superficial: epidemiologia, fisiopatologia
date post
10-Jan-2017Category
Documents
view
225download
3
Embed Size (px)
Transcript of superficial: epidemiologia, fisiopatologia
Jornal Vascular Brasileiro
ISSN: 1677-5449
Sociedade Brasileira de Angiologia e de
Cirurgia Vascular
Brasil
Lima Sobreira, Marcone; Bonneti Yoshida, Winston; Lastria, Sidnei
Tromboflebite superficial: epidemiologia, fisiopatologia, diagnstico e tratamento
Jornal Vascular Brasileiro, vol. 7, nm. 2, junio, 2008, pp. 131-143
Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular
So Paulo, Brasil
Disponvel em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=245016526007
Como citar este artigo
Nmero completo
Mais artigos
Home da revista no Redalyc
Sistema de Informao Cientfica
Rede de Revistas Cientficas da Amrica Latina, Caribe , Espanha e Portugal
Projeto acadmico sem fins lucrativos desenvolvido no mbito da iniciativa Acesso Aberto
http://www.redalyc.org/revista.oa?id=2450http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=245016526007http://www.redalyc.org/comocitar.oa?id=245016526007http://www.redalyc.org/fasciculo.oa?id=2450&numero=16526http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=245016526007http://www.redalyc.org/revista.oa?id=2450http://www.redalyc.org
ARTIGO DE REVISO
Tromboflebite superficial: epidemiologia,fisiopatologia, diagnstico e tratamento
Superficial thrombophlebitis: epidemiology, physiopathology,diagnosis and treatment
Marcone Lima Sobreira1, Winston Bonneti Yoshida2, Sidnei Lastria3
ResumoA tromboflebite superficial de membros inferiores doena de
ocorrncia comum, estando associada a diversas condies clnicas ecirrgicas. Historicamente considerada doena benigna, devido sualocalizao superficial e ao fcil diagnstico, o tratamento foiconservador durante muito tempo, na maioria dos casos. Entretanto,relatos recentes de freqncias altas de complicaes tromboemblicasassociadas 22 a 37% para trombose venosa profunda e at 33% paraembolia pulmonar alertaram para a necessidade de abordagensdiagnsticas e teraputicas mais amplas, visando diagnosticar e trataressas possveis complicaes. A possibilidade da coexistncia dessas ede outras desordens sistmicas (colagenoses, neoplasias, trombofilias)interfere na avaliao e influencia a conduta teraputica, que pode serclnica, cirrgica ou combinada. No entanto, devido falta de ensaiosclnicos controlados e s incertezas quanto a sua histria natural, odiagnstico e o tratamento da tromboflebite superficial continuamindefinidos. Neste trabalho, foi feita uma reviso da literaturaanalisando-se a epidemiologia, fisiopatologia e estado atual dodiagnstico e tratamento da tromboflebite superficial.
Palavras-chave: Embolia pulmonar, profilaxia, tromboflebite,tromboflebite superficial, trombose venosa profunda.
AbstractSuperficial thrombophlebitis of the lower limbs is a commonly
occurring disease, and it is associated with various clinical and surgicalconditions. Historically considered to be a benign disease due to itssuperficial location and easy diagnosis, its treatment was, for a longtime, conservative in most cases. Nevertheless, recent reports of highfrequency and associated thromboembolic complications, which varyfrom 22 to 37% for deep venous thrombosis and up to 33% forpulmonary embolism, have indicated the need for broader diagnosticand therapeutic approaches in order to diagnose and treat such possiblecomplications. The possibility of coexistence of these and othersystemic disorders (collagenosis, neoplasia, thrombophilia) interfereswith evaluation and influences therapeutic conduct, which may beclinical, surgical or combined. However, due to a lack of controlledclinical assays as well as to a series of uncertainties regarding its naturalhistory, the diagnosis and treatment of superficial thrombophlebitisremain undefined. A literature review was performed analyzing theepidemiology, physiopathology and current status of the diagnosis andtreatment of superficial thrombophlebitis.
Keywords: Pulmonary embolism, prevention and control,thrombophlebitis, superficial thrombophlebitis, deep venousthrombosis.
Introduo
A tromboflebite superficial (TS), tambm chamada
de trombose venosa superficial, uma condio patol-
gica caracterizada pela presena de um trombo na luz
de uma veia superficial, acompanhada pela reao infla-
matria da sua parede e dos tecidos adjacentes.
Apresenta-se como um cordo palpvel, quente, dolo-
roso e hiperemiado no curso de uma veia superficial1. A
amplitude dessa trombose varivel, atingindo desde
pequenas tributrias at grande extenso dos troncos
safenos nos membros inferiores, podendo, em casos mais
graves, estender-se ao sistema venoso profundo (SVP)2-4;
pode tambm provocar embolia pulmonar2,5, e h ind-
cios de que esteja relacionada com a recorrncia de epi-
sdios de tromboembolismo venoso6.
A incidncia da TS varia de 125.000 casos/ano (EUA)
a 253.000 casos/ano (Frana), sendo mais freqente
quando se utilizam mtodos diagnsticos mais acura-
dos, como o mapeamento dplex (MD)7,8. Em nosso
meio, Von Ristow et al., em levantamento retrospectivo
de pacientes submetidos a cirurgia de varizes, encontra-
ram sinais de tromboflebite pregressa em 16% dos casos9.
1 . Mdico assistente. Doutor, Disciplina de Cirurgia Vascular, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Botucatu, SP.2 . Professor livre-docente, Disciplina de Cirurgia Vascular, UNESP, Botucatu, SP.3 . Professor assistente, Doutor, Disciplina de Cirurgia Vascular, UNESP, Botucatu, SP.
No foram declarados conflitos de interesse associados publicao deste artigo.
Artigo submetido em 08.11.07, aceito em 24.03.08.
J Vasc Bras. 2008;7(2):131-143.Copyright 2008 by Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular
131
Fisiopatologia
A fisiopatologia da TS, semelhana da trombose
venosa profunda (TVP), tambm tem relao com a tr-
ade de Virchow (1856). A TS ocorre mais freqente-
mente em veias varicosas, pois estas podem apresentar
alteraes morfolgicas na sua parede que predispem
estase e, conseqentemente, ao desenvolvimento do
processo trombtico10. Um grande nmero de casos de
TS ocorre aps leso intimal qumica, por injees ou
infuses intravenosas de diferentes solues, com obje-
tivos diagnsticos ou teraputicos, e/ou mecnicas,
como, por exemplo, cateterismo venoso. A TS pode ser
prodrmica de vrias doenas sistmicas conhecidas,
como neoplasias, arteriopatias e colagenoses11-13, e, tam-
bm, acompanhar uma srie de outras doenas e sndro-
mes, a saber:
- Sndrome de Trousseau: caracterizada por episdios
de tromboflebite migratria superficial recorrente com
comprometimento de veias, tanto em membros supe-
riores quanto em membros inferiores, associados a
adenocarcinomas do trato gastrointestinal produto-
res de mucina (estmago, pncreas e clon), pulmo,
mama, ovrio e prstata14.
- Doena de Mondor: tromboflebite de ocorrncia rara,
aparecendo mais freqentemente na populao femi-
nina e comprometendo as veias da parede ntero-
lateral do trax. Na maioria das vezes, a sua etiologia
desconhecida. Em alguns casos, encontra-se asso-
ciada a traumas locais, uso de anticoncepcionais orais,
deficincia de protena C e presena de anticorpos
anticardiolipina15. Farrow et al. observaram associa-
o com neoplasias de mama16.
- Sndrome de Lemierre: descrita pela primeira vez em
1936, caracteriza-se pela tromboflebite sptica da veia
jugular interna concomitante infeco da orofa-
ringe, podendo evoluir com metstases, principal-
mente para territrio pulmonar, mas tambm fgado
e bao. Outras causas relacionadas ao seu apareci-
mento so: cateterismo venoso central e infeco de
outros stios cervicais17,18. O agente etiolgico mais
prevalente o germe anaerbio gram-negativo Fuso-
bacterium necrophorum19.
- Doena de Buerger (Tromboangete obliterante): neste
caso, a TS apresenta carter migratrio e pode prece-
der ou ser concomitante ao comprometimento arte-
rial20. A sua presena refora o diagnstico de doena
de Buerger.
Patologia
Do ponto de vista histopatolgico, a veia e o trombo
na TS apresentam, na sua fase inicial, predominncia
de infiltrado leucocitrio (flogstico) (Figura 1 lmina
HP), e este processo inflamatrio propaga-se para teci-
dos vizinhos, em especial pele e tecido celular subcut-
neo, explicando, assim, a caracterizao do seu quadro
clnico, como tambm a menor friabilidade e maior con-
sistncia do trombo21.
Aspectos topogrficos
Em geral, o membro inferior esquerdo (MIE) parece
ser mais acometido que o membro inferior direito
(MID). As veias dos membros superiores tambm so
acometidas com freqncia, como complicao de cate-
terismo venoso, sendo encontradas em at 51,5% dos
casos em levantamento realizado na nossa instituio22
e sendo as veias ceflica e baslica as mais acometidas23.
Em levantamento retrospectivo, realizado por Lut-
ter et al., de 1.143 MD confirmatrios para TS, 56%
ocorreram no MIE, enquanto que 51%, no MID. Entre-
tanto, essa diferena no foi significativa24. Gillet et al.,
em estudo prospectivo com 100 pacientes, observaram
Figura 1 - Corte histolgico de veia trombosada aps indu-o qumica de tromboflebite superficial(observa-se acmulo de leuccitos)
132 J Vasc Bras 2008, Vol. 7, N 2 Tromboflebite superficial Sobreira ML et al.
que o MIE estava comprometido em 50% dos casos,
enquanto que o MID, em 49%, e em 1% houve compro-
metimento bilateral. Nesse mesmo estudo, o territrio
da veia safena magna (VSM) foi o mai