Redes de Conhecimento
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Redes de Conhecimento em Cincias e o Compartilhamento do
Conhecimento
Maria do Rocio Fontoura Teixeira
Porto Alegre
2011
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EDUCAO EM CINCIAS: QUMICA DA VIDA E SADE.
REDES DE CONHECIMENTO EM CINCIAS E O COMPARTILHAMENTO DO CONHECIMENTO
Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Ps-Graduao Educao em Cincias: Qumica da Vida e Sade, da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, como requisito parcial para a obteno do ttulo de Doutora em Educao em Cincias.
Maria do Rocio Fontoura Teixeira
Orientador Prof. Dr. Diogo Onofre Gomes de Souza
Porto Alegre 2011
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CIP - Catalogao na Publicao
Elaborada pelo Sistema de Gerao Automtica de Ficha Catalogrfica da UFRGS com osdados fornecidos pelo(a) autor(a).
Teixeira, Maria do Rocio Fontoura Redes de Conhecimento em Cincias e oCompartilhamento do Conhecimento / Maria do RocioFontoura Teixeira. -- 2011. 141 f.
Orientador: Diogo Onofre Gomes de Souza.
Tese (Doutorado) -- Universidade Federal do RioGrande do Sul, Instituto de Cincias Bsicas daSade, Programa de Ps-Graduao em Educao emCincias: Qumica da Vida e Sade, Porto Alegre, BR-RS, 2011.
1. Redes de Conhecimento. 2. Educao em Cincias.3. Anlise de Redes Sociais. 4. Compartilhamento doConhecimento. 5. Redes Sociais. I. Souza, DiogoOnofre Gomes de, orient. II. Ttulo.
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AGRADECIMENTOS
Ao chegar ao fim desta caminhada, gostaria de agradecer a muitas
pessoas que me ajudaram em diferentes momentos e, sem esquecer ningum
e, ao mesmo tempo, incluindo todos, mas particularmente....
....ao meu grande mestre e amigo Prof. Diogo Onofre de Souza por todo
incentivo, apoio e, principalmente, por ter acreditado e compartilhado do meu
sonho acadmico;
....aos meus colegas (eles e elas) do Grupo de Educao em Cincias, alguns
hoje soltos pelo mundo e outros ainda percorrendo seus caminhos: Eliane
Flores, Helosa Junqueira, Mrcia Finimundi, Isabela Barin, Carla Teacher,
Luciana Calabr Berti, Eduardo Rico;
....aos professores do PPG Educao em Cincias pelos ensinamentos ao
longo deste curso;
.... Cleia e os bolsistas da Secretaria por nos ajudarem sempre;
....aos meus colegas do Grupo de Pesquisa LEIA, Lizandra Estabel, Eliane
Moro, Iara Neves, Maria Lcia Dias por toda a fora e o entusiasmo com que
acompanharam o desenvolver do meu trabalho;
....ao meu colega Rodrigo Caxias por ter, um dia ao entrar na minha sala na
FABICO e me ver desanimada sem saber onde ancorar um trabalho de quase
10 anos, me mandado, literalmente, atravessar a rua e tentar a sorte no PPG
Educao em Cincias;
....a minha famlia que acompanha minha peregrinao acadmica nestes
ltimos anos e sempre me apoiou em tudo: meu grande companheiro de todas
as horas Higino, minha filha artista Amanda, meu filho parceiro de tantos
trabalhos Joo Vicente e meu lindinho Vicente;
....ao meu amadssimo irmo Luiz Eduardo pela garra dos Fontouras;
....e, por fim, mas no menos importante e, creio eu mais importante que tudo e
todos, memria de minha me que sempre me disse vai...vai ser feliz! e, ela
pode estar certa que isto que persigo at hoje!
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4
RESUMO
Esta Tese de Doutorado tem com tema principal o estudo das
redes de conhecimento no campo cientfico, tambm entendidas como redes
sociais, em suas relaes internas e no tocante ao uso de fontes de
informao. A metodologia de pesquisa se caracterizou sob a perspectiva
cognitivista, descritiva, exploratria e qualitativa, realizada por meio de uma
pesquisa de campo, baseada na amostragem no probabilstica por
convenincia com trs turmas de alunos. Foram utilizadas matrizes,
sociogramas e grficos de mensurao das propriedades de centralidade e
densidade das turmas, alm da descrio e compreenso das redes de
conhecimento. A metodologia especfica foi a de Anlise de Redes Sociais
(ARS), que possibilitou a anlise e avaliao das redes de conhecimento e as
fontes de informao. Inicialmente, apresenta um olhar histrico com a
finalidade de mostrar a emergncia do estudo das redes de conhecimentos nas
diferentes reas do conhecimento e, por conseqncia, no mbito das cincias.
Faz um levantamento terico acerca do conceito de redes, das redes sociais,
das redes de conhecimento, do campo cientfico na perspectiva de Bourdieu,
das fontes de informao e da educao em cincias. A sociedade atual
caracteriza-se por ser uma sociedade conectada, uma sociedade em rede, e
neste cenrio, as iniciativas de entender como essas redes funcionam, como
seus fluxos atuam e como as pessoas podem delas se aproveitar para
compartilhar e, mesmo construir conhecimento, so mais do que necessrias.
Conclui que ainda h um longo caminho a ser trilhado na busca de conhecer
melhor como se comportam as redes de conhecimento em cincias e como os
processos educativos se inserem para melhor entend-las e capitalizar seus
recursos em prol de uma melhoria do ensino em cincias.
PALAVRAS-CHAVE: Redes de Conhecimento; Compartilhamento do
Conhecimento; Educao em Cincias; Anlise de Redes Sociais.
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5
ABSTRACT
This PhD Thesis is the main theme in the study of knowledge networks in
science, also understood as social networks, and in its internal relations
regarding the use of information sources. The research methodology was
characterized in the cognitive perspective, descriptive, exploratory and
qualitative, through a field research based on non-probability convenience
sample of three classes of students. Matrices were used, graphics and
sociograms for measuring the properties of centrality and density classes,
beyond description and understanding of knowledge networks. The specific
methodology was the Social Network Analysis (ARS), which allowed the
analysis and evaluation of knowledge networks and information sources.
Initially, it presents a historical perspective in order to show the emergence of
the study of knowledge networks in different areas of knowledge and,
consequently, in the context of science.This study does a survey on the
theoretical concept of networks, social networks, networks of knowledge, the
scientific field in Bourdieu's perspective, the sources of information and science
education. Contemporary society is characterized by being a connected society,
a network society, and in this scene, the initiatives to understand how these
networks work, how their work flows and how people can take advantage of
them to share and even build knowledge, are more than necessary. Finally, it
concludes that there is still a long way to go in search of better understanding
how they behave knowledge networks in science and how educational
processes are embedded to better understand them and capitalize on its
resources towards a better education in science.
KEYWORDS: Knowledge Networks; Knowledge Sharing; Science
Education; Social Networks Analysis.
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SUMRIO
1 INTRODUO...................................................................................10
2 REFERENCIAL TERICO
2.1 Redes.....................................................................................................12
2.2 Redes Sociais........................................................................................17
2.3 Redes de Conhecimento......................................................................19
2.4 Anlise de Redes Sociais (ARS)..........................................................21
2.5 Campo Cientfico..................................................................................32
2.6 Fontes de Informao...........................................................................37
2.7 Educao em Cincias.........................................................................42
Referncias.................................................................................................43
3 ARTIGO: REDES DE CONHECIMENTO EM CINCIAS E O USO
DAS FONTES DE INFORMAO: primeiros resultados da
pesquisa.
3.1 Introduo..............................................................................................50
3.2 Procedimento Metodolgico................................................................51
3.3 Anlise de Redes Sociais (ARS).........................................................51
3.4 As Fontes de Informao......................................................................52
3.5 A Rede Identificada...............................................................................52
3.6 Concluses.............................................................................................55
3.7 Bibliografia..............................................................................................56
4 ARTIGO: REDES DE CONHECIMENTO EM CINCIAS E O USO
DAS FONTES DE INFORMAO
4.1 Introduo..............................................................................................57
4.2 Objetivos................................................................................................57
4.3 Abordagem Metodolgica....................................................................58
4.4 Corpus da Pesquisa..............................................................................58
4.5 Procedimentos Metodolgicos ...........................................................58
4.6 Reviso da Literatura............................................................................58
4.6.1 Anlise de Redes Sociais (ARS).......................................................58
4.6.2 Fontes de Informao........................................................................60
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7
4.6.3 Redes de Conhecimento...................................................................60
4.7 Rede Identificada..................................................................................61
4.8 Resultados.............................................................................................62
4.8.1Os alunos e os Professores ..............................................................62
4.8.2 Fontes de Informao Pessoais: Pacientes.....................................71
4.8.3 Fontes de Informao Bibliogrficas................................................72
4.8.4 Internet.................................................................................................73
4.9 Concluses............................................................................................73
4.10 Referncias ........................................................................................74
5 ARTIGO: REDES DE CONHECIMENTO EM CINCIAS E SUAS
RELAES DE COMPARTILHAMENTO DO CONHECIMENTO
5.1 Introduo............................................................................................. 76
5.2 Bases Tericas......................................................................................77
5.3 Material e Mtodos ...............................................................................79
5.4 Resultados e Discusso.......................................................................80
5.4.1 Anlise Estrutural das Redes ...........................................................80
5.4.2 Densidade das Redes........................................................................82
5.4.3 Centralidade das Redes.....................................................................86
5.4.4 Indice de Centralizao......................................................................87
5.4.5 Grau de Intermediao.......................................................................89
5.4.6 Grau de Proximidade .........................................................................90
5.4.7 Centralidade de Bonacich .................................................................91
5.5 Concluses............................................................................................92
5.6 Referncias............................................................................................93
6 ANLISE DAS REDES DE CONHECIMENTO EM CINCIAS:
interaes das turmas 2009/2, 2010/1 E 2010/2
6.1 Introduo..............................................................................................96
6.2 Caracterizao das Trs Redes............................................................97
6.3 Construo do Questionrio................................................................98
6.4 Rede de Interaes entre os Atores..................................................102
6.5 Densidade da Rede..............................................................................110
6.6 Grau de Centralidade..........................................................................117
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8
6.7 ndice de Centralizao.......................................................................123
6.8 Grau de Intermediao........................................................................124
6.9 Grau de Proximidade ..........................................................................130
6.10 Discusso Geral dos Resultados.....................................................134
6.11 Referncias........................................................................................138
7 CONCLUSES.....................................................................................139
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9
1 INTRODUO
O estudo de redes tem adquirido importncia relevante e fundamental na
vida em sociedade, especialmente num cenrio de mundo conectado e
dominado, cada dia mais, pelas tecnologias de informao e comunicao.
Estamos cada vez mais envolvidos com o discurso de redes e, cada
vez mais comum encontrarmos no discurso da mdia citaes variadas de
redes de negcios, rede de relacionamentos sociais, rede neural, rede digital,
rede de cientistas e, at mesmo rede terrorista. Assim que somos uma
sociedade em rede, mesmo sem a conscincia disto.
A pergunta necessria: o que uma rede? Na verdade, uma teia de
ns (elementos) e links (conexes) entre esses ns. Tanto na natureza quanto
na sociedade, a maioria das redes dinmica, em razo da mudana de
comportamento de seus elementos, entrada e sada destes e alterao tanto
das conexes entre os elementos quanto da natureza das interaes entre os
elementos conectados.
Como a dinmica de vrias redes assemelha-se a sistemas complexos e
como tal so estudados, muitos sistemas complexos so estudados como se
fossem redes.
O estudo atual das redes insere-se num contexto mais amplo do avano
da cincia, cujas fronteiras esto sendo desafiadas pelas chamadas cincias
da complexidade, que esto em constante evoluo no estudo dos sistemas
complexos.
Mais do que conhecer as partes, necessrio compreender a dinmica
organizacional por trs da formao da rede, que faz emergir a configurao da
rede em determinado momento, a configurao do todo. Entender as inter-
relaes simultneas e seus resultados no planejados essencial para tratar
os problemas complexos em rede que enfrentamos, tais como apages
eltricos, epidemias, crises financeiras e at mesmo questes sociais mais
amplas, como a distribuio de riquezas.
Este trabalho se prope a caracterizar as redes de conhecimentos que
atuam no campo cientfico, em suas relaes entre os atores e com o uso de
fontes de informao.
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10
Para tanto, iniciamos o texto com uma contextualizao terica sobre
redes, redes sociais e redes de conhecimento. Depois passamos a abordar,
mais detalhadamente, a metodologia de Anlise de Redes Sociais (ARS) e
como ela pode nos ajudar a conhecer melhor as redes. A seguir,
contextualizamos o campo cientfico da perspectiva de Pierre Bourdieu para
entendermos as relaes que se estabelecem entre as redes e a cincia. Por
fim, conceituamos as diferentes fontes de informao disponveis, neste
ambiente conectado, chegando educao em cincias como forma de
mostrar a importncia e a relevncia da temtica das redes no mbito do
ensino de cincias.
Logo aps o referencial terico, temos o artigo Redes de Conhecimento
em Cincias e o Uso das Fontes de Informao: primeiros resultados da
pesquisa, apresentado oralmente e publicado nos Anais do III Congreso
Iberoamericano de Filosofa de La Ciencia y de La Tecnologa, na seo
Sociologia da Cincia e da Tecnologia, em Buenos Aires (AR), em setembro de
2010.
Em continuidade, apresentamos o artigo Redes de Conhecimento em
Cincias e o Uso das Fontes de Informao, trabalho que traz as anlises
finais, abordadas preliminarmente no artigo anterior e, em submisso ao
peridico Dilogos & Cincia.
Em sequncia, temos o artigo Redes de Conhecimento em Cincias e
suas Relaes de Compartilhamento do Conhecimento, apresentado
oralmente e publicado nos Anais do VIII ENPEC Encontro Nacional de
Pesquisa em Educao em Cincias, na seo Formao de Professores em
Cincias, em Campinas (SP), em dezembro de 2011.
Conclumos a tese apresentando o trabalho Anlise das Redes de
Conhecimento em Cincias: interaes das turmas 2009/2, 2010/1 E 2010/2,
que traz com maior detalhamento, incluindo tabelas, quadros e histogramas, as
anlises de compartilhamento do conhecimento das redes estudadas.
Finalmente, a concluso mostra a importncia do presente estudo, alm
de ressaltar a necessidade de aprofundamento da temtica das redes no
ensino de cincias.
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11
2 REFERENCIAL TERICO
2.1 REDES
A temtica da rede nunca esteve to presente na linguagem e no
pensamento atual. Castells (1999) atribui ao desenvolvimento da
microeletrnica e das tecnologias de comunicao, baseadas em softwares, o
grande interesse pelo assunto redes, quando as redes aparecem para ser a
forma organizada da vida, incluindo a vida social. Sylvain Allemand (2000)
props uma viso panormica do fenmeno e observou que a noo de rede
apresenta fatos novos (NTIC, empresa em rede,...) e antigos (crculo, cl,
dispora, etc.). Contudo, evidente que o interesse pela noo de rede traduz
uma mudana no modo de observar a realidade, particularmente quando se
observa as relaes que o indivduo mantm com outro, preferentemente sua
categoria social.
Originalmente o termo rede refere-se a um pequeno filet para pegar
pssaros ou caa mida (PEREIRA, 2008). A partir do sculo XVI, passa a
designar, de forma mais ampla, uma pea em forma de rede com malhas mais
ou menos largas e, por analogia, um tecido formado de pequenas malhas
chamado, mais tarde, de arrasto. Pode tambm significar um conjunto de
pessoas, ou organizaes que trabalham comunicando-se entre si.
A integrao propiciada pelas redes remete-se uma das importantes
experincias ocorrida no sculo XVIII a Teoria dos Grafos que contribuiu
para a formao da teoria das redes. Foi realizada por Leonhard uler na
criao do primeiro teorema da teoria dos grafos (CARDOSO e SILVA, 2011).
O estudo de redes tem tido objeto do estudo de diferentes autores, tais
como Callon (1989), Callon e Latour (1991), Latour (1983, 1990, 2000), Latour
e Woolgar (1997), Knorr-Cetina (1981, 1982), Castells (1999), de acordo com
interesses e formulaes bastante distintas, seja enfocando a atividade
cientfico-tecnolgica contempornea a tecnocincia -, utilizando noes de
laboratrio expandido (Callon), redes de atores (Latour) e arenas
transepistmicas (Knorr-Cetina), seja abordando as transformaes mais
amplas na sociedade, mediante conceitos como informacionalismo, espaos
de fluxos e tempo intemporal (Castells).
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12
Parte-se ento do conceito de rede, expresso na obra de Castells
(1999), onde rede um conjunto de ns interconectados e, n o ponto no
qual uma curva se entrecorta. De forma concreta, o que um n representa
depende do tipo de redes concretas. A topologia definida por redes determina
que a distncia (ou intensidade e freqncia da interao) entre dois pontos (ou
posies sociais) menor (ou mais freqente, ou mais intensa), se ambos os
pontos forem ns de uma rede do que se no pertencerem mesma rede.
Assim, as redes so estruturas abertas capazes de expandir de forma
ilimitada, integrando ns desde que consigam comunicar-se dentro da rede, ou
seja, desde que compartilhem os mesmos cdigos de comunicao, por
exemplo, valores ou objetivos de desempenho.
Os diagramas propostos originalmente por Paul Baran (1964), num
documento em que descrevia a estrutura de um projeto que mais tarde se
converteria na Internet, apresentava a estrutura de rede centralizada,
descentralizada e distribuda, conforme a figura abaixo
Fonte: Baran (1964).
Entre a monocentralizao (o grau mximo de centralizao, que no
diagrama de Baran aparece como rede centralizada) e a distribuio mxima
(todos os caminhos possveis, correspondendo ao nmero mximo de
conexes para um dado nmero de nodos - que no aparece no terceiro grafo
do diagrama de Paul Baran, por razes de clareza de visualizao), existem
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muitos graus de distribuio. entre esses dois limites que se realiza a maioria
das redes realmente existentes. Portanto, no parece muito consistente falar
de rede centralizada ou rede distribuda, a no ser, em termos matemticos,
como limites.
A partir de certo nmero de nodos, nenhuma rede social real consegue
ser totalmente centralizada (isso seria supor a inexistncia de conexes entre
os nodos, mas apenas de conexes entre o nodo central e os outros nodos).
Ora, a partir de certo nmero de nodos impossvel que isso acontea, pois
o prprio tamanho (social) do mundo que impe um determinado nmero
mnimo de conexes entre quaisquer nodos escolhidos aleatoriamente. Assim,
mesmo que no queiramos, os nodos ligados a um centro tendem tambm a
estar ligados entre si em alguma medida. Esse nmero de nodos a partir do
qual uma rede no conseguir mais permanecer centralizada depende do
mundo em que se est, dos seus graus de separao.
Por sua vez, as atividades biotecnolgicas constituem-se,
fundamentalmente, em fenmenos de redes; ou seja, em "sistemas de
arquitetura aberta". Tais sistemas se apresentam como prticas sociais
complexas, compondo mltiplas articulaes inter-organizacionais, com
fronteiras no muito delimitadas no mbito de cada unidade organizacional,
sistemas normativos altamente instveis e muito dinmicos, e trocas intensas
entre vrios pontos, conexes e atores componentes das redes (CALLON,
1989; CALLON & LATOUR, 1991).
Trigueiro (2006) diz que, ao se pensar a prtica biotecnolgica como um
fenmeno de redes, pretende-se insistir em diferentes tipos de atores
conectados entre si e possibilitando ampla variedade de trocas. Assim,
conforme o autor, as grandes cadeias de indstrias so responsveis pelo
fornecimento de insumos, equipamentos e recursos tecnolgicos
indispensveis prtica biotecnolgica montante do processo de pesquisa;
cientistas, empresrios, tcnicos e estudantes das mais distintas formaes e
perfis acadmicos atuam na transformao de insumos e conhecimentos em
produtos, processos e novos resultados biotecnolgicos; e outro conjunto bem
diversificado de indstrias e interesses comerciais e cientficos utiliza tais
resultados, gerando produtos de grande interesse prtico econmico e social,
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14
atingindo vrios outros setores da sociedade, consumidores, governantes e o
pblico em geral.
O uso das redes no se restringe apenas aos estudos sociolgicos,
alcanando outras esferas do conhecimento e chegando at a arte. Mark
Lombardi, pesquisador da arte e artista, acumulou um enorme arquivo sobre
escndalos financeiros e suas implicaes polticas, e organizou suas notas
com a ajuda de esquemas, chamados por ele de estruturas narrativas, os quais
se converteram, em 1993, no prprio objeto de seu trabalho: intrincados
diagramas que tornam visvel a trama de relaes entre o poder poltico e
econmico em escala transnacional.
O desenho de Lombardi, como mostra a Figura 1, oferece uma estrutura
visual a um conjunto de dados e relaes aparentemente desconexos, que, de
outra maneira, seriam impossveis de entender como sistema e,
estruturalmente semelhantes aos sociogramas, o tipo de desenho grfico
utilizado no campo da anlise de redes sociais. Baseados inteiramente em
arquivos de acesso pblico, como a imprensa, livros e a internet, os desenhos
de Lombardi apresentam relaes comprovveis, sem estabelecer
necessariamente a dimenso de causalidade entre os fatos. Entretanto, seu
valor documental inegvel, como fica provado pelo fato de que um de seus
desenhos, BCCI-ICIC & FAB, 1972-91, foi analisado detalhadamente pela CIA,
a raiz dos ataques do 11 de setembro de 2001, em Nova York (HOBBS, 2003).
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Figura 1: World Finance Corporation and Associates, c. 1970-84: Miami, Ajman, and Bogota-Caracas (Brigada 2506: Cuban Anti-Castro Bay of Pigs Veteran), 7th version. 1999. Detalhe. Lpis colorido e grafite sobre papel. 176 x 213,5 x 6 cm. Coleo Susan Swenson e Joe. (Fonte: 8 Bienal do Mercosul) Marteleto (2001) menciona que o conceito de redes tributrio de um
conflito permanente entre diferentes correntes nas cincias sociais, que criam
os pares dicotmicos - indivduo/sociedade; ator/estrutura; abordagens
subjetivistas/objetivistas; enfoques micro ou macro da realidade social -,
colocando cada qual a nfase analtica em uma das partes.
Assim, as redes surgem como um novo instrumento face aos
determinismos institucionais. Entretanto, ainda pouco se sabe sobre sua
natureza, suas caractersticas bsicas, formas de existncia e seu
funcionamento.
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16
2.2 REDES SOCIAIS
Uma rede social pode ser considerada uma estrutura social, composta
por pessoas ou organizaes, conectadas por um ou vrios tipos de relaes,
que compartilham valores e objetivos comuns. Uma das caractersticas
fundamentais na definio das redes sua abertura e porosidade,
possibilitando relacionamentos horizontais e no hierrquicos entre os
participantes. Redes no so, portanto, apenas outra forma de estrutura, mas
quase uma no estrutura, no sentido de que parte de sua fora est na
habilidade de se fazer e desfazer rapidamente, afirmam Duarte e Frei (2008).
J Marteleto (2001) relata que a rede social, derivando do conceito de rede
como um sistema de nodos e elos, ou uma estrutura sem fronteiras, ou uma
comunidade no geogrfica, ou ainda um sistema de apoio ou um sistema
fsico que se parea com uma rvore ou uma rede, passa a representar um
conjunto de participantes autnomos, unindo idias e recursos em torno de
valores e interesses compartilhados.
Muito embora um dos princpios da rede seja sua abertura e porosidade,
por ser uma ligao social, a conexo fundamental entre as pessoas se d
atravs da identidade. "Os limites das redes no so limites de separao, mas
limites de identidade. (...) No um limite fsico, mas um limite de expectativas,
de confiana e lealdade, o qual permanentemente mantido e renegociado
pela rede de comunicaes" (CAPPRA, 2008, p.156).
As redes sociais tm adquirido importncia crescente na atual sociedade
e, caracterizam-se primariamente pela autogerao de seu desenho, por sua
horizontalidade e sua descentralizao.
Um ponto em comum dentre os diversos tipos de rede social o
compartilhamento de informaes, conhecimentos, interesses e esforos em
busca de objetivos comuns. A intensificao da formao das redes sociais,
nesse sentido, reflete um processo de fortalecimento da sociedade civil, em um
contexto de maior participao democrtica e mobilizao social.
Para Machado (2009, p. 45), existem trs fatores motivadores principais
na formao das redes sociais:
As pessoas: partindo do pressuposto da atrao em torno de uma
personalidade carismtica ou de algum que disponha de um conhecimento
que interessa a outros;
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As idias: troca de idias sobre interesses diversos, pode ser um grupo
de estudos temticos, podendo ser um agrupamento de pessoas em torno de
um tema polmico;
Os projetos: empreendimento temporrio ou uma seqncia de
atividades com comeo, meio e fim, que tem por objetivo fornecer um produto
singular, que contribua, para o crescimento pessoal, profissional ou
educacional de todo o grupo.
Por sua vez, as redes sociais online podem operar em diferentes nveis,
como redes de relacionamentos, como Facebook, Orkut, Myspace, Twitter, que
so um servio online, plataforma ou site que foca em construir e refletir redes
sociais ou relaes sociais entre pessoas, que, p.ex., compartilham interesses
e/ou atividades; redes profissionais, como Linkedln, prtica conhecida como
networking, que procura fortalecer a rede de contatos de um indivduo, visando
futuros ganhos pessoais ou profissionais; redes comunitrias, como as redes
sociais em bairros ou cidades, em geral tendo a finalidade de reunir os
interesses comuns dos habitantes, melhorar a situao do local ou prover
outros benefcios; redes polticas e outras. Tais redes permitem analisar a
forma como as organizaes desenvolvem a sua atividade, como os indivduos
alcanam os seus objetivos ou medir o capital social o valor que os indivduos
obtm da rede social.
Assim, as redes sociais so uma representao de entidades - pessoas,
empresas, entre outros - ligadas entre si, atravs de uma ou mais relaes
especficas. As redes sociais podem ser analisadas em diferentes nveis, como,
por exemplo, definir e analisar uma rede social na qual cada n uma empresa
dentro de um ecossistema (incluindo toda a cadeia de valor), assim como se
pode analisar a dinmica de redes sociais menores, como uma equipe ou
grupos de equipes especficos.
O conceito de redes sociais no provm de um campo de estudos
referentes comunicao. Vlez (2010) menciona que, grande valor dado s
representaes sociais, aos imaginrios e anlises de contedos e discursos.
Entretanto, a proposta relacional, resultante da anlise de redes sociais ou
qualquer conceito relacional, est ausente das anlises da comunicao.
O mbito de estudos em redes sociais abrange uma amplitude de
campos de pesquisa e unidades de anlise. Cresce o interesse cientfico e
-
18
prtico em compreender como atores estabelecem articulaes e interagem
configurando redes sociais. Tais unidades de anlise inserem-se em um campo
de pesquisa dotado de ferramentas conceituais e metodolgicas, que permitem
a anlise de elementos estruturais e da dinmica relacional dos atores,
rompendo nveis de anlises isolados, exclusivamente centrados no indivduo
ou em uma estrutura social independente e soberana. Ribeiro e Bastos (2011)
afirmam que o mapeamento de redes de relaes entre atores (indivduos ou
entidades coletivas), as posies ocupadas por esses, a quantidade, a
natureza e os sentidos dos fluxos de informao disponveis so eixos centrais
de anlise de muitos fenmenos.
2.3 REDES DE CONHECIMENTO
As redes de conhecimento podem ser definidas como espaos onde
ocorrem a troca de informaes e experincias entre profissionais de diversas
reas (SCHWARTZ, 2002). A popularizao dos estudos sobre os processos
de constituio e dinmicas organizacionais das redes de conhecimento so
recentes e se devem, principalmente, aos seguintes fatores:
- o conhecimento, em suas mais variadas formas, tornou-se
determinante para a competitividade tanto de empresas como de pases
(TERRA, 2000);
- a difuso na utilizao dos meios eletrnicos de produo de contedo
e comunicao permitiu transformar a informao anteriormente vinculada a
uma localizao fsica em bits digitais. Esta informao digital passa a ser
transmitida, reproduzida, copiada e alterada, de forma bastante simples, e a um
custo bastante reduzido (FLEURY, 2001).
Surgem a partir da necessidade que empresas e indivduos tem em
conhecer novos temas ou aprofundarem-se naqueles temas em que so
especialistas, motivadas pela realidade multidisciplinar e multicultural
vivenciada atualmente, e que demanda o domnio de diversas disciplinas e das
interaes existentes entre as mesmas (SIMON, 2001).
Para que o conhecimento possa ser transformado em patrimnio, ele
deve ser gerenciado, e para isto, alguns procedimentos devem ser
considerados (SPENDER, 2001):
-
19
- o conhecimento deve ser identificado, sendo transformado de tcito
(aquele conhecimento pessoal, particular e de difcil comunicao) para
explcito (aquele registrado, documentado e de fcil apropriao por qualquer
pessoa);
- para que possa ser considerado como um ativo corporativo, o
conhecimento deve ter seus custos de criao ou aquisio, manuteno,
armazenagem, transferncia e aplicao contabilizadas;
- polticas administrativas de transporte, armazenagem, comercializao
e armazenagem de conhecimento devem ser estabelecidas.
Logo, para que o conhecimento se transforme em riqueza individual ou
corporativa, ele deve ser desenvolvido; caso contrrio, volta a ser um
aglomerado de informaes, sem valor prprio. O processo de
desenvolvimento do conhecimento, individual ou corporativo, deve ser formal, e
as redes de conhecimento devem dispor de ferramentas e procedimentos que
contribuam para a formalizao deste conhecimento. Uma das maneiras mais
eficazes de transformar informaes em conhecimento numa rede atravs do
envolvimento dos participantes no desenvolvimento de projetos cooperativos.
A rede de conhecimento o processo de virtualizao que se utiliza da
rede concreta. Isto no tem nada a ver com rede material, pois os
computadores que formam a rede tambm so mquinas abstratas. A
virtualizao o processo de criao. A virtualizao envolve a repetio de
onde brota a diferena. Existe tambm a repetio do mesmo, mas esta no
criadora, o que cria a repetio que gera o diferente (Deleuze e Gattari,
2001).
As redes de conhecimento contemporneas so espaos de
reconhecimento hbridos, nos quais pulsam fluxos de informao analgicos e
digitais, locais e globais, controlados e autnomos, centralizados e
descentralizados, certificados e annimos. Participar dessas redes, ou seja,
estar alfabetizado digitalmente , sem dvida, uma incluso (Schwartz, 2005).
O artigo Redes de conhecimento, de Maria Ins Tomal, traz uma
viso ampla sobre as redes de conhecimento, com abordagens da Cincia da
Informao e da Administrao. Defendendo a importncia da cooperao
entre os atores envolvidos no processo mostra o aliceramento de ideias para
um fim maior, proporcionando interao entre os membros. Para que isto
-
20
ocorra, segundo Tomal (2008), [...] necessrio estar acessvel ampliao
ou ao recuo das fronteiras de aes individuais e organizacionais, estar livre
a negociaes e predisposto a compartilhar informao e conhecimento para o
bem comum.
Aproveitando o ensejo de Castells (1999, p. 498 apud TOMAL, 2008),
as redes permitem outros/novos mtodos de organizao do poder e
estruturao social. Isso se d a partir da essencial participao de todos
envolvidos no processo, em vrios pontos.
O conceito de redes pode ser um instrumento importante para auxiliar na
compreenso dos processos de interao institucional e de gerao do
conhecimento. As redes podem ser identificadas como um conjunto de ns e
suas relaes, e compreendidas a partir de um novo modelo de interaes e
organizaes sociais, onde a informao o elemento chave e seu fluxo entre
as redes constitudas pelos atores dessa teia social, representa a energia
dessa estrutura (DIDRIKSSON, 2000).
2.4 ANLISE DE REDES SOCIAIS (ARS)
A anlise de redes sociais surgiu como uma tcnica chave na sociologia
moderna, vinda de um conceito da Sociologia e Antropologia Social. No final do
sculo XX, o termo passou a ser olhado como um novo paradigma das cincias
sociais, vindo a ser aplicada e desenvolvida no mbito de disciplinas to
diversas como a antropologia, a biologia, os estudos de comunicao, a
economia, a geografia, as cincias da informao, a psicologia social , no
servio social e, mais particularmente, no mbito da sade.
A ideia de rede social comeou a ser usada h cerca de um sculo
atrs, para designar um conjunto complexo de relaes entre membros de um
sistema social em diferentes dimenses, desde a interpessoal internacional.
Em 1954, J. A. Barnes comeou a usar o termo sistematicamente para mostrar
os padres dos laos, incorporando os conceitos tradicionalmente usados quer
pela sociedade quer pelos cientistas sociais: grupos bem definidos (ex.: tribos,
famlias) e categorias sociais (ex.: genero, grupo tnico). Estudiosos e
acadmicos como S.D. Berkowitz, Stephen Borgatti, Ronald Burt, Kathleen
Carley, Martin Everett, Katherine Faust, Linton Freeman, Mark Granovetter,
David Knoke, David Krackhardt, Peter Marsden, Nicholas Mullins, Anatol
-
21
Rapoport, Stanley Wasserman, Barry Wellman, Douglas R. White ou Harrison
White expandiram e difundiram o uso sistemtico da anlise de redes sociais,
conforme aponta Freeman (2006).
No Brasil, Balancieri (2010) afirma que parte das pesquisas em redes
sociais vem sendo desenvolvidas por pesquisadores do campo da cincia da
informao (MATHEUS; SILVA, 2006), seja na anlise de fluxos de
transferncia de informao (MARTELETO, 2001), do compartilhamento de
informao e conhecimento em organizaes (ALCAR et al., 2006; TOMAL
et al., 2005; TOMAL; MARTELETO, 2006) ou no estudo de redes de
colaborao cientfica (PARREIRAS et al., 2006; SILVA et al., 2006b) e de
interdisciplinaridade (SILVA et al., 2006a). H tambm pesquisadores de outros
campos da cincia utilizando-se das redes sociais para estudar os fluxos de
informaes e conhecimento (FREITAS; PEREIRA, 2005; PEREIRA et al.,
2007). Alm disso, diversos pesquisadores dedicam-se a desenvolver
pesquisas no sentido de identificar e avaliar propriedades estatsticas de redes
sociais (AMARAL et al., 2000; NEWMAN et al., 2001; WATTS; STROGATZ,
1998).
Em teoria, na estrutura das redes sociais os atores sociais se
caracterizam mais por suas relaes do que por seus atributos (gnero, idade,
classe social). Tais relaes tm uma densidade varivel, pois a distncia que
separa dois atores maior ou menor e, alguns atores podem ocupar posies
mais centrais que outros. Este fenmeno explicado por alguns toricos
apontando a existncia de laos fortes e fracos e a dos buracos estruturais,
onde se encontram os atores que no podem comunicar entre si, a no ser por
intermdio dum terceiro (PEREIRA, 2008).
No estudo da estrutura das redes sociais necessrio incluir as relaes
de parentesco de seus membros, redes sociomtricas, capital social, redes de
apoio, de mobilizao, interconexes entre empresas e redes de poltica
pblica. Compem-se de trs elementos bsicos: Ns ou atores, Vnculos,
Fluxos de informao (unidirecional ou bidimensional).
A anlise de redes sociais (ou Social Network Analysis SNA) verifica
as relaes sociais na forma de grficos de pontos interligados (grafos). Cada
ligao entre dois pontos representa uma relao entre pares de indivduos
(quem se comunica com quem, por exemplo).
-
22
Uma rede social (do ingls social network) consiste de um ou mais
conjuntos finitos de atores [e eventos] e todas as relaes definidas entre eles
(WASSERMAN e FAUST, 1994). Um ator em Anlise de Redes Sociais uma
unidade discreta que pode de diferentes tipos: uma pessoa, ou um conjunto
discreto de pessoas agregados em uma unidade social coletiva, como
subgrupos, organizaes e outras coletividades. Estudos recentes apresentam
um modelo de anlise que, entre outras coisas, procura identificar as pessoas
que funcionam como conectores e brokers nas redes sociais. Os
Conectores so pessoas que, constantemente, ligam um ator a outro.
A noo do que se chamam redes sociais e os mtodos de anlise
dessas redes tm sido bastante usados na comunidade cientfica para analisar
relacionamentos entre entidades sociais e os padres e implicaes desses
relacionamentos (WASSERMAN e FAUST, 1994, p. 3).
Esses relacionamentos podem ser de diversos tipos (e.g. econmicos,
polticos, afetivos e sociais). Trata-se, portanto, de um instrumental distinto dos
tradicionais mtodos estatsticos e de anlise de dados. A anlise de redes
sociais tem sido incorporada na cincia social, subsidiando pesquisadores para
descrever fenmenos empricos onde se d importncia s interaes entre os
atores de um determinado contexto social.
A ARS considerada por Cross, Parker e Borgatti (2000) um importante
instrumento para estudar relacionamentos que fomentam o compartilhamento
da informao e do conhecimento. uma ferramenta que permite a
identificao de indicadores de padres de relacionamentos que aprimoram a
cooperao. Pode-se consider-la um recurso que identifica os atores mais
influentes na rede, e est tornando-se, cada vez mais, um recurso estratgico
na estruturao e criao de ligaes importantes.
Alm da importncia s relaes entre os atores, Wasserman e Faust
(1994, p. 4) destacam tambm que a anlise de redes sociais baseia-se nas
seguintes premissas:
Os atores e suas aes so vistas como interdependentes e, cada ator
uma unidade autnoma;
As ligaes ou as relaes entre atores so canais para transferir ou
fluir recursos, sejam materiais ou imateriais;
-
23
Modelos de redes focalizam vises individuais do ambiente estrutural
de rede, provendo oportunidades para as restries sobre aes individuais;
Modelos de redes conceitualizam estruturas sociais, econmicas ou
outras parecidas como os ltimos padres de relaes entre os atores.
A anlise de redes sociais no toma como unidade de anlise o ator
individual que faz parte da rede em estudo, mas a coleo de atores ou
indivduos e as suas interaes. Segundo Wasserman e Faust (1994, p. 4), as
regularidades ou padres de ligaes entre os atores so denominadas de
estruturas. As ligaes podem ser de qualquer tipo de relacionamento entre os
atores, como por exemplo: transaes comerciais, fluxos de recursos, fluxos de
informaes, avaliao afetiva de uma pessoa em relao outra etc. O objeto
da anlise de redes sociais estudar estas estruturas, seus impactos e
evoluo.
Segundo Marterleto (2001, p. 73), as redes nas cincias sociais
designam normalmente mas no exclusivamente os movimentos
fracamente institucionalizados, reunindo indivduos e grupos em uma
associao cujos termos so variveis e sujeitos a uma reinterpretao em
funo dos limites que pesam sobre suas aes. composta de indivduos,
grupos ou organizaes, e sua dinmica est voltada para a perpetuao, a
consolidao e o desenvolvimento das atividades de seus membros.
Esta rea do conhecimento vem expandindo suas aplicaes e obtendo
resultados surpreendentes que ajudam o entendimento sobre as relaes
sociais. Por exemplo, o conceito de small-world, mundo pequeno, que surgiu
de um experimento de Stanley Milgram, em 1967, foi um dos primeiros estudos
quantitativos da estrutura de redes sociais (MILGRAM, 1967). Milgram lanou-
se em um experimento social com o objetivo de encontrar a distncia entre
duas pessoas quaisquer nos EUA, sendo que a pesquisa consistiu em enviar
60 cartas a vrias pessoas em Nebraska, solicitando-lhes que as remetessem
para outras pessoas residentes em Massachusetts.
A condio que as pessoas deveriam passar as cartas em mos para
outras pessoas de suas relaes pessoais que fossem capazes de alcanar os
destinatrios, ou seja, diretamente ou via a opo amigo de um amigo. Parte
das cartas alcanou seu destino e Milgram concluiu que ocorreram, em mdia,
seis pessoas participarem na cadeia que levou uma carta de Nebraska para
-
24
Massachusetts. O nmero mdio de pessoas para fazer chegar uma carta ao
alvo foi de 5,5, que arredondado 6 - os famosos seis graus de separao. Ao
contrrio do que muitas pessoas pensam, no foi Milgram que cunhou a
expresso seis graus de separao. Essa expresso teve sua origem em uma
pea de teatro criada por John Guare, em 1990. A principal contribuio de
Milgram foi chamar a ateno para o quanto estamos conectados e o
fenmeno revelado pela pesquisa passou a ser conhecido pelo conceito de
mundo pequeno (small-world). Conhecendo ou no os estudos de Erds e
Rnyi (1958-68), Milgram escreveu que a sociedade no construda por
conexes randmicas entre pessoas, mas que tende a ser fragmentada em
classes e cliques sociais, antecipando algo que veio a ser provado
analiticamente no ocaso do sc. XX.
O experimento certamente continha possveis fontes de erros. Contudo,
Freitas e Pereira (2005) mencionam, em seu trabalho, que resultados de vrias
pesquisas constatam que dois atores escolhidos aleatoriamente podem estar
conectados por uma cadeia de relaes intermedirias, determinando assim o
efeito small-world.
Outro estudo extremamente relevante foi o de Euler (1707-1782), que
tornou-se o pai da Teoria dos Grafos quando resolveu um famoso problema de
sua poca, chamado de Problema das Pontes de Knigsberg. No sc. XVIII, a
cidade de Knigsberg, atualmente Kaliningrad, na Rssia, tinha sete pontes,
cinco das quais ligavam a ilha Kneiphof, cercada pelo rio Pregel, com o
restante da cidade. Um intrigante problema assolava a populao local: seria
possvel encontrar um caminho atravessando as sete pontes sem nunca
atravessar uma mesma ponte duas vezes?, conforme a Figura 2a. O problema
era comear em qualquer uma das quatro reas, caminhar por cada ponte
exatamente uma vez e retornar ao ponto de partida. Ao provar que o problema
no tinha soluo, Euler substituiu cada rea de terra por um ponto e cada
ponte por uma linha unindo os pontos correspondentes, assim produzindo um
grafo. Este grafo mostrado na Figura 2b, onde os pontos esto rotulados de
forma correspondente s quatro reas da Figura 2a. Mostrar que o problema
no tem soluo equivalente a mostrar que o grafo da Figura 2b no pode ser
atravessado.
-
25
Euler generalizou o problema e desenvolveu um critrio para que um
dado grafo pudesse ser atravessado. O grafo deveria estar conectado e cada
ponto deveria ser incidente a um nmero par de linhas. O grafo da Figura 2b,
embora esteja conectado, no possui ponto nenhum que seja incidente a um
nmero par de linhas. A partir do grafo das Pontes de Knigsberg, ele provou
que no havia uma rota que cruzasse cada ponte apenas uma vez. Era
necessrio inserir pelo menos mais uma ponte para tornar possvel esta
soluo.
Aps a descoberta de Euler, menciona Balancieri (2010) pode-se
destacar as redescobertas da mesma teoria por Kirchhoff, em 1847, e Cayley,
em 1857, que tratavam de aplicaes reais da teoria respectivamente na
anlise de redes eltricas e de ismeros qumicos. No sculo XX, Lewin
apresentou uma aplicao dos grafos na rea da Psicologia. Enfim, os grafos
podem representar tpicos dentro das mais diversificadas temticas (HARARY,
1972).
Figura 2 a) Problema das Pontes de Knigsberg; b) Grafo do
Problema das Pontes de Knigsberg; (HARARY, 1972, p.2)
, no inicio do sc. XX, que surge a ideia de rede social, a ideia de que
as relaes sociais compem um tecido que condiciona a ao dos indivduos
nele inseridos. A metfora de tecido ou rede foi inicialmente usada na
sociologia, para associar o comportamento individual estrutura a qual ele
pertence e transformou-se em uma metodologia denominada sociometria, cujo
instrumento de anlise se apresenta na forma de um sociograma. Apesar de
haver um grande consenso entre os cientistas sociais de que Jacob Moreno,
com seu trabalho sobre padres de amizade, em 1934, foi o fundador da
sociometria, Freeman (1996) argumenta que h trabalhos anteriores de Almack
-
26
(1922), Wellman (1926), Cheveleva-Janovskaja (1927), Bott (1928), Hubbert
(1929) e Hagman (1933), anteriores ao trabalho de Moreno (1934).
Cientistas vm estudando as estruturas das redes sociais em diferentes
reas (p.ex., comunicao, epidemiologia, psicologia, etc.). Um estudo
freqente o fenmeno da inovao atravs das redes sociais, que significa
considerar as relaes de trocas espontneas e procurar entender at que
ponto a dinmica da inovao interfere nesse processo e vice-versa. Para
tanto, usa-se a matemtica que, atravs da teoria dos grafos, estatstica,
modelos algbricos, modelos de small-worlds e a teoria da probabilidade,
refora e d suporte aos fundamentos tericos da anlise de redes sociais.
Os conceitos fundamentais que compem a anlise de redes sociais
so:
Ator: Conforme j definido anteriormente, entende-se como ator
qualquer entidade existente no contexto da aglomerao territorial que participe
ou no dos processos de inovao podendo ser uma unidade coletiva,
corporativa ou individual. Exemplos de atores so: pessoas de um grupo,
turmas, equipes, departamentos de uma empresa, organizaes, agregados
coletivos, cidades, estados, naes;
Vnculo relacional: uma ligao mantida entre atores. So exemplos
de vnculos relacionais: a avaliao de uma pessoa por outra, associao ou
afiliao a um evento ou um clube, interao comportamental como falar com o
outro, conexo fsica como uma estrada, relaes formais como a
subordinao de pessoas etc.;
Relao: Uma coleo de vnculos relacionais de um tipo especfico
entre atores de um grupo. So exemplos de relaes: os amigos entre os pares
de alunos de uma escola ou as ligaes formais diplomticas mantidas entre
pares de naes do mundo;
Subgrupo: um subconjunto de atores e todos os vnculos relacionais
entre eles;
Rede social: Uma rede social consiste de um conjunto finito de atores e
as relaes existentes entre eles. A representao matemtica de uma rede
baseada em: o um conjunto A contendo n atores e denotado por A = {a1, a2,
...., an}; o um conjunto R de pares de atores dado por R ={(an, aj), .... (ak, aj)},
representando as relaes entre eles. O conjunto R composto de n atores
-
27
contm no mximo n(n-1)/2 pares considerando que independe a ordem entre
os atores de um par, ou seja, que o par (an, aj) igual ao par (aj, an).
Uma rede formada por atores A e relaes R, denotada pelo grafo G,
representada graficamente por pontos ou ns (i.e. atores) e arcos entre os ns
(i.e. relaes entre atores), i.e. G = (A, R). A rede social representa um
conjunto de participantes autnomos, unindo idias e recursos em torno de
valores e interesses compartilhados.
As relaes podem ser direcionais ou no direcionais e as redes podem
ter mais de uma relao. Um par de atores que formam uma relao denomina-
se uma dade. Para cada conjunto de dades tem-se um grafo. O objetivo da
anlise de redes sociais demonstrar que a anlise de uma dade s tem
sentido em relao ao conjunto das outras dades da rede, porque sua posio
estrutural tem necessariamente um efeito sobre sua forma, seu contedo e sua
funo (MARTELETO, 2001, p. 72).
Ao considerar apenas os fluxos de informaes entre atores ou ns de
uma rede, distinguem-se as redes informacionais em trs tipos: espacial,
organizacional e emergente (LAZER, 2003). Uma rede espacial aquela cujas
conexes didicas so determinadas pela proximidade: cada ator comunica-se
exclusivamente com outros atores na sua proximidade. Uma rede
organizacional resultante das comunicaes dentro de uma organizao. As
redes emergentes so resultantes de interesses e decises dos atores
individuais que do ou no ateno a uma forma de relacionamento.
Dentro do contexto apresentado, cabe tecer alguns comentrios sobre a
representao matemtica de redes sociais. Uma rede de n atores de uma
determinada relao pode ser representada por uma sociomatriz de n linhas e
n colunas e o valor da ligao do ator ai para o ator aj colocada no elemento
(i, j)-simo da matriz.
Outra forma de representar uma rede a matriz de incidncia para
representar uma relao rk = (ai, aj), onde h uma linha para cada ator e uma
coluna para cada relao. Cada elemento dessa matriz zero, se o ator ai no
participa da relao r, e igual a um caso contrrio. Esta matriz binria, no
necessariamente uma matriz quadrada, e esse tipo de representao a mais
adequada para o estudo proposto.
-
28
Uma vez definida a representao mais adequada para o estudo, busca-
se identificar e selecionar um conjunto inicial de mtricas com vistas anlise
proposta. Nesse sentido, considerou-se como aspecto importante para o
diagnstico proposto a quantidade direta de relaes entre os atores da rede.
Alm do mais, sendo a rede um ambiente de comunicao e troca, as
informaes que circulam nela atingem tambm os atores de forma indireta.
Assim, as mtricas escolhidas foram aquelas que indicam os aspectos
relacionais diretos e indiretos entre os atores:
Cliques: De acordo com Gross e Yellen (1999, p. 50), uma clique de
um grafo G um subconjunto mximo de vrtices adjacentes mtuos em G.
Isto significa que a medida de cliques de uma rede determina o subconjunto de
ns, que so adjacentes a cada outro, e no existem outros ns que sejam
tambm adjacentes a todos os ns do clique. A definio de clique um ponto
de partida til para especificar a propriedade coesiva de subgrupos. Segundo
essa definio, deve haver no mnimo trs ns para compor um clique. Os
cliques podem representar uma instituio, um subgrupo especfico e mesmo
identificar a movimentao em torno de um determinado problema
(MARTELETO, 2001, p. 76). nos cliques que existe uma densidade maior de
comunicao (LAZER, 2003, p. 4), ou seja, mais eficiente compartilhar
informaes dentro de um grupo. Dentro deste contexto, as cliques emergem
de uma necessidade coletiva para produzir alguma coisa de que todos se
beneficiem e para a qual certa escala de atores requerida.
Centralidade: A centralidade de um ator significa a identificao da
posio em que se encontra em relao s trocas e comunicao na rede
(MARTELETO, 2001, p.76). Assim, corresponde quantidade de relaes que
se coloca entre um ator e outros atores. Por exemplo, em uma rede do tipo
estrela, onde participam n atores e um ator ai tem ligaes com os outros n-1
atores, a centralidade de ai a maior de todas. Essa medida d a indicao da
visibilidade de um ator na rede. Um ator com grande centralidade est em
contato direto e adjacente para muitos outros atores e, reconhecido pelos
outros como o maior canal de informaes. Por sua vez, aqueles atores com
baixo grau de centralidade so perifricos na rede, isto , se este ator for
excludo ou removido, no h efeitos significativos nas relaes presentes. A
-
29
centralidade de uma rede dada pela variabilidade das medidas individuais
dos atores e representada pelo desvio padro em relao ao valor mdio.
Marteleto (2001, p.76) adverte para o fato de os indivduos, com mais
contatos diretos em uma rede, no serem necessariamente aqueles que
ocupam as posies mais centrais e esta ocorrncia pode ser explicada
atravs do conceito de abertura estrutural. Um indivduo com poucas relaes
diretas pode estar muito bem posicionado em uma rede por meio da utilizao
estratgica de suas aberturas estruturais.
Centralidade de proximidade: Denomina-se de centralidade de
proximidade de um ator a sua independncia em relao aos outros e ele
to mais central quanto menor o caminho que ele precisa percorrer para
alcanar os outros elos da rede (MARTELETO, 2001, p. 78). Este tipo de
centralidade depende no apenas das relaes diretas, mas das relaes
indiretas, especialmente quando dois atores no esto adjacentes. O
distanciamento de um ator a soma das distncias geodsicas (i.e. menor
caminho entre os dois atores ai e aj e representada por d(ai, aj)) para todos os
outros atores. O inverso do distanciamento a centralidade de proximidade.
Centralidade de intermediao: Segundo Marteleto (2001, p. 79) a
centralidade de intermediao (betweeness centrality) o potencial daqueles
atores que servem de intermedirios. Representa o quanto um ator atua como
ponte, facilitando o fluxo de informao em uma determinada rede. Ou seja, a
interao entre dois atores no adjacentes pode depender de outros atores do
conjunto de atores, especialmente daqueles que participam no caminho entre
os dois. Estes outros atores podem, potencialmente, ter algum controle sobre
as interaes entre os dois atores no adjacentes. Por exemplo, a distncia
entre os atores a2 e a3 dada por a2, a1, a4, a3, i.e., o caminho mais curto
entre estes atores tem que passar atravs de dois outros atores (a1 e a4),
ento podemos dizer que os dois atores contidos no caminho pode ter controle
sobre a interao entre a2 e a3. Vale ressaltar que o papel da mediao
implica um exerccio de poder, de controle e de filtro de informaes que
circulam na rede.
Coeficiente de agrupamento: Define-se o coeficiente de agrupamento c
como a frao mdia de pares de atores prximos de um ator que tambm so
prximos de outros. Em uma rede completamente conectada, na qual todos
-
30
conhecem todos, o coeficiente de agrupamento c = 1. A aplicao desta
mtrica para um arranjo produtivo d medida que os atores que dele
participam so relacionados entre si e explica de alguma forma o grau de
sinergia possvel do grupo como um todo (WASSERMAN & FAUST, 1994).
Reafirma-se a possibilidade de entender o fenmeno das redes de
conhecimento, no contexto das cincias, atravs da anlise de redes sociais,
pois esta considera as relaes de trocas e procura entender at que ponto a
dinmica do conhecimento cientfico compartilhado e interfere nesse
processo e vice-versa. A anlise das mtricas propostas propiciar elementos
para apontar possveis intervenes que permitam aperfeioar as interaes
entre os atores para fins de compartilhamento do conhecimento cientfico.
A organizao do estudo est baseada em uma idia que Leroy-Pineau
(1994:24) chamou de "eficcia" das redes. Segundo Marteleto (2007), o
conceito de rede tem, em termos gerais, uma dupla aplicao (ou eficcia): a
"utilizao esttica" e a "utilizao dinmica".
A utilizao esttica explora a rede estrutura, ou seja, lana mo da idia
de rede para melhor compreender a sociedade ou um grupo social por sua
estrutura, seus ns e suas ramificaes. Essa foi a contribuio que o enfoque
de redes sociais deu sociologia e a outras cincias. A utilizao dinmica
explicita a rede sistema, o que significa trabalhar as redes como uma estratgia
de ao no nvel pessoal ou grupal, para gerar instrumentos de mobilizao de
recursos. Para o pesquisador, a idia de redes tem a utilizao esttica. Para
os grupos estudados, a utilizao dinmica.
A anlise de redes sociais como ferramenta de pesquisa permite
identificar e compreender relaes entre atores a partir da visualizao grfica
das interaes e dos clculos de indicadores macro e microestruturais. Sua
utilizao necessita ser complementada por dados empricos que permitam a
identificao e anlise das relaes entre atores, seus atributos e as
implicaes disso no contexto especfico do estudo. Integrar posio dos atores
e papis que exercem, descrevendo-os em funo das relaes que
estabelecem, e no apenas em funo de seus atributos, significa considerar
as relaes em si mesmas to importantes quanto os atores que a
estabelecem (Degenne & Fors, 2004; Marteleto, 2001).
-
31
Neste estudo foram utilizados esses dois caminhos, ou seja, tanto o
conceito de redes, que contribuiu ao trazer uma nova metodologia para as
cincias, quanto s novas possibilidades que ele traz, na prtica, para grupos
organizados no ambiente acadmico.
2.5 O CAMPO CIENTFICO
Aqui se aborda a teoria dos campos de Pierre Bourdieu, que constitui o
referencial terico-metodolgico utilizado nesta pesquisa e o espao onde as
redes de conhecimento se configuram e atuam, trazendo o conceito de campo
e de habitus e desenvolvendo a Teoria do Espao Social.
A sociologia da cincia um ramo de estudo da sociologia, dentro do
campo da sociologia do conhecimento, que estuda a influncia de fatores
externos no desenvolvimento da cincia. Possui estreitas ligaes com a
Histria da Cincia e, ganhou grande impulso com a publicao de A Estrutura
das Revolues Cientficas, de Thomas Kuhn. Com a radicalizao da posio
kuhniana, surgiram estudos cada vez mais radicais que pensavam a verdade
cientfica como algo puramente conformado por fatores sociais, como as
posies da Escola de Edimburgo e seu Programa forte de Sociologia, a
antropologia da cincia de Bruno Latour, e toda uma vertente de estudos ps-
kuhnianos e ps-modernos.
A principal contribuio terica de Bruno Latour, ao lado de outros
autores como Michel Callon, o desenvolvimento da ANT - Actor Network
Theory (Teoria ator-rede) que, ao analisar a atividade cientfica, considera,
enquanto variveis, tanto os atores humanos como os no humanos, estes
ltimos devido sua vinculao ao princpio de simetria generalizada.
Conhecido por seus livros que descrevem o processo de pesquisa cientfica,
dentro da perspectiva construtivista que privilegia a interao entre o discurso
cientfico e a sociedade, os de maior destaque so: Jamais Fomos Modernos e
Cincia em Ao (LATOUR, 1983).
Nesta vertente ainda aparece o filsofo de formao, Pierre Bourdieu,
que desenvolveu, ao longo de sua vida, mais de 300 trabalhos abordando a
questo da dominao e , sem dvida, um dos autores mais lidos, em todo o
mundo, nos campos da Antropologia e Sociologia, cuja contribuio alcana as
mais variadas reas do conhecimento humano, discutindo em sua obra temas
-
32
como educao, cultura, literatura, arte, mdia, lingustica e poltica. Tambm
escreveu muito analisando a prpria Sociologia enquanto disciplina e prtica.
Dirigiu, por muitos anos, a revista "Actes de la recherche en sciences sociales"
(1975) e presidiu o CISIA (Comit Internacional de Apoio aos Intelectuais
Argelinos), sempre se posicionado clara e lucidamente contra o liberalismo e a
globalizao.
Sua discusso sociolgica centrou-se, ao longo de sua obra, na tarefa
de desvendar os mecanismos da reproduo social que legitimam as diversas
formas de dominao. Para empreender esta tarefa, Bourdieu (2002)
desenvolveu conceitos especficos, retirando os fatores econmicos do
epicentro das anlises da sociedade, a partir de um conceito concebido por ele
como violncia simblica, no qual advoga acerca da no arbitrariedade da
produo simblica na vida social, advertindo para seu carter efetivamente
legitimador das foras dominantes, que expressam por meio delas seus gostos
de classe e estilos de vida, gerando o que ele pretende ser uma distino
social. O mundo social, para Bourdieu, deve ser compreendido luz de trs
conceitos fundamentais: campo, habitus e capital.
O eixo do trabalho de Bourdieu est situado na discusso das relaes
de foras e dos processos que regulam as sociedades modernas, ou seja, na
mediao entre o agente social e a sociedade. Sua problemtica terica funda-
se em trs premissas bsicas, as quais articulam toda sua produo: o
conhecimento praxiolgico, a noo de habitus e o conceito de campo. De
forma genrica, pode-se dizer que Bourdieu substitui a idia de sociedade por
"campos sociais".
As idias do socilogo francs Pierre Bourdieu, utilizadas em diferentes
domnios do conhecimento, apresentam possibilidades interpretativas
extremamente profcuas para a leitura das redes de conhecimento em cincias.
Bourdieu (2002) procura superar a oposio entre o subjetivismo e o
objetivismo mediante uma relao suplementar, vertical, que medeia entre o
sistema de posies objetivas e disposies subjetivas de indivduos e
coletividades. O habitus referido a um /campo/, e se acha entre o sistema
imperceptvel das relaes estruturais, que moldam as aes e as instituies,
e as aes visveis desses atores, que estruturam as relaes.
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O social constitudo por campos, microcosmos ou espaos de relaes
objetivas, que possuem uma lgica prpria, no reproduzida e irredutvel
lgica que rege outros campos. O campo tanto um campo de foras, uma
estrutura que constrange os agentes nele envolvidos, quanto um campo de
lutas, em que os agentes atuam conforme suas posies relativas no campo
de foras, conservando ou transformando a sua estrutura (BOURDIEU, 1996,
p.50). Os campos no so estruturas fixas. So produtos da histria das suas
posies constitutivas e das disposies que elas privilegiam (BOURDIEU,
2001, p.129). O que determina a existncia de um campo e demarca os seus
limites so os interesses especficos, os investimentos econmicos e
psicolgicos que ele solicita a agentes dotados de um habitus e as instituies
nele inseridas. O que determina a vida em um campo a ao dos indivduos e
dos grupos, constitudos e constituintes das relaes de fora, que investem
tempo, dinheiro e trabalho, cujo retorno pago consoante a economia
particular de cada campo (BOURDIEU, 1996, p.124).
Assim, para Bourdieu, o espao social formado por diferentes campos.
Para ele, o espao social compara-se a um espao geogrfico no interior do
qual se recortam regies, ou seja, campos, sendo esse espao social
construdo de maneira que quanto mais prximos estiverem os grupos ou
instituies ali situados, mais propriedades eles tero em comum; quanto mais
afastados, menos propriedades em comum eles tero (BOURDIEU, 2004,
p.153).
Os campos resultam de processos de diferenciao social, da forma de
ser e do conhecimento do mundo. Como tal, cada campo cria o seu prprio
objeto (artstico, educacional, poltico etc.) e o seu princpio de compreenso.
So espaos estruturados de posies em um determinado momento. Podem
ser analisados independentemente das caractersticas dos seus ocupantes,
isto , como estrutura objetiva. So microcosmos sociais, com valores (capitais,
cabedais), objetos e interesses especficos (BOURDIEU, 1990, p.32). O
conceito de campo fruto do estruturalismo gentico de Bourdieu. Um
estruturalismo que se detm na anlise das estruturas objetivas dos diferentes
campos, mas que as estuda como produto de uma gnese, isto , da
incorporao das estruturas preexistentes (BOURDIEU, 1990, p.24). Os
campos so mundos, no sentido em que falamos no mundo literrio, artstico,
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poltico, religioso, cientfico. So microcosmos autnomos no interior do mundo
social. Todo campo se caracteriza por agentes dotados de um mesmo habitus.
O campo estrutura o habitus e o habitus constitui o campo. O habitus a
internalizao ou incorporao da estrutura social, enquanto o campo a
exteriorizao ou objetivao do habitus.
Para Bourdieu (1990, p. 89), campos so "espaos estruturados de
posies (ou de postos) cujas propriedades dependem das posies nestes
espaos, podendo ser analisadas independentemente das caractersticas de
seus ocupantes (em parte determinadas por elas)".
Independentemente de sua especificidade, os campos possuem leis
gerais invariveis e propriedades particulares que se expressam como funes
variveis secundrias. Com efeito, os conhecimentos adquiridos com um
campo especfico so teis para se interrogar e interpretar outros campos.
justamente nesse n que Bourdieu desenhou a "Teoria dos Campos".
Um campo estrema-se, entre muitos aspectos, pela definio dos
objetos de disputas e dos interesses especficos do prprio campo. Esses
objetos e interesses so percebidos apenas por pessoas com formao
apropriada para adentrarem no campo.
Para que um campo funcione, entende Bourdieu (1983, p. 89), " preciso
que haja objetos de disputas e pessoas prontas para disputar o jogo, dotadas
de habitus que impliquem no conhecimento e reconhecimento das leis
imanentes do jogo, dos objetos de disputas, etc.".
A existncia do habitus , ao mesmo tempo, condio de existncia de
um determinado campo e produto de seu funcionamento dentro de uma
estrutura especfica. Para Bourdieu (1983, p. 90), a estrutura do campo um
estado da relao de fora entre os agentes ou as instituies engajadas na
luta ou, se preferirmos, da distribuio do capital especfico que, acumulado no
curso das lutas anteriores, orienta as estratgias ulteriores. Esta estrutura, que
est na origem das estratgias destinadas a transform-la, tambm est
sempre em jogo: as lutas cujo espao o campo tm por objeto o monoplio
da violncia legtima (autoridade especfica) que caracterstica do campo
considerado, isto , em definitivo, a conservao ou a subverso da estrutura
da distribuio do capital especfico.
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Dentro dessa relao de fora, os agentes que monopolizam o capital
especfico, mais ou menos completamente, tendem a estratgias que visem a
manuteno da ordem estabelecida, freqentemente, com intransigncia em
relao s mudanas no estado. Os agentes que possuem menos capital,
inversamente, tendem a estratgias de subverso e rompimento com o estalo,
dentro de certos limites.
A transposio desses limites pode determinar a excluso dos mesmos
do campo. Assim, as transformaes impostas por esses agentes so
revolues parciais, ou seja, so revolues que no colocam em questo os
fundamentos do objeto de disputas (jogo). Bourdieu (1983, p. 91) considera
que [...] um dos fatores que coloca os diferentes jogos ao abrigo das
revolues totais, cuja natureza destri no apenas os dominantes e a
dominao, mas o prprio jogo precisamente a prpria importncia do
investimento, em tempo, em esforos, etc., que supe a entrada no jogo e que,
como as provas dos ritos de passagem contribuem para tornar praticamente
impensvel a destruio pura e simples do jogo.
Todos os agentes engajados num determinado campo possuem
determinados interesses especficos comuns. Entre esses, o principal deles a
existncia do prprio campo. A luta entre esses antagonistas pressupe um
acordo sobre o que merece ser disputado e produz a crena no valor dessa
disputa.
Outro fator considerado como relevante a conservao do que se
produzido dentro do campo. Essa conservao ocorre, normalmente, ligada a
apario de um corpo de conservadores do passado e do presente e serve,
aos detentores do capital especfico, para conservar e se conservar
conservando. O autor considera tal atitude ou estratgia com o passado e com
o presente como um dos ndices mais seguros da constituio de um campo.
Tais estratgias, mesmo que objetivamente orientadas em relao a fins
que no podem ser subjetivamente almejados, no buscam a maximizao de
um lucro especfico. Elas ocorrem como relao inconsciente entre um habitus
e um campo.
Para Bourdieu, o habitus uma possibilidade vivel de construo de
uma cincia das prticas isenta de finalismo e mecanicismo. O delineamento
dado ao conceito o seguinte: o habitus, sistema de disposies adquiridas
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pela aprendizagem implcita ou explcita que funciona como um sistema de
esquemas geradores gerador de estratgias que podem ser objetivamente
afins aos interesses objetivos de seus autores sem terem sido expressamente
concebidos para esse fim. H toda uma reeducao a ser feita para escapar
alternativa entre finalismo ingnuo [...] e a explicao do tipo mecanicista (que
tornaria esta transformao por um efeito direto e simples de determinaes
sociais). Quando basta deixar o habitus funcionar para obedecer necessidade
imanente do campo, e satisfazer s exigncias inscritas (o que em todo campo
constitui a prpria definio de excelncia, sem que as pessoas tenham
absolutamente conscincia de estarem se sacrificando por um dever e menos
ainda o de procurarem a maximizao do lucro especfico). Eles tm assim, o
lucro suplementar de se verem e serem vistos como perfeitamente
desinteressados (BOURDIEU, 1983, p. 94).
2.6 FONTES DE INFORMAO
Este trabalho aborda as relaes entre as redes de conhecimento e o
uso que tais redes fazem das diferentes fontes de informao. Assim que,
entendemos que a informao pode estar fixada na memria de uma pessoa, e
como tal considerada uma fonte de informao, para dar continuidade a um
conhecimento adquirido ao longo de sua vida. Da mesma forma, a informao
pode estar em diferentes suportes e esta diversidade propicia a necessidade
de estudos sobre as relaes entre as pessoas e as fontes de informao.
De acordo com Martn Veja (1995), as fontes de informao podem ser
todo vestgio ou fenmeno que forneam uma notcia, informao ou dados.
Da, o uso mais corrente e vulgar com que se emprega a expresso fontes de
informao, ao lado de sua considerao cientfica como sistematizao de
alguns conhecimentos, o que as identifica com a origem da informao, seja
de que tipo for. Com muita freqncia, os meios de comunicao denominam
de fontes as pessoas que possam fornecer informaes relevantes para seus
profissionais.
Para Sainero et al. (1994), as fontes de informao constituem um
conceito muito amplo, podendo ser considerados fontes de informao, os
materiais ou produtos, originais ou elaborados, que fornecem notcias ou
testemunhos, atravs dos quais se alcana o conhecimento, qualquer que seja
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este. Segundo os autores, estes materiais ou produtos, que constituem as
fontes de informao so passos, testemunhos ou conhecimentos, fornecidos
pelo homem no transcorrer do tempo e podem ser restos biolgicos,
monumentos, documentos, livros ou produtos digitais, todo aquele que
contenha uma notcia, uma informao ou um dado.
Esta considerao evidencia a amplitude do conceito de fontes de
informao. Nele cabem todos aqueles elementos que, submetidos
interpretao, podem transmitir conhecimento, tal como um hierglifo, uma
cermica, um quadro, uma partitura musical, uma fotografia, um discurso, um
livro, uma tese de doutorado e outros.
O primeiro problema que surge na hora de definir-se o que so fontes
de informao sua designao. Josefa Emilia Sabor, em 1957, j oferecia um
extenso e detalhado trabalho sobre as mais significativas e utilizadas fontes de
informao nas bibliotecas para satisfazer as necessidades informacionais de
seus usurios.
Trata-se, pois, de um termo composto por dois elementos justapostos
que contam independentemente com uma grande carga semntica: fontes /
informao. O segundo unido ao primeiro mediante uma preposio implica
pertencimento. Termo muito genrico que, ao menos em dois setores, se
identifica com um significado muito concreto, como o dos recursos
necessrios para poder acessar-se a informao e o conhecimento em geral.
E, no campo da Biblioteconomia se aplica, englobando todos os instrumentos
que usa ou cria o profissional da informao para satisfazer as demandas e
necessidades informativas dos usurios de qualquer unidade de informao,
seja um arquivo, biblioteca ou centro de documentao.
A primeira classificao, conforme Sainero et al. (1994), que se pode
fazer em relao s fontes de informao diferenci-las em fontes
documentais e fontes bibliogrficas. As fontes documentais relacionam-se
quase que exclusivamente investigao histrica, estando extremamente
vinculadas Heurstica, ou ainda, parte do mtodo que trata da busca e
conhecimento das fontes da Histria. Por sua vez, as fontes bibliogrficas so,
principalmente, livros, artigos e uma grande srie de produtos elaborados por
diferentes especialistas que permitem obterem-se informaes.
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Podemos considerar informao bibliogrfica aquela que se obtm de
forma escrita, contida num documento que pode ser lido de maneira lgica,
completa e independente. Tais fontes de informao esto relacionadas
diretamente com os livros e, tem sua origem na bibliografia. Os livros so um
dos primeiros meios de transmitir informao, seja direta ou indiretamente,
encontrando-se disposio dos usurios, gerais ou especializados, segundo
demandem literatura de divulgao ou cientfica, respectivamente.
Porm, as fontes no se fixam unicamente em documentos, mas
tambm contemplam e reconhecem a informao procedente de instituies,
pessoas e, inclusive, dos prprios acontecimentos sociais. Como disse
Gonzalez et al. (2007), considerada fonte de informao todo objeto ou
sujeito que gere, contenha, administre ou transfira informao. Outro texto, de
Armando Asti Vera (1976), menciona que nas cincias positivas, em especial
as cincias fatuais, as fontes so os trabalhos de laboratrio, as observaes e
os experimentos; nas disciplinas humansticas, como nas cincias formais
(matemtica, fsica terica, lgica matemtica) so os livros, os artigos
tcnicos, os documentos de arquivos e, em outros casos (Psicologia Social,
Sociologia, Economia, etc.), tambm os resultados dos trabalhos de campo.
A expresso fontes de informao adquire, pouco a pouco, maior
relevncia a cada dia, sobretudo a partir dos anos 60 e do desenvolvimento da
informtica aplicada Documentao.
A fronteira entre fonte e documento no to demarcativa e profunda
como indica o famoso tringulo da consolidao de Saracevic (1978),
referindo-se s relaes entre informao, comunicao e cincia da
computao. As fontes de informao no so iluses, no so conceitos
abstratos. Ao contrrio, tem uma essncia material, so e devem ser
perfeitamente observveis; em conseqncia so documentos. Alguns
fenmenos como a inspirao ou a revelao podem considerar-se fontes,
porm de conhecimento.
A origem das fontes pode ser pessoal, institucional ou documental. As
fontes pessoais so as pessoas que possuem conhecimentos destacveis
sobre determinado assunto. Podem ser de carter individual ou coletivo e seus
conhecimentos so graduados de acordo com a experincia profissional ou
vivncias. As fontes de carter individual so as pessoas-fonte que garantiro a
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autoridade acerca de determinado assunto, segundo seu grau de
conhecimento e suas relaes profissionais. Pessoas-fonte so facilmente
localizadas em diretrios, biografias, dicionrios biogrficos, sites da web,
bancos de dados e ndices especializados.
Por sua vez, as fontes de carter coletivo constituem-se em associaes
profissionais, comunidades cientficas, sindicatos e outras agregaes de
pessoas que tem como objetivo comum a troca de experincias e informaes.
O acesso a essas pessoas se d em congressos e outros eventos.
As fontes institucionais caracterizam-se por aquelas instituies que so
o prprio objeto de interesse e fonte de informao sobre suas atividades e
valores. O acesso a essas fontes d-se por meio de indivduos da prpria
instituio ou por documentos, como relatrios, organogramas, catlogos e
informes.
E por fim, as fontes documentais so as fontes oriundas da investigao
histrica e vinculadas Heurstica, conforme Carrizo Sainero, Irureta-Goyena
Snchez e Quintana Senz (1994). So aquelas que buscam o levantamento
de informaes para validar algum conhecimento por meio de um documento
comprobatrio.
Diferentemente das fontes bibliogrficas que contm informaes que se
obtm de forma escrita, contida num documento que permite sua leitura de
maneira lgica, completa e independente.
A partir da informatizao da sociedade e do desenvolvimento das
tecnologias de informao e comunicao, surge a internet com todo seu
potencial de fonte.
A internet, enquanto fonte de informao, apresenta um grande potencial
que no se restringe ao nmero de conexes, nem tampouco s interaes
proporcionadas por ela. Ela amplia a divulgao e o acesso, na maioria dos
casos gratuitos, s informaes, reconfigurando a maneira como os usurios
buscam e lidam com o conhecimento.
Os usurios da internet buscam um nvel de interao que possibilite a
comunicao, de forma multilateral, ou seja, de vrios atores para vrios
atores, alastrando, na velocidade de um clique, informaes em diversos nveis
e formatos (CARDOSO e SILVA, 2011).
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A pesquisa realizada por Cardoso e Silva (2011) aponta que, quando
perguntados sobre as principais alteraes trazidas pelas redes sociais em
suas vidas, os estudantes universitrios consideram a aquisio de novas
habilidades (29%) e a aquisio de novos conhecimentos (27%). As autoras
afirmam que esses dados demonstram que as interaes online propiciam
amplamente o acesso e o compartilhamento do contedo, dentro de uma rede
de relacionamentos, no entanto, enfatizam que apenas 7% dos alunos
responderam melhoria no desempenho profissional.
A internet tambm permite o acesso fontes de informao
automatizadas, as chamadas bases de dados, que possibilitam a pesquisa de
modo interativo, atravs do computador.
Na rea da sade, a base de dados mais utilizada a National Library of
Medicine, responsvel pelo Medline, encontrado no endereo
http://www.pubmed.gov . O Medline de domnio pblico e pode ser
pesquisado na internet, a partir dos portais, pginas de peridicos e de
servios. O MeSH, acrnimo de Medical Subject Headings, o vocabulrio
usado para indexar artigos no Medline e no Index Medicus. As demais bases
de dados (Capes, Scielo, SIBiNet-USP, BVS-Bireme, BioMed Central, Free
Medical Journals, Ovid, Science Direct) apresentam caixas de dilogo
interativas, com procedimentos semelhantes e podem ser acessadas a partir
de portais da internet (BERNARDO, NOBRE e JATENE, 2004). A literatura
cientfica publicada em revistas cientficas independentes, p.ex. peridicos
internacionalmente reconhecidos, uma fonte de informao mais fidedigna,
uma vez que h uma seleo mais cuidadosa e exigente, quanto qualidade
dos artigos publicados. Esses peridicos encontram-se indexados e podem ser
exemplificados, dentre outros, por British Medical Journal, New England
Journal of Medicine, Lancet, Journal of the American Medical Association,
American Journal of Health-System Pharmacy, Journal of the American
Pharmaceutical Association (PEPE e CASTRO, 2000).
Outras fontes de informao, na rea da sade, so: literatura publicada
em revistas no indexadas, algumas delas financiadas pela indstria; fontes de
informao de cunho formativo produzida em locais de graduao e ps-
graduao, constitudos de material apostilado e resumido, distribudos e lidos
durante a formao mdica; fontes de informao oficiais, produzidas por
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organizaes internacionais, como a Organizao Mundial de Sade (OMS) e
outras; fontes de informao produzidas pela indstria farmacutica, desde de
prospectos at compilaes de bulas; livros-textos, contendo informaes mais
gerais ou mais especficas, conforme o caso; informaes trocadas entre os
profissionais, em reunies promovidas nos locais de trabalho, como centros de
estudos, discusso de casos, congressos, reunies cientficas e cursos
realizados nas sociedades ou associaes profissionais; farmacopias e
outras.
2.7 A EDUCAO EM CINCIAS
A pesquisa educacional tem como um dos seus objetos de anlise o
indivduo, tornando fundamental conhecer o estudante, o p