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RECUPERAÇÃO AMBIENTAL DA NASCENTE DO CÓRREGO
SÃO MIGUEL – SANTO ANTONIO DO CAIUÁ – PR
Maria Izabel Gaspar Pires1 Orientadora: Dra Marcia Regina Royer2
RESUMO: Às modificações impostas pela sociedade aos ecossistemas naturais, alterando as suas características físicas, químicas e biológicas, comprometendo, assim, a qualidade de vida dos seres humanos, refere-se ao conceito de degradação ambiental. Uma área degradada pode ser recuperada tendo em vista sua destinação para diverso uso possível associado à ideia de que o local alterado seja trabalhado de modo que lhe devolva o equilíbrio dos processos ambientais ali atuantes anteriormente. Este trabalho avaliou uma área degradada ao longo de um córrego e procurou propor medidas que minimizem e evitem os impactos ambientais. As propostas de recuperação visam isolamento da área ao redor do córrego compondo sua área de preservação permanente, sua revegetação com o uso de mudas das espécies nativas presentes nos remanescentes locais e o combate aos processos erosivos decorrentes das enxurradas da cidade e ausência de mata ciliar. Estas medidas são indispensáveis para manutenção do ecossistema do córrego, inclusive porque este tem uma importância vital para (manutenção da qualidade da água do manancial) abastecimento da população de Santo Antônio do Caiuá, pois, o abastecimento é através de poços artesianos, e a nascente está próxima da área urbana.
PALAVRAS-CHAVE: Degradação; Recuperação; Nascente; Córrego.
INTRODUÇÃO
O presente trabalho atende às diretrizes do Programa de
Desenvolvimento educacional (PDE) oferecido pela secretaria de Educação
(SEED) a professores da rede pública estadual de ensino (PARANÁ, 2008).
Ao longo dos séculos, a ação humana vem causando a degradação dos
ecossistemas, o que gerou vários problemas ambientais. Dentro deste
contexto, a recuperação de áreas degradadas tornou-se cada vez mais
necessária para diminuir os efeitos negativos da destruição de ambientes
naturais (SOARES, 2008).
1 Professora da Rede Pública Estadual do Paraná – Participante do PDE – 2012
2 Professora do Colegiado de Ciências Biológicas da Universidade Estadual do Paraná –
UNESPAR – Campus de Paranavaí.

Área degradada pode ser definida como um ambiente modificado por
uma obra de engenharia ou submetido a processos erosivos intensos que
alteraram suas características originais além do limite de recuperação natural
dos solos, exigindo, assim, a intervenção do homem para sua recuperação
(NOFFS, 2000).
Dentre os ecossistemas mais intensamente utilizados e degradados pelo
homem cita-se a mata ciliar. Isto ocorreu por possuírem solos férteis e úmidos,
ideais para a agricultura; fornecerem madeira; apresentarem condições
adequadas para a construção de estradas, principalmente nas regiões
montanhosas; para exploração da areia e cascalho e, devido à sua beleza
cênica serem intensamente utilizadas para a urbanização e recreação
(BOTELHO e DAVIDE, 2003).
As matas ciliares são fundamentais para o equilíbrio ambiental uma vez
que em escala local e regional, protegem a água e o solo, além de reduzir a
erosão e o consequente assoreamento de rios ao mesmo tempo em que
dificultam o aporte de poluentes (TABUTI et al., 2007). De acordo com Oliveira
(1999) as matas ciliares são florestas ou outros tipos de cobertura vegetal
nativa que margeiam rios, igarapés, lagos, córregos, nascentes de córregos e
outros corpos d´ água, mesmo que temporários ou construídos pelo homem,
como represas.
Para Tabuti et al. (2007) a cobertura vegetal é fator importante no
controle de desgaste do solo, sua ausência propicia o aumento do escoamento
superficial, maior desagregação das partículas do solo e consequente
acréscimo de erosão uma vez que a água da chuva inicia a sua ação erosiva
pela atuação direta da gota, soltando as partículas da terra. Ocorre, também,
uma redução substancial na taxa de infiltração da água que deveria realimentar
o aquífero e promover a regularização da vazão dos cursos d’ água, uma vez
que o fluxo subterrâneo é bem mais lento que o superficial.
A recuperação de áreas degradadas pode ser conceituada como um
conjunto de ações que visam proporcionar o restabelecimento de condições de
equilíbrio e sustentabilidade anteriormente existente em um ecossistema
natural, exigindo uma abordagem sistemática de planejamento e visão em
longo prazo (DIAS e GRIFFITH, 1998).

De acordo com Griffith et al. (1994) os objetivos de recuperação de uma
área degradada são: recuperação e conservação da flora regional, controle de
erosão e assoreamento, proteção de recursos hídricos, recuperação da fauna,
melhoria do micro clima, recreação, beleza e lazer, além da regularização
hidrológica.
Diversas propostas para recuperar áreas degradadas apresentam-se
com alta eficiência e rapidez. Porém para executar a metodologia que melhor
se enquadra precisam-se conhecer as exigências ecológicas, sociais e
econômicas da região estudada (KOBIYAMA et al., 2001).
Os córregos são caracterizados pela morfologia, sedimentos e
comunidade biótica, que reflete os cenários naturais e humanos atuantes nas
bacias hidrográficas (COSTA et al., 2007). O córrego São Miguel, o qual foi
estudado, não apresenta uma situação divergente daquela encontrada em
grandes centros urbanos. Tendo em vista a importância local (devido a
proximidade), este córrego não pode deixar de existir. Justifica-se, deste modo,
o interesse em recuperá-lo e protegê-lo buscando medidas de preservação.
A educação ambiental constitui um inovador caminho educacional
como parte da solução para problemática da degradação ambiental que
preocupa e envolve todos os setores da sociedade.
O Plano Nacional de Educação (PNE), lei n 10172/2001, reafirma em
seu artigo 28, que a educação ambiental, tratada como tema transversal,
deverá ser desenvolvido como prática integrada, o que reforça um currículo
integrado.
O objetivo deste trabalho foi estudar o leito do córrego São Miguel e sua
mata ciliar, no município de Santo Antônio do Caiuá, PR, além de promover um
projeto técnico de recuperação da mata ciliar da área degradada.
MATERIAL E MÉTODOS
Este trabalho foi realizado entre fevereiro a maio de 2013 com alunos do
9º ano, matutino e vespertino, do Ensino Fundamental do Colégio Estadual
Duque de Caxias EFM no município de Santo Antônio do Caiuá, PR (Figura 1).

O recurso hídrico estudado foi à nascente do Córrego São Miguel,
pertence à bacia hidrográfica do Paranapanema IV. Está localizado na latitude
22°43,S e longitude 52°20,O, com altitude de 500m, e sua extensão de
aproximadamente 1 Km e largura que varia de alguns centímetros até 5m.
Figura 1.·Santo Antônio do Caiuá –Paraná, Brasil. – Wikipédia, a enciclopédia livre - acesso em 11/ago/2013.
Os trabalhos iniciaram-se na semana pedagógica em fevereiro de 2013
com a divulgação do Projeto de Recuperação da Nascente do Córrego São
Miguel, com das atividades de implementação do projeto, já com intuito de
envolver outras disciplinas e assim os demais professores do colégio.
Nas aulas de ciências com as referidas turmas, iniciamos as atividades
com textos informativos, vídeos sobre ciclo da água e estações de tratamento
de água e de esgoto e, leis referente as nascentes. Informações pontuais foram
passadas na tentativa de conscientização desses futuros cidadãos. Discutimos
as atividades de observação do local do estudo.
Em um projeto de recuperação de áreas degradadas, como forma de
preservar e proteger o meio ambiente destaca-se três linhas de atuações
básicas: ação preventiva, ação corretiva e monitoramento (TABUTI et al.,
2007). Este trabalho, portanto, classifica-se como sendo de ação corretiva.
Com este propósito foram realizadas as etapas abaixo, seguindo o modelo de
trabalho de Kobiyama et al. (2001):
1) Coleta de informações legais (obrigações previstas na legislação
vigente);
2) Coleta de informações com os proprietários: destinação futura da área.

3) Coleta de informações históricas: ocupação e utilização da área, com
revisão bibliográfica e fotográfica da região, informações sobre a área pré-
degradação (composições florística e faunística, hidrografia, clima, atividade
antrópicas);
4) Diagnóstico com observações de campo, para identificação e avaliação
dos impactos; mapeamento das diferentes unidades de paisagem;
caracterização do solo – limites do solo, fertilidade; flora – observações de
campo (curto prazo) e levantamento florísticos (a longo prazo), estágios
sucessionais e estratos da vegetação.
Além disso, realizou-se uma comparação fotográfica como tentativa de
identificação florística e aplicação de princípios sucessionais. Também como
métodos para propor a revegetação foram observados os remanescentes
locais presentes próximos à área degradada, com latitude em torno de 22° 43,
S e longitude 52° 20, O e altitude variando de 450m a 520m (Figura 2).
Os levantamentos florísticos e os estágios sucessionais das espécies
foram realizados com pioneiros e pessoas próximas aos antigos proprietários.
As espécies coletadas foram comparadas com as encontradas no livro de
Lorenzi (2002).
Os alunos coletaram folhas, flores e frutos das plantas encontradas na
região estudada e posteriormente com o auxílio do professor PDE, fizeram a
comparação com plantas catalogadas e descritas em livros, podendo assim
identifica-las com o nome científica e popular.
Figura 2. Remanescentes florísticos na área degradada estudada. Foto: Maria Izabel.

DESENVOLVIMENTO
As informações sobre ciclo da água, fornecida pelo vídeo, aguçou a
curiosidade de alguns alunos a respeito de onde vinha a água. Após assistir e
discutir sobre o vídeo: estações de tratamento de água e de esgoto, a turma
manifestou interesse em conhecer na prática o abastecimento de água da
cidade, além de observarem os poços artesianos, frequentes na cidade.
Os alunos tiveram dificuldade de entender os textos. O objetivo de
estudarmos foi de vivenciar o histórico de como o município surgiu e como
devastaram o nosso meio ambiente, refletindo no presente. Alguns alunos
compreenderam que a necessidade de ações são de suma importância. Após
este estudo, iniciou-se o trabalho no campo, onde os alunos juntamente com a
professora PDE foram identificar e diagnosticar o local a ser pesquisado.
Verificou-se a necessidade de ajuda técnica as quais foram obtidas junto a
prefeitura.
Observou-se que a nascente do Córrego São Miguel localiza-se em uma
área que foi uma grande propriedade rural, bem próxima da cidade, hoje
tomada pela erosão, que o descaso ou mesmo ignorância (falta de
conhecimento necessário para os cuidados) foi gerado um lixão.
Analisando as informações coletas, verifica-se na figura 3 que o córrego
São Miguel apresenta na sua cabeceira, considerável área de mata ciliar com
espécies típicas de Floresta Estacional Semidecidual, o que contribui para a
proteção de sua nascente. Porém ao longo de seu leito, essa vegetação vai se
tornando escassa, dando lugar ao assoreamento do córrego. Na margem
esquerda do córrego São Miguel está localizada uma propriedade do que
restou de uma fazenda, devido a erosão se tornando uma voçoroca.
Na margem direita do córrego existe presença de gado, os quais
descem até o córrego para beber água, isso provoca prejuízos como
assoreamentos em seu leito e pisoteio da vegetação circundante e, além disso,
tem a presença de chiqueiros de porcos (Figura 4).

Figura 3. Nascente do córrego São Miguel com presença de mata ciliar. Foto: Maria Izabel.
O solo de região, classificado como arenoso-argiloso, facilita a formação
de erosões e assoreamentos, interferindo na vida vegetal do entorno do
córrego. Este processo erosivo agrava a situação do Córrego São Miguel, pois
a voçoroca atinge a profundidade de 15 a 20 metros (Figura 5).
Figura 4. Chiqueiros de porcos próximos ao tubos da rede pluvial e a nascente do Córrego.
Foto: Maria Izabel.

Na região de intervenção foi observado o córrego totalmente degradado,
com pouca mata ciliar em seu entorno completamente assoreado. Como
consequência do assoreamento, a lâmina de água do Córrego São Miguel,
nesta área, é muito pequena, em torno de 5 a 10 cm. Observou-se presença
constante de eucalipto nas proximidades (as árvores maiores). Existe uma
polêmica quanto a utilização dessa espécie para áreas degradadas, em relação
ao rápido crescimento e a sua absorção em excesso de água, causando
prejuízo as outras espécies necessárias à mata ciliar.
Figura 5. Erosão e voçoroca no Córrego São Miguel. Foto: Maria Izabel.
Informações coletadas com antigos moradores da área, que habitam a
região há 20 anos, apontam que este córrego tinha em torno de um metro de
profundidade, e com o passar dos anos, devido a chuvas fortes e a enxurrada,
o mesmo córrego foi se perdendo em meio a grande quantidade de areia
carregada, e ainda na abertura de mata a 60 anos atrás, havia vegetação
abundante e o desmatamento ocorreu para construção das casas, e as
propriedades foram acontecendo, não pensando no futuro. Os tubos que
cortam a cidade desembocam nesse local de estudo.
As observações e levantamentos da vegetação remanescente ao longo
do córrego São Miguel, foram utilizadas para a confecção do plano de ação, a
fim de recompor a vegetação degradada, conforme modelo citado por
Kobiyama et al. (2001).

Na tabela 1 consta o resultado do levantamento florístico como nome
científico, nome popular e classificação quanto a sucessão ecológica das
espécies presentes na mata ciliar do Córrego São Miguel. Nas figuras 6A e 6B
algumas destas plantas encontradas na área de estudo.
Tabela 1. Espécies encontradas nos remanescentes florestais próximos ao Córrego São Miguel, município de Santo Antonio do Caiuá – PR.
NOME CIENTÍFICO NOME POPULAR CLASSIFICAÇÃO
Bauhinia rufa (Bong.) Steud. Pata-de-vaca Pioneira
Cassia fruginea Scharad. Canafístula Pioneira
Cedrela odorata L. Cedro-do-brejo Pioneira
Croton urucurana Baillon. Sangra d,água Pioneira
Cecropia pachystachya Trec. Embaúba Pioneira
Esenbeckia febrifuga Mart. Mamoninha Pioneira
Gallesia integrifolia (Spreng.) Harms Pau d,alho Pioneira
Parapiptadenia rigida (Benth.) Brean Angico Pioneira
Peschiera fuchsiaefolia (A. DC.) Miers Leiteiro Pioneira
Syagrus romanzoffiana Jerivá Pioneira
Zanthoxylum rhoifolium Lam. Mamica de Porca Pioneira
Campomanesia xanthocarpa Berg. Gabiroba Secundária
Citrus bigaradia Limão rosa Secundária
Cordia ecalyculata Vell. Gabiroba Secundária
Psidium guajava L. Goiabeira Secundária
Nectandra membranacea (Swartz) Griseb Louro Secundária
Tabebuia ochracea (Cham.) Standl Ipê-amarelo Clímax
Tabebuia avellanedae Lorentz ex Griseb Ipê-roxo Clímax

Figura 6 A. Psidium guajava L. – Goiabeira – Secundária. Foto: Maria Izabel.
Figura 6 B. Cecropia pachystachya Trec. - Embaúba – Pioneira. Foto: Maria Izabel.

Estudando todas as condições apresentadas, deve-se considerar a
legislação relacionada às matas ciliares. De acordo com o Código Florestal (Lei
12.651) do dia 25 de maio de 2012, com o art. 1° estabelece normas gerais
sobre a proteção da vegetação, áreas de Preservação Permanente e as áreas
de Reserva Legal; a exploração Florestal, são bens de interesse comum a
todos os habitantes do País exercendo-se os direitos de propriedade, com as
limitações que a legislação em geral estabelece. Isso mostra que os
proprietários de terras precisam seguir a legislação vigente para utilização das
mesmas.
As matas ciliares que estavam protegidas no art. 2°, do antigo Código
Florestal da Lei n° 4771/65, foi revogado no novo Código Florestal da Lei
12.561/2012 no Art. 4° - no parágrafo IV – as áreas no entorno das nascentes e
dos olhos d,água perenes, qualquer que seja sua situação topográfica, no raio
de 50 metros. A largura mínima da faixa marginal que deve ser preservada
pode variar de 50 a 600m, dependendo da largura dos cursos d,água. No caso
das nascentes, mesmo que intermitentes, o raio mínimo de vegetação deve ser
de 50m.
Notou-se que o Córrego São Miguel, não tem sua área de preservação
permanente adequada, sendo que a nascente tem de diâmetro, em torno de
15m de vegetação, sendo necessário, de acordo com a legislação, 50m. Além
disso, este córrego tem menos de 5m de largura, portanto, a largura da
cobertura vegetal da APP, segundo o art. 4° da Lei n° 12.651/12 do Código
Florestal deve ser de 50m. Isto não ocorre ao longo do seu leito, que apresenta
desde a ausência total de vegetação, até, apenas alguns representantes da
vegetação original, não ultrapassando 10m.
Como forma mitigadora da degradação, propõe-se isolar a área ao redor
do córrego de acordo com a metragem estabelecida pela legislação, não
permitindo presença de animais, como o gado que utiliza o leito como
bebedouro (Figura 7). Segundo o art. 4° da Lei n° 12.561/12, só é permitido o
acesso de pessoas e animais às áreas de preservação permanente, para
obtenção de água, desde que não exija a supressão e não comprometa a

regeneração e a manutenção a longo prazo da vegetação nativa, o que não
vem ocorrendo na área do córrego.
Após isolamento da área ao redor do córrego, será preciso considerar as
características do solo na sua região e o levantamento florístico dos
remanescentes a fim de propor espécies para recompor a área. A meta da
revegetação é a de criar um novo ecossistema, o mais semelhante possível ao
original, de modo a criar condições de biodiversidade renovável, em que as
espécies regeneradas artificialmente tenham condições de serem auto
sustentáveis, ou que sua reprodução esteja garantida e a diversidade genética
em suas populações possibilite a continuidade de evolução de espécies
(KAGEYAMA et al., 1990).
Figura 7. Vaca utilizando área da nascente para beber água. Foto. Maria Izabel
Neste contexto, conceitos sobre sucessão ecológica fornecem um
valioso fundamento para desenvolver um bom programa de recuperação. Para
Reis et al., (1999) o conceito de sucessão está ligado à tendência da natureza

em estabelecer novo desenvolvimento em uma determinada área,
correspondente com o clima e as condições de solo locais. Se o
desenvolvimento inicia a partir de uma área que não tenha sido antes ocupada,
como uma rocha ou uma exposição recente de areia, chama-se de sucessão
primária e, quando este desenvolvimento se processa numa área que já sofreu
modificações, como uma área utilizada pela agricultura, ou que sofreu
desmatamento, denomina-se sucessão secundária (ODUM, 1988). Como a
área de estudo se trata da recuperação de uma área que foi impactada pelo
homem, interessa nesta pesquisa a sucessão secundária.
As espécies pioneiras são implantadas com o propósito de favorecer o
estabelecimento da dinâmica da sucessão vegetal (GALLI e GONÇALVES,
2002). As árvores pioneiras só crescem na fase inicial de uma mata, as
secundárias predominam numa fase intermediária da mata e as clímax
crescem e se reproduzem mais tardiamente na floresta madura ou primária,
mas isso não quer dizer que espécies adultas de pioneiras ou secundárias não
possam estar presentes em uma floresta clímax, já que suas sementes ficam
dormentes no solo, prontas para germinarem toda vez que houver um distúrbio
nesse ambiente estável, contudo não conseguem regenerar-se naturalmente
(LORENZI, 2002). A integração dos estágios sucessionais é fundamental para
a autorenovação harmônica e equilibrada desses ecossistemas, constituído-se
no princípio que rege todo o trabalho de recomposição de matas (GALLI e
GONÇALVES, 2002).
Com base nos estudos e levantamentos florísticos (Tabela 1), percebe-
se que os remanescentes próximos ao Córrego São Miguel, apresentam como
maioria, as espécies pioneiras, já que esta área encontra-se em um ambiente
instável e em constante perturbação. Contudo, para revegetação da área do
Córrego São Miguel, propõe-se utilizar mudas de espécies nativas encontradas
no levantamento florístico dos remanescentes florestais (Tabela 1) de forma
aleatória, a fim de acelerar o processo de sucessão secundária conforme
sugerido por Kageyama et al., (1990) e Lorenzi (2002).
As mudas serão adquiridas no viveiro da prefeitura municipal de Santo
Antônio do Caiuá e/ou compradas em viveiros particulares. O plantio será
realizado após o fim do projeto do PDE uma vez que o tempo foi limitado. Os
alunos juntamente com a professora e técnicos farão a limpeza e coveamento

da área no espaçamento de (3,0 x 1,5) m (Figura 8), para terrenos planos ou
com pouca declividade, e de (2,0 x 2,0) m (Figura 9) para terrenos de maior
declividade ou com problemas de erosão (GALLI e GONÇALVES, 2002). Será
utiliza o plantio com alinhamento em nível para facilitar a mecanização dos
tratos na manutenção da fase inicial de implantação, todas as categorias de
plantas (pioneiras, secundárias, clímax), serão plantadas numa única etapa,
excetuando-se àquelas que não toleram isolação direta. Deve-se alocar-se
mudas de espécies clímax próximas de dois ou mais exemplares de espécies
pioneiras e secundárias; estas crescerão rapidamente e proporcionarão o
sombreamento necessário às espécies clímax. Será necessário evitar que
espécies de grande porte fiquem lado a lado uma das outras (LORENZI, 2002).
______C_______P________C________S_______P3m___C______S______C
__P_______S______P_______C________S________P_______C________P
1,5m
_______S________P_______C________P_______C_______S______P_____S
__P______C_______P_______C_______S_______P______C______P_____
______C______P_______C________P______C_______S_______P______S
Figura 8. Modelo de plantio de espécies em área de terreno plano segundo GALLI e
GONÇALVES (2002) adaptado de COSTA et al., 2007.
_______C_________P________C_________S______P2m______S______C
__P_______S_______P________C________S________P_______C______P 2m
_______S_______P_______C________P_______C______S_______P______S
__P______C________P_______C_______S______P______C______P_____
_____C______P_______C________P_______C_______S_______P______S
Figura 9. Modelo de plantio de espécies em área de erosão segundo GALLI e GONÇALVES
(2002) adaptado de COSTA et al., 2007.

O reflorestamento com espécies nativas começa a surgir como uma
alternativa viável para a recuperação de áreas degradadas transformando-as
em áreas de preservação permanente, ou em reservas legais, com amplos
benefícios à biodiversidade, proteção de solo e recursos hídricos (GALLI e
GONÇALVES, 2002). Já na questão da erosão que se encontra na área do
Córrego São Miguel, medidas também devem ser propostas a fim de promover
seu controle, mesmo que a revegetação resolva grande parte deste problema.
Na área do córrego São Miguel encontra-se desde erosão laminar até
voçoroca, o que contribui para seu assoreamento e dificulta o processo de
recuperação da área degradada, por isso a adoção de práticas de conservação
do solo visa minimizar os efeitos destes principais processos erosivos
(exposição e enxurrada), conciliando a exploração econômica com a
preservação dos recursos naturais solo e água.
As erosões presentes ao longo do córrego São Miguel precisam da
junção de práticas conservacionistas para apresentar resultados satisfatórios
na recuperação da área, com isso, o proprietário e a prefeitura municipal de
Santo Antônio do Caiuá-PR devem entrar em acordo para fazer o controle da
enxurrada e dos processos erosivos, para que através destes meios, a
revegetação a ser realizada no local tenha efeitos positivos e a área degradada
retorne com o passar dos anos aos seus moldes originais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A recuperação do Córrego São Miguel é imediatamente necessária, para
evitar maiores danos para este recurso hídrico e seus remanescentes, bem
como de toda espécie de vida existente e dependente deste meio. Santo
Antônio do Caiuá faz uso de água através de poços artesianos desse lençol
freático, até quando será potável? Haja vista, pelos ultrajes que nós mesmos
estamos fazendo: rede pluvial sendo utilizada como esgoto, e sem um devido
tratamento; os porcos nas suas moradas, bem em cima da tubulação da rede
pluvial; a nascente do córrego São Miguel está localizada à alguns metros
destas fontes contaminantes, recebendo todo esse material poluidor.

A necessidade de conhecimento sobre preservação ambiental tanto para
a comunidade de Santo Antônio do Caiuá como para os alunos. É necessário
que as leis ambientais sejam cumpridas na região, caso contrário, aplicar a
punição. Os moradores da cidade não podem pagar por erros de algumas
pessoas que descumprem as leis ambientais.
É imprescindível a adoção de metodologias, propostas para que o
reflorestamento da área apresente resultados satisfatórios garantindo a
manutenção do local de fazer ali existente. Os alunos estão se envolvendo
para ajudar o local, uma comissão de munícipes está se manifestando para
que ações urgentes possam coibir a favor da nascente. A continuidade do
trabalho se faz necessário.
O desenvolvimento deste projeto contribuiu para a conscientização dos
alunos com relação a questão da preservação ambiental, importância da mata
ciliar, sucessão ecológica, preservação das nascentes, uma vez que são elas
que fornecem a água do dia a dia. Os alunos puderem perceber a importância
do trabalho em grupo e do conhecimento interdisciplinar para entender o tema
estudado.
REFERÊNCIAS
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