudar Português. Pra quê mudar

se tá tudo bem assim?” Sim, a lín-

gua portuguesa era bem afiada.

Mas isso é outra história, bem

diferente da que vim aqui para

contar. Hoje, estou aqui para contar

para vocês a história de Travessão e

Ponto Final, dois pontinhos muito

diferentes, mas que nessas diferen-

ças, aprenderam a se completar

Travessão era uma moça

alegre e agitada. Gostava demais

de conversar, mas não porque era

faladeira; ela gostava mesmo do

diálogo, gostava do olho no olho,

das risadas e dos momentos sérios.

Não gostava só de falar, mas tam-

bém de ouvir. Estava sempre pron-

ta para escutar as pessoas quando

precisassem, oferecendo- se para

ajudá- las a dizer como se sentiam.

De todas as pessoas naquele lugar,

não havia ninguém que fosse mais

apaixonado por Português do que

ela. Travessão era completamente

fascinada por ele. Era viciada nas

palavras. Estava sempre à procura

de alguma forma de trocá- las en-

tre si, ou com alguém. Tinha um

defeitinho: era meio intrometida

– mas a verdade é que só inter-

rompia alguém no meio de uma

conversa caso fosse realmente

relevante fazê- lo. Travessão era

assim, não conseguia ficar parada

e só queria encontrar alguém que

pudesse ir completando cada uma

de suas falas; alguém que a ouvisse

e a acalmasse; alguém que sim-

plesmente a entendesse; al-

guém que a amasse e ponto.

Do lado oposto de Travessão,

estava Ponto Final: centrado, me-

tódico, e às vezes meio frio, era um

rapaz de poucas palavras, o que

fazia com que muitas pessoas não

gostassem dele, o achassem chato.

EPONTO.Ana Júlia Caires

ReCria7

Texto: Ana Júlia Caires Arte: Gustavo Lima

ReCria7 PONTO

Page 38: ReCria #7

mamente pontual.

Quem visse os dois, jamais

diria que eles poderiam gostar um

do outro, afinal, eram verdadei-

ros opostos.

Mas certa vez, houve um

verdadeiro Anacoluto na cidade

por causa da Elipse, que começou

a esconder as coisas dos outros e

bagunçar a ordem de tudo: foi In-

terrogação virando certeza, acento

Agudo em estado Grave, Compa-

ração virando Metáfora... e no meio

dessa bagunça, Travessão e Ponto-

Final ficaram totalmente sem sus-

tentação e foram misturados, sendo

jogados para um lado e para ou-

tro – e foi assim que se viram jun-

tos pela primeira vez –.

Ao se encontrarem, Travessão

e Ponto Final começaram a con-

versar e perceberam que eles po-

diam não ser parecidos, mas eram

complementares: Travessão falava

demais, estava sempre querendo

conversar, trocar ideias, e às vezes

não sabia a hora de parar. Mas tinha

uma pessoa que sempre terminava

suas falas para ela. Ela a chamava de

“Consciência”, só que nunca a co-

nheceu, pois estavam sempre uma

de um lado, outra de outro. É, essa

pessoa era Ponto,e a felicidade que

ela sentiu ao conhecê- lo – bem

ReCria7

Mas a questão é que essa era

a sua função: garantir que as fra-

ses fossem terminadas. Ele não era

chato; era tímido. Não gostava de

cobrar, só precisava que tudo termi-

nasse no tempo certo. Assim, foi se

acostumando a ser sempre muito

fechado, pois nunca conseguia falar

com ninguém; sempre que alguém

estivesse falando algo, fosse aquilo

interessante ou não, era só ele

chegar que o discurso acabava.

Claro que ele esperava a pessoa

terminar; não saía se metendo

onde não era chamado e detes-

tava chegar na hora errada. Ponto

era assim, calmo, sensato e extre-

Page 39: ReCria #7

como a dele por saber que

havia alguém que o valoriza-

va – foi inexplicável.

Então, os ânimos foram acal-

mados e Travessão e Ponto Final

precisaram se despedir. Num pri-

meiro momento, Ponto estava nor-

mal, pensando em como era legal

saber que tinha ajudado alguém.

Legal saber que alguém gostava

dele, o tratava com carinho e seria

capaz de defendê lo dos outros.

Enquanto isso, Travessão

pensava em como era legal ter fi-

nalmente conhecido o alguém

que tanto a ajudava. Legal co-

nhecer esse alguém que a enten-

dia, ouvia e completava.

Assim, os dias foram passan-

do, e toda vez que acontecia algum

movimento na cidade, Travessão e

Ponto Final se encontravam. Eles

podiam passar horas conversando,

um contando ao outro de todas as

vezes que estiveram ligados sem

nem saber. Apesar de serem mui-

to diferentes, gostavam muito um

do outro. Ponto adorava ouvir Tra-

vessão: deixava ela falar tudo que

sentia e só depois complementava

com algum comentário, geralmen-

te muito inteligente. Enquanto isso,

ela amava olhar para ele; ele não

falava com muita frequência e, por

isso, cada momento em que esta-

va falando servia para ela olhá- lo

com admiração. Ele a ouvia, ela o

admirava. Eles se entendiam muito

bem e, apesar de estarem em lados

opostos, davam certo como amigos

de infância.

O problema era que Traves-

são e Ponto Final não tinham sido

feitos para ficarem juntos. Por isso,

muitas vezes se desentendiam,

afinal, tinham nascido em lados

contrários. Travessão queria que

Ponto se abrisse mais com ela, que

demonstrasse mais carinho, mais

afeição. Da mesma forma, ele pedia

uma objetividade que nunca coube

a ela. Sim, era um problema. Mas o

problema maior era que eles não

estavam mais nem aí para isso. Já

estavam apaixonados. A cada reen-

contro, o abraço era mais apertado.

A cada piada, a risada era mais alta.

A cada toque, o arrepio era mais

instantâneo. A cada despedida, as

bochechas ficavam mais coradas,

e quando estavam longe, não para-

vam de pensar um no outro.

Travessão, apesar de muito ex-

trovertida, não tinha certeza se Pon-

to gostava dela da mesma forma e,

por isso, ficou esperando que ele

tomasse uma atitude. Mal sabia ela

de sua sorte, pois ele tomou. Deci-

diu que na próxima vez que a vis-

se, iria dizer tudo o que sentia.

Ao encontrar com Travessão,

Ponto logo foi falando tudo que

sentia por ela, sem cerimônias. Tra-

vessão, por sua vez, ficou comple-

tamente atônita; não sabia se ficava

mais surpresa com o fato de Ponto

estar falando tão rápido, tão claro,

de uma forma que nunca vira antes,

ou com o conteúdo da mensagem.

E então, num último grito de deses-

pero e amor, Ponto disse:

– E eu não sei se você sente

o mesmo por mim nem se algum

dia vai sentir, mas a verdade é que

eu não me importo com isso. Não

me importo se você entendeu tudo

nem se gostou; mesmo que a mi-

nha fala tenha sido insensata ou até

mesmo mal sucedida, só me impor-

ta que você saiba que eu te amo.

Naquele momento, Travessão

soube que, mesmo com todas as

suas diferenças, mesmo com toda

aquela distância física, toda aquela

barreira doutrinária que os separa-

va, ela finalmente tinha encontra-

do aquilo que sempre procurou.

Ela o beijou, sem ligar para

os obstáculos, muito menos

para os problemas. Ela o beijou

porque o amava. Na hora cer-

ta e sem se importar se aqui-

lo era um erro. Ela o beijou

e ponto.

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DIAGRAMAÇÃOGustavo Lima

Helena AntunesIsabella Mello

Natália TrindadePedro AmaralFINALIZAÇÃOIsabella Mello

CAPANatália Trindade

CAMPANHAAudiovisual:

Débora ManoTatiane Alves

Direção de Arte:Fernanda Philadelpho

Flávio AndradeGustavo Lima

Gestão de Contas:Alga Marina

Henrique OliveiraPlanejamento:

Leonardo GalesiLudmila SoaresPedro Camelo

Produção:Ludmila Soares

Luiza de SimoneRedação:

Marina Kan MeiMilena Breder

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