REDEFININDO A DIPLOMACIA NUM MUNDO EM …

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REDEFININDO A DIPLOMACIA NUM MUNDO EM TRANSFORMAÇÃO- 5° ENCONTRO NACIONAL ABRI 31/07/2015- Belo Horizonte Análise de Política Externa DIPLOMACIA PÚBLICA E MÍDIA – UM PANORAMA COMPARATIVO DOS GOVERNOS LULA (2003-2010) E O GOVERNO DILMA (2011-2014) A PARTIR DA ANÁLISE DE CONTEÚDO DE DISCURSOS OFICIAIS DE POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA. Pablo Victor Fontes Santos (UERJ), Alana Camoça Gonçalves de Oliveira (UFRJ)

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REDEFININDO A DIPLOMACIA NUM MUNDO EM TRANSFORMAÇÃO- 5°

ENCONTRO NACIONAL ABRI

 

31/07/2015- Belo Horizonte

Análise de Política Externa

DIPLOMACIA PÚBLICA E MÍDIA – UM PANORAMA COMPARATIVO DOS

GOVERNOS LULA (2003-2010) E O GOVERNO DILMA (2011-2014) A PARTIR DA

ANÁLISE DE CONTEÚDO DE DISCURSOS OFICIAIS DE POLÍTICA EXTERNA

BRASILEIRA.

Pablo Victor Fontes Santos (UERJ), Alana Camoça Gonçalves de Oliveira (UFRJ)

Artigo: Diplomacia Pública e Mídia – um panorama comparativo dos Governos Lula

(2003-2010) e o Governo Dilma (2011-2014) a partir da Análise de conteúdo de

discurso da Política Externa Brasileira.

FONTES, Pablo1

OLIVEIRA, Alana2

RESUMO: O artigo visa ponderar as mudanças observadas nas agendas da Política

Externa Brasileira, mais particularmente no que diz respeito aos atores domésticos e

ao redimensionamento do papel do Ministério das Relações Exteriores. Nesse sentido,

o artigo analisa principalmente a questão da mídia como um novo ator da Política

Externa Brasileira, entender seus repertórios, discursos e interesses, buscando para

isso um arcabouço teórico com referências aos autores que estudam a relação entre a

mídia e a diplomacia pública pautada pelos presidentes da república Lula (2003-2010)

e Dilma (2011-2014). A metodologia utilizada nesse trabalho é a análise do conteúdo

do discurso com o auxílio do software Nvivo.

PALAVRAS- CHAVES: Política Externa Brasileira, Diplomacia Pública, Mídia e

Análise de Conteúdo do discurso.

INTRODUÇÃO:

O presente artigo busca pela compreensão da Política Externa Brasileira como

política pública e a perspectiva da mídia como ator. Assim sendo, o conceito de

diplomacia pública e a importância da mídia são tratados como artifícios

comunicacionais usados para a promoção de diálogo e maior inserção dentro do

panorama do sistema internacional. Como afirma Bizaria, (2012, p.3) o conceito de

diplomacia pública apresenta dois significados complementares. Num primeiro

momento busca contrapor à prática da diplomacia em segredo, comum entre os

Estados que vigorou até o início da década de 1920 do século XX. Assim sendo, a

compreensão da diplomacia pública vincula-se à tentativa da condução mais

transparente dos assuntos estratégicos internacionais entre os Estados. Outra

interpretação do conceito é entendida atualmente como uma prática majoritariamente

privada levada a cabo por meio da realização de programas que objetivam informar ou

influir a opinião pública de outros países.

                                                                                                                         1Mestrando pelo Programa de Relações Internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (PPGRI/UERJ). Bacharel em Comunicação Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Bacharel em Jornalismo pela Universidade Federal de Sergipe (UFS) e Membro do Laboratório de Análise de Política Mundial- Labmundo (IESP/UERJ). E-mail: [email protected] 2Mestranda pelo Programa de Economia Política Internacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PEPI/UFRJ), Membro do GRISUL da Unirio e Membro do Laboratório de Análise de Política Mundial- Labmundo (IESP/UERJ). E-mail: [email protected]  

Para Almeida (2003, p.2), a diplomacia pública visa à construção de uma

imagem e divulgação dessa imagem, construção de um discurso e divulgação desse

discurso, de acordo com as regras da comunicação; da valorização dos aspectos

simbólicos e do seu impacto, da simplificação da mensagem, da penetração desta e

da sua aceitação e internacionalização, os quais são elementos obrigatórios do novo

discurso político de mobilização, normalizado, repetitivo, sugestivo e apelativo. Neste

sentido, a globalização e o poder de informação, como pontuam Almeida (2003) e

Traquina (2005), proporcionado pelas novas tecnologias, a palavra e a imagem, como

instrumentos de divulgação e de promoção, estão intrinsecamente associadas ao

discurso político, seja ele do poder ou do contra poder. Ainda de acordo com Almeida

(2003), o discurso é uma ferramenta utilizada como exercício da diplomacia pública já

que a mesma aborda "construir" e o "vender” uma imagem positiva ao alcance de um

novo "produto" que neste caso é o Estado.

Assim sendo, o Itamaraty utiliza como uma de suas ferramentas da diplomacia

pública o uso de plataformas midiáticas, principalmente redes sociais como Youtube,

página no Facebook e por meio do seu sítio eletrônico3 ponderando um diálogo junto

com a sociedade brasileira, divulgando não apenas a agenda do ministro, mas

também inserindo junto ao site da instituição os discursos proferidos nos Fóruns

Internacionais dos quais participa. Do mesmo modo, o MRE promove o diálogo à

medida que, engendra um blog como ferramenta de conversar e esclarecer dúvidas.

O artigo num primeiro momento irá traçar uma breve análise sobre a Política

Externa Brasileira dos Governos Lula (2003-2010) e Dilma (2011-2014) tendo em vista

a perspectiva da chamada diplomacia altiva e ativa. Em seguida, arrazoará sobre a

dinâmica do que Milani e Pinheiro (2012) colocam como as mudanças observadas nas

agendas da Política Externa Brasileira, mais particularmente no que diz respeito aos

atores domésticos e ao redimensionamento do papel do Ministério das Relações

Exteriores, enxergando a mídia como um ator que utiliza o diálogo e inserção junto ao

sistema internacional. Por fim, o artigo pondera a relação entre a política externa

brasileira, a mídia e a análise do conteúdo dos discursos oficiais dos presidentes da

república. Isto é, a promoção e transformação dos sentidos que os discursos

proferidos fazem da sociedade brasileira e internacional.

POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA: A MÍDIA COMO ATOR

Quando a política externa segue a lógica de ser apenas uma política de

Estado, assumindo uma interpretação mais ortodoxa do texto constitucional, ela

corrobora por fortalecer o insulamento burocrático do Ministério das Relações

                                                                                                                         3Ver em http://www.itamaraty.gov.br/sala-de-imprensa

Exteriores (MRE). Todavia, quando a política externa é tratada como política pública,

permite abrir portas, realizar diálogos, promover debates. Na perspectiva de Marchetti

(2014) durante os governos Lula (2003-2010) se buscou modificar a atitude da política

externa brasileira de modo a torná-la mais altiva e ativa. O sentido da palavra altiva

retrata a não submissão aos ditames de outras potências, por mais que sejam mais

poderosas que a nação brasileira, ou seja, o Brasil apresenta plena capacidade de

defender seus objetivos e lutar pelos mesmos. Em suma, a diplomacia altiva e ativa

contrapunha qualquer visão que trouxesse um entendimento excessivamente

domesticado e auto-domesticável na política externa, ou seja, tomar decisões

independentes. E também tomar iniciativas nas agendas que estão ditadas, buscando

modificá-las quando necessário e preciso, mas também criar novas agendas.

Autores como Putnam (2011); Milani e Pinheiro (2013); compreendem uma

nova configuração na política externa brasileira a partir de parâmetros que possam

trazer novos atores para a formulação da política externa, buscando mecanismos de

maior participação e interação. Assim sendo, é necessário abrir a caixa preta, ou seja,

fazer com que a política externa deixe de ser apresentada como uma área isolada das

demais, mas perceber que fatos domésticos influenciam e refletem na forma de

conduzir uma determinada nação. Isto é, desvincular a política externa dos fins de

teoria realista ou neorealista. Esse diagnóstico complexo e paradoxal decorre da constatação de que as

relações internacionais, na atualidade, não apenas englobam leque mais amplo

de questões (meio ambiente, direitos humanos, migrações, pobreza,

internacionalização da educação, da saúde e da cultura, cooperação para o

desenvolvimento etc.) que demandam conhecimentos e expertises particulares,

como também implicam, de forma cada vez mais densa e institucionalizada,

uma diversidade de atores agora envolvidos em inúmeros assuntos

internacionais. (MILANI e PINHEIRO, 2013, p.5)

Ainda de acordo com Milani e Pinheiro (2012); (2013), há uma relação entre

Estado e governo no sentido do governo ser uma instituição do Estado que promove

políticas públicas. Nessa promoção não apenas o Itamaraty, mas também outros

órgãos como o Poder Judiciário, Ministério da Cultura implicam na participação

exercendo influência sobre o conteúdo da política a qual está sendo produzida. Esse

rompimento junto à agenda do Ministério das Relações Exteriores flexiona os fins para

os quais outros ministérios possam colaborar, perante suas unidades subnacionais.

Nesse sentido, o MRE por meio do seu sítio eletrônico e diante das redes

sociais, num mundo cada vez mais conectado e globalizado utiliza as ferramentas

como Twitter e Facebook (página) como forma de diálogo e maior participação da

sociedade civil diante do tema da política externa brasileira. Isto é, os meios de

comunicação passam a ser significativos em assuntos onde o interesse estatal esteja

presente, levando os pesquisadores a compreender os reais efeitos que a mídia pode

promover na política externa, na opinião pública e na própria realidade internacional.

Diplomacia Pública e Mídia

O Itamaraty percebendo esse mecanismo tecnológico-midiático o utiliza para o

que se convencionou chamar de diplomacia pública. Segundo Almeida (2003, p.3), o

conceito de diplomacia pública reside na pretensão de construir e divulgar,

publicamente, uma imagem do país de modo positivo, de promover um conjunto de

valores, justificando uma determinada ação de induzir a comunidade internacional

para a aceitação pacífica de uma dada intervenção, e de angariar um capital de

simpatia suscetível, de dar eficácia à política externa delineada.

Durante, o ano de 2009, o Itamaraty criou um perfil institucional no canal do

Youtube, como meio de divulgação de entrevistas do Ministro das Relações

Exteriores, embaixadores, diplomatas e declarações oficiais. No mesmo ano, o

Ministério criou um álbum no Flickr com o intuito de publicar fotos oficiais do MRE e

ainda criou um perfil no Twitter como mecanismo de divulgação de links para notas à

imprensa tanto internacional quanto nacional. Percebendo a importância das mídias

sociais, no ano de 2010, o Itamaraty investiu ainda mais nesta interface, criou uma

página institucional no Facebook, além do microblog intitulado “Diplomacia Pública”

por meio de sua página oficial, combinado com um serviço de feed RSS, ou seja, os

internautas têm acesso direto ao conteúdo de notícias oficiais do Ministério. Além

disso, cerca de 70% dos postos no exterior utilizam as mídias sociais e

aproximadamente 90% dos postos pontuam uma imagem positiva do Itamaraty via

redes sociais4.

De acordo com Gilboa (2001), a diplomacia pública é um mecanismo que traz

novas regras e uma infinidade de implicações entre os governos e o grande público.

Para tanto, a diplomacia segundo o autor é segregada em três postulados: a

diplomacia pública, a diplomacia na mídia e a diplomacia pela mídia. A diplomacia

pública é a construção da imagem feita de um país junto ao exterior por meio de

comunicação direta com governos e indivíduos locais disseminando o pensamento e a

cultura local por meio de intercâmbios culturais. Ainda segundo Gilboa (2001), existe

na atualidade um novo tipo de diplomacia que a difere da pública, a chamada

diplomacia midiática cuja sociedade de informação age de modo que as influências de

conglomerados comunicacionais atuem nas negociações internacionais.

                                                                                                                         4   Fonte dos dados: Revista JUCA- Diplomacia e Humanidades, N°7, ano de 2014. Acessado em 20/05/2015. Link:http://sistemas.mre.gov.br/kitweb/datafiles/IRBr/pt-br/file/JUCA/Juca%207/juca_07_completa_web.pdf

Para Nascimento (2012, p.20), uma perspectiva construída pela diplomacia é a

influência que se porta junto às agendas dos canais de informações, a capacidade de

aumentar a visibilidade e melhorar a visão que se tem do país, como por exemplo, os

Jogos Olímpicos de 2016 e a Copa do Mundo de Futebol em junho de 2014. De

acordo com o pensamento de Nye (2012), compreende-se que a mídia como Soft

Power5 somada ao Hard Power gera o Smart Power6, ou seja, as duas vertentes

unidas e sinérgicas reverberam em um mecanismo de alto calibre de estruturação no

sistema internacional. Durante os governos Lula essa perspectiva foi muito utilizada

como mecanismo para retratar e impulsionar ganhos em solos internacionais. A

propaganda, nesse sentido, funcionou como força motriz.

Buryte (2013) assinala que durante o governo Lula foi tramitada uma forma de

integração junto aos órgãos do poder executivo a guisa de superar a fragmentação do

governo e agregando estruturas regionais, buscando, nesse sentido, as prioridades

junto à política externa. Mediante sua página na internet, o Itamaraty passou a divulgar

informações sobre a PEB,organizando e distribuiindo junto aos veículos de

comunicação os press release, do mesmo modo, promover diálogos feitos pelo MRE

como mecanismo de maior transparência. Ainda de acordo com Buryte (2013), o

governo Lula possibilitou junto a PEB e sua relação com a mídia um tratamento

diferenciado tendo em vista que, o governo passou a disponibilizar um tratamento

direto para com os correspondentes internacionais, inúmeras entrevistas concedidas

junto aos seus ministros além do próprio presidente.

Dito isto, uma forma de entendimento sobre o papel da mídia na política

externa e suas reflexões junto à diplomacia pública se dá doravante a perspectiva da

análise de conteúdo de discurso, visto que o estudo do discurso proporciona segundo

Grave (2013) um sistema de significação no qual o discurso é entendido como uma

estrutura que possibilita as pessoas não apenas identificarem e diferenciarem as

coisas, mas também um plano de fundo para as práticas discursivas.

Alguns dados elaborados por Milani; Echart; Duarte; Klein (2014) exemplificam

o quanto a diplomacia pública ganhou amplitude não apenas no cenário doméstico,

como também no cenário internacional. Na perspectiva da diplomacia pública

                                                                                                                         5Joseph Nye cunhou o termo "poder brando" no final de 1980. Agora, é usado com freqüência e muitas vezes de forma incorreta pelos líderes políticos, editorialistas e acadêmicos de todo o mundo. Soft power reside na capacidade de atrair e convencer, influenciando indiretamente o comportamento de outros Estados através dos meios culturais e ideológicos, conquistando seu objetivo através dos meios diplomáticos, culturais e ideológicos. 6Smart Power (Poder inteligente), é um termo nas Relações Internacionais definido por Joseph Nye como "a capacidade de combinar Hard e Soft power em uma estratégia vencedora".1 De acordo com Chester Crocker & Osler Hampson & Aall (2007), o smartpower "envolve o uso estratégico da diplomacia, persuasão, capacitação, projeção de poder e influência de modo que seja rentável e legitima como políticas sociais".  

realizada pelo Itamaraty tendo em vista o uso de mecanismos e ferramentas

comunicacionais, os gráficos abaixo relacionam um panorama não apenas do Brasil,

mas também de outras nações que realizam a mesma conjuntura.

Gráfico 1 : Diplomacia pública na internet

Fonte: Atlas da Política Externa Brasileira, 2014; p.60

ANÁLISE DE CONTEÚDO DE DISCURSO A PARTIR DA DIPLOMACIA PÚBLICA

DOS PRESIDENTES DA REPÚBLICA: LULA (2003-2010) E DILMA (2011-2014)

O objetivo principal deste trabalho não é apenas retratar um viés histórico da

política externa brasileira, suas transformações ao longo do tempo, como também

pontuar uma inserção e também transformação do Itamaraty, principalmente diante do

uso de plataformas digitais como mecanismo de diálogo e como forma de pontuar e

asseverar através dos seus discursos o seu posicionamento diante da política externa

e da política internacional. Na visão de Bardin (2011), o entendimento da análise de

conteúdo de discurso parte de uma abordagem investigativa e descritiva do conteúdo

das mensagens, a qual não negligencia as influências socioespaciais e o contexto

econômico, social, cultural e político no qual determinado discurso se insere, mas

também não negligencia a própria capacidade de influência do olhar do pesquisador

sobre este processo.

Ainda segundo a autora, a análise de conteúdo de discurso é desempenhada

por meio de três fases diferentes: a pré-análise, que corresponde a organização do

material, como a escolha dos documentos e do objetivo; a exploração do material que

representa a fase mais longa e complexa com a classificação e codificação das fontes;

e o tratamento dos resultados, por meio da dedução e da interpretação dos dados. Isto

é, a intenção da análise é realizar deduções lógicas, transformando o conteúdo dos

discursos em dados quantitativos e/ou analisando-os de forma qualitativa. Foi com

este intuito que nasceu o projeto Análise de Conteúdo de Discurso do Laboratório de

Análise Política Mundial (LABMUNDO-antena Rio) no ano de 2012.

Na busca por um panorama tanto dos governos Lula (2003-2010) quanto do

governo Dilma (2011-2014), foi utilizado o software NVivo10 como ferramenta de

análise quantitativa do conteúdo dos discursos, como por exemplo, quantificar as

palavras e termos que mais se propagam nos discursos dos governantes. Como

abordam Vilela e Neiva (2011), os programas de codificação de texto, somados a

abordagem qualitativa e quantitativa de modo sinérgico, corroboram para testar

hipóteses, obter percepções novas que simplesmente uma análise qualitativa não

conseguiria impetrar.

Assim sendo, percebe-se que a política externa de um país é resultado da

heterogeneidade discursiva da sociedade, gerando a identidade coletiva do Estado,

que opera em uma estrutura sistêmica e doméstica, sofrendo mudanças, revelando

processos e provocando novas leituras de seus objetivos. De acordo com Foucault

(2008; p.10), por mais que o discurso seja aparentemente pouco relevante, as

interdições que o atingem revelam, logo, sua ligação com o desejo e o poder. O

discurso - como a psicanálise nos mostra- não é simplesmente aquilo que manifesta

(ou oculta) o desejo; é, também, aquilo que é o objeto do desejo; e visto que o

discurso não é simplesmente aquilo que traduz as lutas ou sistemas de dominação,

mas aquilo porquê e pelo quê se luta, o poder do qual se almeja conquistar.

Em termos de mensuração, palavras-chaves foram selecionadas a guisa de

compreender a relação que o MRE busca fazer com a sociedade em termos de

diálogo. Neste sentido, as palavras-chave selecionadas foram seis: diplomacia pública,

mídia, comunicação, internet, jornalismo e opinião pública. Essas palavras foram

elencadas tendo em vista a proposta do trabalho em relatar não apenas a ideia de

transparência, mas como forma de expandir a imagem do país desde o ambiente

doméstico até o internacional. Além disso, as palavras representam um horizonte no

que tange a ênfase ao diálogo.

Assim sendo, essas palavras representam os “NÓS7” que o programa NVivo

ajuda a compor como método de mensuração, ou seja, quantas vezes essas palavras

aparecem e quando aparecem, possibilitando analisar não apenas, a intensidade, mas

também o significado das palavras. As tabelas abaixo mostram um panorama de

quantos discursos foram proferidos a cada ano, a cada mandato e o total de cada

presidente.

Tabela 1: Número de discursos Lula e Dilma na seção Diplomacia Pública

Fonte: Elaboração Própria

É importante notar que no primeiro governo Lula (2003-2006) 1057 discursos

foram proferidos, enquanto no governo Dilma (2011-2014) se observou um total 598,

ou seja, uma retração quase que pela metade. Se levarmos em conta o balanço de

dois mandatos Lula (2003-2010), 2356 discursos foram proferidos, contudo não se

pode ainda, mensurar o governo Dilma (segundo mandato) tendo em vista que está                                                                                                                          7  É uma ferramenta do programa NVivo 10 para a codificação dos dados de acordo, por exemplo, com um tema, palavra.

 

em curso. Assim, cabe adentrarmos no tema do trabalho a respeito de diplomacia

pública e dos discursos.

Gráfico 2: Discursos por temas selecionados

Fonte: Elaboração Própria

Gráfico 3: Percentagem dos discursos por temas e mandatos selecionados

 Fonte: Elaboração Própria

8%  

0,20%  

0,50%  

2%  

1,80%  

14%  

1%  

1,40%   5,80%  

29,50%

 

27%  

0,80%  

0,30%  

7,80%  

1%  

COMUNICAÇÃO   MÍDIA   JORNALISMO   INTERNET   OPINIÃO  PÚBLICA  

PERCETAGEM  DOS  DICURSOS  NA  SEÇÃO  DIPLOMACIA  PÚBLICA  POR  TEMA  

Lula  (2003-­‐2006)   Lula  (2007-­‐2010)   Dilma  (2011-­‐2014)  

Como podemos observar nos gráficos acima, o primeiro gráfico apresenta os

discursos de diplomacia pública pelos temas/palavras escolhidos, podemos notar que

a palavra “comunicação” é aquela que mais emerge nos discursos tanto do ex-

presidente Lula como da atual presidente Dilma. As palavras que selecionamos

surgem nos discursos com diversas conotações, assim foram contabilizadas citações

com as palavras em seus diversos sentidos, sendo destrinchados posteriormente na

análise qualitativa que será feita a seguir.

O sentido que encontramos da palavra “comunicação” diz respeito à interação,

a comunicação do governo perante a sociedade e maior transparência das questões

públicas. Além disso, observa-se que nos discursos a “comunicação”, muitas vezes,

aparece deslocada do sentido que objetivamos analisar neste artigo, aparecendo

acompanhada da palavra Ministro, fazendo menção ao cargo.

A palavra “Internet” é a segunda palavra que mais aparece nos discursos dos

presidentes, assim, contabilizamos as palavras onde os sentidos eram próximos aos

da palavra “comunicação” no que tange a transparência, conectividade, democracia

com a expansão da informação. Ainda assim, nos discursos foi comum observar a

pontuação da internet em relação ao aumento do acesso dos brasileiros durante o

século XXI.

Conquanto, podemos observar no segundo gráfico a importância das palavras

que escolhemos para a feitura do artigo e é possível compreender o pequeno papel

que as palavras detêm nos discursos tanto da presidenta Dilma como do ex-presidente

Lula. Para tanto, foram contabilizados todos os discursos dos presidentes

separadamente por mandato e posteriormente colocados em suas devidas proporções

de percentagem. Assim, a percentagem que aparece é em relação a todos os

discursos de cada presidente. Nota-se que existem discursos que podem aparecer em

mais de uma palavra, tendo em vista que alguns temas são congruentes e

assemelham-se.

A presidenta Dilma Rousseff usou, proporcionalmente, mais vezes a palavra

“comunicação” do que o ex-presidente Lula, pois apesar do ex-presidente ter mais

discursos com a palavra, proporcionalmente ela aparece menos vezes do que nos de

Dilma. Podemos avaliar que a quantidade de discursos, não apresenta

necessariamente mais vezes uma palavra comum – mais fácil de ser citada - como

fora o caso da “comunicação” e da “internet”. A locução “opinião pública” surge em

uma quantidade grande de vezes no segundo mandato do ex-presidente Lula. As

outras palavras como “mídia” e “jornalismo” tem pouca relevância quando observamos

a percentagem.

É preciso reiterar que a locução diplomacia pública consta apenas em um

documento discursivo, sendo este a mensagem ao Congresso de 2013, não sendo

contabilizado nas estatísticas de percentagem e na quantidade de discursos, pois fora

ínfima sua contagem para as tabelas.

Assim, no que concerne à análise qualitativa, percebeu-se que apesar da

maior expressão da palavra comunicação seja nos dois mandatos do governo Lula, o

significado expressa a figura do Ministro da Comunicação Social, como também na

possibilidade de criação de uma rede de televisão (Empresa Brasileira de

Comunicação- EBC) como mecanismo de integração regional da América do Sul. A

mesma conjuntura se aplica a presidente Dilma no transcorrer do seu primeiro

mandato. Em relação à internet, que apresenta grande expressividade, está

concatenada à importância do uso da tecnologia da informação e a importância das

redes sociais num mundo globalizado.

Diferentemente, do ex- presidente Lula, no governo da presidenta Dilma esse

tema ganha palco, haja vista as manifestações de 2013, quando jovens foram às ruas

protestar diante de uma múltipla agenda reivindicações: por melhores condições

sociais, educacionais e saúde. Ainda de acordo com este tema, é importante destacar

o caso de espionagem no ano de 2013 que ganhou manchetes internacionais, tendo

em vista o caso Edward Snowden já que a presidenta da república, do mesmo modo a

chanceler alemã Angela Merkel foram alvos de espionagem pelo governo Norte

Americano do presidente Barack Obama.

Em relação ao termo “opinião pública”, em ambos os presidentes se refere de

modo geral, a uma espécie de diálogo com a sociedade civil. No que tange, a palavra

“jornalismo”, também em ambos os governos se configura numa espécie de

homenagem ao dia do jornalista, ao dia do jornalismo, a importância da imprensa, do

acesso a informação e por fim, como uma espécie de diálogo junto com este grupo

seleto da sociedade. A palavra “mídia”, as poucas vezes que apareceu, se norteou em

ambos os governos numa espécie de aparato comunicacional, ou seja, de algum

modo encaram como espécie de recurso tecnológico que possibilita a relação entre

governo e sociedade civil, ou, significado e significante.

Lula (2003-2006)

Em seu primeiro mandato, Lula expressou em seus discursos a questão da

relevância da mídia, fosse exaltando ou criticando a mesma. Assim, em um discurso

ao presidente do Peru, Lula pontua que haveria um grau de convergência entre os

dois países tendo em vista a relevância que atribuíram a opinião pública como uma

animadora da sociedade civil nos dois países, o que permitiria a preservação da

democracia (LULA, 2003). No ano de 2004, Lula começa a dialogar e questionar a

mídia em um discurso que atribui problemas no modo de falar de um presidente, pois

cada palavra alcançaria dimensões diferentes dependendo de quem escutaria, com

isso ele aponta que é preciso estreitar a “relação do Estado com os meios de

comunicação, com os profissionais da imprensa” (LULA, 2004a: p.5).

No mesmo ano, Lula menciona em um discurso sobre a sociedade da

informação que o Brasil está investindo no Programa de Governo Eletrônico,

mostrando a primazia do interesse do governante de acessibilidade e de mecanismos

que fortaleçam a democracia, tornando o governo mais participativo. Assim, Lula

aponta que é preciso “defender um novo modelo internacional de “Governança da

Internet”, que seja multilateral, transparente e democrático” (LULA, 2004b: p.3).

No ano de 2005, Lula reitera a relevância do acesso e da transparência do

Estado mediante a divulgação nos meios de comunicação, tendo em vista a

necessidade de promover uma maior participação do cidadão na esfera, com essas

menções sendo reiteradas no ano de 2006. (LULA, 2005ª; 2005b; 2006a).

No encerramento da Cúpula Latino Americana de Líderes de Jornais, Lula

discursa a respeito da importância do jornalismo, reconhecendo o papel da classe e

apontando que “O jornalismo e os jornais estão, portanto, entre as vertentes mais

visíveis e cristalinas da correnteza renovadora que pode levar aos entendimentos

necessários para a construção de um país cada vez mais justo e democrático” (LULA,

2006b).

Lula (2007-2010)

Apesar de em 2007 não ter nenhuma menção que pudessemos mensurar a

respeito da questão da diplomacia pública e da acessibilidade, em 2008 Lula teve

algumas falas a respeito da mídia, iniciando, por exemplo, uma sessão da Reunião de

Cúpula da América Latina e do Caribe sobre Integração e Desenvolvimento para

conversar com a mídia, mostrando a abertura do diálogo entre governo frente a mídia

local e até mesmo mundial (LULA; 2008a). Há também a retomada da questão da

acessibilidade promovida pelos meios de comunicação para que as pessoas tenham

mais acesso a informações do governo (LULA, 2008a; 2008b; 2008c; 2008d).

Ainda assim, é importante observar a mensagem ao Congresso de 20088, onde

o governo Lula faz menções aos meios de comunicação apresentando a Empresa

Brasil de Comunicação (EBC), ou conhecida como TV pública como uma conquista do

ano de 2007.

                                                                                                                         8   Mensagem ao Congresso, tanto dos Governos Lula (2003-2010) quanto Dilma (2011-2014), são documentos elucidativos (prestação de contas) discursivos, entretanto não são discursos proferidos.    

Em 2007, a criação da EBC representa o atendimento a uma necessidade

cultural que não era apropriada pelos sistemas estatal e privado de

comunicação e que somente poderia ser executado por uma rede pública de

comunicação. A EBC será veículo relevante na consolidação democrática e

na construção da identidade brasileira. (...) Espera-se um incremento do

debate público no País, fundamental à reprodução social permanente do

processo democrático. As ações de comunicação do Governo com a

sociedade foram orientadas pela busca da eficiência, otimização e

fortalecimento de canais de comunicação dos cidadãos e das cidadãs com o

Poder Executivo Federal por meio de respostas ágeis e o amplo

esclarecimento à opinião pública. (LULA, 2008d: p.210).

Em 2009 também não temos menções relevantes e pertinentes ao que

buscamos estudar. Todavia, em 2010 encontramos na Mensagem ao Congresso,

quantificações a respeito de entrevistas concedidas pelo presidente. Outrossim, temos

dados que são interessantes de serem apontados: O Governo manteve e fortaleceu as ações que vinha desenvolvendo com o

objetivo de aperfeiçoar, integrar e fortalecer os canais de comunicação dos

órgãos do Poder Executivo, a fim de informar e esclarecer os cidadãos sobre

políticas públicas, programas e ações governamentais. O número de

entrevistas concedidas pelo Presidente da República aumentou pelo quinto

ano consecutivo. Foram mais de 260 entrevistas para a mídia nacional e

internacional, uma média de cinco por semana, sendo 242 coletivas e 120

exclusivas, das quais 72 presenciais e 48 por escrito. (...) As entrevistas

exclusivas para a imprensa regional, também, tiveram o aumento expressivo

de 70% no ano passado. (...) Já consolidados, os programas semanais de

rádio Café com o Presidente e Bom Dia Ministro tiveram, juntos, mais de 100

edições, em 2009. (...) A novidade de 2009 foi a criação do Brasil em Pauta,

outro programa de rádio com entrevistas mensais de outros graduados

funcionários do Governo. (...) A Secretaria de Imprensa da Presidência,

também, implementou outras duas iniciativas importantes: a criação do Blog

do Planalto e a coluna de jornal O Presidente Responde. No ar desde agosto,

o Blog tem permitido à Presidência da República relacionar-se diretamente

com o público de uma nova mídia, que cresce em importância, e com as

chamadas redes sociais. Integrando fotos, vídeos, áudios e infográficos,

adotando linguagem mais acessível, o Blog colabora para uma melhor

compreensão dos programas e políticas de governo. (LULA, 2009: p. 325-

327).

Dilma Rousseff (2011-2014)

Alguns discursos de Dilma Rousseff mencionam a questão da comunicação, no

que tange a forma de aparição e com diversos significados. Como o intuito do trabalho

é observar as questões referentes à diplomacia pública, é importante observarmos o

valor que é dado à comunicação nas palavras de Dilma Rousseff. Apesar da palavra

“diplomacia pública” ser mencionada na Mensagem ao Congresso de 2013, algumas

palavras chaves aparecem com certa relevância e podem ser correlacionadas ao tema

que visamos estudar. Dilma Rousseff apresenta a importância das tecnologias de

informação e da comunicação em seu discurso ao Congresso em janeiro de 20119. E

o valor da comunicação é também pontuado em um discurso de Dilma no ano de

2012, durante fala na cerimônia de formatura dos diplomatas brasileiros. Assim, Dilma

Rousseff reitera a influência das redes sociais, jornais e de sistemas de comunicação

modernos para que as ações do governo sejam reconhecidas, em suas palavras: O lugar que um país ocupa no mundo está muito ligado e está

prioritariamente vinculado ao papel que esse país ocupa em relação ao seu

povo. Enfim, está vinculado às mudanças internas que ele é capaz de realizar

ou que ele realizou. E o Brasil não foge a essa regra. A importância que nós

temos decorre de todas nossas ações que, de uma forma ou de outra, são

reconhecidas nesse mundo absolutamente interconectado, por redes sociais,

por jornais, enfim, por todos sistemas de comunicação modernos

(ROUSSEFF, 2012).

Em 2013, descobertos os casos de espionagem norte americano, na 68º

Assembléia da ONU, em seu discurso, Dilma Rousseff apresenta questões a respeito

da internet, questionando que os fins do ciberespaço não deveriam ser levados como

armas e sim para propiciar acessibilidade. Em suas palavras, Dilma Rousseff afirma

que a ONU tem o papel de regular o comportamento dos Estados frente “a essas

tecnologias e a importância da internet, dessa rede social, para construção da

democracia no mundo” (ROUSSEFF, 2013).

Nesse sentido, no mesmo discurso, Dilma Rousseff pontua alguns principios

que precisariam ser garantidos para que haja uma governança e uso da internet,

dentre os quais, no que tange nosso estudo, é importante reiterar o segundo princípio

no qual ela aponta que “Da Governança democrática, multilateral e aberta, exercida

com transparência, estimulando a criação coletiva e a participação da sociedade, dos

governos e do setor privado” (ROUSSEFF, 2013).

É interessante mencionar que a palavra diplomacia pública aparece em um

único documento. Em Mensagem ao Congresso de 2013, a locução aparece quando

há uma exposição sobre cooperação esportiva, valorizando o papel do Brasil nos

jogos Olímpicos e Paraolímpicos, onde, segundo o documento, o Brasil ganhou

destaque com a realização do “Programa de Observadores Governamentais para

colher informações sobre a organização dos Jogos em áreas relativas a planejamento

                                                                                                                         

9Ver em Discurso da Presidenta da República, Dilma Vana Rousseff, durante a cerimônia de posse no Congresso Nacional - Brasília, 1º de janeiro de 2011. (ITAMARATY, 2015).  

estratégico, segurança, meio ambiente, transportes, alfândega, comunicações,

soberania, diplomacia pública, mídia, infraestrutura, legado, cerimonial, protocolo,

vistos e estratégias de projeção de imagem e reputação do país-sede (ROUSSEFF,

2013: p. 303).

Ainda assim, no ano de 2014, apesar de Dilma Rousseff não ter discursos que

sejam de extrema relevância para reiteramos no trabalho qualitativo, há uma

continuação do pensamento dos meios de comunicação, como o tema da

acessibilidade (ROUSSEFF, 2014: Mensagem ao Congresso).

Assim, podemos observar que apesar de mensurados os discursos tanto de

Lula como de Dilma Rousseff, a questão de diplomacia pública não aparece em

termos de citação, há somente uma pequena menção que não possui tanta relevância

de análise, pois a única ideia que permeia o discurso é a noção de acessibilidade para

a transparência de informações.

CONSIDERAÇÕES FINAIS:

Foi possível compreender a partir dos governos Lula (2003-2010) e Dilma

(2011-2014) toda a conjuntura sobre os termos diplomacia pública e mídia. Não

obstante, buscou-se a partir, não apenas de um referencial teórico, mas também de

uma análise empírica, compreender por meio da análise de conteúdo de discurso da

política externa brasileira, a ênfase e a importância que estes governantes creditaram

na diplomacia pública, principalmente pelo uso da internet como ferramenta

comunicativa. Nesse sentido, o Itamaraty e o governo acreditam que diante das mídias

sociais é possível manter um contato direto com a sociedade, principalmente, por ser

um fenômeno do século XXI.

Todavia, se por um lado o Itamaraty investiu e acredita no poder brando da

informação, por meio da instrumentalização da internet via redes sociais, nos

discursos proferidos pelos presidentes não se pode dizer o mesmo. No que concerne,

ao estudo da análise de conteúdo de discursos oficiais da presidência da república é

importante aferir que apesar dos governos tanto Lula quanto Dilma proporem uma

diplomacia pública, nos discursos, à essência do termo não aparece, emergindo

apenas na perspectiva de transparência. Assim, essa busca por diálogo com a

sociedade civil, como vem propondo o MRE e o governo, não observamos a

ocorrência do diálogo propriamente dito, apenas da transparência, ou prestação de

contas.

Para tanto, pode-se constatar isso tendo em vista as palavras e locuções que

selecionamos para a análise quantitativa e qualitativa do artigo. As palavras aparecem

em poucos discursos e muitas vezes não surgem com o sentido buscado neste

trabalho. Outrossim, a locução “diplomacia pública” não aparece nos discursos dos

mandatos do ex-presidente Lula e consta somente na Mensagem ao Congresso de

2013 durante o primeiro mandato de Dilma Rousseff, mas não emerge com o sentido

pretendido, como pudemos observar na parte teórica deste trabalho.

Por fim, tentou-se um diálogo junto ao MRE por meio de canais como trocas de

e-mails e consultas ao site da instituição. Com relação ao site, não há até a presente

data de elaboração deste artigo qualquer apresentação, ou definição do termo

diplomacia pública que a instituição use no seu sítio eletrônico. Entretanto, não se

pode dizer o mesmo das consultas e trocas de e-mails, haja vista que a instituição

respondeu aos pesquisadores, porém não de maneira formal como se esperava, mas

apenas, dando uma nota curta e enfática sobre a perspectiva do uso do termo.

Segundo a Assessoria de Comunicação do Ministério das Relações Exteriores,

o termo diplomacia pública é tratado pela instituição a partir do artigo publicado pelo

instituto por meio, do seu corpo diplomático, na revista JUCA- Diplomacia e

Humanidade realizadas pelos autores César Yip, Luiz de Andrade e Pedro Tiê. De

acordo com a Nota do Itamaraty: O conceito brasileiro de Diplomacia Pública está ligado não somente à promoção da imagem do Brasil no exterior, mas principalmente a um objetivo de maior abertura do Itamaraty à sociedade civil, em um contexto de democratização das instituições nacionais. (YIP & TIÊ & ANDRADE FILHO, 2014, p.28)

Ao longo da análise feita no artigo podemos assinalar que se o MRE e o

governo buscam diálogo com o cidadão acreditando na importância da função da

política externa, contudo, deve-se não apenas criar canais midiáticos via redes sociais,

mas ponderar por meio de sua página na internet o que de fato o Itamaraty entende

pelo uso do termo Diplomacia Pública e a importância da Mídia para a política externa

brasileira. Para, além disso, compreender que é por meio dos discursos que são

construídos e proferidos a importância e o poder de persuasão que o uso do termo

“diplomacia pública” traz tanto para a sociedade e a democracia brasileira como para o

cenário internacional.

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