ÇÃO E DIFERENCIAÇÃO COMO · PDF file37 Carlos Otávio...

17
Gestão & Regionalidade ISSN: 1808-5792 [email protected] Universidade Municipal de São Caetano do Sul Brasil Zamberlan, Carlos Otávio; Coletto, Camila; Dabdab Waquil, Paulo; Henkin, Hélio INOVAÇÃO E DIFERENCIAÇÃO COMO ESTRATÉGIA COMPETITIVA NA INDÚSTRIA GAÚCHA DE BENEFICIAMENTO DE ARROZ: UM ESTUDO DE CASO EMPRESARIAL Gestão & Regionalidade, vol. 26, núm. 78, septiembre-diciembre, 2010, pp. 36-51 Universidade Municipal de São Caetano do Sul Sao Caetano do Sul, Brasil Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=133417428004 Como citar este artigo Número completo Mais artigos Home da revista no Redalyc Sistema de Informação Científica Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto

Transcript of ÇÃO E DIFERENCIAÇÃO COMO · PDF file37 Carlos Otávio...

Page 1: ÇÃO E DIFERENCIAÇÃO COMO · PDF file37 Carlos Otávio Zamberlan, Camila Coletto, Paulo Dabdab Waquil e Hélio Henkin Gestão & Regionalidade - Vol. 26 - Nº 78 - set-dez/2010 ABSTRACT

Gestão & Regionalidade

ISSN: 1808-5792

[email protected]

Universidade Municipal de São Caetano do

Sul

Brasil

Zamberlan, Carlos Otávio; Coletto, Camila; Dabdab Waquil, Paulo; Henkin, Hélio

INOVAÇÃO E DIFERENCIAÇÃO COMO ESTRATÉGIA COMPETITIVA NA INDÚSTRIA GAÚCHA DE

BENEFICIAMENTO DE ARROZ: UM ESTUDO DE CASO EMPRESARIAL

Gestão & Regionalidade, vol. 26, núm. 78, septiembre-diciembre, 2010, pp. 36-51

Universidade Municipal de São Caetano do Sul

Sao Caetano do Sul, Brasil

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=133417428004

Como citar este artigo

Número completo

Mais artigos

Home da revista no Redalyc

Sistema de Informação Científica

Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal

Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto

Page 2: ÇÃO E DIFERENCIAÇÃO COMO · PDF file37 Carlos Otávio Zamberlan, Camila Coletto, Paulo Dabdab Waquil e Hélio Henkin Gestão & Regionalidade - Vol. 26 - Nº 78 - set-dez/2010 ABSTRACT

36 Gestão & Regionalidade - Vol. 26 - Nº 78 - set-dez/2010

INOVAÇÃO E DIFERENCIAÇÃO COMO ESTRATÉGIA COMPETITIVA NA INDÚSTRIA GAÚCHADE BENEFICIAMENTO DE ARROZ: UM ESTUDO DE CASO EMPRESARIAL

INOVAÇÃO E DIFERENCIAÇÃO COMO ESTRATÉGIA COMPETITIVA NAINDÚSTRIA GAÚCHA DE BENEFICIAMENTO DE ARROZ: UM ESTUDO DECASO EMPRESARIALINNOVATION AND DIFFERENTIATION AS A COMPETITIVE STRATEGY IN THE RICE

PROCESSING INDUSTRY OF RIO GRANDE DO SUL: A BUSINESS CASE STUDY

RESUMO

No Estado do Rio Grande do Sul, tem sido verificada uma tendência à concentração de mercado no setorde beneficiamento de arroz, pois o processo exige escala de produção em virtude dos elevados custosfixos, o que tende a eliminar do mercado empresas que possuem menores estruturas industriais. Estetrabalho tem o objetivo de analisar a possibilidade de uma indústria de arroz, que não tenha base emescala de produção, conseguir manter-se no mercado. Para isso, recorreu-se ao estudo de caso de umaindústria de beneficiamento que trabalha com variedades não tradicionais. A presente pesquisa é decaráter qualitativo, e os dados levantados foram tratados pelo método de análise de conteúdo pornavegação lexical. Concluiu-se que existem meios de atuar em um mercado onde o ganho de escala éuma vantagem competitiva; para isso, é importante investir na inovação com foco no mercado comoestratégia competitiva para empresas que não trabalham com escala de produção.

Palavras-chave: arroz, processo, inovação.

Carlos Otávio ZamberlanDoutorando no Programa de Pós-Graduação em Economia da UFRGSProfessor na Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul

Camila ColettoProfessora de curso superior e MBA da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões

Paulo Dabdab WaquilProfessor do departamento de Economia daUFRGS e dos Programas de Pós-Graduação em Economia, em Desenvolvimento Rural e em Agronegócios

Hélio HenkinProfessor do departamento de Economia e diretor da Faculdade de Ciências Econômicasda Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Endereços dos autores:

Carlos Otávio ZamberlanE-mail: [email protected]

Camila ColettoE-mail: [email protected]

Paulo Dabdab WaquilE-mail: [email protected]

Hélio HenkinE-mail: [email protected]

Data de recebimento: 25/04/2010

Data de aprovação: 22/10/2010

Page 3: ÇÃO E DIFERENCIAÇÃO COMO · PDF file37 Carlos Otávio Zamberlan, Camila Coletto, Paulo Dabdab Waquil e Hélio Henkin Gestão & Regionalidade - Vol. 26 - Nº 78 - set-dez/2010 ABSTRACT

37

Carlos Otávio Zamberlan, Camila Coletto, Paulo Dabdab Waquil e Hélio Henkin

Gestão & Regionalidade - Vol. 26 - Nº 78 - set-dez/2010

ABSTRACT

In the state of Rio Grande do Sul, there has been a tendency to market concentration in the rice processingsector, for processing demand scales of production due to its high fixed costs, which usually cause companieswith smaller industrial structures to disappear from the market. The objective of this study is to analyzethe possibility of keeping in the market a rice industry without scales of production. A case study wasdeveloped regarding a processing industry that deals with nontraditional varieties. The present study hasa qualitative methodology and used content analysis and lexical navigation to analyze the collected data.The results suggest that there are means for acting in a market where the scale gains are a competitiveadvantage as long as there is a focus on the market to generate innovations and to manage relationswithin the productive chain.

Keywords: rice, process, innovation.

1. INTRODUÇÃO

O arroz é um produto considerado de grandeimportância na economia mundial, pois é consumidopelas populações em vários países e continentes.Conforme ressaltaram Ferreira et al. (2005), o arrozé alimento básico para metade da população doplaneta, e desempenha, no Brasil, juntamente como feijão, um importante papel como componenteda dieta básica de seus habitantes, sendo parteessencial da “cesta básica” distribuída pelo governoaos estratos mais carentes da população. No Brasil,ocupa lugar destacado na alimentação da popu-lação por ser fonte importante, principalmente, decarboidratos. No entanto, ao contrário do que secostuma pensar, o valor nutritivo do arroz tambémestá associado ao seu conteúdo proteico, que ficaem 7% para o grão polido e 9% para o integral(CASTRO et al., 1999).

Entretanto, conforme indicaram Castro et al.(1999), na comercialização do arroz, para a “mas-sa” de consumidores brasileiros, é mais relevantea aparência dos grãos, sua uniformidade (que serefere a grãos inteiros, grãos quebrados, mancha-dos e/ou danificados) e sua qualidade de cocção,proporcionando bom rendimento de panela ecozimento rápido, além do fato de apresentar grãossecos e soltos após o cozimento, permanecendomacio após o resfriamento.

Lago et al. (2007) citaram dados da FAO1, osquais mostram que a industrialização do arroz per-

mite a obtenção de mais de dois mil produtos dife-rentes no mundo. Isso indica algo muito positivo paratoda a cadeia agroindustrial, porque estimula oconsumo de elementos produzidos com maior valoragregado, o que pode propiciar melhores resultadospara o setor. Porém, a utilização do arroz para odesenvolvimento de produtos mais sofisticados estárelacionada ao poder aquisitivo do consumidor. ParaCastro et al. (1999), o arroz tem sido transformado,em países de economia desenvolvida, em diversositens alimentícios de preparo rápido e valor agrega-do, inacessíveis ao poder de compra da maioria dapopulação mundial.

A indústria de processamento de arroz podeagregar valor para diferenciação de produtos pormeio da inovação tecnológica, por exemplo,acrescentando sabores ao arroz, direcionando ocereal para um segmento específico de clientes ouinvestindo em equipamentos mais modernos parao beneficiamento, de forma a acarretar menorescustos de produção e ganhos de escala. Este últimotipo de inovação é predominante, principalmente,na indústria do Rio Grande do Sul, onde está haven-do um processo de concentração dessa atividadeindustrial. Consoante Miranda et al. (2007), o RioGrande do Sul contava com 383 engenhos benefi-ciadores de arroz em 1997, sendo que este númerose reduziu para 282 em 2003. Miritz (2007) enfati-zou que, em 2007, o total de indústrias já era de253, indicando um processo de concentração.

Diante desse contexto, pergunta-se: é possíveluma indústria de beneficiamento de arroz, que nãotenha base em escala de produção, conseguir man-1 Food and Agriculture Organization of the United Nations.

Page 4: ÇÃO E DIFERENCIAÇÃO COMO · PDF file37 Carlos Otávio Zamberlan, Camila Coletto, Paulo Dabdab Waquil e Hélio Henkin Gestão & Regionalidade - Vol. 26 - Nº 78 - set-dez/2010 ABSTRACT

38 Gestão & Regionalidade - Vol. 26 - Nº 78 - set-dez/2010

INOVAÇÃO E DIFERENCIAÇÃO COMO ESTRATÉGIA COMPETITIVA NA INDÚSTRIA GAÚCHADE BENEFICIAMENTO DE ARROZ: UM ESTUDO DE CASO EMPRESARIAL

ter-se no mercado? Por intermédio de um estudode caso na empresa Amauri Guidolin e Cia. Ltda.,localizada no Município de Santa Maria, Rio Grandedo Sul, pretende-se responder a essa pergunta comenfoque na inovação em processos. A empresa foifundada em 1950 e, atualmente, trabalha com umalinha relativamente grande de produtos destinadosa diferentes mercados. A escolha por essa empresase deu justamente pelas variedades com as quaisela trabalha, que, na sua maioria, diferem do tradi-cional arroz branco polido, classe longo fino, indi-cando a possibilidade de diferencial de mercado.

Para entender melhor este estudo de caso, opresente trabalho está estruturado em seis seções,incluindo essa introdução. Na segunda seção, abor-da-se rapidamente a teoria shumpeteriana e neos-shumpeteriana de inovação. Na seção 3, é apresen-tada a metodologia do estudo. Na seção 4, é feitauma abordagem da cadeia orizícola. Na seção 5,apresentam-se os resultados sobre inovação que,se comparados com as categorias da Pintec – Pes-quisa de Inovação Tecnológica, que são inovaçãotecnológica, atividades inovativas, inovação orga-nizacional e inovação em marketing (PINTEC, 2009),se referem às duas primeiras, conduzindo às consi-derações finais na última seção.

2. ABORDAGENS SCHUMPETERIANA EEVOLUCIONÁRIA DA INOVAÇÃO COMÊNFASE EM APRENDIZAGEMTECNOLÓGICA

O estudo da inovação tem um marco teórico apartir da obra de Schumpeter [teoria do desenvolvi-mento econômico – 1911], que aborda a ação deinovar como criadora de processos de ruptura nosistema econômico, afetando o equilíbrio do fluxocircular. Esse processo de ruptura [introdução da ino-vação] é provocado pelo empreendedor, que detéma habilidade de ser o primeiro a introduzir novas com-binações de meios produtivos, transformando, dessaforma, o fluxo circular estabelecido (EBNER, 2000).

Assim sendo, de acordo com Schumpeter (1982:48), a inovação seria materializada segundo novascombinações de produção, que surgem desconti-nuamente e englobam cinco casos: (A) introduçãode um novo bem, ou seja, um bem com que os

consumidores ainda não estiverem familiarizados,ou de uma nova qualidade de um bem; (B)introdução de um novo método de produção, ouseja, um método que ainda não tenha sido testadopelas experiências no ramo próprio da indústria detransformação, que, de modo algum, precisa serbaseado numa descoberta cientificamente nova, epode consistir também em nova maneira de ma-nejar comercialmente uma mercadoria; (C) aberturade um novo mercado, ou seja, de um mercado emque o ramo particular da indústria de transformaçãodo país em questão não tenha ainda entrado, queresse mercado tenha existido antes, quer não; (D)conquista de uma nova fonte de oferta de maté-rias-primas ou de bens semimanufaturados, maisuma vez independentemente do fato de que essafonte já exista ou tenha que ser criada; e (E) estabe-lecimento de uma nova organização de qualquerindústria, como a criação de uma nova posição demonopólio (pela trustificação) ou a fragmentaçãode uma posição de monopólio.

O referido autor considerou a inovação comoum processo absolutamente revolucionário nacondição de desenvolvimento econômico, substi-tuindo, assim, a tradicional forma de competição(competição de preços), e fez uma distinção entrecrescimento e desenvolvimento econômico, sendoo primeiro considerado um processo contínuo egradual, e o segundo, por sua vez, um fenômenode “mudança espontânea e descontínua nos canaisde fluxo, perturbação do equilíbrio, que altera edesloca para sempre o estado de equilíbrio previa-mente existente” (SCHUMPETER, 1982: 47).

Em análise sobre o artigo “A instabilidade docapitalismo”, de Schumpeter, Gonçalves (1984) des-tacou a clara relação entre progresso econômico einovação, em função do caráter descontínuo doprocesso inovativo, uma vez que inovação nãoacompanha, mas cria a expansão industrial ao intro-duzir novas combinações dos fatores de produçãoexistentes, incorporados em novas fábricas, novosprodutos ou novos métodos. Esse enfoque, segundoPossas (2002), concede à concorrência capitalistauma característica evolutiva e, portanto, dinâmica,em função da busca de opções lucrativas por partedas empresas e sua interação competitiva, aban-donando a tendência de equilíbrio e a visão passivade adaptação do modelo neoclássico.

Page 5: ÇÃO E DIFERENCIAÇÃO COMO · PDF file37 Carlos Otávio Zamberlan, Camila Coletto, Paulo Dabdab Waquil e Hélio Henkin Gestão & Regionalidade - Vol. 26 - Nº 78 - set-dez/2010 ABSTRACT

39

Carlos Otávio Zamberlan, Camila Coletto, Paulo Dabdab Waquil e Hélio Henkin

Gestão & Regionalidade - Vol. 26 - Nº 78 - set-dez/2010

Essa ideia sustenta a abordagem evolucionáriaou neosschumpeteriana da inovação, que apontauma estreita relação entre o crescimento econômicoe as mudanças que ocorreram com a introdução e adisseminação de inovações tecnológicas e organi-zacionais, onde o agente principal de mudança é aempresa. Esta se afirma como unidade de estudoda teoria evolucionária, e o mercado, como o espaçode interação competitiva onde se dá o processo deconcorrência, ou, em um pensar mais sistêmico, ondese definem as externalidades e as políticas queafetam a concorrência. É consenso a importânciaatribuída às inovações no processo competitivo atual,porém o seu exato significado ainda não estádefinido, como advertiram Cassiolato, Britto & Vargas(2005: 512). A partir de 1960, estudos empíricos dospesquisadores da escola evolucionária [a exemplode Christopher Freeman, Nathan Rosenberg, RichardNelson e Sidney Winter, com especial destaque]permitiram uma melhor compreensão sobre o termo,abandonando a ideia de que inovações se limitam aprocessos de descoberta de novos princípios cien-tíficos ou tecnológicos, e assumindo uma carac-terística de aprendizado não linear, por meio do qualas empresas buscam alternativas através de pro-cessos experimentais de aprendizado para enfrentarmomentos de mudança nas condições econômicase tecnológicas.

Conforme destacou Tigre (2006), as inovaçõespodem ocorrer tanto em processos como em pro-dutos, de forma radical ou incremental. As inova-ções em produtos se referem ao lançamento denovos produtos ou ao melhoramento dos já exis-tentes. Situação similar ocorre com a inovação emprocessos, podendo ocorrer a implantação de umnovo processo, como a substituição de toda umalinha de produção em processo produtivo industrial,ou o melhoramento desse processo pela inclusão deum equipamento ou, simplesmente, pela deter-minação de um novo método de realizar parte doprocesso em questão. Muitas das inovações incre-mentais podem surgir do desenvolvimento da rotinaempresarial, que, conforme a teoria evolucionária,é o “gene” que auxilia a perpetuar as característicasdas organizações no decorrer do tempo. O aperfei-çoamento de rotinas, que pode ocorrer pela apren-dizagem, tende a ocasionar inovações incrementaisem processos e, também, em produtos.

Nesse sentido, o processo de inovação, sob aperspectiva evolucionária, passou a ser entendidocomo vinculado a uma trajetória tecnológica, espe-cífico da localidade e conformado historica e ins-titucionalmente, como afirmaram Cassiolato, Britto& Vargas (2005: 513): “(...) a inovação é cada vezmais entendida como sendo um processo que resul-ta de complexas interações em nível local, nacionale mundial entre indivíduos, firmas e outras organi-zações voltadas à busca de novos conhecimentos”.

No contexto competitivo atual, as empresasconvivem com a ampla difusão de informação, favo-recida pela ascensão das novas tecnologias. O usodessas informações no processo produtivo exigeuma interpretação prévia, pois conhecimento nãoé formado simplesmente por informação, mas simpor um “conjunto de informações associado a umsignificado através de um processo de interpre-tação individual ou organizacional” (ALBINO, GARAVELLI,& SCHIUMA, 1998: 54). A interpretação dessas infor-mações exige da empresa competências específicascom o propósito de assimilar os dados e aplicá-losaos processos.

Nesse sentido, é preciso contemplar quatro com-ponentes importantes: os atores envolvidos nos flu-xos de transferência de conhecimento, o contextode interação entre as partes, o conteúdo da infor-mação transferida entre os agentes e os meios decomunicação utilizados. De acordo com Albino,Garavelli & Schiuma (1998), a eficiência da difusãode informações entre diferentes atores dependedos meios de comunicação utilizados e da existênciade fatores fundamentais, como confiança, franque-za, transparência e experiência anterior. Este últimoé visto como um facilitador, “entendendo” quefirmas com experiências anteriores são geradorasde maior confiança e credibilidade.

Essas características permitem que o agentetroque informações sem reservas ou limitaçõesquanto ao uso pelos seus concorrentes. De acordocom Teece (2005), a colaboração e a parceria natroca de conhecimentos podem ser veículos para onovo aprendizado organizacional.

Saber identificar e selecionar as oportunidadesdentro de um composto de informações e conhe-cimentos requer das empresas a formação de com-petências específicas, mediante um processo de

Page 6: ÇÃO E DIFERENCIAÇÃO COMO · PDF file37 Carlos Otávio Zamberlan, Camila Coletto, Paulo Dabdab Waquil e Hélio Henkin Gestão & Regionalidade - Vol. 26 - Nº 78 - set-dez/2010 ABSTRACT

40 Gestão & Regionalidade - Vol. 26 - Nº 78 - set-dez/2010

INOVAÇÃO E DIFERENCIAÇÃO COMO ESTRATÉGIA COMPETITIVA NA INDÚSTRIA GAÚCHADE BENEFICIAMENTO DE ARROZ: UM ESTUDO DE CASO EMPRESARIAL

aprendizado contínuo. Fleury & Fleury (2000) apre-sentaram competência como sendo a capacidadede combinar, misturar e integrar recursos em pro-dutos e serviços, que está associada a um sistemá-tico processo de aprendizagem, podendo estar liga-da a qualquer estágio do ciclo do negócio. A iden-tificação das competências essenciais do negócioantecede a definição das estratégias competitivasda empresa e de cada função. Ainda de acordocom os autores citados, “no contexto dinâmico eimprevisível de hoje, a competência no processode formulação de estratégias é fundamental” (FLEURY& FLEURY, 2000: 42).

Segundo Tether (2003), as empresas que inovamsão dotadas de rotinas e processos sistemáticosfocalizados na habilidade de aprender e adaptar.Essas empresas são comprometidas na prática demelhorias que possam culminar em novos produtosou novos processos. Nessas firmas, são descobertosinúmeros conceitos de novos produtos e novas ideiasque podem nunca ser lançados no mercado, poréma essência é ser flexível para poder adaptar o que jáestá pronto a circunstâncias diferentes, como tam-bém atender às necessidades de clientes particulares.

Neste sentido, diz-se que as empresas que sãoinovadoras “tendem a ter um padrão instruído e es-tável de atividade coletiva pela qual a organizaçãogera e modifica sistematicamente suas rotinasoperacionais em busca de melhor efetividade” – essepadrão é chamado de capacidades dinâmicas (TETHER,2003: 10). Segundo Coriat & Dosi (2002), as compe-tências dinâmicas são as experiências que habilitamas organizações para executar diferentes tipos deatividades, envolvem atividades organizadas e o seuexercício é tipicamente redundante. E as rotinas sãounidades dessa atividade organizada.

Senge (1990) destacou que, atualmente,presencia-se um salto na capacidade de inovaçãodevido à disponibilidade de um conjunto detecnologias de aprendizagem em grupo, que estásendo usado pelas empresas como fator estratégicopara competir no mercado globalizado. Com isso,está surgindo um novo perfil de empresa, a “em-presa que aprende” (learning organization). O pro-cesso adaptativo das organizações que apren-dem está centrado na solução de problemas, ondeo entendimento sistêmico das situações propicia aos

colaboradores um constante processo deaprendizado.

Nesse sentido, de acordo com Campos et al.(2004), a firma age como um repositório de conhe-cimento. Dessa forma, seu crescimento é deter-minado, por um lado, pelas suas próprias caracte-rísticas internas, tais como as suas rotinas e os seusprocessos de busca e seleção, definindo processosespecíficos de aprendizagem e as suas compe-tências; e, por outro lado, pelo meio em que a firmaestá inserida, em relação ao regime tecnológico, àestrutura produtiva, ao padrão de concorrência eao contexto social.

O aprendizado é, então, um processo funda-mental para a construção de novas competênciase a obtenção de vantagens competitivas, o qual,pela repetição, experimentação, busca de novasfontes de informação e outros mecanismos, capa-cita tecnologicamente as firmas e estimula as suasatividades produtivas e inovativas. Deste modo, nostermos da abordagem evolucionária, a avaliaçãoda vantagem competitiva e da aptidão estratégicada empresa é entendida como uma função de seusprocessos, de suas posições e de suas trajetórias,como ressaltou Teece (2005).

A capacidade de manter processos de apren-dizado tornou-se um fator crucial de sobrevivência,pois existe uma clara relação entre conhecimento,aprendizado e inovação, a partir de uma perspectivaque contempla a dimensão tácita e codificada doconhecimento. De acordo com Albagli & Brito (2003),a produtividade e a competitividade dos agenteseconômicos passam então a depender da criação eda renovação de vantagens competitivas associadasao aprendizado, à qualidade dos recursos humanose à capacitação produtiva e inovativa das empresas.

3. METODOLOGIA

O presente trabalho objetivou o estudo da inova-ção em processo e se caracteriza como um estudodescritivo, pois a intenção foi descrever as caracte-rísticas da agroindústria em análise, e quali-quan-titativo, em função dos tipos de dados que utilizou,atribuindo importância fundamental à descrição defenômenos com base em discursos dos atores so-ciais envolvidos e, ao mesmo tempo, buscando criar

Page 7: ÇÃO E DIFERENCIAÇÃO COMO · PDF file37 Carlos Otávio Zamberlan, Camila Coletto, Paulo Dabdab Waquil e Hélio Henkin Gestão & Regionalidade - Vol. 26 - Nº 78 - set-dez/2010 ABSTRACT

41

Carlos Otávio Zamberlan, Camila Coletto, Paulo Dabdab Waquil e Hélio Henkin

Gestão & Regionalidade - Vol. 26 - Nº 78 - set-dez/2010

categorias e efetuar contagem de léxicos analisa-dos em interações sociais.

É caracterizado, também, como estudo de caso,pois busca estudar mais profundamente a inovaçãoem uma empresa específica. Para Gil (1999), o es-tudo de caso permite o conhecimento do objeto depesquisa de forma mais ampla e detalhada. O pro-pósito de escolha deste método foi melhor des-crever a situação de inovação no contexto em quese fez a investigação.

O estudo inicia com uma caracterização da ca-deia produtiva do arroz, descrevendo, baseado emlevantamentos teóricos e na vivência prática dosautores, os setores envolvidos e o processo internode produção nas agroindústrias orizícolas.

Os dados foram coletados por meio de entrevis-tas, que, conforme ressaltou Gil (1999), constituemforma de interação social e diálogo assimétrico, ondeuma das partes busca dados e a outra se apresentacomo fonte de informação. As entrevistas foramelaboradas no setor administrativo. Primeiramente,realizou-se uma entrevista informal, com visita àunidade de recebimento de matéria-prima. Poste-riormente, foi realizada uma entrevista semiestru-turada, com base em um questionário com questõesabertas e algumas caracterizadas como perguntasgeradoras de narrativa. Segundo Silverman (2009),devem ser utilizadas perguntas geradoras de nar-rativa como alternativa para entrevistas semiestru-turadas, pois existe um ceticismo básico com relaçãoao esquema de perguntas e respostas de entrevistastradicionais, referente a até que ponto esses con-seguem obter experiências subjetivas.

Nesta fase, como o estudo foca as inovaçõesem processos, o instrumento de coleta de dadosutilizado abordou as seguintes variáveis: ocorrênciade inovação em processos, origem das inovaçõesem processos, implantação de inovação em proces-sos, participação funcional em mudanças e partici-pação de instituições externas na inovação deprocessos.

A coleta de dados seguiu por visita na instalaçãoindustrial, a fim de conhecer detalhes a respeitodas inovações apontadas na entrevista formalizada.Já a avaliação dos dados foi efetuada pelo métodode análise de conteúdo, que é utilizado para a

apreciação crítica textual dos documentos elabo-rados a partir de transcrições de entrevistas. Aanálise de conteúdo consiste na observação e noexame minucioso através do conteúdo de texto es-crito e, muitas vezes, é utilizada para quantificaros dados qualitativos (HAIR JR. et al., 2005).

Apesar de a análise de conteúdo necessitar deuma categorização que se ajuste às configuraçõesteóricas, é possível criar essas categorias após acoleta de dados, partindo das observações dastranscrições e de uma análise computacional (FREITAS& MOSCAROLA, 2002), o que foi feito nesse estudo.

Para efetuar a análise de conteúdo, o texto foidecomposto em função das ideias, expressões oupalavras que o compõem, escolhidas pela relaçãocom o objetivo da pesquisa e com base na funda-mentação apresentada. Então, a unidade de análisefoi composta de palavras, as quais podem formarexpressões que devem se enquadrar nas categoriaspropostas. Essa unidade de análise foi elemento denavegação lexical na unidade de contexto (ele-mento utilizado para compreender a unidade deanálise ou de registro), definido como a frase emque a palavra ou expressão estiver inserida.

Outra unidade importante para a análise de con-teúdo é a unidade de numeração, com a finalidadede dar indicativos da importância que o entrevistadodá para determinado assunto. A unidade para opresente estudo é o número de palavras destinadasàs respostas dadas nas entrevistas transcritas.

Por fim, a análise de conteúdo, elaborada nesseestudo, é feita por navegação lexical, que pode serefetuada em nível mais simples, como a aproxi-mação lexical controlada ou um pouco mais elabo-rada, como a aproximação lexical seletiva, ambasmostradas na Figura 1.

Nos dois métodos, reduz-se o texto ao seu léxicoe, por navegação lexical, controla-se a validade dofundamento das interpretações elaboradas. Adiferença é que, na aproximação lexical seletiva,utiliza-se de uma ferramenta chamada “lematiza-dor” (do francês lemmatiseur, que é uma ferra-menta que auxilia o pesquisador ao marcar no textoas diferentes categorias gramaticais), para auxiliara formar léxicos estruturados ou selecionados, ondevocábulos e expressões de significado semelhante

Page 8: ÇÃO E DIFERENCIAÇÃO COMO · PDF file37 Carlos Otávio Zamberlan, Camila Coletto, Paulo Dabdab Waquil e Hélio Henkin Gestão & Regionalidade - Vol. 26 - Nº 78 - set-dez/2010 ABSTRACT

42 Gestão & Regionalidade - Vol. 26 - Nº 78 - set-dez/2010

INOVAÇÃO E DIFERENCIAÇÃO COMO ESTRATÉGIA COMPETITIVA NA INDÚSTRIA GAÚCHADE BENEFICIAMENTO DE ARROZ: UM ESTUDO DE CASO EMPRESARIAL

Figura 1: Representação da análise de conteúdo por navegação lexicalFonte: adaptado de Freitas, Cunha Júnior & Moscarola (1996).

são agrupados (somados), possibilitando criar umaestrutura estatística e retirar as palavras que podemser “deixadas de lado”, de modo a concentrar aten-ção no exame de nomes, verbo e adjetivos.

Estatisticamente, com o auxílio do lematizador,é possível criar categorias ou léxicos estruturadospelo somatório de palavras e expressões de signifi-cado semelhante ou direcionadas para mesma ca-tegoria de análise criada, possuindo semelhança desentido conforme o objeto de estudo da pesquisa.Isso pode ser formalmente descrito como:

Em que: y é o léxico estruturado ou a categoriade análise; são as palavras ou expressões designificado linguístico similar ou de semelhantesignificado, conforme o objeto de estudo; e e é oerro estatístico.

Então, selecionadas as palavras para formar umléxico estruturado ou categoria de análise, combase neste e no corpo do texto, partiu-se para aanálise do conteúdo onde as palavras ou expres-sões selecionadas aparecem no texto, em que se

utilizaram as frases como unidade de contexto,extraindo citações, chamadas de verbatim, que re-presentam a interpretação feita a partir da análise.A utilização do software Sphinx plus 4.5 auxiliouna elaboração da análise textual.

4. CADEIA PRODUTIVA ORIZÍCOLA

O conceito de filière, ou cadeia (foi desenvolvidopela escola francesa de economia), é um conceitoque se aplica à sequência de atividades que trans-formam uma commodity em um produto prontopara o consumidor final, não privilegiando a variávelpreço no processo de coordenação do sistema, masfocalizando aspectos distributivos do produto in-dustrial. Esse conceito pode ser observado em Ara-grande (1997).

Essa conceituação salienta a relação processualda cadeia produtiva e embute a noção de interde-pendência setorial e dos agentes econômicos e suasrelações, como explicitou Arangrande (1997) aoafirmar que é impossível considerar qualquer açãoeconômica como isolada de seu contexto e do com-plexo de relações que o caracterizam. Igualmente,

Page 9: ÇÃO E DIFERENCIAÇÃO COMO · PDF file37 Carlos Otávio Zamberlan, Camila Coletto, Paulo Dabdab Waquil e Hélio Henkin Gestão & Regionalidade - Vol. 26 - Nº 78 - set-dez/2010 ABSTRACT

43

Carlos Otávio Zamberlan, Camila Coletto, Paulo Dabdab Waquil e Hélio Henkin

Gestão & Regionalidade - Vol. 26 - Nº 78 - set-dez/2010

salientou o autor, o fornecimento e a distribuiçãode um produto não podem ser considerados forados vínculos estabelecidos com as condições eco-nômicas a montante e a jusante.

A ideia de cadeia de produção (filière) está inse-rida na concepção de agronegócios, onde se consi-deram três grandes subsistemas propostos porAraújo (2005): “antes da porteira” (onde estão osprincipais insumos necessários à produção agrope-cuária em geral e as inter-relações entre os fabri-cantes, distribuidores de insumos e órgãos de fo-mento e pesquisa com os produtores agropecuá-rios); “dentro da porteira” (que constitui a produçãoagropecuária propriamente dita, dividida em agri-cultura e pecuária); e “depois da porteira” (cons-

tituído basicamente pelas etapas de processamentoe distribuição dos produtos agropecuários até oconsumidor final). Como base para análise da cadeiaprodutiva do arroz, utilizou-se essa concepção desegmentos agroindustriais.

A cadeia orizícola é representada no segmento“antes da porteira” pelas indústrias de insumos,entidades de pesquisa e extensionistas; no segmen-to “dentro da porteira”, pelo produtor rural ou uni-dade de produção; e, no “depois da porteira”, pelasindústrias de processados, pelos empacotadores eindústrias de beneficiamento, supermercados,cozinhas industriais, restaurantes, empresas de ces-tas básicas e consumidor final, podendo-se repre-sentar como demonstrado na Figura 2.

Figura 2: Estrutura da cadeia produtiva do arrozFonte: elaborado pelos autores.

Page 10: ÇÃO E DIFERENCIAÇÃO COMO · PDF file37 Carlos Otávio Zamberlan, Camila Coletto, Paulo Dabdab Waquil e Hélio Henkin Gestão & Regionalidade - Vol. 26 - Nº 78 - set-dez/2010 ABSTRACT

44 Gestão & Regionalidade - Vol. 26 - Nº 78 - set-dez/2010

INOVAÇÃO E DIFERENCIAÇÃO COMO ESTRATÉGIA COMPETITIVA NA INDÚSTRIA GAÚCHADE BENEFICIAMENTO DE ARROZ: UM ESTUDO DE CASO EMPRESARIAL

Na Figura 2, pode-se observar que, no segmento“depois da porteira”, foram incluídos os interme-diários, que podem ser primários, secundários, ter-ciários e assim por diante, empresas ou pessoas quecompram dos produtores e repassam os respectivosprodutos para serem comercializados. Ainda nessesegmento, em outros níveis de comercialização, en-contram-se indústrias e empacotadores; as primei-ras beneficiam o arroz, deixando-o próprio paraconsumo (também empacotam para comerciali-zação); os segundos adquirem arroz da indústria eo empacotam para comercializar com atacadistas

ou varejistas (incluindo cozinhas industriais e res-taurantes). Com o propósito de melhor entender aindústria de beneficiamento, que é importante pa-ra a compreensão das relações da cadeia de pro-dução, pode-se recorrer à visão geral do processo,sintetizado na Figura 3.

Seu início se dá com o recebimento de arroz(geralmente em casca), que passa por um processode peneiramento para tirar as impurezas e sujeirasprovenientes das lavouras. Após a limpeza, o arrozé secado e armazenado, a fim de, então, passar

Figura 3: Fluxograma dobeneficiamento de arrozbranco polidoFonte: elaborado pelos autores.

Page 11: ÇÃO E DIFERENCIAÇÃO COMO · PDF file37 Carlos Otávio Zamberlan, Camila Coletto, Paulo Dabdab Waquil e Hélio Henkin Gestão & Regionalidade - Vol. 26 - Nº 78 - set-dez/2010 ABSTRACT

45

Carlos Otávio Zamberlan, Camila Coletto, Paulo Dabdab Waquil e Hélio Henkin

Gestão & Regionalidade - Vol. 26 - Nº 78 - set-dez/2010

novamente por uma peneira, para, em seguida, serdescascado e polido. Depois do polimento, o arrozpassa por uma terceira peneira para a separaçãode grãos inteiros, quebrados e demais subprodutos,como arroz vermelho, quirera (quebrado em cercade um quarto de grão) e quirelinha (quebrado muitopequeno). O processo, então, segue com a seleçãoeletrônica para retirar possíveis impurezas e terminacom o empacotamento.

Como observado na Figura 3, o processo deprodução é contínuo e necessita de um nível deescala de processamento para se tornar viável emfunção dos custos fixos, gerando uma barreira deentrada para investimentos no setor.

Voltando à cadeia produtiva, no mesmo nível daindústria estão os concentradores, que são interme-diários de grande porte (geralmente grandes arma-zenadores capitalizados), que atuam, de modo ge-ral, comprando dos agricultores e repassando aprodução para a indústria. Por último, destacam-se o atacado e o varejo, destinados a escoar o pro-duto ao consumidor final.

5. ESTUDO DE CASO EM INOVAÇÃO DEPROCESSO NA GUIDOLIN LTDA.

A Agroindústria Amauri Guidolin e Cia. Ltda. foiescolhida para esse estudo de caso, pois é umaindústria de beneficiamento que figura no rankingnacional em 151º lugar, responsável pelo beneficia-mento de pouco mais de 25 mil sacos de 50kg porano, não chegando a ter representatividade percen-tual significativa no montante de beneficiamento doEstado. Além disso, a empresa possui uma grandelinha de produtos de arroz, trabalhando comvariedades que não são tradicionais no consumo damassa da população brasileira. Em virtude disso, essaempresa é reconhecida na região central do Estadodo Rio Grande do Sul e se destaca das demaisempresas beneficiadoras da região pela diversidadede variedades de arroz por ela beneficiadas, o quedesperta o interesse de uma pesquisa que discorrasobre os processos de inovação nessa indústria, que,mesmo pequena, é reconhecida e atuante.

A referida indústria é composta por 12 funcio-nários, incluindo os cinco pertencentes ao setoradministrativo. A Amauri Guidolin e Cia. Ltda. foi

fundada em 1950 e se especializou em arroz in-tegral, vendido, primeiramente, em sacas de ráfiapara empacotadores colocarem suas marcas. Atual-mente, o mercado de arroz em sacas de ráfia con-tinua sendo explorado pela empresa; no entanto,ela vem trabalhando com marcas próprias, basea-das em produtos diferenciados. Desde sua criação,a empresa atua com variedades de arroz destinadasa mercados de nicho, não focando escala deprodução. Dentro da linha de produtos atual, estãoos seguintes tipos: o arroz cateto integral (curto); ocateto integral misturado com vermelho; o arrozfino integral; o arroz fino integral misturado comvermelho; o arroz vermelho integral; o arroz longopara culinária japonesa e italiana (sushi e risoto); etambém o arroz longo fino polido, elaborado ex-clusivamente com a variedade BR Irga 417. Tambémfaz parte do mix de produtos o arroz longo finopolido mutagênico (oriundo de várias mutaçõesgenéticas, onde não existe preocupação específicacom uma determinada variedade de cultivar comomatéria-prima). As misturas de variedades de arrozforam inovações mais recentes, facilitadas, tam-bém, pelo processo de produção, que permite aseparação e a posterior mistura das variedades con-forme o mercado a que se destinam.

Segundo informado em visita ao setor de rece-bimento de matéria-prima, em conversa informalcom o gerente comercial, a criação de uma marca(Arroz Guido) de arroz polido, tipo 1, mutagênico,serve exclusivamente para facilitar o processo dedistribuição. “Sendo um produto mais barato, é maisfácil fechar uma carga2 para envio para a região Su-deste, por exemplo, para depois efetuar a distribuiçãoentre os estabelecimentos de atacado e varejo”.

Ao se analisarem os dados de entrevista semies-truturada, podem ser verificados alguns aspectosrelevantes à inovação de processo e produto, quegeram diferencial competitivo para a agroindústriaAmauri Guidolin e Cia. Ltda. Avaliaram-se os aspec-tos referentes à inovação em processos, onde foramverificadas as variáveis mostradas no Quadro 1,com respectiva unidade de numeração.

2 Uma carga de arroz geralmente é fechada em caminhãotrucado, que carrega 18 mil quilos, ou em carreta de 27 milquilos.

Page 12: ÇÃO E DIFERENCIAÇÃO COMO · PDF file37 Carlos Otávio Zamberlan, Camila Coletto, Paulo Dabdab Waquil e Hélio Henkin Gestão & Regionalidade - Vol. 26 - Nº 78 - set-dez/2010 ABSTRACT

46 Gestão & Regionalidade - Vol. 26 - Nº 78 - set-dez/2010

INOVAÇÃO E DIFERENCIAÇÃO COMO ESTRATÉGIA COMPETITIVA NA INDÚSTRIA GAÚCHADE BENEFICIAMENTO DE ARROZ: UM ESTUDO DE CASO EMPRESARIAL

Quadro 1: Variáveis analisadas para inovação em processo e suas unidades de numeração

Variável Unidade de numeração (palavras) Léxicos

Ocorrência de inovação em processos 406 178

Origem das inovações em processos 24 22

Implantação de inovação em processos 351 141

Participação funcional em mudanças 192 104

Participação de instituições externas na inovação de processos 126 80

Fonte: elaborado pelos autores.

Ao se analisarem as unidades de numeração paraas variáveis em questão, verificou-se que é dadarelativa importância para a explicação dos fatos refe-rentes à ocorrência das inovações e ao processo deimplantação das mesmas. Por outro lado, com refe-rência à participação funcional e de outras instituiçõesexternas, dedica-se um menor tempo para abordaro assunto, utilizando-se como proxy o número depalavras empregado em cada resposta do entrevis-tado. Para a origem das inovações, a unidade denumeração apresentou número reduzido, simples-mente pelo fato de a questão exigir uma curtaresposta, resposta esta que mostra que as inovaçõessão originadas dentro da empresa e/ou externas deorigem nacional, como a aquisição de equipamentospara polimento de fornecedores brasileiros.

Com relação à ocorrência de inovações em pro-cessos, foi formado um léxico referente à categoriado agente inovador com 21 palavras (repetição dapalavra / expressão “a gente”); um léxico estrutura-do com 14 palavras (palavras e expressões designificados semelhantes, juntas para formar únicoléxico) para a categoria de produto (arroz, agu-lhinha, variedade, vermelho, japonês...); um léxicoestruturado com 15 palavras para a categoria demotivo (secador, secagem, seca, sujo, seleção,tamanhos, separar, separadora, umidade, contro-le...); outro com sete palavras para a categoria decriação e mudança (implementação, bolar, inven-tar...); e um léxico estruturado para a categoria delocalização da inovação com 11 palavras (atrás, en-genho, processo casca3, empacotamento).

Esses léxicos auxiliam a concentrar o estudo noseu objeto; verificando-se onde ocorreram seus

usos, é possível uma interpretação mais detalhadada inovação. Para a ocorrência de inovações,verificou-se que, no processo produtivo, elastiveram início no começo do processo, conformeapontou um dos proprietários, responsável pelosetor comercial:

Vamos começar de trás, a gente começoumudando lá atrás. Como a gente trabalhacom muito tipo de variedade, (sic) cada tipotu tens que usar um tipo de secagem, temarroz que tu trabalha (sic) com 13* e outrosque tu trabalha (sic) com 11*. Então, a gentetrouxe esse compromisso pra gente. A gentejá teve que [pausa]. Secador já existe comotu falaste, mas a gente implementou isso prapoder ter esse controle, porque no produtortu não consegues ter esse controle.

* percentual de umidade no grão.

Essa citação mostra que, para cada variedadede produto e conforme o mercado consumidorvisado (informação em entrevista informal efetuadaapós a fase formal do estudo), é necessário um tipode secagem. Por que isso? Conforme a umidadedo grão, haverá um diferencial de cocção, um grãomais úmido fará com que o arroz, após cozido, fiquemais grudado, “empapado”, característica impor-tante para alguns nichos de mercado, como o decolônias japonesas no Estado de São Paulo. Se asecagem for executada nos armazéns do produtor(geralmente na unidade de produção agrícola), ocontrole do percentual de secagem de uma deter-minada variedade não é feito, prejudicando o pro-duto final destinado a um mercado específico. Alémdo percentual de secagem, por informação em faseinformal da entrevista, o cuidado na secagemtambém se deve à utilização do elemento de

3 Processo casca se refere a todo o processo de recebimento doarroz até o seu descasque dentro da indústria.

Page 13: ÇÃO E DIFERENCIAÇÃO COMO · PDF file37 Carlos Otávio Zamberlan, Camila Coletto, Paulo Dabdab Waquil e Hélio Henkin Gestão & Regionalidade - Vol. 26 - Nº 78 - set-dez/2010 ABSTRACT

47

Carlos Otávio Zamberlan, Camila Coletto, Paulo Dabdab Waquil e Hélio Henkin

Gestão & Regionalidade - Vol. 26 - Nº 78 - set-dez/2010

combustão, que gera o calor para fazer a secagem,pois pode deixar cheiro no produto. O uso da cascade arroz não é aconselhável para a secagem doarroz destinado ao consumidor de origem nipônica,pois ele cozinha o arroz com mínimo de tempero,ou mesmo sem tempero algum, de modo que issoexige que o produto não possua nenhum aromadiferente. Por esse motivo, é utilizada lenha secapara a combustão nos secadores.

Outra inovação realizada pela empresa deu-seno engenho, na fase de beneficiamento de arroz,conforme pode ser verificado nas palavras dogerente comercial:

Depois, como te falei, a gente colocou essacom ar e gravidade* pra poder separar essasvariedades mais [pausa]... como vermelho,coisa que a gente teve que implementar[pausa]... é que a gente tinha uma, depoisimplementou outra. Que é aquela da Zacca-ria, uma máquina nova, também por gravi-dade e por ar, que é um sistema um poucodiferente da outra, uma tira mais pedra e aoutra, mais falhado, essas coisas assim, por-que o vermelho vem muito sujo.

*mesa separadora (nota dos autores)

A utilização de diversas variedades exige que oprocesso de beneficiamento esteja adaptado a estaescolha. Variedades diferentes possuem tamanho degrãos diferentes, em termos de comprimento eespessura, além de apresentarem falhas em grãosda mesma variedade e sujeira proveniente da lavouraou, mesmo, do depósito de outros produtores ouindústrias, que fornecem determinada matéria-prima(como o arroz vermelho). A empresa incorporou àprodução uma nova máquina separadora pelanecessidade de melhor limpar o produto e separá-loa fim de dar maior agilidade ao processo produtivo,diminuindo o retorno de produto para fases de lim-peza e separação (ver processo de beneficiamentona seção 3). Essa preocupação de retorno de produtopode ser evidenciada na fala do gerente quandotratou de outra inovação, gerada na própria empre-sa, em virtude da inexistência de máquina que fizesseaquilo de que a empresa necessitava:

A gente teve que fazer uma peneira (pausa),a gente teve que chamar um engenheiro, uma

pessoa que já trabalhava em engenho, prapoder bolar uma peneira, imagina que, comarroz japonês, vem muito arroz agulhinha nomeio. Então, tinha que separar isso, então tuconseguir (sic) hoje no mercado que dêprodução, não tem isso, ela é limitada. Outrasconseguem fazer isso em casca, a gente teveque montar uma peneira onde, em cima, entrao arroz japonês e, embaixo, o próprio agulhi-nha, que ele vai separar, já vai sair limpo. Entãoa gente teve que inventar isso para não pre-cisar retornar com o arroz; então a gente teveque bolar, como te falei, um processo bem(pausa)... Não tinha pronto no mercado.

Essa inovação leva a outro ponto analisado naentrevista formal semiestruturada, que é a partici-pação funcional do quadro nas mudanças. Àprimeira vista, há o indicativo de menor importânciadada a essa variável, mas isso é uma meia verdade.A participação dos funcionários é mais centrada noresponsável imediato pela produção; por essemotivo, menos tempo foi dedicado a esse assuntona entrevista. Todavia, é fato que uma maior intera-ção entre os funcionários pode gerar um processode aprendizado mais eficiente, e ser canalizadapara geração de um maior número de inovações,mesmo incrementais.

Com relação a essa variável, foram constatadosléxicos estruturados com diversas palavras: 15 pala-vras que compuseram a categoria de agente ino-vador (ele, eles, pessoal, gerência, a gente, dele),sete que compuseram a categoria geração de ino-vações (peneira, cria, criou, ideias) e sete para acategoria de processo de produção (arroz, produ-ção, variedades, tipo, distribuição).

Apesar de a resposta demonstrar que as inova-ções provenientes de ideias de funcionários estãoconcentradas em alguns poucos, a empresa apro-veita o conhecimento de quem está mais próximoàs atividades operacionais para resolver seus pro-blemas e gerar inovações que contribuam significa-tivamente com o processo produtivo e com os seusresultados, o que pode ser constatado nas palavrasdo gerente comercial:

Como ele está trabalhando ali o dia inteiro,ele vê a necessidade. Oh! Tem que fazer issoe tem que melhorar isso. Então, a parte de

Page 14: ÇÃO E DIFERENCIAÇÃO COMO · PDF file37 Carlos Otávio Zamberlan, Camila Coletto, Paulo Dabdab Waquil e Hélio Henkin Gestão & Regionalidade - Vol. 26 - Nº 78 - set-dez/2010 ABSTRACT

48 Gestão & Regionalidade - Vol. 26 - Nº 78 - set-dez/2010

INOVAÇÃO E DIFERENCIAÇÃO COMO ESTRATÉGIA COMPETITIVA NA INDÚSTRIA GAÚCHADE BENEFICIAMENTO DE ARROZ: UM ESTUDO DE CASO EMPRESARIAL

produção mesmo, eu sempre troco ideias comele. Eu vejo alguma coisa nova, em algumafeira, sempre vou junto com ele. Eu pego elee levo junto na feira. Então, dou bastanteênfase pro pessoal ali, que gerencia aprodução.

Outra afirmação que evidencia esse fato, tam-bém posta pelo gerente, é que “eles estão emcontato direto com aquilo ali e acho que é impor-tante.”. O motivo de considerar a opinião dosfuncionários, mesmo quando a ideia ou a propostaparte da administração, está relacionada com apercepção de que o conhecimento deles é prove-niente da rotina de trabalho direto com os processosprodutivos, onde ocorrem as principais mudançasem processos. Como se observa também na seguin-te afirmação:

Principalmente na parte da produção, porexemplo, toda essa questão de [pausa]... Comofalei, tem um funcionário que (sic) a gente deuum curso pra ele, na Selgron, direto na fábrica.Como ele trabalha, também há mais de 15 anoscom a gente, é um guri que criou, cria váriasideias [...] como ele está convivendo todo o diacom aquilo ali, surgem muitas ideias, tanto nessapeneira que a gente teve que fazer.

Nota-se que, além de considerar a importânciada rotina de trabalho, também há um elementoreferente a treinamento e educação, pois o funcio-nário fez curso na Selgron, uma empresa fornece-dora de máquinas e equipamentos para engenhosde arroz, indicativo de que se dá importância paraa criação de conhecimento na empresa, fatorimportante na geração de inovações, tanto incre-mental como radical.

Na variável implantação de inovações em pro-cessos, foram encontradas 36 palavras para formarum léxico estruturado relacionados com o agenteinovador – categoria também criada para essavariável (eu, comecei, pai, ele, nós, vou, fui...), 16palavras que formaram o léxico sobre a categoriamercado (mercado, segmento, nicho, agregar maisvalor...), nove palavras destinadas ao léxico relacio-nado à categoria de cadeia produtiva (indústria,cliente, produtor, produzir...) e seis palavras para oléxico sobre produto (arroz, japonês...).

Para a empresa, a implantação de inovações deprocessos depende quase que exclusivamente dasintroduções de inovações em produtos – pratica-mente todas as inovações em processos realizadaspela empresa foram efetuadas em virtude da linhade produtos. Essa linha se formou pela transmissãode uma cultura voltada para trabalho com produtosdiferentes, aprimorado em virtude, também, doempreendedorismo e do aprendizado do sucessor,como pode ser observado nas palavras doproprietário responsável do setor comercial:

Tchê! Uma que eu comecei pelo... [pausa]porque assim, oh! O pai já teve sempre essalinha de trabalhar com esse arroz diferente,de fazer coisas diferentes. E aí, depois queeu me formei e fui pra FGV, eu comecei acuidar mais do mercado, por que eu ia...comecei a frequentar mais o Zaffari*, essesmercados diferentes. Poxa! Eu falei. É ummercado pequeno**? É, mas alguém temque fazer.

*Rede de supermercados com forte atuaçãono Rio Grande do Sul.

** Refere-se aos produtos diferenciadosencontrados na rede Zaffari .

Além de uma transmissão de valores, o trabalhocom diferenciação de produtos depende de um bomconhecimento de mercado, o que é constatado nacitação anterior e reforçado por essa afirmação doproprietário responsável pelas vendas da empresa:“[...] poxa! Vou dar atenção aqui e vou me focarnesse mercado aqui [...] O pai já trabalhava comesse arroz diferente e eu comecei a andar, já come-cei a visitar cliente e comecei a fazer isso, espe-cializar nesse segmento”. Outro ponto levantadoé a especialização e o foco em um determinadosegmento de mercado, pois esse fato evidencia aempresa como especialista em determinado tipode produto, melhor estabelecendo sua imagemperante seus clientes.

No entanto, ficou evidente que essa escolha porsegmento de mercado necessita de um controle,uma gestão mais rigorosa da cadeia produtiva,principalmente em se tratando do fornecedor dematéria-prima. Ficou constatado que, para algunsnichos explorados pela empresa, é necessário ocontrole desde o processo de secagem do grão, o

Page 15: ÇÃO E DIFERENCIAÇÃO COMO · PDF file37 Carlos Otávio Zamberlan, Camila Coletto, Paulo Dabdab Waquil e Hélio Henkin Gestão & Regionalidade - Vol. 26 - Nº 78 - set-dez/2010 ABSTRACT

49

Carlos Otávio Zamberlan, Camila Coletto, Paulo Dabdab Waquil e Hélio Henkin

Gestão & Regionalidade - Vol. 26 - Nº 78 - set-dez/2010

que indica a existência de produtores específicospara determinada variedade de arroz e que fazema entrega do produto a granel e com casca, aindaúmido (proveniente da lavoura). Isso pressupõe, porser um nicho, uma restrição de quantidade, o quedemanda o controle do quanto os produtores dessavariedade irão produzir na lavoura, fato evidentena seguinte colocação: “Se tu produzires demais,se eu mandar o produtor produzir demais o arrozjaponês, vai sobrar. Aí, poxa! Como é que eu voufazer o cara produzir demais, aí ele vai querer mevender e eu não tenho pra quem vender. Então,tenho que ter esse controle também”.

Quando verificada a participação de entidadesexternas (Irga – Instituto Rio-Grandense do Arroz;Sindiarroz – Sindicato das Indústrias de Arroz; Embra-pa – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária;universidades...) nas inovações de processos, foiconstatado que essa não ocorreu, a categoria denegação foi evidenciada na aparição do léxico “não”em seis ocasiões dentro do texto de resposta, o quefica claro nas seguintes colocações: “Tchê! A gente[pausa]... eu não cheguei a buscar [...]”. “[...] nãochegou a partir deles me trazerem projetos, tudo foicoisa minha. Eu olhando o mercado”.

Nota-se que não houve participação de entida-des externas, mas que poderia ter ocorrido, pois,ao se observar a primeira colocação, não houveaproximação da empresa com essas instituições. Aparticipação de entidades externas no processo deinovação pode facilitar o mesmo, além de auxiliarno processo de aprendizagem, pois cria uma redesocial que tem como base essa finalidade.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este artigo teve como objetivo de analisar aatuação de uma indústria de beneficiamento dearroz que não possui base em escala de produçãopara manter-se no mercado com foco em inovaçõesde processos. Para este fim, utilizou-se de estudo decaso na agroindústria Amauri Guidolin e Cia. Ltda.com análises qualitativas baseadas na avaliação deconteúdo por aproximação lexical seletiva, auxiliada

pelo programa computacional de análise textualSphinx Plus 4.5. Concluiu-se que existe a possibilidadede competir no mercado orizícola, setor industrialde beneficiamento, tendo baixa escala de produção,mas é necessário realizar inovações, conformedestaca a teoria econômica evolucionária.

O presente estudo deu enfoque às atividadesrelacionadas com inovação em processos e foiconstatado que a empresa consegue competir emum mercado que tende à concentração porque éinovadora. No entanto, a inovação depende muitodo conhecimento de mercado, para que seja possívelidentificar produtos específicos a determinadopúblico e adaptar a empresa às características doproduto identificado. A inovação em processos éessencial para que a empresa consiga se adaptaraos mercados e aos novos produtos a eles destinados.

Observou-se, neste estudo, que muitas inovaçõesem processos foram impulsionadas pelas caracte-rísticas de um produto desenvolvido para um nichoespecífico de mercado. Além disso, muitas dessasinovações ocorreram em virtude do conhecimentodesenvolvido no setor de produção e pela partici-pação de funcionários em seu desenvolvimento.

Outro fator importante verificado no estudo foi aintegração da cadeia produtiva, principalmente nosetor “dentro da porteira” para garantia de abas-tecimento de matéria-prima. Um produto de nichogeralmente deve ter seu fornecimento de matéria-prima controlado, para que nem a indústria percaem não ter produto para vender, ou mesmo ter pro-duto em demasia, nem o produtor desperdicerecursos ao se esforçar para produzir muito sem quea indústria possa garantir a compra, em virtude domercado reduzido para vender o produtobeneficiado.

Então, fica evidente, por este estudo, que a em-presa se mantém e compete no mercado com baixaescala de produção pela sua capacidade de inovar,que é baseada em uma estratégia competitivaidealizada desde o início das suas atividades, e queas inovações em processos foram, em sua maiorparte, necessárias em virtude dos produtos desti-nados a nichos específicos.

Page 16: ÇÃO E DIFERENCIAÇÃO COMO · PDF file37 Carlos Otávio Zamberlan, Camila Coletto, Paulo Dabdab Waquil e Hélio Henkin Gestão & Regionalidade - Vol. 26 - Nº 78 - set-dez/2010 ABSTRACT

50 Gestão & Regionalidade - Vol. 26 - Nº 78 - set-dez/2010

INOVAÇÃO E DIFERENCIAÇÃO COMO ESTRATÉGIA COMPETITIVA NA INDÚSTRIA GAÚCHADE BENEFICIAMENTO DE ARROZ: UM ESTUDO DE CASO EMPRESARIAL

ALBAGLI, Sarita & BRITO, Jorge (orgs.). Glossário dearranjos e sistemas produtivos e inovativos locais.Rio de Janeiro: UFRJ/Redesist/Sebrae, 2003.

ALBINO, Vito; GARAVELLI, A. Claudio & SCHIUMA, Gio-vanni. Knowledge transfer and inter-firm rela-tionships in industrial districts: the role of leaderfirm. Technovation, v. 19, n. 1, p. 53-63, Novem-ber, 1998.

ARAÚJO, Massilon J. Fundamentos de agronegócios.2. ed. São Paulo: Atlas, 2005.

ARAGRANDE, Maurizio. Les approches disciplinairesde l’analyse des Sada. Dakar: FAO, 1997. Collec-tion “Aliments dans les villes”.

CAMPOS, Renato R.; CÁRIO, Sílvio Antônio F.; NICOLAU,José Antônio & VARGAS, Geraldo T. Aprendizagempor interação: pequenas empresas em sistemasprodutivos e inovativos locais. Neitec – Núcleo deEconomia Industrial e da Tecnologia, da Universi-dade Federal de Santa Catarina, agosto, 2004.Disponível em: <http://www.ie.ufrj.br/redesist/Semi/slides/Renato%20Campos.ppt>. Acesso em:julho de 2005.

CASSIOLATO, José Eduardo; BRITTO, José Nogueira deP. & VARGAS, Marco A. Arranjos cooperativos einovação na indústria brasileira. In: DE NEGRI, JoãoAlberto & SALERMO, Mario Sérgio (orgs.). Inovações,padrões tecnológicos e desempenho das firmasindustriais brasileiras. Brasília: Ipea, 2005.

CASTRO, Emílio da M. de; VIEIRA, Noris Regina de A.;RABELO, Raimundo Ricardo & SILVA, Sílvio Afonso da.Qualidade de grãos em arroz. Santo Antônio deGoiás: Embrapa Arroz e Feijão, 1999.

CORIAT, Benjamin & DOSI, Giovanni. The nature andaccumulation of organizational competences/ca-pabilities. Revista Brasileira de Inovação, v. 1, n.2, p. 275-326, Campinas, julho/dezembro, 2002.

EBNER, Alexander. Schumpeterian theory and thesources of economic development: endogenous,evolutionary or entrepreneurial? In: THE EIGHTH

INTERNATIONAL JOSEPH A. SCHUMPETER SOCIETY CONFERENCE.Manchester: Joseph Schumpeter Society, 2000.

FERREIRA, Carlos M.; PINHEIRO, Beatriz da S.; SOUSA,Ivan Sérgio F. de & MORAIS, Orlando P. de. Quali-

dade do arroz no Brasil: evolução e padronização.Santo Antônio de Goiás: Embrapa Arroz e Feijão,2005.

FLEURY, Afonso & FLEURY, Maria Tereza L. Estratégiasempresariais e formação de competências: umquebra-cabeça caleidoscópio da indústriabrasileira. São Paulo: Atlas, 2000.

FREITAS, Henrique M. R. de; CUNHA JÚNIOR, Marcus V.M. da & MOSCAROLA, Jean. Pelo resgate de algunsprincípios da análise de conteúdo: aplicação práti-ca qualitativa em marketing. In: XX ENCONTRO DAASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EMADMINISTRAÇÃO – ENANPAD. Anais... Angra dos Reis:Anpad, 1996. p. 467-487.

FREITAS, Henrique M. R. de & MOSCAROLA, Jean.Gestão da informação – da observação à decisão:métodos de pesquisa e de análise quantitativa equalitativa de dados. RAE Eletrônica, v. 1, n. 1,São Paulo, janeiro/junho, 2002.

GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pes-quisa social. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1999.

GONÇALVES, Reinaldo. Uma nota introdutória aoartigo “A instabilidade do capitalismo”, de JosephSchumpeter. Literatura econômica, v. 6, n. 2, p.143-152, Brasília, 1984.

HAIR JR., Joseph F.; BABIN, Barry; SAMOUEL, Phillip &MONEY, Arthur. Fundamentos de métodos de pes-quisa em administração. Tradução de Lene BelonRibeiro. Porto Alegre: Bookman, 2005.

LAGO, Adriano; CORONEL, Daniel Arruda; LENGLER,Letícia; SILVA, Tânia Nunes da & OLIVEIRA, CarolinaBalbé de. O setor orizícola brasileiro e gaúcho:desafios, oportunidades e estratégias frente a cri-se atual. Cadernos de Economia, Unochapecó, ano11, n. 20, p. 7-26, Chapecó, janeiro/junho, 2007.

MIRANDA, Sílvia Helena G. de; SILVA, Gustavo S. e;MOTTA, Maria Aparecida S. B. & ESPOSITO, Hirina. Osistema agroindustrial do arroz no Rio Grande doSul. In: XLV CONGRESSO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DEECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO E SOCIOLOGIA RURAL – SOBER.Anais... Londrina: Sober, 2007.

MIRITZ, Luciane D. Diferenciação e diversificaçãona agroindústria arrozeira do Rio Grande do Sul.

REFERÊNCIAS

Page 17: ÇÃO E DIFERENCIAÇÃO COMO · PDF file37 Carlos Otávio Zamberlan, Camila Coletto, Paulo Dabdab Waquil e Hélio Henkin Gestão & Regionalidade - Vol. 26 - Nº 78 - set-dez/2010 ABSTRACT

51

Carlos Otávio Zamberlan, Camila Coletto, Paulo Dabdab Waquil e Hélio Henkin

Gestão & Regionalidade - Vol. 26 - Nº 78 - set-dez/2010

2007. Dissertação (Mestrado em Agronegócios)– Universidade Federal do Rio Grande do Sul.Porto Alegre: UFRGS.

PINTEC – PESQUISA DE INOVAÇÃO TECNOLÓGICA. Pintec2008: instruções para o preenchimento dos ques-tionários. Rio de Janeiro: IBGE, 2009. Disponívelem: <http://www.pintec.ibge.gov.br/>. Acessoem: 11 de julho de 2010.

POSSAS, Mário Luiz. Concorrência schumpeteriana.In: KUPFER, David & HASENCLEVER, Lia (orgs.). Eco-nomia industrial: fundamentos teóricos e práticosno Brasil. 3ª reimpressão. Rio de Janeiro: Elsevier,2002.

SCHUMPETER, Joseph A. Teoria do desenvolvimentoeconômico: uma investigação sobre lucros, capi-tal, crédito, juros e o ciclo econômico. Introduçãode Rubens Vaz da Costa; tradução de Maria SílviaPossas. São Paulo: Abril Cultural, 1982. Coleção“Os economistas”.

SENGE, Peter M. A quinta disciplina: arte e práticada organização que aprende. Tradução de OPTraduções. São Paulo: Best Seller, 1990.

SILVERMAN, David. Interpretação de dados qualita-tivos: métodos para análise de entrevistas, textose interações. Tradução de Magda França Lopes.3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2009.

TEECE, David J. As aptidões das empresas e odesenvolvimento econômico: implicações para aseconomias de industrialização recente. In: KIM,Linsu & NELSON, Richard (orgs.). Tecnologia, apren-dizado e inovação: as experiências das economiasde industrialização recente. Traducão de CarlosSzlak. Campinas: Unicamp, 2005.

TETHER, Bruce S. What is innovation? Approachesto distinguishing new product and processes fromexisting products and processes. Cric Workingpaper, n. 12, agosto, 2003.

TIGRE, Paulo B. Gestão da inovação: a economia datecnologia no Brasil. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006.

ZYLBERSZTAJN, Decio Conceitos gerais, evolução eapresentação do sistema agroindustrial. In: ZYL-BERSZTAJN, Decio & NEVES, Marcos F. Economia e ges-tão dos negócios agroalimentares. São Paulo: Pio-neira, 2000.

REFERÊNCIAS