Red bull

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Baixe a edição digital de graça A VEZ DO BRASIL NA COPA DAS CONFEDERAÇÕES DENTRO DO VULCÃO A AVENTURA MAIS QUENTE DA TERRA DA LAMA AO CAOS BARRO E DIESEL NA F1 DA AMAZÔNIA NEYMAR JR.: PRESSÃO? QUE PRESSÃO? JUNHO DE 2013 UMA REVISTA ALÉM DO COMUM AÇÃO I ESPORTE I VIAGEM I ARTE I MÚSICA

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Revista

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Baixe a ediçãodigitalde graça

A VEZ DO BR ASIL NA COPA DAS CONFEDER AÇÕES

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NEYMAR JR.:PRESSÃO?QUE PRESSÃO?

JUNHO DE 2013UMA REVISTA ALÉM DO COMUM

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Clique e conheça

NOVO CITROËN C3

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BEM-VINDO!Formalidades em geral costumam passar longe da gente. Então, nos permita escrever algumas linhas sobre este novo produto que você tem em mãos. A The Red Bulletin, de uma maneira bem simplificada, é uma lata de Red Bull no formato de fotografias, textos e ideias. A The Red Bulletin não é uma revista sobre Red Bull, mas a revista da Red Bull. É a oferta de um estilo de vida único, que leva você a um mundo de pessoas que se atrevem a buscar feitos inéditos e a transformar em realidade o que parecia inimaginável, de Hollywood a estrelas do futebol, de campeões mundiais de Fórmula 1 a DJs, de jogadores de vôlei de praia a base jumpers. Bem-vindo ao nosso mundo e dê asas à sua inspiração!

Dietrich Mateschitz

40GAROTOS DE OURO

A Youth America’s Cup atrai os jovens velejadores que querem formar as

melhores equipes do mundo.

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26 NEYMAR JR. EXCLUSIVOConversamos com a maior estrela da seleção sobre a cobrança que é competir diante da torcida brasileira.FO

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O MUNDO DE RED BULL

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Junho

50 32lições de um bateristaAhmir Thompson, o Questlove, é batera do The Roots e toca diariamente no programa de Jimmy Fallon.

tudo marromA categoria mais inusitada do automo-bilismo nacional rola em Rondônia e mistura Carnaval com barro.

72FaZeNdo HistÓriaHoje em dia, museus não são mais um lugar onde apenas se expõe a arte. Ele são a arte.

56tribo do skateO skate recuperou a esperança de uma comunidade indígena que sofreu com o abandono nos EUA.

Vulcão adeNtroDepois de 15 anos tentando, Geoff Mackley conseguiu se embrenhar em um dos ambientes mais adversos do planeta.

64Bullevard 12 NOTAS  Pelo mundo16 NA CABEÇA DE... Mick Jagger18 ANTES E DEPOIS Mergulho20 EU E MEU CORPO  Sally Fitzgibbons22 FÓRMULA PERFEITA  Escalada24 NÚMEROS DA SORTE  Star Trek

destaques

26 Neymar Jr. é o caraEle fala da pressão da torcida, do  futebol brasileiro e de... videogame.

32 Na lama em Rondônia Conheça a corrida de Jericos,  a Fórmula 1 da Amazônia.

40 Velejadores do futuro A Youth America's Cup é o berço  dos melhores atletas da vela.

50 Prazer, QuestloveO batera do The Roots entende de música mais do que você imagina.

56 Índio na pista O skate trouxe esperança para uma comunidade indígena decadente.

64 Tá quente!A expedição que desceu de rapel  um vulcão que é pura lava.

72 Mais do que museusUma seleção para você mergulhar  na arte em todos os sentidos.

mais corpo & mente 86 MALAS PRONTAS Austrália profunda88 MEU EQUIPO  Ryan Dungey90 EM FORMA  Karim Derwish92 vIDA NOTURNA  Bora pra balada? 96 NA AgENDA  O que fazer neste mês97 kAINRATh Eventos de junho98 COLUNA  Steven Bailey 

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o MuNdo de Red bull

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A energiA de red Bull em três

novos sABores.

www.redBull.com.Br

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S E A H A M , I N G L AT E R R A

MARÉ ALTA“A onda é muito grande ou o farol é muito

pequeno?”, perguntou um dos seguidores de Owen Humphreys no Twitter. Cinegrafista de uma rede de TV, Humphreys confirmou a pri-

meira opção: “Amigo, foi um dos piores mares que já vi”. O farol, no muro do porto da cidade

de Seaham, no condado de Durham, Inglaterra, cerca de 25 km a sudeste de Newcastle em

direção a Tyne, tem 10 metros de altura; o jato d’água no alto daquela onda quebrando

tem cerca de três vezes esse tamanho.twitter.com/owenhumphreys1

Foto: Owen Humphreys

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S A A R A , M A R RO C O S

CORRIDA SECANenhum desafio esportivo é mais difícil que a Maratona

das Areias (Marathon des Sables, em francês). É uma corrida enorme por dia, por seis dias. Quem corre precisa carregar

toda a comida e equipamento. Água e os medicamentos para os primeiros-socorros estão disponíveis no trajeto.

(Na lista de compras dos organizadores: 120 mil litros de água e 2.700 emplastros para bolhas nos pés.) A corrida deste ano terminou em 15 de abril. A do ano passado foi vencida por Salameh al Aqra, da Jordânia, em 19 horas,

59 minutos e 21 segundos. E ele declarou, com toda razão: “Qualquer um que cruzar a linha de chegada é um campeão”.

www.darbaroud.comFoto: Erik Sampers

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LO FOT E N , N O R U EG A

ESPETACULARAksel Lund Svindal está acostumado a ser visto por muita gente quando esquia. Neste passeio fora das pistas, o norueguês bicampeão da Copa do Mundo, medalha de ouro olímpica super-G e vencedor de cinco medalhas de ouro em diversos campeonatos mundiais, integrava a equipe de filmagem de Being There (dispo-nível no iTunes), um documentário sobre esqui ao redor do mundo. “É simplesmente a natureza em estado bruto”, disse sobre as filmagens. “E você esquiando no momento.” Ele é o que está sorrindo para a câmera.www.fieldproductions.comFoto: Mattias Fredriksson

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YO R K S H I R E DA LE S , I N G L AT E R R A

NA HORA DO FLASH“Cavernas não têm luz natural”, diz o fotógrafo de aventura Robbie Shone. “Então é nossa missão conseguir isso”. Em uma de suas expedições, na Boxhead Pot, uma das diversas cavernas no gigantesco parque na divisa da Inglaterra com o País de Gales, Shone teve problemas. “Eu estava em baixo do Sam Allshorn, na mesma corda, girando sem parar. No topo, o gelo começou a derreter e a água gelada começou a despencar. O barulho era ensur-decedor, não dava para se comunicar. Logo, meus flashes começaram a falhar e não consegui mais efetuar os disparos”. Dentro dos buracos: www.shonephotography.com Foto: Robbie Shone

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BullevardSua dose mensal de esporte e cultura

Nova York O ciclista de BMX Edwin De La Rosa anda pelas ruas da Big Apple. Stan Evans Stan Evans

Você vai para Veneza?

A partir de 1º de junho, a Bienal de Veneza vai exibir o trabalho de 150 artistas de 37 países. Conheça os quatro

maiores talentos

1. SARAH SZE A representante dos EUA criou esculturas de itens do dia a dia especialmente para a mostra.

2. TAVARES STRACHANDas Bahamas, sua obra tem

um vídeo reencenando uma expe-dição ao Polo Norte de 1909.

3. JOANA VASCONCELOSO pavilhão português será

flutuante, diz a artista, conhecida por trabalhar tecidos.

4. AKRAM ZAATARI“Carta a um Piloto que se Recusa”

é a obra do artista libanês que mexe com fotos e vídeos.

Até onde Ferruccio Laviani sabe, móveis ficam mais interessantes quando a tradição encontra a modernidade. E “encontro”, para o designer, significa duas eras artísticas colidindo sem airbags. “Eu me sinto como o filho rebelde de uma boa família que tira as relíquias da avó para uma ocupação e faz algo novo com elas”, diz o artista de 52 anos. Esta abordagem foi largamente aplicada em “F***-se Os Clássicos!”, sua recente coleção para a loja de móveis italiana Fratelli Boffi, que exibiu uma série de peças que recriou móveis domésticos da exata maneira que o título sugere. Uma arca de peças íntimas e uma mesa qualquer com o que aparentam ser buracos feitos por raios laser. Mesas com partes de 1753 e 2053. E o mais impressio-nante de tudo, há “Boas Vibrações”, um armário de carvalho feito à mão (direita) que dá a impressão de estar em pausa num vídeo VHS. “Eu gosto da ideia de ter um móvel em casa que parece estar sofrendo uma interferência”, ele explica. “Isto realmente arrebata você ao passar por ele”, diz.www.laviani.com

BATE NA MADEIRAComo fazer uma coisa antiga ficar muito, muito nova

Móveis para a era digital: o armário de Laviani

NEGATIVOS

Você já tirou uma foto com o sabor da Red Bull?

Todo mês a gente faz uma seleção com nossas favoritas. [email protected]

A SUA FOTO AQUI

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A escolha do campeão olímpico

Quando Jonas Recker-mann se aposentou, o campeão olímpico de vôlei de praia, o alemão Julius Brink, teve de en-contrar uma nova dupla. E o cara escolhido foi

Sebastian Fuchs, de 26 anos, 2,03 m de altura, braços compridos e um pulo exce-lente. O ex-jogador de vôlei de quadra está ansioso para começar a jornada pelo ouro na Olimpíada do Rio. “É muito motivador formar dupla com o melhor jogador defen-sivo dos últimos quatro anos”, diz. “Julius é um atleta maravilhoso que dá 100% em cada treino, em cada rally. Ele é um exem-plo de atitude.” Agora eles são parceiros: “Eu tive a oportunidade de conhecer Julius como uma pessoa muito atenciosa, que gosta de se divertir. O espírito de equipe é extremamente importante para ele e agora eu posso aproveitar isso diariamente”.www.fivb.org

Nogaro Sébastien Loeb começou muito bem o campeonato da FIA GT, na França. François Flamand

Pretoria Muitos braços no campeonato de dança de rua sul-africano do Red Bull Beat Battle. Mpumelelo Macu

Colombo Os capitães com o troféu do Red Bull Campus Cricket, no Sri Lanka. A Índia foi campeã.

Dimitri Crusz

the red bulletin: Em 2012, você terminou em oitavo no ADAC Formel Masters, a série open-wheel alemã, vencendo a corrida na con-dição de estreante e como única mulher no grid. Você deve estar com objetivos muito ambiciosos para esta temporada, não?beitske visser: Com certeza. E é uma ambição realista por­que eu aprendi a me adaptar bem a carros de corrida mais rápidos, estilo Fórmula.E depois? Quero o título da Fórmula 1.Sebastian Vettel deve ter algo a dizer sobre isso. Ele é meu ídolo. Seria um sonho correr contra ele. Nós percorremos um caminho pare­cido, ele também foi da equipe

Red Bull Junior antes da Fórmula 1.A Danica Patrick, estrela da NASCAR, é considerada a melhor piloto mulher. Você se espelha nela?Sim, mas eu prefiro ser melhor do que ela. Você já protagonizou episó-dio que constrangeu o Ralf Schumacher. Como foi isso?Foi em uma corrida de kart na Alemanha. Eu liderei pela maior parte da prova e ele estava em segundo quando me jogou para fora da pista na última volta. Ele foi punido e ficou bravo. A penalidade foi cancelada, mas foi engraçado ver como ele ficou contrariado porque uma garota foi mais rápida do que ele na corrida. www.redbulljuniorteam.com

NA MIRA DELABeitske Visser, de 18 anos, é a cor­redora mais talentosa da Europa. Ela fez Schuma­cher suar e agora quer uma chance contra Vettel

Nosouvidos

Músicas de 10, 20 e

30 anos atrás que ainda

soam novas

Novo na praia: Sebastian Fuchs (direita) é a nova dupla de Julius Brink

Beitske Visser sonha com a F1

Sebastian Fuchs

FOUR TET:“ROUNDS” (2003)Uma delicada obra prima eletrônica, insuperável como trilha sonora para coquetéis em uma estação espacial.

TALKING HEADS: “SPEAKING IN

TONGUES” (1983)Chamado de “pací-

fico” e “sanguinário”, este grito de revolta

de um jovem de 24 anos é pura

brutalidade.

PJ HARVEY: “RID OF ME” (1993)O momento em que os punks arrumados molharam o dedo no mainstream foi um marco da música.

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Dias de hambúrguerA segunda edição do festival de hambúrgueres em São Paulo, o SP Burger Fest, está confirmada para a segunda quinzena de maio, de 14 a 28. São restaurantes dos mais variados estilos e lanchonetes de toda cidade preparando receitas inéditas de hambúrgueres. Seja o estabelecimen-to uma hamburgueria tradicional ou com outras propostas, como cantinas, tascas e bistrôs, o desafio está aberto. O português Tasca da Esquina, por exemplo, deverá repetir o sucesso que foi o sanduíche de atum que fez na edição do ano passado. Ele é servido no prato, o peixe é selado sobre chutney de pimentão defumado, coberto por um ovo frito e vem sempre acompanhado de chips de mandioquinha.www.facebook.com/SPBurgerFest

Pega essa, juizão! Talvez a pessoa que você mais xingou em sua vida? Quem sabe... Os juízes de futebol são para-raios de impropérios desferidos pelos torcedores de todo o mundo. Mas será que você, no lugar dele, acertaria as decisões? Esse é o tipo de experiência que o Museu do Futebol, que fica no Estádio do Pacaembu, em São Paulo, traz a você até o dia 9 de junho. A exposição “Será que foi, seu juiz?” conta com tecnologia e ilusão de óptica para colocar o espectador na pele do homem de preto. São situações que simulam impedimento e decisões que, para quem está na torcida ou no sofá de casa, parecem extremamente óbvias, mas que não são nem um pouco claras quando vistas do ponto de vista do juiz. www.museudofutebol.org.br

AGORA É NO RIO Adriano de Souza fala sobre sua conquista histórica na última etapa do circuito, na Austrália, e as expectativas para o WCT do Rio, neste mês

Preparação para a temporada “Comecei os treinamentos antes da pri-meira etapa. Foram muitos treinos físicos e natação. Cheguei na Austrá-lia no começo de janeiro para treinar nas ondas e acostumar com o fuso horário. Ou seja, foi tudo muito bem planejado até eu chegar em Bells.”Campeão em Bells Beach “Os australianos viram uma tem-pestade chegando! Seria o Brazilian Storm? (risos). Ficaram chocados com a minha atuação, mas sei que os locais de lá não foram surpreendidos, pois eles sempre viram, ano após ano, como me dediquei naquela onda. O mais difícil da vitória foi a bateria contra o Mick Fanning, que é meu ídolo, competia em casa e defendia o título.”WCT no Rio de Janeiro “Treinei muito na Indonésia nas últimas semanas. Quero me aperfeiçoar para encaixar outro bom resultado no Brasil. Adoro as ondas do Arpoador, Barra e Postinho, onde o campeonato é disputado.”Corrida para o título de 2013 “Respeito todos os competidores, e com certeza o Kelly, mais uma vez, vai ser o cara a ser batido. Por outro lado, temos força brasileira. Acredito muito no poten-cial do Gabriel Medina para esta temporada.”Billabong Rio Pro: de 8 a 19 de maio, www.wctbrasil.com

Nas ondas da Barra: Parko foi vice em 2012

A modernaSala das Copas

Santiago Visão panorâmica no Chile: Tom Weissenberger e seu paraglider. Juan Luis De Heeckeren

Rio de Janeiro As garotas de Ipanema batem um bolão no Red Bull Roda de Bola. Marcelo Maragni

Montpellier Na França rolou a “Copa do Mundo do Breakdance” e foi sensacional. Markus Berger

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ONDE ESTÁ SUA CABEÇA?

MICK JAGGERDocumentários, shows, livros e, claro, uma nova coletânea dos maiores sucessos

marcam os 50 anos dos Rolling Stones. A satisfação certamente já foi alcançada a essa altura, mas o que mais está rolando para Sir Mick?

www.rollingstones.com

Simpatia para os Demônios

Após terem sido culpados pela morte de um fã em um show dos Stones de 1969,

os Hells Angels planejaram matar Jagger em uma casa

de Long Island, em Nova York, mas o barco que levava

os motociclistas virou.

Mick Jagger, guitarrista

Além dos vocais, da harmô­nica e de muita arrogância,

Mick contribuiu tocando guitarra em vários discos

dos Rolling Stones: “Sway”, em Sticky Fingers (1971),

“Stop Breaking Down”, em Exile On Main St. (1972), e “Fingerprint File”, em

It’s Only Rock'N'Roll (1974).

Com os BeatlesJagger tinha 18 anos quando

os Stones fizeram seu primeiro show – isso foi em 1964. Em 1966 eles eram os maiores rivais dos Beatles. No futuro, Paul McCartney

passaria a lua de mel na casa de Mick, na ilha de Mustique. “Paul é muito legal e fácil de lidar”, disse Jagger, em 1995.

Parceiro KeithNascidos com uma

diferença de 145 dias no mesmo hospital de Kent –

hoje uma clínica que cuida de idosos –, Keith Richards

e Mick Jagger se conheceram na adolescência, em 1961.

“Você precisa aturaras boba­gens; é como casamento”,

disse Richards sobre a dupla, em sua biografia.

You Can Always Get What You

WantDurante a turnê A Bigger

Bang Tour, de 2005, Jagger exigiu canais de TV para

assistir a cricket no cama­rim. Em 1997, ao perder um jogo por não ter transmis­

são, ele abriu uma empresa para comprar os direitos de transmissão online.

Sir MickSobre Jagger ter se tornado Sir em 2003, Charlie Watts

disse: “Qualquer outro seria linchado: 18 mulheres, 20 filhos e ele virou Sir.

Não é fantástico?” Charlie é o mais velhor da banda, nascido em 1941. Jagger é o segundo, seguido por Keith (dezembro de 1943)

e Ronnie (1947).

Na atividadeEm 2011, Jagger gravou com o SuperHeavy, uma

superbanda com Joss Stone, AR Rahman, Damian Marley e Dave Stewart, e embarcou no Twitter. Ele tuíta e posta

fotos: uma com um presente de aniversário de 69 anos,

outra em Paris gravando para o disco mais recente, GRRR!

Start Me UpMichael Phillip Jagger

nasceu em 16 de julho de 1943, em Dartford, Kent.

Seu pai, Joe, era professor de Educação Física, a mãe,

Eva, era cabeleireira. Chris, o irmão mais novo,

é um músico que lançou sete álbuns. Até ir para

a London School of Economics em 1961, o jovem Jagger era

conhecido como Mike.

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O cenário nas profundezas do mar sempre foi o mesmo, mas a forma como o exploramos mudou radicalmente

ANTES E DEPOIS

Esta engenhoca, parte de uma roupa de mergulho atmosférica, foi usada pela Marinha Soviética em até 40 metros de profundidade. O ar era bombeado para dentro por meio de uma mangueira conectada à superfície. Entretanto, o ar que o mergulhador exalava ficava dentro do capacete, o que tornava a experiência dentro do escafandro intensa. Só quando a pressão atingia um nível relativamente alto, uma abertura permitia que o ar saísse.

OLHAR EM PROFUNDIDADE

Na parte de trás: dupla conexão de mangueira de ar e uma válvula para equilibrar a pressãowww.rusnavy.com

1971 CAPACETE DE TRÊS PARAFUSOS (URSS)

VEDAÇÃOO colarinho da roupa de

mergulho fica preso entre as partes da cabeça e do ombro e,

com ajuda externa, é parafusado em três pontos. Um pouco

violento, mas à prova d’água

MATERIAISLiga de bronze reforçada. O interior branco era intencional, supõe-se que a cor fora pensada para reduzir a claustrofobia do mergulhador

VISORVidro bem fino envolvido por bronze. Vantagem: pode ser aberto na superfície, em terra. Desvantagem: em caso de o mergulhador se debater debaixo d’água, o vidro pode se quebrar facilmente

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TH O KM 37 foi concebido para operações de salvamento em águas contaminadas e projeta-do para tornar a vida dos mergulhadores o mais confortável possível. O ar alcança o inte-rior do capacete a partir de cilindros de ar comprimido (montados nas costas), o dióxido de carbono exalado flui através do regulador abaixo do visor e um sistema de ventilação interior melhora ainda mais a qualidade do ar. Tem também reserva de gás e rádio.

O capacete conecta com os cilindros de ar comprimido; o sistema de rádio fica logo embaixowww.kmdsi.com

2012 KIRBY MORGAN 37

MATERIAISRevestimento de fibra de vidro e fibra de carbono. Resistente à pressão e com isolante elétrico. O isolamento é importante para se trabalhar com cabos submarinos de eletricidade

VEDAÇÃOO mergulhador utiliza no pescoço

um encaixe de alumínio, onde o capacete se ajusta perfeitamente. O interior se mantém seco até em mergulhos “de cabeça para baixo”

VISORO imponente painel

do capacete é de poli-carbonato e à prova de arranhões. Ele mantém

a temperatura e, graças ao fluxo de ar interno

projetado para desem-baciar, tem garantia contra umidificação

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FÓRMULA PERFEITASEGURA!As agarradas com os dedos que são típicas dos alpinistas têm fundamento na realidade. Aqui explicamos a física desta pegada formidável

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A PEGADA EM NÚMEROS“Qual é a correlação entre a profundidade de uma agarrada e a força máxima vertical que os dedos podem suportar na pegada de dedos meio dobrados [figura 1]?”, pergunta o dr. Martin Apolin, professor da Faculdade de Física da Universidade de Viena.

“Um estudo de 2012 testou alpinistas que se penduravam em uma saliência com uma das mãos. A ideia era medir objetivamente a força do dedo. Os participantes eram todos alpinistas experientes. A figura 2 mostra a correlação entre a profundidade da saliência e a força do dedo: a força aumenta com a intensidade da pegada e atin-ge o ponto máximo em 520N. Kilian Fischhuber, pentacampeão da Copa do Mundo de escalada esportiva [tipo de alpinismo curto e rápido], teve a força dos seus dedos medidos com impressionantes 800N.

“O peso do corpo em Newtons, FG, é deter-minado por FG = mg: m é a massa do alpinista e g é a gravidade (cerca de 10 m/s2). Pesando 63 kg, Fischhuber tem um peso corporal de cerca de 630N. Com um pequeno aumento na intensidade da pegada, ele poderia facilmente segurar com uma das mãos; este não seria o caso dos outros alpinistas com o mesmo peso que se submeteram ao teste.

“Os dedos têm diversas articulações, mas aqui os consideramos como uma unidade integral. Para ter uma alavanca equilibrada, tentamos explicar assim: força, Fk, multiplica-da pela alavanca do braço, r, é igual à carga, FL, multiplicada pela alavanca do braço, rL, ou Fkrk = FLrL (figura 3). O flexor digitorum superficialis é o músculo responsável pelo desvio da articulação do dedo médio; sua força, FM, nós estimamos em 650N. Porém, como seus tendões puxam em um ângulo, o componente da força vertical, FK, é decisivo. Portanto, nós fazemos uma modificação: FK = FMcosα e portanto FL = FMcosα (rk/rL).

“Assumindo a mesma força muscular, a força do dedo é indireta-mente proporcional à carga do braço rL (FL ~ 1/rL). Dependendo de onde o principal ponto de apoio do dedo está, isto é, onde FL entra em efeito, a carga do braço muda. Com uma pegada profunda, esse ponto está mais perto do pivot, então rL é menor (por exemplo, 2cm) e FL é portanto maior (450N). Se a pegada for mais estreita, esse ponto se afasta do pivot, rL aumenta (3cm) e FL diminui (300N) (figura 3). É claro que há outros músculos do antebraço que aumentam a força dos dedos. Mas com esse modelo compreende-mos porque a força dos dedos diminui com pegadas mais estreitas.”

VAMOS DAR AS MÃOSComo se aumenta a força dos dedos? “Treinando com uma campus board – tábua de madeira com grades horizontais presas nela”, diz Kilian Fischhuber. Na falta de equipamentos profissionais, é possível treinar a pegada ficando dependurado em casa. “Um revestimento de porta bem firme pode funcionar”, diz Fischhuber.

A estrela austríaca das montanhas Kilian Fischhuber, de 29 anos, foi campeão mundial de escalada esportiva em 2005, 2007, 2008, 2009 e 2011

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EU E MEU CORPO

Aos 17 anos, a austra liana se tornou a mais jovem surfista a se classificar para o Circuito Mundial da ASP. Nas últimas três temporadas, ela sempre ficou entre as melhores classificadas. Agora, aos 22 anos, Sally está pronta para ser campeãwww.sallyfitzgibbons.com

SALLY FITZGIBBONS

1 RESPEITO AO MARAssim que você entra na água, seu corpo fica em uma espécie de estado de alerta. Para surfar é necessário que se tenha reações rápidas, uma excelente noção de espaço e uma compreensão bem apurada de como o oceano se comporta.

5 APNEIASou assídua frequentadora dos campos de treino da Red Bull. Ano passado, em um curso de mergulho, aprendi como segurar a respiração por quatro minutos e manter a calma na água em situações de perigo. Isso pode salvar a vida de nós surfistas.

DOR CONTROLADA 3Machuquei minhas

costas surfando na Gold Coast em 2009, durante

minha primeira competição na ASP World Tour. Levei

cinco meses para melhorar. Segui com petindo com dor para não perder meu lugar

na temporada seguinte.

AGACHAMENTOS 4No surf você trabalha

costas, pernas e bumbum em harmonia. É por isso que

eu faço treino funcional. Minhas coxas são meus

músculos mais importan-tes, nelas busco força para as manobras. Por isso faço milhões de agachamentos

de todos os tipos.

REMANDO FORTE 2 Quebrei meu pulso

esquerdo no final de 2011 surfando em Fiji, quando fui

arremessada sobre os corais. Ficar seis semanas sem poder surfar no verão

australiano foi muito chato, quase fiquei louca.

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NÚMEROS DA SORTE

STAR TREKCom a estreia de Star Trek Into Darkness no início de maio, viajamos pelos 47 anos

(e milhões de anos-luz) da saga de ficção científica mais lucrativa da história

47O roteirista de Star Trek:

A Nova Geração, Joe Menosky, formou-se em 1979 na Universi-dade Pomona (Califórnia) onde,

em 1964, um professor apresen-tou a teoria de que o número

47 tem maior ocorrência no uni-verso do que qualquer outro. Menosky incluiu a tese com

frequência nos episódios; roteiristas de toda a franquia

seguiram o exemplo.

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Mr. Spock e Capitão Kirk

hoje…

…e na época

A primeira USS Enterprise

Estação espacial Deep Space Nine

Trekkie azul

Tenente Uhura

Tenente Worf, Klingon

www.startrekmovie.com

726A nave estelar USS Enterprise pairou pela primeira vez nas telinhas norte-americanas em 8 de setembro de 1966, mas aterrissou após três tempora-das de pouco público. Star Trek passou a ter mais repercussão quando as reprises eram exibidas. Foram cinco séries diferentes que viraram um marco na TV. Assistir a todos os 726 episódios de uma vez levaria três semanas.

Os Klingons são uma raça de guerreiros com um idioma pró-prio, desenvolvido pelo linguis-ta Marc Okrand após seu traba-

lho em Star Trek III: À Procura de Spock. O dicionário Klingon foi publicado pela primeira vez em 1985. De acordo com o livro

Guinness, Klingon é o idioma fictício mais falado no mundo.

1985

Nenhuma série televisiva tem mais fãs que Star Trek. Em 1994, houve 130 convenções de fanáticos em todo o mundo, com mais de 400 mil partici-pantes. Há alguns “Trekkers” famosos: Martin Luther King elogiou Tenente Uhura como um modelo de mulher afro- americana, enquanto Barack Obama providenciou uma exibição especial do filme de 2009 na Casa Branca.

400.000

70O ex-piloto e policial Gene Roddenberry escreveu o pri-meiro roteiro de Star Trek em 1964. Roddenberry foi o padri-nho de Star Trek e trabalhou em programas de TV e filmes até sua morte, aos 70 anos, em 1991. Em 1997, um pouco de suas cinzas foi parar no espaço com um foguete, no primeiro “enterro espacial”.

Gene Roddenberry

Desde Star Trek – O Filme, de 1979, outros 10 filmes da saga foram lançados.

O mais recente é de 2009 e faturou mais de US$ 380 mi-lhões nos cinemas em todo o mundo, tornando-se a maior arrecadação da franquia em

todos os tempos, mesmo com os preços atualizados. Um su-

cesso ainda maior é previsto para a sequência Star Trek

Into Darkness, que será lançada no dia 15 de maio.

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O grande desafio de

NEYMARA principal competição internacional disputada pela Seleção Brasileira no Brasil desde 1950 acontecerá em junho. E adivinha para quem os holofotes estão voltados?

ENTREVISTA: BENJAMIN BACK FOTOS: MARCELO MARAGNI

JR.

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om a rapidez de quem desce pela esquerda correndo com

a bola no pé, Neymar Jr. entra no vestiário do Santos pela porta dos fundos. Veste je-ans, camisa polo e boné. Está na Vila Bel-miro para participar do Red Bull Príncipe da Vila, evento que encerra o centenário do Santos Futebol Clube e dá início ao 101º ano da história do alvinegro praiano.

Antes de se sentar no trono montado em pleno gramado da Vila Belmiro, Neymar Jr., de 21 anos, fez alguns retra-tos para a Red Bulletin. O atleta mais badalado do Brasil é atencioso com todos que estão por ali – assessores, câmeras, repórteres, seguranças. Magro, tranquilo e sempre sorridente, faz algumas brinca-deiras com os amigos que estão por perto.

Fotos feitas, ele caminha para o túnel que dá acesso ao campo, onde a festa está armada. No Red Bull Príncipe da Vila, garotos das escolas locais passaram por uma triagem e estão hoje no gramado do estádio do Santos para acertar chutes em alvos montados na arquibancada. São 101 meninos na disputa. Cada alvo tem um valor e se classifica aquele que somar mais pontos nos cinco chutes a que tem direito. O vencedor leva um par de chuteiras do craque.

O jogador mais poderoso do Brasil tem uma forte identidade com seu time e com os torcedores. Por onde passa, especial-mente nos arredores do estádio, o furor acontece. Meninas gritando, meninos com canetas em busca de autógrafo, fotó-grafos, imprensa... O ídolo manteve-se firme no Santos mesmo com o imenso assédio dos clubes estrangeiros nos últi-mos anos. Hoje, Neymar Jr. também é o principal atleta e alvo das cobranças na Seleção Brasileira. O nosso camisa 11 está acostumado a ser notícia no mundo inteiro, como uma espécie de talento misterioso. Mas, se depender do sorriso fácil, do potencial e da malandragem do atacante, nada disso vai tirar o seu sono.

Após ajudar os participantes a acerta-rem alguns dos alvos nas semifinais do evento e presentear o vencedor com suas chuteiras, ele volta ao vestiário. Ele tira o tênis e brinca descalço com a bola, total-mente descontraído. Seu pé estava leve-mente dolorido devido à partida disputa-da no dia anterior – pelo campeonato paulista, ele fez “apenas” quatro gols no jogo. Depois de algumas embaixadinhas, se sentou para conversar com a Bulletin.

vocês entram desencanados. Como está a sua cabeça para a Copa das Confederações? Você está preparado para essa cobrança?Temos um grupo bem difícil, considerado o grupo da morte. São equipes com quali-dades gigantescas. Mas me preparando psicologicamente não estou. Estou me preparando fisicamente. No psicológico eu tô tranquilo e fisicamente tô me preparando. A cada treino e a cada jogo eu me preparo para a Copa das Confede-rações. Cobrança existe, é normal no fute-bol. No clube, na Seleção. Ainda mais na Seleção, por ter uma história fantástica. A Seleção Brasileira, em qualquer campe-onato que entra, é uma das favoritas. Então a gente tem que honrar isso. Mas tem que ser jogando futebol, não falando.Você já se imaginou numa final de Copa das Confederações, com o Maracanã lotado?Claro. A gente sonha. Tem que sonhar. Sempre sonho com todos os jogos, sempre ajudando a Seleção, o Santos. Na concen-tração ou antes da partida, eu procuro deitar e imaginar os lances. Eu faço isso em todos os jogos. Penso: “Se eu pegar a bola desse jeito, vou fazer isso e isso”. Quando estou no caminho para o jogo é o que mais faço.O que você vai imaginar contra a Itália (último adversário do Brasil na primeira fase)?Ah, vamos bagunçar a zaga da Itália!Deus te ouça! Vamos entortar aqueles caras! Mas temos o México também...É, virou o carrapato. O México é um time de muita qualidade. Tem jogadores de qualidade, e a gente espera reverter essa história. Nada melhor do que fazer isso agora na Copa das Confederações.

“ Não estou me preparando

psicologicamente, mas sim, fisicamente. Cada

treino e cada jogo é um preparo para a Copa das

Confederações. ”

the red bulletin: Ontem você “só” marcou quatro gols. Como é isso para você e para a equipe? neymar jr.: Fico muito feliz e eles tam-bém. Brincam, falam. No final do jogo a gente até tirou uma foto. O ambiente do Santos é maravilhoso. Todo mundo fala com todo mundo, não tem picuinha, não tem frescura.Ninguém nunca teve uma crise de ciúmes desde que você está no Santos?Eu acho que tá acabando isso de vaidade ou ciúmes no futebol. Graças a Deus isso nunca teve no Santos. Tem que acabar com isso, não precisa disso. Cada jogador tem sua história, seu contrato, indepen-dente de quanto ganha. Se a pessoa está ganhando aquilo, é porque merece. Meus pais sempre me ensinaram isso desde pequeno, a não ter ciúmes de nada. Eu também sempre fui muito relax, nunca tive muito problema com isso.Você falou “tem que acabar com isso no futebol”. Não acha que outras coisas também precisam acabar no futebol? Hoje tem gente que acha o drible uma ofensa, uma brincadeira arrogante... O futebol às vezes é engraçado, às vezes é um pouco chato. Tem umas coisas que, por exemplo, o Viola [ex-jogador], no jeito que ele comemorava o gol, o jeito que imitava bichos, subia na arquibancada... É engraçado. O legal do futebol é você brincar com um amigo. Você tem um amigo que torce para outro time e você zoa com ele. É uma brincadeira, mas tem muita gente que leva para o lado pessoal e fica se sentindo ofendida.Em breve vamos ter a Copa das Confe-derações. Só vi três caras totalmente tranquilos no futebol: o Ronaldo, o Romário e você. Tanto faz o jogo e

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Neymar Jr. antes do jogo: “Procuro

deitar e imaginar os lances. Faço isso em

todas as partidas.”

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Qual é o seu palpite para a final da Copa das Confederações?Espero que seja Brasil e... (longa pausa) Vai, acho que vai dar Brasil e Espanha. Com Brasil campeão.Um a zero?Mais, pô! Tem que pensar grande.É que uma seleção com Xavi e Iniesta não é fácil...Eu sei, mas tem que pensar grande. Vamos sonhar alto. Dois a zero.Dois do Neymar Jr.?Um passe já tá bom demais!Você fica chateado quando falam que o Neymar Jr. do Santos não é o mesmo da Seleção?Não me incomodo. E acho também que é uma coisa diferente. É o estilo de jogar, os jogadores são diferentes... A gente não está entrosado na Seleção. No Santos já tem um entrosamento. Meus companhei-ros de Santos já sabem onde estou, o que vou fazer, se posicionam diferente. Mas agora a gente vai ter tempo para traba-lhar na Seleção, então vai melhorar.O Paul Breitner, um dos maiores jogadores da história do futebol alemão e dirigente do Bayern de Munique, disse numa entrevista que o brasileiro vive muito à sombra do passado. O que você acha disso?Não sei se vive à sombra do passado. Mas, com certeza, os times europeus cresceram muito no quesito tático. Taticamente os jogadores são todos bem corretos em suas funções. É diferente do que acontece por aqui. Aqui a gente fica mais à vontade. Lá não, são todos muito bem posicionados. Um atrás do outro, muita força física, difícil de conseguir passar. Mas também não é nem só a força física, eles fazem linha de quatro

e diminuem o campo, fica difícil para a outra equipe. Mas a gente vai se encaixando e vamos dar o que falar ainda. No futebol existe a oscilação, isso é inevitável, acontece no mundo inteiro e é claro que nós, jogadores, ficamos tristes, pois sempre queremos dar o melhor e vencer, é o nosso trabalho.O Pelé disse recentemente que a Seleção Brasileira deveria ter a base do Corinthians, mas com o Neymar Jr.. Você concorda? Hoje, se você for ver, a base da seleção alemã é o Bayern e o Borussia, e da seleção da Espanha é o Barcelona e o Real, por exemplo.Pelo que ele falou do entrosamento, eu até concordo, isso faz muita diferença. O Brasil tem uma coisa que nenhuma seleção tem, que é a qualidade dos jogadores por aqui. É muito alta.

Se você parar para pensar, é mais alta que em qualquer lugar. Só falta colocar em prática. É isso o que queremos fazer logo.O mundo inteiro está impressionado com o desempenho dos times alemães nas finais da Liga dos Campeões da Eu-ropa. Estão dizendo que é uma nova or-dem que está se formando. Você acom-panha o futebol alemão?Sim, sempre que posso eu acompanho. Tenho amigos que jogam lá, inclusive. O campeonato alemão evoluiu bastante de uns tempos para cá. São times muito fortes e jogadores de alta qualidade. Esse trabalho está sendo visto pelo mundo inteiro, é possível notar que o desempe-nho das equipes está acima da média. No evento de hoje vimos várias crianças que sonham em tirar uma foto com você e que na hora começam até a tremer. Às vezes, você pensa “tenho que tomar cuidado para fazer isso ou aquilo porque tem milhões de crianças que se espelham em mim”?Eu preciso pensar no que faço. Mas sou esse cara aqui: é na sua frente, é em casa ou com meus amigos, eu brinco com todo mundo, não tô nem aí. Se eu tenho na minha cabeça o que vou fazer, então faço. Não ligo muito, não sigo uma linha. Eu faço o que tenho vontade. E essa questão de crianças gostarem tanto de mim, fico muito orgulhoso. Sou um fã até hoje, o meu ídolo é o Robinho, toda vez que falo com ele é uma alegria.Mudando um pouco de assunto... Fiquei sabendo que você é muito ruim no videogame.Pois é, hoje em dia tô mal... (risos) Mas dos meus amigos eu ganho de todos, deito e rolo!Com qual time você joga?Bayern de Munique.E qual jogador é seu favorito?É o Messi, né? O cara é fera, mano.Só ficando em casa no videogame para não ser assediado. É incômodo ter seus 20 e poucos anos e não ter liberdade para curtir, ir ao cinema?Não, opa, cinema eu vou! Este ano fui ao shopping, no cinema. Mas hoje só não tiro fotos ou dou autógrafo se ficar em casa. Incomodar não incomoda, mas tem coisa que faz falta, tipo ir à praia. Faz tempo que não vou. Não tem como. Ir ao shopping, dar um rolê, praça de alimenta-ção, McDonald’s e voltar pra casa. Não dá. Isso eu fazia muito. Ir à praia jogar um futevôlei? Não dá. Ficar sentado tomando sol? Impossível. São coisas gostosas que eu tinha e hoje em dia acabou. Se quero comer no Mc, só indo no drive-thru.

Está valendoA Copa das Confederações reúne os campeões de cada continente e o campeão mundial. Será a primeira vez que o Brasil receberá o torneio – o último teste antes da Copa do Mundo de 2014. A Copa das Confederações será disputada em Brasília, Belo Horizonte, Recife, Fortaleza, Salvador e Rio de Janeiro. São dois grupos na primeira fase. De cada um saem dois classificados. No grupo do Brasil (Grupo A) estão México, Japão e Itália. No Grupo B, Espanha, Uruguai, Taiti e Nigéria disputam as vagas. A fase de grupos acontece do dia 15 a 23 de junho. As semifinais serão disputadas nos dias 26 e 27, em Belo Horizonte e Fortaleza, respectivamente, e a final será no dia 30, no Maracanã.

“ O Brasil tem uma coisa que nenhuma seleção tem, que é a qualidade dos jogadores. Tem mais do que em qualquer lugar. Só falta colocar em prática. ” Copa das Confederações: de 15 a 30 de junho.

www.fifa.com/confederationscup

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Diante de 40 mil pessoas no Jericódromo de Alto Paraíso em Rondônia, aceleramos o “Fórmula 1 da Amazônia”Texto: Cassio Cortes Fotos: Marcelo Maragni

Calor, lamae diesel

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elo amor de Deus, tomem cuidado na curva inclinada”, adverte o diretor de corrida Renato Ribeiro, o Paraguaio. Ele enumera os perigos que esperam os 23 homens reunidos para a pales­tra dos pilotos que antecede a corrida de Jericos. “Se sair da pista naquele ponto, com certeza morrerão algu­

mas pessoas do público”, diz. Os 23 competidores, em sua maioria com menos de 25 anos, alguns bem acima do peso, todos bem bronzeados, concordam com seriedade. A décima corrida nacional de Jericos Motorizados está prestes a começar.

Isso é bom porque o público que lota o Jericó­dromo já está ficando indócil. O início do evento foi adiado para coincidir com a chegada do senador Ivo Cassol, cacique político de Rondônia. O senador veio direto de Brasília para a pequena Alto Paraíso espe­cialmente para assistir a corrida.

Mas o que é este meio de transporte e por que ele surgiu em Alto Paraíso, um lugar pouco populoso localizado nas franjas do Sul da Amazônia, que se proclama a “capital do Jerico”?

O fabricante Silvio Stedile, ou “Silvinho do Jerico”, como é conhecido, explica: “Quando a cidade foi construída, no final dos anos 80, as estradas eram tão ruins que nenhum caminhão normal durava – as peças da lataria caíam. Então as pessoas tiveram que inventar um veículo que aguentasse o tranco”.

O resultado foi uma lataria precária, montada em suspensões de jipe velho e alimentada por motores a diesel parados, que eram normalmente usados para gerar eletricidade nas serrarias e minas de estanho.

O “Jerico”, jumento ou burro, animal que serve como meio de transporte no Nordeste – origem de boa parte dos migrantes que povoaram as cidades mais recentes da região Norte –, ganhou uma versão motorizada para o ambiente hostil da Amazônia.

Como brincadeira de garotos, não demorou muito até um fazendeiro local começar a pensar se o seu ju­mento a diesel poderia ser mais rápido do que o cons­truído pelo vizinho mineiro. As corridas – discretas por terem inicialmente essa finalidade – vieram rapidamente e, uma década depois, para comemorar o 10º aniversário de Alto Paraíso, um circuito lama­cento de 560 metros que, desde então, vem sendo estendido, foi construído na periferia da cidade, dando origem à Corrida Nacional.

O sucesso foi tão grande que a corrida se tornou conhecida pelo Norte do Brasil como a “Fórmula 1 da Amazônia”. Cerca de 40 mil pessoas (mais que o dobro da população da região de Alto Paraíso) aparecem no Jericódromo ano após ano para ver seus heróis acelerarem. Ser uma estrela da Fórmula 1 é normal­mente sinônimo de fama e fortuna. Na F1 amazônica, entretanto, a fortuna vem na forma de uma Honda 125 cilindradas novinha para o primeiro lugar (na verdade duas, já que a Corrida Nacional é dividida em duas categorias, uma para uma cilindrada e outra para motores de duas). E fama. Para o Silvinho do Jerico, o reconhecimento garantiu uma eleição para presidente do Conselho Municipal de Alto Paraíso.

O cortejo de Silvinho, no entanto, fica pequeno quando comparado ao dos irmãos Melquisedeque e

P‘‘Cefas de Lara, apelidados pela imprensa local como os “Schumachers de Alto Paraíso”, o que é um pou­co injusto, considerando que lutam para se manter campeões [ao contrário da dupla Ralf e Michael Schumacher, em que apenas um já foi campeão mundial]. “Melqui” é campeão na categoria duas cilindradas; Cefas, rei da classe uma cilindrada. O principal adversário deste, por acaso, é Silvinho, que ganhou em 2006 e 2007 antes de ser deposto pelas vitórias de Cefas em 2008, 2009 e 2010.

Os nomes dos dois têm origens bíblicas, o que provavelmente explica a música evangélica explo­dindo as caixas de som na loja onde eles fazem os ajustes finais em seus Jericos na véspera da corrida. “A época de correr com o Jerico do dia a dia já vai longe”, Melqui revela. “Para vencer, você precisa de um Jerico personalizado.”

Melqui e Cefas cuidam de suas máquinas o ano todo para aparecer em apenas dois ou três eventos nos 12 meses, sendo a Corrida Nacional o maior de todos. Uma olhada na máquina de Melqui revela suas puríssimas origens: o motor é localizado no

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Em sentido horário, a partir da foto maior: Norival Silva durante a preliminar da corrida; os irmãos Melquisedeque (esquerda) e Cefas de Lara em sua fábrica de Jerico; o desfile de rua na véspera da corrida; a fábrica de Silvio Stedile antes da corrida; Silvio em sua fábrica

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centro do eixo longitudinal, mas fora deste para a direita no transversal, o que garante uma perfeita dis-tribuição do peso em todas as quatro rodas quando o condutor fica à esquerda.

E como todos os Jericos, o de Melqui é um Frankenstein. O chassi de uma Kombi antiga ajuda na rigidez da parte de baixo, enquanto a suspensão dianteira vem de um Golf. Os freios são de um Fiat Uno e a suspensão traseira também é de Kombi.

O sistema de tração é uma primorosa obra de arte: a potência do motor é transmitida por uma caixa de marcha de Jeep de um diferencial feito por Melqui, do qual dois eixos de transmissão, também de Melqui, dirigem a potência para um eixo de um Golf na frente e um diferencial central de Kombi cortado na traseira. No meio da maior floresta do mundo, o mais velho dos irmãos Lara usa o mesmo princípio que o do diferencial central Torsen – o maior sucesso técnico do lendário carro Audi de rali dos anos 80.

A potência vem na forma de um gerador Yanmar, que está no catálogo de fábrica como uma unidade de 27 cavalos de potência. “Mas é impossível vencer a corrida com menos de 50 cavalos”, admite Melqui. “Nós conseguimos chegar lá na maior parte das vezes com molas de válvula mais fortes, pistões mais leves e uma melhor injeção de combustível.”

Mesmo com todo o tuning, o motor ainda faz aquele barulho de baixa reverberação pop-pop-pop de veículos diesel, exatamente como um barquinho de pescador. Mas agora ele está muito mais rápido: “Eu alcancei mais de 90 km/h na estrada com o meu Jerico, o que significa que o de Melqui pode facil-mente fazer mais que 100 km/h em uma rodovia pavimentada”, diz Cefas.

Próximo das 16h, a principal rua do centro come-ça a ficar entupida com uma multidão em clima de festa e tem início uma batalha de som. São enormes picapes com alto-falantes maiores que elas mesmas, das quais os mais diferentes tipos de música saem em um volume ensurdecedor.

Essa variedade de sons sai de 25 ou mais carros espalhados pelo espaço de uma avenida que deve ter apenas 300 metros de comprimento, todos disputando a atenção das garotas. Ao mesmo tempo, centenas de motinhos aceleram enquanto seus ocupantes também procuram chamar a atenção do sexo oposto, fazendo assim do desfile de Jericos um dos eventos de maior poluição sonora do planeta Terra. Com o ar úmido da tarde quente, o único jeito para uma pessoa sadia aguentar é bebendo. Para nossa sorte, há muitos am-bulantes com garrafas de Johnnie Walker. Uma dose do uísque custa apenas uns R$ 4: trata-se de um “Juanito

“Eu alcancei mais de90 km/h na estrada com o meu Jerico, o que significa que o de Melqui pode facil-mente superar 100 km/h em uma rodovia pavimentada”

Caminante”, como os locais chamam o Johnnie falsi-ficado. O Red Bull pelo menos é verdadeiro, apesar de a lata ter informações em espanhol, não em português, um sinal de que foi trazido da Bolívia.

Bem quando uma dor de cabeça brutal começa a envolver o cérebro deste repórter, Silvinho apare-ce em um Jerico de carga com todas as 14 garotas que competem pelo título de Rainha da Corrida. Dane-se a dor de cabeça, seu convite para “pular aí e se juntar à festa” na caçamba do veículo não po-dia ser declinado, sendo deste ponto de observação privilegiado que notamos uma longa cicatriz sob sua orelha esquerda.

“Caí de um Jerico durante um treino dois anos atrás: 16 pontos e muita dor.” O desfile passa pelo Centro antes de terminar no Jericódromo. Ao lado do circuito fica um poço de lama do tamanho de um campo de futebol onde acontece algo que po-deria ser definido como uma versão amazonense de um demolition derby americano.

Derrapar o carro de forma radical pela lama é o objetivo, e uma picape enorme divide o espaço

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com carros de passeio que vão de ré – única forma de se conseguir fazer derrapagem lateral com um carro de tração dianteira.

Pessoas em pé “surfando” nas caçambas das pica-pes enquanto derrapam é tão comum quanto as coli-sões de umas com as outras. Ninguém está muito preocupado com o prejuízo das batidas: os preços da madeira, do gado e da soja estão todos em alta no mercado internacional, então todo mundo parece bem de vida em Rondônia. Por outro lado, a sobrie-dade é uma commodity de menor valor – ao menos entre estes que se arriscam na lama. “Você tem que entender que para nós isto é o Carnaval”, diz Luzia Garbini, 17 anos, Rainha da Corrida de 2011, procu-rando explicar, um pouco envergonhada, o compor-tamento selvagem ao redor.

A noite cai, o Jericódromo se esvazia e a festa segue para o Centro. Ir dormir é a única opção para curar a ressaca de uísque a tempo para a grande corrida do dia seguinte de manhã.

Em sentido horário, a partir da foto maior: Dirceu José Bogorni protegendo os olhos da lama; José Alex acelera seu Jerico na curva mais escorregadia do circuito; a festa regada a 'Juanito Caminante';o público faz da corrida um Carnaval na lama

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No domingo, os Jericos de corrida chegam ao ‘paddock’ – um lamacento curral – às 11h. Uma corrida de quadriciclos aquece a mul­tidão. Enquanto os pilotos esperam pela

palestra de segurança do Paraguaio, os fãs gritam por autógrafos, sendo a assinatura do lenhador Alex Oliveira a mais cobiçada. O carro de Alex tem uma camuflagem pintada e o levou a quatro vitórias con­secutivas nas duas cilindradas antes que Melqui o superasse em 2010. Rápido porém errático, este legí­timo Gilles Villeneuve da Amazônia gosta de falar: “Melqui ganhou no ano passado porque eu rodei”, diz. O volante do Jerico de Alex, como a maioria dos outros, tem punhos de bicicleta para segurar.

“Para ser rápido no Jerico você precisa mudar as marchas muito rápido e com muita frequência”, ele explica. “Com os punhos eu posso guiar usando apenas minha mão esquerda e manter a direita na alavanca de câmbio o tempo todo.”

Passava das 14h e os termômetros passavam dos 40° C quando o helicóptero do senador Ivo Cassol finalmente chegou. É hora de acelerar! Assim é que funciona a corrida: quatro jericos começam alinhados lado a lado para uma preliminar de quatro voltas. Os dois primeiros se classificam para a próxima rodada até que apenas quatro ficam para a grande final. Um capacete e um cinto de segurança são os únicos equipamentos de proteção obrigatórios.

A classe de um pistão corre a preliminar inicial. No Jerico 9 (patrocinado pelo senador), Norival Silva assume a liderança na primeira volta. O nº 8 roda e fica em uma posição perigosa na curva cinco; leva três voltas para que o sinalizador apareça com uma bandeira amarela advertindo o perigo.

O sorteio colocou Melqui e Alex na mesma preli­minar para a classificação na classe dois pistões – um ‘Embate de Titãs’, como o narrador grita no sistema de som. Eles ficam em 1­2 com facilidade, enquanto o nº 11 vai para o canto por causa de um incêndio no motor. De volta aos carros de uma cilindrada, Cefas vence a classificatória enquanto Silvinho é derrotado pelo seu ex­mecânico Macedo, mas vai às semifinais em segundo lugar. Outro mecânico da loja de Silvinho, Reginaldo, liderava a preliminar de dois pistões quando uma quebra na coluna da direção o manda cambaleando para um banco de lama. Ele retira o capacete, se ajoelha e chora como criança.

Entre uma preliminar e outra, os pilotos traba­lham febrilmente no paddock para consertar seus veículos avariados. As equipes de apoio jogam água limpa em seus olhos – a maioria não usa óculos de proteção (muita sujeira muito rápido) e terminam cada preliminar com os olhos muito irritados e completamente vermelhos.

Em sentido horário, a partir da foto maior: Melquisedeque de Lara cruza a linha de chegada para vencer a prova; após o final da corrida, o público pula na água enlameada; Silvio Stedile faz uma curva em frente a Cefas de Lara, durante uma das preliminares

“Você podia tocar outro piloto e empurrá-lo para fora da pista, mas agora os dirigentes são mais rigorosos”

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Aprimeira semifinal de um pistão tem uma disputa acirrada entre Silvinho e Cefas. Silvinho pula para a liderança no início, porém o carro de Cefas é claramente mais

veloz. Entretanto, como acaba se descobrindo mais tarde, após as preliminares, fica muito difícil realizar uma ultrapassagem. Apenas a linha de corrida per-manece lisa; todo o resto é terra revirada. Além disso, a linha interior nas duas curvas mais lentas está inundada. “Costumava ser permitido que você tocas-se o adversário para empurrá-lo para fora da pista, mas agora os dirigentes são mais rigorosos”, reclama Cefas, que ficou em segundo e foi para a final.

Na segunda semi de duas cilindradas, Alex e Melqui se encontraram novamente. Melqui toma a liderança precocemente, enquanto Alex erra uma marcha e cai para terceiro. Tentando criar um espaço de ultrapassagem onde não existe, Alex sai da corrida e atola na lama. Outra corrida que nosso Gilles Villeneuve da Amazônia abandona.

Chega a final de uma cilindrada. O número 4, Marcelo Bogorni, faz a melhor largada, deixando Silvinho e Cefas na disputa acirrada na primeira curva pelo segundo lugar. A forma como quase tocam suas rodas lembra Michael Schumacher jogando Rubens Barrichello contra o muro no GP da Hungria em 2010 e, ainda que não tenha havido contato, a disputa afoita os leva para fora da pista e para dentro da poça gigantesca logo na primeira curva.

É o bastante para dar a Marcelo uma liderança insuperável. Pela primeira vez em sete tentativas, ele vence a Corrida Nacional, apesar de seu pedal de aceleração ter quebrado na segunda volta. O que é realmente impressionante porque significa que Marcelo teve que tirar a mão esquerda do volante e torcer o braço a cada marcha trocada nas duas últimas voltas.

Sem Alex, a final de duas cilindradas deveria ser um passeio para Melqui, o que parecia ser o caso quando ele assumiu a ponta já na primeira curva. Mas na maliciosa segunda curva o impensável acon-tece: o campeão roda. O incrédulo “Ohhh!” que vem do público parece a reação a uma dupla-falta de Roger Federer em um tiebrake de Wimbledon.

Melqui vai para a última posição enquanto Dirceu Bogorni – irmão de Marcelo – pula para primeiro para logo quebrar a caixa de marcha na segunda volta. Na terceira volta, Melqui provoca uma derrapa-gem de Juliano e vai a segundo, atrás de Ismael. Ver o campeão se aproximando na última volta é demais para o jovem Ismael, que erra a curva cinco e nau-fraga em outra poça gigante. A multidão enlouquece quando Melqui voa para conquistar sua segunda moto Honda em muitos anos.

E assim termina o Carnaval. Vencedores, derrota-dos, políticos locais, este repórter forasteiro: todo mundo pula ou é jogado na lama da curva cinco. O sol se foi e o vento resfria nossas roupas ensopadas e enlameadas. Sem problemas: tem muito “Juanito Caminante”, o Johnnie Walker daqui, para nos manter aquecidos até a madrugada.

Para ver fotos da corrida de Jerico, acesse www.capitaldojerico.com

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R E D B U L L Y O U T H A M E R I C A ' S C U P

O jovem time alemão STG/NRV corta a baía de San Francisco em um catamarã AC45

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O s m e l h o r e s c a t a m a r ã s , o s m e l h o r e s v e l e j a d o r e s , a m a i o r c o r r i d a d e b a r c o d o m u n d o : q u a l q u e r i a t i s t a a m b i c i o s o s o n h a

e m u m d i a p a r t i c i p a r d a A m e r i c a ’ s C u p . E u m s e l e t o g r u p o d e j o v e n s e s t á a u m p a s s o d e r e a l i z a r e s t e s o n h o

T E X T O : A n n D o n a h u e F O T O S : B a l a z s G a r d i

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Leões-marinhos surgem na água de olho nas enormes garças e depois somem de novo nas profundezas. Os tratores que transportam cascalho de uma pilha de material para outra próxima no Pier 94 estão em silêncio.

Às 9h da manhã, as equipes que competem nas Selection Series da Red Bull Youth America’s Cup chegam em SUVs pretas trazidas por motoristas vindos dos hotéis no Centro. A paz da doca dilapidada é quebrada pela joviali-dade dos velejadores e pelas provocações entre eles – “vá se catar, seu maluco!” ecoa através das docas – além de remixes retumbantes de sucessos dos anos 80.

Há um motivo para o barulho, claro. As equipes do Red Bull Youth America’s Cup são compostas de rapazes com idades entre 18 e 24 anos, então é perfeitamente normal que alguém em seus anos de formação fale grosso durante a faculdade, caso contrário, o planeta estaria girando fora do seu eixo.

Sendo assim, a capacidade de fazer uma balbúrdia é uma qualidade. Duas horas depois, os jovens velejadores estarão se batendo contra as ondas da baía de San Francisco, com ventos sopran-do acima de 35 nós, enquanto todos cor-rem lado a lado nos melhores catamarãs de 15 metros que existem. Garantir que as instruções de suas vozes possam ser ouvidas mesmo com o vento, os estalos dos enormes veleiros e os baques dos barcos de 1,4 tonelada podem ser a diferença entre a vitória e o fracasso.

A Red Bull Youth America’s Cup é uma criação dos velejadores austríacos Hans-Peter Steinacher e Roman Hagara, que conquistaram a medalha de ouro na classe Tornado nas Olimpíadas de 2000 e 2004. Por muitos anos, a barreira para ingressar na America’s Cup era quase in-transponível: requeria uma rede de altos contatos nos clubes de iatismo – mundo praticamente fechado a pessoas sem um nobre sobrenome – ou uma medalha olímpica para chegar até a competição.

Com o início da edição jovem do evento, o processo de seleção passou a ser

mais igualitário para as grandes ligas, provendo acesso às mais avançadas embarcações e treinamento profissional. Em fevereiro, jovens velejadores de 12 países competiram nas Selection Series, que determinaram quais cinco equipes avançarão à final em setembro, em San Francisco.

A Selection Series é organizada para imitar a dificuldade de participar ‘pra valer’ da America’s Cup, incluindo árduas sessões de ginástica e a realização de sessões de navegação no AC45, o catamarã de melhor classe em uso.

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As equipes são julgadas por sua habili-dade na navegação, preparo físico e pro-fissionalismo. “Em uma semana que dura a Selection Series, eles vão aprender mais do que aprenderiam em três ou quatro anos de treinamento”, diz Steinacher.

Na Red Bull Youth America’s Cup, os catamarãs são doados por equipes veteranas da America’s Cup, mas a deter-minação e o espírito de equipe é todo dos jovens velejadores. “É uma oportunidade única”, diz Matt Whitehead, 19 anos, capitão do time sul-africano i’KaziKati. “Vir aqui e aprender o que é necessário

As equipes se reúnem para um briefing toda manhã no Pier 80 (esquerda). Depois vão velejar na baía de San Francisco ou vão para academia (acima). É muita energia: uma semana aqui é melhor que três anos de treino sem supervisão, dizem os treinadores

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Velejando à sombra da Golden Gate

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para ser um profissional de sucesso é simplesmente uma experiência incrível. Nenhuma palavra pode descrever quanto isso tudo significa para nós.”

aniel Bjørnholt Christensen, 18 anos, é o capitão da jo-vem equipe dinamarquesa Vikings. A semana cobrou seu preço sobre os garotos.

Eles imprudentemente decidiram comer burritos enormes pouco antes de uma sessão de treinamento em uma academia nos arredores do hangar Oracle Team USA. E não foi qualquer burrito, mas um “enorme, taludo burrito americano”, explica Christensen, mostrando com as mãos o tamanho do lanche. Após levantar 45 kg de peso em um aparelho, o burrito não caiu bem em um dos companheiros. “Tivemos um pequeno acidente”, explica. “Fizemos o teste e estávamos cansados, mas OK. Um dos garotos, porém, começou a vomitar e alguns outros também.”

Os velejadores levam sua participação nesse evento a sério, mas é claramente um esporte diferente da liga dos veteranos da America’s Cup, com seus colarinhos arrebitados em camisas polo de cor pastel e sotaques híbridos de inglês americano com britânico. Por 25 anos, a America’s Cup tem sido conquistada por equipes de um desses três países: EUA, Suíça ou

" É A R E A L I Z A Ç Ã O D E T O D O S O S N O S S O S S O N H O S "

W i l l T i l l e r , c a p i t ã o d a e q u i p e F u l l M e t a l J a c k e t R a c i n g

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Nova Zelândia. A diversidade que a edição júnior traz ao esporte torna-se evidente. Exceto África do Sul e Dina marca, as nações participantes incluem alguns países relativamente novatos como Argentina e Portugal.

“Isso mostra como havia uma carência nessa área”, diz Russell Coutts, CEO da Oracle Team USA e quatro vezes campeão da America’s Cup. “A America’s Cup de antes era um pináculo dos astros da vela. Mas não havia uma forma de alimentar aquela constelação de estrelas.”

A Red Bull Youth America’s Cup divide um píer com o hangar onde a Oracle Team USA está construindo seu barco para a America’s Cup 2013. É a primeira vez que uma classe profissional correu com o catamarã AC72, um gigante de 24 metros com dez andares e um casco que se parece com uma ameaça dora garra extraterrestre. Enquanto os jovens assistem as palestras da manhã, os velejadores observam na baía como o imenso barco é cautelosamente baixado por um enorme guindaste.

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A Red Bull Youth America’s Cup Selection

Series começa com 12 times. As tripulações

correm umas contra as outras na primeira

semana de competição e as seis finalistas

competem na semana seguinte. Os cinco

vencedores de fevereiro se classificam para

enfrentar outras sete nas finais em setembro

“Quando eu era jovem e assistia a Ame rica’s Cup, eu sempre sonhava em ser como esses caras”, diz Jonas Schagen, 23 anos, da equipe suíça Tilt.

“Hoje eu sou um deles. Mas ainda falta muito até o próximo passo. Nossos barcos são como brinquedos comparados a isso.”

A America’s Cup dos adultos começa em 7 de setembro, em San Francisco, mas na edição de 2016 alguns dos jovens que competem nas Selection Series poderão estar nos barcos. A Red Bull Youth America’s Cup ajuda os velejadores a trei-nar com foco no grande prêmio. “Quando vi pela primeira vez as fotos do catamarã Oracle 72, pensei: ‘Meu Deus, o que está acontecendo?’”, disse Philipp Buhl, 23, capitão da equipe jovem alemã STG/NRV. “Há dois dias visitamos a base. Eles estão trabalhando 12 horas por dia, seis dias por semana. É muito profissionalismo.”

Sete equipes se classificaram para a Red Bull Youth America’s Cup em virtude de uma afiliação com equipes correndo

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na classe AC72; as Selection Series deci-dem as outras cinco. Charlie Buckingham é capitão da equipe USA45 Racing, vinculada à Oracle Team USA. Nos seus primeiros dois dias aqui, Buckingham foi submetido a testes físicos e foi intro-duzido ao barco. “Eles basicamente nos entregaram as chaves e nos deram dicas aqui e ali, mas acho que o que realmente queriam era ver quem era capaz de se virar com tudo sozinho”, ele diz.

O resultado? “Parece estar tudo sob controle se você e a tripulação estiverem fazendo as coisas certas”, diz. “Mantivemos o barco aprumado, sem forçar demais para não estragar.”

o primeiro dia de competição nas Selection Series. Os vele-jadores estão trabalhando seus nervos antes da corrida com joguinhos de videogame

de Fórmula 1 montados do lado de fora dos contêineres onde as equipes armazenam seus equipamentos. Ter um pouco de tensão é compreensível, já que não é apenas a ambição pessoal que está em jogo, mas também em grande medida o orgulho nacional.

“A Austrália não é uma presença constante na America’s Cup há anos”, diz o capitão da Objective Australia, Jason Waterhouse, 21 anos. “Isso só mostra que

A Selection Series aconteceu em dois

lugares: a leste da ilha de Alcatraz (direita)

e ao sul da Bay Bridge, que liga San Francisco

a Oakland (acima)

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nós não estamos para brincadeira. O AC45 é o melhor barco com a melhor tecnologia, e estas são as melhores equipes jovens do mundo. Vamos fazer o possível para dar o melhor show que a gente sabe fazer.”

Os catamarãs chegam ao mar pouco antes do meio-dia. Um barco com motor a diesel dual que pode rasgar a água a 50 nós salta da doca. Ele serve como uma lancha de perseguição, alcançando boias e suprimentos para as equipes, bem como levando alguns membros da mídia para um passeio “com emoção”. É um navio animalesco, e um fotógrafo veterano acena positivamente assim que vai a bordo. “Quero um bom barco me separando desses caras”, ele diz.

Os jovens velejadores podem ter anos de experiência competindo em equipes de faculdade e seleções nacionais, mas com o AC45 o buraco é mais embaixo. A força e agilidade requeridas para manejá-lo são enormes, mesmo para os profissionais que estão habituados a ela. A experiência das equipes jovens nesse barco é limitada a estes poucos dias da Selection Series. “Trabalhamos desde muito antes”, diz Hanno Sohm, 23 anos, timoneiro do time austríaco. “Estudamos vídeos e conver-samos com pessoas que velejaram este barco. Mas há uma diferença entre saber o que precisa ser feito e fazer de fato.”

O vento começa a ficar mais forte na baía. Se você não vira o rosto na direção

do vendaval, seus óculos de sol saem vo-ando. Os barcos flutuam quando velejam em frente, depois seguem desordenados enquanto as equipes tentam navegar em volta das boias de marcação. “O grande lance é que tudo acontece tão rápido”, diz o capitão da equipe GBR Youth Challenge, James French, 20 anos. “Se você parar pra pensar, já é tarde demais.”

No final das Selection Series, os direto-res Peter Steinacher e Roman Hagara pegam os cinco times para se juntar aos outros sete nas finais de setembro. Eles são a Full Metal Jacket Racing, da Nova Zelândia; a Objective Australia; a alemã STG/NRV Youth Team; a suíça Tilt; e a portuguesa ROFF/Cascais Sailing Team, que se recuperou após quase emborcar em seu primeiro dia. Tomar a decisão final foi difícil, diz Hagara, e foi limitada pelo número de embarcações disponíveis, não apenas pela qualidade das equipes. “Poderíamos ter tido 20 times facilmente. É um objetivo para a próxima.”

Para as equipes que se classificaram, é uma realização das ambições que não eram nem imagináveis um ano atrás. “A Nova Zelândia está envolvida na America’s Cup desde que nascemos”, diz Will Tiller, 23 anos, capitão da Full Metal Jacket Racing team. “Estar aqui e poder fazer isso tudo significa a realização de todos os nossos sonhos.”www.americascup.com

“ P O D E R Í A M O S T E R T I D O 2 0 E Q U I P E S F A C I L M E N T E . É A M E T A P A R A A P R Ó X I M A ” R o m a n H a g a r a , d i r e t o r d a R e d B u l l Y o u t h A m e r i c a ’ s C u p

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O salto entre os bastidores dos palcos e o comando da banda do programa de Jimmy Fallon, ao vivo toda noite na TV, é uma trajetória sem igual na história musical de Ahmir Thompson. Fundador do The Roots, ele fala sobre a discussão do underground com Jay-Z e as ciladas da “geração YouTube”. Texto: Jonathan Cohen Fotos: Jason Nocito

INCANSÁVEL

São 11h no estúdio 6B da NBC no Rockefeller Center, em Nova York. Em um primeiro momento, o único barulho que se escuta é o do aspirador de pó indo e vindo nos corredores, entre bancos ainda vazios. É o começo dos preparativos para a gravação do Late Night with Jimmy Fallon. Uma pequena pausa na faxina nos permite escutar uma série de batidas de bateria vinda dos estúdios.

Seguindo o som pelos cor redores e virando à esquerda, chega-se a uma porta azul, a plaquinha com o nome The Roots estampado convida a entrar; na parede ao lado da porta, chama a atenção um prêmio Grammy emoldurado em vidro. E, do outro lado da porta, está Ahmir Thompson,

BUSCA

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“ S O U U M A P E S S O A Q U E E S C U TA M Ú S I C A C I N C O H O R A S P O R D I A”

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ou “Questlove”, ensaiando uma das inúmeras músicas que ele e seus com-panheiros de banda irão tocar dentro em pouco, quando o Late Night enfim tiver entrado no ar.

Sou um privilegiado em poder ver Thompson tocar de tão perto, em carne e osso, no 6º andar do Rockefeller Center, onde agendo os músicos convidados para o Late Night. E poder tratar Questlove e o The Roots como meus colegas durante as quatro horas do nosso programa me deixa muito feliz. Mas o ritmo do nosso Late Night é tão alucinante que demorou quase tudo isso para eu finalmente conseguir me sentar com Ahmir e conversar com ele sobre a sua história com a música.

Ahmir nasceu em 20 de janeiro de 1971 na Filadélfia, filho do gigante do doo-wop Lee Andrews, da Lee Andrews and the Hearts. Suas memórias mais antigas estão relacionadas a turnês acompanhando o pai e, na época de adolescente, à sua função de baterista oficial da banda. Durante seus estudos na famosa Philadelphia High School for the Creative and Performing Arts, conheceu o futuro membro do Roots, MC Tariq Trotter, com quem promoveu suas ambições ao lado de um corpo discente que incluiu uma série de futuras estrelas da música.

the red bulletin: Você foi abençoado por crescer em uma família de músicos profissionais. Para pessoas que não tiveram essa oportunidade, existe alguma forma de ter algo próximo a essa experiência extraordinária?questlove: Entre os 2 e os 13 anos, aprendi todos os aspectos que o show business oferece. Comecei como navega-dor, descobrindo como sair da minha casa para uma boate ou até para um outro estado. Tive que aprender a usar mapas aos 7 anos. Eu me formei primeiro como figurinista.Lavei roupa a mão e a vapor e engomei roupas brancas. Aos 10 anos, eu cuidava da iluminação de palco. Aprendi também a operar diferentes sistemas de som. Eu chegava antes da passagem de som, marcava os holofotes e conseguia uma escada. Quando tinha 10 ou 11 anos, comecei a aprender os acordes básicos. Conhecia repertório do meu pai de cor e salteado, portanto já identificava muito cedo as primeiras notas musicais. Aos 12 ou 13 anos, eu já era baterista e, em seguida, líder da banda. Todo aquele tempo eu estava só observando minha mãe e meu pai em suas apresentações. Mais tarde eu não tinha nem me dado conta de que os Roots incorporaram

que transcendia o circuito da velharada. Ele tinha uma esposa modelo e dois filhos que desacatavam as idades dos outros no palco, coisas que usava a seu favor. Ao entrei no segundo grau, deixei de repente de ser o tubarãozinho no mini-aquário para me tornar uma sardinha no Oceano Pacífico! Logo no segundo dia de escola, Christian McBride e Joey DeFrancesco foram arrancados da aula para tocar na TV da Filadélfia com Miles Davis. Nessas eu não passava do quinto baterista, tocando triângulo e às vezes um tamborim. Eu não era de nenhuma forma a estrela de antes. Era frustrante, mas hoje sou feliz que tenha sido assim. O Boyz II Men era a estrela de nossa escola, tinham todas as tietes. Tariq e eu tivemos aquele momento somente depois de nos formarmos. Mas do jeito que desenvolvemos nossa carreira, como a tar-taruga e a lebre, mantemos hoje um

exatamente estas lições. Na realidade ficamos famosos nos karaokês de hip hop. Meu pai não só compôs “músicas”, mas sim aquilo que seria mais tocado, músicas que se tornavam familiares facilmente. Meus pais sabiam perfeitamente conduzir um show: nos primeiros cinco minutos, você cativava a plateia com algo que ela já conhecia. Nas duas músicas seguintes, era minha mãe que tornava-se o centro das atenções, como comediante. Para mim era natural achar que aquela era uma educação básica, comum; assim como era óbvio que qualquer criança sabia chegar sozinha a Muncie, Indiana. E depois a minha reação vinha a ser de espanto: “o quê? você nunca foi a um clube noturno antes?!” Eu só fui me dar conta do meu privilégio muitos anos mais tarde.Como foi para você o segundo grau, com o ambiente escolar mais certinho? Foi uma espécie de choque?Bom, eu tive que começar tudo de novo. Aos 8 anos eu tocava bateria como um adulto – aquela coisa de ter um garotinho no show. O show do meu pai era tão bom

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“A C H AV E D O S U C E S S O D O ‘ T H E R O O T S ’ ÉT E R C O L O C A D O S Ó O S M A I S F E R A S E M N O S S O C Í R C U L O Í N T I M O ”

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Desde 1998 que a Red Bull Music Academy tem rodado o globo, fazendo estações todos os anos em cidades como Londres, Cidade do Cabo, São Paulo, Melbourne e Madrid. Dois grupos de 30 participantes seleciona­dos – produtores, instru­mentistas, vocalistas e DJs de todas as partes do mun­do e de vários estilos – se reúnem por um mês (duas semanas para cada grupo de 30) para trabalhar nos estúdios, tocar nos melho­res clubes da cidade e aprender os segredos dos músicos profissionais.

Mentores como Quest­love (que vem trabalhando com a Red Bull Music Aca­demy desde 2006), a lenda tecno Carl Craig, o compo­sitor Steve Reich e o pro­dutor star Mark Ronson não só chegam para dar uma aula, como também fi­cam por mais tempo, às ve­zes até dias fazendo jams com os participantes nos estúdios e compartilhando sua sabedoria.

No seu 15º ano, a Red Bull Music Academy segue curso para Nova York, o lu­gar onde nasceu o hip hop e uma das capitais do punk.

Como homenagem à criati­vidade da cidade, a Acade­ mia organizará um festival de cinco semanas com 35 shows e 150 artistas. Entre os highlights estão cogitando Nile Rodgers do Chic e James Murphy do LCD Soundsystem; uma instalação audiovisual de Brian Eno; e gigs com músicos como Kim Gordon (Sonic Youth), Four Tet e, claro, os 60 participantes de 35 países.Red Bull Music Academy, Nova York, de 28 de abril a 31 de maio. redbullmusicacademy.com

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excelente padrão de vida e muitos dos nos-sos contemporâneos já estão em declínio. Onde estão, segundo o que você hoje pode observar, se aprimorando os novos e emergentes talentos?Um dos maiores desgostos que eu tenho com o momento atual da música é a ideia de que a cultura do underground não interessa mais a ninguém. O hip hop se apunhalou com sua própria faca mais ou menos em 1997, quando subitamente só vencedores importavam e perdedores ou guerreiros não valiam nada, com o resul-tado de que ninguém mais quis acolher o underground. Vivemos uma era de suces-sos. Puffy inaugurou esta era, na minha opinião. A narrativa ficou muito motiva-cional e só se fala em vencer. Não se cele-bra mais o cara que leva a água, o estatís-tico ou o treinador-assistente – pessoas que também ajudam a equipe. Passou-se a falar de destaque, destaque e destaque. Provavelmente a maior discussão que eu tenho com Jay-Z é sobre a necessidade de se pagar adiantado pelo

estabelecimento de uma cultura. Hoje, não existe mais um contexto subcultural na black music. O motivo pelo qual os Roots se tornaram um sucesso é porque decidimos pegar só os mais feras para se juntar ao nosso círculo íntimo. Não foi uma coincidência os Roots terem saído de uma venda de 200 mil para o disco de platina. Com o Mos Def foi a mesma coisa. Com o Gang Starr, D’Angelo, Talib Kweli e Erykah Badu idem.Esse movimento está crescendo e isso é o resultado: o fato de que ele pode ser contextualizado. Como acontece com a maioria dos guerreiros do underground, assim que você consegue esse sucesso, é como Ló. Você não quer olhar para Sodoma e Gomorra. É um sacrilégio olhar para o passado. Assim, você acaba se isolando. Na era do YouTube, sim, você pode sentar no seu quarto, fazer um cover da música do Little Dragon e se transformar numa celebridade da internet da hora. É bom, mas temporário. Não faz uma carreira de 20 anos.Então quais habilidades seriam neces-sárias para ser um verdadeiro talento?Eu não sei se é uma questão de habilidade ou apenas a vontade de fracassar em

público. Um grande exemplo disso é Jill Scott e Jaguar Wright. Elas eram duas amigas dos Roots. Nós as conhecemos em 1994 ou 1995. Quando começamos a fazer jam sessions em nossas casas, Jill ainda estudava e trabalhava, e Jaguar trabalhava na WaWa – uma lojinha de conveniência do tipo posto de gasolina. Toda semana elas vinham em casa para as sessions. Mesmo sendo amigas, rolava um pouco uma competição. Jaguar tinha uma habilidade maluca para o freestyle como cantora. Ela fazia o público delirar com qualquer letra que cantasse. Isso fez com que Jill quisesse ser melhor e praticasse em casa. Então, quando ela voltava na semana seguinte, era ela que conquistava a galera e não Jaguar. Isso aconteceu toda a sexta-feira dos anos 1997, 1998 e 1999, incluindo alguns domingos. Por muitos anos você dedica três horas diárias o ano todo e de repente você é um dos melhores performers que se pode imaginar. É essa a ideia do workshop: o princípio da paciên-cia e da espera. É um valor que parece perdido nestes tempos. Eu queria que esse método fosse mais praticado. Trabalhando aqui testemunhei situações onde artistas com apenas um ano ou dois de experiên-cia pipocam e correm para o banheiro.

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Os Roots estavam muito nervosos nos nos-sos primeiros dois shows no Late Night. Hoje eu dou risada pensando no passado, porque fizemos tantas vezes. Acho que é menos uma questão de talento e mais de força de vontade e paciência.Nas aulas sobre álbuns clássicos que você vai começar a ministrar na NYU, que tipo de ideias pretende transmitir aos estudantes?Decidi começar pelo mais simples. Eu tinha a opção de fazer uma aula para 100 estudantes, mas eu disse a eles que queria o mínimo. Então tenho 24 alunos. Eu só quero ensinar a eles a arte da paci-ência necessária para se ouvir uma músi-ca. Da mesma forma que tenho que fun-cionar como uma enciclopédia da música e como produtor de hip hop, me ensina-ram a destrinchar discos. Você coloca um e escuta, escuta, escuta, procurando por um sample ou um break. Estou tentando inverter isso e explicar para as pessoas por que alguns discos são mais importantes que outros e deixar isso tudo depois nas mãos delas. Para alguém da minha idade, que nasceu há 40 anos, em 1971, eles agora têm muito mais informação à dis-posição do que antes. Mas o que eu acho é que estamos com falta de professores

o espaço necessário na minha cabeça para guardar o que for. E eu sou uma pessoa que ouve música praticamente cinco horas por dia. Quando você pensa, é um bom tempo. Entre a academia, o carro e quando volto para casa, eu provavelmente dedico cinco horas. Eu apenas quero fazer o pro-cesso de se produzir música ser mais diver-tido. Algumas pessoas vão até seus limites. Alguns DJs com os quais cresci deixaram de fazer música há muito tempo. Eu prova-velmente faria o mesmo se não tivesse des-coberto stems (componentes de uma músi-ca separados digitalmente). Eles me deram um novo impulso na vida, porque me dão a oportunidade de aprender como discos são gravados – tudo de novo e mais uma vez...Parece que você não é o tipo de pessoa que gosta de colaborar com uma só música. Quando alguém te contrata para trabalhar, você prefere uma colaboração mais abrangente?Bem, eu não tenho o know-how ou o conhecimento para fazer um manifesto grandioso em três minutos e 30 segundos. Gostaria de ter esse talento. Mas eu consi-go fazer esse manifesto em 70 minutos.Fale sobre os problemas em ser um especialista de música quando hoje se tem acesso a aparentemente toda a música do mundo. Não há realmente tempo para conhecer tudo. E eu não me desgasto para consu-mir música. Mas eu tenho que pensar o que vai acontecer com minha coleção de discos quando morrer.Um álbum ainda é uma forma viável de lançar música? Desde a época em que o Late Night discutia se ainda fazia sentido lançar discos completos, os Roots fizeram álbuns conceituais.Você sabe: nos filmes, quando os vilões percebem que acabou e que não tem saída, ou eles chutam o balde como em Thelma e Louise ou eles se rendem. Não há precedente para uma banda de rap a esta altura da carreira seguir no mesmo selo, lançando seu 16º disco. Eu sempre penso, “OK, este vai ser nosso último grande manifesto, e você sempre precisa de um grande ponto de exclama-ção no final”. Se você não compete com o que está no topo, como Rihanna ou o que for, então talvez devessemos apenas fazer o que melhor sabemos e... esperar que a guilhotina te corte a cabeça. Daí você lança o álbum, a guilhotina não cai e você se acalma e começa tudo de novo! www.theroots.com

que os coloquem no caminho certo. Esta manhã mesmo eu tive que repreender alguém que censurou outra pessoa por não saber que “It’s a Shame” não era um rap de Monie Love, mas uma música dos Spinners dos anos 1960. Um dia entrei no Twitter e me dei conta de que essas coisas básicas que eu levava como garantidas, tinham que ser passadas adiante, sabe o que eu quero dizer? Há muita informação de fácil acesso por aí, tem que se ter paci-ência para filtrar isso assim como tem que se ter paciência para ajudar alguém a administrar toda essa informação.Eu tenho a sensação de que, quando eu era jovem, parecia haver uma quanti-dade finita de músicas. Hoje há muito mais lançamentos. Você pode falar sobre como absorver tudo isso?Para mim não é enlouquecedor. Dos três artistas que são mais importantes para mim nesse sentido – Stevie Wonder, Michael Jackson e Prince – eu tenho todo

“ N A E R A D O Y O U T U B E V O C Ê P O D E S E N TA R N O S E U Q U A R T O E FA Z E R U M C O V E R D A M Ú S I C A D E L I T T L E D R A G O N E T E R S U C E S S O . M A S I S S O N Ã O FA Z U M A C A R R E I R A D E 2 0 A N O S . ”

Questlove e The Roots na cerimônia introdutória do 27º Rock & Roll Hall of Fame

Mais perguntas e um vídeo exclusivo com Questlove dando show na bateria você confere no app gratuito da The Red Bulletin para tablets.

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SKATE

Ser jovem na reserva indígena de Pine Ridge, nos EUA, não é fácil. Em um lugar onde a pobreza, o suicídio e o alcoolismo são companheiros constantes, o skate tem sido a salvação – uma boa pista é suficiente para transformar a vida e a cultura locais

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Jake Roubideaux, de 14 anos, flui sobre seu skate na pista

de Wounded Knee

SKATE or DIETexto: Andreas Tzortzis

Fotos: Jay Hanna

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A pista de skate criou espaço para uma nova cultura e dá suporte a crianças e jovens (como Joe Mesteth, acima) que enfrentam as dificuldades da reserva indígena

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lijah Battese observa Bobby acertar um ollie numa bicicleta do outro lado da rampa, ficando 3 ou 4 metros acima do chão e aterrissando sem problemas. Boquiabertos, os outros garotos simplesmente exclamam: “oooh”.

“Acho que posso acertar um desses”, diz Elijah num resmungo pré-adolescente, com seus olhos azuis acinzentados fixados na bicicleta. Diante dele está um drop de 10 metros.

A descida é suave e o concreto está liso. As descidas emendam em um trecho plano, onde ficava uma antiga quadra de tênis. É lá que os skatistas costumavam ficar, no tempo em que não passavam de um grupo de desajustados que não praticava nem atletismo nem futebol.

Entre duas quadras de basquete, um gramado descuidado, terrenos baldios e as áreas de reunião dos Sioux encontra-se hoje este espaço impensável e ainda estra-nho na reserva indígena de Pine Ridge, Dakota do Sul – espaços comumente en-contrados em Venice Beach, Los Angeles, ou Nova York. Os garotos usam skates detonados, de segunda mão ou doados, e voam na pista como se estivessem na Los Angeles dos anos 1970 e fossem Tony Alva, porém caem com facilidade.

Mas eles chegam lá. E quando estão andando de skate, ficam longe de seus lares desestruturados e dos rolês em car-ros caindo aos pedaços com garrafas de bebida roubadas nas mãos. Enfim, não estão na marginalidade, pensando se alguém sentiria sua falta se sumissem.

Nada é simples no lugar onde Eli e seus amigos estão crescendo. A moda radical de um esporte mainstream como o skate quase não foi adaptada – não há nada além da obsessão única de uma manobra bem realizada, o estalo dos shapes e a batida das rodinhas de poliuretano no concreto.

E, assim, com todo esse barulho ao redor, Eli se concentra na extremidade do bowl, coloca seu calcanhar no shape e dropa, com sua trança até a cintura sacudindo ao vento.

A história de como o Wounded Knee 4-Directions Skate Park chegou em Pine Ridge começou pouco

antes de Eli e seus amigos nascerem, há 12 anos. Mas a história do porquê é muito mais antiga e tem suas raízes ligadas a fantasmas do passado, como tratados nunca cumpridos, maus-tratos e uma espiral de tristeza e autoaversão que assombram a reserva.

Há estatísticas depressivas que contam a história dos antigos americanos nativos nos EUA. A reserva de Pine Ridge, lar dos Oglala Lakota Sioux, tem sido um barril de pólvora por mais de um século: desde a quebra do tratado do Forte Laramie em 1868, passando pelo movimento de mili-tância em favor dos direitos do índio nos anos 1970 e chegando ao massacre de Wounded Knee, Pine Ridge é com certeza o ponto mais crítico das políticas fracas-sas do governo americano relativas às po-pulações indígenas. A expectativa de vida

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coleção de adesivos de marcas de skate, incluindo uma dos Wounded Knee. Walt Pourier e Jim Murphy desembar­cam; sua chegada causa um pequeno alvo roço, com muitos cumprimentos e alguns abraços entre uma dúzia de jovens presentes na pista. Eles estão bem familiarizados com seus benfeitores.

A dupla chega diante de um cenário inimaginável um ano antes. “Quando Murf e eu entramos no carro de volta, a gente pensou, ‘cara, conseguimos!’”, diz Pourier com a voz trêmula. “É emocionante, e uma felicidade muito grande também.”

Nascido e criado lá, Pourier sabe muito bem das dificuldades encaradas pelos skatistas. Hoje, morando em Denver, onde trabalha com design gráfico, ele retorna frequentemente para marcar presença em sua terra. “Uma boa parte da minha família ainda está aqui, muitos amigos, então voltamos frequentemente para cerimônias e reuniões familiares. Infelizmente, muitas vezes para funerais”, ele diz.

O skate não existia em Pine Ridge no tempo de Pourier. Basquete, futebol e corridas indicavam

status – e ainda indicam. Mas Pourier, um cara de cabelo enfeitado com penachos e cheio de energia, parecido com persona­gens dos filmes de John Hughes, mostra­va já naquela época um lado diferente.

Quando Pourier chegou na California, conheceu e apaixonou­se pelo skate. Ten­tou andar algumas vezes, mas nem sem­pre teve muito sucesso. Mas diz que já chegou a 90 km/h em uma estrada. Hoje, aos 47 anos, já não se arrisca mais. “Eu geralmente caio. E faço uns barulhos estranhos quando vou ao chão”, diz.

Metade palhaço e metade um eloquen­te representante da juventude, Pourier viu no skate uma forma de conectar os jovens a tradições e cultura dos Oglala Lakota Sioux, costumes que os ajudam a crer em ser parte de algo maior. “Os jovens de hoje podem não dar bola à história como a do búfalo branco”, ele diz. “Então nós a desenhamos no shape.”

Os shapes são um presente de Murphy, ou Murf, como ele é conhecido por todos. Skatista da lendária turma de Tony Alva, seu estilo vertical desapareceu quando o streetstyle entrou em voga em meados dos anos 1990. Mas seu amor pelo esporte, que se tornou um objetivo pessoal desde a morte do seu pai há 13 anos, nunca se esvaiu.

Trabalhando em tempo integral como restaurador de vitrais, Murf e seu bom amigo, o falecido defensor do skate

desta reserva, que tem aproximadamente o tamanho equivalente ao estado de Connecticut, é de 47 anos. O desemprego atinge mais de 90% da população, a maioria tem uma renda anual de cerca de US$ 3 mil. O alcoolismo persiste apesar da proibição, desestrutua as famílias e aniquila o espírito tribal. A dieta mal balanceada faz quase metade da população sofrer de diabetes.

Carros velhos enferrujam em frente aos gramados mal cuidados de casas que muitas vezes abrigam numerosas famílias. Prédios mais recentes, com exceção de um hospital novo, são escas­sos. Entre os nove distritos, Pine Ridge é o centro do conselho tribal, com sua rua principal que ostenta dois semáforos. Há uma lanchonete Subway, uma Pizza Hut e um posto Shell.

Depois vem uma estatística que real­mente choca – uma taxa de suicídio entre jovens que é 150% maior que a média nacional. Em um período de 45 dias em 2009, o Departamento de Segurança Pública de Oglala Lakota Sioux registrou 90 suicídios ou tentativas de suicídio.

O celular que Tiny DeCory guarda no bolso como uma espécie de linha do suicídio, tocava sem parar naquela época. Na realidade ainda toca: jovens tomando overdose de comprimidos, outros que ligam para simplesmente dizer “eu quero me matar”, fazem com que ela pule no carro e acelere para onde estejam.

“Há muitos fatores que contribuem para tal atitude”, diz DeCory, advogada da juventude e tia por adoção de

“Tenho alguns problemas rolando na minha vida, mas na pista eu me sinto livre”

incontáveis meninos na reserva. “Aqui existem mães solteiras sem nenhuma renda. A economia vai de mal a pior e segue cobrando seu preço. Alguns garotos entram no Facebook e escrevem ‘f*­se minha vida’, e eu sei quais são, porque é constante.”

Há neste lugar coisas ruins o suficiente para fazer de alguém um desesperado, e DeCory, cuja reputação por falar e agir de forma direta é muito conhecida na reserva, tem uma visão nebulosa do futuro. Mas entre as ligações telefônicas de pânico e mensagens tristes, ela vem notando uma mudança: postagens no Facebook de crianças sorridentes e de skates; vídeos de celular com manobras realizadas com destreza; fotos dos suaves contornos da pista – seria o surgimento de uma real alternativa?

“Temos nossos rodeios e encontros indígenas e nossos jogadores de basquete. Mas finalmente temos uma nova cultura”, ela diz. “E é a cultura do skate.”

Uma SUV branca entra no estaciona­mento de chão batido ao lado da pista de skate numa manhã ensolarada de um sábado de primavera. A parte traseira do carro está coberta com uma crescente

À esquerda: Leroy Janis, o cara que andava de skate na reserva quando ninguém sabia o que era. Hoje ele é considerado um dos mentores do movimento. À direita: Jaydin Thomas Peters

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A partir da foto superior esquerda, em sentido horário: Elijha Battese (centro) e Jaydin Peters (direita); Will Peters; Elijah, Taylor e Leroy descem a colina; as meninas que andam pelo parque

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novaiorquino Andy Kessler, criaram uma empresa. Como uma brincadeira, decidi-ram fazer uma homenagem a seus corpos decadentes e chamá-los de Wounded Knee (que sigifica joelho machucado).

Os livros escolares se referem a esse episódio de sua história somente como a uma batalha entre os Sioux e os remanes-centes da 7ª Cavalaria que montavam guarda na reserva no inverno de 1890, omitindo que Wounded Knee foi um mas-sacre profetizado pelo chefe Sioux Touro Sentado. Trezentos Sioux, incluindo mulheres e crianças, foram executados, seus corpos deixados para congelar para depois serem jogados numa vala comum.

A maior característica do design de shapes de skate Wounded Knee é a inspi-ração na cultura nativa norte-americana; os shapes vêm com uma folha contendo informações detalhadas sobre o massacre e suas consequências (como é possível ver no pé desta página). “Sempre sonhávamos ver uma pista de skate em Pine Ridge como homenagem àqueles que morreram em Wounded Knee”, disse ele. “Mas ainda parecia algo inimaginável.”

“Não é apenas construir rampas de skate, é mudar mentalidades” Walt Pourier

História

Desde o começo do século XIX, as tribos da grande nação Sioux dominaram as planícies do Norte dos EUA. O tratado do Forte Lara-mie de 1868 confinou os Lakota

Sioux a uma região do que é hoje o sudoeste de Dakota do Sul, trans-

formando pela força uma cultura guerreira em uma sociedade agrí-

cola. A reserva de Pine Ridge foi es-tabelecida formalmente em 1889. Um ano depois, 300 Sioux foram

massacrados pela 7ª Cavalaria em Wounded Knee Creek. Em 1973,

Wounded Knee teve mais uma vez um impasse com o governo ameri-

cano quando membros do movi-mento de ativistas dos índios locais tomaram a região, protestando por melhores condições. O confronto

armado durou 71 dias, despertou a consciência para a causa dos índios

e conduziu mudanças de vida na reserva, buscando, inclusive, um

resgate cultural. Enquanto o conse-lho tribal mantém jurisdição sobre

a reserva, incluindo os departa-mentos de segurança pública, os governos estadual e federal

ainda participam. Dos estimados 2,5 milhões de índios americanos, 40 mil vivem hoje em Pine Ridge,

a maioria deles abaixo da linha de pobreza. Em 1980, a mais longa batalha judicial da história

dos EUA terminou quando a Suprema Corte estabeleceu uma

multa de US$ 106 milhões em favor dos Sioux, determinando que os Black Hills e 7 milhões de acres

de terra foram injustamente toma-dos pelo governo. Mas as tribos

recusaram o dinheiro, seguindo na luta pela devolução das terras.

Em 2007, Murf participou de uma exibição que a Smithsonian organizou sobre skatistas índios. Lá ele conheceu Pourier. Os conhecidos de Pourier conse-guiram arranjar as coisas, e a Grindline, uma fabricante de pistas de skate, se ofereceu para construir uma por um preço reduzido. Pourier e Murf conse-guiram uma doação de US$ 10 mil da Tony Hawk Foundation, que foi acrescida com aportes do mesmo valor por dois outros membros da fundação. O baixista do Pearl Jam, Jeff Ament – que foi skatista e cresceu próximo a uma reserva em Montana – também abraçou a causa.

A construção teve início em setembro de 2011. A rampa foi aberta algumas semanas depois, no dia 16 de outubro, em uma grande cerimônia, durante a qual Pourier recebeu uma bandeira tribal, uma honra normalmente reservada aos idosos.

“Essa rampa de skate traz a eles mais uma razão de viver. É alguma coisa que os instiga e mantém as mentes ocupadas”, diz Murf. “Você pode lidar melhor com os sentimentos. É possível trabalhar isso na pista de skate, com uma grande família de skatistas para te apoiar.”

A maioria dos garotos da pista chega cedo e vai embora tarde. Com a visita de sábado da dupla Pourier e Murf não é diferente. Os cães da reserva andam pelos arredores, farejando os primeiros sinais do churrasco. O estacionamento é de chão batido cheio de barrancos e buracos esculpidos pelo mau tempo. Alguns car-ros velhos sem farol e outros com remen-dos de plástico nas janelas vêm chegando.

Entre os skatistas, um se destaca. Sob uma juba tingida de laranja e um rabo de cavalo, o lado direito do rosto de Joe Mesteth, o “Crazy J” , está coberto por um desenho de prata e tinta azul.

“Ele é um pouco a exceção da regra aqui na reserva”, diz Pourier. “Eu acho que o skate é simplesmente aquilo que o mantém vivo. Ele está vivendo a ideia de o skate realmente poder salvar vidas.”

A biografia de Crazy J segue uma tendência quase generalizada da reserva. Com pais alcoólatras, ele foi criado por seus avós. Apesar de já ter trabalhado para o presidente da tribo, ele acabou se envolvendo com o tráfico.

“Os problemas daqui não se comparam aos problemas de fora”, diz Mesteth com uma voz calma. “Se estivesse vivendo no mundo dos brancos, eu provavelmente conseguiria algum dinheiro para pagar o aluguel. Aqui na reserva ou você tem um sobrenome ou terá que vender droga para conseguir dinheiro.”

Mas Crazy J não é um traficante ou um bandido qualquer. Seu lar no momento FO

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Os árbitros são lenientes para que todos tenham a chance de participar. Não há sistema de som, apenas dois voluntários que gritam os nomes dos participantes. Murf, vestindo um abrigo de moletom de capuz Wounded Knee e com cabelo preso num rabo de cavalo, faz comentários de incentivo em meio ao barulho das rodinhas dos skates. “Vamos lá, cara, tá na sua mão!”, grita. “Mais uma manobra!”

A camaradagem na pista é notável. Não faltam assobios e gritos de apoio a cada manobra bem reali-

zada ou terminada em tombo. “Esses ga-rotos podem alcançar o mesmo nível dos skatistas na Califórnia. O que eles preci-sam é de uma estrutura parecida ou da mesma qualidade”, diz Murf.

No final do torneio, prêmios são distribuídos aos vencedores de categorias como a de “Melhor Manobra” e a “Mais Criativa”. Eli, que começou a andar de skate no dia em que o parque foi inaugu-rado há seis meses, levou o prêmio de “Mais Coração”. “Eu vivi aqui a maior parte da minha vida”, ele diz. “Não havia muito o que fazer até que eu ganhei um skate... Se não fosse por Walt e Jim, eu não conseguiria ser tão bom como sou agora. Sei que estou sendo notado.”

Claro, para Pourier e Murf, a perfor-mance e a perfeição das manobras não são o principal foco das atenções, isso é uma consequência de muito trabalho.

“A profecia de Touro Sentado tem duas fases: a primeira terminou com o massa-cre de Wounded Knee”, ele diz. “A segun-da começa com Wounded Knee, através desta geração de jovens.”

A crença ancestral é o que está por trás do compromisso fervoroso com o skate e os efeitos que tem no lugar. Eles estão planejando construir três outras pistas em Pine Ridge. “Não podemos esperar mais uma semana, não podemos esperar mais duas semanas”, diz Pourier.

“Já enterramos muitos garotos aqui e ninguém mais deveria passar por isso. Aqui não é só uma questão de construir rampas de skate, mas sim de mudar a mentalidade”.

A tarde cai. O capacete de ouro de Jaydin Thomas Peters pega um brilho do sol cadente, a luz combina com o sorriso em seu rosto. Para um lugar que procura histórias de sucesso, Jaydin é um exemplo evidente. Ele já ganhou alguns prêmios com danças nativas no gramado e é um bom aluno. Foi criado pelos avós, uma mulher estoica de nome Lena e um fã de Bob Marley, o professor da língua e cultura Lakota chamado Will. “Esse cara é forte, ele cresceu aqui”, diz Will Peters, espiando por óculos escuros tipo John Lennon. “Sua mãe aparece e depois some. Ele sabe como é”, afirma.

A casa de Peters é arrumada e tem um andar de base pré-fabricada comum na reserva. Entre as coisas de que mais gosta está uma pequena caixa de madeira que tem na tampa o desenho de um guerreiro Lakota montado em seu cavalo. Dentro estão os presentes de familiares: uma lâmina de faca, a gargantilha que foi dada pela mãe e uma pulseira de porco--espinho. “Eu só tiro para velórios”, diz.

Há muitas coisas que poderiam deprimir Jaydin, mas, se ele se deixa abalar, sabe esconder bem. Cinco anos atrás, quando começou a andar de skate, a rampa de madeira construída nas antigas quadras de tênis era o único lugar próximo de sua casa para praticar.

Mas lá está ele na extremidade do halfpipe com Eli, seu primo, observando seu amigo Jake Roubideaux dropar e sentir aquele arzinho no outro lado. “Vê o que Jake acaba de fazer? E o aplauso de todos?”, ele pergunta. “Isso realmente faz o coração bater mais forte, saber que essas pessoas estão aqui só pra me ver”, diz Jake.

Jake para e olha para longe de novo. “Aqui a gente não pensa em ser melhor ou pior”, ele diz. “Não tem aquele ‘eu sou superior a você’. Todo mundo é igual.” Leia mais em: strongholdsociety.org,www.redbull.com/skateordie

é um velho carango Chevy Suburban, já que ele teve que fugir de uma família envolvida em briga e álcool. O carro, seu atual refúgio, fica agora estacionado ao lado da pista de skate.

“Sempre que estou no skate, eu sinto a liberdade”, ele diz. “Eu tenho alguns problemas rolando na minha vida, mas na pista eu me sinto livre.”

Com fone nos ouvidos, ele percorre a pista em seu skate plenamente concen-trado, agachado, absorvendo as curvas de concreto enquanto manda ver nas manobras. Quando não está no skate, os mais jovens grudam nele para ouvir conselhos sobre manobras e consertos. Crazy J é um exemplo para eles e Murf fez dele um membro oficial da equipe Wounded Knee Skateboards.

“Há tantos problemas que atormentam esses garotos, coisas das quais eles nem se dão conta”, diz Mesteth, de 25 anos, um dos mais velhos da pista. “Estou tentando fazer do meu carro uma loja de skate ambulante. Eu quero sair e encontrar os garotos, realmente usar o que tenho.”

Murf estima que para cada garoto num shape há provavelmente uma centena de outros que gostariam de ter um mas não têm dinheiro. Conseguir mais skates para os que precisam tem sido a filosofia que orienta sua empresa mas também o moti-vo de ela nunca ter dado lucro. Enquanto a comida assa na grelha, uma mistura de pais, amigos e bebês se senta no concreto para assistir aos skatistas.

A partir da esquerda: Taylor, Jaydin, Jake, Janis e Elijah descansam depois de uma sessão de skate pela manhã

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Mr. Lava LoverO cinegrafista neozelandês Geoff Mackley vive de registrar os maiores fenômenos da natureza. Descer de rapel até o interior de um vulcão beirando um rio de lava é uma coisa que ele faz brincandoTexto: Robert Tighe Fotos: Bradley Ambrose

Trabalho incandescente: o assistente de Geoff Mackley, Nathan Berg, contempla o lago de lava do vulcão Marum, na Ilha de Ambrym, em Vanuatu

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o que há de melhor. Mas as falhas são humanas, é natural. As pessoas simplesmente piram lá em cima.”

Com Mackley nessa viagem estavam os neozelandeses Bradley Ambrose e Nathan Berg, além do cinegrafista americano Rui Cavender. Ambrose, um cinegrafista free-lancer, começou a trabalhar com Mackley alguns anos atrás, quando se conheceram ao fazer a cobertura de um acidente de carro para um canal de notícias.

Essa foi a quarta viagem de Mackley, de 36 anos, para Ambrym. Berg lavava pratos em um café quando Ambrose, cujo enteado era o melhor amigo de Berg,

á fazia pelo menos 15 anos que uma pergunta ardia no peito do aventureiro Geoff Mackley: como seria chegar o mais perto possível do rio de lava do Monte Marum e observar a borbulhante massa de rocha derretida? Sua resposta é clara:

“Parece a superfície do sol”, ele diz, via rádio, para seu braço direito, Bradley Ambrose. O assistente está empoleirado 100 metros acima numa encosta rochosa, registrando o momento com a câmera. “É como nos meus sonhos mais malucos.”

Marum fica na Ilha de Ambrym, a quinta maior extensão de terra do arqui-pélago da República de Vanuatu, no sul do Oceano Pacífico, onde estão os poucos rios de lava ainda existentes. Um rio como esses é um grande e permanente volume de rocha derretida que fica borbulhando dentro de uma cratera ou abertura na terra. Desde 1997, Mackley gastou cerca de meio milhão de dólares em expedições a Ambrym para descobrir uma forma de poder descer de rapel os 400 metros do despenhadeiro até o rio de lava.

“Contando com esta, estive no local 13 ou 14 vezes”, diz Mackley. “As filma-gens e fotografias que fizemos dessa vez correspondem ao que eu tinha em mente por 15 anos. Nas nossas primeiras viagens carregávamos o equipamento montanha acima, ficávamos em nossas barracas debaixo de chuva torrencial por semanas e no final voltávamos sem ter conseguido ver nada. Aprendi muito com essas expedições e tentei não cometer os mesmos erros. Da primeira vez que fomos, bar racas e equipamentos nos deixaram na mão, hoje utilizamos

Nathan está pronto: “Ele desceu o penhasco equipado com respiradores e roupa anti-calor”, diz o fotó-grafo Bradley Ambrose. “Ele provou o equipamento e sabia o que fazer no caso de uma emergência”

perguntou se ele estaria interessado em ir até um vulcão. Aos 18 anos e sem nunca ter saído do país antes, Ambrose agarrou a oportunidade com todas as forças.

“Eu era um cara barato”, brinca Berg. “Além do mais, estou em forma, malho muito e cumpro com o que me mandam.”

Os três neozelandeses chegaram em Porto Vila, capital de Vanuatu, no final de junho, e Cavender chegou uma semana depois. Uma combinação de clima desfa-vorável e equipamentos fundamentais perdidos pela empresa de transportes durante a viagem tornou impossível, até meados de julho, embarcar no helicóptero

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que os transportaria ao topo do Marum. Além da responsabilidade sobre mais de 1 tonelada e meia de equipamento, a pressão dos custos era enorme.

“Na última viagem, há anos, tiramos algumas fotos razoáveis”, disse Mackley, cujos cinegrafistas na época eram dois alpinistas que chegaram a 50 metros do rio de lava. “A única maneira de superar isso era chegar ainda mais perto.”

Estar próximo do perigo é algo que Mackley tem feito desde que começou a trabalhar como filmmaker há mais de 20 anos. Incêndios e acidentes de carro têm sido sua rotina até 1995, quando houve a erupção do Monte Ruapehu, um vulcão em uma ilha do norte da Nova Zelândia. Mackley escalou o cume da montanha por cinco horas debaixo da forte nevasca para fazer as imagens que percorreram o mundo. Uma produtora britânica comprou 15 minutos de seu ma-terial no Ruapehu pagando US$ 20 por segundo, US$ 18 mil por todo o esforço. Foi quando surgiu uma nova carreira: via-jar o mundo para filmar eventos extremos em lugares perigosos. Desde então, aos 48 anos, começou a caçar tempestades ao redor dos EUA, registrou a devastação causada pelo tsunami na Indonésia e cobriu a Guerra do Afeganistão. Vulcões, no entanto, são sua grande paixão.

Em 1997, o Discovery Channel incumbiu Mackley de fazer uma série de TV batizada de Volcano Detectives. Durante as filmagens, visitou um dos vulcões de maior atividade no mundo, o Monte Yasur, localizado na Ilha de Tanna, em Vanuatu. Enquanto esteve lá, alguns locais lhe contaram haver um grande lago de lava na Ilha de Ambrym.

“‘Mentira’, disseram as pessoas que estavam comigo.” “‘Se houvesse um rio de lava, todo mundo saberia disso e seria uma grande atração turística.’ Mas logo descobri que era verdade”, relata Mackley.

Aventureiros no nevoeiro: “As bandeiras de Vanuatu e da Nova Zelândia balançam no acampamento. A neblina no fundo é uma nuvem de gases tóxicos que rodeia a área”, explica Ambrose

“EU JÁ TINHASONHADO COM ESTAS IMAGENS HÁ 15 ANOS”

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Todo cuidado é pouco: “Geoff (esquerda) e eu nos preparos para a descida à cratera”, lembra-se Ambrose. “Usávamos máscaras e visores à prova de calor para evitar que a chuva ácida queimas-se os nossos olhos”

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Como faltava dinheiro para um heli-cóptero, Mackley teve que escalar os 1.334 metros de montanha a pé. Quando chegou ao topo, descobriu que um tremor de terra recente tinha soterrado o rio de lava com pedregulhos. “Saíam apneas poucas baforadas de fumaça”, ele conta.

Alguns meses depois, ao saber que a lava havia reemergido, voltou para o local. “Dito e feito, lá estava ela, no fundo da enorme cratera”, disse Mackley. “Tínhamos péssimas condições climáticas e conseguíamos apenas vê-la por alguns segundos no meio da chuva, mas eu tinha certeza de que queria chegar até o fundo. Eu imaginava o que iria se passar e quais dificuldades me esperavam. Levei para Ambrym um pessoal que havia escalado o Everest; eles olharam para a borda do vulcão e disseram ‘não vou descer’. Porém um ‘não’ era para mim inaceitável.”

É claro que existem outros rios de lava pelo mundo. Mas, segundo Mackley, o perigo deste é sua instabilidade. A lava fervente e borbulhante de rocha fundida, que alcança temperaturas de mais de 1.250°C, tem se mantido no mesmo nível desde sua primeira visita ao local.

“O lago de lava do Marum não está em erupção”, ele diz. “A pressão liberada ocorre de maneira muito estável. No caso da maioria dos outros vulcões você não pode nem chegar perto: é impossível prever o seu comportamento.”

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ntão, como Mackley sabe de que maneira o Marum

vai se portar? “Não sei”, ele admite. “Mas é fácil pelo menos verificar onde a lava esteve recentemente. Se você chegar mais perto que do isso, é um otário.”

O topo do vulcão, onde Mackley levantou acampamento, é uma planície de cinzas, com 12 km de ponta a ponta e completamente estéril. A uma certa dis-tância das barracas tem-se uma crista da qual o rio de lava pode ser visto do alto de 400 metros. O caldeirão, cujo diâmetro é de aproximadamente 200 metros – equivalente ao tamanho de dois campos de futebol –, é uma vista deslumbrante. “É como uma criatura viva”, diz Ambrose.

A equipe montou sete barracas para a estadia na montanha: uma para cada um dos quatro integrantes, outra que servia de depósito, uma para o guia e o gerador e por fim um abrigo onde cozinhavam, assistiam a filmes e tentavam manter a FO

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“TUDO LÁ NO TOPO ESTÁ, POUCO A POUCO, TENTANDO TE MATAR”

cabeça fria enquanto o mau tempo só atrasava seus planos e complicava a vida.

A combinação de altitude, calor e os gases do vulcão faz com que o Ambrym tenha um clima singular: “Tivemos no máximo cinco dias bons durante a estadia lá em cima. É como viver dentro de uma nuvem”, relata Ambrose sobre o seu ambiente de trabalho. Mackley explica: “Enquanto reina o maior sol no Pacífico, poderá estar caindo o mundo em cima da montanha. Se houvesse melhores condições climáticas, poderíamos ter ido embora em uma semana”.

O

mau tempo transfor‑mou uma experiência

desgastante em uma aventura caríssima – cerca de US$ 70 mil, estima Mackley. O plano inicial era passar mais de 20 dias na montanha. Em vez disso, tiveram que ficar 38. Isso implicou mais dinheiro para suprimentos, helicóptero e guia nativo do vilarejo de Ranvetlam.

“Poderíamos ter pego um helicóptero que nos levasse até o topo do vulcão sem pagar mais ninguém, mas isso teria sido uma estupidez, já que você está em uma ilha isolada, cercada por pessoas com armas de fogo e facões”, diz Mackley.

“É preciso ficar amigo de uma comu‑ nidade e ter guias daquele lugar com você. Na verdade, eles não estão ali para orientar. Estão ali para sua segurança.”

Anteriormente, Mackley teve contato com a aldeia de Lalinda, situada do lado oposto do vulcão Ranvetlam. A relação azedou depois que os camponeses escon‑deram a maior parte do seu equipamento exigindo em troca uma grande soma em dinheiro. Nessa viagem, um camponês de Lalinda encostou no piloto de Mackley e ameaçou derrubar o helicóptero a tiros se ele sobrevoasse a aldeia.

Mesmo assim, a maior ameaça no Ambrym não são os hostis habitantes locais, mas o próprio vulcão. “Tudo lá em cima está aos poucos tentando te matar”, diz Mackley. Algumas noites a equipe foi obrigada a colocar máscaras de gás para dormir, porque o vento soprava uma terrível combinação de gases tóxicos sobre a região do acampamento.

Outras vezes, o vulcão arrotava sulfeto de hidrogênio e dióxido de enxofre mistu‑rados à água da chuva, formando pingos ácidos fortes o suficiente para queimar a pele. Os locais chamam o Marum de

Gás pesado (no topo): “Na maior parte do tempo a nuvem saía do acampamento”, diz Ambrose, “mas dessa vez o Nathan foi surpreendido do lado de fora sem a máscara”. Caminho da descida (abaixo): “O lago de lava visto do topo da cratera do Marum em uma das poucas noites com boa visibilidade”

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“Porta do Inferno”. Mackley concorda com essas impressões sobrenaturais: “Com certeza há momentos em que você pensa: ‘Eu não deveria estar aqui’.”

O clima severo e a baixa visibilidade impossibilitaram, na maior parte do tempo, as filmagens e a escalada. Quando o clima melhorou, a equipe preparou os cabos e grampos para a descida, planejando um caminho que permitisse a Mackley, Ambrose e ao equipamento de filmagem chegar até o fundo do penhasco de 400 metros.

Mackley desceu antes, em um cabo de 200 metros – metade da altura do pre-cipício –, fincando grampos nas rochas em intervalos regulares. Quando seu cabo terminou ele tinha encontrado uma sali-ência de 10 metros na rocha, dando-lhe espaço e tempo para conseguir realizar a segunda metade da descida. Enquanto isso, Ambrose desceu outros 200 metros alcançando alguns aparatos da câmera. Mas antes que eles pudessem descer de rapel a segunda corda, o tempo virou e choveu todos os dias por quase duas semanas, confinando a equipe dentro de suas cabanas ou a trabalhos ocasionais perto do acampamento.

Foi no dia 10 de agosto, quadragésimo quinto dia da expedição, que Mackley teve a oportunidade de descobrir o que havia no final da segunda corda. Após uma descida de duas horas, ele conseguiu chegar ao fundo da cratera correndo 50 metros a partir da base do precipício até uma saliência apenas 30 metros acima da lava pulsante. Vestindo apenas camiseta e calça cargo, ficou cinco ou seis segundos até que o calor intenso o forçou a se afastar. “Eu não esperava chegar até o fundo naquele dia”, ele disse. “Mas, após

15 anos tentando, eu jamais teria deixado de ir até o fim depois de ter encontrado uma forma de chegar até lá.”

No dia seguinte, os deuses do tempo sorriram para Mackley que, com um traje contra o calor e um cilindro de oxigênio, permaneceu bem perto da lava por 45 mi-nutos, olhando a deslumbrante claridade laranja e vermelha de pedra derretida.

(As imagens espetaculares registradas por Mackley e sua equipe foram vistas mais de 2 milhões de vezes em poucos dias após sua divulgação na internet. Desde seu regresso, Mackley vem sendo as sediado pela BBC e canais de TV da Coreia do Sul e do Japão, pedindo para ele repetir a ação com eles em Ambrym).

“Eu estava completamente louco naquela hora”, disse Mackley sobre sua experiência de 45 minutos, um sonho que durou 15 anos. “Quando cheguei ao fundo, tinha tanto calor, estava tão desidratado e exausto que mal conseguia pensar em alguma coisa. E o barulho é como o som de um mar em fúria, só dez vezes mais alto! Fiquei lá até começar a sentir que faltava suprimento de ar. Eu não queria voltar, o espetáculo era mara-vilhoso. O maior espetáculo da Terra.”www.geoffmackley.com

ILHA DE AMBRYM

COOK ISLANDS

SAMOAVulcão Marum

Planície cinzenta

10 km

10 milhas

Na linha (esquerda): “Nathan a cinco metros do cume”, diz Ambrose. “O brilho laranja é o lago de lava 400 metros abaixo”. Contrapeso (direita): “Geoff, Rui e Nathan preparam uma bolsa de areia para segurar o rappel no topo da cratera. A planície era cinza e estéril, não tinha onde amarrar os fios”

“HÁ MOMENTOS EM QUE VOCÊ PENSA:‘EU NÃO DEVERIA ESTAR AQUI’”

Ambrym é uma ilha vulcânica do arquipélago de Vanuatu, anteriormente conhecido como Novas Hébridas

Ilhas Vanuatu

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HISTÓRIA

Quer a caricatura do funcionário de um museu? À moda antiga: um homem pálido e uniformizado que fala baixinho e é responsável por uma assustadora coleção de fósseis sobre a qual passa um espanador. Hoje: um jovem vestido de preto, usando fones no ouvido e servindo água mineral com gás a um milionário durante uma animada festa cheia de luzes.

Museus já foram, um dia, vastos e imponentes depósitos do conhecimento de suas cidades, possuindo uma arquitetura condizente a seu papel. A majestosa fachada clássica do Museu Britânico foi conce-bida como uma irrefutável declaração de Londres enquanto guardiã, ou mesmo até ladra, da cultura material do mundo. O museu de História Natural de Londres foi construído em estilo gótico, mesmo estilo das prefeituras britânicas do século XIX. A intenção era sugerir valores dife-rentes daqueles de então. Foi no Museu de História Natural de Londres que os primeiros dinossauros foram exibidos e classificados: talvez se sentissem mais em casa num modelo arquitetônico que sugere o primi-tivo do que num ambiente refinado. Certo é que, qualquer que seja o seu lugar e o que exibe, o museu revela o orgulho, as ambições, as cren-ças e preocupações, bem como as ansiedades e dúvidas da civilização que o ergueu. Porém tão grandiosos como os museus municipais, expli-cando ciência e arte, as modernas lojas dos centros comerciais foram expondo da mesma forma seus produtos industriais, colocando-os à venda. Observadores fizeram essa conexão, que veio seguida por uma série de metáforas: o romancista Émile Zola declarou o Le Bon Marché de Paris a “cathedrale de la commerce moderne” (catedral do comércio moderno). Seu contemporâneo, Julien Guadet, foi além, chamando-o de “musée de marchandise” (museu de mercadoria).

Os EUA acrescentaram ao conceito de museu uma dimensão que vai ainda além do comercial. Em Nova York, a Frick Collection foi o resul-tado do encontro entre o novo dinheiro dos norte-americanos e a velha mobília francesa. O Museu de Arte Moderna foi fundado em 1929 não por devassos radicais, mas pelos Rockefellers. O MoMA fez arte como forma de um investimento seguro. Por fim, na Paris dos anos 1970, o Centre Pompidou demonstrou como uma arquitetura arrojada pode transformar um museu em troféu urbano.

Apenas culturas bem estabelecidas, cidades ou indivíduos erguem museus. Hoje, uma nova geração de museus internacionais representa os limites das possibilidades arquitetônicas. Para um arquiteto, um mu-seu é uma missão almejada: a oportunidade de projetar a construção definitiva, livre das realidades diárias no sentido mais amplo. Um museu é um símbolo de riqueza, status, cultura, confiança, virilidade e estilo.

Localizado na Rua Bowery, é o primeiro museu de arte contemporânea de Nova York desde o influente MoMA. Mas, enquanto o MoMA institucionalizou as obras prediletas da arte internacional, o MOCA deci-diu cumprir um papel mais subversivo. Até mesmo os arquitetos que projetaram o museu eram desconheci-dos nos EUA naquela época. SANAA é um acrônimo de Kazuyo Sejima e Ryue Nishizawa, que se juntaram a Shigeru Ban (do museu nômade de contêineres) e ao falecido Kenzo Tange (do museu de arte de Yokohama), formando uma sensacional equipe japonesa de projetistas. O MOCA foi erguido no local de um antigo estacionamento. É composto de caixas dispostas sobre um eixo deslocado dando um efeito de escada, como para explicar que com o MOCA não se trata de uma instituição hierarquizada. Aqui está representado um paradoxo: o MOCA se interessa por uma arte insubstancial e digital, mas ganhou um prédio com uma enfática presença arquitetônica. Ao mesmo tempo é uma negação e um despiste para os vídeos e shows de luzes em exibição no lugar.

Ainda que o SANAA tenha anteriormente projetado a loja da Christian Dior em Tóquio, o MOCA fez a reputação internacional do coletivo: em seguida construíram o Rolex Learning Centre em Lausanne (2010) e o pavilhão desmontável da Galeria Serpentine, em Londres (2009). Uma carac-terística que define a vida moderna é que o comércio e a cultura já não são mais distintos entre si: de fato, experimentar grifes e visitar museus é a mesma coisa. Arte e luxo tornaram-se um só.

NOVO MUSEU DE ARTE CONTEMPORÂNEA Nova York, EUAArquiteto: SANAA. Ano de inauguração: 2007

DEZ MARAVILHOSOS MUSEUS MOLDAM NOSSO PASSADO, PRESENTE E FUTURO POR STEPHEN BAYLEY

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O estilo de caixas deslocadas feito por

SANAA no MOCA, de Nova York, propor-ciona uma variedade de espaços internos

abertos, fluidos, semcolunas e repletos de

luz com diferentes alturas em cada nível

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A Coop Himmelb(l)au foi criada pelos jovens arquitetos Wolf Prix, Helmut Swiczinsky e Michael Holzer em Viena, Áustria, em 1968. Foi um ano que viu rebeliões estudantis idealistas em toda a Europa. O nome é a junção de Coop, que remete a cooperativismo (hoje tam-bém chamado de coletivo), com Himmelb(l)au, que pode significar céu azul ou arquitetura celestial. Ou ambos.

Em 1968, enquanto estudantes france-ses atiravam pedras contra gendarmes, a BMW se ocupava em consolidar a reputa-ção conquistada com os carros “Neue Klasse” de 1961. Com sua linhagem clean e o legado da escola de design Bauhaus, os carros BMW se transformaram em símbolos do avanço econômico alemão, amplamente aprovados e bem conceitua-dos nos mercados ao redor do mundo.

Tanto foi assim que no século XXI a BMW não é mais apenas uma fabricante de motores bávara, mas uma produtora de artigos de luxo universalmente conhe-cidos pela sua reputação no design único, na dirigibilidade e tecnologia avançada de seus carros. Assim, quando a BMW decidiu criar um templo para a sua cole-ção de valores próximo do Olympiapark Munique, a orientação foi ao mesmo tempo complexa e sutil.

É assim que um mundo projetado pela BMW funciona? A fabricante de carros alemã criou uma experiência de grife única sob um teto enorme de 16.500 m², que dobra de área com o gerador solar, provendo energia para todo o prédio

Os conceitos da Bauhaus de claridade e funcionalismo, tão bem representados por exemplo num BMW 2002 modelo 1968, começam a ser reconsiderados. Realmente, a série 2003-5 apresentou uma nova linguagem no design que era expressiva, orgânica e quase perversa.

A Coop Himmelb(l)au, que conquistou sua reputação na arquitetura desconstru-tivista exposta no Museu de Arte Moder-na de Nova York em 1988, era capaz de interpretar essa orientação. O BMW Welt de 1968 teria sido um barracão cheio de detalhes. Em 2007 se converteu numa vasta e complexa estrutura cujos espaços variavam em significação. Tecnologia e qualidade permanecem, enquanto que a assertividade e a complexidade foram acrescentadas ao mix de valores.

BMW WELTMunique, AlemanhaCoop Himmelb(l)au, 2007

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Dizem que os anos 1980 foram considerados a “década do design”. O Museu do Design de Londres foi inaugurado em agosto de 1989 tornando-se, tecnicamente, o primeiro. O Museu Vitra Design abriu suas portas mais tarde naquele mesmo ano.

Mas enquanto o Museu de Design de Londres tinha um único prédio na margem do Tâmisa e se concentra-va em um programa didático, o Museu Vitra era um envolvente projeto comercial.

Vitra é uma fábrica de móveis da Basileia. Quando adquiriu uma licença para produzir as famosas cadei-ras de Charles Eames, bombou. E um desastroso incên-dio na fábrica em 1981 deu a Rolf Fehlbaum a oportu-nidade para reinventar o negócio da família.

Originalmente, Frank Gehry foi incumbido de criar um museu para abrigar a coleção Fehlbaum de móveis modernistas clássicos. Mas Fehlbaum logo teve a ideia do Vitra como um “campus” e foi para a Alemanha, transformando a experiência em uma impressionante propaganda de sua visão.

O primeiríssimo prédio construído por Zaha Hadid foi o posto de bombeiros privado do Vitra, concluído em 1993. Outros arquitetos que criaram prédios inde-pendentes e que foram sendo agregados a um Vitra em contínua expansão incluíram Nicholas Grimshaw (1981 e 1986), Tadao Ando (1993), Álvaro Siza (1994) e Herzog & de Meuron (2010). Um círculo virtuoso de egos competitivos foi estimulado pelas ousadas e ine-gáveis encomendas de Fehlbaum.

O museu Vitra Design tornou-se ele próprio um fenômeno para o “designer”. Todavia, pacientemente, Fehlbaum confirmou o elo entre cultura e comércio, entre arte e negócio, entre lojas e galerias.

Rolf Fehlbaum, presi-dente da fabricante de móveis suíça Vitra, queria apenas um lu-gar para expor sua co-leção de mobília clás-sica modernista. No entanto, na época em que o museu Vitra De-sign foi concluído, em 1989, o conceito origi-nal evoluiu para uma escola completa que mostrava a visão de Fehlbaum. O prédio do museu está no meio de outras dez constru-ções em Weil am Rhein. O primeiro pré-dio de Frank Gehry’s na Europa tem um ex-terior geometricamen-te desconstrutivista que não é visível por dentro, com linhagem clean complementan-do diversas mostras

MUSEU VITRA DESIGNWeil am Rhein, AlemanhaVários, 1989

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A província de Auvergne, na França Central, é a maior área vulcânica da Europa. O Puy de Dôme é o seu mais alto vulcão, com 1.464 metros – erupções não acontecem há cerca de 8 mil anos.

O vazio selvagem da região e os dramáticos vestígios vulcâ-nicos são uma estarrecedora lembrança das forças inefáveis da natureza. Lá, em uma pro-priedade militar de 57 hecta-res, está Vulcania, que recebeu o nome em homenagem à forja de ferreiro do Virgílio da Eneida.

Vulcões são símbolos pode-rosos que nos fazem lembrar da mitologia. O arquiteto de Vulcania é o austríaco Hans Hollein, um dos primeiros pós-modernistas europeus.

Os pós-modernistas almejaram repor a restrição geométrica e as certezas manipulativas da moral do modernismo com um design inspirado pela irracionalida-de, tolerante com a decoração e inclinado à narrativa, muitas vezes do tipo frívolo. Os gran-des prédios de Hollein incluem o Museum für Moderne Kunst – Museu de Arte Moderna de Frankfurt (1983-1991) e a Haas-Haus (1990), um monu-mento à forma lúdica moder-nista, situado em frente ao Stephansdom, em Viena.

O Vulcania é onde a pré-história encontra o pós-moderno, onde um parque temático de um vulcão se confunde com museu de sismologia. Dentro, há um enorme simulador de vulcão (no topo); seu cone de 28 metros é tanto uma reação à paisagem (foto maior) como uma boa fonte de luz (direita). Intenção de Hans Hollein era criar uma forma de entretenimento ou dar uma lição de geologia?

VULCANIASaint Ours les Roches, FrançaHans Hollein, 2002

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Hollein recebeu o prêmio Pritzker Vulcania em 1985, mas sua sociedade mais signi-ficativa foi com o Memphis, um grupo de arquitetos e designers que se reuniu em torno de Ettore Sottsass em Milão, no ano de 1981.

Arquitetar Vulcania, com seu conceito grandioso de conectar pré-história e sugerir acesso ao Centro da Terra, foi um grande desafio. O museu está enterrado numa “cratera” no subsolo vulcânico: a única estrutura visível é um cone de 28 metros cuja forma sugere um vulcão, mas que a função é canalizar luz para o prédio. A paisagem de Auvernais tor-na a arquitetura pequena, mas Hollein reagiu a isso criando um museu subterrâneo.

O arquiteto genovês Renzo Piano é talvez o mais notável projetista de museus da atualidade. Seu portfólio de realizações radicalmente diferentes inclui o Centre Pompidou, de Paris; o Broad Contemporary Art Museum, em Los Angeles; o The Menil Collection, de Houston e o Parco della Musica, de Roma.

A nova extensão realizada por Piano em Chicago transformou o The Art Institute no segundo maior museu dos EUA. O jornalista A.J. Liebling caracteriza Chicago sobretudo nessa sua qualidade do espaço ampliado: seu grande monumento.

O Modern Wing abriga em sua coleção fotografias, arquitetura e design. Um enorme guarda-sol está equipado com lâminas fotossensíveis controladas por computador que monitoram e adap-tam a luz ambiente. O objetivo é obter condições ideais para a contemplação das obras assim como prover um consumo

equilibrado de energia. Apesar dessas difíceis demandas, o Modern Wing atende aos exigentes padrões do código de energia de Chicago.

A ingenuidade de Piano como designer não compromete sua modéstia essencial, revelada pelo singelo nome “oficina de construção de Renzo Piano”. Ele mesmo afirmou: “Não é suficiente que a luz seja perfeita. Você também precisa de calma, serenidade e até de uma certa volúpia”.

Essas características estão presentes nessa edificação. Chicago foi o lugar onde surgiram os primeiros arranha-céus, mas o Instituto de Arte de Piano é puramente horizontal: os diversos elementos estão interligados e em sintonia com os arredo-res por uma arrebatadora e elegante ponte para pedestres. Alguns elementos revelam um design conservador embora perfeitamente apropriado para uma impo-nente e magnífica instituição. Truques de bravura ficariam deslocados ali.

O mais famoso arquiteto da “Windy City” foi Frank Lloyd Wright, que certa vez afirmou: “Penso que algum dia Chicago será a mais linda grande cidade que restará no mundo”. Você mesmo pode julgá-lo, indo conferir na South Michigan Avenue número 111.

Os espaços elegantes do Modern Wing, no Instituto de Arte Moderna de Chicago, aumentam o tamanho do museu em um terço. Renzo Piano projetou a construção (no topo) de tal forma que a cobertura com lâminas de alumínio possa desviar as fortes luzes do sul, enquanto a luz do norte é filtrada na direção das galerias do terceiro andar, que tem vista para o Millennium Park (esquerda)

INSTITUTO DE ARTE DE CHICAGO MODERN WINGChicago, EUARenzo Piano, 2009

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O arquiteto e engenheiro valenciano Santiago Calatrava é o Ferran Adrià dos projetos arquitetônicos. Enquanto que o chef catalão representou uma nova Espa­nha na criatividade culinária, Calatrava ampliou as possibilidades da arquitetura.

A arte culinária dominada por Adrià leva a composição química dos alimentos e a compreensão do freguês aos seus limites. A arquitetura de Calatrava faz o mesmo com suas estruturas de pontes e prédios, mesclando as definições que separam escultura da arquitetura.

A tese de Ph.D. de Calatrava de 1980 recebeu o título de A Dobrabilidade das Armações. Desde então, uma abordagem

altamente original de espaço e estrutura tem caracterizado seu estilo. Tendo rece­bido o reconhecimento na Seville Expo de 1992, sua Puente del Alamillo é estaiada por cabos de sustentação paralelos. É uma forma dramática que tem o seu efeito tanto de dia como à noite.

A Cidade da Ciência e das Artes é um símbolo da revitalização de Valência como uma das grandes cidades da Euro­pa. Ele é composto de seis elementos: o L’Hemisteric (um planetário e cinema); Museu das Ciências (um museu interati­vo); L’Umbracle (um corredor de pedes­tres); Palau des Arts Reina Sofia (artes performáticas); El Puente de l’Assut d’Or

(uma ponte); e a L’Agora (uma praça de esportes). Cada um é essencialmente mais popular do que acadêmico e cada componente foi projetado por Calatrava e seu parceiro, Félix Candela, como um exercício de bravura na composição de formas expressionistas.

Concluído em sua maior parte em 2005, esse vasto e dispendioso projeto recebeu várias críticas. Políticos de opo­sição o chamaram de “obra faraônica”, o público em geral tem opiniões abertas à interpretação, e os críticos por fim não se decidem se Calatrava é um gênio ou se não passa de um charlatão. Obviamente é um pouco das duas coisas.

CIDADE DAS CIÊNCIAS E DAS ARTES Valência, EspanhaSantiago Calatrava, 1998

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A Cidade das Ciências e das Artes, de Santiago Calatrava é um inspirador com-plexo de educação e entretenimento. Feito em sua maior parte de vidro lamina-do e cercado de água, suas seis estruturas incluem um planetá-rio cuja forma lembra um olho, um cinema em formato de domo com projeção IMAX (esquerda) e o gran-dioso museu de ciên-cia Príncipe Felipe (acima)

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Zaha Hadid gozou por muitos anos, se este é o termo mais correto, da reputação de ser a maior arquiteta internacional que jamais construíra alguma coisa.

Seus exigentes, contestados, ilógicos, energéticos e às vezes até desconcertantes projetos encantavam os críticos, alarman-do por outro lado os árbitros de concursos e afastando os clientes. Atualmente ela é uma das mais solicitadas arquitetas do mundo, projetando atraentes instituições geralmente tão difíceis de construir como fáceis de apreciar. O museu romano MAXXI – Museo Nazionale delle Arti del XXI Secolo – é um bom exemplo disso: tão magnífico quanto absurdo.

Hadid fez colaborações com arquitetos que incluíam a Coop Himmelb(l)au e Frank Gehry, cuja fama foi alcançada com a exibição de desconstrutivismo do MoMA em 1988. “O sonho da forma pura tinha sido perturbado”, notaram os autores do catálogo. De fato, tinha mesmo. O desconstrutivismo desmante-lou e recolocou as partes componentes de um prédio em um estilo que era tão deslumbrante quanto impraticável.

MAXXI era duplamente absurdo nesse aspecto quando abriu as portas em 2010. Era um museu para obras que ainda nem existiam – só depois de seis meses é que foram instaladas as primeiras obras.

Hadid não teme as críticas. O primeiro museu de arte moderna de Roma estava, essencialmente, vazio, mas segundo a sua arquiteta ele é “um espaço urbano imersi-vo para a troca de ideias”. Sua arquitetura reflete este diálogo: o interior não difere do exterior; painéis móveis redefinem os espaços interiores; um teto de vidro rompe as expectativas convencionais.

As contas do MAXXI caíram sob o escrutínio do governo italiano, mas isso se deve mais pela sua localização fora da cidade do que pela sua credibilidade como espaço cultural. O MAXXI é um museu que funciona como um laboratório de pesquisa de design, arte, arquitetura e publicidade. Desde os anos 1970, a arqui-tetura de alguns museus novos tem sido mais acertada do que o que ela contém.Isto dificilmente é o caso do MAXXI. Como disse Hadid, o museu do século XXI “não é mais apenas um museu”.

O museu do Louvre foi o primeiro grande museu nacional, uma declaração do propósito magnífico da França, de seu inigualável prestígio e elevado refinamento.

A maioria de nós concorda que o Louvre é o maior museu do mundo. Logo que foi anunciada a abertura de um Louvre em Abu Dhabi depois de um acordo comercial e diplomático entre França e aquela cidade, houve críticas condenando tal iniciativa um avil-tamento. Para os críticos trata-se de um exercício de franquia tão cínico e arrogante quanto o do costureiro Pierre Cardin, que decidiu colocar sua assinatura numa linha de frigideiras.

Jean Nouvel, junto com o engenheiro de arquitetura britânico Buro Happold, planejou o Louvre de Abu Dhabi na Ilha Saadiyat. Em 2014, ele terá a companhia de outro museu que abrirá sua franquia no local: um braço extensivo do Guggenheim, que está sendo projetado por Frank Gehry. Para completar a lista e fazendo concorrência visual ao museu de Sheikh Zayed de Norman Foster, um campo de golfe de Gary Player será agregado ao conjunto arquitetônico da ilha.

A proposta de Nouvel é de uma “estrutura de domo flutuante”, já que domos são uma tradicional característica da arquitetura do Oriente Médio e, além disso, uma forma de dar prestígio a proje-tos nos quais falta esse influência (o London’s Millennium Dome é, de fato, muito mais parecido com uma barraca). É bem prová-vel que, no futuro, essa pequena parte do Golfo Pérsico venha a ter mais influência do que a própria França. O Louvre de Abu Dhabi receberá uma variedade de obras emprestadas do Louvre, do museu de Versalhes, do Centre Pompidou e do Museu d’Orsay. Entretanto houve na França uma petição contra a “venda do Louvre”. Segundo o diretor, seria irresponsável ignorar a “internacionalização” dos museus. No atual mercado global, um Louvre itinerante é uma boa propaganda para a França.

Abaixo: uma imagem gerada por computa-dor mostra a forma de domo do Louvre Abu Dhabi, nos Emirados Árabes. No topo: O distrito cultural da Ilha Saadiyat, onde ficará o museu. Ele será construído perto do Museu Nacional Sheikh Zayed, projetado pelo inglês Norman Foster

MAXXIRoma, ItáliaZaha Hadid, 2010LOUVRE

Abu Dhabi, Emirados Árabes UnidosJean Nouvel, 2013

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Não existe lugar como Roma: os corredores de concreto sinuosos do MAXXI projetados por Zaha Hadid ofere-cem aos visitantes surpresas estruturais em cada uma de suas esquinas, como se a arquitetura em si fos-se a arte a ser aprecia-da. Mesmo após os primeiros seis meses da sua abertura ofi-cial, a arquiteta reitera o seu conceito de que nada devesse ser ex-posto naquele espaço. “Não é um contêiner de objetos, mas um local de estudos de arte”, diz Hadid

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Saindo do Shopping Nacional de Washington, você dá de cara com um Boeing B-17 Flying Fortress. Só quem é muito distraído não fica pasmo diante deste cenário. O Museu do Ar e Espaço é o maior museu aeroespacial do mundo.

Ele faz parte da Instituição Smithsonian, conside-rada a guardiã do espólio norte-americano. O Museu do Ar e Espaço representa uma grande conquista: acabou com a subjugação tecnológica espacial e dos ares ao se tornar um dos mais visitados museus do mundo. Sem ser um hangar glorificado, o seu prestí-gio é enfatizado por seu vizinho, o jardim Hirshhorn Sculpture. De alguma forma, quando se vê, no 1903

Wright Flyer, um Supermarine Spitfire, um ‘Folgore’ C.202 Macchi e uma Mb109 Messerschmitt expostos no seu imenso espaço com a silhueta contra o céu, esculturas artísticas perdem força persuasiva tanto em drama visual como em inventividade formal.

Hellmuth, Obata e Kassabaum, agora HOK, é um dos mais importantes escritórios de arquitetura dos EUA. Para esse museu, a orientação era criar “um mecanismo gigante para orientar eficientemente uma multidão”. O Museu do Ar e Espaço é, enfim, um galpão espaçoso cujo acabamento é de altíssima qualidade. Apesar do tamanho e da escala das exibi-ções não se vivencia a sensação de superlotação, mas, ao contrário disso, uma experiência intimista. Um bombardeiro como Martin Marauder pode ter sido concebido para ser uma arma letal, mas a tecnologia em si é moralmente neutra. Lá você deixa isso de lado para apreciar máquinas que são construções ex-traordinárias e, ao mesmo tempo, objetos de beleza.

O Museu do Ar e Espa-ço, em Washington, é o mais popular da lista do Red Bulletin, com quase nove milhões de visitantes por ano. Exibições menores são recebidas no conjunto de cubos em mármore (acima à esquerda), enquanto os átrios em forma de hangar são espaços para exposições maiores, tais como de aviões de guerra antigos (acima) e mísseis (esquerda)

MUSEU DO AR E ESPAÇO Washington, EUAHellmuth, Obata e Kassabaum, 1976

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O MAC Niterói, criado para abrigar a Coleção João Sattamini, comporta o segundo maior acervo de arte con-temporânea do país. O grande arqui-teto do século XX, Oscar Niemeyer, depositou cuidadosamente sua ‘taça futurista’ numa área de 2.500 m².

Projetado pelo arquiteto falecido aos 104 anos em dezembro de 2012, o Museu de Arte Contemporânea de Niterói chama a atenção pelo design que lhe rendeu, entre os cariocas, o apelido de “disco voador”. Impossível não notar o formato arrojado de sua arquitetura circular, mesmo a quilô-metros de distância, como a partir de Icaraí, a mais movimentada praia da cidade vizinha ao Rio de Janeiro.

O museu é o prédio mais famoso do “caminho Niemeyer”, que inclui diversas obras de intervenção urbana do arquiteto, todas situadas na orla da cidade. Ali no Mirante da Boa Viagem, o MAC Niterói oferece uma das mais privilegiadas vistas da Baía de Guanabara e reflete, por si só e por sua coleção, os caminhos da arte contemporânea brasileira, com mais de 1.200 peças de nomes consagrados como Cildo Meireles, Carlos Vergara, Hélio Oiticica e Tunga. O prédio em forma de taça é uma das obras funda-mentais de Niemeyer – uma visita obrigatória se você passar pelo Rio.

A construção levou cinco anos e constitui hoje um símbolo da arquite-tura contemporânea brasileira. Sua estrutura em forma de cálice está subdividida em quatro pavimentos; a fachada de vidro dá um toque espe-cial à composição, com a vantagem de oferecer uma visão tanto sobre as obras expostas como de uma vista panorâmica sem igual.

MUSEU DE ARTE CONTEMPORÂNEA DE NITERÓI Niterói, BrasilOscar Niemeyer, 1996

Uma sinuosa entrada para o “disco voador” carioca nos convida para uma experiência única. Entre uma vista panorâ-mica sobre a Baía de Guanabara e as obras do segundo maior acervo de arte contemporânea do Brasil, Niemeyer visua-lizou um visitante que aprecia artesem deixar de aproveitar dos belos contornos naturais da costa fluminenseFO

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Mais que uma moto: o campeão americano de motocross Ryan Dungey mostra seus equipamentos na página 88

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Índice

86 MALAS PRONTAS

O mergulho nos destroços de um

navio centenário na Austrália

88 MEU EQUIPOO material

de motocross indispensável de

Ryan Dungey

90 EM FORMAComo o campeão de squash Karim

Darwish treina fora da temporada

92 VIDA NOTURNA

Qualquer coisa que te leve

para balada

96 NA AGENDA

97 KAINRATH

98 MENTE LIGADAA coluna de

Stephen Bayley

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O navio naufragou em 1911, sendo identificado somente 47 anos mais tarde por mergulhadores

Encantos submarinosBasta falar do SS Yongala na presença de qualquer mergulhador para perceber como seus olhos brilham. Os destroços do navio adquiriram status de lenda entre os mergulhadores por um bom motivo: o antigo e imponente casco de 110 metros de comprimento do navio a vapor está em grande parte intacto e o coral que se desenvolveu nos destroços atrai uma incrível diversidade de vida marinha. Repousando 33 metros abaixo da super fície em um banco de areia, o Yongala não é uma área de mergulho difícil quando o tempo está bom. Assim, até os novatos podem aproveitar a chance de fazer um grande mergulho submarino.

Última viagemO Yongala recebeu seu nome em home­nagem a uma cidadezinha na Austrália setentrional que significa “água boa” na linguagem dos aborígines Ngadjuri da região. O navio transportava cargas e pas­sageiros das minas da Austrália Ocidental para os portos do leste de Sydney, Mel­bourne e Cairns entre 19 de abril de 1903 e 23 de março de 1911. Em sua 99ª via­gem, de Brisbane a Townsville, o Yongala foi atingido por um ciclone e afundou com seus 122 tripulantes sem deixar vestígios. Os destroços foram descobertos em 1947 por trabalhadores de um navio da Marinha, mas não foram formalmente identificados até 1958, quando dois mer­gulhadores locais resgataram um cofre dos escombros. Empresas de mergulho deram início às expedições na década de 1980. Hoje o antigo SS Yongala é atração de até 6 mil mergulhadores a cada ano.

Assassinato misteriosoEm outubro de 2003, o Yongala virou manchete: Tina Watson, uma americana em lua de mel, morreu enquanto mergu­lhava nos destroços com seu marido, Gabe. Ele era um experiente mergulhador de salvamento; ela era inexperiente. Gabe foi acusado de assassiná­la e acabou se

Impacto profundoTOWNSVILLE, AUSTRÁLIA. O encontro do homem com a natureza acontece lá onde jaz o SS Yongala, que naufra­gou na costa australiana há mais de 100 anos e é hoje um dos melhores lugares do mun­do para quem quer mergulhar

O SS Yongala está a uns 30 metros de profundidade e é hoje um paraíso para mergulhadores

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O cenárioOs destroços do Yongala se encontram a 80 quilômetros a sudeste de Townsville, no parque marinho Great Barrier Reef. Eles estão distantes das outras bancadas de coral, tornando­se assim um paraíso exclusivo de vida marinha local. No Yongala o mergulho é de não­penetração: entrar ou tocar os destroços é proibido.

MALASPRONTAS

VIAGENS E AVENTURAS

ESPETACULARES

M A I S C O R P O & M E N T E

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Para os amantes de praia, a costa australiana oferece

opções perfeitas para relaxar

A vasta biodiversidade da Great Barrier Reef

O ponto de partida, em Townsville

declarando culpado em um tribunal australiano, embora o processo criminal no Alabama tenha sido arquivado por falta de provas. “O que faz o Yongala ser tão especial é a quantidade e a dimensão da vida marinha no casco”, diz Heather Batrick, do Yongala Dive. Tudo que existe lá é gigante: arraia-mármore gigante, tartarugas gigantes... Também tem tuba-rõestigre, peixes-espada, barracudas e, se der sorte, tubarões-baleia.

Dicas para o mergulhadorGrande parte da vida marinha no Yongala é inofensiva, mas reage se for provocada. Paul Crocombe, da Adrenalin Dive, conta que um mergulhador sueco quase virou comida de peixe. “Ele tinha começado a fazer palhaçada com uma garoupa de 1,4 metro de comprimento e ela que já estava um pouco agressiva com os mergu-lhadores”, diz Crocombe. “Quando eles começaram a subir, o peixe abocanhou o mergulhador pela cabeça dando uma chacoalhada que o deixou desnorteado.”

Ciclone centralUm ciclone foi responsável pelo naufrágio do Yongala em 1911; na temporada de tempestades, o navio ainda sofre umas pancadas. Quando o ciclone Yasi atingiu a costa de Queensland, em 2011, remo-veu toda a superfície de coral dos destro-ços. Felizmente a tempestade não assus-tou a vida marinha, e os mergulhadores puderam curtir o casco antes que o coral voltasse a cobri-lo. A Adrenalin Dive em Townsville e a Yongala Dive na aldeia de Ayr (cerca de uma hora de viagem a partir de Townsville e 30 minutos até o lugar de mergulho) organizam excursões para o Yongala. Alta temporada é de setembro a janeiro, quando a visibilidade de 10 a 15 metros cria boas condições de mergulho.

MERGULHE NA AUSTRÁLIA

Onde começarA Adrenalin Dive, em Townsville, e a Yongala Dive, na pequena cidade de Ayr (cerca de uma hora de carro partindo de Townsville), organizam regularmente grupos de passeio rumo ao Yongala. Para chegar ao navio afundado, são apenas 30 minutos navegando desde Ayr e três horas desde Townsville.Quando ir A alta temporada é de setembro a janeiro, quando o tempo é bom e a visibilidade varia entre 10 e 15 metros. De junho a setembro o clima é menos previsível, mas a visibilidade chega a ser de 20 a 25 metros, e a chance de conseguir ver baleias jubarte é maior. De volta à terraTownsville oferece também o aquário da maior barreira de corais do mundo. O Reef HQ é um tesouro cheio de informações sobre as criaturas que vivem em um dos mais diversificados ecossistemas do mundo.

www.yongaladive.com.auwww.adrenalindive.com.au

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AUSTRÁLIA

Brisbane

Townsville

Yongala

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1. Capacete Fox V4É uma das coisas mais importantes para mim. Tento conseguir roupas customiza-das para todas as partes do meu corpo. Ele é feito de fibra de carbono e é leve: 1,6 kg.

2. Botas Nike 6.0 MXComecei a usá-las em 2010. São feitas de fibra de carbono e espuma de borracha macia, previnem torções e me protegem dos detritos.

3. 2013 KTM 450 SX-F BikeMinha moto tem estrutura de aço, injeção eletrônica e 58 cavalos de potência. Pesa cerca de 103 kg. A embreagem é hidráulica, de modo que não queima tão rapidamente e se reajusta para que eu possa me concentrar na pilotagem.

4. Sistema de rádioEu não tenho um receptor de comunicação em meu capacete, mas a minha equipe pode conversar entre si.

5. Suspensão WP Link TRAXA quantidade de pressão que este amortecedor traseiro pode absorver é impressionante. Cerca de 50% a 60% da performance da moto vem de amortecer bem os impactos.

6. Limpador MotorexÉ usado para desengordurar a moto. Estamos no patamar mais elevado de nosso esporte e temos que manter tudo limpo para nossos patrocinadores ficarem felizes e para as pessoas olharem.

7. MochilaEu a carrego comigo para todas as 30 etapas dos campeonatos AMA Motocross e Supercross. Nela vai o meu iPod, os óculos

escuros e meus livros. Atualmente estou lendo Unbroken, sobre o sobrevivente da II Guerra Mundial Louis Zamperini, e a Bíblia.

8. Pit cartTemos nossas opções de pneus novos para cada corrida. Além deles, neste carrinho também estão coisas importantes, incluindo um ventilador de ar quente e uma chave de impacto. 9. Pneus DunlopEm cada nova corrida que participamos, temos um novo pneu traseiro. Seu diâmetro é de 48,26 centímetros. O dianteiro não costuma se desgastar tão rápido pois é na parte traseira que vai toda a potência que faz a moto andar.

10. Caixa de ferramentas Snap-onSão as melhores ferramentas do momento. A caixa tem cerca de 250 peças, mas as mais importantes são as chaves T de 8 mm e 10 mm, que ajustam o freio, a alavanca da embreagem e o acelerador.

11. Joelheira AsteriskÉ de carbono e feita sob medida. A joelheira é fundamental no motocross. Você vai muito rápido e estica muito a perna. Seria mais difícil pilotar sem elas porque você machucaria a parte de dentro dos joelhos.

12. Pit boardMeu mecânico Carlos e eu usamos isso para nos comuni-carmos durante a prova. Ele informa minha posição e o tempo da minha volta, o que me tranquiliza e me dá noção de como estou indo.

www.ryandungey.com

Metal pesadoAs parceiras de viagem do campeão de motocross Ryan Dungey são máquinas da mais alta qualidade. Elas não são muito de falar, mas tudo o que este jovem de 22 anos precisa durante as longas temporadas é proteção

MEU EQUIPO O ESSENCIAL

PARA VENCER

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Dungey foi o vencedor da corrida de 450 SX de Supercross,

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“Squash é minha vida”, diz Karim Darwish, de 31 anos, que manteve o pri-meiro lugar no ranking por 11 meses em 2009, o ano em que venceu o seu primeiro mundial de equipes (o segundo veio em 2011). Ele trabalha força e velocidade fora da temporada, em junho e julho, no Egito, onde mora. “Eu quero dar 120% no treino

para chegar 100% nas competições. Às vezes, quando eu acordo, dói; mas isso é sinal de evolução”, diz. Prepare-se para uma batalha diária se, assim como o dele, seu treino ficar conhecido como “champion killer”.www.psaworldtour.com

Contra a paredeKARIM DARWISH Para ser o melhor, Karim Darwish tem que ter amor e devoção pelo esporte – isso inclui superar a dor

Precisa se mexer“A parte mais importante do squash é trabalhar os pés – e isso começa com a escolha do tênis certo. Ele tem que ser extrema-mente leve, bem acolchoado e não pode escorregar. Atualmente uso o Asics Gel Blade 3. Você corre cerca de 15 km em uma partida de squash, o que faz com que seja muito importante que você aprenda a ser econômico nos movimentos. A melhor forma de fazer isso é treinando na quadra. Dê um pique do centro da quadra e volte até cada um dos quatro cantos por vez, então repita a série de quatro corridas oito vezes.”

DICAS DE TREINO

EM FORMA

TREINANDO COM OS PRÓS

SEGUNDA

9h: corrida de aquecimento de 2 km em 8 minutos, depois 15 minutos de alongamento. 9h45: treino trabalhando o pé na quadra – cerca de 50 repetições de diversos movimentos.11h30-13h: trabalho técnico, como treino de stroke.18h-19h30: partidas de treino com os companheiros de time do Egito.

TERÇA

18h-20h: treino com a equipe egípcia; alongamento; massagem de uma hora.

QUARTA 9h30: o treino “champion killer”, cerca de 40 minutos ao todo: 4 x 800m (de 2m30s-2m40s cada), então 5 x 400m (70-75s), então 6 x 200m (30s), com 1 min. de pausa entre cada corrida.12h-13h: treino técnico solo na qua-dra, como a prática de drop shots.18h-18h30: treino com a equipe nacional.

QUINTA

9h30: treino em circuito, com 4 séries em aparelhos de muscula-ção: 12-15 repetições no leg press, ombros, bíceps e tríceps; 30 levanta-mentos de peso; 40 abdominais.11h-12h30: trabalho técnico.

SEXTA Folga.

SÁBADO

9h30: corrida: 8 x 400m (68-72s cada, com 1 min. de intervalo entre elas), relaxamento e alongamento.11h30-13h: técnica e tática.13h-13h45: treino livre.18h30-20h: treino com a equipe nacional.

DOMINGO

9h-10h30: treino em circuito.11h-12h30: treino tático e técnico.18h-20h: treino com a equipe nacional.

DARWISH E SEU TREINO FORA DE TEMPORADA

O vencedor de 22 torneios de squash treina 20 horas por semana na quadra

Darwish no centro de treinamento e diagnóstico em Thalgau, na Áustria

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Seu MoMento.Além do ComUm

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FALARAM POR AÍ

“ A vida é o que acontece quando você não consegue dormir ”Fran Lebowitz, escritor americano

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AÇÃO

De noite na ruaPOPULARIDADE: Com a concorrência do calendário nas corridas diurnas, treinar à noite é cada vez mais popular nas grandes cidades.

ACERTE: As condições da madrugada podem ser ideais: sem muito calor e menos movimento nas ruas, o que até melhora a respiração.

CUIDADO: Correr de noite requer uma maior concentração devido à falta de luz. O relógio bio-lógico também tem que se ajustar para funcionar até mais tarde, o que deve ser levado em conta durante o treinamento. É recomendado usar kits de proteção e luzes de sinalização.

LANÇAMENTO

Talib Kweli foi um poeta maldito desde o princípio. Quando ele apareceu na cena com seu som de consciência social em 1995, o rapper do Brooklyn estabeleceu um forte contraste com o movimento gangsta de poesia e letras politizadas. Hoje com 37 anos, Talib é um dos mais admirados e bem-sucedidos rappers, visto como um acadêmico do rap. Ainda assim, com toda a profundidade, ele sabe muito bem como agitar o seu público. Seu novo álbum mostra isso.

The Red Bulletin: O canto que abre o álbum é como um protesto...Talib Kweli: A força por trás da prima-vera árabe me impressionou. Isto apa-rece especialmente na introdução e no final. O álbum é como o dia na vida de uma pessoa. É sobre política, relacio-namentos e o meu lugar na música. Quais são as vantagens de lançar discos com seu próprio selo? Tinha mais dinheiro [nos selos maio-res] nos anos 1990. Naqueles idos passei muito tempo no estúdio criando, enquanto agora eu também tenho que ser empre-sário. Gosto do desafio que

essa independência me traz. Kendrick Lamar, que faz uma aparição como convidado no meu novo disco, se tornou um sucesso primeiro na inter-net, sem o apoio de um grande selo.Você estudou para ser ator. Se seu disco fosse um filme, quem ia dirigir?Wes Anderson. Ele consegue ser coerente e surpreendente ao mesmo tempo. Em seus filmes sempre há per-sonagens que aparecem como figuras patéticas e depois você se vê torcendo por eles. Nós dois temos uma certa simpatia por esse tipo de herói.

“Eu gosto dos heróis patéticos”Talib Kweli O rapper cujas rimas divertiram e ao mesmo tempo educaram voltou trazendo um pouco do bom e velho hip hop

O novo disco de Talib Kweli, Prisoner of Conscious, está disponível em:www.talibkweli.com

vida noturnaQualquer coisa que te leve para balada

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Fabrik A cada final de sema-na, 3,5 mil clubbers transfor-mam uma antiga fábrica na região de Madri em uma rave gigante governada por DJs de renome internacional

“Portal para outra dimensão”

como uma balada por si só –, há peque-nos restaurantes, uma loja, lounges e camarotes. Tal grandiosidade exige um mestre de cerimônias do mesmo nível: aos sábados, DJs top de tecno e progres-sive como Umek, Steve Bug, Ben Sims, 2manydjs e Carl Cox são as atrações. Nas noites de domingo há festas à fanta-sia com temas que incluem o mundo de Tim Burton. Quando uma Alice no País das Maravilhas está na balada pesada ao lado de um Edward Mãos de Tesoura, o portal para o outro mundo se abre de verdade.

Homens seminus sopram fogo ao lado de mulheres também com pouca roupa que dançam em cálices gigantes. Raios laser fazem ondas sobre o público enquanto canhões montados no teto disparam to-neladas de gelo seco na pista de dança. O enorme sistema de som bomba os graves, que reverberam nas blusas enquanto o DJ vira o rei de mais de 3 mil súditos escravi-zados pelo ritmo. Fabrik é a realização ple-na de um superclub, verdadeiro palácio da dance music cujo show de luzes literal-mente estonteantes dá a impressão de se estar atravessando um portal para uma outra dimensão. Em 2003, Daniel Perellón abriu a balada na região metropolitana de Madri, com o propósito único de criar um local que pudesse rivalizar com as melho-res baladas do mundo. Ele conseguiu, sen-do que uma década depois ele ainda está operando com padrão internacional. Além dos três ambientes – cada qual contando

Vanilla Garden

HORA DO DRINK

INGREDIENTES 4 fatias de limão10 folhas de salsa2 colheres (chá) de açúcar de baunilha120 ml de ginger ale AngosturaGelo picado

“Este drinque tem um ingrediente, a salsa, que, em um primeiro momento, você pensaria que não cabe em um coquetel”, diz o dono do bar e mestre de coquetéis Michael Steinbacher, do Mayday Bar, no Hangar-7, em Salzburgo, na Áustria. “Entretanto, a erva combina perfeitamente com ginger ale e Angostura.” É um drinque fraco (os aperi-tivos têm 44,7% de álcool). Com um sabor acentuado no início, o Vanilla Garden desen-volve um incomparável sabor harmonizando a salsa e a baunilha.

FABRIKAvenida de la Industria 82 28970 Humanes de Madrid, Españawww.grupo-kapital.com/fabrik

COMO FAZER Misture o limão, o açúcar e nove das folhas de salsa em um copo de caipirinha. Acrescente um pouco da Angostura, o ginger ale e gelo picado. Agite até que o açúcar dissolva. Mergulhe a última folha no açúcar como enfeite.

BALADADO MÊS

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VIDA NOTURNA

EDWARD RUSCHA (*1937)Quando esses artistas americanos falam, é tudo ou nada. Adoro o Ed Ruscha, que quando fala não entrega nada.

As pessoas o questionam sobre por que ele pinta, e ele diz: “Não há nada a explicar”. Para nós, é con-fortante que não haja elemento cerebral acrescido, que esteja tudo ali; nada mais. Eu o conheci e ele é muito gente boa.

DAN FLAVIN (1933-1996)Minha mulher [Mars é casado com a diretora de cinema Sofia Coppola] me deu um “étude” de Dan Flavin, um

estudo, de aniversário. É muito inspirador para o tipo de show que estamos preparando. O bonito é que eu ouvi que os néons não viverão para sempre e que algumas cores, acho que vermelho e preto, morrem mais rápido que as outras.

DONALD JUDD (1928-1994)Ele viveu no Texas e trabalhou com marcenaria e arquitetura, e agora há manuais na internet que ensinam

como fazer suas próprias peças com seu estilo. Então você pergunta o valor do objeto: ele não fez pessoalmente, ele só fez os moldes. Essas peças de madeira podem ser incrivelmente difíceis de criar, mas qualquer um pode fazer.

Quando o quarteto parisiense Phoenix conquistou os EUA em 2009, vendendo dois milhões de cópias do seu quarto LP de art-pop, Wolfgang Amadeus Phoenix, a ban-da ficou tão surpresa quanto qualquer um. Antes de estourar, o grupo ralou por quase uma década, mesmo tendo tido um começo

promissor nos anos 90, ao lado de Daft Punk e Air. “Nós estávamos um pouco perdi-dos em nosso próprio mundo e pensando que ninguém estava ouvindo”, disse o voca-lista Thomas Mars. Ele, junto com o baixista Deck D’Arcy e os irmãos guitarristas Laurent Brancowitz e Christian Mazzalai voltam com o quinto álbum, Bankrupt!, re-petindo a fórmula vencedora. E, com a for-tuna feita, a banda inteira passou a investir em arte. “Nós curtimos artistas bem ameri-canos, como Dan Flavin e Edward Ruscha, a geração pós-beatnik cujo trabalho é ins-tintivo e fresco”, diz Mars. “Quando as pes-soas nos perguntam por que chamamos o disco Bankrupt! ('Falência!'), eu fico tenta-do dar uma resposta à la Ed Ruscha: porque é o que está aí.” Aqui, Mars conta ao Red Bulletin quais artistas pós-modernos norte-americanos servem de inspiração. www.wearephoenix.com

Phoenix. Os premiados gigantes do indie gostam de arte moderna tanto quanto suas músicas: cool, originais e provocativas

Inspiração pós-moderna

TOP 3

Eles estão crescendo: Thomas Mars (esquerda) e Deck D’Arcy, do Phoenix

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PARENTE PRÓXIMO Uma variação do coquetel de camarão, que também contém caranguejo e lagosta, é conhe­cida como “vuelve a la vida”, que significa “de volta à vida”. Isto porque esse coquetel de três frutos do mar é uma pedida especial para aqueles que que­rem tentar curar uma ressaca.

CAMARÕES!!! Bubba, o amigo de Forrest Gump, era capaz de falar para sempre sobre pratos com camarão. Ele se sentiria no paraíso no estado mexicano de Veracruz, a Meca dos amantes de frutos do mar. Tem tacos de camarão, omeletes de camarão, risoto de camarão. É possível grelhar, fritar, assar, cozinhas ou comer cru. Mas a especialidade local é um coquetel que se costuma servir em todo lugar, como um petisco para qualquer hora, em cumbucas de vidro em restaurantes ou em copos plásticos na rua.

PETISCO

México Coquetel de camarão à moda VeracruzNo lado caribenho do México tem uma comida de rua que reina sobre todas as outras

ABAIXO O ROSÉ Este não é o quitute que você está pensando, com camarão no molho rosé à base de ketchup. O que tem em Veracruz é muito mais leve e fresco: ferva os camarões e marine no alho com cebolinha, pimenta, azeite e suco de limão. Amasse os tomates, corte os abacates em cubos e pique o coentro; misture tudo com molho de pimenta para fazer uma base e depois coloque os camarões por cima.

COMO DEVE SER O coquetel de camarões, assim como você verá nos menus de restaurantes e nas placas dos palapas (as barraquinhas de

comida em Veracruz), vem com um acompanhamento crocante salgado (ou tacos ou nachos) e, para arrematar, um “toro” ou “el torito”, um drinque elaborado com leite evaporado, fruta (goia­ba, manga, qualquer frutinha que estiver à mão), água e uma dose generosa de rum branco.

Eu quero camarão: o pessoal é “muy loco por camarones” no México

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Disputar uma prova dura rodeado por um dos visuais mais bonitos do Brasil é um prazer que todo corredor deve-ria experimentar. Essa é a proposta dessa meia maratona que costuma acontecer debaixo do forte calor carioca desde 2011. São 21,6 km do Caminho do Niemeyer até o Aterro do Flamengo, passando pela Baía de Guanabara sobre a ponte mais famosa do Brasil, com vista para o Pão de

Açúcar. A disputa, que tem poucas curvas, distribuirá R$ 60 mil em prê-mios. Para se inscrever é preciso ter participado e concluído a maratona nas edições de 2011 ou 2012.www.corridadaponte.com.br

18 E 19 DE MAIO

Virada CulturalJá virou tradição entre os paulistanos transfor-mar o Centro da cidade em um festival de música e apresentações por 24 horas ininterruptas. Assim é a Virada Cultural, que está confirmada para 2013 com atrações nacionais e internacionais. Será a nona edição da festança que no ano passado contou com Gilberto Gil e Titãs e neste ano já confirmou a presença dos Racionais MCs, que se apresentarão na Praça Júlio Prestes.www.viradacultural.org

Na agendaMaio/Junho

2 DE JUNHO

Para inglês verO Brasil comandado por Felipão vai entrar na reta final da preparação para a Copa das Confederações com um teste de fogo no novíssimo Maracanã diante da seleção inglesa. Será o segundo amistoso contra a Inglaterra neste ano. No primeiro confronto, quem levou a melhor foram os britânicos – venceram por 2 a 1 no estádio de Wembley, em Londres, com gols de Rooney e Lampard. Quem balançou a rede para o Brasil foi Fred, artilheiro da nova era Felipão. No amistoso de junho, o time brasileiro terá um aperitivo de como será a pressão dos torcedores nas grandes competições que serão disputadas por aqui. Com o time ocupando o 19º lugar no ranking da Fifa, o país está ansioso para ver os resultados aparecerem.www.fifa.com

Ronaldinho está em alta na nova era Felipão

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18-21 DE MAIO

Cat PowerA cantora norte-americana abrirá a sua curta turnê brasileira com um show no Circo Voador, tradicional casa de shows no bairro da Lapa, no Rio de Janeiro. Ela passará ainda por Recife e São Paulo (no Cine Joia), nos dias 19 e 21, respectiva-mente. Na turnê do disco Sun, que foi lançado em julho do ano passado, a cantora desfere hits como “Manhattan”, o maior sucesso do disco, e encanta a plateia com sua doce melancolia.www.catpower.com

19 DE MAIO

Corrida da Ponte de Niterói

De Niterói ao Rio: muita corrida e belo visual

2 E 16 DE JUNHO

Stock CarO campeonato de Stock Car segue firme no mês de junho, quando a Red Bull Racing tentará manter a liderança na disputa entre equipes. Com duas vitórias, uma de Cacá Bueno em Inter-lagos e outra de Daniel Serra em Curitiba, o time comandado por Andreas Mattheis briga pelo topo com a Eurofarma RC, chefiada por Rosinei Campos. Entre os pilotos, Daniel Serra, Cacá Bueno, Ricardo Mauricio e Valdeno Brito brigam pela ponta. As próximas etapas, em Brasília e no Paraná, prometem colocar mais fogo na briga.stockcar.globo.com

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de inspiração ou coordenação. É claro que os tenistas profissionais querem ganhar furiosamente, mesmo tendo que respeitar as restrições de decoro estabelecidas pe-los árbitros vestidos de escarlate tão típi-cos de Wimbledon, herdeiros do código Castiglione de costumes cavalheirescos.

É por isso que os sorumbáticos astros do esporte desenvolveram uma lingua-gem verbal e não verbal, de evasivas. A cabeça abaixada e a palma levantada querem dizer: “Sim, eu sei, acabei de me portar como um canalha”. Quando resmungam “muito bom” eles querem na verdade dizer “eu te odeio”.

Mas a minha expressão predileta é “erro não-forçado”. O conceito levanta importantes questões semânticas relativas à diferença entre um erro (que é benigno) e um equívoco (que é profundamente la-mentável). As implicações são profundas: com a bola em jogo e aparentemente sob controle, um erro não-forçado acontece quando um dos jogadores, aparentemen-te sem nenhuma pressão, perde o ponto. Ele cometeu um erro sozinho. Essa ideia vem carregada de uma culpa avassalado-ra e de um vergonhoso fracasso pessoal.Quem garante que o erro não foi de fato forçado pela paciência em devolver a bola sem agressividade?

Erros não-forçados estão esperando por nós em todo lugar. Pessoas de sucesso conseguem fazer com que algo dê errado para outros; elas forçam erros não-força-dos. Talvez forcem apagões cerebrais. O termo “erro não-forçado” não é ancestral no tênis. De fato, ele não remonta à Re-nascença, mas sim a partir da década de 1980 com as primeiras análises computa-dorizadas do esporte. Não é um conceito científico, mas uma opinião subjetiva necessária para que as estatísticas funcio-nem. É enlouquecedor e contraditório, possivelmente até bonito e profundo. Bem como o esporte em si.

Andretti, o único homem a vencer cor-ridas durante cinco décadas, disse: “Se tudo parece sob controle, é porque você não está indo rápido o bastante”.

Tênis é diferente de corrida, até por-que, a não ser que se jogue sem nenhum cuidado, morrer em uma partida é impro-vável. Pelo menos morrer em um aciden-te. Com certeza pensei muito em parar com tudo após uma terrível dupla falta com uma fraca rebatida na rede. Porém, a aparente simplicidade de uma rebatida na bola sobre a rede de lá para cá engana.

Nenhum outro esporte pune o jogador com uma exposição psicológica tão cruel como o tênis. Na quadra, você é revelado em toda a sua falta de jeito, amenizada apenas ocasionalmente por um momento

C orrer é viver, qualquer coisa que acontece antes ou depois é ape-nas espera. Há discussão a res-peito de qual seria a fonte desta

maravilhosa verdade, mas a frase foi dita por Steve McQueen, no filme de 1971 As 24 Horas de Le Mans, de Lee H. Katzin, sobre a clássica prova francesa.

Houve um tempo em que pilotos, e até atores representando pilotos, se arrisca-vam na metafísica. Alguma coisa foi ga-nha agora que eles têm perfis midiáticos para cuidar em vez de distrações intelec-tuais para satisfazer, mas algo também se perdeu. Perspicácia, por exemplo.

Adoro quando o esporte origina metá-foras de validade geral. Disseram-me que, ao perguntarem sobre a razão de um fracasso catastrofal ao realizar uma curva facílima, o corpulento australiano cam-peão da Fórmula 1 Alan Jones replicou: “Fácil, amigo: apagão cerebral”. Quem nunca viveu uma situação dessas, aparen-temente banal mas tão perturbadora?

E teve aquele outro famoso piloto aus-traliano, Frank Gardner. “Que foi que deu errado, Frank?” “Jogaram bosta no venti-lador e respingou um monte em mim...” E novamente Gardner sobre um Chevrolet Camaro particularmente violento: “Saco-de os malditos botões do macacão. Deve ser por isso que inventaram o zíper.” Mes-mo se Immanuel Kant estivesse ao volan-te, não haveria melhor crítica da razão.

Ou aquele grande piloto da NASCAR (não sei se foi Junior Johnson, AJ Foyt, Richard Petty ou Parnelli Jones, mas menciono todos eles porque gosto demais dos nomes), que capotou seu Chevy a 320 km/h numa pista oval inclinada prosseguindo invertido na reta, pratica-mente na mesma velocidade com faíscas e fumaça e fogo por todo lado? Entre-vistado após a corrida e diante de uma pergunta sobre experiência, ele compara a situação a um ato de se “fazer uma solda sem camisa”. Gênio.

Portanto os riscos físicos extremos dos esportes motorizados vêm estimulando a reflexão filosófica. O campeão mundial de F1, Indy 500 e Daytona 500, Mario

Mente ligada

Esqueça o falatório dos comentaristas esportivos:

Stephen Bayley garimpa sua preciosa sabedoria nos esportes

A PRÓXIMA THE RED BULLETIN BRASIL SAIRÁ EM 12 DE JUNHO

THE RED BULLETIN Brasil é uma publicação da Red Bull Media House GmbH. Gerente Geral Wolfgang Winter Diretor Editorial Franz Renkin Editor Chefe Robert Sperl Coordenador Editorial Alexander Macheck Editor Brasil Fernando Gueiros Gerentes de Projeto Cassio Cortes, Paula Svetlic Editora Assistente Marion Wildmann Diretor de Fotografia Fritz Schuster Editores de fotografia Ellen Haas, Catherine Shaw, Rudi Übelhör Diretor de Arte Erik Turek Editores de Arte Martina de Carvalho-Hutter, Silvia Druml, Kevin Goll, Carita Najewitz, Kasimir Reimann, Esterh Straganz Apoio Editorial Ulrich Corazza, Werner Jessner, Ruth Morgan, Florian Obkircher, Arkek Piatek, Andreas Rottenschlager, Stefan Wagner,

Paul Wilson, Daniel Kudernatsch (iPad) Revisão Manrico Patta Neto Impressão Clemens Ragotzky (diretor), Karsten Lehmann, Josef Mühlbacher Gerente de Produção Michael Bergmeister Produção Wolfgang Stecher (diretor), Walter O. Sádaba, Christian Graf-Simpson (iPad) Gerência de Marketing e Gerência Nacional Barbara Kaiser (diretor), Stefan Ebner, Stefan Hötschl, Elisabeth Salcher, Lukas Scharmbacher, Sara Varming Assinaturas e Distribuição Klaus Pleninger, Peter Schiffer Marketing Julia Schweikhardt, Peter Knehtl Escritório Central Red Bull Media House GmbH, Oberst-Lepperdinger-Straße 11–15, A-5071 Salzburg, FN 297115i, Landesgericht Salzburg, ATU63611700 Anúncios Marcio Sales, (11) 3894 0207, [email protected]. The Red Bulletin é publicada simultaneamente na Áustria, Brasil, França, Alemanha, Suíça, Irlanda, Kuwait, México, Nova Zelândia, África do Sul, Grã Bretanha e Estados Unidos. Visite nosso site www.redbulletin.com.br

Stephen Bayley é um escritor premiado e antigo diretor do Museu de Design de Londres

Em excelentes

termos

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A V EZ DO BR ASIL N A COPA

DAS CONFEDER AÇÕES

NEYMAR:PRESSÃO?QUE PRESSÃO?

Da lama ao caos

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Dentro do vulcão

A AV EN T U R A

M A IS QU EN T E DA T ER R A

AÇÃO I ESPORTES I VIAJAR I ARTE I MÚSICA

UMA REVISTA ALÉM DO COMUM / JUNHO DE 2013

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ALÉM DO COMUM