Refaccção Análise Do Poema - Sentido de Alice Ruiz
-
Upload
alberto-gomes -
Category
Documents
-
view
7 -
download
0
description
Transcript of Refaccção Análise Do Poema - Sentido de Alice Ruiz
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSOINSTITUTO DE LINGUAGENS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DE LINGUAGEM – MESTRADO
TEORIA DOS GÊNEROS LITERÁRIOS: POESIADOCENTE: PROF.ª DRA. CÉLIA MARIA DOMINGUES DA ROCHA REIS
DISCENTE: SANDRA LEITE DOS SANTOS
Análise do poema: “Sentido” de Alice Ruiz
Junho/2015
Sentido
Alice Ruiz
Que fique muito mal explicadoNão faço força para ser entendidoQuem faz sentido é soldadoPara todos os efeitos meus defeitos não são meus Que importa o sentido se tudo vibra?Não importa o sentido O bramido do meu canto mudoComporta bemóis e sustenidos Convoca ouvidos surdos Ao silêncio suave Da melodia sem conteúdo
A Revista Cult traz as seguintes considerações sobre Alice Ruiz: Alice Ruiz pertence a uma geração de poetas brasileiros que conviveu com a tradição literária do modernismo, a contracultura, contra o lirismo e a sentimentalidade atribuídos por muito tempo à poesia de autoria feminina: A subversão poética da autora, se recusa a ingenuidade romântica. E por intermédio de seus poemas ela vai deixando sua marca de insubordinação. (disponível em http://revistacult.uol.com.br/home/2014/03/a-lirica-imprevista-de-alice-ruiz/)
O poema “Sentido”, de Ruiz, é um bom exemplo dessa poesia de subversão. Com versos livres e métrica irregular, o poema traz consigo uma espécie de crítica as tradições advindas de outras épocas, em que os poetas faziam grandes esforços para que seus poemas tivessem forma e conteúdo e que coubessem no metro vigente. Paz, 1974, p.15 diz que. “O verso livre é uma unidade rítmica. D. H. Lawrence diz que a unidade do verso livre é dada pela imagem e não pela medida externa”. Desse modo, o seu poema de Ruiz não foi feito para seguir uma forma ou para ser entendido, fato esse apresentado por meio da instancia lírica, nos dois primeiros versos “Que fique muito mal explicado” e “Não faço força para ser entendido”. Cabe ao leitor de interpretá-lo como achar melhor. Até porque o poema tem a liberdade e dá a liberdade a esse leitor de poder fazer suas possíveis interpretações por meio de suas sensações e ver além ou não do que está nos pressupostos do mesmo.
O verso seguinte, “Quem faz sentido é soldado”, é um exemplo da situação do profissional que ocupa dentro da carreira militar a mais baixa patente e que está sempre em “posição de sentido”, pronto a receber e cumprir ordens, sem nem ao menos questioná-las. Com esse verso, Ruiz exime seu poema dessa obrigação de ter que fazer sentido para servir aos outros.
Como visto anteriormente poema não segue nenhuma regra específica de metrificação e no verso “Para todos os efeitos meus defeitos não são meus” a autora refere-se às possíveis dificuldades que o poeta pode encontrar no momento da produção,
tendo de encaixar sua obra em uma métrica tentando conciliá-la com a gramática. O verso “Que importa o sentido se tudo vibra? é o único a apresentar sinal de pontuação, neste caso, uma interrogação. Para Adorno, 2003, p.142, “pontos de interrogação são acentuações de frases musicais no contratempo”. O contratempo na música ocorre quando o acento é deslocado, ou seja, o acento que seria no tempo forte acontece no tempo fraco. E na poesia esse ponto exerce o papel de sinal melódico.
Segundo Brik, 1978, p.134, todas as épocas conhecem duas atitudes possíveis com respeito à poesia: alguns acentuam o aspecto rítmico, outros o aspecto semântico. Nos versos seguintes notamos a presenças de metáforas e elementos que nos remetem a música. No verso “O bramido do meu canto mudo” é uma metáfora e nos fala que um grito de fera contido nesse canto que não pode expressar-se. O verso “Comporta bemóis e sustenidos” refere-se aos sinais que marcam notas musicais. Para Adorno, 2003, em nenhum de seus elementos a linguagem é tão semelhante à música quanto nos sinais de pontuação. No poema Ruiz utilizou poucos sinais de pontuação, mas fez muitas referências aos sinais de musicalidade, como “bemóis”, “sustenidos”, “canto”, “ouvidos” “melodia acentuando assim o aspecto rítmico.
Nos três últimos versos “Convoca ouvidos surdos”, “Ao silêncio suave”, “ Da melodia sem conteúdo” a poetisa refere-se a segundo BOSI, 2000, p.91, “a liberdade moderna de ritmos, a que responde uma grande mobilidade no arranjo da frase, é signo de que se descobriu e se quer conscientemente aplicar na prática do poema o princípio duplo da linguagem: sensorial, mas discursivo; finito, mas aberto; cíclico, mas vetorial. E Ruiz empregou em seu poema essa liberdade de escrever o que se deseja sem a obrigação de se fazer entender.
Referências bibliográficas
ADORNO, THEODOR W. Notas de literatura I. Tradução de Jorge de Almeida. São Paulo: Duas Cidades; Editora 34, 2003.
BOSI, ALFREDO. O ser e o tempo da poesia. São Paulo: Companhia das letras 2000.
OSIP, BRICK. Formalistas russos. Teoria da literatura. Porto Alegre: Ed. Globo, 1978.
PAZ, OCTAVIO. Signos em rotação. São Paulo: Ed. Perspectiva, 1976.
Revista Cult (disponível em http://revistacult.uol.com.br/home/2014/03/a-lirica-imprevista-de-alice-ruiz/)