Recria de Novilhas Leiteiras

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    Recria de Novilhas

    Disciplina: Bovinos de Leite

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    I. Crescimento de Novilhas

    A obtenção de novilhas de tamanho e idade adequada ao primeiro parto pode

    otimizar a produção de leite de maneira vantajosa. A obtenção dessas metas requer

    nutrição e manejo alimentar adequados.

    Em várias fazendas leiteiras o manejo de novilhas não é a atividade mais

    importante do dia-a-dia, o que resulta na negligência de nutrição, manejo alimentar e

    cuidados com instalações e saúde destas, resultando em aumento na idade ao

    primeiro parto e menor produção de leite durante a vida produtiva do animal, quando

    comparado às novilhas que foram alimentadas adequadamente.

    Por outro lado o crescimento acelerado de novilhas também reduz sua

    produção, podendo reduzir sua longevidade.

    1. Avaliação do tamanho corporal de novilhas 

    O sucesso do programa de criação de novilhas pode ser avaliado pelo

    monitoramento de peso e altura de bezerras e novilhas e sua comparação com a

    média da raça para cada grupo específico de idade. Medir e pesar novilhas permite a

    comparação do animal com o padrão da raça ou com animais da mesma raça em

    grupos contemporâneos, podendo indicar problemas no programa de criação. No caso

    de animais cruzados, embora não haja padronização de peso e tamanho corporal de

    acordo com o grau de sangue do animal, este monitoramento também funciona como

    ferramenta importante de avaliação do programa de criação.

    O peso do animal pode ser obtido pela sua pesagem, ou estimado através da

    fita de pesagem (Figura 38), que correlaciona perímetro torácico com peso vivo de

    acordo com o porte do animal. A fita de pesagem tem uma acurácia dentro de 5 a 7%

    do peso vivo real. Para o uso da fita, deve se certificar que o animal esteja em pé e

    com a cabeça voltada para frente e para cima, de outra forma poderão ocorrer superou subestimativas. A fita deve ser passada em volta do animal, logo atrás das pernas

    dianteiras, sem ser muito apertada junto ao seu corpo.

    A medida de altura na cernelha também deve ser realizada com o animal com

    a cabeça voltada para frente e para cima (Figura 38), sendo que este deve estar em

    pé numa superfície plana para que a medida não seja alterada. O animal deve ser

    medido no ponto mais alto da cernelha.

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    Figura 38. Posicionamento correto de fita de pesagem e de régua pra medidade altura na cernelha

    Os gráficos de padrão de crescimento de raças apresentam faixas (percentils)

    da população, permitindo ao produtor que compare uma novilha com todas as outras edefina a taxa ideal de crescimento (Figura 39). Pesquisas têm demonstrado que

    novilhas da raça holandesa com tamanho adequado para parição aos 22-24 meses, e

    com níveis de produção de leite adequados, devem estar posicionadas próximo ou

    acima da média de tamanho e peso corporal. A obtenção de novilhas extremamente

    grandes pode não resultar no aumento na produção de leite. Além disso, o custo de

    produção desses animais é extremamente alto.

    Também é importante frisar que a idade ao primeiro parto está altamente

    correlacionada com a lucratividade do animal, assim como o peso vivo após o parto

    está altamente correlacionado com a produção de leite na primeira lactação. Uma

    meta alcançável para a maioria dos produtores é manter a maioria das novilhas no

    75o. percentil, ou seja 25% acima da média, e todo o rebanho variando entre a média

    e o 95o. percentil.

    Para que a novilha da raça holandesa tenha idade à primeira parição de 24

    meses ou menos e alto potencial de produção, esta deve estar posicionada no topo ou

    um pouco acima do 95o. percentil. Nestes gráficos, pode-se observar que a altura da

    Maneiracorreta deposicionamento

    da régua

    Posicionamento da fita de pesagem

    Perímetrotoraxico

    Cernelha

    Nível

    Leitura

    Maneiracorreta deposicionamento

    da régua

    Posicionamento da fita de pesagem

    Perímetrotoraxico

    Cernelha

    Nível

    Leitura

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    cernelha é mais variável para animais mais jovens, e que em geral a variabilidade do

    peso aumenta com o aumento da idade.

    Figura 39. Padrão de crescimento (peso) de novilhas holandesas

    Figura 40. Padrão de crescimento (altura) de novilhas holandesas

    Peso de Novilhas726

    635

    545

    454

    363

    273

    181

    91

    0

    95 percentil

    75 percentil

    Média

    25 percentil

    5 percentil

    Meses

    Peso de Novilhas726

    635

    545

    454

    363

    273

    181

    91

    0

    95 percentil

    75 percentil

    Média

    25 percentil

    5 percentil

    Meses

    Altura de Novilhas1.52

    1.40

    1.27

    1.14

    1.0

    0.89

    0.76

    0.63

    0.50

    95 percentil75 percentilMédia25 percentil5 percentil

    Meses

    Altura de Novilhas1.52

    1.40

    1.27

    1.14

    1.0

    0.89

    0.76

    0.63

    0.50

    95 percentil75 percentilMédia25 percentil5 percentil

    Meses

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    O escore de condição corporal é uma ferramenta adicional que pode ser

    utilizada para avaliar o manejo e a nutrição do programa de avaliação de novilhas

    (Figura 41). O escore de condição corporal é uma maneira de avaliação de reservas

    subcutâneas de tecido adiposo e muscular de animais. Dentre as limitações na

    avaliação do escore corporal de novilhas inclui-se o fato de que é uma avaliação visual

    e portanto subjetiva. Assim, é importante que o observador, ou observadores, sejam

    sempre os mesmos, reduzindo a probabilidade de erros de avaliação. Além disso, o

    comprimento dos pêlos do animal (mais problemáticos em região de clima frio) e a

    dificuldade na aproximação da novilha para melhor observação da gordura nas

    costelas e na inserção da cauda também podem ser considerados como fatores

    limitantes.

    Figura 42. Escore de condição corporal de novilhas de acordo com a idade

    Bezerros jovens são naturalmente magros (2,0 a 2,5, numa escala de 1 a 5)

    mas sua condição de escore corporal deve aumentar para 3,0 por volta da idade de

    Recémnascido 2,0

    6 meses3,0

    12 meses3,25

    15 meses3,5

    24 meses3,75

    Recémnascido 2,0

    6 meses3,0

    Recémnascido 2,0

    Recémnascido 2,0

    6 meses3,0

    6 meses3,0

    12 meses3,25

    15 meses3,5

    24 meses3,75

    12 meses3,25

    12 meses3,25

    15 meses3,5

    15 meses3,5

    24 meses3,75

    24 meses3,75

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    inseminação. O escore de condição corporal de 3,5 a 3,7 é considerado normal para

    novilhas parindo entre 22-24 meses. Esse escore permite a avaliação do

    armazenamento de moderada quantidade de gordura corporal, que será utilizada no

    início da lactação quando o animal estiver em balanço energético negativo.

    2. Crescimento e desenvolvimento da glândula mamária

    Os objetivos da criação de novilhas são produzir animais de alta qualidade para

    a reposição de vacas e melhorar o mérito genético do rebanho. Para que isso ocorra

    de forma economicamente viável, produtores devem ter como meta a parição de

    novilhas o mais cedo possível, com tamanho corporal que maximize a produção de

    leite e minimize problemas de distocia (Heinrichs e Hargrove, 1987).

    O fato de animais em crescimento não serem animais produtivos, com um

    custo aproximado de US$1,25 à US$1,60 por dia (Cady e Smith, 1996), representando

    o segundo maior custo de uma fazenda leiteira, tem levado produtores a acelerar as

    taxas de ganho de peso de novilhas com o objetivo de se colocar o animal em

    produção o mais rápido possível. Segundo Cady e Smith (1996), o aumento na Idade

    ao Primeiro Parto (IPP) eleva o custo do rebanho de três formas: 1) aumentando os

    dias de criação até a primeira parição; 2) aumentando o número de novilhas na

    fazenda; e 3) diminuindo seu potencial de produção.

    Embora a redução da IPP, alcançada com maiores taxas de ganho, resulte em

    retorno econômico antecipado, uma avaliação em longo prazo pode revelar uma outra

    situação. Durante os últimos 15 anos, vários trabalhos indicaram que o nível de

    alimentação e especialmente o consumo de energia durante a fase pré-púbere, podem

    afetar de forma marcante o desenvolvimento da glândula mamária e,

    conseqüentemente a produção de leite futura de novilhas (Akers e Sejrsen, 1996).

    Mais recentemente, pesquisadores têm sugerido que a aplicação de maiores taxas de

    ganho de peso com o emprego de dietas de alta densidade energética não têm efeitoprejudicial ao desenvolvimento da glândula mamária desde que o nível de proteína da

    dieta também seja alto (VandeHaar, 1997). Vários trabalhos demonstram problemas

    com relação ao desenvolvimento da glândula em novilhas com alta taxa de

    crescimento quando a relação proteína bruta (PB): energia metabolizável (EM) é

    menor que 65g/Mcal (Sejrsen et al ., 1982; Harrison et al ., 1983; Capuco et al ., 1995;

    Radcliff et al ., 1997).

    A produção de leite de uma vaca é determinada principalmente pela habilidade

    de produção de sua glândula mamária e por sua capacidade em fornecer nutrientespara a mesma (VandeHaar, 1997). Essa habilidade de produção de leite é

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    dependente, ou está diretamente ligada, ao número de células secretoras que se

    encontram no tecido parenquimal da glândula mamária, o que é determinado por

    fatores genéticos e do ambiente (onde se enquadra a nutrição animal). Segundo Akers

    et al . (1998), existe alta correlação (r=0,85) entre DNA total parenquimal e a produção

    de leite do animal. O desenvolvimento da glândula mamaria pode ser dividido em

    cinco fases principais, sendo elas: desenvolvimento fetal, pré-puberal, pós-puberal,

    gestacional e durante a lactação.

    2.1. Puberdade e Idade ao Primeiro Parto (IPP)

    O termo puberdade foi definido por Robinson (1977) como o processo onde os

    animais se tornam capazes de se reproduzir. Em fêmeas, este processo está

    associado ao início da atividade cíclica ovariana. Entretanto, na maioria das novilhas,

    a primeira ovulação não é sinônimo de puberdade, por isso, mais recentemente Moran

    e colaboradores (1989) redefiniram o início da puberdade: primeiro estro seguido de

    uma fase luteal normal. Em animais de grande porte este evento ocorre, de forma

    geral, entre 9 e 11 meses de idade em animais de peso vivo entre 250 e 280 Kg,

    existindo alguma variação entre e dentro de raças. Segundo Sejrsen e Purup (1997) a

    maior fonte de variação na idade de início da puberdade dentro da raça é o nível de

    alimentação dos animais. Por outro lado, o peso do animal à puberdade não é afetado

    pelo nível de alimentação. A variação no ganho de peso diário de novilhas, conseguida

    com maiores níveis de alimentação, possibilita redução na idade de início da

    puberdade, já que animais alcançam pesos de 250 a 280 kg mais cedo. Trabalho de

    Foldager et al . (citado por Sejrsen e Purup, 1997) mostra uma variação de idade ao

    início da puberdade de 9 a 17 meses quando foram aplicados ganhos de peso diário

    de 850 a 450g, respectivamente (Figura 43). Assim, o peso vivo, e não a idade,

    determina o início da puberdade em animais de raças leiteiras.

    O número de trabalhos nacionais avaliando idade à puberdade em novilhasleiteiras é escasso. As médias de IPP observadas nos rebanhos são bastante

    variáveis e dependentes do grau de sangue dos diversos cruzamentos utilizados, além

    dos sistemas de produção, ou mais especificamente, do manejo nutricional empregado

    na fase de crescimento.

    Avaliando dados de 153 animais, manejados no Nordeste brasileiro, Bacalhau

    et al. (2001) observaram idade à puberdade de 38,8 meses e idade à concepção de

    39,1 meses em novilhas da raça Gir, colocadas em reprodução a partir de 300 kg de

    PV. Estes dados refletem o baixo ganho de peso destes animais durante a fase decrescimento, conseqüente IPP avançada e, portanto, alto custo de criação.

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    Figura 43. Efeito o nível de alimentação na idade e peso à puberdade

    A introdução de sangue europeu em cruzamentos para obtenção de animais

    leiteiros geralmente reduz idade à puberdade. A avaliação de características de

    novilhas Girolando realizada por Freitas e colaboradores (2002) apresentou média de

    IPP de 33,7 meses de idade. O aumento da participação de sangue europeu reduziu a

    IPP, já a partir do cruzamento ½ Holandês:Gir (HG), quando comparado com asnovilhas 3/8, assim como observado por Alves et al (2004).

    Em trabalho subseqüente, Freitas et al. (2003), utilizando 6.781 registros dos

    arquivos de controle leiteiro da Associação dos Criadores de Gado Holandês de Minas

    Gerais, observaram redução na IPP em novilhas 7/8 HG (30,7) quando comparadas às

    novilhas 3/4 (31,4), 15/16 (31,3) e 31/32 HG (31,3), todas manejadas como animais

    puros da raça Holandesa. Ainda em animais cruzados Holandês-Zebu (HZ), Ruas et

    al. (2004) observaram IPP variando de 30,2 a 35,7 meses, índices semelhantes aos

    observados por outros autores.Teodoro et al. (1993) observaram menor idade e peso à puberdade em

    novilhas filhas de vacas HG e touro Jersey, quando comparadas às filhas de touro

    Holandês ou Pardo-Suíço. Estes dados levam à conclusão de que animais mestiços

    com sangue Jersey sejam sexualmente mais precoces. Entretanto, o menor tamanho

    corporal e/ou peso adulto destes animais estão intimamente relacionados ao menor

    peso à puberdade. Assim, animais com menor peso adulto, quando manejados da

    mesma forma que animais de maior porte, alcançarão peso à puberdade mais cedo.

    Azevedo et al. (2004) também observaram menor IPP em animais com sangue Jersey,

       I   d  a   d  e   (  m  e  s  e  s   )

    P  e  s  o Vi   v o (  k  g )  

    Ganho de peso (g/d)

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    quando comparadas às novilhas com sangue Holandês, quando os animais foram

    criados sob mesmo manejo nutricional: pastagem com suplementação na seca.

    Mesmo considerando o sistema de produção mais comumente utilizado no

    Brasil, conclui-se que os índices de idade à puberdade e ao primeiro parto ainda

    precisam ser reduzidos para que a criação de novilhas seja economicamente viável.

    Em sistemas baseados na exploração de pastagens tropicais, observa-se redução no

    desempenho de novilhas leiteiras, principalmente no período da seca. Assim,

    estratégias de suplementação podem contribuir de forma econômica para a redução

    da IPP. Carvalho et al. (2004) compararam diferentes sistemas de suplementação

    sobre o desenvolvimento e a idade de entrada em reprodução de novilhas mestiças F1

    HZ. Os autores observaram que para animais recriados em pastagens, os diferentes

    regimes de suplementação não alteraram o peso dos animais aos 24 meses de idade,

    mas reduziram a entrada em reprodução por aumentar o peso dos animais aos 18 e

    21 meses, possibilitando conseqüentemente redução na IPP.

    Na intenção de reduzir IPP e portanto, o custo de novilhas no rebanho,

    produtores têm realizado suplementação com mistura concentrada de maneira a

    obterem altos ganhos de peso. Entretanto, a produção de leite destes animais pode

    estar sendo reduzida devido aos efeitos de altos ganhos no desenvolvimento da

    glândula mamária

    2.2. Desenvolvimento da Glândula Mamária

    O desenvolvimento da glândula mamária durante a puberdade é menos

    pronunciado do que durante a gestação. Entretanto, problemas durante esta fase

    podem ter grande influência na produção futura do animal. Ao nascer, a fêmea

    apresenta as estruturas básicas da glândula, que se formaram durante a fase fetal,

    sendo ainda rudimentar o tecido epitelial que, através de diferenciação, formará

    células secretoras. O animal apresenta estroma, sistema circulatório e a parte externada glândula praticamente desenvolvidos, mas não apresenta alvéolos ou grande

    número de dutos (Sejrsen e Purup, 1997).

    Do nascimento aos três meses de vida aproximadamente, a glândula mamária

    apresenta crescimento isométrico, ou seja, taxa de crescimento semelhante à taxa de

    crescimento do corpo animal, onde ocorre crescimento principalmente de tecidos

    epiteliais. Entretanto, após os três meses de idade esse crescimento passa a ser

    alométrico, quando a glândula cresce a uma taxa superior àquela do corpo animal,

    podendo ser de 1,8 até 3,5 vezes maior (Van Amburgh e Galton, 1994). Nesta fase,

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    ocorre rápido crescimento do tecido adiposo e de dutos que se ramificam neste tecido.

    Esta fase termina com o início da puberdade e, segundo Sejrsen e Purup (1997), está

    intimamente ligada ao desenvolvimento dos órgãos reprodutivos. O sinal para que com

    a puberdade o crescimento da glândula volte a ser isométrico ainda não está bem

    definido, sendo sugeridos sinais hormonais provenientes de secreção ovariana

    (Tucker, 1981) ou independente dessas secreções, podendo ocorrer antes ou após o

    início da puberdade (Sejrsen e Purup, 1997).

    2.3. Efeito Hormonal no Desenvolvimento da Glândula Mamaria

    O efeito do hormônio do crescimento (GH), endógeno ou exógeno, no

    desenvolvimento da glândula mamária foi amplamente estudado por vários autores

    (Sandles e Peel, 1987; Purup et al., 1993; Weber et al., 1996; Brozos et al., 1998;

    Sejrsen et al., 1999) (Tabela 14). A participação desse hormônio foi demonstrada pela

    relação positiva entre níveis de GH circulantes e desenvolvimento da glândula

    (Sejrsen et al., 1987), inclusive quando os níveis eram elevados por meio de

    administração exógena (Sandles e Peel, 1987; Purup et al., 1993; Carsten et al., 1997;

    Radcliff, 1997). Sandles e Peel (1987) estudaram o efeito da administração contínua

    de GH, em 12 pares de novilhas gêmeas, dos 3,5 meses até o abate com

    aproximadamente 8 meses, no desenvolvimento da glândula mamária. Animais

    tratados com GH apresentaram glândula mamária de menor tamanho, mas com maior

    proporção de parênquima na matriz adiposa após o abate. Medidas morfométricas

    demonstraram aumento no volume de tecido conectivo (P

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    Tabela 14. Efeito de GH exógeno no desenvolvimento da glândula mamaria de

    novilhas

    Referência Tratamento

    (dose) no

    animais Idade/peso

    inicial  Duração Tecido 

    Parenquimal (g) %

    mudança 

    Sejrsen et al.  Controle  9  8  16  454 (1986)  20 U/d  9  meses  Semanas  537  + 18 Sandles e

    Peel Controle  4  3,5  21  383 

    (1987)  0,6mg/kg0,75/d 

    4  meses  Semanas  461  + 20 

    Purup et al.  Controle  4  5,8  15 288 (1993)  15 mg/d  4  meses  Semanas  326  + 13 

    Carsten et al.  Controle  18  6 meses  Até  305 (1997)  500 mg/2

    sem 17  (159 kg)  390 kg  452  + 48 

    Radcliff et al.  Controle  19  126 kg  Até 405 (1997)  25µg/kg/d  19  5o estro  491  + 46 Adaptado de Sejrsen et al. (1999).

    A ausência de ligação de GH na glândula mamária, além da falta de resposta

    ao tratamento de GH in vitro (Akers, 1985), tem sugerido que seu efeito no

    desenvolvimento desta ocorre por meios indiretos. Entretanto, alguns pesquisadores

    reportaram a expressão de RNAm de GH na glândula mamária de novilhas (Glimm et

    al ., 1990, citados por Sejrsen, 1999) e significante aumento no desenvolvimento da

    glândula com a administração de GH através de seu canal (Collier et al ., 1993).Contrariamente, em trabalhos onde foi realizada administração de GH através do

    canal ou subcutâneamente à glândula não foram observados efeitos na produção de

    leite (Sejrsen et al ., 1999).

    A via indireta pela qual o GH tem efeito sobre o desenvolvimento da glândula

    mamária de bovinos deve ser seu estímulo sobre a produção de IGF-I, o qual é

    produzido na maioria dos tecidos, inclusive na própria glândula, mas principalmente no

    fígado do animal. A alimentação é um fator de variação nas concentrações de IGF-I

    em bovinos. Animais em alto plano nutricional apresentam maiores concentraçõesdesse hormônio mas, como será discutido adiante, têm o desenvolvimento da glândula

    mamária prejudicado quando da ocorrência de ganho de peso acima de 700-800 g/d.

    Dessa forma, não se pode explicar redução no desenvolvimento da glândula mamária

    em altos planos nutricionais devido ao menor nível de GH circulante, uma vez que a

    ação deste é mediada por IGF-I.

    Alguns autores têm sugerido que a relação entre GH, IGF-I e desenvolvimento

    da glândula mamária pode ser modificado por proteínas ligadas ao IGF-I e/ou

    produção local de IGF-I na própria glândula (Collier et al ., 1993; Sejrsen, 1994; eWeber et al .,1999). A hipótese de que GH atue diretamente na glândula não deve ser

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    descartada, uma vez que foi encontrado RNAm deste hormônio na glândula mamária.

    Efeitos opostos observados in vitro  e in vivo devem ser decorrentes da ação de outros

    fatores além da ação de GH e IGF-I.

    O importante papel de estrogênio no desenvolvimento da glândula mamária

    tem sido demonstrado através da retirada dos ovários de novilhas pré-púberes (Purup

    et al ., 1993; Purup et al ., 1995; Ellis et al ., 1996). A realização de ovariectomia na

    primeira semana de vida impossibilita a formação da glândula mamária (Wallace,

    citado por Sejrsen, 1997). Se a ovariectomia for realizada aos 2,5 meses de idade, o

    desenvolvimento da glândula é fortemente inibido (Purup et al ., 1993). Por outro lado,

    quando esses animais, desprovidos de ovários, recebem doses de estrogênio tem o

    desenvolvimento da glândula reiniciado.

    Em trabalho de Purup e colaboradores (1993), a retirada dos ovários resultou

    em menor peso e volume total (P

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    ganho diário até esta idade de aproximadamente 800g. Como durante os 3 primeiros

    meses de vida e ao final da gestação os ganhos observados são menores, durante a

    fase pré-púbere os ganhos devem ser de aproximadamente 900 g/d. Caso o produtor

    tenha como meta parição aos 20 meses por exemplo, os ganhos durante a fase pré-

    púbere devem ser ainda maiores (≅ 1,10 kg/d) (VandeHaar, 1997).

    A Figura 44, adaptada de Hoffman e Funk (1992), mostra como alterações na

    curva de crescimento podem modificar a IPP. A estratégia ideal (representada pelos

    segmentos C e E) consiste em limitar o ganho de peso pré-púbere, de forma a otimizar

    o desenvolvimento do tecido secretor, e após a puberdade aumentar a taxa de ganho

    de forma a se obter animais parindo com 600 kg de peso vivo aos 24 meses.

    Problemas na obtenção de maiores taxas de ganho após a puberdade podem atrasar

    a IPP ou levar o animal à parição com peso menor. Redução na idade ao primeiro

    parto para 16 meses pode ser obtida com taxa de ganho de 1032 g/d desde o

    nascimento. Da mesma forma, mantendo-se taxa de ganho de 600g/d na fase pré-

    púbere e imprimindo-se taxa de 2440 g/d após a puberdade a fim de se alcançar idade

    ao primeiro parto aos 16 meses é praticamente impossível.

    Figura 44. Alterações na curva de crescimento de novilhas e efeito na idade ao

    primeiro parto. (Adaptado de Hoffman e Funk, 1992).

    Mudanças no balanceamento de dietas para animais pré-púberes com o

    objetivo de se obter maiores ganhos de peso sem efeito negativo no desenvolvimento

    da glândula mamária parecem ser boa estratégia. Todavia, a maior parte dos estudos

    Taxa para mínimaidade

    Taxa padrão

    PuberdadeU

    s U

    IPP atrasada caso

    ganho não ocorra

    Ganho necessário p/ 

    peso ao parto desejado

    após C

    Ganho inatingível

    Taxa para maximização do

    desenvolvimento da glândula

    Peso (kg)

    Idade (meses)

  • 8/17/2019 Recria de Novilhas Leiteiras

    14/27

    mostra que altas taxas de ganho antes do início da puberdade estão associadas com

    redução no desenvolvimento da glândula mamária, no que diz respeito ao tecido

    parenquimal, e reduções na produção de leite desses animais.

    Segundo Sejrsen e Purup (1997), o nível de alimentação, resultando em

    ganhos superiores a 600 - 700 g/d, pode ter efeito negativo na glândula mamária. Por

    outro lado, pesquisadores americanos afirmam que este limite é superior, 850 g/d, já

    que os animais americanos são de maior porte (VandeHaar, 1997). Esta sugestão vem

    trazendo pesquisadores a buscar meios de se imprimir ganhos de peso acelerado,

    sem que ocorra efeito negativo no desenvolvimento da glândula mamária, seja pelo

    controle de consumo de alimento ou do fornecimento de diferentes tipos de dietas.

    A estratégia mais utilizada com o intuito de se limitar o ganho de peso na fase

    pré-púbere é a redução da densidade energética da dieta para esta categoria animal.

    Essa prática é geralmente realizada pela inclusão de maior proporção de forragem na

    dieta e, em algumas situações, inclusão de forragens de menor qualidade, de forma a

    satisfazer o animal através de limite físico de consumo. Em situações onde esta

    estratégia não é possível, tem-se realizado limitação de consumo em até 80% do

    consumo ad libitum .

    Utilizando 48 novilhas de aproximadamente 4 meses de idade, Sejrsen e

    Larson (1977), ofereceram dietas com diferentes proporções de silagem de milho e

    concentrado e monitoraram o ganho de peso e a produção de leite à primeira lactação.

    As diferentes dietas resultaram em altos ganhos de peso na fase pré-púbere sendo

    893, 964, 929 e 1000 g, nos grupos de 100:0, 75:25, 50:50 e 25:75

    (silagem:concentrado), respectivamente, nas últimas 4 semanas antes do 1o  cio. A

    baixa produção de leite e os altos ganhos de peso foram relacionados ao menor

    desenvolvimento da glândula mamária, sendo este um dos primeiros trabalhos a

    demonstrar que altos ganhos poderiam reduzir o desenvolvimento mamário e

    subseqüente produção de leite.

    Com o objetivo de se avaliar o efeito do plano nutricional no desenvolvimentomamário, Sejrsen et al. (1982) forneceram dieta com proporção 60:40

    concentrado:forragem de forma restrita ou ad libitum   para novilhas pré-púberes (7

    meses) e pós-púberes (13 meses). Os ganhos de peso apresentados pelos animais

    foram 637 e 1271 (pré-púberes) e 588 e 1164 (pós-púberes) para animais com dieta

    restrita ou ad libitum , respectivamente. Animais alimentados ad libitum   alcançaram a

    puberdade mais cedo que animais com consumo restrito e apresentaram maior peso

    total da glândula mamária. Entretanto, isso se deveu a maior quantidade de tecido

    adiposo na glândula mamária (77% do peso da glândula). Animais pré-púberesalimentados de forma restrita apresentaram maior porcentagem da glândula como

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    tecido parenquimal (38 vs. 23%), além de maior porcentagem de DNA parenquimal,

    demonstrando maior capacidade secretora. Em animais pós-púberes o efeito do

    regime de alimentação não foi tão marcante, sendo que o tecido parenquimal foi

    apenas 3% menor em animais em regime ad libitum . O ganho de peso vivo de

    novilhas pré-púberes foi correlacionado negativamente com medidas do tecido

    parenquimal, e negativamente com peso total da glândula e porcentagem de tecido

    adiposo. Estes resultados demonstram que altos ganhos de peso durante a fase

    alométrica de crescimento da glândula mamária podem reduzir o desenvolvimento

    mamário em termos de células secretoras, reduzindo conseqüentemente o potencial

    de produção desses animais.

    Em trabalho subseqüente, Sejrsen et al . (1983), também utilizaram diferentes

    regimes de alimentação de uma mesma dieta para novilhas antes e após a puberdade,

    obtendo ganhos de peso de 613 e 1218 g/d para animais em regime restrito vs. ad

    libitum , respectivamente. Animais em regime restrito apresentaram maiores níveis de

    GH, os quais foram positivamente correlacionados com a quantidade e porcentagem

    de parênquima total e DNA parenquimal; e negativamente com a quantidade e

    porcentagem de tecido adiposo da glândula. O trabalho mostra como novilhas com

    alto consumo de energia podem apresentar redução no desenvolvimento mamário, e

    sugere que em caso de dietas com alta energia, a restrição de consumo seja uma boa

    prática de manejo.

    Esses trabalhos mostram, de maneira clara, que animais em regime alimentar

    restrito tem maiores níveis de GH e, quando ganhando até 650 g/d, apresentam

    melhor desenvolvimento da glândula mamária. O ponto seguinte a ser entendido a

    partir desses trabalhos seria então se o efeito é resultante da restrição de consumo, e

    conseqüente aumento nos níveis de GH, ou devido ao menor consumo de energia

    desses animais.

    Seguindo a mesma linha de investigação, Sejrsen e Foldager (1992),

    controlaram o consumo de energia de novilhas pré-púberes através do balanceamentode dietas com alta e baixa densidade energética, e não controlando o consumo. Os

    animais não apresentaram diferença estatística com relação ao desempenho, com os

    dois grupos apresentando ganho de peso de 500 g/d; independentemente da diferença

    de consumo de matéria seca, a qual foi superior para animais com alta densidade

    energética (P

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    apresentou diferenças em relação à produção de leite na primeira lactação,

    demonstrando que em baixos níveis de alimentação (que possibilitou ganho de peso

    de apenas 500 g/d) a concentração de energia da dieta não afeta o desenvolvimento

    mamário assim como a produção de leite do animal.

    Também em 1992, Peri et al., restringiram o consumo de energia de novilhas

    de 6 meses de idade a partir do balanceamento diferenciado de dietas e de diferentes

    regimes de alimentação: A) 85% das recomendações do NRC até a puberdade,

    seguido de 120% NRC; B) controle: 100% NRC, seguido de 90% NRC; e C) ad libitum  

    durante todo o período. O ganho de peso dos animais foi significativamente diferente

    sendo de 625, 768 e 1100 g/d na fase pré-púbere e de 1162, 705 e 797 g/d na fase

    pós-púbere, para os tratamentos A, B e C, respectivamente. A produção de leite dos

    grupos B e C não foi diferente apesar da grande diferença em ganho de peso quando

    a análise dos dados foi realizada com os dados dos dois períodos em conjunto (750

    vs. 1000 g/d), e na fase pré-púbere quando animais do grupo C ganharam mais de 1

    kg/d, valor muito superior ao sugerido por Sejrsen na literatura. Entretanto, novilhas do

    grupo A, que apresentaram taxas de ganho durante a fase crítica de crescimento

    dentro do sugerido por literatura, e um ganho considerado compensatório durante a

    fase pós-púbere, apresentaram maior produção de leite na primeira lactação que

    animais dos grupos B e C. Este trabalho, apesar de não ter determinado efeito no

    desenvolvimento da glândula com medidas de peso, tecido parenquimal e adiposo,

    demonstra o efeito negativo do ganho de peso acelerado durante a fase pré-púbere na

    formação de tecido secretor de forma indireta. Reafirma também que maiores ganhos

    de peso após a puberdade não afetam o desenvolvimento da glândula, uma vez que a

    produção de leite não foi reduzida no grupo A.

    Por outro lado, esses dados não foram confirmados no trabalho de Barash et

    al. (1994), onde novilhas recebendo dietas de baixa densidade energética dos 6 aos

    10 meses, seguida de dieta para ganho compensatório durante mais 2 meses (ainda

    anterior à puberdade), foram comparadas a novilhas recebendo uma dieta controleque permitiu ganho de 650 g/d. Novilhas no tratamento para ganho compensatório

    apresentaram ganho de peso de 460 e 1090 g/d enquanto os animais controle

    apresentaram ganhos de 780 e 550 g/d no 1o e 2o período, respectivamente. Apesar

    de novilhas no tratamento para ganho compensatório apresentarem ganho de peso de

    1090 g/d durante os últimos dois meses da fase pré-púbere, não houve diferença

    significativa na redução de produção de leite desses animais. A alta disponibilidade de

    energia metabolizável (EM) durante o 2o  período (ainda pré-púbere) poderia ter

    resultado em menor produção de leite, mas essa dieta foi fornecida somente 40 kg

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    antes do início da puberdade, o que talvez tenha reduzido o efeito negativo no

    desenvolvimento da glândula mamária.

    O efeito da fonte de proteína da dieta no desenvolvimento da glândula mamária

    de novilhas também foi avaliado em diversos trabalhos (Van Amburgh e Galton, 1994;

    Mantysaari et al ., 1995; Purup et al ., 1999). Entretanto, ainda se faz necessário a

    realização de trabalhos para se avaliar diferentes concentrações de nitrogênio, ou

    proteína, uma vez que trabalhos realizados com ratos e ovelhas mostraram que este

    fator pode influenciar o desenvolvimento da glândula mamaria.

    Pesquisadores da Universidade de Cornell realizaram estudo utilizando

    quantidade crescentes, mas ainda muito reduzidas, de proteína sobrepassante (não

    degradável no rúmen) em dietas formuladas para ganhos de peso de 600 (A), 800 (B)

    e 1000 g/d (C) (Van Amburgh e Galton, 1994). Os tratamentos foram impostos do

    desaleitamento até um peso vivo de aproximadamente 340 kg e, durante este período,

    os animais apresentaram ganho de peso de 710, 840 e 950 g/d, para os tratamentos

    A,B e C respectivamente. Embora dois grupos tenham apresentado ganhos de peso

    elevados, em comparação ao limite sugerido em literatura, não foram observadas

    diferenças com relação ao desempenho na primeira lactação entre os tratamentos. Os

    autores sugerem que a ausência de efeito na produção de leite se deve a manutenção

    de escore da condição corporal (BCS) das novilhas por volta de 3, numa escala de 1 à

    5, sendo sugerido um BCS de no máximo 4 para novilhas pré-púberes (Van Amburgh

    e Galton, 1994). Os autores não observaram efeito algum da proteína sobrepassante

    no ganho de peso das novilhas, provavelmente devido às pequenas diferenças de

    quantidades adicionadas nos tratamentos. Os autores sugerem que ganhos de 950 g/d

    podem ser aplicados desde que as dietas sejam bem balanceadas e que animais não

    sejam supercondicionados. Assim, o efeito negativo no desenvolvimento da glândula

    mamaria, neste estudo medido indiretamente através de produção na primeira

    lactação, pode não ocorrer. Os animais com maiores ganhos de peso apresentaram

    ainda redução na IPP, sendo a diferença de até 85 dias comparando-se grupos A e C,o que possibilita a obtenção de um animal em produção mais cedo.

    Da mesma forma, Mantyssari et al. (1995) não observaram efeito da fonte de

    nitrogênio (uréia ou farelo de canola) na dieta de novilhas com relação ao

    desenvolvimento da glândula mamária quando estes animais foram submetidos a

    dietas com alto ou baixo nível energético. Entretanto, como demonstrado em trabalhos

    anteriores (Sejrsen et al ., 1983; Sejrsen e Foldager, 1992; Peri et al ., 1992), houve

    aumento significativo da quantidade de tecido e de DNA parenquimal em animais

    recebendo dietas com menor nível de energia, que resultaram em ganhos de 692(uréia) e 655 g/d (farelo de canola) quando comparados com dietas de maior nível

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    energético, que resultaram em ganhos de 805 (uréia) e 890 g/d (farelo de canola). Os

    níveis de GH e IFG-I não foram afetados pelo nível energético da dieta, mas o

    desenvolvimento mamário foi mais uma vez positivamente correlacionado com nível

    de GH.

    Em sumário realizado por VandeHaar (1997), reduções estatisticamente

    significativas no desenvolvimento da glândula mamária ocorreram em apenas quatro

    dos sete estudos agrupados (Tabela 15). Estes trabalhos apresentam grande variação

    com relação aos métodos utilizados para induzir altas ou baixas taxas de crescimento

    nos animais, além de variação na idade para início do tratamento. Alguns desses

    estudos utilizaram ainda diferentes metodologias para acessar desenvolvimento da

    glândula mamária, o que limita a comparação de trabalhos.

    Usando técnicas semelhantes, Radcliff et al. (1997) e Sejrsen et al. (1982),

    obtiveram resultados diferentes com relação ao desenvolvimento da glândula, em

    termos de mg de DNA parenquimal, para novilhas com altas taxas de crescimento.

    Aplicando ganhos diários de 800 ou 1200 g em novilhas holandesas com dietas de alta

    energia e alta proteína, Radcliff e colaboradores reduziram idade à puberdade, sem

    alterar peso vivo ou altura de cernelha nessa mesma idade. Não foram alterados

    também o DNA, RNA ou a relação destes no parênquima mamário. De maneira

    contrária, Sejrsen et al. (1982) observaram reduções de 23% no peso do tecido

    secretor e de 32% no conteúdo de DNA quando novilhas foram alimentadas ad libitum ,

    com ganhos médios de 1200 g/d, ou de forma restrita, permitindo ganho diário de

    600g.

    VandeHaar (1997) também compilou dados de trabalhos onde se determinou o

    efeito da nutrição pré-púbere na produção de leite da primeira lactação e observou

    diferença significativa em cinco dos seis estudos nos quais novilhas tiveram alto ganho

    de peso antes da puberdade. Pode-se concluir desse sumário que a dieta na fase pré-

    púbere pode afetar a produção de leite mesmo quando o ganho de peso não foi

    diferente. Este é o caso do trabalho de Murphy et al. (1991), onde novilhas receberamdietas a base de silagem de milho ou alfafa, e apresentaram ganhos de peso

    semelhantes (770 g/d), entretanto aquelas alimentadas com alfafa na fase pré-púbere

    apresentaram maior produção de leite na primeira lactação.

    Variações no desenvolvimento da glândula mamária e produção de leite em

    resposta à dieta na fase pré-púbere podem ser devido a diferenças nos protocolos

    utilizados em experimentos, diferenças de raça e genótipo dos animais, idade na qual

    os tratamentos foram aplicados, nutrição após a puberdade, peso vivo na parição, e

    composição da dieta em relação à energia. Mas, o único fator que mostra diferenças

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    consistentes entre os diversos estudos compilados, é a porcentagem de proteína da

    dieta, ou ainda, a relação proteína bruta e energia das dietas.

    Tabela 15. Sumário realizado por VandeHaar (1997) relacionando ganho de peso

    diário, DNA parenquimal e relação proteína bruta (PB) e energia metabolizável (EM)

    da dieta.

    Referência Tratamento  Idade/  

    Duração Ganho

    dePesog/d 

    Respostamamaria1 /  

    45,5 kg de pesovivo 

    RelaçãoPB:EM2 

    Sejrsen et al .  Consumo restrito  7 meses  635  223 mg  48 (1982)  Ad libitum  aos 320

    kg 1270  151 mg  48 

    Petitclerc et

    al . 

    Consumo restrito  5 meses  770  103 mg  48 

    (1984)  Ad libitum  aos 350kg 

    1044  77 mg  48 

    Capuco et al .  Alfafa/baixo grão  7 meses  770  260 mg  83 (1995)  Alfafa/alto grão  Aos  953  245 mg  83 

    Silagem milho/baixasoja 

    330 kg  770  277 mg  83 

    Silagem milho/alta soja  953  145 mg*  54 Radcliff et al .  90% feno/10% grão  4 meses  770  195mg  89 

    (1997)  25% feno/75% grão  ao 2 o mêspós

    púbere 

    1225  200mg  68 

    * Diferença estatisticamente significante P68 g/Mcal), apesar do ganho diário (770g) ter sido o mesmo entre tratamentos

    (Murphy et al., 1991). Pode-se inferir ainda que animais com maiores taxas de

    crescimento tenham maior exigência protéica e, sendo assim, maiores relaçõesPB:EM sejam necessárias para máximo desempenho, sem que a glândula mamária

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    seja afetada. Em trabalhos onde foram aplicadas altas taxas de ganho de peso em

    animais pré-púberes, alimentados com dietas seguindo recomendações do NRC,

    observou-se efeito negativo no desenvolvimento da glândula mamaria (Sejrsen et al .,

    1982; Harrison et al ., 1983; Petitclerc et al ., 1984). Contrariamente, quando animais

    foram alimentados com dietas contendo relação PB:EM acima do recomendado pelo

    NRC (50-60 g/Mcal) não se observou efeito, mesmo em animais com ganho de peso

    diário acima do limite superior sugerido em literatura (0,95 kg/d - 83 g/Mcal, Capuco et

    al ., 1995; 1,2 kg/d - 68 g/Mcal, Radcliff et al ., 1997). O efeito de maiores níveis de

    proteína, ou maior relação PB:EM na fase pré-púbere, na produção futura desses

    animais criados com altas taxas de crescimento precisa ser mais estudado.

    Em estudo recente Dobos et al . (2000) avaliaram o desenvolvimento mamário e

    a produção de leite a primeira lactação em novilhas alimentadas com dietas de alta

    energia com variações nos teores de proteína bruta e proteína não degradável no

    rúmen (PNDR). As maiores taxas de ganho de peso foram observadas nos

    tratamentos com alta PB (70 g PB/Mcal EM), quer em baixa ou alta PNDR. O melhor

    padrão de desenvolvimento da glândula foi observado no tratamento com alta PB e

    baixa PNDR, embora não tenha ocorrido diferença significativa na produção de leite na

    primeira lactação.

    A nova edição do NRC (2001) associou valores de peso adulto com exigências

    para crescimento, de forma a adequar a composição corporal da novilha, maximizando

    ganho de peso, sem prejudicar o desenvolvimento da glândula mamária. A avaliação

    da tabela de exigências para novilhas revela algumas relações:

    1) Conforme o peso vivo animal aumenta, o conteúdo de energia do ganho aumenta,

    enquanto a proteína diminui, uma vez que mais energia é depositada como gordura.

    2) Conforme o ganho de peso aumenta, o conteúdo de energia do ganho aumenta,

    enquanto o da proteína diminui, por que o ganho contém maior proporção de gordura

    conforme a taxa de ganho aumenta.

    3) Conforme o animal aumenta seu peso, a exigência de proteína metabolizável nãoreduz tão rapidamente quanto a exigência de proteína líquida, por que a eficiência de

    absorção de proteína diminui.

    Comparando dietas com diferentes relações entre proteína metabolizável e EM

    (37, 41, ou 44 g PB/Mcal EM), Withlock et al . (2002) sugeriram que o fornecimento de

    dietas com baixos teores de proteína bruta aumentam o risco de redução do

    desenvolvimento da glândula mamária, quando novilhas são alimentadas para alto

    ganho de peso e redução da idade a puberdade. Os autores afirmam que as

    recomendações para a relação proteína:energia contidas na nova edição do NRC(2001) são adequadas para bom desenvolvimento da glândula mamária. Os dados em

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    literatura são sempre referentes a dietas utilizando-se forragem conservada como

    silagem de milho, pré-secado de alfafa ou até mesmo feno de alfafa, sendo então

    necessária a geração de dados de animais recriados a pasto com suplementação de

    concentrado.

    A possibilidade de se reduzir a idade ao primeiro parto pelas altas taxas de

    crescimento, sem que ocorra efeito negativo no desenvolvimento da glândula mamária

    com a utilização de dietas com maior relação PB:EM parece promissora do ponto de

    vista econômico. Embora exista um custo associado a maiores níveis de proteína na

    dieta desses animais, em projeção feita por VandeHaar (1997), um investimento de

    US$ 82 na criação de uma novilha resultaria em retorno de US$120.

    Considerações Práticas

      A produção de leite de novilhas está ligada ao desenvolvimento da glândula

    mamária.

      O perfil hormonal tem grande influência no processo de desenvolvimento da

    glândula mamária.

      Ganhos de peso acima do recomendado podem prejudicar o desenvolvimento

    da glândula mamária.

      Aumento na relação PB:EM em dietas para novilhas durante a fase pré-púbere

    pode inibir o efeito negativo de altos ganhos de peso na fase pré-púbere.

      Peso vivo e escore de condição corporal devem ser monitorados

    periodicamente para avaliar o desenvolvimento dos animais. A tabela 3 sugere

    pesos a diferentes idades que podem servir como orientação para o

    estabelecimento de metas numa propriedade leiteira.

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    Tabela 16. Sugestões de desenvolvimento ponderal para fêmeas de reposição deraças grandes, pequenas e de animais mestiços Holandês-Zebu.

    Idade (meses)  Peso (kg) 

    Raças grandes  Nascimento  40 

    2 meses  68 6 meses  146 15 meses - cobrição  340 24 meses - parição  550 

    Raças pequenas  Nascimento  25 2 meses  41 6 meses  104 13 meses - cobrição  250 22 meses - parição  360 

    Mestiças Holandês-Zebu  Nascimento  30 2 meses  55 6 meses  120 24 meses - cobrição  330 33 meses - parição  420 

    II. Instalações para Novilhas

    Assim como durante a fase de aleitamento, as instalações de novilhas

    desmamadas devem ser ventiladas, limpas, com sombra disponível, e que permitam

    acesso fácil e adequado ao alimento e a água. A Figura 45 apresenta exemplos de

    instalações inadequadas, com alto número de animais por área, difícil acesso ao

    alimento e ventilação inadequada e problemas relacionados ao piso. Existem inúmeras

    opções de instalações para novilhas desmamadas, desde instalações de alvenaria

    como free-stall (Figura 46), tie-stall (Figura 47) e loose-housing (Figura 48), os quaisapresentam alto investimento, até a utilização de piquetes (Figura 49), o que é mais

    adotado em nossas condições. No caso de instalações fechadas, a superpopulação

    deve ser evitada, uma vez que representa grande fonte de estresse principalmente

    para novilhas mais jovens. Qualquer que seja o tipo de instalação, é muito importante

    a manutenção de LOTES HOMOGÊNEOS, de forma a garantir adequado ganho de

    peso individual dos animais do lote.

    Atenção especial deve ser dada a bezerras recém desaleitadas para que seu

    crescimento não seja prejudicado. É importante que, após o desaleitamento, a bezerracontinue por mais alguns dias na mesma instalação (casinha na maior parte dos

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    casos) e depois seja transferida para outra instalação ou piquete em um grupo

    homogêneo e de pequeno número (5 animais).

    Figura 45. Exemplos de instalações inadequadas

    Figura 46. Exemplos de Free-stall

    Figura 47. Exemplos de Tie-stall

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    Figura 48. Exemplos de loose-housing

    Figura 49. Novilhas criadas em piquete provido de sombra, cocho e bebedouro

    A formação de grupos ou lotes homogêneos, respeitando-se o número

    adequado de animais por lote, é um ponto muito importante no manejo de novilhas.

    Conforme as novilhas crescem suas necessidades são alteradas com relação ao

    manejo nutricional e também de espaço e condições ambientais. Assim, as principais

    exigências com relação á instalações são determinadas pela necessidade de espaço

    conforme os animais crescem, mudanças na dieta, no manejo sanitário e reprodutivo e

    até necessidade maior ou menor de observações. Conforme as novilhas crescem a

    necessidade de abrigo diminui. Também com o crescimento das novilhas, o número

    de animais por lote pode ser aumentado, podendo existir maior variação na idade e

    peso dos animais sem que ocorram prejuízos no desempenho. Também importante é

    a necessidade de observação e contenção dos animais que pode variar de acordo

    com o manejo sanitário e reprodutivo do rebanho. A Tabela 17 apresenta um resumo

    contendo sugestões para a divisão de lotes na propriedade, número de animais por

    lote e exigência de espaço por animal.

    Tabela 17. Recomendações para instalações de bezerros e novilhas.

    Grupoa  Idade

    (meses)

    Número

    máximo de

    animais/

    grupo

    Máxima

    variação de

    idade dentro do

    grupo

    Máxima

    variação de

    peso dentro

    do grupo (kg)

    Área mínima de

    piquete por

    animal (m2)

    Comprimento

    mínimo de

    cocho por

    animal (cm)b

    Largura e

    comprimento de

    baias de free-stall

    (cm)

    1 0-2 1 0,7-1 Individual Não recomendado

    2 2-4 3-5 3 semanas 0,9 45 Não recomendado

    3 4-6 6-12 2 meses 34 0,9 38 70 x 122

    4 6-9 10-20 3 meses 70 0,9 38 76 x 138

    5 9-12 10-20 3 meses 90 0,9 45 87 x 153

    6 12-18 10-20 6 meses 135 1,2 50 97 x 183

    7 18-parto 10-20 6 meses 135 1,2 55 107 x 215a Grupos de 4 a 7 podem ser combinados no caso de reduzido número de animais. Quandoforem feitas combinações, exigências nutricionais e de manejo, além de peso e idade dosanimais devem ser considerados.b No caso do fornecimento de ração completa, o comprimento de cocho por animal pode serreduzido em 20% em grupos com animais com idade acima de 6 meses.

  • 8/17/2019 Recria de Novilhas Leiteiras

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    Instalações simples, com diferentes tipos de área de descanso para os

    animais, podem ser utilizadas como free-stall, tie-stall, loose-housing (que é também o

    caso de piquetes com cochos e bebedouros). Existem vantagens e desavantagens da

    adoção de cada uma destas alternativas, geralmente relacionadas ao custo inicial e de

    manutenção. É importante que as instalações permitam fácil remoção de esterco e no

    caso de piquetes a não formação de barro. A formação de barro também pode ser

    evitada com a utilização de cochos de fácil movimentação, como o cocho trenó (Figura

    50), ou com a pavimentação de área subjacente ao cocho. Estas instalações devem

    permitir também, fácil movimentação dos animais para que a cada pesagem possam

    ser remanejadas para novos grupos de acordo com peso e altura.

    Figura 50. Cocho tipo trenó

    Do ponto de vista de manejo nutricional, é vantajosa a adoção de piquetes ou

    instalações que permitam o fornecimento do alimento sem que o tratador tenha que

    entrar no piquete, o que demanda tempo e contribui para a formação de barro. Assim,

    linhas de cocho pavimentado e/ou revestido, com altura pouco acima do nível do chão

    tem sido adotadas (Figura 51). Muretas, postes e cordoalhas ou a utilização de canzil

    são necessários para separar os animais do cocho propriamente dito. Sugestão de

    dimensões de barreiras e cordoalhas são apresentadas na Tabela 18 e Figura 52. A

    orientação destas linhas de cocho no sentido norte-sul também é recomendada por

    permitir a entrada de sol tanto no cocho como na linha de alimentação, reduzindo a

    formação de lama.

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      Figura 51. Exemplos de linhas de cocho com canzil ou cordoalha

    Tabela 18. Sugestão de dimensões de postes e muretas.

    Idade (meses) Peso (kg) Altura da mureta (cm) Altura da cordoalha (cm)

    6-8 165-225 35.5 71

    9-12 225-295 40 76

    13-15 295-350 43 86

    16-24 350-545 48 104

    Vacas 545-680 53 122

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    Figura 52. Dimensões para construção de cocho pavimentado

    Suporte ou poste

    Altura da cordoalha

    Corredor para

    alimentação

    Altura

    da

    mureta

    Linha de cocho

    Superfície do cocho

    20

    cm

    10-

    15

    cm

    5-15 cm