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Escola Anna Nery Revista de Enfermagem ISSN: 1414-8145 [email protected] Universidade Federal do Rio de Janeiro Brasil Baena de Moraes Lopes, Maria Helena; Alves de Moura, Adriana; Raso, Sueli; Giovanelli Vedovato, Tatiana; Silva Ribeiro, Maria Andréia DIAGNÓSTICOS DE ENFERMAGEM NO PÓS-OPERATÓRIO DE MASTECTOMIA Escola Anna Nery Revista de Enfermagem, vol. 17, núm. 2, abril-junio, 2013, pp. 354-360 Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro, Brasil Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=127728367021 Como citar este artigo Número completo Mais artigos Home da revista no Redalyc Sistema de Informação Científica Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto

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Escola Anna Nery Revista de Enfermagem

ISSN: 1414-8145

[email protected]

Universidade Federal do Rio de Janeiro

Brasil

Baena de Moraes Lopes, Maria Helena; Alves de Moura, Adriana; Raso, Sueli; Giovanelli Vedovato,

Tatiana; Silva Ribeiro, Maria Andréia

DIAGNÓSTICOS DE ENFERMAGEM NO PÓS-OPERATÓRIO DE MASTECTOMIA

Escola Anna Nery Revista de Enfermagem, vol. 17, núm. 2, abril-junio, 2013, pp. 354-360

Universidade Federal do Rio de Janeiro

Rio de Janeiro, Brasil

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=127728367021

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Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal

Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto

Esc Anna Nery (impr.)2013 abr - jun; 17 (2):354-360

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Diagnóstico de enfermagem pós-mastectomiaDiagnóstico de enfermagem pós-mastectomiaDiagnóstico de enfermagem pós-mastectomiaDiagnóstico de enfermagem pós-mastectomiaDiagnóstico de enfermagem pós-mastectomia

Lopes MHBM, Moura AA, Raso S, Vedovato TG, Ribeiro MAS

DIAGNÓSTICOS DE ENFERMAGEM NO PÓS-OPERATÓRIO DEMASTECTOMIA

RESUMO

O objetivo desse estudo foi identificar os diagnósticos de enfermagem, no período pós-operatório de mastectomia, entremulheres internadas em uma Unidade de Internação em Oncologia de um hospital de ensino público do interior paulista. Tratou-sede um estudo descritivo e retrospectivo, realizado em prontuários de mulheres submetidas a mastectomia. Os dados foramcoletados por meio de um instrumento contendo: dados sociodemográficos, dados sobre a doença, diagnósticos de enfermagem,prescrição e evolução de enfermagem. Foram analisados 185 prontuários. Os cinco diagnósticos de enfermagem mais frequentesforam: Risco de Infecção (95,1%), Ansiedade (48,6%), Medo (41,6%), Dor Aguda (14,5%) e Mobilidade Física Prejudicada(11,3%). Conclui-se que diagnósticos que exigem uma abordagem psicossocial para serem identificados como Distúrbio naImagem Corporal e Angústia Espiritual foram registrados com baixa frequência, sendo mais frequentes aqueles de âmbitobiomédico.PPPPPalaalaalaalaalavrvrvrvrvras-cas-cas-cas-cas-chahahahahavvvvveeeee: Enfermagem oncológica. Diagnóstico de enfermagem. Saúde da mulher.

Abstract Resumen

The objective of this study was to identify nursing diagnosesafter mastectomy in women assisted at an oncology unit of apublic teaching hospital in the interior of the state of SãoPaulo. This descriptive and retrospective study was performedby using medical records of women submitted to mastectomy.The data were collected by using an instrument containing:social-demographic data; the disease data, nursing diagnoses,nursing prescription and evolution. One-hundred and eighty-five medical records were analyzed. The five most frequentnursing diagnoses were as follows: Infection Risk (95.1%),Anxiety (48.6%), Fear (41.6%), Acute Pain (14.5%) andImpaired Physical Mobility (11.3%). In conclusion, whilediagnoses that require a psychosocial approach to be identified,such as Body Image Disturbance and Spiritual Anguish, wereregistered with low frequency, those of biomedical scope werethe most frequent ones.

KKKKKeeeeeywywywywywororororordsdsdsdsds: Oncologic nursing. Nursing diagnosis. Women’shealth.

1 Enfermeira. Professora Associada da Faculdade de Enfermagem da Universidade de Campinas (UNICAMP) Campinas-SP. Brasil. E-mail:[email protected];2 Enfermeira. Especialista em Saúde Pública com ênfase em PSF e Pós-graduanda em Docência do Ensino Médio, Técnico eSuperior na Área da Saúde. Enfermeira da Prefeitura Municipal de Vinhedo e Prefeitura Municipal de Jundiaí. Vinhedo-SP.Brasil. E-mail:[email protected]; 3 Enfermeira. Pós-graduanda em Docência do Ensino Médio, Técnico e Superior na Área da Saúde. Campinas-SP. Brasil. E-mail: [email protected]; 4 Enfermeira. Doutoranda pela Faculdade de Enfermagem da Universidade de Campinas (UNICAMP). Bolsista CAPES.Campinas-SP. Brasil. [email protected];5 Enfermeira. Doutoranda pela Faculdade de Enfermagem da Universidade de Campinas (UNICAMP).Enfermeira Unidade Pediatria Hospital Municipal Dr. Mario Gatti. Campinas-SP. Brasil. E-mail: [email protected]

PESQUISARESEARCH - INVESTIGACIÓN

El objetivo fue identificar los diagnósticos de enfermería despuésde la mastectomía en las mujeres internadas en una Unidad deOncología en un hospital público de enseñanza en el interior delEstado de São Paulo. Fue un estudio retrospectivo, descriptivo,realizado en los registros médicos de las mujeres que se sometierona la mastectomía. Los datos fueron recolectados por medio de uninstrumento conteniendo: datos socio-demográficos, datos sobrela enfermedad, diagnósticos de enfermería, prescripción y evoluciónde enfermería. Se analizaron 185 historias clínicas. Los cincodiagnósticos de enfermería más frecuentes fueron: Riesgo deInfección (95,1%), Ansiedad (48,6%), Miedo (41,6%), Dolor Agudo(14,5%) y Movilidad Física Perjudicada (11, 3%). Se concluyó quelos diagnósticos que requieren un enfoque psicosocial paraidentificación, como Disturbio de la Imagen Corporal y AngustiaEspiritual se registraron con baja frecuencia, siendo más frecuentesaquellos del ámbito biomédico.

PPPPPalaalaalaalaalabrbrbrbrbras cas cas cas cas clalalalalavvvvve:e:e:e:e: Enfermería oncológica. Diagnóstico deenfermería. Salud de la mujer.

Nursing diagnoses after mastectomy

Diagnósticos de enfermería en el posoperatorio de mastectomía

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Maria Andréia Silva Ribeiro5

Maria Helena Baena de Moraes Lopes1 Adriana Alves de Moura2

Tatiana Giovanelli Vedovato4

Sueli Raso3

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Diagnóstico de enfermagem pós-mastectomiaDiagnóstico de enfermagem pós-mastectomiaDiagnóstico de enfermagem pós-mastectomiaDiagnóstico de enfermagem pós-mastectomiaDiagnóstico de enfermagem pós-mastectomia

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INTRODUÇÃO

MÉTODO

Atualmente, a neoplasia mamária é o segundotipo de câncer mais frequente no Brasil e o mais comumentre as mulheres, sendo mais prevalente na faixa etáriaentre 40 e 69 anos. É a maior causa de mor te por câncerentre a população feminina. Em 2012, no Brasil, foramesperados 52.680 casos novos de câncer da mama, comum risco estimado de 52 casos a cada 100 milmulheres1.

No Brasil, as taxas de mor talidade por câncer demama continuam elevadas, muito provavelmente porquea doença ainda é diagnosticada tardiamente. Napopulação mundial, a sobrevida média após cinco anosé de 61%1, o que demonstra a impor tância da doençacomo problema de saúde pública.

A mastectomia parcial ou radical modificada,dentre outros tratamentos existentes, é a mais indicadapara o câncer de mama. Esta modalidade sofreu grandesavanços nos últimos tempos devido à evolução científica,e a técnica cirúrgica de mastectomia com reconstruçãomamária imediata pode ser considerada um exemplodeste avanço2.

O período cirúrgico sempre é muito estressante,confrontando a mulher com o medo da cirurgia, mor te emutilação com a perda da mama. Este tratamento podecomprometer a mulher de maneira física, emocional esocial, e a alteração da imagem corporal tem relevânciapara a mulher com câncer de mama3.

A unidade de internação em oncologia, na qualfoi desenvolvido o presente estudo, utilizava na práticadiária de trabalho os diagnósticos de enfermagem,segundo a taxonomia da Nor th American NursingDiagnosis Association - International (NANDA-I)4. Noentanto, nenhuma avaliação com a finalidade de verificarquais eram os diagnósticos de enfermagem maisident i f icados em mulheres mastectomizadas fo irealizado.

A questão nor teadora deste estudo foi conhecerse as enfermeiras que trabalhavam nesta unidade deinternação oncológica identificavam os diagnósticos deenfermagem da esfera psicossocial e espiritual, condiçãoque, de acordo com a l i teratura3;5, as mulheresmastectomizadas ficam mais expostas.

Es te t i po de aná l i se poder i a subs id i a rfuturamente atividades de educação permanente,focalizadas em melhorar a assistência prestada, alémde contribuir para maior conhecimento sobre o tema,uma vez que publicações sobre ao assunto são escassas.

Em revisão da literatura, obser vou-se que emum estudo brasileiro6 foram identif icados algunsdiagnósticos como falta de padrão de exercícios,au tocu idado d im inu ído , bem-es tar ps i co lóg ico

prejudicado, conhecimento escolar diminuído, padrãoalimentar prejudicado e ingestão de líquido diminuídoem mulheres submetidas a mastectomia e que tambémeram par ticipantes de um Programa de Reabilitação.Os autores6, no entanto, ressaltavam que estesdiagnósticos registrados não eram exclusivos paramulheres com câncer de mama e podiam seridentificados em clientes com outras alterações desaúde.

No contexto internacional, um estudo realizadono Japão mostrou que mulheres no estágio final decâncer de mama apresentam, com frequência, dorcrônica, risco de infecção e intolerância à atividade7.Já outro estudo, realizado na Espanha, detectou osd iagnóst i cos de medo, ans iedade, dé f i c i t deautocuidado, mobilidade prejudicada, risco de baixaautoestima, enfrentamento ineficaz e complicaçõespotenciais (dor e infecção)8.

Por tanto, o objetivo do presente estudo foiverificar quais os diagnósticos de enfermagem, comênfase na esfera psicossocial e espiritual, no períodopós-operatório de mastectomia em mulheres, eramos ma is ident i f i cados pe las en fer me i r as quet r aba lhav am em uma un idade de in te r naçãooncológica.

Tratou-se de estudo descritivo e retrospectivo,cujos dados foram obtidos a par tir de prontuários demulheres submetidas a mastectomia no período de01/01/2004 a 31/12/2004, em um hospital de ensinopúblico do interior paulista.

O recor te temporal do estudo retrospectivo noano de 2004 foi escolhido porque antecedeu arealização de alguns cursos de educação permanentesobre o processo de enfermagem, organizados pelopróprio ser viço, a par tir de 2005, fato esse quepoderia interferir nos resultados deste estudo, quevisava retratar o uso rotineiro dos diagnósticos deenfermagem na unidade.

No serviço de oncologia deste hospital públicoespecializado em saúde da mulher, a divisão detrabalho para a sistematização da assistência deenfermagem (SAE) ocorre em três turnos de plantões.Há uma enfermeira por turno: no período da manhã,ela realiza a evolução de enfermagem, identifica osdiagnósticos de enfermagem e prescreve para seispacientes. No turno da tarde e da noite são setepacientes para cada enfermeira, totalizando, assim,20 pacientes que devem ser avaliadas diariamente.Cada p resc r i ção , evo lução e d iagnós t i co deenfermagem são válidos por 24 horas.

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Os critérios de inclusão para a coleta dos dadospor meio dos prontuários foram: ser do sexo feminino(a unidade atende também homens com câncer demama), ter sido submetida a mastectomia no ano de2004 e possuir os registros dos diagnósticos deenfermagem no prontuário. Nos casos em que houveduas internações para o mesmo procedimento, foramconsiderados apenas os dados da primeira internação,sendo excluídos da análise os registros de internaçãosubsequente.

Foi obtido no serviço de centro cirúrgico acessoa uma listagem contendo os registros de mastectomiano ano de 2004. A par tir desta l istagem, foramidentificados os prontuários e solicitados ao Serviço deEstatística Médica do hospital em questão.

Os dados foram coletados por meio de uminstrumento específico, contendo o período de internação;dados sociodemográficos como: estado civil, idade, tipo demoradia, renda familiar, número de filhos e religião;realização da técnica cirúrgica com reconstrução mamáriaimediata, os diagnósticos de enfermagem, a prescrição doscuidados e a evolução de enfermagem no período quesucedeu ao ato cirúrgico.

O instrumento foi pré-testado em quarentaprontuários até chegar ao seu formato final; essaamostra foi incluída na pesquisa, após readaptação doinstrumento e nova coleta.

Os dados foram inseridos em uma planilhaeletrônica do Programa Microsoft Excel® 2002(Microsoft, 1985-2001). Depois disso, foram calculadasas frequências absolutas e relativas dos diagnósticos deenfermagem.

Os diagnósticos de enfermagem foram agrupadosde acordo com os domínios da taxionomia II da NANDA,versão 2007-20084. Essa taxonomia apresenta seuconteúdo estruturado em 13 domínios, 47 classes e187 diagnósticos de enfermagem. Cada domínio écomposto por classes e cada classe, por diagnósticos4.

Foi calculada a frequência relativa e absolutados diagnósticos identificados, que eram classificadosde acordo com o domínio ao qual per tenciam. A análisedos dados foi realizada comparando-se os resultadoscom a literatura existente.

O projeto foi aprovado pela Comissão dePesquisa e pelo Comitê de Ética em Pesquisa dainstituição de origem das autoras (Parecer nº 541/2008). Foi autorizada a dispensa do Ter mo deConsentimento Livre e Esclarecido por se tratar deestudo retrospectivo, que envolveu coleta de dados emprontuários. Vale salientar que a gerência do Ser viçode Estatística Médica do hospital onde se realizou oestudo autorizou verbalmente uma das autoras arealizar consulta direta aos prontuários do ano de 2004.

A coleta foi realizada no período compreendidoentre julho e setembro de 2008. No ano de 2004ocorreram 250 registros de mastectomia e foramlocalizados todos os prontuários, sendo que, destes,65 (26%) foram excluídos: dois (1,1%) por setratarem de pacientes do sexo masculino, dez (5,4%)por serem segunda inter venção cirúrgica na mama(p. ex., mastectomia da mama contralateral oumastectomia total após quadrantectomia) e 53(21 ,2%) po r não con t e r em o r eg i s t r o dosdiagnósticos de enfermagem.

Foram analisados, por tanto, 185 prontuários,que r epresentar am 74% das inter nações pormastectomia. Cento e quarenta e o i to (80%)t i n h a m p r e s c r i ç ã o d e e n f e r m a ge m p a r a o sdiagnósticos levantados, e 157 (84,9%) continhama evolução de enfermagem realizada no período pós-operatório.

Quanto ao perfil da clientela, a faixa etária demaior frequência foi de 40 a 60 anos (45,4%); amaioria eram de mulheres casadas ou em união estável(32,4%), sendo que 57 (30,8%) dos prontuáriosnão continham este dado. Para 47,5%, a rendafamiliar situava-se entre 500 e 3.000 reais, 52,4%t inham en t re um e t r ês f i l hos , uma pa r ce l aconsiderável não possuía nenhum estudo (17,4%)ou tinha ensino fundamental incompleto (34,1%).

Das mulheres submet idas à c i r ur g ia dem a m a s n o a n o d e 2 0 0 4 , 6 , 4 % r e a l i z a r a mmastectomia bilateral e apenas 4,8% passaram pelatécn i ca c i rú r g i ca com r econs t r ução mamár iaimediata; o restante das mulheres (88,8%) realizouapenas mastectomia unilateral, sem reconstruçãomamária imediata.

Foram ident i f i cados 21 d iagnóst icos deen f er ma gem, sendo que os d i agnós t i cos deabrangênc ia b io f i s io lóg ica foram a ma ior ia eper tenciam ao Domínio Segur ança e Proteção,s e g u i d o s p e l o s d i a g n ó s t i c o s d o D o m í n i oE n f r e n t a m e n t o / To l e r â n c i a a o E s t r e s s e . O sdiagnóst icos mais frequentemente registradospe los en fe r me i r os fo r am: R i s co de I n f ecção(95,1%), Ansiedade (48,6%) e Medo (41,6%)(Tabela 1).

Os d iagnóst i cos da es fera ps icossoc ia lconstavam em 98 (53%) dos 185 prontuáriosa n a l i s a d o s , e A n s i e d a d e e M e d o f o r a m o sdiagnóst icos mais descr i tos pelos enfer meiros(Figura 1). Em 40% dos casos esses diagnósticosforam identificados concomitantemente.

RESULTADOS

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DISCUSSÃO

No presente estudo, as mulheres na faixa etáriaentre 40 e 60 anos representaram 45,4% da amostraestudada, de acordo com a literatura que mostra que a

neoplasia mamária é mais prevalente na faixa etária de 40a 69 anos1.

As enfermeiras registraram nos prontuários, commaior frequência, diagnósticos dos domínios Segurança/Proteção e Enfrentamento/Tolerância ao Estresse,destacando-se o diagnóstico Risco de Infecção. Esseresultado coincide com os achados de outros estudos que

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mostram ser este o diagnóstico mais comum em pacientessubmetidos a procedimentos cirúrgicos e/ou pacientesoncológicos7-9.

Um estudo retrospectivo, realizado a partir de dadoscoletados em prontuários de uma unidade de internação emoncologia, indicou que Risco para Infecção encontrava-seentre os cinco diagnósticos de enfermagem mais frequentes9

e considerou que 100% das pacientes que iriam sersubmetidas a cirurgia teriam esse diagnóstico. Ressalta-seque este estudo9 foi desenvolvido na mesma unidade deinternação onde foram coletados os presentes dados, mas,naquele momento, ainda não se utilizava a taxonomiaNANDA-I e os diagnósticos foram determinados a par tir dascaracterísticas definidoras ou fatores de risco registrados nohistórico de enfermagem.

A validação dos diagnósticos que envolvem respostassubjetivas é um processo árduo e tem sido objeto de estudohá algum tempo. Em um estudo sobre a validação dosdiagnósticos Ansiedade e Medo10, ressaltou-se a presençade características definidoras e fatores relacionados similarespara esses dois diagnósticos. De fato, eles compartilham 20características definidoras idênticas ou similares na versão2007-2008 da taxionomia da NANDA-I4, o que torna difícil adiferenciação entre essas reações humanas.

Assim, era esperado que, no presente estudo, osdiagnósticos da esfera psicossocial Ansiedade e Medo fossemidentificados de forma concomitante; esse fato foi comumenteobservado, uma vez que as enfermeiras os registram, namaioria das vezes, sob a forma “Ansiedade/Medo”.

O diagnóstico Confor to Alterado, sugerido porCarpenito 11, foi identificado em 6,4% dos prontuários.Ressalta-se que este diagnóstico não faz parte da taxonomiada NANDA-I, mas é comum encontrá-lo na prática deenfermagem12.

Diagnósticos como Distúrbio na Imagem Corporal,Pesar e Angústia Espiritual foram poucas vezes registradospelas enfermeiras que atuam nesta unidade de internaçãooncológica; no entanto, a ocorrência de mutilação de umapar te do corpo da mulher (mama) e o surgimento desentimentos negativos são comuns neste tipo de clientela12.

A mulher, ao receber um diagnóstico de câncer demama, vivencia vários lutos internos, de acordo com aintensidade do sofrimento13. A mastectomia costuma causarprofundos impactos psicológicos, abalando sua autoestima.Quando associada à quimioterapia, esse impacto aumentaem função dos efeitos colaterais decorrentes, especialmentea alopecia, e a mulher apresenta respostas negativasrefletidas pelo medo, depressão, angústia, tristeza, distúrbioda imagem corporal e pesar antecipado14.

A técnica de mastectomia com reconstrução mamáriaé uma modalidade cirúrgica existente que contribui em váriosaspectos na melhora os conflitos internos da mulher, bemcomo da sua qualidade de vida após a mastectomia, porém

nem todas têm a possibilidade usufrui-la2. No presenteestudo, apenas 4,8% passaram por técnica de mastectomiacom reconstrução imediata, mas apesar disso somente1,6% das mulheres receberam o diagnóstico Distúrbio naImagem Corporal.

Considerando o baixo percentual de mastectomiacom reconstrução mamária imediata e o possível impactoque isto poderia ter sobre a qualidade de vida da mulher esua autoimagem, era esperado que a frequência dodiagnóstico Distúrbio na Imagem Corporal fosse elevada,o que não ocorreu. Isso indica que, provavelmente, nãohouve identificação, por par te das enfermeiras, dascaracterísticas definidoras destes diagnósticos. Outrapossibilidade seria a qualidade da assistência prestada oucaracterísticas pessoais da população em estudo, quecontribuiriam para a baixa frequência deste diagnóstico.Esses são aspectos que requerem futuras investigações.

Assim, este resultado diverge da literatura dentreos distúrbios psicossociais apresentados pela mulhermastectomizada, pois o mais comum é o da imagemcorporal3,5,13,15.

Uma doença como o câncer de mama, que defato é debilitante e requer tratamento prolongado, podelevar a alterações no processo familiar, considerando-se que a clientela atendida é predominantementefeminina e responsável pela manutenção do lar comodonas de casa e/ou como trabalhadoras9. Além disso, amastectomia leva a restrição de algumas atividadesdomésticas e cuidados pessoais como erguer pesos,ser viços de jardinagem, depilação axilar, cor tar asunhas, l idar com objetos cor tantes como facas,tesouras, entre outros. De fato, muitas mudançassurgem na vida da mulher em função do câncer de mama,levando a sentimentos que podem modificar a suaimagem cor poral, autoest ima e relacionamentosocial16.

Embora nenhum diagnóstico relacionado àesfera social tenha sido identificado pelas enfermeirasdurante o período de internação, devido ao risco deocorrência, esses aspectos devem ser investigados ediscutidos com a mulher e sua família antes da alta, afim de prevenir ou minimizar as consequências. Assim,uma invest igação dos diagnóst icos do DomínioAutopercepção deveria ser incluída no plano decuidados pós-operatório da mulher mastectomizada, oque parece não ter sido realizado na unidade hospitalaroncológica em análise.

Os resultados encontrados sugerem, por tanto,que a realidade empírica nem sempre caminha emconsonância com a científica e que existem dificuldadesna aplicabilidade desses diagnósticos de enfermagemem oncologia mamária feminina.

Ao enfermeiro incube-lhe evidenciar respostas

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humanas adequadamente e incluir no seu planejamento decuidados medidas terapêuticas específicas. O uso deinstrumentos de medida como escalas psicométricas seriamuito útil não apenas para identificar diagnósticos da esferapsicossocial, mas também para avaliar o efeito dasintervenções de enfermagem.

Qualquer enfermeiro ao formular um diagnósticodepara-se com a difícil tarefa de julgar qual seria aqueleque melhor representa um determinado conjunto decaracterísticas definidoras, bem como a necessidade deconsiderar cuidadosamente as manifestações do pacientediante das características definidoras de cada diagnóstico15.Além de ter familiaridade com o processo de enfermagem,precisa explorar conceitualmente os diagnósticospotencialmente frequentes na sua prática clínica; issofacilita a eficácia do processo e diminui os erros diagnósticos.

Uma das funções do enfermeiro é assegurar aqualidade de vida da mulher mastectomizada por meio deações educativas, sendo tão relevantes quanto os cuidadosclínicos. Assim, a experiência da mastectomia pode sermenos traumática para as mulheres com câncer de mamase houver pleno empenho dos enfermeiros ao consideraremos aspectos psicossociais16, a fim de estabeleceremdiagnósticos de enfermagem que embasam essas ações.

No período pós-operatório de mastectomia, aassistência de enfermagem deve direcionar-se para oscuidados domiciliares, incentivando o autocuidado,aval iando o grau de dependência e sol ic i tandoencaminhamento aos grupos de apoio interdisciplinaresindicados17. Assim a identificação adequada dessasnecessidades é essencial.

O profissional enfermeiro é o integrante daequipe multidisciplinar que permanece maior tempo emcontato com mulher por tadora de câncer mama,permitindo, dessa forma, atuação integral, sustentadapelo diagnóstico de enfermagem, seja na qualidade deprestador de cuidados ou de educador em saúde. Essasações valorizam sua atuação e reforçam a impor tânciado uso do processo de enfermagem, de garantir asistematização das ações e o seu adequado registro,contribuindo para a sua autonomia profissional.

As limitações encontradas no decorrer dessapesquisa foram relacionadas ao fato de serem dadosretrospectivos, de prontuários. Como há escassez depesquisas, na literatura nacional e internacional,referentes ao processo de enfermagem, especificamenteenvo l vendo mu lhe res com câncer de mama emas tec tom izadas , r ecomenda-se que se j amdesenvolvidos estudos prospectivos, a fim de identificarprioridades e desenvolver métodos de aval iaçãosensíveis aos efeitos das intervenções de enfermagempropostas com base nos diagnósticos identificados.

CONCLUSÃO

Os diagnósticos de enfermagem mais identificados pelasenfermeiras que atuavam em uma unidade de internaçãooncológica foram os que pertenciam aos domínios Segurança/Proteção e Enfrentamento/Tolerância ao Estresse, destacando-se o diagnóstico Risco de Infecção, que está de acordo com oesperado.

No entanto, alguns diagnósticos da esfera psicossocialque exigem do enfermeiro uma abordagem mais aprofundadapara sua identificação foram registrados com baixa frequência.

Os diagnósticos de enfermagem nas esferaspsicossociais mais encontrados foram a Ansiedade e Medo, porpossuírem características definidoras semelhantes e pelo perfilda população estudada. No entanto, os diagnósticos que exigemdo enfermeiro uma abordagem mais criteriosa na elaboraçãoforam registrados com baixa frequência.

Diante do exposto, torna-se evidente a importância dea enfermagem oncológica respaldar-se também nosdiagnósticos psicossocias na elaboração do seu plano decuidados às mulheres mastectomizadas, assegurando a melhoriada assistência prestada.

Como validar os diagnósticos de enfermagem emdiferentes contextos e populações representa um desafio paraa enfermagem, faz-se necessário desenvolver mais estudosnesta direção.

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Lopes MHBM, Moura AA, Raso S, Vedovato TG, Ribeiro MAS

Recebido em 07/03/2012Reapresentado em 17/09/2012

Aprovado em 17/10/2012

5.Vieira CP, Lopes MHBM, Shimo AKK. Sentimentos e experiências na vidadas mulheres com câncer de mama. Rev. Esc. Enferm. USP. 2007;41(2):311-6.

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