Refletindo sobre um percurso: o (re)encontro com a prática ... · formação ao longo de toda a...

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Universidade do Porto Faculdade de Desporto Refletindo sobre um percurso: o (re)encontro com a prática pedagógica Relatório de Estágio Profissional Relatório de Estágio Profissional apresentado à Faculdade de Desporto da Universidade do Porto com vista à obtenção do 2.º ciclo de estudos conducente ao grau de Mestre em Ensino de Educação Física nos Ensinos Básico e Secundário ao abrigo do Decreto-Lei n.º 74/2006 de 24 de março e do Decreto-Lei n.º 43/2007 de 22 de fevereiro. Orientador: Mestre Rui Jorge de Abreu Veloso Tiago João da Silva Santos Porto, julho de 2013

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Universidade do Porto

Faculdade de Desporto

Refletindo sobre um percurso:

o (re)encontro com a prática pedagógica

Relatório de Estágio Profissional

Relatório de Estágio Profissional apresentado à

Faculdade de Desporto da Universidade do Porto

com vista à obtenção do 2.º ciclo de estudos

conducente ao grau de Mestre em Ensino de

Educação Física nos Ensinos Básico e

Secundário ao abrigo do Decreto-Lei n.º 74/2006

de 24 de março e do Decreto-Lei n.º 43/2007 de

22 de fevereiro.

Orientador: Mestre Rui Jorge de Abreu Veloso

Tiago João da Silva Santos

Porto, julho de 2013

II

Santos, T. J. S. (2013). Refletindo sobre um percurso: o (re)encontro com a

prática pedagógica. Porto: T. Santos. Relatório de estágio profissionalizante

para a obtenção do grau de Mestre em Ensino de Educação Física nos Ensinos

Básico e Secundário, apresentado à Faculdade de Desporto da Universidade

do Porto.

Palavras-chave: Estágio profissional, Reflexão, Investigação, Intencionalidade

educativa, Crescimento profissional.

III

Dedicatória

A ti, pai, dedico esta vitória.

IV

V

Agradecimentos

O presente relatório é fruto de um trabalho colaborativo. Deste modo,

quero agradecer a todos aqueles que de alguma forma, contribuíram para que

todo o percurso efetuado até então tenha sido possível. Sendo inexequível

enumerar todos os nomes, gostaria de agradecer especialmente:

Ao orientador Mestre Rui Veloso, por me ter norteado e apoiado neste

processo de formação. Por me ter levado a refletir sobre ações tomadas.

Agradeço por se ter mostrado sempre disponível.

À professora cooperante Maria Silva pela partilha constante de

conhecimento, pelo apoio prestado, bem como pela confiança depositada em

mim para o exercício da prática docente.

Gostaria de agradecer a todos os alunos da minha turma - 7ºB - por me

terem permitido aprender e crescer com eles.

A todos os docentes da Faculdade de Desporto que ao logo destes dois

anos me transmitiram conhecimentos teóricos imprescindíveis para a obtenção

de sucesso aquando do estágio profissional. Destaco a professora Tânia

Bastos, por me ter disponibilizado algum do seu tempo.

À minha mãe e irmã, por todo o apoio prestado e pela muita paciência

que comigo tiveram, particularmente, nos momentos de maior dificuldade. A

elas um agradecimento sentido.

À minha namorada Natasha, pelo tempo que disponibilizou para me

ajudar e apoiar, bem como por me manter constantemente motivado nas

alturas mais complicadas. O seu apoio foi incansável, obrigado.

Por fim, aos meus amigos que sempre se mostraram disponíveis para me

auxiliar no que fosse necessário. Gostaria de destacar os meus colegas de

estágio Diogo e Joana.

Um sincero e sentido obrigado a todos!

VI

VII

Índice geral

Índice de figuras ................................................................................................ IX

Índice de quadros ............................................................................................... X

Índice de gráficos .............................................................................................. XI

Índice de anexos .............................................................................................. XII

Resumo ........................................................................................................... XIII

Abstract ........................................................................................................... XV

Lista de abreviaturas ..................................................................................... XVII

1. Introdução ...................................................................................................... 1

2. Enquadramento autobiográfico ...................................................................... 5

2.1. Um olhar retrospetivo ............................................................................... 5

2.2. O estágio profissional: expetativas vs. realidade ..................................... 9

3. Enquadramento da prática profissional ........................................................ 17

3.1. Contexto funcional, legal e institucional ................................................. 17

3.2. Caracterização da instituição educativa ................................................. 19

3.3. Caracterização da turma do 7.º B .......................................................... 23

4. Realização da prática profissional ................................................................ 25

4.1. Área 1 - Organização gestão do ensino e aprendizagem ...................... 25

4.1.1. Conceção: a base para uma intervenção pedagógica intencional ... 26

4.1.2. Planeamento: o guia orientador para uma prática pedagógica

fundamentada ............................................................................................ 31

4.1.2.1. Planeamento anual .................................................................... 33

4.1.2.2. Unidade didática ........................................................................ 36

4.1.2.3. Plano de aula ............................................................................. 39

4.1.3. Realização: fatores gerais que influenciam a qualidade do processo

de ensino e aprendizagem ......................................................................... 42

4.1.3.1. A disciplina e a sua influência no processo de ensino e

aprendizagem ......................................................................................... 43

4.1.3.2. Organização e gestão do ambiente educativo ........................... 46

4.1.3.3. Instrução: o efeito do comportamento o professor na consecução

do aluno .................................................................................................. 54

4.1.3.4. Motivação: o desejo de aprender .............................................. 70

VIII

4.1.3.5. A conceção construtivista da aprendizagem ............................. 77

4.1.3.6. Diferenciação pedagógica: uma forma de atender à diversidade

............................................................................................................... 82

4.1.3.7. Em síntese... .............................................................................. 85

4.1.3. Avaliação: um processo de regulação do ensino e da aprendizagem

................................................................................................................... 88

4.2. Áreas 2 e 3 – Participação na escola e relações com a comunidade .... 94

4.3. Área 4 – Desenvolvimento profissional ................................................ 102

4.3.1. Professor reflexivo/investigador: a metodologia de investigação-ação

como estratégia de formação .................................................................. 103

4.3.2. Trabalho de equipa como fator de enriquecimento profissional ..... 109

4.3.3. Ensinar: um processo de aprendizagem ao longo da vida ............ 113

5. Conclusões e perspetivas para o futuro ..................................................... 117

6. Estudo de investigação-ação ..................................................................... 121

Síntese Final .................................................................................................. 147

Referências bibliográficas .............................................................................. 151

Anexos ........................................................................................................... XIX

IX

Índice de figuras

Figura 1 - Fases e módulos do Modelo Estrutural de Conhecimento (adaptado

de Siedentop, 1994) ......................................................................................... 38

Figura 2 - Caraterísticas do MED (adaptado de Siedentop, 1994) ................... 67

Figura 3 - Espiral de ciclo de investigação-ação adaptado de S. Kemmis & R.

McTaggart (citados por Arends, 1995) ........................................................... 106

Figura 4 - Primeira parte do questionário ....................................................... 130

Figura 5 - Segunda parte do questionário (questões fechadas) .................... 130

Figura 6 - Segunda parte do questionário (escala de Likert) .......................... 131

Figura 7 - Calendarização da investigação .................................................... 133

X

Índice de quadros

Quadro 1 - Medidas para complementar a formação inicial ........................... 135

Quadro 2 - Vantagens e desvantagens da inclusão para alunos com e sem

NEE ................................................................................................................ 136

Quadro 3 - Opinião acerca da inclusão .......................................................... 138

Quadro 4 - O porquê de ser a favor da inclusão ............................................ 139

Quadro 5 - Resultados obtidos na escala de Likert ........................................ 141

XI

Índice de gráficos

Gráfico 1 - Tempo de serviço (anos) .............................................................. 128

Gráfico 2 - Habilitações literárias .................................................................... 128

Gráfico 3 - Situação atual de trabalho com alunos NEE ................................ 134

Gráfico 4 - Já teve experiências com alunos NEE ......................................... 134

Gráfico 5 - Eficácia da formação inicial .......................................................... 135

XII

Índice de anexos

Anexo I - Ficha individual do aluno ................................................................. XXI

Anexo II - Planeamento anual ....................................................................... XXV

Anexo III - Unidade didática (Ex. Badminton) .............................................. XXVII

Anexo IV - Plano de aula (Ex. 18/04/2013) .................................................. XXIX

Anexo V - Questionário .............................................................................. XXXIII

XIII

Resumo

O documento que aqui se apresenta pretende traduzir o processo de

experimentação-reflexão desenvolvido no âmbito da unidade curricular de

Estágio Profissional e destina-se à obtenção do grau de Mestre em Educação

Física nos Ensinos Básico e Secundário.

Este relatório foi elaborado a partir das práticas e experiências vividas em

contexto de Estágio Profissional e evidencia o contributo do mesmo no

desenvolvimento de competências promotoras de conhecimento e de um

desempenho profissional reflexivo e investigativo no estagiário.

Todo o trabalho é resultado de um processo de investigação e reflexão,

assente numa metodologia capaz de resolver problemas e, através da análise

interpretativa das próprias práticas educativas, acarretar possíveis

transformações nas mesmas – a metodologia de investigação-ação.

A metodologia de investigação-ação surgiu, então, como oportunidade de

descoberta individual, já que a investigação foi realizada em contexto real pelo

estagiário, que adotou uma postura investigativa, desempenhando a dupla

função de professor e investigador das suas próprias práticas, como forma de

procurar melhorar a sua intervenção pedagógica.

Assumimos, assim, que o Estágio Profissional teve um papel

preponderante na formação inicial do estagiário, que o preparou para os

dilemas, necessidades e exigências da realidade concreta da escola,

especificamente da sala de aula. Efetivamente, o Estágio Profissional

proporcionou vivências excecionais e extremamente enriquecedoras,

traduzindo-se num crescimento integral por parte do estagiário e na

consciencialização da relevância do processo reflexivo na estruturação de

práticas ponderadas e contextualizadas.

Parece-nos, contudo, evidente, que a formação docente não termina com

a formação inicial, pelo que o estagiário deverá continuar a apostar na sua

formação ao longo de toda a sua carreira profissional e ao longo da vida.

PALAVRAS-CHAVE: ESTÁGIO PROFISSIONAL; REFLEXÃO;

INVESTIGAÇÃO; INTENCIONALIDADE; CRESCIMENTO PROFISSIONAL.

XIV

XV

Abstract

This document aims to explain the process of reflective-experimentation

developed through the holistic context of a professional internship and is aimed

at contributing to the achievement of a Masters Degree in Physical Education at

primary and secondary learning levels.

This research is based on practical application and actual experiences in

the context of a professional internship and provides evidence of the same in

terms of qualifying competencies for reflective and investigative performance

through the internship, much like personal development.

All the work is a consequence of an investigative and reflective process,

based on a problem solving methodology and, through interpretive analysis of

the practical application, resulting in possible transformations of the same – the

methodology of investigation-action.

The methodology of investigation-action emerged then as an individual

discovery, once the investigation was applied in real context through the intern

and during their internship. This was achieved through the adoption of an

investigative attitude by the intern which exerted a double function of teacher

and researcher in their own practical application. It can therefore be viewed as

one of the best improves on the educational intervention.

We can therefore assume, that the internship played a key role in the

initial training of the internship that it prepared the intern for the dilemmas they

would face, the necessities and reality of the demands at school, especially in

the classroom. Effectively the internship provided for exceptional and enriching

experiences, translating into the integrated professional growth of the intern and

in the awareness of the importance of the reflective process in structuring

weighted and contextualized practices.

However it seems to us evident that a teaching qualification does not end

with the initial qualification, but rather affirms that the intern should continue to

focus on their own development and training throughout their career.

KEY-WORDS: INTERNSHIP; REFLECTION; INVESTIGATION; LERNING

INTENTENT, PROFESSIONAL GROWTH.

XVI

XVII

Lista de abreviaturas

DE – Desporto Escolar

DGE – Direção Geral de Educação

EE – Estudante Estagiário

EF – Educação Física

EP – Estágio Profissional

FADEUP – Faculdade de Desporto da Universidade do Porto

JDC – Jogos Desportivos Coletivos

MD – Modelo Desenvolvimental

MEC – Modelo Estrutural do Conhecimento

MED – Modelo de Educação Desportiva

MID – Modelo de Instrução Direta

NEE – Necessidades Educativas Especiais

PE – Projeto Educativo

RI – Regulamento Interno

UD – Unidade Didática

XVIII

1

1. Introdução

O presente relatório foi elaborado no âmbito da unidade curricular Estágio

Profissional, sob a orientação do Mestre Rui Veloso e destina-se à obtenção da

qualificação profissional conducente ao grau de Mestre, que confere ao

formando a atribuição profissional para a docência em Educação Física nos

Ensino Básico e Secundário.

Este documento é resultado da análise crítica da experiência de prática

pedagógica supervisionada do estagiário, onde lhe foi proporcionado

“…experiências de planificação, ensino e avaliação (…) numa perspectiva de

desenvolvimento profissional…” (DL n.º 43/2007, artigo 14.º, ponto 4, alínea

b)). Este período de Estágio Profissional (EP) foi levado a cabo na Escola

Básica Dr. Costa Matos, mais especificamente numa turma do 7.º ano de

escolaridade.

O EP constitui um espaço de experimentação e reflexão acerca do

processo de ensino e de aprendizagem, é o momento em que o formando –

futuro professor – se depara, pela primeira vez, com a sua tão desejosa função,

a de ser professor (Gomes & Medeiros, 2005).

Para Matos (2012), o EP apresenta-se como um projeto de formação do

formando, responsável pela formação do professor capaz de refletir aquilo que

são os traços de um profissional de educação de qualidade.

A inserção na realidade permite aos mestrandos analisarem e

interpretarem situações práticas, mobilizando saberes adquiridos ao longo da

formação académica e, assim, construir novos conhecimentos. Contudo,

importa salvaguardar que no EP o mestrando não deve limitar-se a aplicar

métodos e técnicas aprendidas, mas deve ser incentivado a criar novas

estratégias de atuação e através da reflexão sobre a ação adquirir novas

formas de enfrentar problemas e tomar decisões. A prática pedagógica

supervisionada deverá, portanto, conduzir o futuro professor ao

desenvolvimento de uma atitude crítica, reflexiva e investigativa. Assim, através

da prática reflexiva, que implica uma atitude sistemática de questionamento e

análise crítica das práticas educativas, atuará de forma mais consciente e

fundamentada (Gomes & Medeiros, 2005).

2

Neste contexto, o EP tem por objetivo integrar, progressivamente e de

forma orientada, o formando no exercício da vida profissional com vista ao

desenvolvimento de competências profissionais necessárias ao

“…desempenho como futuro docente e (…) [à promoção de] uma postura

crítica e reflexiva em relação aos desafios, processos e desempenhos do

quotidiano profissional” (DL n.º 43/2007, artigo 14.º, ponto 4, alínea d); Matos

2012).

No sentido de apresentar o trabalho desenvolvido no âmbito do EP,

optou-se por organizar o relatório em seis capítulos.

O relatório inicia com a presente introdução, que reporta-se ao primeiro

Capítulo, onde é feito, tal como é possível constatar, um breve enquadramento

concetual do estágio no contexto da formação inicial e seus objetivos, bem

como se apresenta a estrutura do trabalho, apontando o que nele será

desenvolvido.

No segundo Capítulo é realizada uma reflexão autobiográfica, onde é

feita uma breve apresentação e percurso biográfico do estagiário. Ainda neste

Capítulo são postas em evidência as expectativas iniciais do estagiário em

relação ao EP e procede-se ao confronto destas com a realidade vivenciada no

contexto de estágio.

No terceiro Capítulo é apresentado o enquadramento da prática

profissional, onde se procura concretizar uma caracterização do contexto de

estágio, especificamente da instituição educativa e da turma, tentando elucidar

o modo como que se organiza o estabelecimento de ensino e quais os recursos

de que dispõe. Procurou-se, também, proceder à análise das interações entre

os diferentes intervenientes da ação educativa, entre outros aspetos

relacionados com a especificidade do contexto que se considerou pertinente

salientar.

O quarto Capítulo integra as quatro áreas de desempenho conjeturadas

no Regulamento de EP: Área 1 – “Organização e Gestão do Ensino e da

Aprendizagem”; Áreas 2 e 3 – “Participação na Escola e Relações com a

Comunidade”; e Área 4 – “Desenvolvimento Profissional”. A Área 1 abarca a

conceção, o planeamento, a realização e a avaliação, onde é realizada uma

descrição e análise crítica das atividades desenvolvidas no âmbito do EP,

procurando evidenciar as estratégias de ação e procedimentos adotados e os

3

resultados obtidos. Nesta secção é atribuído especial ênfase à realização da

prática pedagógica onde se esclarece as questões inerentes ao desempenho

da prática educativa do estagiário. Nas Áreas 2 e 3 são apresentadas as

atividades não letivas desenvolvidas pelo estagiário, algumas delas em

colaboração com outros intervenientes do processo educativo, com vista à sua

integração na comunidade escolar e à promoção do sucesso educativo. Por

último, na Área 4 procurou-se refletir acerca de aspetos importantes na

construção da competência profissional, isto é, que contribuem para a evolução

do desenvolvimento profissional do docente e para o desenvolvimento de

práticas educativas de qualidade. Além disso, nesta Área pode encontrar-se

uma secção que enfatiza a necessidade da aprendizagem ao longo da vida.

Todas estas áreas pretendem, portanto, tornar percetível a intervenção

pedagógica do estagiário.

No quinto Capítulo é elaborada uma conclusão acerca do percurso

desenvolvido, onde analisar-se-ão as contribuições do EP para o

desenvolvimento integral do estagiário e evocar-se-ão as suas perspetivas para

o futuro.

O sexto Capítulo consiste num estudo de investigação realizado no

contexto de estágio. Neste delineia-se a natureza e os objetivos principais que

orientaram a investigação, a metodologia adotada e, ainda, os instrumentos e

procedimentos de recolha e tratamento da informação. Serão, também,

apresentados e analisados os resultados obtidos por meio da aplicação dos

questionários elaborados.

Importa salientar que todos estes Capítulos contemplam as perspetivas

teóricas e legais que suportaram a intervenção educativa do formando.

O presente relatório termina com uma síntese geral do relatório de estágio

profissional, onde é feito um apanhado global de todos os capítulos que nele

são abordados.

Por fim, apresentam-se as referências bibliográficas que sustentaram todo

o trabalho desenvolvido no âmbito do EP e que espelham o trabalho árduo de

busca/investigação, tendo em vista a consolidação do conhecimento dos

quadros teóricos e legais indispensáveis para a concretização, entendimento e

transformação das práticas educativas, seguido dos anexos que ilustram

algumas situações apontadas ao longo do relatório.

4

5

2. Enquadramento autobiográfico

O presente capítulo tem como finalidade partilhar com os leitores um

pouco sobre a pessoa que é hoje o estudante estagiário (EE). Nesta

perspetiva, serão selecionados alguns factos marcantes da sua vida,

concretamente no que se refere às sua experiências académicas, desportivas e

pessoais. Assim, será possível tirar ilações acerca da sua personalidade, bem

como compreender melhor as perspetivas e fundamentos que sustentam a sua

identidade profissional, que tem vindo a ser construída com as experiências

proporcionadas pelo processo da sua formação e sobre a qual,

inevitavelmente, a sua história pessoal também exerce influência.

2.1. Um olhar retrospetivo

A breve viagem que seguidamente será relatada teve início há vinte e

quatro anos, no dia trinta do mês de junho de 1989. Batizado com o nome de

Tiago João da Silva Santos, o estagiário, nasceu numa freguesia de Vila Nova

de Gaia, numa família com raízes tradicionalistas, rurais.

Recorda com alguma saudade a sua infância, as brincadeira e tardes

passadas correndo atrás de uma bola, assim como a sua adolescência, como

uma etapa da sua vida marcada por uma amálgama de sentimentos – alegrias,

tristezas e sonhos. A vida obrigou-o a crescer rapidamente. Com a perda

inesperada do seu pai, aos catorze anos, e com uma irmã acabada de nascer,

sentiu o dever de trazer para si a responsabilidade de ajudar a cuidar e zelar

pelo bem-estar da sua família. Hoje carrega consigo as lembranças boas que o

marcaram e ensinaram a ser uma melhor pessoa e a dar valor aos pequenos

momentos da vida.

Desde que se conhece diz ter sido, sempre, fascinado pelo desporto,

paixão que se arrasta até aos dias de hoje. Este fascínio/paixão pelo desporto

foi fortemente influenciado pelo meio onde cresceu, onde era habitual as

crianças juntarem-se para realizarem brincadeiras livres, onde o espírito

competitivo estava bastante presente. Além disso, desde cedo foi estimulado

6

pela sua família a praticar desporto, o que contribuiu, de alguma forma, para

alimentar esse gosto pela prática desportiva.

Segundo o EE, o mesmo começou a prática de desporto pela natação,

com sete anos de idade, e foi por volta dos treze anos que optou por deixar a

modalidade para se dedicar ao futebol federado. Frequentou esta modalidade

durante alguns anos, tendo aos dezoito praticado futsal, da qual, com a entrada

para a faculdade, teve de abdicar devido à escassez do tempo para o universo

de responsabilidades que possuía e conhecimentos que eram necessários

aprender, sendo que, pretendia dedicar-se ao máximo à faculdade e, assim

atingir o seu objetivo maior – o de um dia vir a ser professor de educação física

(EF). Todavia, embora atualmente não faça parte de nenhum clube desportivo,

pelas razões anteriormente apontadas, participa com uma certa periodicidade

em eventos desportivos (torneios das mais diversas modalidades, corridas,

entre outros), muitos dos quais ele próprio organiza, uma vez que faz parte do

pelouro de desporto do Grupo Desportivo e Cultural de São Lourenço, onde

dinamiza inúmeras atividades de índole desportiva para as diferentes camadas

da população local.

Debruçando-nos, agora, sobre o seu percurso escolar, a paixão e

descoberta pelo desporto, desde cedo, acabaram por lhe orientar a esse nível.

Desta forma, a primeira grande escolha da sua vida, na passagem do 9.ºano

de escolaridade para o 10.º ano, que poderia, de algum modo, ter

repercussões na sua carreira futura, não foi de todo difícil. O EE afirma ter

tomado a melhor decisão em escolher um curso direcionado para o desporto.

Assim, na Escola Secundária dos Carvalhos muitos foram os professores

que lhe deixaram marcas, uns por bons motivos e outros por motivos menos

bons. Foi, precisamente com aqueles professores que mostravam amor pela

sua profissão, que não se limitavam a transmitir saberes/informações, mas

antes oferecer aos seus alunos oportunidade de aprender, essencialmente,

através das suas próprias ações, que aprendeu que ensinar é uma arte, a arte

de “…fazer os outros aprender…”, tal como afirma Roldão (2003, p. 48),

promovendo a descoberta/construção do conhecimento.

Surgiu, então, a paixão pelo ensino, a vontade de proporcionar aos outros

aprendizagens diversificadas e significativas. O desejo de aprender a ensinar,

7

tal como aqueles profissionais de educação que motivavam os seus alunos a

gostar de aprender, era incessante.

Neste sentido, quando chegou a altura de se candidatar ao ensino

superior, não havia qualquer dúvida acerca da carreira que ambicionava seguir.

Ser professor de EF foi o grande objetivo que traçou para a sua vida, pelo que

se candidatou ao ensino superior e ingressou na Escola Superior de Educação

do Porto, concretamente no curso Ciências de Desporto.

O EE confessa que a entrada no mundo universitário foi uma experiência

única e valiosa, a variedade de desportos que lhe foram proporcionados, bem

como o conjunto de aprendizagens que adquiriu nesta fase foram fulcrais para

a etapa subsequente – o mestrado.

Ainda no que concerne à licenciatura, importa salientar que esta teve uma

vertente prática – o estágio. Este desenvolveu-se num clube de futebol – Sport

Clube Rio Tinto – em que o EE desempenhou a função de professor/treinador,

pelo que considera ter contribuído, sobretudo, para fortalecer a sua capacidade

de iniciativa, autonomia e desembaraço.

O mesmo considera relevante referir que, no final do estágio o

coordenador pedagógico mostrou satisfação pelo seu trabalho ao longo do

estágio e propôs que continuasse a desempenhar as mesmas funções, à qual

respondeu afirmativamente.

Entretanto chegou a altura de se candidatar ao mestrado e, com grande

contentamento, foi selecionado. O sonho de se tornar professor estava a um

passo de ser concretizado.

A entrada na Faculdade de Desporto da Universidade do Porto

possibilitou-lhe o recrutamento de experiências, reforçou algumas

aprendizagens já adquiridas e permitiu-lhe adquirir muitas outras. Deste modo,

todo o trabalho desenvolvido, sobretudo no âmbito do EP, constituiu-se como

uma base indispensável para ser futuramente um excelente profissional de

educação.

A primeira grande experiência de ser responsável por uma turma

ensinou-lhe que só se pode ser um bom profissional, se for realizado um

trabalho árduo e contínuo, pois a formação é um “…elemento constitutivo da

prática profissional…” (DL n.º 240/2001, capítulo V, ponto 1). Além disso,

8

constatou que todo o pensamento sobre a prática deve ser reflexivo, para que

seja possível otimizar os erros e, assim, estruturar futuras intervenções.

Esta última fase da formação inicial contribuiu, portanto, para o

desenvolvimento de competências profissionais e pessoais. De entre várias

competências profissionais o estagiário destaca: o saber agir com

intencionalidade; ser capaz de adotar estratégias pedagógicas diferenciadas,

visando respeitar os diferentes ritmos e estilos de aprendizagem; planificar e

avaliar reflexivamente a ação educativa; desenvolver uma atitude crítica,

reflexiva e investigativa; evoluir através de projetos de investigação sobre as

próprias práticas e co-construir saberes profissionais. Por sua vez, o fator

pessoal prende-se, precisamente, com a articulação entre o fator social e o

fator profissional que, por seu turno, resulta da relação que manteve com todos

os intervenientes educativos. Deste modo, o desenvolvimento de tais

competências de muito se deveu à estreita colaboração, respeito e apoio

mútuo com todos os elementos do núcleo de estágio, com a professora

cooperante e com o professor orientador.

Em jeito de conclusão, foi graças ao conhecimento teórico, que foi sendo

consolidado ao longo da sua formação académica, que foi possível ao EE,

porque apetrechado de uma matriz concetual, refletir sobre as práticas e

estabelecer, no momento, bases teóricas e observar através do

comportamento dos alunos a validade, ou não, dos conceitos apreendidos. O

desafio, no decurso do período mais ativo da sua formação – prática

pedagógica supervisionada/EP – foi conseguir perceber até que ponto essa

teoria se ajustava na sua prática, que é o que, de facto, pensa ser um dos

objetivos primeiros da formação de professores.

Em suma, o EE considera que esta experiência proporcionada pelo EP,

no término da sua formação inicial, terá certamente consequências no seu

futuro profissional, na medida em que possibilitou-lhe, tal como já foi

supramencionado, a aquisição de diversas competências, bem como de

conhecimentos advindos da procura de atividades/tarefas produtivas,

motivadoras e intencionais, que exigem constante reflexão. Com efeito, está

ciente de que todo o profissional de educação deve reformular constantemente

o seu pensamento e estar recetivo a novas teorias, atualizando, assim, as suas

estruturas concetuais, para não se tornar num mero técnico de educação.

9

No ponto seguinte será refletido mais pormenorizadamente o contexto

de estágio, fazendo referência às expetativas iniciais do EE em relação ao

estágio, confrontando-as, depois, com a realidade vivenciada.

2.2. O estágio profissional: expetativas vs. realidade

O EP ou prática pedagógica supervisionada caracteriza-se “…como [a]

área científica específica da formação inicial de professores, [e] constitui um

domínio promotor de múltiplas reflexões” (Gomes & Medeiros, 2005, p. 19). É,

precisamente, através dessas reflexões que o professor-estagiário constrói

conhecimento acerca do contexto no qual intervém e tudo o que nele ocorre,

com vista a orientar a sua ação futura (Gomes & Medeiros, 2005).

Conforme Sá-Chaves (citada por Viveiros & Medeiros, 2005), a prática

pedagógica supervisionada pressupõe o desenvolvimento de competências

que possibilitam, ao futuro professor, compreender e controlar, de forma

consciente, as mais diversas dimensões intrínsecas ao ato educativo.

A ideia de supervisão que está subjacente ao conceito de estágio

profissional supervisionado traduz a forma como decorre o processo de

desenvolvimento do formando. Isto é, trata-se de um processo mediador, em

que o supervisor norteia/ajuda e estimula o formando a evoluir e a criar o seu

estilo pessoal de ensinar (Gomes & Medeiros, 2005).

Segundo Sá-Chaves (citada por Sá-Chaves, 2000a, p. 75) a supervisão

no processo de formação de professores trata-se de:

“…uma prática acompanhada, interactiva, colaborativa e reflexiva que tem como

objectivo contribuir para desenvolver no candidato a professor, o quadro de valores, de

atitudes, de conhecimento, bem como as capacidades e as competências que lhe

permitam enfrentar com progressivo sucesso as condições únicas de cada acto

educativo”.

Contudo, importa salientar que, para que tal seja possível é

absolutamente necessário que o formando e quem o orienta neste processo de

aprendizagem construam relações baseadas no respeito mútuo, apoio e

comunicação, e que estas se desenvolvam num ambiente de confiança e

entreajuda facilitador do desenvolvimento e da aprendizagem (Sá-Chaves,

10

2000a). Assim sendo, de acordo com Vieira & Moreira (2011), depreende-se

que a prática pedagógica supervisionada apela à colaboração entre

supervisor/orientador e formando, no sentido da construção partilhada de

conhecimento e troca de opiniões/pontos de vista. Importa, porém, ressalvar

que nesta construção o supervisor/orientador desempenha um papel fulcral

(Meireles & Andrade, 2005), na medida em que é ele que possui mais

experiência e, como tal, deve orientar o futuro professor no seu

desenvolvimento pessoal e profissional.

Ao contactar com o mundo do trabalho, o candidato a profissional de

educação, “…integra-se num mundo social mais alargado (…) [e pode

confrontar-se] com pontos de vista distintos e papéis potencialmente

incompatíveis…” (Gomes & Medeiros, 2005, p. 43).

Ou seja, aquando da entrada no mundo do trabalho pode defrontar-se

com uma realidade que não corresponde àquela que sempre idealizou,

podendo atravessar uma crise no início da sua carreira. Relativamente a estes

problemas que o professor iniciante sente no primeiro contacto com o seu

campo de atuação é possível encontrar um termo comum a vários artigos. Esse

termo é constituído pela noção de choque de realidade. O mesmo caracteriza-

se, de acordo com Huberman (1992), como a etapa da vida de um professor

em que embora fortemente marcada pela descoberta e entusiasmo, é também

um momento em que se depara com algumas dificuldades e inseguranças,

face às novas responsabilidades com que é confrontado.

De acordo com Lopes (2004) o choque de realidade está intimamente

relacionado com a formação inicial de professores, que muitas vezes se traduz

em alguma imprecisão acerca daquilo que a realidade apresenta.

Parafraseando Sanmamed e Abeledo (1991), Castro e Cachapuz (2005,

p. 270) sublinham que, “a qualidade dos professores e, portanto, (…) do ensino

dependerá em boa medida da qualidade da formação [inicial] que as

instituições são capazes de oferecer”.

Neste âmbito, o EE pode afirmar que ao longo da sua formação

académica, foram inúmeros os docentes que iam alertando os formandos para

diversos aspetos/situações com as quais poderiam vir a encontrar ao longo da

sua carreira profissional, concretamente aquando do choque de realidade.

Segundo Estanqueiro (2010, p. 59) as aulas “são espaços pedagógicos, para

11

debater opiniões fundamentadas, aprofundar conhecimentos e desenvolver

competências” e, efetivamente, as aulas ou seminários em que os docentes

traziam consigo o quotidiano das escolas, expondo/partilhando as suas

experiências, eram extremamente ricas e motivadoras, dado que permitia

trocar pontos de vista, manifestar possíveis soluções e, consequentemente,

aprendermos uns com os outros. Essas aprendizagens resultantes de atitudes

sistemáticas de questionamento e análise reflexiva, tiveram um forte impacto

sobre o estágio realizado, contribuindo em grande medida, para uma prática

pedagógica mais consciente e responsável, bem como para que o choque de

realidade não fosse tão significativo.

Ainda no que respeita ao EP, este assume, portanto, um papel decisivo

na formação inicial de professores na medida em que permite que o professor-

estagiário planeie as suas práticas, as experiencie e avalie (Gomes &

Medeiros, 2005). Este é percecionado, de acordo com o mesmo autor, “…como

um processo indispensável e conducente ao desenvolvimento integral do

formando, com vista a prepará-lo para a sua futura profissão docente” (Gomes

& Medeiros, 2005, p. 34).

No que concerne concretamente ao estágio realizado, este constituiu-se,

portanto, como o primeiro contacto real com o futuro campo de atuação do EE,

isto é, onde pela primeira vez o mesmo se viu a assumir o tão desejoso papel

de ser professor de EF.

As expectativas iniciais em torno desta nova vivência demonstraram-se

bastante positivas, na medida em que o EE sempre acreditou que esta

experiência lhe iria oferecer potencialidades de aprendizagem e que iria ser

uma mais-valia na sua formação enquanto futuro professor. Assim sendo, a

esperança em torno do EP, baseada sobretudo em pressupostos teóricos e

relatos de colegas, foi sempre que este proporcionasse experiências ao EE que

lhe permitisse desenvolver competências e atitudes para, progressivamente,

alcançar autonomia profissional, que segundo Moreira (2001) se constituiu

como o principal objetivo da formação inicial. O EE sempre encarou o estágio

como uma oportunidade para experimentar, mobilizar a teoria de acordo com

situações concretas, assim como uma possibilidade de cometer erros, poder

tomar consciência deles e tentar ultrapassá-los pela análise reflexiva da praxis,

construindo a sua identidade profissional.

12

Efetivamente, as suas expetativas corresponderam à realidade, tendo o

estágio superado todas as suas expectativas.

Embora reconhecendo as suas capacidades, o EE confessa que, em

alguns momentos, antes de iniciar a prática pedagógica, se deparou com uma

certa insegurança e receio daquilo que lhe esperava, visto não conhecer a

escola, não saber quais as suas instalações/recursos disponíveis, não saber

quem seria o seu professor cooperante e o seu orientador e, além disso, se

estava, de facto, preparado para enfrentar tal desafio. Porém, o impacto com o

contexto de estágio foi aquele que, no fundo, ele havia imaginado, um impacto

extremamente positivo.

Neste âmbito, ao longo da prática pedagógica supervisionada foram

inúmeras as aprendizagens a que esteve suscetível, todas elas lhe

possibilitarão uma ação futura mais consciente enquanto profissional de

educação. As aprendizagens adquiridas dizem respeito nomeadamente, ao

papel do professor, à postura dos alunos e às interações iminentes no

contexto, quer entre aluno/aluno, quer entre professor/alunos e

professor/professor. Assim sendo, constatou-se que o primeiro papel do

professor é criar um contexto educacional de conforto, confiança, motivação e

no qual a curiosidade e as teorias dos alunos sejam escutadas e legitimadas.

Quem ensina tem de saber escutar, mais do que isso, deve estimular o diálogo

e o pensamento dos alunos (Valadares & Graça, 1998). Escutar é um verbo

que implica atividade e reciprocidade – escutar e ser escutado – ouvir, não só

com os ouvidos, mas com todos os sentidos.

Durante este percurso o EE foi, constantemente, incentivado a refletir,

sendo que os professores que o orientaram tentaram despertar nele, futuro

profissional de educação, uma consciência analítica, crítica e reflexiva,

mostrando-lhe o quão prazeroso e importante pode ser o ato de refletir, na

medida em que é neste ato que construímos o nosso próprio conhecimento.

Segundo Alarcão (1996, p. 13), na perspetiva de Schön a formação

profissional constitui-se como:

“…um saber-fazer sólido, teórico e prático, inteligente e criativo que permite ao

profissional agir em contextos instáveis, indeterminados e complexos, caracterizados por

zonas de indefinição que de cada situação fazem uma novidade a exigir uma reflexão e

uma atenção dialogante com a própria realidade que lhe fala”.

13

Assim, devemos ter sempre em consideração que a reflexão deverá dar-

se entre o pensamento e a ação e faz parte do processo de formação do

docente.

Fruto da reflexão foi possível constatar que o professor deve fazer parte

do processo de aprendizagem dos alunos, porém sem ser um intruso, isto é,

deve constituir-se apenas como facilitador, privilegiando o papel destes como

construtores do seu próprio conhecimento. Deste modo, deve apoiar as

dinâmicas cognitivas e sociais que estão a ocorrer a cada momento para

organizar um ambiente rico e estimulante, que proporcione aos alunos uma

diversidade de experiências e que responda às necessidades e interesses

individuais de cada aluno e da turma, dado que cada criança é possuidora de

“…pontos fortes, interesses, necessidades e estilos de aprendizagem

diferentes…” (Resende & Soares, 2002, p. 20).

Assim, depreende-se que o perfil de professor próximo dos seus alunos,

física e psicologicamente, favorece não só o desenvolvimento destes, como

também fomenta o seu desejo de aprender e continuar a investir nas suas

aprendizagens. Além do mais, importa realçar que com a prática constatou-se

que quando o professor intervém em momentos críticos, partilha com os seus

alunos emoções e sucessos alcançados, permitindo-lhe modificar

pensamentos, levantar hipóteses acerca da turma e refletir sobre o estilo de

interação professor/aluno que deve adotar.

Não menos importante do que já apresentado, é o facto de atualmente

caminharmos para uma escola inclusiva. Aliás, de acordo com Decreto-Lei n.º

3/2008 de 7 de janeiro, os alunos com necessidades educativas especiais

(NEE) devem estar incluídas no espaço de aulas, realidade que se pôde

comprovar no decurso do EP. A este nível constatou-se que a gestão da aula é

extremamente complicada para os professores, uma vez que o grupo de alunos

é numeroso e todos requerem a sua atenção. Todavia, compreendeu-se que,

com um esforço acrescido por parte dos professores, o que parece difícil não é

impossível, sendo exequível a realização de atividades com os alunos que

apresentam NEE. Efetivamente, um dos maiores desafios enfrentados pelo EE

na prática pedagógica supervisionada foi o facto de este ter contactado e

trabalhado com uma aluna com NEE que, embora não exigisse diferentes

14

cuidados na elaboração das atividades, apenas pequenas adaptações, exigia

uma atenção especial.

Outro aspeto a salientar consiste no facto do docente não se mobilizar

sozinho para a estruturação das aprendizagens dos alunos. Assim sendo, este

age cooperativamente com outros docentes no sentido de melhorar a qualidade

do ensino (Perrenoud, 2000). Com efeito, tornou-se percetível a importância do

trabalho de equipa como promotor da partilha de saberes e de experiências

(Hargreaves,1998; Oliveira & Serrazina, 2002).

De um modo genérico, todo o trabalho desenvolvido na prática

pedagógica supervisionada permitiu ao EE introduzir uma dinâmica integradora

e de síntese entre a teoria e a prática, sendo que concluía que a teoria decorre

diretamente da prática e vice-versa, num processo interativo, não existindo

separação entre o saber-saber e o saber-fazer, pois a prática completa os

conhecimentos adquiridos na teoria desencadeando a aquisição de novos

conhecimentos e experiências.

Após ter passado por esta experiência, o EE sente que desenvolveu uma

maior capacidade reflexiva, tornando-se numa pessoa mais autónoma, capaz

de refletir sobre as condições do seu trabalho e sobre as formas possíveis para

o melhorar.

Pode-se afirmar que o estágio lhe possibilitou alargar os horizontes,

despertando a sua atenção para aspetos que, atualmente, reconhece como

cruciais, proporcionando-lhe uma visão mais rigorosa e profunda daquilo que é,

na realidade, a sua futura profissão. Além disso, permitiu-lhe compreender que

todo o profissional de educação está em constante formação, que a busca pelo

conhecimento é um processo inacabado e, por isso, o professor deve agir

diariamente para se tornar um profissional ativo, autónomo e promotor do seu

próprio desenvolvimento. Dito de outro modo, e recorrendo às palavras de

Vieira e Moreira (2011, p. 28) “…o desenvolvimento profissional é contínuo e

implica competências de formação permanente”.

Para terminar, importa referir que todos os aspetos apresentados neste

ponto serão pormenorizadamente abordados ao longo do presente relatório.

Em jeito de concluir o capítulo, e tal como já foi referido anteriormente, é

deveras importante o constante vaivém entre a teoria e prática de forma a

almejar a excelência na educação. Porém, existem outras variáveis com

15

influência no processo de ensino e aprendizagem, nomeadamente o contexto

em que se desenrola a prática. Neste sentido, no próximo capítulo será dada a

conhecer ao leitor a instituição na qual foi realizada a prática pedagógica

supervisionada.

16

17

3. Enquadramento da prática profissional

3.1. Contexto funcional, legal e institucional

No âmbito da formação de professores, a Faculdade de Desporto da

Universidade do Porto (FADEUP) estabelece normas de funcionamento do

Estágio Profissional, do 2º ciclo de Estudos conducente ao grau de Mestre em

Ensino de Educação Física nos Ensinos Básico e Secundário.

De acordo com o documento que estabelece as normas orientadoras do

Estágio Profissional (Matos, 2012), a estrutura e funcionamento do Estágio

Profissional refletem os princípios orientadores consignados na legislação

destinada à formação conducente à qualificação profissional, concretamente no

Decreto-Lei n.º 230/2009, de 14 de setembro, que procede à segunda

alteração ao Decreto-Lei n.º 74/2006 de 24 de Março que aprova o regime

jurídico dos graus e diplomas do ensino superior, bem como, no Decreto-Lei n.º

43/2007, de 22 de fevereiro, que aprova o regime jurídico da habilitação

profissional para a docência na educação pré-escolar e nos ensinos básico e

secundário. Além do mais, a estrutura e funcionamento do Estágio Profissional

consideram o Regulamento Geral dos segundos ciclos da Universidade do

Porto, o Regulamento Geral dos segundos ciclos da Faculdade de Desporto da

Universidade do Porto e, ainda, o Regulamento do Curso, isto é, o regulamento

específico do Mestrado em Ensino da Educação Física nos Ensinos Básico e

Secundário.

O Estágio Profissional desenvolve-se no contexto da prática docente, em

escolas dos ensinos básico e secundário protocolados com a FADEUP, e visa

o desenvolvimento de competências consignadas no Decreto-Lei n.º 240/2001,

de 30 de agosto, que aprova o Perfil Geral de Desempenho Profissional dos

professores dos ensinos básico e secundário, isto é, onde estão expressos os

referenciais inerentes ao desempenho de funções docentes, que contemplam

quatro dimensões: a “Dimensão profissional, social e ética”; a “Dimensão de

desenvolvimento do ensino e da aprendizagem”; a “Dimensão de participação

na escola e de relação com a comunidade”; e a “Dimensão de desenvolvimento

profissional ao longo da vida”.

18

Conforme Matos (2012, p. 3) o Estágio Profissional é uma componente de

formação que:

“…visa a integração no exercício da vida profissional de forma progressiva e orientada,

em contexto real, desenvolvendo as competências profissionais que promovam nos

futuros docentes um desempenho crítico e reflexivo, capaz de responder aos desafios e

exigências da profissão".

Nesta linha de ideias esta prática pedagógica inscreve-se numa

perspetiva da construção colaborativa dos saberes profissionais, envolvendo

diferentes atores do processo de formação profissional, que trabalham no

sentido de capacitar o EE para um exercício profissional adequado e

progressivamente autónomo. Estes autores tratam-se nomeadamente do

professor cooperante, que apoia e acompanha diretamente o EE nas atividades

realizadas e do professor orientador da instituição de formação que deve

assegurar a articulação entre a FADEUP e a instituição cooperante, sendo que

tem, também, responsabilidade direta pelo acompanhamento do trabalho

realizado pelo EE.

O estágio profissional assume-se, portanto, como um momento relevante

na formação do futuro profissional de educação, sendo que proporciona ao EE,

durante todo o ano letivo, a responsabilização na lecionação de uma turma do

ensino básico ou secundário. Ou seja, o período de estágio profissional

compreende o desenvolvimento de todas as atividades educativas de

planeamento, ensino e avaliação, tal como preconizado no Decreto-Lei n.º

43/2007, de 22 de fevereiro. Importa salientar que, de acordo com as Normas

Orientadoras do Estágio Profissional (Matos, 2012), todo o trabalho

desenvolvido na prática pedagógica supervisionada deverá estruturar-se em

torno de quatro áreas de desempenho: Área 1 – “Organização e Gestão do

Ensino e da Aprendizagem”; Áreas 2 e 3 – “Participação na Escola e Relações

com a Comunidade”; e Área 4 – “Desenvolvimento Profissional”.

Em suma, o estágio profissional deverá ser o interface entre a formação e

a exercício docente, em que o EE ao assumir, em contexto real, o papel de

professor, desenvolve e aprofunda conhecimentos, assim como, desenvolve

capacidades promotoras de um desempenho profissional crítico e reflexivo.

19

No caso específico do EE, este desenvolveu o estágio profissional na

Escola Básica Dr. Costa Matos, concretamente com uma turma do 7.º ano de

escolaridade, aspetos que serão de seguida alvo de uma caracterização mais

pormenorizada.

3.2. Caracterização da instituição educativa

A Escola Básica Dr. Costa Matos pertence à rede pública, sendo portanto,

a sua entidade tutelar o Ministério da Educação. Esta instituição educativa

localiza-se na Rua José Fontana, freguesia de Mafamude e Santa Marinha,

concelho de Vila Nova de Gaia.

O atual edifício do estabelecimento de ensino encontra-se em

funcionamento desde outubro de 1973, substituindo a antiga Escola

Preparatória Teixeira Lopes, situada na Rua Raimundo de Carvalho, que foi,

em tempos, um edifício com três pisos e que abarcava cerca de trezentos

alunos. A instituição educativa possui, atualmente, capacidade para admitir

cerca de mil alunos.

Os espaços físicos que compõem este estabelecimento de ensino são

diversificados, promovendo condições de conforto e qualidade aos alunos,

embora seja uma instituição que já celebrou os seus trinta e nove anos de

existência.

Assim sendo, relativamente ao espaço interior do edifício, que se

encontra distribuído por seis blocos, em termos gerais, este é constituído por

salas de aula, algumas delas com recursos materiais como projetor multimédia

e computadores com ligação à internet; uma biblioteca que dispõe de um vasto

acervo, nomeadamente, obras literárias, livros didáticos, obras de referência

como enciclopédias e dicionários, bem como uma área de informática; um

auditório; salas destinadas a atividades/funcionalidades específicas,

nomeadamente salas de informática e salas de música; uma sala de estudo;

uma cantina com lotação para 87 alunos; uma cozinha pedagógica, reservada

aos Cursos de Educação e Formação (CEF) na vertente de cozinha; um

espaço polivalente onde se localiza o bar de alunos e a papelaria/reprografia;

uma sala de professores, destinada a reuniões, trabalho e convívio dos

docentes; um local reservado aos serviços administrativos; uma sala para a

20

direção executiva; um gabinete para os diretores de turma, destinada a

reuniões com os encarregados de educação; um gabinete de integração

educativa e, ainda, uma Unidade de Multideficiência reservada aos alunos que

necessitam de infraestruturas diferentes daquelas que a escola normalmente

disponibiliza.

Ainda no que respeita aos recursos físicos, é de todo importante salientar

que esta instituição está preparada para receber alunos com dificuldades

motoras/NEE, uma vez que apresenta um conjunto de recursos adequados a

estas, nomeadamente casas de banho adaptadas e uma sala de educação

especial equipada com materiais adaptados com vista a apoiar esses alunos.

No que respeita à área destinada à EF, o estabelecimento de ensino

dispõe de um pavilhão gimnodesportivo, com uma arrecadação bem

apetrechada com um vasto leque de materiais para uso nas aulas de EF e

treinos de Desporto Escolar (DE).

No que concerne ao espaço exterior da Escola Básica Dr. Costa Matos,

este é bastante considerável, com condições favoráveis à utilização livre e

segura por parte dos alunos. Este também dispõe de uma área reservada à EF,

concretamente um relvado sintético que possui um campo de futebol de sete e

dois de futebol de cinco. Com ligação ao relvado sintético, existe, ainda, outro

campo com pavimento cimentado, porém de menores dimensões, constituído

por duas balizas e dois cestos de basquetebol.

De notar, ainda, que é possível constatar que a escola revela uma

consciência ecológica, podendo comprová-lo com o envolvimento no projeto

intitulado "Projeto eco escolas e proteção da natureza", enumerado no projeto

educativo (PE). Este tem como objetivo conquistar "...um espaço próprio na

consciencialização educativa e formativa de todos os membros da comunidade

educativa para a preservação da natureza e [para] as questões ambientais"

(PE, 2013, p. 24).

Destaca-se, também, a presença de extintores em todos os blocos no

caso da ocorrência de alguma emergência, o que facilita o seu acesso aquando

de um perigo eminente.

Importa ressalvar que, o estabelecimento de ensino tem sofrido

alterações/remodelações ao longo dos tempos com vista a apresentar um

aspeto mais cuidado e asseado, todavia, alguns espaços ainda necessitam ser

21

remodelados. Era importante, nomeadamente, que os espaços fossem

equipados com aquecimento central, com o intuito de melhorar o conforto de

quem o frequenta, na medida em que há alguns deles, por exemplo o pavilhão,

em que se faz sentir muito frio.

Relativamente às interações que se estabelecem na instituição educativa,

estas são bastante positivas e acima de tudo baseadas no apoio e respeito

mútuo.

A Escola Básica Dr. Costa Matos é sede do agrupamento de escolas,

portanto, “…é uma unidade organizacional, dotada de órgãos próprios de

administração e gestão, constituída por estabelecimentos de educação pré-

escolar e escolas de um ou mais níveis e ciclos de ensino, com vista à

realização (…) [de determinadas] finalidades” (DL n.º 137/2012, artigo 6.º,

ponto 1).

Deste modo, a instituição educativa em causa reúne cinco escolas do

ensino básico com as valências educação pré-escolar e 1.º ciclo do ensino

básico (Escola EB1/JI da Bandeira; Escola EB1/JI das Matas; Escola EB1/JI

Quinta dos Castelos; Escola EB1 Cabo-Mor; e a Escola EB1/JI das Devesas) e

uma de 2.º e 3.º ciclo do ensino básico. Esta última corresponde, precisamente,

ao estabelecimento de ensino no qual se desenvolveu o estágio profissional e

onde, tal como referido, se situa a sede do agrupamento designado

agrupamento de escolas Dr. Costa Matos.

A Escola Básica Dr. Costa Matos possui instrumentos que constituem o

exercício da sua autonomia, tal como é preconizado no Decreto-Lei n.º

137/2012, de 2 de julho (artigo 9.º), nomeadamente o PE, o regulamento

interno (RI), os planos anual e plurianual de atividades e o orçamento.

O PE, de acordo com o mesmo documento legal, constitui-se como “…o

documento que consagra a orientação educativa do agrupamento de escolas

(…), no qual se explicitam os princípios, os valores, as metas e as estratégias

segundo os quais o agrupamento de escolas (…) se propõe cumprir a sua

função educativa” (DL n.º 137/2012, capítulo II, artigo 9.º, ponto 1, alínea a).

Portanto, elaborar um PE é delinear, sobretudo, as opções da escola, a sua

missão, isto é, os valores, princípios e finalidades que mobilizam a ação

educativa. Neste sentido, o PE do agrupamento de escolas Dr. Costa Matos

estabelece como principal finalidade educativa “…criar um contexto de

22

aprendizagem desafiador que encoraje altas expectativas de sucesso através

do desenvolvimento de um ensino e formação adequados que facilitem a

emergência de diferenças individuais e diversos estilos de aprendizagem” (PE,

2013, p. 4).

Conforme este mesmo projeto, são definidos alguns valores e princípios

orientadores que vão ao encontro da finalidade educativa enunciada

anteriormente onde uma das principais preocupações se centra na preparação

dos alunos para a inserção na sociedade, dotar os alunos de espírito crítico,

consciência dos seus atos, capacidade de intervenção e participação,

valorização do outro, entre outros aspetos que influenciarão, em grande

medida, a sua participação na vida pública enquanto cidadãos (PE, 2013).

No que respeita ao RI, este trata-se de um documento que facilita o bom

funcionamento das instituições educativas que integram o agrupamento de

escolas, na medida em que “…define o regime de funcionamento do

agrupamento de escolas ou da escola não agrupada, de cada um dos seus

órgãos de administração e gestão, das estruturas de orientação e dos serviços

administrativos, técnicos e técnico – pedagógicos…” (DL n.º 137/2012, artigo

9.º, ponto 1, alínea b). Além do mais, é precisamente no RI que estão traçados

os direitos e os deveres de todos os intervenientes no processo educativo (DL

n.º 137/2012, de 2 de julho).

Os planos anual e plurianual de atividades regem-se pelo PE, pois,

conforme o Decreto-Lei n.º 137/2012 (artigo 9.º, ponto 1, alínea c) definem, em

função do mesmo, “…os objetivos, as formas de organização e de

programação das atividades e que procedem à identificação dos recursos

necessários à sua execução”.

Por último, não posso deixar de referir o orçamento, dado que este

também se constitui como um instrumento de autonomia que o agrupamento

possui. Neste documento estão esboçadas as receitas que o agrupamento de

escolas preveem obter, bem como as despesas que presumem efetuar (DL n.º

137/2012, de 2 de julho).

Terminada a análise global da instituição educativa, parece agora

oportuno fazer uma breve caraterização da turma onde decorreu o estágio

profissional, uma vez que é crucial que o profissional de educação conheça,

23

não só a instituição educativa, como também a turma onde vai intervir para

poder adequar a sua ação educativa.

3.3. Caracterização da turma do 7.º B

No decurso da prática pedagógica supervisionada o EE teve a

oportunidade de ser responsável por uma turma do 7.º ano, constituída por

dezanove alunos, entre os quais doze do género masculino e sete do género

feminino. Esta é uma turma homogénea, dado que os alunos são

maioritariamente nascidos no ano 2000, encontrando-se, segundo Piaget (s.d.,

citado por Papalia, et al., 2001), na transição entre o período das operações

concretas e o período das operações formais.

De forma genérica, estes revelam ser participativos, dinâmicos e

empenhados nas tarefas desenvolvidas nas aulas. Embora existam alunos

mais irrequietos que outros, a turma cumpre as regras de comportamento e

convivência em grupo e, além disso, revela sempre vontade de

intervir/cooperar nas práticas desenvolvidas.

Na turma existe uma aluna com NEE que manifesta uma vontade

incessante em participar. É notório e não se pode deixar de reconhecer o

esforço e dedicação por parte desta aluna em executar todas as atividades

desenvolvidas. Esse esforço e dedicação contribuíram, em grande medida,

para a sua evolução, embora tenha sido necessário fazer, por parte do EE,

algumas adaptações de forma a criar condições favoráveis à aprendizagem da

mesma.

No que respeita às interações que se estabelecem na turma, estas são

extremamente positivas. Os alunos relacionam-se bem entre si, apoiando-se

sempre que necessário. Esta interação positiva, que é possível verificar entre

os alunos, é destacada através de atitudes/comportamentos que têm uns com

os outros, nomeadamente na ajuda que prestam aos colegas que evidenciam

mais dificuldades na execução de determinado exercício, especialmente à

aluna que apresenta NEE. Importa ressalvar que o apoio cedido à aluna com

NEE por parte dos seus colegas mostrou-se fulcral para o sucesso escolar da

mesma. No que concerne à relação entre professor-estagiário/alunos, esta é

muito próxima, baseada no respeito mútuo, em que o EE procurou escutar

24

atentamente os alunos, de modo a responder às suas necessidades e

estimulá-los a assumir responsabilidades no que respeita ao seu processo de

ensino e aprendizagem. Assim, os alunos sentiam-se encorajados a refletir

sobre aquilo que faziam e, consequentemente, a procurar ajuda para

ultrapassar as suas dificuldades. A capacidade de identificar os seus próprios

erros/dificuldades foi uma das conquistas que os alunos foram obtendo ao

longo do ano letivo, conquista esta que os ajudou, muitas vezes, a criar

condições para ultrapassar esses erros/essas dificuldades, tornando-os mais

autónomos na sua aprendizagem.

Como forma de concluir o presente capítulo, importa mencionar que, de

facto, as informações recolhidas tanto da instituição como da turma,

evidenciaram um papel decisivo no sucesso das atividades desenvolvidas pelo

EE. Neste sentido, no capítulo que se segue serão postas em evidência as

atividades realizadas no âmbito do estágio profissional, mobilizando os

pressupostos teóricos para a consecução das mesmas, estabelecendo dessa

forma um constante vaivém entre a teoria e a prática.

25

4. Realização da prática profissional

No desenvolvimento do seu trabalho diário, o EE sustentou-se nas

quatro áreas de desempenho emanadas nas Normas Orientadoras do Estágio

Profissional, concretamente a Organização e Gestão do Ensino e da

Aprendizagem, a Participação na Escola, as Relações com a Comunidade e o

Desenvolvimento Profissional (Matos, 2012). Embora as Normas Orientadoras

do Estágio Profissional proponham uma intervenção pedagógica organizada

nestas diferentes áreas de desempenho, é importante salientar que estas não

são indissociáveis, portanto, devem ser vistas/desenvolvidas de forma

articulada.

Neste sentido, no presente capítulo apresentar-se-ão as atividades

desenvolvidas no âmbito do EP, relativamente a cada uma das áreas de

desempenho supramencionadas. Nestas, o EE pretende refletir sobre as suas

dificuldades, as estratégias de ação desenvolvidas, assim como acerca dos

resultados obtidos nas atividades realizadas ao longo da prática profissional.

Além disso, o mesmo, pretende tornar percetível as aprendizagens que

contribuíram para o seu desenvolvimento pessoal e profissional, num ano

único, rico em experiências diversificadas e significativas.

4.1. Área 1 - Organização gestão do ensino e aprendizagem

Segundo Estanqueiro (2010, p. 59) as aulas “são espaços pedagógicos

(…) para aprofundar conhecimentos e desenvolver competências”, isto é,

lugares onde ocorrem comportamentos de ensino e aprendizagem (Ferreira &

Santos, 2000). Neste sentido, o professor deve organizar e gerir o ensino e a

aprendizagem, de modo a alcançar padrões de eficácia e qualidade nas suas

aulas.

A área de desempenho relativa à organização e gestão do ensino e da

aprendizagem abarca as principais funções da ação do professor,

concretamente a conceção, o planeamento, a realização e a avaliação do

ensino. Note-se que todas elas se constituem como elementos cruciais no

processo de ensino e aprendizagem, pelo que assumem uma importância

26

acrescida na construção de uma estratégia de intervenção, orientada por

objetivos pedagógicos que objetivam veicular um ensino de qualidade, com

vista ao desenvolvimento integral dos alunos (Matos, 2012).

Importa salientar que estas quatro etapas da ação do professor devem

desenvolver-se de forma articulada, isto é, cada uma das etapas tem a sua

base de apoio na etapa anterior que, por sua vez, influencia a etapa

subsequente. Dito de outro modo, estas diferentes etapas devem ser

encaradas como um todo e são progressivamente integradas, quase como se

de um conjunto de bonecas russas (matrioskas) se tratasse, ou seja, um

conjunto de estruturas que se encaixam umas nas outras e formam um todo.

Importa salientar que o facto de a boneca posterior ser de maior dimensão do

que a anterior, não significa que seja mais importante, significa sim que

engloba todas as etapas até então e, portanto, as maiores dimensões.

As atividades desenvolvidas e metodologias adotadas, pelo EE, na

organização e gestão do ensino e da aprendizagem serão, neste ponto, alvo de

reflexão.

4.1.1. Conceção: a base para uma intervenção pedagógica intencional

O profissional de educação de forma a tornar o ensino eficaz deve

preparar o processo educativo com intencionalidade, para que os alunos

retirem o máximo proveito das experiências educativas que lhes são

proporcionadas. Assim, depreende-se que antes mesmo de intervir, isto é,

antes de traçar um plano de ação (planificação) é necessário um trabalho

árduo e contínuo de investigação, por parte do professor, que o apoiará nas

decisões sobre a sua prática.

Assim sendo, o profissional de educação deve, portanto, assumir-se

como investigador, para conhecer a instituição educativa, nomeadamente os

recursos humanos e materiais que disponibiliza, assim como o seu meio

envolvente, concretamente as suas características, que de algum modo,

influenciam a vida dos alunos na escola e podem mesmo ser aproveitadas para

tornar as aprendizagens dos alunos mais significativas (Zabalza, 1997). Neste

sentido, optou-se, em primeira instância, por analisar o PE da escola -

instrumento de autonomia já mencionado no ponto 3 do presente relatório -

27

dado que é nele que se encontram “…afinal as grandes linhas de orientação

para uma determinada comunidade escolar” (Alves, 2007, p. 60). Ou seja,

através do mesmo foi possível retirar ilações acerca das opções educativas da

escola, da sua missão, dos princípios e valores que mobilizam a ação

educativa para a resolução de problemas, assim como sobre o meio envolvente

da instituição educativa, nomeadamente as relações que esta constitui com o

meio.

Como instrumento do exercício da autonomia, o RI constituiu-se, também,

um importante documento a analisar, na medida em que, tal como já foi

mencionado no ponto 3 do presente relatório, através deste é possível recolher

informações acerca das normas a cumprir por parte de todos os agentes

educativos, salientando-se o subcapítulo dedicado às instalações

gimnodesportivas, visto ser este o espaço destinado às aulas de EF.

É certo que os documentos supramencionados devem constituir-se

como um importante recurso para a atuação do professor, porém, este deve

estar consciente de que deve sustentar as suas decisões, sobretudo, no

trabalho que desenvolve diariamente com os seus alunos, concretamente nas

informações que vai recolhendo de forma sistemática e contínua acerca destes,

de modo a poder estruturar as suas ações e conferir-lhes intencionalidade.

Neste âmbito, e essencialmente numa fase precoce da prática

pedagógica, o processo de observação mostrou-se fulcral, na medida em que

permitiu ao EE recolher informações basilares sobre as especificidades de

cada aluno, conforme defende Trindade (2007), assim como do contexto

educativo, tal como afirma Estela (1994). Tais aspetos auxiliaram o EE a

adequar a sua intervenção junto do público-alvo. Apenas através deste

processo será possível aprender coisas sobre os alunos, que não seriam

possíveis de outro modo. Isto é, somente por meio do fenómeno da observação

será possível extrair e agrupar informações cuidadas, concretas e conscientes

sobre várias dimensões importantes para o processo de ensino e

aprendizagem, organizá-las e realizar, sobre elas, uma análise crítica e objetiva

(Estrela, 1994), com vista a efetuar uma “…avaliação para uma orientação dos

formandos num determinado sentido…” (Trindade, 2007, p. 40).

Segundo Estrela (1994) a observação deverá ser a primeira e necessária

etapa para uma intervenção adequada, o ponto de partida para o planeamento

28

da ação educativa. Sarmento (2004, p. 15) acrescenta, ainda, que a

observação constitui “…um meio para os profissionais [de educação] actuarem

criticamente sobre os comportamentos”.

Note-se que a observação deve ser levada a cabo de modo sistemático

(Trindade, 2007), isto é, o profissional de educação deve encarar o processo

de observação como suporte da ação educativa (Estrela 1994), estando,

portanto, presente durante todo o processo de prática pedagógica. Tal medida

possibilitar-lhe-á escolher as estratégias mais adequadas à persecução dos

objetivos delineados, bem como adequar a sua ação à realidade (Estrela, 1994;

Monteiro & Pais, 1996). Mais ainda, de acordo com o que afirma Estrela (1994)

somente através da observação o professor será capaz de comprovar se a

estratégia adotada foi a mais adequada.

Ora, importa ressalvar que observar não é simplesmente “…olhar o que

se passa à nossa volta” (Sarmento, 2004, p. 161), mas antes obter significados

distintos através do sentido da visão, é olhar com uma intenção (Zabalza, 1997,

Sarmento, 2004).

Tendo em conta tais pressupostos, de forma a procurar retirar

informações acerca dos seus alunos, o EE foi observando para, “…interrogar a

realidade e construir hipóteses explicativas” (Estrela, 1994, p. 26), e para tal,

aproveitou as formas de observação elencadas por Estrela (1994), distribuídas

por três critérios distintos: (1) atitude do observador; (2) processo de

observação; (3) campo de observação. Neste sentido, o estagiário

relativamente ao primeiro critério - atitude do observador - recorreu à

observação participante, na medida em que esteve envolvido no dia-a-dia do

grupo, assumindo desta forma, a dupla função de professor e observador. No

que concerne ao processo de observação, o estagiário socorreu-se da

observação sistemática, visto que durante todo o ano letivo este se encontrava

em observação, retirando sempre que necessário anotações relevantes. As

observações eram realizadas não só na sala de aula (observação direta) mas

também nos espaços fora da sala de aula, nomeadamente no recreio, na

cantina, entre outros (observação naturalista). Ainda no processo de

observação importa referir que o EE invocou, também, a observação indireta,

principalmente no início do ano letivo, nomeadamente nas conversas com a

professora cooperante Maria Silva, nas reuniões de conselho de turma e, até

29

mesmo, nas conversas com os alunos, que segundo o mesmo autor, podem se

revelar excelentes fontes de informação (Estrela, 1978). Por fim, no terceiro e

último critério - campo de observação - o EE observou por um lado a turma

como um todo (observação molar), por outro lado as especificidades de cada

aluno (observação molecular) (Estrela, 1994).

Conforme Trindade (2007, p. 39) a observação deve realizar-se “…de

acordo com normas pré-definidas e definições operacionais, na tentativa de

obter resultados objectivos, isto é, que não variem de observador para

observador”.

Neste sentido, tornou-se evidente a importância de arranjar meios que

sustentassem as observações realizadas pelo EE, assim, foram sendo

elaboradas notas de campo, isto é, pequenas anotações acerca de

acontecimentos significativos ocorridos no espaço da aula, para posteriormente

serem alvo de uma análise crítica e objetiva por parte do EE. Acrescente-se,

ainda, o facto de muitas vezes o EE realizar essas anotações focando a sua

atenção num determinado grupo de alunos ou num aluno específico, a fim de

identificar dificuldades individuais para posteriormente adotar estratégias no

sentido de procurar que os alunos ultrapassassem eventuais dificuldades.

Ainda para conhecer melhor os alunos, nomeadamente quais as “…suas

preferências, hábitos, valores e atitudes” (Nova, 1997, p. 56), recorreu-se a

outra técnica de recolha de informação, concretamente os questionários.

Foram utilizados dois diferentes questionários, um deles, denominado de “ficha

de conhecimento do aluno” que foi disponibilizado pelo diretor de turma, o outro

foi criado pelo núcleo de estágio onde o foco das suas questões eram os

hábitos desportivos, embora tivessem também perguntas de índole geral

(conforme anexo I). Convém ainda destacar que com as informações

recolhidas foi criada uma apresentação PowerPoint. A mesma foi apresentada

pelo EE, na reunião intercalar, perante todos os professores da turma do 7ºB,

para que também estes pudessem usufruir das informações retraídas.

Assim, após analisados os registos de observação realizados pelo EE, no

decurso da sua intervenção pedagógica, e avaliadas as necessidades e

interesses dos alunos, que serviam de base para o planeamento da ação, o

passo seguinte seria definir os objetivos e os conteúdos programáticos de

aprendizagem que se considerassem os mais ajustados para uma intervenção

30

naquele momento. Para a definição destes, para além de se apoiar no

levantamento das necessidades, interesses e potencialidades dos alunos, o EE

teve como marco de referência os suportes legais aprovados pelo Ministério da

Educação e Ciência (MEC), nomeadamente o Programa para a Educação

Física (2001) e as Metas de Aprendizagem de Educação Física (2001).

Em relação às metas de aprendizagem, importa dizer que as mesmas

apoiam a operacionalização do Programa, pelo que o documento alusivo às

mesmas, pretende facilitar a compreensão, dos professores, relativamente

àquilo que têm de garantir como matérias de ensino a aprender pelos alunos,

nos diferentes domínios por ano de escolaridade.

No que respeita ao Programa, é nele que estão apresentados todos os

conteúdos que se consideram necessários adquirir ao longo de cada um dos

anos de escolaridade, isto é, contém o que é que o professor deve ensinar e

quando ensinar. Contudo, conforme afirma Bento (2003, p. 35) “o programa é

obrigatório, mas não é nenhum dogma!”, logo, cada professor, dependendo do

contexto em que está inserido, detém um grau de responsabilidade elevado na

aplicação do programa (Bento, 2003). Porém, é necessário alertar de que

apesar de cada docente ter a sua dose de responsabilidade, não significa que

possa lecionar, ou não, o que bem entender, deve sim “estruturar a matéria de

ensino da forma mais eficaz, para que os seus alunos alcancem o melhor

resultado possível em conhecimentos, habilidades, capacidades e no

comportamento” (Bento, 2003, p. 35).

Embora o programa se constitua, efetivamente, como um instrumento de

referência para os profissionais de educação, pelas razões acima

apresentadas, este documento oficial objetiva apenas configurar rumos

pedagógicos, pelo que o docente deve saber adequar o Programa ao tipo de

alunos e ao contexto em que está inserido. O Programa não pretende,

portanto, ser um livro de receitas, mas oferecer indicações ao professor que o

orienta nas decisões sobre a sua prática. Em síntese, e utilizando as palavras

sábias de Bento (2003, p. 37), cabe a cada docente “…ligar o

«programaticamente necessário e exigido» com o «subjectivamente possível»”.

Para além da análise ao Programa de Educação Física (2001), que aliás

já tinha sido analisado durante o percurso académico do EE, embora não tão

exaustivamente, os modelos e estilos de ensino abordados durante a formação

31

do mesmo, assim como toda a amálgama de experiências que teve a

oportunidade de desfrutar, tiveram também eles, influência na sua forma de

pensar o processo de ensino e aprendizagem. Pretende dizer-se com isto que,

todos estes fatores tiveram a sua dose de influência na construção da

conceção de ensino do EE.

Posto isto, após este aglomerado de informação, achada indispensável

para um ano de estágio de qualidade, acerca de todos os fatores que se

demonstram ser importantes no quotidiano de uma escola, chega a hora de dar

o passo seguinte – a planificação. Esta será no próximo ponto objeto de

análise.

4.1.2. Planeamento: o guia orientador para uma prática pedagógica

fundamentada

A planificação é um instrumento decisivo para o profissional de

educação, na medida em que lhe possibilita conceder intencionalidade e

adequabilidade educativa a um propósito, apontando o caminho a seguir ao

longo do processo educativo (Zabalza, 1997). Dito de outro modo, "o

planeamento significa uma reflexão pormenorizada acerca da direcção e do

controlo do processo de ensino..." (Bento, 2003, p. 8). Assim, a planificação

resume-se a uma proposta de trabalho, através da qual o professor toma as

suas decisões com vista a atingir o sucesso na prática. Para tal, o professor

deve adequar as suas intenções educativas às condições a que está exposto,

isto porque cada realidade é uma realidade e, portanto, "...não há receitas para

planificar" (Monteiro & Pais, 1996, p. 34).

No planeamento, o professor deve ter em conta o que está patente no

currículo, pelo que o mesmo se apresenta como "…um processo de previsão,

tendo em vista a sistematização dos elementos substantivos de

operacionalização do currículo, que pode servir diferentes funções e adotar

sucessivas modalidades temporais" (Pacheco, 2001, p. 109). Todavia, o

profissional de educação deve gerir o currículo, isto é, transformá-lo e adaptá-lo

às particularidades de cada situação educativa (Arends, 1995; Zabalza, 1997).

Quer isto dizer que, e de acordo com Leite (2000), no processo de planificação,

através das próprias interpretações que faz do currículo, o professor deve

32

desenvolver estratégias, de modo a adequar o currículo ao público-alvo e ao

contexto onde vai ser desenvolvido, e não assumir-se como mero

aplicador/consumidor de indicações estabelecidas pelos órgãos máximos da

administração central (Zabalza, 1997). Bento (2003, p. 20) afirma mesmo que a

planificação se constitui como "...um processo de interpretação do programa",

onde o professor não deve inibir a sua capacidade de criar, pelo contrário deve

assumir uma postura de professor criativo e inovador.

Esta gestão curricular que tem vindo a ser aludida acaba por se espelhar

num perfil de professor reflexivo, que utiliza a planificação como elo de ligação

entre aquilo que está expresso no Programa Nacional de Educação Física

(2001) e nos demais documentos de referência aprovados pelo Ministério de

Educação e Ciência e a realidade concreta dos alunos e da turma (Bento,

2003). Por outras palavras, Bento (2003, p. 28) afirma que cabe ao professor:

"...ajustar o conteúdo do programa à situação pedagógica concreta. Tem que colocar as

exigências objectivas - apresentadas como norma geral no programa - em relação com

as possibilidades subjectivas dos alunos das diferentes turmas e com as condições

concretas (materiais e temporais) características de cada escola".

A respeito do planeamento, importa ressalvar, ainda, que este esboço que

o professor constrói com as linhas mestras do seu trabalho deve ser flexível

(Zabalza, 1997), isto é, apesar de a planificação se constituir como uma

proposta de trabalho a realizar, tal como já foi referido, esta pode não ser

seguida inteiramente, pelo que segundo Vilar (1993) deverá ser dinâmica e

aberta, ou seja, que vai sendo progressivamente construída.

Em suma, e segundo Leite e Terrasêca (1995), tal como em qualquer

outro processo formativo, o planeamento deve ser sustentado num processo

contínuo e sistemático de reflexão. Vilar (1993) acrescenta que tal medida

permite a otimização das práticas educativas. Neste sentido, o professor deve

procurar, portanto, assumir uma postura de questionamento, baseando-se nas

respostas às questões "para que vou ensinar?", "como vou ensinar?", "que vou

ensinar?" e, "como poderei saber se os alunos aprenderam?"/"como sei se

houve aprendizagem?" (Leite e Terrasêca, 1995, p. 57; Monteiro e Pais, 1996,

p. 36).

33

Depreende-se, então, que, de acordo com Arends (1995, p. 44), o

planeamento e a tomada de decisões que lhe está intrinsecamente associada

"...são vitais para o ensino...", pelo que possuem um impacto na aprendizagem

e no decorrer da vida da sala de aula (Arends, 1995).

Para terminar, importa referir a existência de diferentes níveis de

planificação que se diferenciam pela dispersão durante o ano letivo,

especificamente, o planeamento anual, a unidade didática e o plano de aula. O

primeiro nível de planificação consiste num plano de caráter mais genérico,

uma planificação sem grandes detalhes, já os dois outros níveis possuem um

caráter mais específico e são planos mais pormenorizados (Bento, 2003). É,

precisamente a estes três níveis de planificação que serão dedicados os

próximos pontos.

4.1.2.1. Planeamento anual

O planeamento anual, tal como já foi mencionado, diz respeito ao primeiro

dos três níveis de planificação elencados por Bento (2003, pp. 65-66), tratando-

se de "...um plano global, integral e realista da intervenção educativa...".

De acordo com o mesmo autor, o planeamento anual carateriza-se pela

primeira etapa no que ao planeamento do processo de ensino e aprendizagem

diz respeito, devendo servir de ponto de partida para a elaboração dos níveis

subsequentes. Assim, uma das primeiras tarefas do EE prendeu-se,

precisamente, na construção do planeamento anual (conforme anexo II).

Aquando da primeira reunião do grupo de EF, ficou decidido que caberia ao

EE, em conjunto com outros professores de turmas de 3º ciclo, a consecução

do planeamento anual para o respetivo ciclo de ensino. Foi utilizada, como

ponto de partida, uma proposta de planeamento do ano transato, a qual foi

objeto de análise, resultando dessa análise as modalidades a abordar no

decorrer do ano letivo. Importa salientar que os professores que

acompanharam, quer o EE, quer todo o núcleo, sempre se mostraram

prestáveis e compreensivos.

Bento (2003, p. 66), no seu livro acerca do planeamento, questiona-se se

"será necessário o planeamento anual?". O autor explica esta questão com o

facto de os programas se apresentarem cada vez mais claros e objetivos

34

naquilo que pretendem para cada ano de ensino (Bento, 2003). Porém, como

foi possível ao EE constatar, colocar todo o programa em ação é inconcebível,

portanto, torna-se importante, para o professor, analisar o programa e de lá

extrair as indicações que melhor se ajustem à sua realidade, isto é "as

indicações programáticas (...) devem ser modificadas, reformuladas e

concretizadas de acordo com as condições em que o ensino vai decorrer num

ano lectivo" (Bento, 2003, p. 66).

Assim, após a análise do programa e o confronto de ideias, decidiu-se

que relativamente ao 7º ano de escolaridade, as modalidades a lecionar

seriam: Atletismo, Ginástica (solo, acrobática e aparelhos), Badminton, Jogos

Desportivos Coletivos (JDC) (Andebol, Basquetebol, Futebol e Voleibol) e

Jogos pré-desportivos. Porém, ficaram algumas aulas reservadas em cada

período, quer para matérias alternativas quer para precaver possíveis

imprevistos que possam acontecer.

Após a escolha das modalidades a abordar neste primeiro período, o EE

passou à fase seguinte, ou seja, qual a sequência das modalidades? Por onde

começar? Para tal, contou com a ajuda da professora cooperante Maria Silva,

visto a mesma ter muitos anos de experiência. Em conjunto, decidiu-se que, no

primeiro período o EE iniciaria com a modalidade de Futebol, seguindo-se o

Badminton e o Atletismo, ficando para o final as matérias alternativas. Foram

escolhidas as presentes modalidades visto a professora cooperante ter

sugerido ao EE que iniciasse o seu EP com modalidades nas quais o mesmo

se sentisse à vontade, isto para tentar retirar alguma da pressão sentida

inicialmente. Esta foi a razão pela qual se prendeu a escolha das modalidades

neste primeiro período.

Importa, ainda, salientar um outro aspeto no que ao planeamento anual

diz respeito, a distribuição das horas disponíveis pelas modalidades. Para o

primeiro período tivemos trinta e sete aulas disponíveis, distribuídas da

seguinte forma: dezasseis para Futebol, doze para Badminton, três para os

Jogos pré-desportivos, três para matérias alternativas e três créditos para

quando fosse necessário. Como se vê, não foram reservadas aulas para a

modalidade de Atletismo, isto porque em conversa com o restante núcleo de

estágio, incluindo a professora cooperante, ficou decidido que o Atletismo seria

dado em simultâneo com a modalidade de Futebol e Badminton. Por tal motivo

35

as horas disponibilizadas para Futebol foram dezasseis. Já para Badminton

foram apenas doze, no entanto, as três aulas reservadas para matérias

alternativas, foram utilizadas com o torneio de Badminton, logo na prática, esta

modalidade foi contemplada com quinze horas. As três horas denominadas por

créditos, foram utilizadas para a elaboração da ficha de avaliação, assim como

para a avaliação diagnóstica dos JDC.

No que ao segundo período diz respeito, a escolha das modalidades

prendeu-se com o facto de o núcleo ter decidido terminar o ano letivo com a

modalidade de Voleibol, através do Modelo de Educação Desportiva (MED).

Assim, no segundo período foram encaixadas as modalidades que sobraram -

Andebol e Basquetebol, não sendo por este motivo consideradas menos

importantes, simplesmente foi escolha do núcleo terminar com Voleibol.

À imagem do primeiro período, o Atletismo e o Andebol foram dadas em

simultâneo, perfazendo um total de catorze aulas, das trinta e uma aulas

disponíveis. Também de catorze aulas usufruiu a modalidade de Basquetebol,

ficando a sobrar apenas três aulas (créditos), que foram utilizadas para a

elaboração da ficha de avaliação, assim como para a matéria alternativa. De

acordo com Monteiro e Pais (1996) é reconhecida a importância de o

profissional de educação tomar em consideração os interesses dos alunos,

negociando com eles os conteúdos a serem lecionados. Neste sentido, o EE

ofereceu a oportunidade aos seus alunos de selecionarem a modalidade

alternativa a ser abordada. Ficou então decidido que a modalidade a abordar

seria o Kinball, no seguimento de um acordo que satisfez todo o grupo

(Valadares & Graça, 1998)

Por último, relativamente ao terceiro período, ficou deliberado que as

modalidades abordadas seriam a Ginástica e o Voleibol. Neste sentido, o EE

iniciou o terceiro período com a modalidade de Ginástica, estando delineadas

para a mesma dez aulas (das trinte e uma). No entanto, no decorrer do

período, o EE constatou que seriam necessárias mais aulas, isto devido à

coreografia que os alunos teriam de construir, demonstrando mais uma vez a

perspetiva preconizada por vários autores, de que a planificação não deve ser

vista como uma atividade rígida (Bento, 2003; Leite & Terrasêca, 1995; Peralta,

2005; Vilar, 1993; Zabalza, 1997). Assim, o EE prolongou a modalidade de

Ginástica para as doze aulas. Devido a este fator, as dezoito aulas iniciais

36

destinadas a Voleibol desceram para as dezasseis, todavia, devido aos

exames nacionais de primeiro ciclo, mais uma aula foi perdida, reduzindo para

quinze aulas. Relativamente aos três créditos, ficaram reservados para a

realização e entrega da ficha de avaliação, assim como para o momento de

despedida do EE com a sua primeira turma de lecionação - o 7ºB.

Em suma, segundo Arends (1995), conclui-se que o planeamento anual

embora não possa ser executado com total precisão, visto serem vários os

fatores que podem ocorrer durante o ano letivo, permite ao profissional de

educação determinar as modalidades a abordar e seus conteúdos com base no

Programa Nacional de Educação Física (2001), assim como deliberar a

sequência das modalidades e número de horas para a sua abordagem (Bento,

2003).

Desta forma, após todos os passos supramencionados terem sido

efetuados, estava dado o primeiro passo no que ao planeamento e preparação

do ensino e aprendizagem diz respeito, a concretização de "um plano exequível

(...) que oriente para o essencial (...) com base nas indicações programáticas..."

(Bento, 2003, p. 67). Findada a consecução do planeamento anual, estavam

reunidas as condições para a elaboração da extensão e sequência dos

conteúdos - unidade didática (UD), que será objeto de análise no próximo

ponto do presente capítulo.

4.1.2.2. Unidade didática

As unidades didáticas são, na perspetiva de Bento (2003), o segundo

nível de planificação. Estas constituem-se como "...unidades fundamentais e

integrais do processo pedagógico e apresentam aos professores e alunos

etapas claras e bem distintas de ensino e aprendizagem" (Bento, 2003, p. 75).

Dito de outro modo, a UD assume-se como um plano para um ciclo, isto é, para

uma modalidade, procurando administrar uma sequência metodológica lógica

da matéria de lecionação (Bento, 2003).

Na mesma linha de pensamento, Arends (1995, p. 60) acrescenta que a

UD junta no mesmo documento "uma série de objectivos, conteúdos e

actividades (...) determina o decurso geral de uma série de aulas durante dias,

semanas...".

37

Contudo, a UD não se deve resumir ao simples facto de distribuir a

matéria pelas aulas, mas antes a base para um trabalho de qualidade

relativamente ao processo de ensino e aprendizagem. Cabe, portanto, ao

professor aquando da consecução da UD clarificar o que vai dar e o que

pretende alcançar em cada uma das aulas (Bento, 2003).

No decorrer do EP importa referir que o planeamento da UD (conforme

anexo III) seguiu as indicações preconizadas por Vickers (1990). Para cada

modalidade não só foi construída uma UD, ou nas palavras na autora, uma

extensão e sequência dos conteúdos, como também foi realizado um Modelo

Estrutural do Conhecimento (MEC) (Vickers, 1990). Este modelo é apresentado

como o "...vehicle for linking the subject matter of a sport or activity with

teaching and coaching metodology" (Vickers, 1990, p. 5). Este Modelo

Estrutural do Conhecimento procura invocar uma perspetiva de conhecimento

no ensino do desporto, subdividindo-se em três fases: análise, tomada de

decisão e aplicação (Vickers, 1990).

Relativamente à fase de análise, esta comporta três módulos. O primeiro

diz respeito à análise de uma determinada modalidade em estruturas de

conhecimento hierarquizadas, o segundo módulo analisa o envolvimento

educativo, e o módulo três os alunos (Vickers, 1990). A fase de tomada de

decisões abarca quatro módulos (4, 5, 6 e 7). O módulo quatro diz respeito à

extensão e sequência dos conteúdos (UD), no módulo cinco são delineados os

objetivos, o seis compreende as questões relacionadas com a avaliação e o

módulo sete configura situações/progressões de aprendizagem (Vickers, 1990).

Por fim, a fase de aplicação compreende o módulo oito que, como o próprio

nome indica, procura transpor para a prática tudo o que foi realizado até então

(Vickers, 1990). Ou seja, é a aplicação real sustentada em tudo o que foi

desenvolvido até ao momento, e consiste no culminar de um processo que

passou por várias etapas (módulos). A figura abaixo resume as diferentes fases

e consequentes módulos do MEC.

38

Figura 1 - Fases e módulos do Modelo Estrutural de Conhecimento (adaptado de Siedentop, 1994)

No que concerne ao EP, aquando da composição da UD, foram vários os

aspetos a ter em atenção. Um deles prendeu-se precisamente com o

delineamento quer da sequência quer da extensão dos conteúdos a ser

abordados. Um outro aspeto consistiu em verificar qual o espaço destinado à

turma do EE, na medida em que, para certas modalidades existiam espaços

mais indicados do que outros. A título de exemplo realça-se o caso da

Ginástica, em que em várias aulas o EE pediu aos restantes professores se

poderiam trocar com ele, isto porque quanto mais perto ficasse a turma do local

em que o material estava arrumado melhor, por um lado porque o material é

pesado e por outro lado porque a transportar o material teria de interromper as

aulas que estivessem a decorrer.

Ainda relativamente às UD's, importa ressalvar que nos JDC não foram

destinadas aulas para a Avaliação Diagnóstica, dado que, tal como já foi

referido, esta avaliação, nos JDC, foi executada numa aula de noventa

minutos. Tal propósito deveu-se ao facto de que deste modo, foi possível

rentabilizar tempo de aula, na medida em que numa aula foram realizadas

quatro avaliações diagnósticas. Como é óbvio, o EE teve alguma dificuldade

em preencher a grelha elaborada pelo núcleo de estágio, porém, e como o

próprio afirmou "...o facto de a aula ter sido gravada (...) [foi] uma grande mais-

valia, pois o tempo é diminuto para observar todos os aspetos..." (Reflexão n.º

2). Com esta aula, o EE pretendeu ficar com uma imagem global da turma em

relação às competências dos alunos.

À imagem do planeamento anual, também as UD's sofreram quando

necessário alteações, visto que o ensino é dinâmico e flexível (Peralta, 2005).

Salienta-se o caso da Ginástica que inicialmente teria dez aulas, contudo,

devido ao facto de o EE ter pedido aos seus alunos a construção de uma

39

coreografia de Ginástica, a UD teve de ser prorrogada para as doze aulas de

forma a dar mais algum tempo para a criação da mesma. Este facto obrigou,

também, a alterar a UD de Voleibol, pois se estava destinado dez aulas mais

dezoito, se as dez passaram a doze, automaticamente as dezoito baixaram

para dezasseis, tendo de alterar, deste modo as duas UD's.

Outra UD à qual foi necessário proceder a alterações, ocorreu na

modalidade de Badminton, isto porque numa das aulas de 45' a turma do EE

assistiu a uma palestra acerca do tabagismo. Tal facto, obrigou a condensar os

conteúdos previstos para essa aula nas aulas posteriores, como se pode

constatar através de um pequeno excerto da reflexão n.º 19 correspondente à

aula posterior à palestra:

"Na aula em que ocorreu a palestra tinha planeado abordar o serviço longo e o clear e,

portanto, nesta aula abordaria o amorti e o lob, para que a próxima aula de 45' fosse,

somente, dedicado à exercitação. Todavia, tendo em conta a situação, foi necessário

reajustar os conteúdos às aulas disponíveis".

Em resumo, a concretização das UD's das diferentes modalidades

possibilitou ao EE organizar o processo de ensino e aprendizagem, servindo

estas de base e suporte para a preparação das distintas aulas e consequentes

planos de aula, estes serão no próximo ponto alvo de reflexão.

4.1.2.3. Plano de aula

Tal como já tem vindo a ser aludido ao longo deste capítulo, em grosso

modo, planificar é prever a forma como vai decorrer a ação que o professor vai

implementar, podendo este proceder à elaboração de planos a curto e a longo

prazo (Arends, 1995). De todos os planos que o professor elabora, o plano de

aula (plano a curto prazo) é aquele que, de certo modo, requer mais atenção,

pois é, sobretudo, neste plano que o professor planifica detalhadamente a sua

intervenção educativa, de forma integrada e flexível. Para tal, deve ter em

consideração as informações recolhidas na observação e avaliação das

necessidades dos alunos, integrando atividades que permitam o

desenvolvimento pleno dos mesmos, isto é, que lhes proporcione

aprendizagens nos vários domínios curriculares.

40

Conforme Arends (1995), são várias as formas de elaboração do plano de

aula, pelo que a sua estrutura pode variar conforme o professor, visto tratar-se

de um plano pessoal (Reizinho, 1980). Contudo, compreende-se que se exija

ao profissional de educação que os seus planos de aula compreendam o

conteúdo a ser ensinado, os objetivos de aprendizagem, as estratégias a

adotar na dinamização das atividades, as estratégias de caráter motivacional,

uma sequência de atividades, os materiais necessários para a aula, a

distribuição temporal e, ainda, a apresentação dos processos de avaliação das

aprendizagens dos alunos (Arends, 1995; Zabalza, 1997).

Neste sentido, planificar consiste em usar um conjunto de procedimentos

mediante os quais se introduz uma maior racionalidade e organização nas

atividades e ações previstas antecipadamente, com as quais se pretende

atingir determinados objetivos, que “…deverão ser encarados apenas como

«guias orientadoras» de uma acção intencional…” (Leite & Terrasêca, 1995, p.

43).

Segundo Peralta (2005), no plano de aula, o professor decide/prevê uma

direção que lhe servirá, somente, como guia orientador para a sua atuação,

pelo que nem tudo é previsto de antemão, na medida em que “…o processo de

ensino e aprendizagem (…) é dinâmico e, consequentemente, imprevisto e

imprevisível…” (Leite & Terrasêca, 2005, p. 55). Daí resulta a ideia defendida

por vários autores, e mencionada ao longo do presente capítulo, de que a

planificação deve ser dinâmica, interativa, flexível e não encarada como um

produto acabado (Bento, 2003; Leite & Terrasêca, 1995; Peralta, 2005; Vilar,

1993; Zabalza, 1997). Portanto, quando falamos em profissionais de educação

competentes, referimo-nos a profissionais que refletem efetivamente acerca

daquilo que pretendem fazer nas suas aulas, a fim de empregar

intencionalidade às suas práticas, planificando as suas intervenções, porém,

encaram o plano de aula como um espaço de organização de materiais,

pensamentos e situações de aprendizagem que apenas os orienta no que

concerne ao rumo que dão às suas aulas.

Aquando da elaboração do plano de aula, o professor deve procurar dar

significação às suas práticas (Arends, 1995; Monteiro & Pais, 1996).

Reconhecendo tal facto, o EE foi construindo os seus planos de aula (conforme

anexo IV) tendo como preocupação constante dar resposta às necessidades e

41

aos interesses que os seus alunos iam evidenciando ao longo das aulas. Neste

sentido, o EE sentiu necessidade de avaliar regularmente os interesses,

motivações e, sobretudo, as necessidades dos alunos, com vista a construir

uma compreensão mais aprofundada acerca dos mesmos e, assim, ser capaz

de atender às particularidades e interesses demonstrados pela turma e por

cada aluno, visto que, “…diferentes alunos têm diferentes necessidades”,

(Tomlinson, 2008, p. 16).

Foi com base nos dados que foi recolhendo no decurso da sua

intervenção e, evidentemente, na análise dos documentos reguladores do

processo de ensino e aprendizagem (programas, metas de aprendizagem…)

que o EE foi estabelecendo prioridades, esboçando objetivos, delineando

estratégias, planeando momentos, formas e instrumentos de avaliação das

aprendizagens e pensando em recursos diversificados e adequados aos

conteúdos programáticos para o desenvolvimento da sua ação pedagógica.

Com o decorrer do EP, o EE considera que se foram evidenciando

progressos visíveis ao nível dos planos de aula, que de muito se deveram ao

apoio prestado pelo professor orientador, bem como pela professora

cooperante. Posto isto, com o passar do tempo o EE foi, progressivamente,

consciencializando-se de que, efetivamente, o plano de aula deve ser visto

apenas como um guia orientador da ação e não como um guia de caráter

obrigatório, como pode ser comprovado nas reflexões n.os 27 e 32,

respetivamente:

"O exercício seguinte que tinha planeado era o jogo dos 6 passes, no entanto, resolvi

efetuar a bola ao capitão, isto porque, visto que pretendo introduzir o lançamento em

apoio, pude já na bola ao capitão dar alguns feedbacks no sentido de se enquadrarem

com o capitão, para mais tarde fazer o transfer para o cesto".

"No decorrer do mesmo, denotei que três alunos eram insuficientes e aumentei para 4,

assim, os caçadores já conseguiram, embora, não facilmente, atingir o objetivo do jogo".

Quer isto dizer que os planos de aula foram-se tornando cada vez mais

flexíveis e, se é verdade que numa fase mais precoce do EP os planos de aula

transmitiam, ao EE, um sentimento de segurança e confiança, o que lhe

permitia vencer a ansiedade e hesitação patente nas primeiras intervenções,

com o suceder da prática o EE tornou-se cada vez mais espontâneo nas suas

42

intervenções. Desta forma ,foi melhorada a capacidade de reformular os planos

de aula, em função da dinâmica do processo ensino e aprendizagem, isto é,

adaptá-los à resolução de situações imprevistas.

A definição de objetivos que fossem ao encontro das necessidades e

interesses dos alunos, isto é, que respeitassem a diversidade dos alunos

constituía, também, uma das dificuldades que o EE apresentava numa fase

inicial aquando da elaboração dos planos de aula. Porém, este constatou que

com o decorrer do tempo foi ficando com uma maior capacidade de identificar

necesidades e interesses e refletir acerca da realidade concreta, o que lhe

permitiu planificar e, consequentemente, atuar em conformidade com os

diferentes ritmos e estilos de aprendizagem dos alunos.

Resumindo, o plano de aula mostrou-se ser, de facto, um grande apoio

para o EE, na medida em que permitia ao mesmo entrar na aula com um

projeto mental acerca de como a aula iria decorrer, ajudando-o a dar um rumo

coerente à mesma.

Em jeito de conclusão do capítulo, pode afirmar-se que planear consiste,

na organização das ideias como forma de estruturar o trabalho do profissional

de educação quer ao longo do ano, quer no seu dia-a-dia. Além do mais,

segundo Bento (2003, p. 16), sabe-se que "uma melhor qualidade do ensino

pressupõe um nível mais elevado do seu planeamento e preparação", dado

que, planificar as atividades otimiza os seus resultados (Arends, 1995). Neste

sentido, depreende-se que o ato de planificar pressupõe a constante reflexão

crítica sobre a prática para, desta forma, empregar intencionalidade educativa

às atividades desenvolvidas.

No próximo ponto, serão postos em evidência os aspetos, considerados

pelo EE, mais importantes para que as atividades desenvolvidas fossem,

efetivamente, eficazes.

4.1.3. Realização: fatores gerais que influenciam a qualidade do processo

de ensino e aprendizagem

No decorrer do EP foram várias as experiências que o EE teve a

oportunidade de vivenciar, todas elas únicas e memoráveis. Neste sentido, a

43

intenção global deste capítulo é fornecer a visão alargada acerca de tudo

aquilo que foi desenvolvido no âmbito do EP, pelo EE.

Nesta perspetiva, o presente capítulo debruçar-se-á nos aspetos,

considerados pelo EE, mais relevantes da prática pedagógica com vista à

construção de ambientes de aprendizagem produtivos. Assim, serão

apresentados um conjunto de quadros concetuais para ajudar na compreensão

dos diferentes tópicos apresentados, sendo confrontados com situações reais

ocorridas durante o EP.

4.1.3.1. A disciplina e a sua influência no processo de ensino e

aprendizagem

Como mencionado no ponto anterior, respeitante ao planeamento, é

deveras importante adequar o currículo às necessidades e interesses dos

alunos. Dito de outro modo, segundo Estrela (1992), é necessário que o

professor planifique cuidadosamente a sua ação, procurando motivar os alunos

através de atividades entusiastas, mas ao mesmo tempo pedagógicas. No

entanto, o que não foi dito ainda, é que a atuação apropriada do professor não

só é importante para uma adequação do ensino aos seus alunos como também

para o controlo salutar da sua turma. Passando a explicar, caso o profissional

de educação não planeie tendo em vista os interesses evidenciados pelos seus

alunos, isto é, caso o professor planifique inadequadamente, poderá levar ao

descontentamento/desmotivação dos seus alunos, que se poderá revelar

"...através da agressividade, da fuga ao trabalho ou da apatia" (Estrela, 1992,

p. 48). O autor acrescenta, ainda, que se grande parte do grupo possuir o

mesmo sentimento de frustração poderão, ainda mais, dificultar a tarefa ao

professor.

Posto isto, torna-se de extrema importância para o professor gerir, de

forma positiva, o espaço de aula para com isso atingir os objetivos a que se

propôs (Duarte, 2000). Para tal, o professor deve planear toda a sua ação

tendo em conta os seus alunos. Mais ainda, dessa forma, prevenirá fatores de

desconforto/indisciplina nas suas aulas, na medida em que, cabe ao mesmo

procurar atenuar situações que possam provocar a indisciplina dado que "...o

44

bom professor não é o que lida bem com a indisciplina mas o que tem poucas

situações de indisciplina com que lidar" (Morgado, 1999, pp. 40-41)

Deste modo, a disciplina é, portanto, um fator incontornável no que à

gestão da turma diz respeito, constituindo-se como uma das grandes

preocupações da ação pedagógica (Morgado, 1999; Carita & Fernandes,

1999).

A disciplina é tremendamente importante para que os alunos percebam

quais os comportamentos apropriados e não apropriados, o que implica

restringir os alunos em relação às suas ações na sala de aula. É necessário

que o professor revele autoridade, embora que esta seja razoável e bondosa,

proporcionando desta forma segurança ao aluno (Gomez, et al., 2000).

Cury (2003, p. 88) corrobora desta opinião, alertando que "expressar a

autoridade com agressividade" é um dos sete pecados capitais do professor,

assim, cabe ao mesmo mediar a sua atuação tendo em vista a captação do

interesse dos alunos. Por outras palavras, é tarefa adjacente ao professor

equilibrar o permissivismo com o autoritarismo (Gomez, et al., 2000).

As regras de sala de aula podem servir como mais-valia para o professor,

contudo, estas deverão ser legítimas e respeitadas e não vistas como teimosia.

Além do mais, estas têm um papel importante no que à regulação da sala de

aula diz respeito (Estrela, 1992). Carita e Fernandes (1999) acrescentam,

ainda, que a inexistência de regras leva a que os alunos averiguem os limites

do professor. Este, devido ao não delineamento de regras poderá sentir

dificuldades em lidar com as diferentes situações. Posto isto, torna-se essencial

que nas primeiras aulas o professor estabeleça as regras que norteiam o

ambiente educativo. No estabelecimento das regras é, ainda, essencial que aja

uma negociação entre professor e alunos para desta forma ser-lhes dada parte

da responsabilidade, envolvendo-os de forma direta na gestão da sala de aula

(Carita & Fernandes, 1999).

No decorrer do EP o EE procurou delinear, em conjunto com os alunos,

as normas de sala de aula. Assim, desde cedo foi possível observar algumas

das regras esboçadas. Contudo, por motivos alheios, quer aos alunos, quer ao

EE, uma das regras apenas foi possível ser posta em prática no terceiro

período, devido ao facto de terem esgotado as camisolas da escola. De

seguida, ficam alguns excertos de reflexões que comprovam tal facto:

45

"Tal como ficou notificado na aula de apresentação, os alunos dispõem de 7 minutos

para chegar junto a mim, após o toque. Não houve atrasos, todos cumpriram com o

estipulado" (Reflexão 2).

"Importa referir que os alunos foram alertados de que teriam de começar a realizar as

aulas com a camisola da escola" (Reflexão 4).

"...contudo, uma das alunas antes de iniciar a aula teve de arranjar um elástico para o

cabelo, por sorte da aluna, a professora cooperante possuía um a mais e emprestou-lhe"

(Reflexão 10).

"Durante a corrida tive de intervir, isto porque um dos alunos encontrava-se a correr de

chiclete na boca" (Reflexão 29).

"Antes de começar, salienta-se o facto de que todos os alunos já dispõem da camisola

da escola, algo que ainda não tinha acontecido, devido ao facto de as mesmas estarem

esgotadas" (Reflexão 44).

Relativamente à turma que ficou ao encargo do EE, desde cedo se

mostrou ser uma turma bem-educada e cumpridora. Assim, foram escassos os

problemas disciplinares que atormentaram o EE. A única situação ocorrida, que

possa merecer algum destaque foi a de, por vezes, os alunos conversarem um

pouco para o lado, que Estrela (1992) denomina de "redes clandestinas".

Contudo, quando tal acontecia, o EE optava por se silenciar, levando a que os

alunos também se calassem. Como já foi referido, a turma sempre foi bastante

cumpridora e, até nestes casos, na maioria das vezes, eram os próprios pares

a chamar à atenção os alunos que estavam a conversar. Salienta-se, ainda, um

episódio em que um aluno foi chamado atenção por três ou quatro vezes, pelo

que, nesta situação, o EE optou por dizer ao aluno que se sentasse no banco

sueco. Após alguns minutos chamou-o, conversou com ele e de seguida,

permitiu que este retomasse a aula.

Embora, esporadicamente, existissem estes pequenos incidentes, o

comportamento global da turma sempre foi bastante apropriado. Este

comportamento foi, portanto, condição necessária ao desenvolvimento de

atividades mais dinâmicas e entusiastas por parte do EE. Isto porque, em

turmas em que ocorrem situações de indisciplina o desenrolar natural da aula é

posto em causa, assim como o investimento energético por parte do professor,

46

sendo que este, sente a indisciplina como uma intimidação ao seu

desempenho (Carita & Fernandes, 1999).

Em síntese, como foi possível entender, a disciplina é, de facto, um marco

essencial no que à gestão da sala de aula diz respeito. Morgado (1999, p. 69)

afirma mesmo que, "a gestão da sala de aula é uma das preocupações

primordiais dos professores...". Desta forma o próximo ponto ficará reservado

para a discussão acerca da organização e gestão do ambiente educativo.

4.1.3.2. Organização e gestão do ambiente educativo

A qualidade do ambiente, onde decorre o processo de ensino e

aprendizagem, deve merecer especial atenção por parte do professor

(Morgado, 1999). Neste sentido, este deve preocupar-se em organizar o

ambiente educativo, de forma a torná-lo favorável ao desenvolvimento e à

aprendizagem dos alunos, criando nas suas aulas um clima agradável e

estimulante (Sanches, 2001).

Neste contexto, assume particular importância a organização e gestão do

tempo, das transições, das rotinas, do espaço, dos recursos materiais

existentes e do grupo turma, todos eles fatores cruciais no processo educativo

e, como tal, se forem bem geridos podem funcionar como agentes promotores

de sucesso.

Importa salientar que existem, contudo, um conjunto de outras questões

que se refletem nessa organização e gestão para além das especificidades de

natureza metodológica do professor, nomeadamente as especificidades dos

alunos e, até mesmo, do próprio contexto (Arends, 1995; Morgado 1999).

No que diz respeito ao tempo, este constitui-se como uma dimensão

preponderante no êxito da aprendizagem dos alunos (Arends, 1995).

Nesta perspetiva, para Arends (1995, p. 81), a organização temporal é o

“…recurso mais importante que o professor tem que controlar…”, não só no

que diz respeito ao tempo a ser despendido num conteúdo pedagógico

específico, mas também como gerir o tempo dos alunos nas matérias escolares

em geral. Assim sendo, cabe, portanto, ao profissional de educação a tarefa de

refletir acerca do modo como o tempo é gerido na sua aula, porém sem nunca

esquecer os ritmos e estilos de aprendizagem individuais dos alunos (Morgado,

47

1999), já que, como destaca Arends (1995), só o uso eficaz do tempo

potencializará a aprendizagem dos alunos.

Perante estas realidades, o EE tentou estar sempre atento ao tempo que

os alunos, de facto, gastavam nos procedimentos exigidos por determinado tipo

de atividade, para dessa forma o auxiliar no processo de regulação do tempo

aquando do planeamento da sua intervenção pedagógica. Portanto, o fator

tempo foi sempre algo que o EE procurou ter em consideração no momento de

planificar a sua ação educativa, para que fosse possível dar uma sequência

lógica às suas ideias, com vista a proporcionar o sucesso do processo de

ensino e aprendizagem nos diversos conteúdos curriculares.

Arends (1995) chama a atenção para a existência de vários tipos de

tempo a ter em conta no exercício da profissão docente, concretamente o

tempo planeado; o tempo atribuído; o tempo ocupado; o tempo de

aprendizagem escolar; e o tempo necessário. À quantidade de tempo previsto

pelo professor para os diferentes conteúdos curriculares chama-se tempo

planeado. O tempo atribuído refere-se ao tempo que o professor atribui,

realmente, a um assunto/conteúdo específico. Ao tempo verdadeiramente

despendido pelos alunos numa determinada tarefa de aprendizagem dá-se o

nome de tempo ocupado, já o tempo de aprendizagem escolar diz respeito à

quantidade de tempo gasto pelo aluno numa tarefa, porém em que obtém êxito.

Por último, o tempo necessário refere-se à quantidade de tempo efetivamente

necessário para um aluno conseguir dominar determinado assunto.

Para Serrão & Barros (2010), criar um ambiente de aprendizagem

produtivo implica fazer uma gestão apropriada do tempo, isto é, implica gerir

estes diferentes tipos de tempo que, tal como afirma Arends (1995, p. 82),

“…são todos diferentes e produzem resultados diferentes na sua mediação”.

Assim, torna-se evidente a importância da quantidade de tempo que é

facultado aos alunos para realizarem determinada tarefa/atividade, visto poder

ter repercussões na sua aprendizagem. De acordo com o autor, o tempo

despendido numa tarefa está intimamente ligado com o quanto os alunos

aprendem. Arends (1995, p. 96). reforça esta ideia referindo que “…em salas

de aula, nas quais o tempo atribuído [a uma tarefa específica] é elevado [os

alunos] (…) aprendem mais do que noutras…”

48

No entanto, Morgado (1999) refere que, o importante não está apenas na

quantidade de tempo gasto numa determinada tarefa de aprendizagem, mas,

sobretudo, na qualidade do ensino conseguida no uso desse tempo.

Reconhecendo, portanto, que de acordo com Arends (1995) o tempo

pode ser utilizado como forte estratégia de ensino, na medida em que, em

combinação com outras variáveis, potencia a aprendizagem dos alunos, o EE

tentou geri-lo da forma mais ajustada possível, para que tivesse tempo para

realizar tudo o que julgou ser necessário para o desenvolvimento pleno das

capacidades dos alunos. A título de exemplo procurou conduzir as suas aulas

em função dos alunos, tentando não ocupar muito tempo com determinados

assuntos/conteúdos que estes já dominavam ou desenvolvendo outro tipo de

estratégias para rentabilizar o tempo disponível.

Os alunos possuem ritmos e estilos de aprendizagem diferentes,

pressupondo-se que a quantidade de tempo que necessitam para terminar as

tarefas solicitadas é, também ela, distinta. Neste sentido, um dos aspetos a que

o professor deve prestar atenção de maneira a rentabilizar o tempo pedagógico

está relacionado com os tempos mortos entre as atividades, que devem

procurar ser minimizados ou excluídos (Morgado, 1999). A planificação prévia,

por parte do EE, foi crucial para evitar os chamados tempos mortos, pelo que o

mesmo tinha o cuidado de pensar em atividades/tarefas de aprendizagem

complementares, evitando que os alunos que terminassem as tarefas mais

cedo tivessem que aguardar que todos as concluíssem. Assim, uma das

estratégias adotadas pelo EE foi rentabilizar o espaço (aspeto que será

aprofundado mais à frente), de modo a possibilitar-lhe o desenvolvimento de

diversas atividades em simultâneo, aumentando o tempo de aprendizagem de

qualidade e evitando as consequências que a espera poderia acarretar,

nomeadamente o ruído, a desconcentração por parte dos alunos e a

interrupção do ritmo da aula, que se quer dinâmico.

Os momentos de transição entre as atividades podem, de igual modo,

quebrar o ritmo dinâmico da aula, a menos que estes sejam suaves, isto é, que

o professor não interrompa continuamente os alunos no que estão a fazer, na

medida em que “…isso perturba a sua aprendizagem significativa” (Serrão &

Barros, 2010, p. 252).

49

Neste sentido, no planeamento das atividades, o EE refletia

cuidadosamente acerca da coerência e articulação entre as diversas

atividades, para que estas fluíssem com transições suaves, onde havia lugar

para a instrução clara, por parte do mesmo, sobre a tarefa a realizar e

imediatamente após essa instrução os alunos prosseguiam com a atividade.

Importa salientar que não existem apenas transições entre diferentes

atividades, mas também, transições numa mesma atividade. Ou seja, as

transições não ocorrem somente quando os alunos mudam de exercício, mas

também, por exemplo, quando estes se deslocam de uma estação para a

outra, quando acontece uma equipa ter de mudar de campo, quando durante

os jogos são feitas substituições, bem como noutras situações idênticas.

Portanto, a gestão das transições que ocorrem na aula são bastante

importantes, porém, é necessário que, tal como já foi mencionado, o tempo

gasto em cada episódio de transição seja reduzido (Arends, 1995).

No seguimento da fundamentação da relevância da organização e gestão

do tempo no processo de ensino e aprendizagem, não se pode deixar de

sublinhar a importância que as rotinas assumem no contexto educativo. Neste

sentido, estas devem constituir-se como parte integrante do trabalho em sala

de aula, pelo que o professor deve planear as rotinas de aula, possibilitando

também aos alunos uma participação ativa no seu planeamento.

As rotinas são relevantes no processo de ensino e aprendizagem, uma

vez que ajudam os alunos a construir referências que lhes possibilitam

antecipar momentos da aula e, assim, poderem situar-se e atuar com uma

maior segurança e autonomia. Para além disso, a presença de rotinas apoiam

os alunos na compreensão da existência de acontecimentos sequenciais e,

ainda, facilitam o profissional de educação no que respeita ao controlo do uso

do tempo educativo (Rodrigues, 2009).

Mediante os factos expostos, parece importante salientar a existência de

pequenos acontecimentos de rotina nas aulas lecionadas pelo EE. Estes

acontecimentos ocorriam, sobretudo, em dois momentos da aula, no início e no

fim.

A título de exemplo, os alunos já encaravam como uma atividade rotineira

o facto de, no início da aula, aguardarem pelo EE à porta do ginásio. Além do

mais, à sua chegada, o EE cumprimentava os alunos dando-lhes as boas-

50

vindas e, estes, à medida que iam entrando, começavam a correr sem que lhes

fosse necessário solicitar, e até sinal contrário.

No final da aula estabeleceram-se, também, alguns procedimentos

rotineiros, nomeadamente no que concerne à arrumação dos materiais, de

maneira a que o tempo de aula não fosse gasto para essa atividade. Desta

forma, eram fornecidas pistas aos alunos para os avisar que se aproximava o

final da aula e, a partir daí, eram autónomos para se deslocarem até ao EE e

trazerem consigo o material que recolhessem no caminho até ele.

Outro acontecimento de rotina que sucedia no fim da aula relaciona-se

com rituais de despedida. Assim, em negociação com os alunos ficou decidido

que no final de cada aula se realizava um grito de turma criado pelos mesmos.

Importa, ainda, realçar que era habitual os alunos saírem em direção aos

balneários, mas sem antes cumprimentarem o EE, algo que este quis

implementar para edificar sentimentos positivos.

Considera-se relevante ressalvar que, o facto de existirem pequenos

acontecimentos rotineiros não quer dizer que estes tenham sido forçosamente

cumpridos, aliás, em certas ocasiões, foi necessário proceder a alguns

ajustamentos no que concerne à gestão do tempo.

Conclui-se, então, que embora o professor estabeleça/planeie uma ordem

de duração das atividades a serem realizadas de acordo com o tempo

disponível, é crucial que este esteja consciente de que a organização do tempo

deve ser flexível e construída com base nas necessidades e interesses dos

alunos e do contexto educativo.

Do mesmo modo que o tempo, o espaço e os materiais constituem-se

como dois outros recursos sobre os quais o profissional de educação deve

prestar atenção ao planificar as suas atividades (Arends, 1995).

De acordo com Morgado (1999, p. 58) a gestão do espaço deve

“…contribuir para a qualidade global do ambiente de aprendizagem” e, como

tal, espera-se que o professor reflita cuidadosamente acerca de uma série de

questões, nomeadamente quais as atividades que importa desenvolver; qual o

espaço necessário para o desenvolvimento das mesmas, e qual o espaço

disponível. Deste modo, conseguirá organizar o espaço de forma mais ajustada

e, consequentemente, desencadear boas aprendizagens (Sanches, 2001)

51

Para Sanches (2001, p. 76), “a sala de aula (…) [tem de ser um local]

onde se goste de estar”. Na mesma linha de pensamento, Serrão e Barros

(2010) referem que o facto de os alunos terem vontade de estar no espaço sala

de aula, vendo-o como sendo seu, fomenta a aprendizagem e pode mesmo

contribuir para a melhoria das suas atitudes e comportamentos.

Nesta perspetiva, há que pensar bem na forma como se organiza e gere o

espaço pedagógico, certificando que este assuma algumas características, tais

como ser agradável, acolhedor, funcional e que permita o desenvolvimento de

diversas atividades em simultâneo (Morgado, 1999).

No nosso entender o espaço pedagógico é um reflexo da identidade de

quem nele vive, daí a importância que este exerce no processo educativo.

Neste sentido, no decurso do EP, foram diversos os aspetos sobre os

quais o EE procurou ter em consideração, na organização e gestão do espaço

pedagógico, e que, no nosso entender, integram princípios essenciais para o

desenvolvimento de atividades de aprendizagem no âmbito da EF, de entre os

quais se destacam:

Criação de espaços que encorajassem a autonomia dos alunos;

Organização ajustada e facilitadora da exploração/experimentação por

parte dos aprendizes;

Criação de ambientes propícios ao desenvolvimento cognitivo, motor e

afetivo dos alunos, procurando atender aos seus interesses e necessidades

individuais;

Criação de espaços que permitissem a realização simultânea de

múltiplas atividades, permitindo proporcionar aos alunos uma diversidade de

experiências que respondessem às diferentes necessidades/interesses dos

mesmos.

Assim, os aspetos expostos apelam à constante reflexão por parte do

professor, sobre a organização e gestão adequada do espaço. Quer isto dizer

que a organização e gestão do espaço pressupõe uma planificação antecipada

e cautelosa, para que seja possível criar ambientes de aprendizagem

produtivos/de qualidade (Arends, 1995).

De salientar que, numa aula de EF, um ambiente de qualidade pressupõe,

também, que o espaço de aula esteja equipado de materiais diversificados e

específicos de cada modalidade, de modo a proporcionar uma utilização e

52

exploração contextualizada e adequada aos objetivos a alcançar pelos alunos.

Portanto, o sucesso da organização do espaço e, consequentemente, das

atividades, depende intrinsecamente dos recursos que o professor tem à sua

disposição.

Assim, também a organização e gestão dos recursos materiais assume

um papel importante no processo de ensino e aprendizagem, cabendo ao

profissional de educação organizar um ambiente rico em materiais que

possibilitem o seu uso em situações de aprendizagem, visto que podem ser

aproveitados para proporcionar aos alunos uma diversidade de experiências.

Neste sentido, consideramos importante reafirmar que a organização dos

materiais deve fazer parte de uma preparação antecipada, tendo como

referência a intencionalidade educativa, no sentido de facilitar a orientação das

atividades (Morgado, 1999). Desta maneira, depreende-se que os materiais

não são apenas destinados aos alunos, sendo também instrumentos que

apoiam o professor na sua intervenção pedagógica, a fim de desenvolver

melhores práticas.

No caso concreto do contexto educativo no qual o EE teve oportunidade

de intervir, pode dizer-se que este estava equipado com materiais de

qualidade, o que facilitou o desenvolvimento adequado das suas ações

educativas, influenciando a eficácia das aprendizagens realizadas pelos

alunos. Isto é, permitiu a sua adequação aos objetivos a atingir e às

necessidades e interesses dos alunos, remetendo para a intencionalidade na

preparação das situações de aprendizagem.

Segundo Morgado (1999), reconhece-se como fundamental que o

professor envolva os alunos nas tarefas de responsabilização pelos materiais e

favoreça a sua utilização autónoma. O EE, ao longo da sua intervenção, foi

facilitando a acessibilidade dos materiais para que, de forma progressiva, os

alunos pudessem fazer uso destes autonomamente. Além disso, o mesmo

evidenciou o cuidado de implicar os alunos na manutenção e preparação quer

dos materiais, como dos espaços, numa perspetiva de responsabilização

partilhada. Note-se que esta responsabilidade atribuída aos alunos pode

igualmente revelar-se, de acordo com Morgado (1999, p. 60), “…um

instrumento interessante de promoção de autonomia…”. Assim, torna-se

evidente a importância de fomentar o desenvolvimento da autonomia dos

53

alunos, bem como do seu sentido de responsabilidade, na medida em que faz-

lhes sentir parte integrante do seu próprio processo de ensino e aprendizagem.

A organização do grupo-turma integra, do mesmo modo que a

organização dos materiais, a dimensão da organização do espaço, pelo que o

ambiente criado pelo professor no espaço sala de aula deve potenciar

oportunidades de interação com o outro.

Conforme Morgado (1999) vários estudos apontam para a importância da

relação afetiva no contexto escolar como importante fator de sucesso e eficácia

do trabalho pedagógico. Neste sentido, na prática pedagógica, tentou-se

organizar o espaço e as atividades de aprendizagem de maneira a que se

estabelecessem relações positivas. Como tal, o EE procurou privilegiar a

cooperação, recorrendo por diversas vezes ao trabalho em pequenos grupos,

por considerar que, em concordância com Serrão e Barros (2010), este produz

efeitos mais eficientes e produtivos ao nível do investimento e da

aprendizagem dos alunos. Acrescenta-se ainda que as situações cooperativas

proporcionadas pelo trabalho em pequenos grupos, “…favorecem (…) o

estabelecimento de relações mais positivas entre os estudantes…” (Serrão &

Barros, 2010, p. 243).

De facto, a organização em pequenos grupos revelou-se uma excelente

estratégia pedagógica, na medida em que estimulava o desenvolvimento de

afinidades o que consequentemente possibilitava a criação de um ambiente

cooperativo. O estabelecimento de relações de cooperação fazia com que os

alunos se apoiassem mutuamente na superação das dificuldades, aumentando

naturalmente o interesse e gosto pela aprendizagem, proporcionando o

sucesso educativo.

Mais ainda, o EE por inúmeras vezes optou por proceder à explicação das

tarefas de aprendizagem nos diferentes grupos, por considerar que permitia

uma compreensão mais aprofundada das tarefas solicitadas, além de permitir

reduzir o tempo gasto em cada transição. Dito de outro modo, se o EE optasse

por chamar todos os alunos ao centro sempre que mudava de exercício, perdia

demasiado tempo de aula na transição das atividades. Assim, impediu que tal

acontecesse.

Importa salientar que, evidentemente, o EE não recorreu a um modelo de

organização grupal rígido, sendo que ia organizando o grupo-turma de forma

54

flexível de acordo com o seu propósito educativo. Contudo, consideramos

pertinente referir, que as atividades planeadas pelo EE que fomentavam

relações de cooperação e interação entre os alunos, como é o caso do

exemplo supramencionado, contribuíram, em grande medida, para o

desenvolvimento de competências nos alunos, nomeadamente ao nível da

autonomia, responsabilização, autoestima/autoconfiança, iniciativa e,

sobretudo, ao nível do respeito pelo outro, concretamente pela diferença.

Em suma, as interações pedagógicas constituem um fator extremamente

relevante no processo de ensino e aprendizagem, pelo que facilitam a

construção de conhecimento. Estas influenciam direta ou indiretamente o modo

como os alunos agem, aprendem e se desenvolvem (Morgado, 1999; Serrão &

Barros, 2010).

Em jeito de conclusão deste ponto, em traços gerais pode concluir-se que

as diferentes dimensões que constituem o ambiente educativo (tempo, espaço,

materiais, grupo-turma) são, irremediavelmente, indissociáveis e a sua

organização e gestão deverá evidenciar nitidamente a intencionalidade

pedagógica que sustenta a atuação do professor.

Além de ao profissional de educação caber a tarefa de analisar e refletir

acerca dos aspetos acima mencionados, este deverá, ainda, pensar

cuidadosamente sobre o modo como comunica/expõe os conteúdos

programáticos, aspeto que será explanado no ponto que se segue.

4.1.3.3. Instrução: o efeito do comportamento o professor na

consecução do aluno

A instrução desempenha um papel decisivo na orientação do processo

educativo (Mesquita, 1998). Esta diz respeito aos comportamentos do

profissional de educação, verbais ou não-verbais, que têm diretamente a ver

com os objetivos de aprendizagem, nomeadamente a explicação, a

demonstração, o feedback, entre outros modos de comunicação sobre os

conteúdos programáticos (Mesquita, 1998).

A eficácia da comunicação depende, evidentemente, da clareza da

linguagem. Neste sentido, o professor deve procurar utilizar uma linguagem

clara, simples e acessível aos seus alunos para que estes consigam, com

55

maior facilidade, compreender e apreender as informações e os conhecimentos

(Antão, 2001; Estanqueiro, 2010).

De acordo com Arends (1995) e Estanqueiro (2010), a clareza da

comunicação está intimamente relacionada com o conhecimento que o

professor detém acerca do tema que está a expor aos alunos. A este propósito,

Estanqueiro (2010, p. 36) refere, ainda, que “ninguém fala com clareza daquilo

que não sabe”.

Contudo, importa ressalvar que não basta o professor dominar a matéria

em si, pelo que necessita de comtemplar os diversos tipos de conhecimento

enumerados por Schulman (1987). Destes salienta-se o conhecimento

pedagógico do conteúdo que se refere não só ao conhecimento que o

professor possui acerca do conteúdo, como também, e sobretudo, à

capacidade de o ensinar aos outros. Ou seja, o conhecimento pedagógico do

conteúdo consiste numa "...combinação especial entre o conteúdo e [a]

pedagogia, típico do professor" (Ramos, Graça & Nascimento, 2008, p. 162).

Esta perspetiva reforça a importância de preparar previamente os

conteúdos a ensinar, para que no momento de os expor e explicar, o professor

o faça eficazmente (Arends, 1995).

Para Estanqueiro (2010, p. 34) “ensinar é comunicar” e, portanto,

compete ao professor refletir acerca das melhores técnicas de comunicação

(verbal ou não verbal) para expor a informação aos alunos, pelo que a forma

como se comunica sobre os conteúdos condiciona a aprendizagem eficaz

(Arends, 1995; Estanqueiro, 2010).

Reconhecendo a importância da clareza com que o professor emite a

matéria no momento de comunicar aos alunos os conteúdos, Rosado e

Mesquita (2011) esboçam um conjunto de oito orientações para uma clara

instrução. Pela importância de cada uma delas, faz todo o sentido partilhá-las

de seguida: (1) orientar o praticante para o objetivo da tarefa; (2) dispor a

informação numa sequência lógica; (3) apresentar exemplos corretos e

errados; (4) personalizar a informação; (5) repetir os assuntos de difícil

compreensão; (6) recorrer às experiências dos alunos; (7) utilizar o

questionamento; (8) apresentar a tarefa de forma dinâmica.

Os mesmos autores referem, ainda, que a instrução contempla três fases

distintas: uma primeira fase de instrução, uma segunda fase de verificação da

56

qualidade da instrução e, por último, a fase de reestruturação da informação

que não tenha sido compreendida pelos alunos. Note-se que esta terceira fase

de instrução só se aplica caso o professor considerar necessário. Nesta, o

professor pode, mesmo, tentar explicar o assunto de forma diferente,

procurando que os alunos compreendam a mensagem (Antão, 2001).

A este nível é importante que o profissional procure fazer com que as

incompreensões sejam diminutas. Para tal, o mesmo deverá traçar estratégias

variadas e diferenciadas de acordo com as características do grupo-turma.

Desta forma, procurará despertar a concentração dos alunos naquilo que irá

dizer de seguida, na medida em que o nível de atenção demonstrado pelos

mesmos influencia a sua compreensão em relação ao que está a ser exposto

pelo professor (Rosado & Mesquita, 2011).

Neste âmbito, o EE, no decorrer do EP, procurou sempre reter a atenção

dos seus alunos, contudo, por vezes estes conversavam em simultâneo com o

EE, quebrando uma das regras delineadas. De notar que quando tal se

sucedia, era seguida uma das indicações sugeridas por Antão (2001), que

consiste em fazer silêncio. Desta forma, os alunos tomavam consciência de

que estavam a infringir a regra e acabavam por se silenciar. Assim, se

inicialmente, se "perdeu" algum tempo de aula com esta estratégia, podemos

aferir que o mesmo não foi em vão, visto que com o decorrer das aulas foram

recolhidos os louros.

Ao nível da compreensão há, todavia, um aspeto que merece a nossa

especial atenção. Como refere Arnold (citado por Rosado & Mesquita, 2011),

por vezes a quantidade de informação proferida pelo professor é bem maior do

que aquela que o aluno tem capacidade de reter, levando à desconcentração

dos alunos. Posto isto, cabe ao professor ter a competência de selecionar,

apenas, as informações mais valiosas, eliminar os fatores de distração que

possam surgir e persuadir os alunos para a adesão às atividades (Rosado &

Mesquita, 2011). Antão (2001) acrescenta que quando o professor e o aluno

estão em sintonia, estamos perante a ausência de ruído. Ruído esse, que para

o autor tem o significado de perturbação.

Para que tal persuasão seja concretizada, o professor deve, então,

socorrer-se da paralinguagem, da linguagem não-verbal, assim como da

harmonia entre as comunicações verbais e não-verbais. Além do mais, deve ter

57

em conta a utilização de múltiplos canais, assim como o ajustamento da

mensagem ao nível dos alunos (Antão, 2001; Rosado & Mesquita, 2011).

Se o professor, por si só, pode efetuar várias mudanças na sua conduta

no sentido de tornar a instrução eficaz, pode ainda, fazer uso de outros

recursos didáticos para aumentar a eficiência da mesma. Para Antão (2001) a

utilização do projetor multimédia, do computador, de filmes, de cartazes, de

gráficos, entre outros, são exemplos de recursos que podem, ainda mais,

aperfeiçoar o processo de ensino e aprendizagem.

Durante o EP, o EE socorreu-se de alguns desses meios na tentativa,

quer de uma instrução eficaz, quer de motivar e persuadir os alunos para a

aula. O computador, aliado ao projetor multimédia, serviram de facto como um

forte apoio para o EE, constituindo-se como um "...parceiro no processo de

ensino e aprendizagem" (Antão, 2001, p. 42). Este foi utilizado por inúmeras

vezes e com diferentes fins, tendo em conta o teor da atividade. A título de

exemplo, o EE fez uso do computador para apresentar aos alunos algumas

imagens ou excertos de vídeos acerca do conteúdo a ser abordado,

nomeadamente aquando da lecionação da modalidade de Basquetebol, para

demonstrar os diferentes tipos de passe. Outra situação em que o EE se

socorria do computador, era quando pretendia que os alunos visualizassem

alguns vídeos gravados nas próprias aulas, de modo a que estes tomassem

consciência dos seus erros e, assim, tentassem remediá-los com o apoio do

EE. Mais ainda, as tecnologias de informação e comunicação (TIC)

funcionaram, também, como um forte auxílio no reforço da motivação dos

alunos, nomeadamente quando o EE preparava para a aula um pequeno vídeo

acerca da modalidade a ser abordada, de modo a motivá-los e entusiasmá-los

para a aprendizagem da respetiva modalidade. Aliás, para Estanqueiro (2010,

p. 37), “um professor competente utiliza recursos variados, incluindo recursos

multimédia, para motivar os alunos e reforçar as suas mensagens”.

Ainda ao nível da motivação podemos recorrer ao exemplo das

coreografias de Ginástica, executadas pelos alunos. Aquando da exibição

destas, o EE resolveu gravar as performances dos alunos para posteriormente

mostrá-las à turma, de forma a motivá-los.

Além do mais, a gravação foi utilizada, para, posteriormente, o EE poder

analisar as coreografias com mais pormenor e proceder à avaliação. O uso da

58

gravação mostrou-se, de facto, uma estratégia facilitadora do processo de

avaliação, uma vez que, se por um lado no momento em que se está a avaliar

há indicadores que são facilmente analisados/detetados, tais como a motivação

e o desempenho na execução da tarefa, existem, por outro lado alguns

indicadores como a destreza no desenvolvimento das técnicas, que necessitam

de uma análise mais pormenorizada para que a avaliação seja justa.

Ainda relativamente aos meios de instrução utilizados pelo EE no decurso

do EP, este socorreu-se também dos quadros brancos. Com a utilização

destes, o EE tentava complementar a informação verbal com o estímulo visual,

podendo, deste modo, os alunos com menor capacidade de compreensão ver

"...compensadas as suas dificuldades..." (Antão, 2001, p. 40). A título de

exemplo pode citar-se a utilização dos quadros brancos na demonstração de

conteúdos relacionados com a modalidade de Badminton, mais concretamente,

para demonstrar aos alunos a trajetória do volante nos diferentes batimentos.

Note-se que a utilização de figuras, não apenas nos quadros brancos, foi

de resto uma estratégia utilizada consistentemente durante o EP. Este uso

constante prendeu-se com o facto de o EE recorrer, inúmeras vezes, à

organização espacial por estações. Quando o mesmo optava por esta

organização, procurava colocar em cada estação uma imagem, uma frase, ou

outro, que elucidasse os alunos da tarefa que se pretendia.

Após este breve resumo acerca de alguns dos recursos que possam

ajudar o professor no processo de ensino e aprendizagem, voltemo-nos

novamente para os aspetos/estratégias instrucionais que estão intrinsecamente

relacionados(as) com o professor, concretamente a exposição, o feedback

pedagógico, a demonstração, as palavras-chave e o questionamento.

Iniciando pela exposição, esta constitui-se como "...o principal meio

através do qual é comunicado o conteúdo aos alunos" (Leinhardt et al., citados

por Rosado & Mesquita, 2011, p. 94). Rosado e Mesquita (2011) delineiam

cinco aspetos essenciais para uma exposição eficiente, que se traduzem em:

(1) apenas a informação mais relevante deve ser comunicada; (2) a informação

que irá ser dada deve ser apresentada cuidadosamente; (3) a duração da

exposição deve ser prevista aquando do planeamento; (4) devem ser tidos em

conta aspetos como os materiais necessários, a posição dos alunos, entre

59

outros; (5) devem ser acordados sinais de intervenção entre o professor e

alunos de forma a evitar perdas de tempo.

Sarmento (2004, p. 84), relativamente à exposição, acrescenta que

"sempre que se diminui o tempo em que se fala com os praticantes (...)

aumenta-se o tempo de prática efectiva".

Nesta perspetiva, no decorrer do EP o EE procurou utilizar estratégias de

ação que rentabilizassem ao máximo o tempo de empenhamento motor.

Exemplo disso prende-se com o facto de, geralmente, fornecer informação

grupo a grupo, visto que era habitual trabalhar com a turma organizada em

pequenos grupos, tal como já foi mencionado anteriormente. Assim sendo, o

EE optava por, em primeira instância, fornecer a informação mais relevante ao

grupo-turma, de seguida procedia à sua organização em pequenos grupos,

conduzindo-os para os seus respetivos lugares e, por último, dirigia-se aos

mesmos, individualmente, para clarificar eventuais dúvidas que pudessem

existir.

Além das estratégias instrucionais já enunciadas há ainda a salientar

outra que pode e deve ser utilizado pelo profissional de educação, o feedback

pedagógico. Fishman e Tobey (citados por Rosado & Mesquita, 2011) definem

o feedback pedagógico como um comportamento do professor de reação à

execução motora de um aluno. Assim, é indispensável que o professor, no

decorrer das aulas, se auxilie do feedback para ajudar os alunos a perceberem

a sua atuação (Vieira, 2000).

Conforme Rosado e Mesquita (2011) o feedback pedagógico abarca duas

categorias: o "conhecimento da performance" e o "conhecimento do resultado".

A primeira centra-se, sobretudo, no processo, já a segunda centraliza a sua

atenção no produto. Arends (1995), relativamente a estas duas categorias

defende que o professor deve auxiliar os alunos a centrarem-se no processo e

não no produto. Contudo, Schmith (citado por Rosado & Mesquita, 2011) revela

que, caso estejamos perante a aquisição de novas habilidades, faz sentido a

utilização de feedback centrado no conhecimento da performance, já o

feedback centrado no conhecimento do resultado será mais adequado no caso

do objetivo da atividade ser a aplicação das habilidades.

Segundo Sarmento (2004) o feedback pode ser emitido durante a prática

ou após a prática. Para o autor, quando o feedback é proferido durante a ação,

60

este tem um efeito momentâneo, isto é, pode ajudar no momento, todavia,

quando este é emitido após a ação notam-se resultados mais duradouros.

Arends (1995) resguarda, tal como Sarmento (2004) que se deve

ministrar o feedback logo após a prática, na medida em que, deste modo, os

alunos têm bem presente o que efetuaram. Arends (1995), contudo, não se fica

por aqui, construindo um conjunto de outros princípios a ter em consideração

no que ao feedback diz respeito, no qual destacamos: o fornecimento de

feedbacks o mais específicos possível, de modo a que este se torne mais útil

para o aluno, e a importância de o professor privilegiar o elogio sobre os

desempenhos positivos, na medida em que "de um modo geral, o elogio será

aceite, enquanto que o feedback negativo pode ser negligenciado" (Arends,

1995, p. 350).

Estanqueiro (2010) acrescenta, ainda, que após obter sucesso numa

tarefa difícil, o aluno deverá receber, por parte do professor, o elogio. O mesmo

autor complementa esta ideia, afirmando que "...os elogios podem acelerar a

aquisição de uma conduta desejável" (Estanqueiro, 2010, p. 24). Além do mais,

os elogios dados pelo professor aumentam a motivação do aluno, ato esse

que, consequentemente, melhora a qualidade do processo de ensino e

aprendizagem, como será visto mais à frente.

Tendo em conta os pressupostos acima mencionados, que fundamentam

a importância do feedback/elogio no processo de ensino e aprendizagem,

consideramos relevante referir que o EE durante o EP procurou fornecer

diversos feedbacks aos alunos, com o intuito de compreenderem onde erraram

e, mais do que isso, porque erravam, de modo a não caírem no mesmo erro.

Importa, todavia, realçar que inicialmente uma das dificuldades do EE

prendia-se exatamente com o fornecimento de feedbacks. A explicação

compreensível para que tal se sucedesse, prende-se com o facto de numa fase

inicial a sua preocupação se centrasse, talvez em demasia, noutras questões,

nomeadamente no controlo da turma e na gestão do tempo de aula.

Salienta-se aqui, a importância da experiência no processo de

desenvolvimento profissional, uma vez que foi precisamente graças às

experiências que o EE foi acumulando no decurso do EP, que este foi-se

tornando progressivamente capaz de executar, em simultâneo, as várias

tarefas do processo pedagógico.

61

Ainda relativamente ao feedback, importa referir que com o tempo, o EE

foi percebendo que o profissional de educação deve possuir conhecimentos

científicos, pedagógicos e didáticos relacionados com os conteúdos que

leciona, para que seja capaz de corrigir e ajudar os alunos a ultrapassar as

suas dificuldades/os seus erros. O EE salvaguarda, ainda, a importância de os

alunos receberem reforços positivos e incentivos, no sentido de os motivar para

a aprendizagem. Neste sentido, procurou fornecer aos seus alunos constantes

elogios/reforços positivos, com vista à crescente motivação dos mesmos para

as aulas de EF.

Em suma, quer os feedbacks pedagógicos quer os elogios constituíram

ferramentas fundamentais para que o processo de ensino e aprendizagem

fosse levado a bom porto. Por um lado, porque permitiam que os alunos

evoluíssem, por outro lado porque possibilitavam, ao EE, criar laços afetivos

com os seus alunos, facilitando desta forma o controlo/gestão do grupo-turma.

No seguimento das ideias expressas pelos autores que se debruçam

sobre a instrução, especificamente sobre as estratégias/técnicas instrucionais,

não pode descurar-se a relevância de outras estratégias de instrução para

além das que já foram mencionadas, que condicionam, igualmente, a

compreensão dos alunos. A estratégia a que nos referimos diz respeito à

demonstração, que segundo Sarmento (2004, p. 97) "...propicia maior riqueza

de informação e economia de tempo", na medida em que explicar aos alunos

apenas de forma verbal, pode levar à existência de mais perguntas do que

respostas. Além do mais, existem certos conteúdos que se tornam de difícil

explicação caso não sejam acompanhados de uma imagem, pois como diz o

velho ditado, uma imagem vale mais que mil palavras (Mendes, 2004).

Nesse sentido, Rosado e Mesquita (2011) argumentam que a

demonstração, associada à exposição, assume um papel preponderante, pois

possibilita, aos alunos, visualizarem os movimentos que se lhes espera.

Segundo os mesmos autores existem dois modelos de demonstração. Por

um lado, o "modelo correto de demonstração" e, por outro lado, o "modelo de

aprendizagem". O primeiro diz respeito, tal como o próprio nome indica, à

execução correta do movimento. Neste, o professor (ou aluno) que execute a

demonstração deverá possuir o domínio total da habilidade (Arends, 1995). Por

seu turno, o "modelo de aprendizagem" é apontado por alguns autores como o

62

mais vantajoso, na medida em que, permite aos alunos percecionar os erros

que possam existir (Rosado & Mesquita, 2011).

Rosado e Mesquita (2011), no capítulo do seu livro intitulado de "Melhorar

a aprendizagem optimizando a instrução", destacam um conjunto de dez

critérios a ter em conta aquando da demonstração. Pela importância que é

conferida à demonstração no processo de ensino e aprendizagem, as linhas

seguintes destinam-se à identificação desses mesmos critérios:

1. A demonstração deve ser planeada;

2. Deve-se atender à posição e distância dos observadores;

3. A demonstração, se necessário, deve ser repetida;

4. Sempre que seja possível, devem ser utilizados os alunos na

demonstração;

5. Demonstrar de forma global e à velocidade normal;

6. Ponderar a utilização de meios audiovisuais;

7. A demonstração dos erros deve ser efetuada por alunos

competentes ou pelo próprio professor;

8. Explicar as componentes críticas;

9. Fornecer informação verbal antes da demonstração;

10. Averiguar se os alunos compreenderam os principais aspetos da

habilidade.

Partindo dos pressupostos que valorizam a importância da comunicação

não-verbal, o EE socorreu-se, inúmeras vezes da demonstração, como forma

de facilitar a compreensão dos alunos. De notar que inicialmente, este

responsabilizava-se pela demonstração, contudo, com o decorrer do tempo e

com o conhecimento que ia adquirindo acerca das competências dos alunos,

foi-lhes delegando essa responsabilidade.

Alguns dos critérios que influenciaram a seleção dos alunos para efetuar

as demonstrações foram os conhecimentos e as competências/habilidades

motoras relativas à modalidade exigida. Ou seja, o EE tinha sempre a

preocupação de selecionar um aluno minimamente competente, para que a

clareza das demonstrações fosse suficiente para a sua compreensão. Além do

mais, o EE procurou resguardar os alunos com maiores dificuldades, com

receio de poderem tornar-se alvo de chacota por parte da turma.

63

As palavras-chave são outra forma de o professor procurar alcançar o

sucesso dos seus alunos. Estas, segundo Rosado e Mesquita (2011, p. 99)

"...incluem, a maior parte das vezes, apenas uma ou duas palavras", e têm

como principal objetivo despertar a atenção dos alunos. Os mesmos autores

referem, contudo, que um número exagerado de palavras-chave pode tornar-se

contraproducente, prejudicando a performance dos alunos.

O EE, em vários momentos da sua atuação, socorreu-se das palavras-

chave, de maneira a incutir nos alunos aspetos a ter em atenção na

consecução das habilidades. Exemplo disso foi a expressão/palavra-chave

utilizada no lançamento do peso: "mão limpa, pescoço sujo". Com este tipo de

expressões, o EE procurou que os alunos adquirissem as principais

componentes críticas dos diferentes conteúdos. Deste modo, bastava os

alunos recordarem essa expressão para saberem como deviam executar a

pega do peso. Note-se que, como este, foram utilizados outros exemplos no

decorrer do ano letivo.

Por último, no que às estratégias instrucionais diz respeito, falta ainda

pronunciar-nos acerca do questionamento. Segundo Rosado e Mesquita (2011)

este método é um dos mais utilizados pelo professor, sendo para Harvey e

Goudvis (citados por Rosado & Mesquita, 2011) a chave para a compreensão.

Com a utilização desta estratégia, o professor conseguirá obter

informações relevantes acerca daquilo que os alunos adquiriram no decorrer

das aulas, permitirá que os alunos desenvolvam o seu espírito reflexivo,

aumentará os níveis de interação entre professor e aluno, entre outros (Rosado

& Mesquita, 2011). Todos estes aspetos levarão ao fortalecimento das

aprendizagens dos alunos, que se coloca como o fim a atingir por parte do

professor.

Para Rosado e Mesquita (2011) o questionamento é, de resto, um fator

crucial no que ao processo de ensino e aprendizagem diz respeito, isto porque,

após qualquer intervenção do professor, este, habitualmente, opta por verificar

se os alunos compreenderam, ou não, o que lhes foi comunicado. Posto isto, o

questionamento coloca-se como uma ferramenta de auxílio ao professor,

desenvolvendo nos alunos a sua autonomia, promovendo, assim, a

participação ativa dos mesmos.

64

Numa análise global da prática pedagógica do EE pode aferir-se que este

utilizou o questionamento, praticamente, em todas as aulas. Na maioria das

vezes este era utilizado no final das sessões para verificar se os alunos

adquiriram os objetivos traçados para a aula. Assim, este tipo de estratégia

demonstrou-se, efetivamente, uma grande ajuda para o EE, na medida em que

para além de permitir-lhe averiguar o nível de conhecimento dos alunos,

também lhe possibilitava analisar/avaliar a sua própria atuação. Além do mais,

importa referir que através do questionamento realizado na parte final da aula

resultava uma síntese geral dos conteúdos abordados. Deste modo, os alunos

que não tivessem conseguido captar toda a informação facultada durante a

aula tinham, naquele momento de aula, uma nova oportunidade para adquirir

e/ou consolidar os conhecimentos previstos.

Ao abordarmos as questões relacionadas com a instrução, não podemos

também deixar de referir a existência de vários modelos instrucionais. Partindo

da análise dos respetivos modelos iremos incidir sobre o Modelo de Instrução

Direta (MID), o Modelo Desenvolvimental (MD) e o MED, dado o seu contributo

na sustentação da ação profissional do EE no âmbito do EP.

De acordo com Rink (citada por Mesquita & Graça, 2011), não existe

nenhum modelo que seja apropriado a todos os envolvimentos da

aprendizagem. Assim sendo, antes da escolha do modelo a adotar, é essencial

que o professor conheça as caraterísticas da turma em que está inserido, de

modo a poder tê-las como ponto de partida para a seleção do modelo que

melhor se adeque à mesma: se um modelo que centra a atenção no professor

ou se um modelo que conceda aos alunos maior liberdade, iniciativa e estimule

a aprendizagem por descoberta (Mesquita & Graça, 2011). Relativamente aos

três modelos supracitados, os autores clarificam que todos eles têm enfoques

distintos e diferenciam-se pelos seus princípios, objetivos e

metodologias/estratégias de ação.

Centremo-nos agora no MID, que é um modelo frequentemente utilizado,

pelos professores, na disciplina de EF (Mesquita & Graça, 2011). Este modelo

incide a sua atenção na forma como o professor estrutura o ensino, com

enfoque nas questões relacionadas com o envolvimento dos alunos.

O MID carateriza-se pela utilização de "...estratégias instrucionais de

carácter explícito e formal, em que a monitorização e o controlo estreito das

65

actividades dos alunos são a nota dominante" (Mesquita & Graça, 2011, p. 46).

Assim, infere-se que este modelo coloca no professor a responsabilidade de

todas as decisões no que diz respeito ao processo de ensino e aprendizagem.

Rosenshine (citado por Mesquita & Graça, 2011) realça que, aquando da

aplicação do MID, nas aulas de EF, são necessárias cumprir algumas tarefas,

nomeadamente: (1) a revisão da matéria previamente aprendida; (2) a

apresentação da nova habilidade ou conteúdo em geral; (3) a monitorização

elevada da atividade motora dos alunos; (4) a avaliação e correção sistemática

tendo em conta os objetivos traçados.

Mesquita e Graça (2011) secundando Rosenshine e Stevens afirmam que

este modelo ganha maior relevância, quando aplicado a alunos novos com

ritmos de aprendizagem vagarosos. Por outro lado, o mesmo modelo perde

fulgor quando na aprendizagem de novos conteúdos seja necessário o recurso

à "...intuição, (...) criatividade e (...) descoberta" (Hosner citado por Mesquita &

Graça, 2011, p. 51).

Relativamente ao MD, este foi criado por Rink e inspira-se no MID, na

medida em que defende "...que a prática, por si só, não proporciona

aprendizagens consistentes e duradoiras" (Mesquita & Graça, 2011, p. 51).

Este modelo procura auxiliar o professor na tentativa de adequar as tarefas ao

nível de compreensão dos alunos, demonstrando, deste modo, o seu caráter

didático.

Arends (1995) argumenta que é importante que a tarefa seja adequada ao

nível dos alunos, todavia, os mesmos devem ser colocados perante situações-

problema. Importa, contudo, salientar que aquando da escolha dos problemas,

é essencial que o professor tenha em atenção que a obtenção do sucesso

deve ser algo passível de ser atingido pelo aluno.

Embora seja fundamental criar oportunidades que favoreçam o sucesso

do processo de aprendizagem do aluno, importa, porém, que o professor não

nomeie tarefas demasiadamente acessíveis/simples, na medida em que, caso

assim seja, não exigirá grande esforço por parte do aluno, pondo em causa os

seus progressos educativos (Arends, 1995).

No sentido de apoiar o professor no processo de ensino e aprendizagem,

o MD definiu três conceitos-chave: o "conceito de progressão", o "conceito de

refinamento" e o "conceito de aplicação" (Mesquita & Graça, 2011).

66

Para Rink (citada por Mesquita & Graça, 2011) o primeiro conceito diz

respeito à forma como o professor organiza e estrutura o processo de ensino e

aprendizagem, designando e sequenciando os conteúdos prioritários.

No que concerne ao segundo conceito, a mesma autora argumenta que

este aplica-se quando é necessário o aperfeiçoamento dos conteúdos

abordados, exercitando-os e consolidando-os.

Por último, o conceito de aplicação preconiza que devem ser dadas, aos

alunos, "...oportunidades para a utilização [dos conteúdos] em condições

inabituais ou de exigência de rendimento..." (Rink, citada por Mesquita &

Graça, 2011, p. 52).

Relativamente ao MED, este foi criado por Daryl Siedentop (1994) e

segundo Mesquita e Graça (2011, p. 59):

"...define-se como uma forma de educação lúdica [que] critica as abordagens

descontextualizadas, procurando estabelecer um ambiente propiciador de uma

experiência desportiva autêntica, conseguida pela criação de um contexto desportivo

significativo para os alunos, o que pressupõe resolver alguns equívocos e mal-

entendidos na relação da escola com o desporto e a competição"

Siedentop (1994) afirma que o MED procura formar os alunos em três

vertentes distintas:

Competência desportiva;

Literacia desportiva;

Entusiasmo pelo desporto.

Relativamente à primeira dimensão, esta carateriza-se pela capacidade

do aluno em dominar as habilidades necessárias para poder, posteriormente,

participar no jogo (Mesquita & Graça, 2006, 2011; Siedentop, 1994).

A literacia desportiva diz respeito à cultura desportiva dos alunos, isto é,

ao conhecimento que estes detêm acerca das tradições e dos rituais das

diferentes modalidades. Além do mais, neste aspeto está também

comtemplada a competência do aluno em distinguir a boa da má prática.

Por último, o entusiasmo pelo desporto refere-se à forma como o desporto

é capaz de atrair o aluno, estando, deste modo, intimamente ligado à

67

envolvência do aluno na aula, com o objetivo último de fomentar o gosto pela

prática desportiva fora da escola.

Siedentop (1994) distingue seis caraterísticas principais no que ao MED

diz respeito, como ilustra a figura 2, na tentativa de lhe impingir

contextualização desportiva.

Relativamente à época desportiva, esta toma o lugar das habituais

unidades didáticas de curta duração, devendo as mesmas possuir pelo menos

vinte aulas (Mesquita & Graça, 2006). Tal facto é importante, na medida em

que, segundo Siedentop (1994), poucas aulas não são suficientes para os

alunos aprimorar as aprendizagens.

No que concerne à filiação, importa referir que no MED a turma é dividida

por equipas, de modo a que haja o sentido de pertença a um grupo. Nesse

sentido, há um processo de construção conjunta de diversos elementos que

personalizam a equipa, pelo que cada uma delas deve possuir um nome

próprio, logótipo, cor, mascote, grito, entre outros (Mesquita & Graça, 2011).

Para tal, os elementos constituintes de cada equipa devem usar a sua

imaginação e criatividade. Dentro de cada uma das equipas, são vários os

papéis que os alunos podem desempenhar, nomeadamente, a qualidade de

jogador, treinador, preparador físico, entre outros. De notar que, aliás, cada

aluno pode exercer, dentro de uma equipa, mais do que um papel, ou seja, nas

Figura 2 - Caraterísticas do MED (adaptado de Siedentop, 1994)

68

aulas os alunos podem redefinir os papéis de forma a que todos passem por

experiências diferentes (Mesquita & Graça, 2011). Por último, relativamente à

constituição das equipas, importa aferir que é importante que o professor tenha

cuidado de procurar equilibrar as equipas do ponto de vista motor (Mesquita &

Graça, 2011). Tal facto ganha, ainda, maior relevo, devido à existência de

competição formal no MED (outra das suas caraterísticas). Aliás, a importância

de constituir equipas equilibradas não se prende apenas com a necessidade de

haver equilíbrio no decorrer da época desportiva, mas também, com fatores de

exclusão social, para que estes sejam diminutos (Mesquita e Graça, 2006,

2011).

Em síntese, a constituição das equipas demonstra-se um fator crucial

para o bom funcionamento do MED, na medida em que através de uma boa

constituição de equipas é possível "...harmonizar a competição com a inclusão,

(...) equilibrar a oportunidade de participação e (...) evitar que a participação se

reduza ao desempenho de papéis menores por parte dos alunos menos

dotados" (Mesquita & Graça, 2011, p. 62).

Como forma de valorizar a competição, são elaborados no decorrer do

ano letivo registos estatísticos. Com a elaboração destes é possível, no final,

averiguar o que aconteceu no desenrolar da época desportiva, conferindo

importância às tarefas de índole competitivo. Por fim, no que concerne às

caraterísticas do MED, importa referir que no final da época desportiva é

reservada uma sessão para o evento culminante, sendo este marcado pela

festividade (Mesquita & Graça, 2006, 2011; Siedentop, 1994). O evento

culminante é o finalizar de uma época desportiva, onde as equipas são

premiadas pelo seu desempenho no decorrer de toda a época.

Como destacam Mesquita e Graça (2011), a aplicação do MED necessita

que o professor demonstre competência relativamente à gestão e organização

da sala de aula, devido ao facto de ser conferida, aos alunos, uma elevada

autonomia na realização das atividades de aprendizagem.

Neste âmbito, é crucial uma boa preparação do MED, por parte do

professor, pois caso contrário corre-se o risco de "...transformar a aula num

recreio supervisionado bem organizado" (Mesquita & Graça, 2011, p. 63).

Debrucemo-nos agora sobre as questões da prática pedagógica do EE.

Após uma análise aprofundada aos modelos instrucionais supracitados, o EE

69

procurou selecionar as características consideradas mais relevantes de cada

um deles e, obviamente, que se adequassem às características do contexto,

para dessa forma, construir o seu próprio modelo de ensino.

Durante o decurso do EP, o EE afirma ter atribuído relevo à promoção do

desenvolvimento da autonomia e iniciativa do aluno, procurando envolvê-lo nas

suas próprias aprendizagens, situando-se numa perspetiva construtivista. Esta

valorização da aprendizagem ativa, defendida pelo construtivismo, pôde

evidenciar-se, em particular, na modalidade de Voleibol em que o EE procurou

colocar em prática o MED, devido ao facto de este, tal como já foi referido,

"...filiar-se nas ideias construtivistas" (Mesquita & Graça, 2011, p. 47), aspeto

que o EE sempre privilegiou.

Foi privilegiado este modelo na abordagem à modalidade do Voleibol,

devido ao facto de ter coincidido com a modalidade planificada para o terceiro

período, já que o EE optou por desenvolver o MED quando se sentisse mais à

vontade na lecionação das aulas.

Na primeira aula da modalidade explicou-se, então, aos alunos em que

consistia o MED e as principais linhas de organização deste modelo de

instrução. Na mesma aula, o EE levou consigo a constituição das equipas,

eleitas tendo por base o conhecimento que foi adquirindo dos alunos, quer ao

nível motor, quer ao nível da relação com os outros.

Após a primeira aula, onde foram dadas orientações gerais relativas ao

MED, o EE solicitou aos alunos que pensassem e selecionassem o capitão de

equipa, o grito de equipa, a mascote e a cor, para na aula seguinte serem

apresentados. Foi interessante verificar que apenas uma equipa não cumpriu

com todos os postulados, esquecendo-se de levar consigo a mascote para a

aula.

Com o decorrer das aulas começou a notar-se a constituição de um

espirito de equipa, isto é, começaram-se a verificar fenómenos relacionais e

sentimentos de pertença a um grupo, indo ao encontro de um dos objetivos

traçados pelo EE, como se pode comprovar no seguinte excerto da reflexão 57:

"O meu principal objetivo é fazer com que os alunos, com o tempo, constituam um

espírito de equipa e compreendam que um grupo deve funcionar como “…andaime…”

(Serrão & Barros, 2010, p. 242), na medida em que os seus elementos devem apoiar-se

mutuamente e a resolução de problemas e tarefas deve ser feita em colaboração".

70

Ainda no que à modalidade de Voleibol diz respeito, importa salientar o

nível elevado de autonomia que foi conferido aos alunos no desenvolvimento

das atividades. A título de exemplo, aquando da competição, os alunos eram

responsáveis por desempenhar diversas tarefas, nomeadamente arbitrar os

jogos, proceder à contagem dos pontos (juiz de mesa), registar os resultados

dos jogos nos quadros competitivos, entre outras.

Para terminar, importa fazer referência à concretização do evento

culminante, que foi realizado em articulação com várias turmas. Esta opção

sustentou-se na convicção de que seria uma mais valia para os alunos

poderem trocar experiências com outros colegas, além disso juntar diferentes

turmas acabaria por engrandecer o caráter festivo do evento e,

consequentemente, despertar maior entusiasmo nos alunos. Assim, o evento

culminante foi realizado em uníssono, contando com a participação das seis

turmas dos seis professores estagiários que se encontravam a realizar a sua

prática pedagógica na Escola Básica Dr. Costa Matos.

Em síntese, pode concluir-se que o MED constituiu-se um marco de

referência para o EE, na medida em que permitiu-lhe, tendo sempre presentes

os objetivos previamente traçados e as suas intenções educativas,

proporcionar aos alunos experiências/aprendizagens mais atrativas,

motivadoras e, consequentemente, mais enriquecedoras. Assim se verificou,

também, a importância da motivação no processo de aprendizagem dos

alunos, aspeto que passamos a aprofundar no ponto que se segue.

4.1.3.4. Motivação: o desejo de aprender

No mundo da educação, a forma como o professor ensina torna-se tão

importante como aquilo que ele ensina, que segundo Barth (1996, p. 26)

corresponde ao “…modo como [o professor] ajuda o aluno a «saber

conhecer»”. Saber este que, influencia, em grande medida, a qualidade dos

saberes adquiridos por parte do mesmo (Barth, 1996; Coll, et al., 2001).

Quando se fala em fatores que exercem influência sobre a aprendizagem,

podem ser mencionados inúmeros deles. Todavia, na construção de contextos

de aprendizagem produtivos as variáveis de natureza motivacional

desempenham um papel decisivo (Arends, 1995; Barros & Pessanha, 2010). É

71

por esse motivo que a motivação, tal como refere Jesus (2003), se apresenta

como uma das maiores preocupações dos profissionais de educação, no que

ao processo de ensino e aprendizagem diz respeito, pelo que a desmotivação

pode vir a traduzir-se no insucesso escolar.

É muito frequente os professores referirem que a motivação dos alunos

se constitui como um dos problemas centrais com que se deparam, queixando-

se que é cada vez mais frequente confrontarem-se com a falta de interesse por

parte dos alunos em relação às tarefas de aprendizagem (Jesus, 2003;

Morgado, 1999; Barros & Pessanha, 2010). Certo é que, essa desmotivação

não emana apenas dos alunos, o que se constata por vezes é que os

professores também não investem o devido esforço na tentativa de arranjar

propostas de intervenção para ‘alimentar’ o interesse dos alunos para

aprender.

Neste sentido e reconhecendo, portanto, que a motivação depende, em

grande parte, da ação do professor, do seu estilo de ensino, é-lhe exigido um

esforço acrescido para estimular e despertar o desejo de aprender no aluno,

diversificando as estratégias de ensino e procurando ser dinâmico, inovador e

interativo nas suas aulas (Estanqueiro, 2010).

Torna-se então evidente a importância de o professor procurar, nos

alunos, indicadores que lhe permitam identificar o que os leva à falta de

motivação, ou antes, quais as condições que levam os alunos a investir mais

nas tarefas de aprendizagem, para dessa forma preparar e realizar situações

de aprendizagem que integrem os fatores motivacionais dos seus alunos

(Morgado, 1999).

Cruz (1996), Lafortune e Saint-Pierre (1996), Lieury e Fenouillet (1997),

Jesus (2003), Morgado (1999) e Barros e Pessanha (2010), chamam à atenção

para o facto de existirem duas fontes importantes de motivação: a motivação

extrínseca e a motivação intrínseca.

Segundo os autores, a motivação é extrínseca quando o indivíduo recebe

uma recompensa/reforço positivo por ter feito algo, ou seja, quando a

motivação provém de fatores externos. Poderão existir outros fatores que

intervêm sobre a motivação extrínseca dos alunos, concretamente o sentido

humorístico do professor ou mesmo a pressão por parte dos pais (Barros &

Pessanha, 2010). Por seu turno, o sujeito é motivado intrinsecamente quando

72

realiza determinada atividade não pelo desejo de ser recompensado, dado que

“…não há recompensa aparente para além da actividade em si mesma”, mas

pelo mero prazer que a mesma lhe proporciona (Jesus, 2003, p. 33). De acordo

com Barros & Pessanha (2010), um dos principais fatores pelos quais os

indivíduos são motivados intrinsecamente prendem-se com a curiosidade e a

inovação.

Como faz notar Lafortune & Saint-Pierre (1996), embora ambas as fontes

de motivação sejam importantes, aquilo que se pretende é que o professor aja,

em primeira instância, no sentido de fomentar a motivação intrínseca, já que,

ao contrário da motivação extrínseca que provoca resultados mais

instantâneos, esta produz resultados de aprendizagem mais significativos e,

consequentemente, mais duradouros. Nesta perspetiva, somente após o aluno

se sentir intrinsecamente motivado o professor deve recorrer à motivação

extrínseca, fazendo uso por exemplo do elogio/reforço positivo (Lafortune &

Saint-Pierre, 1996). Assim, se pode dizer e subscrevendo as palavras de

Lafortune e Saint-Pierre (1996, p. 35) que “estes dois tipos de motivação

completam-se…”.

Estudos realizados no âmbito da motivação revelam que o prazer/a

motivação que o aluno sente numa atividade está intimamente relacionada com

“…os tipos de processos e estruturas que os professores criam (…) [nas suas]

salas de aula” (Arends, 1995, p. 129).

Uma vez mais se salienta a ideia de que ao profissional de educação

cabe a tarefa de desenvolver estratégias motivacionais, que estimulem os

aprendizes a persistirem nas tarefas de aprendizagem e, consequentemente,

desenvolverem aptidões e atitudes que tornem as suas aprendizagens mais

eficazes (Ribeiro, 1997).

Tendo em conta os pressupostos anteriormente expostos, o EE no

decurso do EP, procurou desenvolver um clima motivacional nas suas aulas,

criando, assim, ambientes de aprendizagem produtivos que, segundo Arends

(1995, p. 121), se constituem como “…locais onde os alunos tenham atitudes

positivas para consigo e [para] o seu grupo de turma e onde demonstrem um

elevado nível de motivação para o sucesso e envolvimento nas tarefas

escolares”. Neste sentido, foram vários os fatores associados à motivação

73

pelos quais o EE teve em consideração no desenvolvimento do seu trabalho

diário com os alunos.

Uma das principais preocupações do EE prendeu-se com a motivação

dos alunos para o sucesso. Com efeito, no decorrer da sua intervenção

pedagógica, o mesmo procurou valorizar o esforço evidenciado pelos alunos,

além de os incentivar e fazer acreditar que poderiam obter sucesso numa

determinada tarefa caso despendessem de esforço e dedicação.

Um dos aspetos com os quais o EE se deparou foi o facto de ser

necessário levar pensado de antemão para a aula atividades/exercícios com

um maior grau de complexidade, para além dos constantes no plano de aula.

Isto porque se, por um lado, existiam alunos na turma com dificuldades de

aprendizagem em determinado conteúdo, por outro lado alguns deles atingiam

os objetivos propostos com uma certa facilidade, exigindo ao EE um esforço

para ajustar o nível de dificuldade das atividades para os diferentes alunos. A

estratégia que o EE adotou, por diversas vezes, foi colocar os alunos mais

capacitados juntos daqueles que evidenciavam mais dificuldades, para que os

mesmos lhes prestassem apoio. Desta forma, quer os alunos que revelavam

dificuldades quer os mais capacitados sentiam-se motivados. Os primeiros pelo

apoio prestado pelos pares, o que resultava numa diminuição da ansiedade e

num aumento de confiança e os segundos, na medida em que ao lhes ser

atribuídas tarefas importantes como esta, demonstravam um maior

envolvimento e satisfação na aula fruto da responsabilidade concedida. De

notar que estes últimos adotavam um espírito cooperativo, fazendo um esforço

acrescido para conduzir os colegas ao sucesso.

Há ainda a salientar o facto de não ser apenas aos alunos mais

capacitados que o EE atribuía responsabilidade, pelo que esta era confiada aos

alunos que albergassem as características que o estagiário considerasse

pertinentes para o momento, isto é, tendo em consideração o objetivo

pretendido nas diferentes atividades. Na reflexão n.º 10 tais palavras podem

ser comprovadas:

"Primeiramente escolhi um líder para cada grupo. Num grupo decidi por um aluno

bastante responsável na medida em que no mesmo se encontravam dois alunos

bastante distraídos, noutro grupo a escolha recaiu num aluno bastante competente uma

vez que considerei que este serviria de apoio a determinados alunos deste grupo. Por

74

fim, para o terceiro grupo escolhi o aluno mais controverso da turma, depositando nele

responsabilidades, contudo, os restantes elementos do grupo eram todos eles

cumpridores, para que o aluno considerado controverso obtivesse sucesso".

Vale salientar que a estratégia de definir o aluno controverso como

moderador/líder do grupo, como é possível constatar no exemplo supracitado,

mostrou ser uma escolha acertada por parte do EE, já que o seu objetivo com

esta estratégia prendia-se com o controlo/gestão do comportamento do aluno

em questão. Tal facto pôde ser comprovado pela atitude/comportamento que

esse aluno adotava quando tinha de desempenhar determinadas funções que

lhe exigiam responsabilidade. Nestas o mesmo procurava não desiludir o EE

relativamente à confiança que este depositava nele, tentando mostrar que tinha

capacidades para exercer tal cargo.

Retomando as considerações acerca do sucesso escolar, um dos aspetos

que devem ser encarados como promotores do sucesso e pelo qual o EE

dedicou especial atenção na sua prática pedagógica prendeu-se com o erro. O

erro, embora seja algo natural no processo de ensino e aprendizagem é

vulgarmente sentido, pelos alunos, como uma ameaça (Morgado, 1999). Neste

sentido, cabe ao professor o papel de demonstrar aos alunos que o erro tem

um caráter formativo, podendo mesmo ser útil no processo de ensino e

aprendizagem.

Para o EE o mais importante não era confrontar constantemente os seus

alunos com os seus erros, mas sim que estes os conseguissem identificar, com

vista a criar condições para os ultrapassar, visto estar consciente de que os

erros não poderão ser ultrapassados pelos que os indicam mas pelos que os

cometem. Além do mais, uma das principais preocupações do EE neste âmbito

foi desenvolver nos seus alunos a capacidade de autoquestionamento/reflexão,

pois reconhece que quando o aluno é capaz de reconhecer o seu erro e corrigi-

lo, sucede a aprendizagem (Santos, 2002).

“O aluno poderá aprender a colocar-se autonomamente boas questões se o professor

lhas colocar de forma continuada. Questões como: "O que fizeste?", "Porque tomaste

esta opção?", "Porque pensaste assim?", "Donde te surgiu esta ideia?", "Em que outras

situações é que este processo se poderia aplicar?...” (Santos, 2002, p. 81)”.

75

Assim, procurou-se, constantemente, criar situações para que os seus

alunos compreendessem onde, como e porquê que erraram, de modo a

contribuir para, após algum tempo, os mesmos se tornassem autonomamente

capazes de se questionar e, consequentemente, superar os seus próprios

erros/ dificuldades.

Para além disso, o EE tentou transmitir, nas suas aulas, que o erro não é

sinal de fracasso, mas antes um fator essencial para se chegar ao sucesso,

incentivando os alunos a sentirem-se à vontade para discutirem com os

colegas e professor acerca dos seus erros, para juntos encontrarem possíveis

soluções. Mais ainda, sempre que um aluno manifestava vontade para superar

os seus erros e procurava o apoio, não só do EE como dos seus colegas,

discutindo sobre formas para solucionar determinada dificuldade, o EE

valorizava o aluno pelo seu ato. Deste modo, ao invés de se sentirem

envergonhados pelos seus erros, os alunos passaram a contar com o EE e os

seus colegas para arranjarem estratégias mais eficazes para resolver as suas

dificuldades. Denotou-se por parte dos alunos um interesse cada vez maior em

aprender a superar os seus erros, discutir acerca deles e analisá-los para

alcançarem o sucesso. Para o EE o facto de os seus alunos não tentarem

isolar os seus erros também lhe permitiu organizar e preparar melhor o

processo de ensino e aprendizagem, na tentativa de os ajudar a transformar o

erro num processo positivo na aprendizagem.

Mais uma forma possível que o EE encontrou para motivar os alunos foi

relacionar as atividades e os conteúdos, sempre que possível, com os

interesses evidenciados pelos mesmos, dado reconhecer que “…o nível de

interesse que os alunos têm por uma tarefa de aprendizagem (…) está

certamente associado com a sua motivação para o sucesso” (Arends, 1995, p.

126). Posto isto, o EE procurou escutar as opções dos alunos, para com isso

fomentar a motivação dos mesmos, como se pode confirmar através da

afirmação: "...optei pela realização de um exercício que já tinha sido utilizado,

primeiro porque os alunos gostaram..." (Reflexão 30).

A título de exemplo salienta-se, ainda, a oportunidade oferecida aos

alunos, relativamente à escolha da modalidade alternativa do 2.º período. Após

escutar os alunos, o EE verificou que a escolha destes recaiu no Kinball. Além

de ter escutado os alunos, foi também uma boa oportunidade para o EE se

76

familiarizar com a modalidade visto que no seu percurso académico nunca teve

a possibilidade de a experienciar.

Importa, contudo, referir que nem sempre era possível satisfazer os

interesses de todos os alunos, porém este aspeto não era de todo negativo, na

medida em que quando os alunos são expostos somente aos conteúdos e tipos

de atividades que lhes suscitem interesse não desenvolvem novos interesses

(Arends, 1995).

Um outro interesse evidenciado pelos alunos, de um modo geral, foi a

presença da competição nas tarefas de aprendizagem. Neste sentido, houve

um esforço por planear atividades que envolvessem competição, contudo com

o cuidado de procurar que esta fosse saudável e que o espírito cooperativo

fosse sempre valorizado, em detrimento do espírito competitivo. Assim, com o

decorrer do EP e com a experiência que tal percurso foi proporcionando ao EE,

foi possível constatar que, de acordo com Estanqueiro (2010), a competição

funciona, de facto, como um estímulo. Este aspeto será posteriormente

aprofundado.

Outro fator motivacional que merece, igualmente, a nossa atenção

prende-se com os reforços positivos, feedbacks motivacionais ou também

denominados por Estanqueiro (2010), de elogios sinceros.

No decurso da sua intervenção, o EE constatou que, efetivamente, os

reforços positivos, feedbacks motivacionais ou elogios sinceros são cruciais no

processo de ensino e aprendizagem, na medida em que os alunos manifestam

um aumento da autoestima e motivação, quando lhes é fornecido um elogio

depois de realizar uma determinada tarefa, como foi já abordado na secção

dedicada à instrução.

Para terminar, importa salvaguardar que “não há uma boa maneira de

ensinar…” (Lafortune & Pierre, 1996, p. 43). No entanto, o profissional de

educação deve ser capaz de estimular nos seus alunos o desenvolvimento de

atitudes positivas no que respeita à escola, alimentando neles o desejo de

querer aprender. Neste âmbito, de facto os fatores motivacionais

desempenham um papel decisivo e, portanto, devem ser encarados pelos

professores como uma preocupação, dado que a motivação é facilitadora do

sucesso que, por sua vez, torna o indivíduo mais motivado. A motivação “é um

círculo virtuoso” (Estanqueiro, 2010, p. 11)

77

Em síntese, quando os alunos se encontram motivados para aprender,

isto é, quando sentem desejo de aprender, estes aprendem com mais

facilidade. Aliás, é importante que o professor esteja consciente de que

qualquer indivíduo só aprende quando quer aprender, pois “ensinar a quem

não quer aprender é como lançar sementes em terreno pedregoso. Não dá

frutos” (Estanqueiro, 2010, p. 11).

Como revela o título do ponto vigente a motivação patenteia nos alunos o

desejo de aprender, assim, para o profissional de educação torna-se mais

simples a tarefa de ensinar. Posto isto, cabe ao professor procurar novos

desafios na procura de estimular o processo de ensino e aprendizagem, tanto

para ele como para os seus alunos. O próximo ponto do relatório vai ao

encontro disso mesmo, um novo patamar a atingir por parte do docente que se

espelhará nos seus alunos. Trata-se, portanto, da aprendizagem por

descoberta - construtivismo.

4.1.3.5. A conceção construtivista da aprendizagem

No processo de ensino e aprendizagem, parte do sucesso dos alunos

deve-se à disponibilidade e eficiência com que o professor executa o seu

trabalho, tal como tem vindo a ser aludido ao longo de todo o presente

relatório. Mesquita e Graça (2011) revelam que os professores mais eficazes

são aqueles que partem do pressuposto que os alunos vão e conseguem

aprender, cabendo aos profissionais de educação de tudo fazer para que tal se

suceda.

Todavia, os professores devem estar conscientes das alterações que o

ensino tem vindo a sofrer com o decorrer dos anos. Neste sentido, se a

educação sempre possuiu uma tendência transmissiva, onde o professor se

limitava a debitar a matéria/os conteúdos, ou seja, segundo Cabanas (2002, p.

84), onde o mesmo era encarado como “… o motor, a causa e o director do

processo [educativo]…”, então, nos dias de hoje, torna-se essencial que o

professor repense a sua ação de forma a tornar-se “…apenas o (…)

‘catalisador‘…” desse processo. Dito de outro modo, o professor não é mais um

transmissor, mas antes um facilitador da aprendizagem dos alunos (Monteiro &

Pais, 1996; Siedentop citado por Mesquita & Graça, 2006). Desta forma,

78

transmitir conhecimento deixa de fazer parte da função do profissional de

educação, pelo que, de acordo com Roldão (2003, p. 48) este deverá

empenhar-se em “…fazer os outros aprender…”, proporcionando aos alunos o

desenvolvimento de processos de aprendizagem pela descoberta (Freire, 1996;

Perrenoud, 2000).

Evidentemente, o conhecimento não é descoberto espontaneamente pelo

aluno, no entanto, também não é adquirido através da propagação mecanizada

da matéria. O conhecimento é, sim, resultado de um processo de interação,

onde o aluno ganha voz na construção do seu saber (Jonnaert & Borght, 2000;

Ramsey, 1999).

Torna-se, deste modo, importante que o aluno exerça um papel ativo no

seu processo de ensino e aprendizagem (Mesquita & Graça, 2006). Mais ainda,

Oliveira e Magalhães (2011, p. 47) citam Piaget quando este refere que o

professor "... não deve apenas ensinar, mas sim e antes de tudo, orientar os

educandos no caminho da aprendizagem autónoma". Freire (1996)

complementa esta ideia preconizada por Piaget referindo que para que os

alunos beneficiem eficazmente do ensino, o professor deve envolvê-los no

processo de ensino e aprendizagem e não confundi-los com máquinas

predestinadas ao depósito de informação. A este propósito, o mesmo autor

acrescenta, ainda, que os alunos devem ser desafiados e estimulados para que

se crie neles a curiosidade e o interesse. Para Mequè Edo (2000) e Sanches

(2001) os alunos têm de construir o sentido e o significado do que aprendem,

não podendo demonstrar-se recetores passivos, mas sim interativos.

Tendo presentes os pressupostos teóricos supramencionados, é possível

aferir que, no decurso do EP foram-se manifestando evidências de que o EE se

sustentou nos diversos autores que se situam numa perspetiva construtivista

do processo de ensino e aprendizagem. Isto é, as suas práticas pedagógicas

foram suportadas por autores que defendem uma abordagem pedagógica

centrada no aluno, em que este “…graças à ajuda recebida do professor, pode

revelar-se progressivamente competente e autónomo na resolução de tarefas,

no emprego de conceitos, na prática de determinadas atitudes e em muitas

outras questões” (Coll, et al., 2001, p. 22).

Neste sentido, o EE procurou atribuir maior relevo à aprendizagem ativa,

proporcionando aos alunos um elevado grau de autonomia, no que concerne

79

às suas decisões, à manifestação de opiniões, entre outros, investindo, assim,

no envolvimento ativo dos alunos no seu próprio processo de desenvolvimento.

Sanches (2001, p. 45) utiliza o provérbio chinês “diz-me e eu esquecerei.

Ensina-me e eu lembrar-me-ei. Envolve-me e eu aprenderei” para reforçar a

importância do envolvimento dos alunos no processo educativo como fator de

sucesso, visto que esse envolvimento proporciona-lhes

aprendizagens/vivências significativas e, consequentemente, promove o seu

desenvolvimento. A mesma autora refere mesmo que envolver os alunos no

processo de ensino e aprendizagem é, naturalmente, a dimensão mais

relevante das estratégias de aprendizagem.

Partindo desse pressuposto, o EE procurou, durante o EP, incentivar os

alunos à participação nas atividades respeitando os seus interesses,

necessidades, ritmos e estilos de aprendizagem. Para tal criou oportunidades

de os alunos se envolverem ativamente nas tomadas de decisão, escutando-os

e delegando-lhes responsabilidades.

Os excertos que se seguem, retirados de algumas reflexões das aulas,

ilustram esta ideia:

"...responsabilizei uma rapariga para orientar os alongamentos às restantes..."

(Reflexão 15).

"...chamei 3 rapazes para completar as equipas, dois deles escolhi por terem a

capacidade de organizar a equipa, de ajudar a equipa e de jogar para a equipa..."

(Reflexão 15).

"Dei-lhes autonomia para se organizarem em pares..." (Reflexão 20).

"Como se pode concluir, os alunos tiveram grande autonomia na consecução do

torneio, cabendo-me, apenas, a tarefa de supervisão e controlo do tempo de jogo. Em

síntese, fica na retina o facto de a turma ter cumprido com o que lhe pedido,

demonstrando que no terceiro período, a implementação do modelo de educação

desportiva possa vir a ser um sucesso" (Reflexão 33).

"No entanto, sabendo que um só aluno poderia ser pouco, dentro da estação da

corrida, dividi a turma em três grupos, tendo cada um o seu responsável" (Reflexão

42).

80

"…os alunos já manifestaram o seu agrado por este tipo de organização, e, também

por isso, opto por incidir nas estações como forma de organização do ambiente

educativo" (Reflexão 44).

"Além do mais, foi interessante verificar, ainda, a participação ativa de 2/3 alunos que

no início do ano letivo se mostravam pouco recetivos à participação nas atividades, no

entanto, com a constante motivação que lhes tem sido dada, estes mostram-se agora

alunos com disponibilidade para o que lhes solicito" (Reflexão 47).

Conforme já foi referido e ficou percetível através dos respetivos excertos

que correspondem ao discurso proferido pelo EE, ao longo de todo o EP foram

vários os momentos em que o mesmo criou possibilidades para que os alunos

se envolvessem ativamente nas suas aprendizagens, escutando-os,

dialogando com eles e questionando-os. Assim, enquadrou-se numa das dez

competências para ensinar elencadas por Perrenoud (2000), a capacidade do

professor para envolver os alunos nas suas aprendizagens e no seu trabalho.

No decurso do EP constatou-se que, efetivamente, é fundamental privilegiar a

pedagogia da escuta, dado que através desta é possível trabalhar com os

alunos dimensões que lhes permitam desenvolver a autonomia, a

autoconfiança, a autoestima e a responsabilização. Além disso, ao escutar a

voz dos alunos, permitindo que se envolvam no seu próprio processo de

aprendizagem, o profissional de educação proporcionar-lhes-á condições para

que desenvolvam o seu pensamento crítico, construtivo e reflexivo (deixá-los

pensar autonomamente), a sua iniciativa e, além do mais, é notável que este

envolvimento fomenta neles a vontade de aprender mais. Aliás, segundo Coll,

et al. (2001, p. 51), quando o professor “…dá [aos alunos] a oportunidade de se

implicarem activamente [numa tarefa] (…), estão criadas as condições para

que essa tarefa lhes interesse”, motivando-os para a aprendizagem.

Atualmente, "...é inquestionável a influência das ideias construtivistas

sobre o papel do aluno no ensino e aprendizagem" (Mesquita & Graça, 2006, p.

270). Neste âmbito, para Mesquita e Graça (2006), os modelos de ensino

vigentes em EF procuram integrar as perspetivas construtivistas da

aprendizagem, colocando o aluno na posição central no que concerne ao

processo de ensino e aprendizagem e o professor a assumir o papel de

orientador, que ajuda e ensina o aluno a chegar onde ele não conseguiria

chegar sozinho (Coll, et al., 2001).

81

Deste modo, ao profissional de educação cabe descentralizar-se de si

próprio para colocar os holofotes nos alunos. Escusado será dizer que tudo isto

não significa que o professor deixe de delinear a prática pedagógica, pois é a

ele que compete a tarefa de preparar e monitorizar a turma para as diversas

atividades (Mesquita & Graça, 2006). Aliás, de acordo com o Decreto-Lei n.º

240/2012, de 30 de agosto, que aprova o perfil geral de desempenho

profissional do educador de infância e do professor dos ensinos básico e

secundário (anexo, capítulo III, ponto 3, alínea c), é o profissional de educação

que “…organiza o ensino…”. Contudo, o papel de mediador da aprendizagem

não deve ser exclusivamente desempenhado pelo professor, os próprios

alunos podem e devem executar essa função (Serrão & Barros, 2010), ou seja,

também eles devem ter a liberdade de expor ao professor os seus interesses e

necessidades e, deste modo, resultar um acordo/negociação “…que satisfaça

ambas as partes” (Valadares & Graça, 1998, p. 21).

Centremo-nos agora, apenas, na intervenção pedagógica do EE. No

seguimento das ideias anteriormente expostas, é possível reconhecer que o

EE, no âmbito do EP, privilegiou a aprendizagem ativa que defende que o

educando tem um papel ativo na construção do seu próprio conhecimento,

contudo, “…o sujeito que aprende não é o único a intervir [na construção do

conhecimento]; os ‘outros‘ (…) são peças imprescindíveis para (…) [essa]

construção…" (Coll, et al., 2001, p. 18). Deste modo, fomentou, também, o

desenvolvimento de relações de cooperação e interação entre os alunos, pois é

na interação com os outros que os alunos constroem e reestruturam o

conhecimento (Valadares & Graça, 1998).

Implicar os alunos no processo educativo foi uma das preocupações do

EE ao longo de todo o ano letivo, todavia, destaca-se um determinado período

em que a envolvência dos alunos atingiu o seu auge. Período esse que,

coincidiu com a lecionação da modalidade de Voleibol. A única explicação

inteligível, que permite compreender o facto de ter sido nesta modalidade onde

se constatou uma maior envolvência dos alunos na aprendizagem, prende-se

com o facto de o modelo instrucional utilizado – MED –, ter sido diferente do

modelo empregado no restante ano letivo, na medida em que, efetivamente, o

MED é, de todos, aquele onde é, segundo Mesquita e Graça (2006, 2011),

82

conferida maior autonomia aos alunos, demonstrando o seu grande teor

construtivista.

Em síntese, é fulcral que os profissionais de educação façam um esforço

por investir no envolvimento dos alunos no processo de ensino e

aprendizagem. É realmente imprescindível que os docentes se

consciencializem de que o ensino não consiste em transmitir saberes

acumulados e que os alunos precisam de ser desafiados a fazer/experimentar

para aprender e não serem encarados como meros espectadores que veem e

ouvem e não interagem (Sanches, 2001). Quando assim não é, “…a

aprendizagem (…) converte-se num espelho que devolve ao aluno uma

imagem desvalorizada de si mesmo…” (Coll, et al., 2001, p. 51), dado que não

sente ter qualquer influência e importância na construção do seu

conhecimento, isto é, não se sente verdadeiramente envolvido na

aprendizagem.

Quanto ao EP, e tal como já foi mencionado, as características do

trabalho desenvolvido pelo EE, concretamente os modelos de ensino utilizados

(MED e MID), permite-nos aferir que o EE se baseou na perspetiva

construtivista da aprendizagem e, "...embora [os modelos de ensino detenham]

enfoques distintos (...) [ambos] integram as ideias da perspetiva construtivista

(...) estabelec[endo] relações entre o aluno, o meio e as tarefas" (Mesquita &

Graça, 2006, p. 271).

4.1.3.6. Diferenciação pedagógica: uma forma de atender à

diversidade

O êxito e a eficácia dos processos de ensino e aprendizagem estão

relacionados com o modo como o profissional de educação planeia e organiza

o ensino. Isto é, com a forma como o professor adequa os seus estilos de

ensino aos ritmos e estilos de aprendizagem de cada aluno, visto que “…os

alunos não aprendem todos da mesma forma…” (Resende & Soares, 2002, p.

23).

Posto isto, no sentido de seguir uma pedagogia diferenciada, o professor

deverá procurar perceber os ritmos e estilos de aprendizagem dos alunos para

83

que possa agir em conformidade com as suas características e necessidades

individuais (Cadima, 1997; Sanches, 2001).

Ter em consideração a unicidade/singularidade de cada aluno não se

trata de adotar simplesmente um modo de agir diferente, mas sim de refletir

acerca das estratégias pedagógicas que melhor se adequam aos alunos. Esta

perspetiva exige uma consciencialização por parte do professor para o seu

papel, dadas as repercussões que a sua própria atuação exerce na

aprendizagem dos alunos. Neste sentido, a adoção de uma pedagogia

diferenciada pressupõe que o professor se sustente no princípio da

intencionalidade educativa, de modo a desenvolver uma diversidade de

atividades e estratégias que levará cada aluno a confrontar-se, habitualmente,

com situações de aprendizagem enriquecedoras (Cadima, 1997).

Diferenciar não significa adotar um ensino individualizado, mas antes e de

acordo com Cadima (1997), oferecer a todos os alunos igualdade de

oportunidades de vivenciarem situações promotoras do desenvolvimento de

aprendizagens e experimentar sucessos.

Neste âmbito, na sua intervenção pedagógica o EE procurou adotar

muitas e diversificadas estratégias, de modo a colocar cada aluno perante a

situação mais favorável de aprendizagem. Deste modo, e tomando como ponto

de partida para a sua ação educativa o conhecimento que possuía de cada

aluno, concretamente das suas necessidades e dificuldades, tentou arranjar

forma os alunos conseguirem atingir os objetivos e consequente sucesso.

De facto, os diferentes ritmos dos alunos exigiam a adoção de diferentes

estratégias, embora direcionadas para os mesmos objetivos. Isto é, o

ajustamento de determinados exercícios para garantir a igualdade de

oportunidades de todos os alunos obterem sucesso nas tarefas de

aprendizagem.

A título de exemplo pode citar-se uma situação que ocorreu na Ginástica,

especificamente na abordagem aos rolamentos, em que os alunos da turma

apresentavam diferentes níveis de dificuldade e, como tal, o EE procurou

organizar e gerir o espaço de forma a permitir a realização de diferentes tarefas

em simultâneo. Assim, para os alunos que evidenciavam dificuldades na

realização dos rolamentos, o EE preparou um plano inclinado (formado por um

reuther com um colchão colocado sobre ele) e colocou-os a realizar os

84

rolamentos sobre esse plano. Já os que não apresentavam dificuldades

realizavam, num espaço distinto, os rolamentos sobre um plano horizontal.

Deste modo, a cada aluno era-lhe atribuído um nível de exigência de acordo

com as suas capacidades.

A este respeito é possível mencionar, ainda, as aulas destinadas à

modalidade do Voleibol, em que conforme o conhecimento que o EE possuía

acerca das capacidades/habilidades já alcançadas pelos alunos atribuía-lhes

diferentes exigências. Por exemplo, aos alunos que o EE considerasse ter

potencialidade para iniciar a partida com o serviço, exigia-lhes que colocassem

a bola em jogo servindo, aos que ainda não possuíam competência para iniciar

o jogo com o serviço era-lhes permitido fazê-lo através do passe, até que essa

habilidade fosse adquirida. Do mesmo modo, na execução do passe, o EE

autorizava os alunos que apresentavam algumas dificuldades a realizarem um

autopasse antes de passar corretamente a bola para o campo adversário.

Importa, contudo, salientar que noutros momentos da aula era oferecido

um apoio mais individualizado aos respetivos alunos, com vista a alcançarem

tais competências.

Esta perspetiva reforça o papel do professor como orientador das

aprendizagens dos alunos, daí a preocupação central do EE em arranjar a

melhor forma de ajudar os alunos a aprender e não apenas de depositar os

conteúdos programáticos.

Da análise aos pressupostos que fundamentam o processo de

diferenciação pedagógica, podemos inferir que esta proporciona a “…igualdade

de oportunidades educativas aos alunos…” (Resende & Soares, 2002, p. 23).

Neste sentido, depreende-se que uma das funções do professor prende-

se, acima de tudo, com o respeito pela singularidade de cada aluno, pelo que

deverá desenvolver práticas que atendam às particularidades, necessidades e

interesses demonstrados por cada aluno, dado que, “…cada indivíduo possui

pontos fortes, interesses, necessidades e estilos de aprendizagem

diferentes…” (Resende & Soares, 2002, p. 20).

Efetivamente, não há dúvidas que não é fácil operacionalizar uma

abordagem pedagógica diferenciada, aliás foi uma das maiores dificuldades

com que o EE se deparou na prática pedagógica, pois os alunos possuem

todos particularidades e aptidões diferentes, tornando-se por vezes difícil gerir

85

a heterogeneidade existente entre os alunos. Contudo, aquilo que tem de ser

feito, por parte do profissional de educação, prende-se com proporcionar, de

forma consciente e fundamentada, vivências e experimentações que, da

melhor forma possível, ofereçam respostas significativas às características e

necessidades específicas de cada aluno.

Além disso, e como pôde constatar-se na prática pedagógica, de modo a

conseguir administrar a diversidade que existe na turma torna-se necessário,

muitas vezes, pensar em formas de gerir o tempo de atenção que é oferecido a

cada aluno ou grupo de alunos. Em muitas circunstâncias, o EE sentiu que

fazia todo o sentido fazer um acompanhamento mais individualizado a alguns

alunos ou grupo de alunos, para que estes fossem capazes de compreender e

acompanhar os conteúdos e, daí, a importância de utilizarem-se ritmos,

estratégias e meios diferentes, de acordo com a capacidade, estilo e ritmo de

aprendizagem dos alunos.

Com o tempo, o EE tornou-se progressivamente mais consciente e

intencional na criação de diferentes oportunidades de aprendizagem e,

efetivamente, constatou que os alunos aprendem melhor quando são tidas em

conta as suas individualidades.

Em suma, pode dizer-se que as necessidades, interesses e

particularidades de cada aluno devem constituir-se, sem dúvida, um ponto de

partida para os profissionais de educação intervirem de forma diferenciada e

contextualizada. Os docentes devem adequar as suas propostas de ensino,

tomando opções sustentadas na diferenciação pedagógica e não fazer desta

designação “…algo de que todos falam (…) [mas que] poucos praticam”

(Morgado, 1999, p. 83).

Sobre a pedagogia diferenciada não serão adiantados mais detalhes

neste ponto, contudo poder-se-ão ler pormenores mais específicos acerca

deste assunto no capítulo seis deste relatório.

4.1.3.7. Em síntese...

No decorrer do EP, existiram vários momentos marcantes e

inesquecíveis, que o EE jamais esquecerá. Talvez tenham sido todos eles…

86

Numa fase inicial, o EE sentiu uma amálgama de emoções, a ansiedade e

o nervosismo miudinho de procurar a aceitação dos seus pares, de não falhar

no momento da lecionação, entre outros, mas também a felicidade de poder

finalmente exercer a tão desejosa profissão, a de ser professor.

De entre todos os momentos destacam-se alguns, que serão explanados

nas linhas posteriores.

18 de Setembro de 2012

Corria o dia 18 de Setembro de 2012 quando o EE foi confrontado pela

primeira vez com a sua turma. Foi um momento especial, um momento que

jamais será esquecido, a concretização de um sonho, o de lecionar. A aula era

de 45 minutos, foi teórica, sendo aproveitada para informar os alunos das

regras fundamentais para o bom funcionamento da aula.

Nesta mesma aula, o EE sentiu um enorme bem-estar quando os alunos,

para retirar alguma dúvida, se dirigiam a ele com a palavra professor, algo novo

mas prazeroso, algo que interiormente lhe dava grande satisfação.

Ainda neste mesmo dia, outros pequenos aspetos que começaram a criar

no EE a sensação de que se estava a tornar professor foi o de pegar no livro

de ponto, escrever o sumário, anotar as faltas e assinar, algo que até então era

visto pelo EE como tarefa de professor, professor esse que afinal de contas ele

também já o começava a ser.

1ª aula prática

No dia 20 de Setembro de 2012 foi a primeira aula prática dada pelo EE.

Esta foi composta por 90 minutos e foi utilizada para a realização da avaliação

inicial dos JDC. O impacto de ter à sua frente cerca de vinte alunos foi

extremamente agradável, estes viam-no como professor e mantinham o

respeito, tornando-se, assim, tudo muito mais fácil. Além disso, o EE procurou,

desde logo, criar uma boa relação pedagógica com os alunos de forma a

facilitar o processo de ensino e aprendizagem, isto porque "para exercer

influência sobre o educando, o acto educativo precisa de encontrar uma

adesão, uma aceitação..." (Postic, 2007, p. 26).

87

1º momento da avaliação

O momento de avaliação também merece especial destaque. De todos

salienta-se o primeiro, por ter sido a primeira vez que ao mesmo foi-lhe

conferida a responsabilização de avaliar e classificar os alunos da turma.

Estando a desempenhar o papel de professor, começou-se a

compreender a dificuldade que é atribuir uma nota aos seus alunos. Em termos

teóricos a dificuldade não é grande, visto que cada parte da avaliação tem a

sua percentagem, é tudo uma questão matemática, contudo, devido aos laços

que se criam, torna-se difícil a atribuição das notas menos boas aos alunos,

especialmente quando com eles existe uma excelente relação.

Evento culminante de voleibol/coreografias de ginástica

No decurso do ano letivo, o evento culminante de voleibol, assim como,

as coreografias de ginástica foram sem dúvida dois dos momentos altos vividos

pelo EE em conjunto com a sua turma.

Relativamente ao evento culminante, já abordado anteriormente, foi

motivante ver o empenho dos alunos no decorrer do mesmo. Mais ainda, foi

gratificante reparar na capacidade de autonomia que os alunos da turma

evidenciaram no decorrer da atividade, percebendo quando jogar e onde jogar

sem ser necessária a preocupação do EE, que se encontrava na mesa de

secretariado a lançar os resultados. À imagem de todo o ano, orgulhou-se do

facto de a sua turma ter cumprido de forma inequívoca com tudo o que lhe foi

solicitado.

No que diz respeito às coreografias de ginástica, foi um dos momentos

mais emocionantes para o EE, isto porque foi emotivo ver os resultados do

trabalho realizado durante a UD de ginástica. Observar o empenho, o

compromisso, a paixão dos alunos nas coreografias foi algo que não se

descreve, sente-se.

A despedida

Para o final ficam reservadas algumas palavras, como é natural, para a

difícil despedida da turma que partilhou com o EE um ano repleto de boas e

únicas experiências.

88

A última aula foi bastante difícil, por todas as questões óbvias, foram

criados laços fortes com os alunos e estavam naquele momento alunos e EE a

verem-se, provavelmente, pela última vez no presente ano letivo. Sabendo

disso, o EE preparou uma apresentação em powerpoint com várias fotos dos

diversos momentos do ano letivo, para mostrar aos seus alunos. Além do mais,

forneceu a cada aluno um cd onde constava a apresentação, para que estes

possam recordar, sempre que desejarem, este ano repleto de êxitos.

No restante tempo de aula, foi permitido aos alunos escolherem o que

queriam praticar, participando, o EE, nas atividades selecionadas pelos

mesmos. A parte final da aula foi, sem dúvida, o momento mais marcante de

um ano, todo ele marcante. Ver os alunos a chorar, foi algo que deixou o EE

sem reação, contudo, apesar da tristeza que invadiu todos aqueles que se

encontravam no pavilhão, foi também reconfortante, pois é sinal que a

passagem do EE pela escola deixou algumas marcas.

Fica, agora, a saudade daqueles que foram os seus primeiros alunos...

4.1.3. Avaliação: um processo de regulação do ensino e da aprendizagem

No decorrer do processo de ensino e aprendizagem, a avaliação coloca-

se como "...um processo regulador do ensino (...) [que] tem por objetivo a

melhoria [deste]..." (DL n.º 139/2012, artigo 23.º, pontos 1 e 2). O mesmo

documento legal destaca, ainda, que através da avaliação é possível averiguar

o estado do ensino (DL n.º 139/2012), na medida em que o processo avaliativo

permite verificar os conhecimentos adquiridos pelos alunos.

Arends (1995), a propósito da avaliação, refere que esta se traduz em

informações recolhidas pelos professores relativamente aos seus alunos.

Peralta (2005, p. 96), na mesma linha de pensamento, realça que a avaliação

"...fornece informações sobre o processo e o produto da aprendizagem...", que

segundo Bento (2003) se completam.

Neste âmbito, Valadares e Graça (1998) entendem a avaliação como um

processo que orienta tanto o professor como o aluno. Neste sentido, possibilita

ao aluno verificar quais as suas maiores dificuldades, ajudando-o a desvendar

os processos que lhe permitam progredir na sua aprendizagem (Valadares &

Graça, 1998). Em relação ao professor, a avaliação permite que este efetue

89

uma análise cuidada sobre o processo de ensino e aprendizagem, comparando

as aprendizagens adquiridas com as planeadas. Desta forma, o professor

conseguirá extrair informações relevantes relativas aos conhecimentos

alcançados pelos alunos, assim como aos conteúdos que, de acordo com

Valadares & Graça (1998), se colocam, para estes, como maior entrave,

possibilitando-lhe ajustar a sua ação à luz dos resultados obtidos através da

avaliação.

A avaliação assume, desta forma, um papel basilar no processo educativo

e, portanto, exige que o professor interprete, reflita e decida acerca do

processo de ensino e aprendizagem, no sentido de agir de forma

fundamentada e, assim, promover a formação integral dos seus alunos

(Abrantes, 2002).

De acordo com o ponto 1 do 24.º artigo do Decreto-Lei n.º 139/2012 de 5

de julho, existem três modalidades de avaliação, a "... diagnóstica, (...) [a]

formativa e (...) [a] sumativa". Neste âmbito, cabe ao professor empregar "...a

avaliação, nas suas diferentes modalidades (...) como elemento regulador e

promotor da qualidade do ensino, da aprendizagem e da sua própria formação"

(DL n.º 240/2001, anexo, capítulo III, ponto 2, alínea j).

Posto isto, debruçamo-nos agora sobre cada uma das modalidades de

avaliação, com vista a identificar algumas das suas características e

compreender a sua importância no processo de ensino e aprendizagem.

A avaliação diagnóstica é, habitualmente, realizada no início do ano letivo

e/ou sempre que o professor entender (DL n.º 139/2012). No início do ano

letivo o profissional de educação realiza uma avaliação diagnóstica, para

analisar os conhecimentos e aptidões que os seus alunos possuem (Valadares

& Graça, 1998). Deste modo, conseguirá adequar as suas propostas de

trabalho às necessidades evidenciadas pelos mesmos. Segundo os mesmos

autores, este tipo de avaliação pode também ser levado a cabo noutros

momentos do ano escolar, nomeadamente quando existem conteúdos que são

abordados a meio do ano, por exemplo no terceiro período, e o professor

considere necessário efetuar uma nova avaliação diagnóstica, para constatar

se os alunos já apresentam os pré-requisitos necessários às novas

aprendizagens.

90

No decorrer do ano letivo, o EE sustentou-se no Decreto-Lei n.º 139/2012,

de 5 de julho, pelo que se socorreu da avaliação diagnóstica no início do ano

letivo, com vista a averiguar quais as aprendizagens, relativas aos JDC, que os

seus alunos já tinham como adquiridas. Note-se que a avaliação diagnóstica foi

também realizada noutras ocasiões ao longo do ano letivo, a título de exemplo

na primeira aula da modalidade de Badminton.

A avaliação diagnóstica mostrou-se, de facto, um aspeto relevante no

processo pedagógico, na medida em que permitiu ao EE planificar e agir de

acordo com as competências demonstradas pelos alunos, conferindo

intencionalidade às suas ações.

Relativamente à avaliação formativa, esta carateriza-se pelo seu cariz

contínuo e sistemático e acompanha todo o processo pedagógico, fornecendo

informações acerca do desenvolvimento das aprendizagens, para, se

necessário, o professor proceder a uma readaptação das estratégias

educativas (DL n.º 139/2012).

Segundo Peralta (2005), a avaliação formativa permite averiguar os

progressos e as dificuldades dos alunos, tendo por base os objetivos traçados.

Valadares e Graça (1998) acrescentam que esta modalidade de avaliação

possibilita ao professor adaptar o ensino às diferenças individuais de cada

aluno, adotando uma pedagogia diferenciada.

A propósito da avaliação consideramos importante afirmar a relevância da

observação como estratégia de avaliação formativa. Neste contexto, o EE

recorreu à observação direta, no contexto das situações pedagógicas, para

avaliar o desempenho dos alunos e, sobretudo, para identificar as

aprendizagens que levantavam mais dificuldades para estes, com vista a

conduzi-los ao sucesso. Salienta-se, também, o recurso às gravações como

um importante meio para encaminhar os alunos à proficiência pretendida, uma

vez que o EE, muitas vezes, levava as gravações para as aulas no sentido de

analisar com os alunos exemplos concretos para que se pudessem remediar

alguns erros. De notar que, tal como já foi mencionado no presente relatório, o

EE registava os dados observados que considerasse pertinentes para o

processo de ensino e aprendizagem, realizando pequenas anotações que,

posteriormente, lhe permitiam entre outras coisas, avaliar os progressos

educativos dos alunos.

91

Por último, no que respeita às modalidades de avaliação, convém referir a

avaliação sumativa, que se traduz na "...formulação de um juízo global sobre a

aprendizagem realizada pelos alunos" (DL n.º 139/2012, artigo 24.º, ponto 4),

marcando o fim de um ciclo de aprendizagem (Peralta, 2005).

A avaliação sumativa consiste em sintetizar o desempenho de um

determinado aluno e contribui para uma análise global do trabalho

desenvolvido (Arends, 1995; Valadares & Graça, 1998), sendo esse trabalho

materializado numa escala de um a cinco (DL n.º 139/2012).

No decorrer do EP, foram vários os momentos de avaliação sumativa, isto

porque, no final de cada uma das modalidades abordadas, era reservada uma

aula para proceder à respetiva avaliação das aprendizagens. Importa ressalvar

que para proceder à avaliação sumativa, o EE optava pela situação de jogo,

adequada aos alunos, pois deste modo conseguia não só avaliar a componente

técnica, como também a componente tática. De notar que, da mesma forma

que acontecia com a avaliação formativa, também nos momentos de avaliação

sumativa era habitual o EE gravar os alunos, para que à posteriori, identificasse

e analisasse pormenores que de outro modo seria difícil, permitindo proceder a

uma avaliação com maior precisão e, consequentemente, mais justa.

A avaliação final compreendia, de resto, três vertentes: as competências

do conhecimento (10%), as competências de ação (65%) e as competências

atitudinais (25%). De salientar que, estas últimas, por decisão do Conselho

Pedagógico, têm igual peso (25%) em todas as disciplinas.

Relativamente às competências de ação, o EE para avaliar os seus

alunos recorria a duas modalidades de avaliação: a formativa (de forma

regular, durante todas as aulas) e a sumativa (na última aula, com recurso à

vídeo gravação). Para avaliar as competências atitudinais, pode aferir-se que o

EE procedia a uma avaliação formativa, dado que em todas as aulas eram

avaliados aspetos como a cooperação, o fair-play, o respeito, entre muitos

outros. Por último, no que respeita às competências do conhecimento, estas

eram avaliadas essencialmente através de um teste sumativo, que era

realizado no final de cada período como forma de concretizar um balanço final

sobre o conhecimento adquirido pelos alunos.

92

Ainda relativamente aos testes, importa referir que estes eram sobretudo

constituídos por questões abertas, de verdadeiro ou falso e escolha múltipla, os

denominados por Arends (1995) de "testes objetivos".

A escolha do EE, corroborando com a ideia defendida por Arends (1995),

recaiu sobre este tipo de teste por considerar que permitem ao professor

abarcar um maior número de conteúdos, assim como se torna mais fácil

delinear a classificação de cada alínea. Cortesão (2002) acrescenta, ainda, que

os testes melhoram a capacidade do aluno ao nível da atenção, da retenção

dos conteúdos abordados, assim como, auxiliam na consolidação das

aprendizagens. De referir ainda que para cada teste, era construída uma grelha

com o objetivo de apoiar o professor na correção do mesmo.

Ainda a propósito desta temática, Arends (1995) fornece quatro conselhos

aos professores, relativamente às condições em que os testes devem ser

efetuados, das quais destacamos:

(1) Procurar formas de lidar com a ansiedade dos alunos durante os

testes;

(2) Organizar o ambiente de aprendizagem conducente à realização do

teste;

(3) Dar hábitos de rotina e instruções claras para o teste;

(4) Evitar a competição indevida e pressões de tempo.

Tendo em conta tais pressupostos, no decorrer do EP, o EE procurou

tranquilizar os alunos antes dos testes para que estes não cedessem à

ansiedade que prevalece antes da realização dos mesmos. Além disso, houve

sempre a preocupação em manifestar uma visão positiva do processo de

avaliação para que os alunos não tivessem uma imagem negativa sobre este

processo, mas antes que o encarassem como uma oportunidade de se

informarem acerca das suas aprendizagens e de alcançarem o sucesso. Este

facto também contribuiu para que nos testes se instalasse um sentimento de

tranquilidade e segurança.

Relativamente à organização da sala de aula, julgámos que talvez fosse

mais adequado executarem o teste numa sala de aula com mesas e cadeiras

para usufruírem de maior conforto, porém como a escola não possuía salas

disponíveis com essas condições, os testes foram realizados no pavilhão,

ficando os alunos colocados nos colchões de Ginástica.

93

No que concerne à terceira condição defendida por Arends (1995),

importa salientar que o EE fornecia, sempre, indicações claras aos alunos

acerca do teste, aliás procedia à leitura do teste com os alunos e retirava

eventuais dúvidas que surgiam.

Por fim, em relação ao tempo disponível, o EE, tendo conhecimento das

singularidades de cada aluno, procurou proporcionar tempo suficiente para que

todos pudessem realizar o teste ao seu ritmo. Quanto à questão da

competição, esta nunca se constituiu como um problema para o EE, na medida

em que o espírito cooperativo foi instalado no grupo-turma do EE desde o início

ano letivo. Isto porque, sempre se fomentou o desenvolvimento de relações de

cooperação entre os alunos, privilegiando a cooperação em detrimento da

competição e utilizando esta última apenas como estímulo.

Após o resumo das diferentes modalidades de avaliação e estratégias

utilizadas, importa salientar, também, a importância da autoavaliação.

Segundo Santos (2002, p. 79) a autoavaliação constitui "...um olhar crítico

consciente sobre o que se faz, enquanto se faz". O mesmo autor (2002, p. 79)

citando Hadji, afirma que a autoavaliação se traduz numa "...atividade de

autocontrole refletido das acções e comportamentos do sujeito que aprende".

Nesta perspetiva a autoavaliação ganha uma importância acrescida, na

medida em que permite ao aluno desenvolver a sua autonomia, além de que,

lhe possibilita tornar-se, progressivamente, capaz de detetar os seus próprios

erros, envolvendo-se desta forma nos seus próprios processos de

aprendizagem. Assim, a avaliação converte-se numa responsabilidade

partilhada entre o professor e o aluno.

Neste contexto, o EE, no decurso do EP, deu voz aos seus alunos,

permitindo que estes expressassem a sua opinião no que à avaliação diz

respeito. Além disso, na última aula de cada período era distribuída pelos

mesmos uma folha com alguns parâmetros de avaliação, que os encorajava a

refletir sobre o que fizeram, tomando consciência das suas aprendizagens, dos

seus progressos, bem como das questões que devem ser aperfeiçoadas e,

como tal, requerem um empenho/esforço acrescido.

Em síntese, conforme ficou patente no decorrer do presente capítulo, a

avaliação é, segundo Arends (1995) e Bento (2003), uma tarefa inerente ao

professor. Arends (1995, p. 228) acrescenta que esta tem como objetivo

94

"...recolher a informação necessária para tomar decisões correctas". Neste

sentido, o professor deve-se apoiar nas diferentes modalidades de avaliação

(diagnóstica, formativa e sumativa), além de procurar envolver os alunos

através da autoavaliação, no sentido de promover situações de aprendizagem

que fomentem o desenvolvimento integral dos mesmos.

4.2. Áreas 2 e 3 – Participação na escola e relações com a

comunidade

"Proporcionar uma orientação e ensinar os alunos nas salas de aula, não são (...) os

únicos aspectos do trabalho do professor".

(Arends, 1995, p. 451)

Reforçando a ideia de Arends, a qualquer professor cabe sempre a tarefa

de lecionar a sua disciplina, contudo, a sua função deve ser bem mais ampla

do que a "simples" lecionação da aula. É fundamental que os professores se

envolvam na comunidade escolar, dito de outro modo, que não sejam meros

professores de uma disciplina, mas sejam antes professores de uma escola.

Situando-nos especificamente no caso do EE, este teve a sorte de ter

ficado inserido num grupo de EF bastante ativo, dinâmico e enérgico, o que lhe

permitiu participar e organizar diversas atividades no decorrer do EP. Tal facto

foi deveras importante, não só para compreender toda a logística envolvente na

organização das várias atividades, como também, para criar e consolidar laços

com os docentes do grupo de EF, não-docentes e alunos.

O grupo de EF mostrou-se sempre muito recetível e, por isso, facilitou a

integração do EE na comunidade. Além disso, o trabalho de equipa foi de resto

um marco neste ano de estágio. Em toda e qualquer atividade a grande maioria

do grupo participava e partilhava responsabilidades no antes, no durante e no

após da mesma, culminando normalmente num pequeno lanche de grupo ou

numa ida, em conjunto, a um qualquer local que permitisse confraternizar e

conviver depois de mais uma atividade de sucesso.

Foram vários os momentos que o grupo de EF organizou no sentido de

dar vida à escola. Em todas elas o EE esteve presente, no entanto destacam-

se as seguintes: a corrida do pai natal; a participação no corta-mato distrital; a

ação de formação no âmbito das NEE em contexto de sala de aula e em

95

contexto de DE; a visita à Faculdade de Desporto no decorrer da Semana

Olímpica; o Torneio de Páscoa de Futebol; o Evento Culminante de Voleibol; a

Visita ao Parque Aquático de Amarante; e a Gala do Desporto Escolar.

Começando pela Corrida do Pai Natal, esta, tal como o próprio nome

indica, realizou-se na época natalícia. Em termos genéricos o que podemos

aferir desta corrida é que se assemelha aos corta-matos realizados na maioria

das escolas, porém, na escola básica Dr. Costa Matos é intitulado por este

nome. Com efeito, importa salientar que os alunos participam utilizando, não só

a camisola da escola, mas também um gorro a aludir à época. No presente ano

letivo, a escola contou com a presença do antigo jogador de futebol

profissional, Carlos Secretário, que deu o tiro de partida para a corrida. No final,

foi preparado um lanche para todos os envolvidos.

Ao EE coube a tarefa de cooperar na preparação do local de chegada e

partida, assim como da animação antes do tiro de partida, ensinando uma

coreografia aos alunos. Durante a atividade manteve-se na meta de forma a

manter os alunos pela ordem de chegada, para a anotação do seu lugar. Após

a atividade, desmontou, juntamente com o restante grupo, todo o material, bem

como se manteve com a função de animador.

Fruto das classificações obtidas na corrida do pai natal, os seis primeiros

classificados de cada escalão foram selecionados para o corta-mato distrital.

No dia do mesmo o EE, juntamente com mais alguns colegas, acompanhou os

alunos à prova. Importa salientar que no local da prova, foi escolhido um

espaço para a escola, uma espécie de ponto de encontro, no sentido de

proporcionar aos alunos uma referência, para o caso de se perderem. Ao EE

coube a tarefa específica de levar os alunos à zona de partida e de os trazer de

volta após a corrida. No corta-mato distrital foi agradável encontrar vários

colegas de faculdade que, assim como o EE, acompanharam os alunos da sua

escola à prova.

Uma outra atividade organizada pelos núcleos de estágio da escola

básica Dr. Costa Matos consistiu numa ação de formação no âmbito das NEE

em ambiente de sala de aula e de DE. Para tal, os estudantes estagiários

convidaram duas docentes da escola com ligações a esta área para conduzir a

palestra, que se dirigia a profissionais de educação.

96

Outro momento relevante que ocorreu no presente ano letivo foi a ida de

algumas turmas, entre as quais a do EE, à Faculdade de Desporto no decorrer

da Semana Olímpica. Nesta visita foi interessante verificar o grau de

entusiasmo dos alunos, visto que ficaram surpresos pelas condições que a

faculdade dispunha. De forma a alargar ainda mais a vontade dos alunos em

participar nas atividades que estavam a decorrer, estiverem presentes figuras

incontornáveis da modalidade de atletismo, nomeadamente a ex-atleta campeã

olímpica Rosa Mota, assim como figuras atuais como Carlos Nascimento.

O torneio de páscoa é outro momento a ser salientado. Este foi intitulado

como I Torneio de Futebol Costa Matos e contou com a presença de sete

equipas. Inicialmente foi realizada uma reunião com todas as equipas, onde foi

lido e explicado o regulamento do torneio.

No dia do torneio estava previsto que os jogos se realizassem durante

todo o dia, visto que apenas existe um campo de 7 (forma de jogo escolhida).

Todavia, verificou-se que determinadas equipas não conseguiram apresentar

sete elementos, então, a organização decidiu mudar a forma de jogo de 7x7

para 5x5. Com isto foi possível realizar dois jogos em simultâneo, o que explica

o facto de o torneio se ter realizado, somente, da parte da manhã.

O torneio decorreu sem problemas comportamentais, cessando com o

almoço em conjunto entre jogadores e professores.

Para além do torneio de futebol mencionado, foi realizado um torneio de

voleibol, que merece especial relevo. Este surgiu no seguimento da aplicação

do MED, de acordo com Siedentop (1994), por parte dos estagiários nas suas

turmas. Tal como já foi referido no decorrer do presente relatório, aquando da

aplicação do MED, no final da UD deve ser organizado um evento culminante,

que se deve colocar para os alunos como um momento inesquecível do seu

percurso académico. Sendo conhecedores deste facto e como forma de

proporcionar aos alunos vivências grandiosas e maravilhosas, os seis

estagiários que se encontravam a realizar a sua prática pedagógica na escola

básica Dr. Costa Matos, optaram por efetuar o evento culminante em

simultâneo, conferindo-lhe um colossal caráter festivo. Este foi realizado no

relvado exterior sintético, tendo sido preparado e enfeitado de forma arrojada,

concretamente com balões, com campos sinalizados com diferentes cores,

com fitas a cair do elástico (que substituiu a rede devido a esta ser demasiado

97

pequena) para delimitar o campo, com o pódio, com música, com uso de

microfone para os alunos, de quando em vez, puxarem e incentivarem a sua

equipa, entre outros pequenos pormenores, que no final produzem grandes

efeitos.

Aquando da preparação dos quadros competitivos surgiu a seguinte

questão, duas das turmas eram de anos de escolaridade inferiores, existindo

quatro turmas de sétimo ano, uma de sexto e uma de quinto. Uma vez que tal

facto poderia trazer, eventualmente, desequilíbrios nos jogos, optou-se por

desenvolver um evento culminante, dividido em dois torneios, o de 2.º ciclo e o

de 3.º ciclo. Assim, no que diz respeito ao 2.º ciclo cada turma apresentou três

equipas, jogando as de sexto ano contra todas as de quinto ano. No final, as

equipas de quinto e sexto ano com melhor classificação jogaram entre si, para

discutir quem seria a equipa campeã do 2.º ciclo. Relativamente ao 3.º ciclo,

cada turma apresentou igualmente três equipas, perfazendo um total de doze

equipas. O quadro competitivo organizou-se em três grupos, tendo cada um

deles uma equipa de cada turma. No término dos jogos de cada grupo, a

equipa que obtivesse melhor pontuação passaria para a final. Tratando-se de

três grupos, a final constou com três equipas que jogaram entre si, saindo daí o

vencedor do 3.º ciclo.

Visto que no MED são vários os papéis que os alunos podem

desempenhar, importa ressalvar que aqueles que não executaram a função de

jogador possuíram outras funções, designadamente a função de árbitros,

juízes, estafetas, jornalistas, fotógrafos e claques. Note-se que na cerimónia de

entrega dos prémios existiu, mesmo, um prémio para o melhor árbitro do

evento.

Parece-nos importante mencionar que este foi um dos dias mais

marcantes para o EE no decurso do EP, na medida em que naquele momento

sentiu uma grande satisfação interior por constatar que estava a proporcionar

momentos particulares e especiais aos seus alunos.

Outro dos momentos de participação do EE na escola foi aquando da

visita ao parque aquático de Amarante. Este passeio ocorreu no final do ano

letivo e é, por ventura, um momento muito esperado pelos alunos. A ida ao

parque aquático constitui, para estes, a complementaridade de mais um ano de

esforço.

98

De salientar que nem todos tiveram o direito de usufruir desta visita, na

medida em que, para obter "passaporte" para a mesma, foi necessário que os

alunos durante o ano letivo evidenciassem, por exemplo, um comportamento

adequado, bem como um nível de assiduidade elevado.

Reportando-nos ao dia da visita, neste os professores acompanharam os

alunos até à entrada do parque, dando-lhes depois autonomia e liberdade para

andar pelo parque, embora seja importante referir que os professores iam

percorrendo o mesmo, de vez em quando, para supervisionar os alunos. Os

professores juntaram-se todos no mesmo local, procurando um lugar

estratégico para que os alunos possuíssem um ponto de referência para o caso

de algo acontecer.

Este dia ficou marcado pelo divertimento, animação e convívio,

nomeadamente entre professores, alunos e funcionários. Podemos concluir,

então, que este foi um dia diferente, um dia especial, que ficará para sempre na

lembrança do EE.

Por último, relativamente às atividades em que o EE esteve envolvido,

falta salientar a I Gala do Desporto Escolar. Na escola básica Dr. Costa Matos,

é dado especial ênfase ao DE, muito devido ao grupo de EF, que tal como já foi

mencionado é constituído por docentes bastante ativos/dinâmicos. Como o

próprio nome indica, esta gala constituiu-se como a primeira gala de DE a

decorrer na escola, não existindo, portanto, termo de comparação com os anos

transatos, porém pode aferir-se que esta obteve grande sucesso.

Segundo o Programa de Desporto Escolar aprovado pela Direção Geral

da Educação (DGE) (2009/2013, p. 3), o DE é "...essencial na promoção da

saúde, na inclusão e integração social, na promoção do desporto e no combate

ao insucesso e abandono escolar". Assim, são várias as modalidades de DE

que decorrem na escola, concretamente, as Atividades Rítmicas e Expressivas,

o Basquetebol, o Badminton, o Desporto Adaptado, o Golfe, o Judo, o Ténis de

Mesa, o Tiro ao Arco e o Xadrez. De todas elas, apenas uma, o Xadrez, não é

conduzida por um professor de EF, encontrando-se sob a responsabilidade de

um docente de Matemática. Na grande maioria das modalidades existe uma

forte adesão por parte dos alunos, encontrando-se mesmo, muitos deles, em

mais do que uma modalidade.

99

Posto isto, visto que o DE é um ponto forte da escola básica Dr. Costa

Matos, o grupo de EF decidiu criar a gala do DE. Esta decorreu durante a

tarde, no relvado sintético, tendo sido preparada durante a manhã e início da

tarde. O resultado final desta preparação foi “saboroso”, tendo ficado o relvado

enfeitado de forma harmoniosa. Os alunos distribuíram-se pelas cadeiras lá

colocadas, por modalidades e por ordem alfabética, para que aquando da

chamada todos eles conhecessem quando era a sua vez. Contudo, antes da

chamada dos alunos foram apresentadas as várias modalidades do DE, com

uma breve demonstração, por parte de dois alunos, de cada uma delas.

No momento da chamada, os alunos, à vez, subiram ao palco, para

receber, pelo responsável da modalidade, a medalha do DE, bem como o

diploma alusivo à cerimónia.

A parte final ficou reservada para a entrada da bandeira do DE sob a

música de Dulce Pontes intitulada "Amor a Portugal", apelando ao lado

emocional de todos os presentes. Após este momento, o diretor da escola

teceu algumas palavras como forma de encerramento da cerimónia.

Além da cerimónia do DE, foi agendado para o mesmo dia um jantar para

todos os alunos envolventes no mesmo. Assim, findada a cerimónia, foi

necessário desmontar tudo o que se encontrava no relvado sintético, bem

como decorar o polivalente para o jantar agendado. Este foi outro dos

momentos de confraternização entre professores, estagiários e alunos.

Para além das atividades supramencionadas, o EE participou ainda no

DE (Badminton e Ténis de Mesa), no apoio prestado à cantina, assim como

nas reuniões quer do grupo de EF e de expressões, quer nas reuniões de

conselho de turma.

Começando pelas reuniões, salienta-se a participação do EE na reunião

intercalar, isto porque, na mesma coube-lhe a tarefa de preparar uma

apresentação powerpoint acerca da caraterização da turma, para apresentar

aos restantes professores.

No que concerne ao DE, o EE ficou encarregue, juntamente com a

professora cooperante e restante núcleo, pela orientação das modalidades de

Badminton e Ténis de Mesa. Em ambas, o número de alunos excedia os vinte

elementos, sendo por vezes, difícil gerir os vinte e poucos alunos em três

mesas de ténis de mesa.

100

O EE ficou satisfeito por ter conseguido recrutar quatro dos seus alunos

para as modalidades da qual era responsável. Mais ainda, através destes

quatro alunos, foi possível observar que o DE é, de facto, uma mais-valia, pois,

coincidência ou não, estes quatro alunos, aquando da lecionação do

Badminton foram os elementos da turma com o melhor desempenho.

O DE constitui-se, portanto, uma experiência extremamente rica,

mudando a perceção do EE acerca do mesmo. Isto porque, no seu percurso

académico, nunca este tinha frequentado uma escola que centrasse tanta

atenção no DE, e por isso, os seus benefícios sempre lhe passaram ao lado. O

EE passou, então, a olhar para o DE com outros olhos, vendo neste projeto

capacidade para criar nos alunos "...hábitos de vida saudável (...) [bem como a

sua] formação integral (...) através da prática de actividades físicas e

desportivas" (DGE, 2009).

Por último, salienta-se um projeto desenvolvido na escola, coordenado

pela professora cooperante do EE, este de cariz social sem teor desportivo,

trata-se do projeto cantina. De forma sucinta, este projeto baseou-se no

acompanhamento voluntário, por parte dos professores, na hora de almoço, no

sentido de educar os alunos para o saber-estar no espaço em questão.

Tal projeto foi para o EE inovador, na medida em que, durante o seu

percurso escolar, nunca presenciou uma cantina com esta gestão. Por norma

as cantinas caracterizam-se pelas filas infindáveis, pelas ultrapassagens, pela

escolha seletiva dos alimentos a ingerir, entre outros. Desta forma, adotando

este projeto, nenhuma das situações anteriores tem a possibilidade de ocorrer.

Neste sentido, para combater as filas enormes, foram criados quatro

turnos de almoço tendo em conta os horários das turmas. Por outras palavras,

caso os alunos apenas tivessem aulas da parte da tarde, o seu turno

correspondia ao primeiro, na medida em que tinham de se apressar para ir

para as aulas. Em oposição, caso os alunos apenas tivessem aulas da parte da

manhã seriam os últimos a almoçar, visto disporem de mais tempo. Note-se,

ainda que, para que os alunos soubessem qual a sua vez, encontrava-se um

projetor multimédia no polivalente da escola que indicava qual a turma a entrar.

Os alunos, à entrada da cantina, tinham de passar o cartão magnético no

computador, podendo ser visualizado se os alunos tinham, ou não, a senha

101

referente ao dia em questão, encontrando-se nesta zona um dos colegas

estagiários do núcleo do EE.

De seguida os alunos dirigiam-se para a zona dos tabuleiros, onde se

encontrava o EE, nesta zona, o EE tinha a função de verificar se os alunos

lavavam as mãos, se entravam sem bonés, sem telemóveis, entre outros. Além

disso, averiguava, ainda, se todos os alunos levavam sopa para a refeição.

Por fim, a estagiária que falta, ficava junto da zona onde se arrumavam os

tabuleiros, verificando se todos os alunos almoçavam devidamente. Esta tarefa

era de resto alargada a todo o núcleo, no sentido de não permitir que os alunos

desperdiçassem alimentos. Além desta, outras preocupações eram tidas em

conta, nomeadamente, o volume da voz, a postura dos alunos, a colocação dos

talheres, entre outros. No fundo, procurava-se criar nos alunos hábitos de

alimentação, bem como educar os mesmos a respeitar um espaço que é,

também, dos outros, procurando, desta forma, transmitir valores que

contribuíssem para o desenvolvimento de cidadãos civilizados.

Além das atividades supramencionadas, em que o EE teve influencia

direta, houve ainda outras situações em que este esteve presente, não como

organizador, mas como participante. Entre as mesmas, salienta-se o jantar

espanhol e o jantar do grupo de EF. Com esta participação o EE procurava

construir relações agradáveis com todos os intervenientes da comunidade

escolar, já que, segundo Arends (1995), os professores devem procurar

estabelecer relações harmoniosas com toda a comunidade escolar,

nomeadamente com os seus colegas de trabalho.

Relativamente ao jantar espanhol, é de realçar que este não foi

organizado pelo grupo de EF, contudo, o grupo esteve presente ajudando o

grupo organizador.

No que diz respeito ao jantar de grupo, este marcou o final do ano letivo,

tendo sido outro dos momentos de maior convívio do grupo de EF, sendo,

talvez, a última vez que o EE reviu alguns dos professores deste grupo.

Este envolvimento do EE com a escola permitiu-lhe constatar que,

efetivamente, e aludindo novamente à ideia de Arends (1995), ser professor é

muito mais do que apenas lecionar a matéria na sala de aula.

102

4.3. Área 4 – Desenvolvimento profissional

“O ensino sempre foi uma actividade complexa, sendo-o ainda mais à

medida que as escolas foram assumindo uma responsabilidade social

crescente” (Arends, 1995, p. 2). Neste sentido, o presente capítulo inclui três

secções onde se procura evidenciar aspetos fundamentais que contribuem

para o desenvolvimento profissional dos docentes e, consequentemente, para

a melhoria no desempenho das suas funções.

A primeira secção começa por dar conta da importância do ato de refletir

criticamente como forma de o professor melhorar a compreensão de si mesmo

enquanto profissional de educação, assim como com o intuito de aperfeiçoar o

seu ensino. Neste primeiro ponto pretende-se, também, refletir acerca da

investigação nos contextos da ação docente (investigação-ação) e da narrativa

(reflexão escrita) como meios que podem produzir efeitos no pensamento e na

ação do professor que, consequentemente, potenciam o seu desenvolvimento

profissional.

Segue-se uma secção dedicada ao trabalho em equipa como fator de

enriquecimento profissional. Assim, este ponto centra-se no trabalho

colaborativo, na aprendizagem cooperativa, e perpassa a ideia de que as

equipas cooperativas de professores podem constituir-se como uma

oportunidade para melhorar a qualidade das práticas educativas.

Na última secção do capítulo reflete-se acerca do aprender a ensinar

como um processo de aprendizagem profissional que decorre ao longo da vida.

Nesta, argumenta-se que o desenvolvimento profissional do docente deve ser

encarado numa perspetiva evolutiva de desenvolvimento ao longo de toda a

carreira profissional. Realça-se a necessidade emergente do professor estar

em constante atualização, no sentido de desenvolver e adquirir saberes e

competências profissionais que permitam uma melhor adequação às situações

em contexto.

103

4.3.1. Professor reflexivo/investigador: a metodologia de investigação-

ação como estratégia de formação

Atualmente, um dos conceitos mais utilizados e discutidos no universo

daqueles que se debruçam sobre a área da educação, especificamente quando

se referem às novas tendências no âmbito da formação de professores é a

reflexão e o professor como investigador.

Esta perspetiva em torno do professor possuidor de pensamento reflexivo

surgiu com Dewey, filósofo da educação, em 1933, o qual defendia a

importância do ato de refletir criticamente sobre as práticas educativas e que

no ensino reflexivo se levava a cabo “…uma avaliação contínua de crenças, de

princípios e de hipóteses face a um conjunto de dados e de possíveis

interpretações desses dados” (Oliveira & Serrazina, 2002, p. 3).

Desde então, as potencialidades da reflexão como catalisador de

melhores práticas têm sido defendidas por diversos autores (Alarcão, 2001;

Roldão, 1999; Schön, 1992; Zeichner, 1993).

Neste contexto, Schön merece especial atenção, por se tratar de um autor

que é frequentemente evocado no campo educacional, na medida em que o

trabalho que desenvolveu exerce uma influência decisiva na forma como os

profissionais de educação entendem, hoje, o conceito de reflexão (Oliveira &

Serrazina, 2002).

As ideias preconizadas por Schön, a propósito da reflexão, têm sido

abordadas por diferentes autores (Alarcão, 1996; Day, 2001; Oliveira &

Serrazina, 2002; Roldão, 1999; entre outros). Neste sentido, estes autores,

secundando Schön, afirmam que existem três momentos distintos, essenciais

para a prática profissional: a reflexão na ação, a reflexão sobre a ação e a

reflexão sobre a reflexão na ação.

Quando o professor reflete na ação fá-lo no próprio contexto onde ocorre

a ação (Oliveira & Serrazina, 2002). Como refere Schön (1992), na reflexão na

ação, o professor reflete ao mesmo tempo que atua, isto é, procura estar atento

a acontecimentos que surgem no contexto da ação e em simultâneo tenta ir

reformulando a sua ação em função da reflexão que faz sobre esses

acontecimentos. Portanto, este tipo de reflexão faz com que o professor

procure rapidamente uma solução e responda prontamente aos problemas que

104

vão surgindo (Day, 2001). Ensinar é um modo de reflexão na ação (Oliveira &

Serrazina, 2002).

Por sua vez, a reflexão sobre a ação pode ocorrer antes e/ou depois da

ação, isto é, o professor pode refletir sobre a ação que ainda vai suceder ou

sobre a ação que já sucedeu (Day, 2001). Este tipo de reflexão envolve uma

maior ponderação, constitui uma reflexão mais aprofundada, mais cuidada, em

que o professor analisa, (re)constrói e (re)formula a prática no sentido de

prever e planear o futuro (Day, 2001). De acordo com Alarcão (1996), quando a

reflexão sobre a ação ocorre depois da ação, isto é, quando é revista e

analisada já numa fase posterior à ação, o profissional de educação faz uma

análise retrospetiva da ação. Deste modo, tenta refletir sobre ela e, assim, ao

percecionar a ação de modo diferente, toma consciência de aspetos menos

explícitos da prática que permitir-lhe-á reformular a sua atuação, no sentido de

melhorar o seu desempenho em termos futuros.

Schön (citado por Roldão, 1999, p. 105) sublinha a importância do

“…papel da reflexão sobre e na ação como gerador de saber em permanente

reconstrução dialéctica”. O mesmo autor afirma, ainda, que se o professor toma

consciência desse processo tornar-se-á, efetivamente, competente, isto é

“…capaz de agir, analisar e avaliar a sua acção e de modificar

fundamentalmente a sua acção em desenvolvimento” (Schön, citado por

Roldão, 1999, p. 105).

Por último, a reflexão que ajuda o professor a prosperar no seu

desenvolvimento, bem como a construir o seu próprio conhecimento, diz

respeito à reflexão sobre a reflexão na ação (Oliveira & Serrazina, 2002). Esta

última permite ao professor, já distanciado da ação, analisar e refletir

criticamente acerca do momento da reflexão na ação, tendo em consideração

os factos sucedidos, a observação realizada e o sentido/significação que

atribuiu a esses factos (Schön, citado por Oliveira & Serrazina, 2002). Neste

sentido, e de acordo com Oliveira & Serrazina (2002), esta reflexão é orientada

para uma ação futura, pelo que ajuda os profissionais a compreenderem novos

problemas, procurarem novas respostas e descobrirem soluções para nortear

ações vindouras.

Assim, conforme Schön (citado por Oliveira e Serrazina, 2002, p. 4), “o

processo reflexivo caracteriza-se por um vaivém permanente entre acontecer e

105

compreender na procura de significado das experiências vividas”. Portanto,

através da reflexão crítica sobre o que se faz e como se faz pode surgir uma

nova forma de compreender determinadas situações que, por sua vez, permite

ao sujeito, que reflete, reformular as suas conceções e descobrir novas formas

de agir em congruência com a análise/reflexão que vai realizando.

Tal como já se fez referência anteriormente, esta perspetiva de formação

baseada num paradigma investigativo/reflexivo, que prevê o crescimento

profissional a partir da análise/reflexão crítica das questões que emergem da

prática, tem sido abordada por diversos autores. Neste sentido, também

Zeichner (1993) concebe a prática reflexiva como uma dimensão essencial do

trabalho do profissional de educação. A forma de agir do professor,

concretamente as escolhas que este faz, possui implicações nos processos de

desenvolvimento dos alunos.

Na mesma linha de pensamento, Arends (1995) salienta que um dos

atributos mais importantes que carateriza um profissional de educação eficaz,

diz respeito à sua capacidade de refletir criticamente sobre os efeitos da sua

atuação pedagógica, desenvolvendo, deste modo, uma investigação em torno

da sua própria profissão.

Também Day (2001) faz referência à importância da reflexão como

elemento preponderante na qualidade da ação educativa. Este adianta que os

professores “aprendem fazendo e beneficiam com as situações que combinam

a acção e a reflexão” (Day, 2001, p. 160). Para o autor, ignorar o papel da

reflexão traduz a incapacidade de compreender o seu potencial para influenciar

a qualidade das experiências pedagógicas.

Assim, o processo de reflexão torna-se gerador de mudança e inovação

quando o docente, com base nas suas preocupações, reflete sobre si mesmo e

sobre as suas experiências educativas (Kortaghen, 2009).

Esta estratégia de formação do docente reflexivo que desempenha a

dupla qualidade de professor, cuja função específica é ensinar (DL n.º

240/2001, anexo n.º2, ponto 2, alínea a), e investigador das suas próprias

práticas com vista à melhoria das mesmas, surge, no campo educacional, sob

o nome de metodologia de investigação-ação.

106

De acordo com Moreira (2001, p. 21) há já algum tempo que esta

metodologia se assume como uma “…estratégia de formação potencialmente

conducente a uma maior autonomia e a um maior profissionalismo docente”.

A metodologia investigação-ação pressupõe a problematização da ação

educativa, porque exige que o professor a repense sobre todas as suas

práticas. Estas autorreflexões que podem ser realizadas antes, na e após a

ação, tal como já foi mencionado anteriormente, consistem em momentos-

chave no percurso formativo e profissional do professor, para que este adeque

as suas práticas às necessidades e interesses dos alunos.

Este método de investigação caracteriza-se por um processo em espiral,

formado por ciclos de planificação, ação, observação e reflexão (Moreira,

2001), como salienta a figura 3:

Figura 3 - Espiral de ciclo de investigação-ação adaptado de S. Kemmis & R. McTaggart (citados por

Arends, 1995)

Conforme Moreira (2011), este processo começa com o desenvolvimento,

por parte do professor, de um plano de ação/planificação flexível, com base

nas necessidades identificadas no contexto. Após elaborada a planificação, o

profissional de educação coloca-a em prática intencionalmente, observa para

recolher evidências que a permitam avaliar e, posteriormente, essas evidências

registadas serão alvo de reflexão.

Esta reflexão faz com que o profissional se debruce sobre os aspetos

mais específicos da planificação (como os objetivos) e sobre a sua execução

(como as estratégias utilizadas que visam a promoção e desenvolvimento dos

objetivos) e servirá de base para a elaboração de uma nova planificação que

dará início a outro ciclo (Moreira, 2011). Este processo verifica-se

continuamente, isto é, com o tempo vão-se desencadeando novos ciclos de

107

ação, cada vez mais rigorosos, contribuindo para a formação de profissionais

críticos, capazes de explicar as suas ações e portadores de um discurso

pedagógico rico e fundamentado com quadros teóricos de referência e de

práticas refletidas.

A investigação-ação constitui-se, de facto, uma metodologia facilitadora

da busca constante de saberes e sua renovação (Pourtois, 1981). É

efetivamente através de uma prática reflexiva que o professor conseguirá

maximizar as suas competências enquanto profissional de educação, tornar-se

mais responsável, competente e promotor de mudanças, que provocarão

efeitos na qualidade da educação, concretamente no desenvolvimento dos

alunos.

Neste sentido, e de acordo com Zabalza (1994), acreditamos que um

profissional sustentado neste modelo de ensino reflexivo/investigativo deve

possuir um diário/portefólio como estratégia ou dispositivo de formação, onde

aglomera todas as suas reflexões/narrativas escritas, que expressam a

perspetiva pessoal da sua própria atuação (Zabalza, 1994). Embora a reflexão

possa ser concretizada de diversos modos, a escrita é sempre a melhor

maneira de estruturar o pensamento, de facilitar a tomada de consciência de

situações e de exprimir perceções e emoções (Sá-Chaves, 2005; Zabalza,

1994).

Vieira & Moreira (2011, p. 42) afirmam a este prepósito que:

“Partindo da observação reflexiva das práticas, da contextualização dos saberes

adquiridos (…), ou de processos investigativos vivenciados, o diário serve como veículo

de ancoragem teórica e fundamentação para a acção, de modo a que a prática ganhe

sentidos renovados e que o professor possa desenvolver a sua auto-direcção na acção”.

Foi partindo deste pressuposto que o EE converteu em palavras as suas

ações pedagógicas, os seus pensamentos e a forma como encarava as suas

próprias práticas. Isto é, após cada aula lecionada, o EE realizava uma reflexão

individual, narrando sobre o seu trabalho na aula. O ato de escrever sobre a

sua prática demonstrou-se um poderoso instrumento para o EE, pelo que se

notaram importantes repercussões no seu desenvolvimento profissional. Isto

porque, o facto de a escrita exigir um processo de análise mais lento obrigava-

o a tomar maior consciência daquilo que estava a escrever, garantindo a

108

transformação para a qualidade das práticas futuras. Além do mais, para

Zabalza (1994, p. 94), “no processo de escrever produz-se um feedback

autoproporcionado”, que permite clarificar ideias e modificar e/ou construir

pensamentos, evidenciando, uma vez mais, a importância das reflexões na

otimização das intervenções pedagógicas.

“Através da escrita reflexiva (…) os professores ganham voz e autoridade

na construção do conhecimento profissional” (Vieira & Moreira, 2011, p. 42). A

reflexão escrita constitui, de facto, um elemento crucial dos diários de formação

(Zabalza, 1994). De acordo com o mesmo autor, os diários assumem-se como

uma forma de analisar e descrever os conteúdos da prática, uma vez que

incluem o pensamento dos professores no que diz respeito à sua ação nos

contextos educativos, e ao modo como este encara a sua atuação. Refere

ainda que, o ato da escrita é potenciador da capacidade reflexiva, pois no

processo de escrita o profissional de educação “…expõe-explica-interpreta [a]

(…) sua acção quotidiana” (Zabalza, 1994, p. 91), que por sua vez lhe permite

questionar-se e refletir sobre situações reais da prática e procurar novas

possibilidades para uma atuação mais eficaz.

A escrita permite que o professor evolua linguisticamente, assim como

lhe possibilita o alcance de um discurso prático e de uma atividade profissional

mais consciente, crítica e fundamentada (Zabalza, 1994). Ou seja, através da

escrita reflexiva, o professor reencontra-se com a prática, onde vão emergindo

questões nomeadamente acerca de "...como foi (...) [e] como deveria ser..."

(Sá-Chaves, 2000b, p 24), que depois de refletidas e encontradas as

respostas, poderão constituir-se como um veículo promotor de

desenvolvimento profissional.

Neste âmbito, podemos inferir que, efetivamente, as reflexões escritas

das aulas, que todas aglomeradas formam uma espécie de diário/portefólio

formativo, proporcionaram ao EE o contacto com a sua evolução ao longo dos

tempos. Dito de outro modo, as reflexões escritas das aulas constituem-se, de

facto, como uma memória das aprendizagens do EE no âmbito do EP, visto

que evidenciam as suas aprendizagens mais significativas, apresentam

competências de autorreflexão e reconstrução das aprendizagens e expõem os

pressupostos teóricos que o auxiliaram na compreensão de situações que

fizeram parte da sua experiência profissional.

109

Sá-Chaves (2005) defende a relevância do papel dos portefólios

formativos, que são construídos por sucessivas reflexões escritas sobre a

prática, na consciencialização crescente das suas capacidades e saberes.

De facto, as reflexões escritas das aulas tiveram muita utilidade para as

ações futuras do EE, promovendo a sua evolução. Isto porque, ao descrever

objetivamente sobre aquilo que vivenciou e sobre si próprio, nomeadamente

acerca das suas motivações e sentimentos despertados, assumia quase como

um sujeito distinto daquele que agiu, dado que só se consciencializava e

compreendia alguns aspetos quando os mobilizava para o papel, corroborando

com as ideias expressas por Zabalza (1994). Deste modo, o exercício de ciclos

de experimentação-reflexão-experimentação-reflexão possibilitou ao EE tornar-

se um profissional mais crítico e consciente, potenciando o desenvolvimento da

sua autonomia, e, consequentemente, permitiu-lhe melhorar o seu

desempenho pedagógico. É, efetivamente, fundamental que o professor faça

este exercício (experimentar-refletir-experimentar) caso contrário tornar-se-á

um mero técnico acrítico. Assim, torna-se imperativo que o professor seja

revelador de um pensamento divergente, reflexivo e crítico. Claramente, deve

refletir ao longo dos diversos momentos da sua ação, recorrendo a uma

reflexão sobre a ação, na ação e para a ação, de modo a potencializar-se

enquanto profissional de educação.

Em suma, um profissional de educação reflexivo é, então, aquele que se

assume como investigador na prática e sobre a sua prática, de modo a

enriquecer o seu próprio desenvolvimento profissional.

“Esta perspectiva pressupõe que ensinar é mais do que uma arte. É uma procura

constante com o objectivo de criar condições para que aconteçam aprendizagens”

(Oliveira & Serrazina, 2002, p. 6).

4.3.2. Trabalho de equipa como fator de enriquecimento profissional

Perante as novas realidades do mundo em que hoje vivemos, dominado

pela mudança e pela inovação, onde os professores são confrontados com

novos desafios que exigem uma nova maneira de estar na profissão, destaca-

110

se a importância do trabalho em equipa como forma de dar resposta a esses

desafios.

São vários os autores que têm definido a colaboração/trabalho em equipa

como fator preponderante na promoção de um ensino de qualidade, bem como

no desenvolvimento profissional. Neste sentido, Perrenoud (2000) elege o

trabalho em equipa como uma das dez competências profissionais para

ensinar, pelo que através do trabalho colaborativo os profissionais de educação

multiplicam as suas capacidades de ação e de enfrentar desafios.

O mesmo autor acrescenta, a propósito da importância do trabalho em

equipa que “a profissionalização não é uma aventura solidária. Passa por uma

cooperação mais intensa, livremente assumida” (Perrenoud, 1993, p. 184).

Esta perspetiva vai ao encontro dos normativos legais, pois do ponto de vista

normativo o trabalho em equipa é encarado como um “…factor de

enriquecimento da sua formação e da actividade profissional, privilegiando a

partilha de saberes e de experiências” (DL n.º 240/2001, anexo V, ponto 2,

alínea c).

Hargreaves (1998) sublinha esta ideia referindo que a colaboração

proporciona aos professores a partilha de ideias, opiniões, experiências e

conhecimentos, tornando-se, deste modo, na melhor resposta à resolução de

problemas que muitas vezes surgem de forma imprevisível.

Do mesmo modo, Estanqueiro (2010) enfatiza a importância da

cooperação efetiva entre os professores no processo de ensino e

aprendizagem, por considerar significativo o contributo do outro no

aperfeiçoamento e desenvolvimento de competências profissionais em ordem à

melhoria da qualidade do ensino. Para este autor a colaboração constitui-se

como um fator de êxito escolar, na medida em que através de um trabalho

colaborativo/cooperativo será mais fácil arranjar estratégias inovadoras,

desafiantes, que melhor se adequem aos alunos e à prossecução da intenção

do professor.

Ainda a este prepósito, Day (2001) sublinha que um bom profissional de

educação é aquele que partilha o seu trabalho e compara-o com o dos outros

professores, avaliando-o de forma contínua, assim como intervém em parcerias

colaborando com outros docentes.

111

Assim, e tendo em conta aquilo que tem sido reforçado pelos diversos

autores, pode aferir-se que os professores não devem encarar o seu trabalho

numa perspetiva individualista, mas ver no trabalho colaborativo/em equipa,

uma oportunidade de partilhar diferentes perspetivas e vivências que lhes

permitirão aprender e desenvolver-se enquanto profissionais. Além do mais

importa referir que o desenvolvimento de boas práticas educativas pressupõe a

consciencialização de que “«ninguém ensina sozinho» porque se ensina em

equipe, numa inteligência coletiva (…) [e porque se assim não fosse] cada um

de nós reduziria a sua ação apenas ao que é capaz de fazer sozinho” (Platone,

Hardy & Cols, 2004 p. 16).

É neste contexto que Nóvoa (2009) realça o papel da formação de

professores na consciencialização da necessidade de integrar na cultura

docente atividades baseadas na colaboração/cooperação profissional, de

formarem equipas pedagógicas, isto é, espaços constituídos por profissionais

de educação onde partilham ideias acerca do ensino e da aprendizagem,

discutem acerca das melhores formas de enfrentar dilemas e realizam projetos

comuns. Estas culturas colaborativas, defendidas também por outros autores,

contribuem para o desenvolvimento constante dos professores, dos alunos e

também das escolas (Castro, 2005). Neste âmbito, Nóvoa (2009, p. 7) sublinha

a relevância de a formação de professores valorizar o trabalho em equipa,

tendo em vista o desenvolvimento de um perfil profissional do professor cada

vez mais colaborador/coletivo, como salientam as suas palavras:

“Hoje, a complexidade do trabalho escolar reclama um aprofundamento das equipas

pedagógicas. A competência colectiva é mais do que o somatório das competências

individuais. Estamos a falar da necessidade de um tecido profissional enriquecido, da

necessidade de integrar na cultura docente um conjunto de modos colectivos de

produção e de regulação do trabalho”.

Esta análise feita por Nóvoa (2009), para dar conta da relevância de na

formação de professores se introduzir dinâmicas colaborativas, com vista a

potenciar o desenvolvimento profissional dos docentes, vai ao encontro da

ideia defendida por Sanmamed e Abeledo (citados por Castro & Cachapuz,

2005, p. 270), que enfatizam a influência da qualidade da formação que as

instituições oferecem aos professores no trabalho que estes depois vêm a

112

desenvolver. Neste sentido, aponta-se para a necessidade de os professores

em formação terem oportunidades de partilha de saberes e experiências, que

permitirão uma aprendizagem mútua, nas quais os professores refletem,

colaborativamente, sobre os problemas/dilemas da prática e sobre as próprias

práticas, contribuindo para melhorar a sua intervenção pedagógica.

Reportando, mais especificamente, ao caso do EE, este refere que foi

efetivamente significativo para o seu desenvolvimento profissional e pessoal o

facto de, no EP, ter havido interação/colaboração (partilha/reflexão) entre

professores, concretamente entre estagiário/professor orientador,

estagiário/professora cooperante e estagiário/outros colegas estagiários.

Para o EE esta colaboração efetiva trouxe, muitas vezes, contribuições

positivas para o seu desempenho pedagógico, na medida em que a partilha de

experiências e saberes, bem como a troca de opiniões e crenças acerca do

ensino e da aprendizagem lhe permitiu ampliar a sua capacidade de analisar e

responder a determinadas situações/problemas.

Importa salientar que para além da troca de experiências/vivências e

partilha de saberes, existiram também momentos em que, especificamente os

estagiários trabalharam juntos em torno de um projeto comum, que exigiam,

portanto, diferentes formas de negociação e cooperação. Aqui realça-se a

abordagem ao Voleibol, através do MED, na medida em que os estagiários que

se encontravam a realizar o EP na Escola Básica Dr. Costa Matos, por

considerarem que o trabalho em equipa poderia trazer efeitos benéficos para

os alunos, decidiram reunir-se para levar adiante um projeto comum. Deste

modo, foram realizadas reuniões onde, entre outras coisas, se debatiam

opiniões para chegar às estratégias que melhor se adequavam a todo o

público-alvo, definiam objetivos, princípios e metas a atingir, discutiam ideias e

rumos a seguir e, além disso, também se dividiam tarefas e responsabilidades.

Tal como referido por Gonçalves & Sá, (2005, p. 131), este trabalho

colaborativo e, consequente, corresponsabilização, tiveram, efetivamente,

“…repercussões visíveis nas convicções, atitudes, motivações (…) d[os]

participantes”, contribuindo para o sucesso das práticas desenvolvidas.

De resto o EE, ao longo do EP, foi vivendo frequentemente experiências

verdadeiramente enriquecedoras ligadas ao trabalho colaborativo. Neste

contexto, o professor orientador e a professora cooperante assumiram especial

113

relevo, dado o suporte que estes proporcionaram ao EE a vários níveis (apoio,

encorajamento, cooperação…), que contribuiu para o seu desenvolvimento

como profissional crítico e reflexivo, capaz de adequar as práticas educativas

às especificidades dos alunos e do contexto.

Em suma, podemos concluir, secundando Perrenoud (2000, p. 81), que

“trabalhar em equipe é, portanto, uma questão de competências e pressupõe

igualmente a convicção de que a cooperação é um valor profissional”.

Trabalhar em colaboração é oferecer um pouco de cada um, é aprender

com os outros e, assim, desenvolver-se profissionalmente (Castro, 2005). Com

a partilha de saberes e experiências, o profissional de educação pode,

efetivamente, aprender a desempenhar com maior rigor e eficácia as suas

funções docentes. Contudo, importa estar consciente de que aprender a

exercer o papel de professor é uma aprendizagem que ocorre ao longo de toda

a vida do profissional, aspeto sobre o qual nos debruçamos no ponto seguinte.

4.3.3. Ensinar: um processo de aprendizagem ao longo da vida

O desenvolvimento profissional é abordado por Arends (1995) como um

processo que decorre ao longo da vida. O autor procura evidenciar a relevância

da formação contínua/aprendizagem permanente na formação de profissionais

de educação verdadeiramente competentes.

De facto, as transformações económicas, políticas e sociais que têm

ocorrido nas últimas décadas modificaram, significativamente, o modo como é

encarada a educação e a formação. Neste sentido, os profissionais de

educação têm que investir, permanentemente, na sua formação, de forma a

poderem acompanhar as novas exigências da sociedade que se encontra em

constante transformação (Day, 2001).

Vários autores, tais como Arends (1995), Day (2001), Machado e

Formosinho (2009), Perrenoud (1993), entre outros, têm abordado a questão

da formação contínua/permanente, chamando a atenção para a importância da

busca pelo conhecimento ao longo de toda a vida.

Neste âmbito, Arends (1995) reconhece que tornar-se eficaz/competente

leva bastante tempo, seja qual for a profissão. Logo, os profissionais de

educação não podem limitar-se à formação inicial, pois os conhecimentos e

114

competências adquiridos nesta, por si só, não chegam para oferecer

experiências de aprendizagem de qualidade aos alunos.

Arends (1995) recorre a alguns exemplos para demonstrar a importância

da formação estender-se por toda a carreira profissional. Neste contexto, usa o

exemplo dos atletas que apenas atingem a forma atlética ótima depois de

longos anos de aprendizagem e prática constante. Do mesmo modo, muitos

escritores consagrados só escreveram as suas melhores obras poucos anos

antes da sua morte, depois de terem lançado muitas obras inferiores. Para o

autor, tornar-se um profissional de educação competente é similar, é

necessário muito desejo de aprender e a consciencialização de que aprender a

ensinar é algo que se processa ao longo de toda a vida.

Assim, para o professor a formação inicial de per si não é suficiente, é

necessária uma constante atualização dos seus saberes/das suas

aprendizagens, para dessa forma ser capaz de desempenhar eficazmente a

sua função como docente (Arends, 1995), que de acordo com Machado e

Formosinho (2009, p. 287) se constitui como “…uma actividade profissional

complexa…”.

No mesmo sentido, Day (2001, p. 213) destaca a necessidade e a

relevância do papel da formação contínua, afirmando que:

“…há dados que demonstram que a formação contínua pode produzir, e de facto produz,

um forte impacto no pensamento e na prática dos professores e, consequentemente, de

uma forma indirecta, na qualidade das experiências de aprendizagem dos alunos na

sala de aula”.

Numa posição semelhante, Freire (1996) sublinha que ensinar exige

muito mais do que uma pré-preparação ou uma aquisição de saberes e

competências para o fazer. Efetivamente, o profissional de educação deve

possuir uma responsabilidade ética e profissional e apostar numa formação

permanente baseada na análise crítica da sua própria prática. Uma atitude

crítica é fulcral para que o professor reflita sobre os caminhos que a prática o

faz percorrer para, dessa forma, enriquecer a sua aprendizagem, promovendo

um ensino de maior eficácia/qualidade (Freire, 1996). De acordo com o mesmo

autor, os conhecimentos e competências que o exercício da profissão docente

implica vão-se, então, adquirindo ao longo da carreira.

115

Ainda a propósito da formação contínua importa salientar que também o

Decreto-Lei n.º 240/2001, de 30 de Agosto, que aprova o perfil geral dos

educadores de infância e professores dos ensinos básico e secundário, deixa

bastante explícita a “…indispensabilidade da aprendizagem ao longo da vida,

para um desempenho profissional consolidado e para a contínua adequação

destes aos sucessivos desafios que lhe são colocados”.

Assim depreende-se que a formação deve ser encarada como um

continuum que se prolonga por toda a vida do profissional, em que este vai

adquirindo novos conhecimentos e aprofundando outros, contribuindo deste

modo para melhorar as suas práticas e, progressivamente, alcançar padrões

de qualidade no ensino. É neste sentido que o EE, apesar de reconhecer que

evoluiu, significativamente, do ponto de vista do seu desenvolvimento

profissional e pessoal, tem perfeita consciência de que o conhecimento não se

esgota e que o profissional de educação tem que atualizar-se constantemente,

é crucial. Portanto, ao longo da sua carreira profissional compete-lhe refletir e

investigar de forma a enriquecer e desenvolver o seu próprio conhecimento.

De acordo com vários autores, nomeadamente, Cauterman, et al. (1978)

e Tardif, et al. (1978), de um vasto número de meios eficazes, que contribuem

para a formação contínua dos professores, bem como para os apoiar no

exercício da sua profissão, salienta-se a pesquisa. Segundo os autores,

através da pesquisa o professor pode “…clarificar e, potencialmente, melhorar

a formação inicial…” (Tardif, et al., 1978, p. 28). A pesquisa permite aos

professores descobrirem novos caminhos para responderem às necessidades

dos alunos e do contexto, encontrarem soluções para resolverem problemas

com as quais se possam deparar e, consequentemente, melhorarem a sua

prática profissional.

Recorrendo novamente às ideias de Freire (1996, p. 29) o professor deve

consciencializar-se de que “não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem

ensino”, pois estes estão intimamente ligados. Assim, o profissional de

educação deve assumir uma postura de busca constante, dado que esta ajuda-

o a alcançar novas aprendizagens, de modo a intervir de forma adequada.

Contudo, Sarmento (2009, p. 326) lembra que “os professores são

pessoas que se formam nos seus diversos contextos vivenciais, ao longo da

vida”, o que significa que também as suas experiências, sobretudo a reflexão

116

que fazem dessas experiências, influenciam as suas conceções sobre o ensino

e a aprendizagem e contribuem para o desenvolvimento de novas

competências profissionais. Aliás, de acordo com Formosinho (2009) é

precisamente na escola, no contexto de trabalho, onde ocorre a formação mais

significativa do professor e, em grande medida, através da aprendizagem

cooperativa/do trabalho em equipa com outros profissionais (aspeto que

abordamos na secção anterior do presente capítulo).

Podemos então concluir, secundando Arends (1995, p. 19), que:

“…aprender a ensinar é um processo de desenvolvimento que se desenrola ao longo de

toda a vida, não se limitando ao período compreendido entre a primeira aula [como

estudante – futuro professor –] (…) e a aquisição do direito legal para ensinar. (…) Os

professores tornam-se progressivamente mais competentes mediante a atenção

prestada ao seu próprio processo de aprendizagem e ao desenvolvimento das suas

características e competências específicas”.

117

5. Conclusões e perspetivas para o futuro

Neste Capítulo, apresentamos um resumo das principais conclusões

acerca do percurso de prática pedagógica supervisionada/EP, nomeadamente

o seu contributo na formação integral do formando como futuro profissional de

educação.

Parece-nos, assim, apropriado começar recorrendo às palavras de Freire

(1996, p. 107):

“Ninguém é autônomo primeiro para depois decidir. A autonomia vai se construindo na

experiência de várias, inúmeras decisões, que vão sendo tomadas. Por outro lado,

ninguém amadurece de repente, aos 25 anos. A gente vai amadurecendo todo dia, ou

não. A autonomia, (...) é processo, é vir a ser. Não ocorre em data marcada”

Esta citação do pedagogo e filósofo Freire perpassa a ideia de que é com

a experiência que o profissional de educação se vai tornando progressivamente

autónomo, capaz de desempenhar o seu papel eficazmente.

É neste contexto que o EP possui um lugar de destaque, particularmente

os formadores que acompanham os formandos – futuros docentes – neste

processo e preparam-nos para a sua futura profissão, conduzindo-os ao

desenvolvimento da sua autonomia progressiva.

Neste âmbito, pode aferir-se que o EP constituiu-se como um processo de

aprendizagem imprescindível e conducente ao desenvolvimento profissional e

pessoal do estagiário. Este considera ter adquirido competências profissionais

para a docência em Educação Física nos Ensino Básico e Secundário,

competências essas, promotoras de um desempenho profissional analítico e

reflexivo.

Além do mais, esta experiência de prática pedagógica supervisionada

desenvolvida no âmbito do EP permitiu uma melhor compreensão dos

exemplos do ponto de vista da ilustração da teoria, que lhe foram sendo

fornecidos ao longo da sua formação académica. Isto porque, os

conhecimentos teóricos apenas são realmente compreendidos quando

mobilizados na prática, o que significa que só assim é possível verificar a

validade, ou não, desses conceitos. Neste contexto, Roldão (1999, p. 105)

118

afirma que, a “…melhor prática é uma boa teoria, (…) [contudo] a boa teoria só

se torna real na boa prática”.

Assim, através da articulação entre a teoria e a prática, o estagiário

conseguiu adquirir uma visão mais aprofundada, objetiva e crítica, de tudo

aquilo que o envolvia, conduzindo a uma reflexão com base numa observação

atenta e crítica.

Pode aferir-se, sem reservas, que a oportunidade oferecida ao estagiário

de experimentar em contexto real a sua futura profissão possibilitou-lhe evoluir

em termos globais, criando uma linha evolutiva no seu desenvolvimento

profissional. A experimentação – reflexão proporcionada pelo EP, isto é, a

metodologia de investigação-ação adotada pelo estagiário permitiu-lhe adquirir

outra maturidade no que respeita à tomada de decisões que melhor se ajustam

à especificidade de cada situação e às necessidades e interesses dos

aprendizes, que trará, certamente, repercussões positivas na aprendizagem

escolar dos seus futuros alunos.

Importa salientar que todos os progressos visíveis nas práticas do

estagiário deveram-se não só ao conjunto de situações novas com a qual se

confrontou no EP, concretamente com alunos diversificados que implicou a

constante adequação de atividades e comportamentos, mas também, e

sobretudo, ao acompanhamento próximo, por parte do professor orientador e

da professora cooperante, do trabalho desenvolvido pelo estagiário.

Julgamos ser bem evidente a contribuição destes nos processos de

aprendizagem e desenvolvimento do estagiário, dado que, muito mais do que

supervisionar o trabalho deste, aconselhavam-no com vista a orientá-lo no seu

desenvolvimento profissional.

Assim, ao longo do EP, o estagiário foi estimulado, constantemente, a

adotar atitudes de questionamento e reflexão crítica sobre as práticas

educativas, a fim de melhorar as suas futuras intervenções, bem como de

conhecer-se a si mesmo, resultando numa intervenção pedagógica cada vez

mais consciente, responsável e autónoma.

A prática reflexiva contribuiu, assim, para o desenvolvimento do

pensamento crítico do estagiário, como também para o desenvolvimento da

confiança e capacidade de desenvolver estratégias pedagógicas diferenciadas,

propícias ao sucesso de cada aprendiz. Este sente-se, agora, preparado para

119

ajudar na edificação de uma escola diversificada e aberta à diversidade dos

seus alunos. Note-se que este pretende manter esta atitude reflexiva e

investigativa, que foi construindo e gradualmente aperfeiçoando, ao longo de

toda a sua futura atuação.

Nesta linha, o balanço que julgamos poder fazer é extremamente positivo,

superando todas as expectativas do estagiário. Este considera que, toda a

experiência propiciada pelo EP foi gratificante e promotora de aprendizagens

significativas, que terão reflexo, com toda a certeza, em todo o percurso

enquanto professor. Além disso, a prática pedagógica ajudou o estagiário na

construção do seu próprio modelo de ensino, integrando-se numa perspetiva

construtivista do processo de ensino e aprendizagem, que privilegia o

envolvimento ativo dos alunos nas suas aprendizagens.

O EP possibilitou ao estagiário confirmar que, de facto, no ensino não

existe qualquer tipo de receituário, não há um tipo de ensino “…pronto a vestir

de tamanho único” (Formosinho, citado por Formosinho & Machado, 2008, p.

7), nem se podem seguir sempre as mesmas regras e processos, pois no

ensino cada situação e momento são específicos e apresentam

particularidades únicas, não existem decisões mais, ou menos, corretas e

melhores ou piores formas de enfrentar problemas.

Assim, depreende-se que aprender ensinar, tal como já foi mencionado

no quarto Capítulo, constitui-se como um processo de desenvolvimento

complexo “…que se desenrola ao longo de toda a vida” (Arends, 1995, p. 19),

e, como tal, o estagiário – candidato a futuro professor – está consciente de

que deverá investir na sua formação ao longo de toda a sua carreira

profissional, visto que o conhecimento é um processo em constante

descoberta, nunca chega a concluir-se.

Em suma, ao estagiário apraz-lhe dizer, acerca da sua experiência de EP,

que esta se constituiu como um marco na sua vida e será sempre alvo de

lembrança, pois esta experiência provocou nele, por diversas vezes,

sentimentos de grande satisfação, nomeadamente quando os alunos

evidenciavam prazer de aprender. Resta-lhe a saudade daqueles que, pela

primeira vez, lhe chamaram pelo tão desejoso nome de professor e a

tranquilidade por saber que deixou com os seus primeiros alunos uma parte de

si, e foi seguramente a melhor!

120

De momento, sem certezas acerca do que o futuro lhe reserva, cabe-lhe

manter a chama, que o conduziu até então, acesa, permitindo-lhe continuar a

sonhar que um dia, irá, finalmente, ser professor de Educação Física.

121

6. Estudo de investigação-ação

Conceção dos docentes acerca da temática da inclusão de alunos com

necessidades educativas especiais (NEE) nas salas de ensino regular

6.1. Resumo

O presente estudo pretende analisar e compreender as conceções dos

profissionais de educação relativamente à inclusão de alunos com

necessidades educativas especiais nas salas de ensino regular.

Para tal, foi elaborado um questionário, composto por perguntas abertas e

fechadas, onde se procurou abordar várias questões pertinentes ao tema em

estudo. Primeiramente, foram colocadas algumas questões de forma a

contextualizar a amostra e o contexto de atuação dos inquiridos. De seguida foi

questionada a importância da formação para que a inclusão seja, realmente,

eficiente. Examinou-se até que ponto é que os professores consideram ter

adquirido competências necessárias para intervir junto deste tipo de alunos na

formação inicial e o que têm feito no sentido de melhorarem a sua ação, para

facilitar o desenvolvimento e aprendizagem destes alunos. Posteriormente,

procurou-se saber quais as opiniões dos participantes relativamente às

vantagens e desvantagens da inclusão para os alunos com e sem NEE. Por

fim, relativamente às questões abertas, procurou-se analisar o parecer dos

docentes acerca da relevância de investir em alunos que apresentam

necessidades educativas especiais.

Para a realização do presente estudo, a amostra foi composta por vinte e

quatro professores que obedeceram a determinados requisitos, concretamente

o facto de estarem atualmente em atividade bem como de deterem, no mínimo,

três anos de serviço.

Os resultados conseguidos vão ao encontro das políticas educativas

atuais que defendem uma escola inclusiva, onde seja dada uma educação

apropriada e de qualidade para todos os alunos.

PALAVRAS-CHAVE: INCLUSÃO; NECESSIDADES EDUCATIVAS

ESPECIAIS; ENSINO REGULAR; FORMAÇÃO DE PROFESSORES.

122

6.2. Introdução

O estudo de investigação que aqui se apresenta foi realizado no âmbito

da unidade curricular Estágio Profissional e íntegra o Relatório de Estágio. Este

estudo centra-se, sobretudo, nas conceções dos professores acerca da

inclusão de alunos com Necessidades Educativas Especiais (NEE) nas salas

de ensino regular. O mesmo surgiu com a necessidade de compreender de que

forma é que os profissionais de educação, não especializados nesta área,

lidam/lidaram com os seus receios e preocupações quando confrontados com

alunos com NEE, nas suas turmas de ensino regular. Isto porque, no Estágio

Profissional também o EE se deparou com uma aluna que apresenta NEE e,

embora esteja de acordo com a inclusão de alunos com NEE nas turmas de

ensino regular, pois, também eles, tal como todos os outros, não deixam de ser

seres humanos e, como tal, merecem uma equidade de tratamento, confessa

que numa fase inicial encontrou algumas dificuldades.

Assim, tornou-se essencial realizar este estudo, por forma a aceder a

pontos de vista alternativos e estratégias possíveis de interceder junto dos

alunos com NEE que, certamente, o ajudariam a melhorar o seu desempenho,

aperfeiçoando no geral as suas capacidades de ensinar todo o tipo de alunos.

Neste sentido, optou-se por estruturar estudo em cinco grandes partes. O

estudo inicia com a presente introdução, que se coloca como a primeira parte.

Nesta, tal como é possível constatar, além de se apresentar a estrutura do

trabalho, apontando o que nele será desenvolvido, exprime-se ainda o porquê

da escolha deste tema para a elaboração do estudo, assim como, quais os

objetivos que se pretendem atingir. A segunda parte reporta-se à revisão da

literatura, onde se procurou apresentar os referenciais teóricos relativos à

temática em estudo. Na terceira parte procurou-se caracterizar a metodologia

adotada, que engloba a amostra, os procedimentos, os instrumentos de recolha

de dados, o tratamento e análise da informação e a calendarização da

investigação. Na quarta parte procede-se à discussão e análise dos resultados.

Nesta serão analisados os resultados obtidos por meio da aplicação do

questionário elaborado pelo EE, tendo por base referentes teóricos. O trabalho

encerra com as principais conclusões e limitações do estudo, seguidas das

referências bibliográficas que sustentaram a investigação.

123

6.3. Revisão da literatura

O princípio da inclusão constitui-se como um propósito fulcral das

políticas educativas de hoje. Efetivamente, a inclusão dos alunos com NEE no

ensino regular, tem vindo a ser, no campo da educação, um tema em crescente

nos últimos anos. Muito se tem escrito sobre este assunto, aliás, conforme

Cunha (2006, p. 17), a inclusão é, mesmo, a “…palavra de ordem…” no

contexto educativo, pelo que a procura de uma educação para todos é a meta

que se procura alcançar.

Rodrigues (2001, p. 19) afirma a propósito da escola inclusiva que esta

deve procurar “…responder, de forma apropriada e com alta qualidade, à

diferença [sob] todas as formas que ela possa assumir…”.

Numa posição semelhante outros autores (Nielsen, 1999; Correia &

Cabral, 1999; Hegarty, 2001) sublinham que o conceito de educação inclusiva

deve ser entendido como o apoio prestado aos alunos que apresentam NEE

nas escolas de ensino regular, de forma a que estes obtenham uma educação

de qualidade, que responda às necessidades específicas e às características

próprias desses mesmos alunos.

Em 1994, aquando da Declaração de Salamanca, surgiu o primeiro

grande momento no que concerne a esta temática, com o objetivo central de

promover a equidade entre os alunos, isto é, a igualdade face às

características de cada um. Nesta declaração (1994, p. 11) pode ler-se:

“O princípio fundamental das escolas inclusivas consiste em todos os alunos

aprenderem juntos, sempre que possível, independentemente das dificuldades e das

diferenças que apresentem. Estas escolas devem reconhecer e satisfazer as

necessidades diversas dos seus alunos, (…) de modo a garantir um bom nível de

educação para todos…”.

Neste sentido, é, efetivamente, crucial que os professores pensem de

forma ponderada acerca da qualidade do ensino que prestam aos alunos, pois

a estes deve ser-lhes proporcionada uma igualdade de oportunidades, sem

esquecer que cada aluno tem o seu próprio ritmo e estilo de aprendizagem.

(Resende & Soares, 2002).

Embora se tenham verificado avanços na consciencialização da

importância de os alunos com NEE receberem o mesmo tipo de educação dos

124

colegas, que segundo Correia & Cabral (1999) apresentam um

desenvolvimento típico, os docentes de ensino regular ainda encaram a

inclusão com alguma apreensão/preocupação. Ensinar a alunos com NEE que

apresentam, portanto, dificuldades acrescidas de aprendizagem, é,

presumivelmente, a função mais complexa e exigente colocada aos

professores de ensino regular (Hegarty, 2001).

Todavia, como reconhece Rief e Heimburge (2000), o primeiro passo a

dar pelos profissionais de educação é tentar recolher informações que lhes

permitam avaliar qual o estilo de aprendizagem de cada aluno. Dessa forma, tal

como atestam os mesmos autores, será mais fácil criar condições para uma

maior eficácia do ensino e da aprendizagem.

Parece-nos, então, importante que o professor se consciencialize de que

ninguém aprende do mesmo modo e de que “…não há formas de aprender que

sejam correctas ou incorrectas” (Rief & Heimburge, 2000, p. 18). Deste modo, é

necessário que o professor esteja atento às particularidades de cada aluno –

os seus interesses, as suas motivações, as suas necessidades, pontos fortes e

fracos – observando de que modo é que esses fatores se espelham nas suas

aulas, para, assim, assegurar que todos os alunos possam obter sucesso,

mesmo aqueles que apresentam muitas dificuldades de aprendizagem.

Posto isto, e em concordância com o princípio da inclusão, o aluno deve

ser encarado como um todo e não, somente, pelo seu desempenho escolar

como aprendiz. É fulcral ter em consideração três níveis de desenvolvimento: o

escolar, o socio-emocional e o pessoal, por forma a garantir, a todos os alunos,

um ensino ajustado e orientado no sentido de ampliar as oportunidades dos

mesmos maximizarem o seu potencial (Correia & Cabral, 1999).

Portanto, no que concerne às escolas/salas de aula inclusivas é

necessário que os professores reflitam sobre a situação atual, o que,

provavelmente, resultará numa reestruturação da organização e gestão do seu

trabalho nas escolas e nas suas salas de aula.

De facto, é o trabalho dos professores que tornam, ou não, possível

promover a equidade e assegurar uma escola para todos. Por outras palavras,

a escola não deve apenas garantir que todos os alunos tenham acesso à

mesma, mas também, e sobretudo, assegurar que todos obtenham sucesso

125

nas suas aprendizagens, incluindo os alunos que apresentam NEE (Ferreira,

2007; Niza, 1996).

Nesta ótica, Cavaco (1999, pp. 176-177) afirma que:

“Em muitas escolas vive-se principalmente a rotina, a normalidade acrítica, e todas as

mudanças, todas as inovações, estão condenadas antes de se tentarem. (…) Entretanto,

noutras escolas, a partir da organização de um corpo nuclear, empenhado e dialogante,

que consegue aglutinar grupos de professores para projectos comuns, pode gerar-se um

ambiente de acolhimento e participação, que, estimule a formação interveniente de

todos…”.

Desta forma, podemos afirmar que o trabalho colaborativo pode servir,

sem dúvida, para que os professores não especializados em ensino especial se

libertem das incertezas e dos receios que os invadem, quando confrontados

com alunos que apresentam NEE nas suas salas de ensino regular. Isto

porque, tal como já foi mencionado ao longo do presente relatório, trabalhar em

colaboração permite aos docentes partilharem ideias, opiniões, experiências e

saberes e, com a ajuda dos seus pares, encontrarem as melhores respostas

para a resolução de problemas que muitas vezes não se podem prever

(Hargreaves, 1998).

Na mesma linha de pensamento Ainscow, Porter e Wang (1997)

sublinham que o trabalho cooperativo, especificamente a reflexão que se

realiza de forma colaborativa, é particularmente importante na área das NEE.

Para os autores os processos de trabalho em equipa levam os profissionais de

educação a refletirem acerca de estratégias de ação úteis e eficazes,

conducentes á melhoria da qualidade do seu desempenho com os alunos que

apresentam NEE. Assim, sentir-se-ão mais capacitados para criarem

ambientes que propiciem uma aprendizagem mais apropriada a esses alunos,

respondendo adequadamente às suas dificuldades/necessidades educativas.

Devemos, no entanto, estar convictos de que não basta criar “equipas

educativas” onde se partilham ideias e experiências, não chega que os

professores adotem o princípio da inclusão e se disponham a alcançar tal

objetivo. É fundamental que possuam capacidades e competências que lhes

possibilitem ensinar alunos que apresentam, muitas vezes, sérias limitações e

níveis tão distintos de aprendizagens (Costa, 1996).

126

Com efeito, torna-se evidente a importância de investir na formação

contínua, contribuindo para a melhoria da eficácia e qualidade da educação e

do ensino (Hegarty, 2001). Para o mesmo autor (2001, p. 88), de forma a

ampliar as oportunidades de aprendizagem dos alunos e torná-las mais

eficazes é, efetivamente, necessário os profissionais de educação manterem-

se “…implicados num processo permanente de desenvolvimento profissional,

renovando a sua base de conhecimento, melhorando as suas capacidades de

ensino e melhorando em geral a sua acção…”.

Conforme Nielsen (1999), o ambiente educativo tem, não apenas para os

alunos que apresentam NEE mas para todos os alunos, um grande impacto.

Como tal, quando nas salas de ensino regular são colocados alunos com NEE,

o trabalho do professor na aula deve passar, primeiro, por transmitir-lhes

sentimentos positivos, assim como demonstrar-lhes afeto. Desta forma, os

comportamentos dos professores serão assimilados e rapidamente seguidos

pelos demais alunos.

Com convicção, o mesmo autor afirma que, essas pequenas

demonstrações de afeto, bem como todo o ambiente aconchegado e positivo,

contribuirá para uma experiência pedagógica bem sucedida e gratificante, tanto

para os alunos com NEE, como para os restantes intervenientes educativos.

Ainda a este propósito, convém referir que quando um aluno com NEE é

colocado numa sala de aula regular, é crucial que o professor forneça

informações sobre o seu problema aos colegas que se preparam para o

receber, por forma a superarem eventuais receios e modificarem conceções

erradas que possam ter. Além disso, levar para a sala atividades em que são

simuladas algumas situações problemáticas poderá ser, também, uma ótima

estratégia para melhorar a compreensão dos alunos ditos normais

relativamente aos problemas que os alunos com NEE têm de enfrentar. Tal

facto contribuirá, certamente, para estimular os alunos a encorajarem e

ajudarem aqueles que apresentam NEE, criando uma ambiente de cooperação

onde “…todos se preocupam, em primeiro lugar, com o sucesso do grupo como

um todo” (Nielsen, 1999, p. 25).

No quadro destas ideias, Vayer & Roncin (1992) também consideram que

o facto de os alunos com NEE se integrarem numa sala regular, onde os

demais parceiros aceitam as suas diferenças e agem cooperativamente no

127

sentido de os apoiar/encorajar, faz com que se sintam seguros e,

consequentemente, se envolvam na ação, tornando-se mais ativos e capazes.

Aliás, Ainscow, Porter e Wang (1997) colocam a utilização dos alunos, com

desenvolvimento típico, como um dos três fatores-chave no que à criação de

sala de aula inclusivas diz respeito, salientando que os professores devem

usufruir mais eficazmente dos recursos naturais que possuem à sua

disponibilidade para auxiliar a aprendizagem dos alunos com NEE, entenda-se

por recursos naturais os alunos sem NEE. Para os autores (1997, p. 16), estes

últimos “…representam uma fonte rica de experiências, de inspiração, de

desafio e de apoio que, se for utilizada, pode insuflar uma imensa energia

adicional às tarefas e actividades em curso”.

Ainscow, Porter e Wang (1997) também não deixam de salientar a

relevância de planificar tendo em conta a turma como um todo. Por outras

palavras, de acordo com os autores não é exequível a consecução de um

planificação individual para os alunos com NEE, correndo o risco de esta se

tornar irrealizável na escola regular. Assim, a principal preocupação do

professor deverá ser a planificação de atividades direcionadas para o grupo-

turma, no seu todo, implementando, sempre que necessário, adaptações para

a promoção do desenvolvimento e da aprendizagem dos alunos com NEE.

Desta forma, e de acordo com Nielsen (1999), criar-se-ão oportunidades

que permitam que todos os envolvidos no processo de ensino e aprendizagem

usufruam de experiências agradáveis, positivas e significativas.

Em suma, depreende-se que a inclusão se constitui, efetivamente, como

um fator decisivo para dar resposta a todos os alunos, que convertem a escola

num local que se caracteriza pela diversidade (Warwick, 2001). Neste sentido,

Marchesi (2001) salienta a importância que deve ser atribuída ao trabalho que

o docente desenvolve na sua sala de aula.

No entanto, importa aferir que, e recorrendo às palavras de Warwick

(2001, p. 121):

“se este objectivo [– inclusão –] se destina a alcançar um sucesso real e permanente,

precisamos de olhar mais além dos limites estreitos da simples colocação escolar e

equacionar meios alternativos de apoio á aprendizagem que sejam coerentes com a

visão da inclusão”.

128

6.4. Metodologia

6.4.1. Amostra

Para a escolha dos professores participantes foram tidos em conta alguns

parâmetros gerais, no sentido de obter uma visão holística da conceção destes

acerca da temática em estudo, dos quais se destacam:

- Estar em atividade;

- Possuir no mínimo três anos de serviço;

- Ser professor de qualquer área.

Convém ressalvar, ainda, que procurou-se realizar o estudo com

professores de diferentes escolas do país.

A amostra foi, então, composta por vinte e quatro professores de seis

escolas distintas, sendo 16,7% do sexo masculino e 83,3% do sexo feminino.

Quanto à faixa etária, as idades estão compreendidas entre os 28 e os 59

anos, mais concretamente, 20,8% entre os 26 e 35 anos, 45,9% entre os 36 e

45 anos, 20,8% entre os 46 e 55 anos e 12,5% com mais de 55 anos.

Relativamente ao tempo de serviço, este varia entre os 3 e os 35 anos,

especificamente, 33,3% entre os 3 e 12 anos, 41,7% entre os 13 e 22 anos,

20,8% entre os 23 e 32 anos e 4,2% com mais do que 32 anos (gráfico 1).

No que concerne às habilitações literárias (gráfico 2), 4,2% possuem o

grau de bacharelato, 66,7% são licenciados e 29,1% detêm o grau de mestre

(gráfico 2).

Gráfico 1 - Tempo de serviço (anos)

Gráfico 2 - Habilitações literárias

Da análise global, podemos assumir que o grupo em causa reporta-se,

tendencialmente, a professores licenciados, com idades compreendidas entre

os 36 e os 45 anos, variando a experiência profissional entre os 13 e os 22

129

anos. Contudo, ressalva-se, ainda, que uma boa parte dos inquiridos possui

apenas 3 a 12 anos de experiência, que se explica com a tenra idade e com a

situação atual do país. Além disso, cerca de uma terça parte dos participantes

detém o grau de mestre.

6.4.2. Procedimentos metodológicos

6.4.2.1. Instrumentos de recolha de dados

Para a recolha de informação foi utilizado o questionário (conforme anexo

V), sendo que este foi construído tendo em conta os objetivos do estudo, bem

como a informação que se pretendia recolher. Segundo Zabalza (1997) os

questionários possibilitam a exploração de ideias genéricas acerca da

realidade. Nova (1997, p. 56) acrescenta que através dos questionários é

possível recolher informações, por exemplo, acerca das "...preferências,

hábitos, valores e atitudes" dos inquiridos.

Alguns autores, nomeadamente, Monteiro e Pais (1996); Quivy e

Campenhoudt (2005); Rodríguez, Flores e Jiménez (1996), referem-se aos

questionários como instrumentos de observação não participante, onde através

dos mesmos são colocadas aos participantes questões que abarquem as

opiniões, as crenças e os pensamentos dos mesmos.

Ainda no que diz respeito aos questionários, Rodríguez, Flores e Jiménez

(1996) defendem que os mesmos podem conter três tipos de questões:

abertas, fechadas e de escolha múltipla. As primeiras permitem que o

participante discorra acerca do que pensa, as perguntas fechadas são

formuladas para obter respostas confirmatórias e, por último, as questões de

escolha múltipla são um tipo de pergunta fechada, onde o inquirido tem a

opção de escolha entre várias alíneas. Relativamente ao questionário aplicado

no âmbito do presente estudo, este foi constituído por duas partes. Na primeira

parte foram colocados alguns parâmetros pessoais e profissionais de forma a

caraterizar a amostra, nomeadamente, o sexo do inquirido, a idade, o tempo de

serviço e as habilitações literárias (figura 4).

130

Figura 4 - Primeira parte do questionário

Já a segunda parte do questionário detinha questões de resposta fechada

e aberta. No que concerne às questões de resposta aberta, as perguntas

incidiam em vários aspetos, concretamente, na visão do participante acerca da

temática da inclusão, na opinião do inquirido relativamente às vantagens e

desvantagens da inclusão para os alunos com e sem NEE, na importância do

investimento em alunos com NEE, assim como, no retrato, por parte do

inquirido, da inclusão nos dias de hoje. No final, eram, ainda reservadas

algumas linhas para eventuais observações que o inquirido desejasse fazer.

No que concerne às perguntas de resposta fechada, o questionário

detinha dois tipos: umas em que o participante tinha apenas duas opções, que

serviam para contextualizar o local de atuação do sujeito inquirido,

especificamente se se encontra, ou não, a trabalhar com alunos com NEE, se

dispõe de recursos para tal, entre outros, como se ilustra na figura 6, outras

onde foi utilizada a escala de Likert, conforme se pode observar na figura 4.

Relativamente a estas últimas, segundo Cunha (2007, p. 24) pede-se ao

"...sujeito que está a ser avaliado para manifestar o grau de concordância

desde o discordo totalmente (nível 1), até ao concordo totalmente (nível 5, 7 ou

11)" (cf. figura 6).

Figura 5 - Segunda parte do questionário (questões fechadas)

No caso do questionário aplicado recorreu-se à escala de tipo Likert de 5

pontos, designadamente, 1. Discordo totalmente; 2. Discordo parcialmente; 3.

Sem opinião; 4. Concordo parcialmente; 5. Concordo totalmente, como salienta

a figura:

131

Figura 6 - Segunda parte do questionário (escala de Likert)

6.4.2.2. Recolha de dados

Após a seleção da amostra, bem como da construção do instrumento,

procedeu-se à entrega dos questionários, pessoalmente, a todos os inquiridos.

Aquando da entrega do questionário, os participantes foram informados do

conteúdo do mesmo, bem como do propósito pelo qual estava a ser realizado o

estudo, como aliás se encontrava descrito na nota explicativa do respetivo

questionário. Além disso, no mesmo momento ficou decidida uma data limite

para a devolução dos questionários.

De notar que em determinadas situações, dada a ausência de alguns dos

professores, os questionários foram deixados em envelopes nas escolas.

No momento da devolução dos mesmos optou-se pela recolha pessoal,

por forma a garantir que os questionários fossem, de facto, entregues. Mesmo

assim, cerca de cinco questionários não foram recolhidos, dada a falta de

colaboração por parte de alguns professores.

6.4.2.3. Tratamento de dados

De acordo com Quivy e Campenhoudt (2005, p. 222) “a maior parte dos

métodos de análise das informações dependem de uma de duas grandes

categorias: a análise estatística dos dados e a análise de conteúdo”. Foram,

portanto, essas as duas categorias à qual o EE recorreu para proceder a

análise e tratamento dos dados, por se tratar, segundo os autores

supramencionados, do método mais amplamente usado quando os dados são

recolhidos através da aplicação de um questionário.

Assim, após a recolha dos questionários, procedeu-se, então, à análise e

tratamento estatístico, fazendo uso do programa Microsoft Office Excel. Como

salientam Quivy e Campenhoudt (2005), este tipo de programas informáticos

de análise estatística descritiva permitem visualizar e analisar, de uma forma

rápida, grandes quantidades de informação, além de possibilitar examinar a

132

relação entre diferentes variáveis ao mesmo tempo. Para os mesmos autores,

o facto deste método de análise de dados facultar a oportunidade de exibir as

informações sob formas diferentes, favorece, indiscutivelmente, a qualidade

das interpretações. Contudo, Quivy & Campenhoudt (2005, p. 223) defendem

que “…a estatística descritiva e a expressão gráfica dos dados são muito mais

do que simples métodos de exposição dos resultados”, pelo que permitem

retirar ilações através da análise e interpretação dos mesmos. Os mesmos

autores (2005, p. 223) acrescentam ainda que estas não devem ser

independentes de uma análise reflexiva prévia, a única a proporcionar critérios

claros para recolher, organizar e interpretar os dados, “…assegurando, assim,

a coerência e o sentido do conjunto do trabalho”.

Deste modo, procuramos organizar e tratar as informações recolhidas

através dos questionários, fazendo o cálculo de distribuição de frequências e

consequentes percentagens, para passar à interpretação e análise crítica dos

resultados. Importa referir que a apresentação destes foi feita sob a forma de

gráficos e quadros.

Para a análise das respostas às perguntas de cariz aberto recorreu-se à

análise de conteúdo. Esta técnica de recolha de dados ofereceu a oportunidade

ao investigador de tratar de forma sistemática, explícita e rigorosa as

informações contidas nos questionários, com vista à elaboração de categorias

que facilitaram a interpretação e compreensão dessas informações.

Vários autores, como Bardin (1995) e Quivy e Campenhoudt (2005),

defendem que, de facto, a análise de conteúdo permite, de forma organizada,

proceder ao tratamento dos dados que podem apresentar um considerável

grau de complexidade.

Desta maneira, depois de fazer uma leitura atenta e aprofundada,

avançou-se para uma análise categorial, que conforme Quivy e Campenhoudt

(2005, p. 224), “consiste em calcular e comparar as frequências de certas

características (na maior parte das vezes, temas evocados) (…) agrupadas em

categorias significativas”. Na mesma linha de ideias Bardin (1995) reporta-se à

análise categorial como sendo um método que permite reunir por categorias os

elementos significativos da mensagem. Para designar este método o mesmo

autor apropria-se do termo gavetas, realçando a ideia de organização das

ideias por compartimentos.

133

Reconhecendo que, segundo Vala (1986) a definição das categorias pode

ser feita à priori ou à posteriori, optou-se por fazê-lo à posteriori. Assim, para

proceder à análise dos dados fornecidos pelas respostas às questões abertas

decidiu-se fazer primeiro uma leitura integral das respostas dos inquiridos, para

passar a agrupar as informações por categorias. A classificação de algumas

categorias ajudou a dar uma ordem/sentido às informações abarcadas nos

questionários, corroborando as ideias de Bardin (1995).

Podemos, então, aferir que a categorização feita pelo investigador-EE

demonstrou ser extremamente importante, uma vez que possibilitou-lhe

sintetizar os dados obtidos, facilitando a compreensão dos mesmos.

Em síntese, podemos concluir que para a análise e tratamento dos dados

adotou-se as seguintes fases:

1. Leitura dos questionários na sua totalidade;

2. Leitura parcial dos questionários (leitura da primeira resposta de todos

os questionários e assim sucessivamente);

3. Definição das categorias de análise;

4. Revisão às questões que contemplam o questionário, por forma a

suprimir aquelas cujo seu conteúdo se evidenciou irrelevante;

5. Interpretação e análise reflexiva dos dados recolhidos, elaborando um

discurso sobre o conteúdo explícito nos questionários.

6.4.3. Calendarização da investigação

Figura 7 - Calendarização da investigação

134

6.5. Apresentação e discussão dos resultados

De seguida, apresentamos a descrição e análise interpretativa dos dados

que resultaram da aplicação do questionário. De modo a apresentarmos os

resultados obtidos de uma forma explícita e compreensível, procurou-se dividi-

los por diferentes temáticas.

A primeira diz respeito às questões que permitem clarificar o contexto

atual da atuação dos inquiridos. A segunda reporta-se à formação dos

participantes. As questões relativas ao terceiro tema incidem sobre a visão dos

professores naquelas que consideram ser as vantagens/desvantagens da

inclusão para os alunos com e sem NEE. De seguida são postas em evidência

as várias opiniões dos professores no que concerne à inclusão nos dias que

correm. Por último, são analisadas as respostas às afirmações apresentadas

na escala de Likert, que integram as várias temáticas anteriormente citadas.

No que concerne às questões acerca da contextualização da situação dos

participantes, importa começar por perceber quantos dos inquiridos se

encontram ou já se encontraram a trabalhar com alunos que apresentam NEE.

Neste sentido, relativamente aos inquiridos que, no ano vigente, se encontram

a trabalhar com alunos com NEE, nota-se que são pouco mais de metade,

concretamente 54,2% (cf. Gráfico 3). Contudo, uma margem bem maior dos

inquiridos afirma que já trabalhou com alunos que manifestam NEE (gráfico 4),

apenas um nunca teve experiência com este tipo de alunos, mesmo já

possuindo 17 anos de serviço.

Gráfico 3 - Situação atual de trabalho com

alunos NEE

Gráfico 4 - Já teve experiências com alunos

NEE

No que respeita aos recursos da instituição educativa onde se encontram

a exercer a docência, 13 dos 24 professores, o que equivale a 54,2%,

responderam positivamente quando confrontados com a pergunta que

135

questionava se a mesma possuía, ou não, os recursos necessários para

assegurar a inclusão.

Pese embora os recursos na sala de aula sejam importantes, a formação

dos professores demonstra-se, segundo Marchesi (2001), como uma das

condições necessárias para que se possa avançar para uma escola inclusiva.

Assim, a parte seguinte do questionário incide, exatamente, nesse

assunto. Desta forma, foi colocada uma questão aos professores acerca da sua

formação inicial, concretamente, se a mesma lhes permitiu adquirir

conhecimentos necessários para dar resposta à diversidade encontrada na

escola, especificamente aos alunos com NEE. O gráfico 5 é elucidativo da

parca formação dos professores relativamente ao ensino especial (19 dos 24

julga não ter saído bem preparado).

Neste sentido, foi colocada uma pergunta de resposta aberta, para os

professores informarem de que forma complementaram essa falha das suas

formações. No quadro 1, é possível verificar quais as medidas dos 19

inquiridos que afirmaram não sair preparados das entidades formativas.

Quadro 1 - Medidas para complementar a formação inicial

Medidas para complementar a formação inicial Nº de prof. %

Nenhuma 3 15,8

Procura de informação (bibliografia especializada, internet,

técnicos especializados,...) 10 52,6

Ações de formação na área das NEE 3 15,8

Especialização na área do ensino especial 3 15,8

19 100

Gráfico 5 - Eficácia da formação inicial

136

No seguimento, perguntou-se aos participantes se estes julgavam, agora,

ter competências para exercer um bom trabalho junto dos alunos com N

EE. Mesmo adotando determinadas medidas, dos 19 participantes

apenas 7 se acham capazes de desenvolver, de momento, um bom trabalho

junto de alunos com NEE. Assim, do total de 24 inquiridos, apenas metade se

sente com capacidade para trabalhar com alunos que apresentam NEE. Essa

metade é resultado dos 7 professores que colmataram a sua formação mais os

5 que afirmaram estar aptos para atuar junto de alunos com NEE, logo após a

sua formação inicial.

Assim, podemos aferir que a formação contínua deve ser vista como

essencial para a obtenção de uma educação inclusiva, isto porque, são vários

os professores em atividade que não detêm competências para tal, tornando-

se, deste modo, evidente a importância de investir permanentemente na

formação (Hegarty, 2001).

De seguida serão colocados em evidência, juntamente com a devida

análise, os resultados relativos a uma outra parte do questionário. Nesta,

procurou-se averiguar quais as vantagens e desvantagens, da inclusão, para

os alunos com e sem NEE. O quadro que se segue, evidencia os resultados

obtidos, após ter sido feita a análise do conteúdo e categorização da mesma.

Quadro 2 - Vantagens e desvantagens da inclusão para alunos com e sem NEE

Vantagens da inclusão para alunos com NEE Nº de prof. %

Nenhuma 2 8,3

Progresso da aprendizagem 5 20,8

Desenvolvimento de competências sociais e pessoais 17 70,9

24 100

Vantagens da inclusão para alunos sem NEE Nº de prof. %

Nenhuma 2 8,3

Contacto com outras realidades 5 20,8

Desenvolvimento do sentido cooperativo 7 29,2

Aceitação pela diferença 10 41,7

24 100

137

Desvantagens da inclusão para alunos com NEE Nº de prof. %

Nenhuma 7 29,2

Falta de competências do professor 2 8,3

Ausência de acompanhamento individual 5 20,8

Vítima de discriminação 10 41,7

24 100

Desvantagens da inclusão para alunos sem NEE Nº de prof. %

Nenhuma 13 54,1

Diminuição do tempo e da atenção prestada pelo professor 10 41,7

Receio (em caso de alunos, com NEE, agressivos) 1 4,2

24 100

Através dos quadros acima apresentados, podem-se retirar várias ilações.

Relativamente às vantagens da inclusão para os alunos com NEE, constata-se

que uma grande parte dos inquiridos (cerca de 70%!) vê na inclusão uma forma

de desenvolver no aluno com NEE aspetos, maioritariamente, relacionados

com a sua inserção na sociedade. Desta forma, pode-se aferir que,

provavelmente, os professores associam o termo NEE, somente, a problemas

severos relacionados, por exemplo, com deficiências motoras ou mentais,

esquecendo-se de que um aluno com NEE pode, "apenas", apresentar

dificuldades (especiais) de aprendizagem.

Por sua vez, no que respeita às vantagens da inclusão para os alunos

com desenvolvimento típico, os professores tendem a referenciar que estes

podem lograr, principalmente, ao nível do desenvolvimento de competências

sociais, nomeadamente a aceitação pela diferença, o desenvolvimento do

espírito cooperativo, o reconhecimento do valor da solidariedade, entre outros.

Importa, ainda, salientar que dois dos inquiridos revelaram não existir

vantagens para ambos os alunos (com e sem NEE), subentendendo-se, deste

modo, que não apoiam as novas políticas educativas que são implementadas

no sentido de construir escolas inclusivas.

Entrando agora na visão dos professores acerca das desvantagens da

inclusão para os alunos com NEE, cerca de 40% receiam que os mesmos,

138

possam vir a ser vítimas de discriminação, contudo, também uma boa parte

dos inquiridos (cerca de 30%) revelam que não veem qualquer

constrangimento para os alunos com NEE, demonstrando-se, assim, solidários

para com os defensores da inclusão. Ainda no que concerne às desvantagens

para os alunos com NEE, é interessante verificar que 2 dos inquiridos dizem

que a formação dos professores pode tornar-se como uma dessas

desvantagens, uma vez que no caso de a formação não permitir alcançar

competências para dar resposta às necessidades destes alunos, estes não

retiraram proveito da inclusão.

Por último, relativamente às desvantagens para os alunos sem NEE, as

respostas dos inquiridos incidiram, particularmente, sobre dois aspetos. Por um

lado, o facto de que a presença de alunos com NEE poderá roubar tempo ao

professor, dando este menos importância/atenção aos alunos com

desenvolvimento típico. Por outro, que a inclusão não causa qualquer

inconveniente aos alunos sem NEE. Este segundo, e último ponto, foi

defendido por 13 dos 24 inquiridos, o que representa uma percentagem

superior a metade da amostra.

Após a análise das vantagens e desvantagens da inclusão para os alunos

com e sem NEE, e como forma de concluir as respostas de cariz aberto, foi

colocada a questão aos professores acerca da opinião, dos mesmos,

relativamente à importância da temática nos dias que vigoram. O quadro

seguinte demonstra qual a opinião dos professores no que diz respeito à

temática em estudo.

Quadro 3 - Opinião acerca da inclusão

Opinião acerca da inclusão Nº de prof. %

Não concorda 2 8,3

Concorda, apesar de enumerar algumas limitações 20 83,4

Concorda, e afirma que nada é preciso alterar 2 8,3

24 100

Como se pode observar no quadro acima, mais de 90% dos professores

inquiridos colocam-se a favor da inclusão (embora alguns deles não se achem

139

com competências para tal). No entanto, apesar de 22 dos 24 participantes

concordarem com a inclusão, 20 deles apontam algumas limitações da

inclusão, bem como o porquê de serem a favor da mesma. Posto isto, de

seguida serão apresentadas as limitações/explicações que maior destaque

tiveram, por parte dos professores que concordam com a inclusão (quadro 4).

Quadro 4 - O porquê de ser a favor da inclusão

Limitações da inclusão/explicações do porquê de ser a

favor da inclusão Nº de prof. %

Concorda, mas adjetiva a inclusão de precária 3 15

Concorda, pois permite desenvolver a autonomia dos alunos 4 20

Concorda, pois todos os alunos têm direito a uma educação

apropriada 5 25

Concorda, embora sejam necessários recursos humanos e

naturais adequados 8 40

20 100

Através da análise das respostas dos inquiridos podem-se tirar algumas

conclusões, que serão relatadas de seguida. Podemos, então, concluir que 3

dos 20 participantes (15%) que enumeraram alguma explicação do porquê de

ser a favor da inclusão, ou proferiram alguma limitação da mesma, intitulam a

inclusão de precária. Estes defendem essa ideia com o facto de que,

atualmente, e pegando nas palavras de um deles "fala-se muito e faz-se

pouco", isto é, é necessário dar o passo da teoria para a prática. Além disso,

estes 3 participantes relatam que a exigência do ensino torna ainda mais difícil

a obtenção de uma escola inclusiva.

Um pouco mais dos inquiridos, concretamente 20%, afirmam-se a favor

da inclusão, dando como principal justificação o facto de esta permitir

desenvolver a autonomia nos alunos com NEE. Desta forma, os mesmos

podem obter ganhos, principalmente ao nível da sua inserção na comunidade.

O direito a uma educação apropriada e de alta qualidade foi outro dos

fundamentos evocados pelos professores. Esta justificação pôde ser lida em 5

dos inquiridos (25%), indo estes ao encontro das várias fontes defensoras da

140

inclusão, nomeadamente da Declaração de Salamanca (1994), já mencionada

na revisão da literatura.

Por fim, a fatia maior dos participantes aludiu à falta de recursos humanos

e materiais para que a inclusão seja, de facto, levada a bom porto. Isto é, 8 dos

inquiridos defendem que a inclusão deve, efetivamente, ser colocada em ação,

no entanto apenas se as escolas dispuserem de recursos para tal. Procedendo

à leitura destes 8 questionários, salientam-se alguns aspetos referidos pelos

participantes, nomeadamente: a falta de professores especializados para dar

acompanhamento aos alunos com NEE (que necessitem) nas salas regulares;

o facto de as turmas possuírem cada vez mais alunos; a escassez de recursos

materiais que permitam estratégias de ação ajustadas ao aluno com NEE; e a

precária formação dos professores na área do ensino especial.

Assim, depreende-se, mais uma vez, que muitos docentes associam o

termo incluir somente aos alunos que apresentam problemas/necessidades

educativas graves. Apenas em 3 dos questionários pode ler-se "depende das

NEE", o que comprova a conclusão acima retirada. Estes 3 professores

demonstram ter conhecimento de que os alunos com NEE não são

necessariamente alunos que apresentam um tipo de deficiência profunda.

Para terminar, serão analisadas as questões colocadas com o recurso à

escala de Likert. Com o quadro seguinte pretende-se elucidar o leitor acerca

dos resultados das respostas a essas questões. Como se pode verificar no

quadro 5, os valores de maior destaque encontram-se rodeados por um círculo

vermelho, contudo, existem outros valores que não devem ser esquecidos e,

como tal, encontram-se a amarelo. Passemos agora a uma análise mais

pormenorizada dos itens que consideramos relevante salientar. Começando

pelo primeiro item, analisando as respostas dos professores podemos aferir

que estes não possuem uma opinião convicta a respeito da inclusão de alunos

com NEE nas salas de ensino regular. Isto porque, mais de 80% dos inquiridos

nem concorda nem discorda totalmente com a afirmação. Já no segundo item a

ilação que podemos retirar é contraria, pelo que mais de 90% concorda com o

facto de ser necessária uma adaptação das atividades na sala de aula,

141

demonstrando, pelo menos no papel, que os professores têm em conta as

caraterísticas dos alunos aquando da planificação.

A quinta pergunta, que afirmava que a atenção especial dada aos alunos

com NEE leva ao menor sucesso dos restantes alunos, foi aquela que gerou

menor consenso. Cerca de 50% dos inquiridos concorda com a afirmação,

todavia, um pouco mais de 45% discorda.

Outra das questões que merece algum destaque consiste no facto de

41% dos professores afirmarem que a inclusão gera mais entraves do que

benefícios. Esta ideia pode ser associada ao facto de boa parte dos

professores veem a inclusão, nos dias de hoje, com grandes limitações.

As respostas dos inquiridos ao oitavo item apontam para a importância de

os professores possuírem uma formação especializada, no sentido de oferecer

respostas adequadas aos alunos com NEE. 90% dos inquiridos acreditam que

os docentes que têm formação na área não encontram, portanto, tantas

dificuldades no atendimento às necessidades destes alunos.

Relativamente à última questão, os professores tornam a declarar que a

inclusão fomenta nos alunos a aceitação e o respeito pela diferença. Relembra-

se que muitos professores apontaram o respeito pela diferença como uma das

vantagens da inclusão para os alunos sem NEE.

Quadro 5 - Resultados obtidos na escala de Likert

142

6.6. Conclusões e limitações do estudo

No ponto que se segue serão colocadas em evidência as principais

ilações extraídas do estudo, bem como serão expostas as limitações do

mesmo.

6.6.1. Conclusões

Grande parte dos inquiridos associa a inclusão apenas a casos com grau de

severidade elevado. Posto isto, importa alertar para o facto de que o

conceito de inclusão defende, segundo Hegarty (2001), uma educação

apropriada e de alta qualidade para todos os alunos que apresentam NEE, e

não apenas para os casos mais severos. É, de facto, importante que os

docentes associem a inclusão a todo o aluno com NEE, na medida em que

caso associem apenas a inclusão aos alunos com NEE severa, corre-se o

risco de ter alunos com NEE ligeira nas salas regulares sem que lhes seja

prestada a atenção necessária/apropriada, visto serem confundidos com os

alunos com desenvolvimento típico.

Os professores inquiridos vão de encontro à ideia preconizada por Hegarty

(2001), que afirma que para melhorar a eficácia da qualidade da educação é

imprescindível o investimento na formação. No entanto, importa realmente

adotar uma atitude proativa, isto porque, apesar dos inquiridos atribuírem

importância à formação, aqueles que não se sentem capazes de lidar com

alunos que apresentam NEE pouco têm feito no sentido de melhorar o seu

desempenho profissional juntos destes alunos.

Conclui-se, ainda, que os professores se mostram reticentes quando são

confrontados com a afirmação de que a inclusão leva a que os alunos sem

NEE sejam prejudicados, visto diminuir o tempo de atenção prestada pelo

professor. Esta foi talvez a afirmação que gerou maior discórdia entre os

participantes, sendo que metade deles acredita que os alunos sem NEE não

saem prejudicados.

Metade dos inquiridos não veem o controlo da turma como um problema

aquando da inclusão, contudo, uma boa parte deles afirma que a inclusão de

alunos com NEE dificulta o controlo da mesma.

143

Por último, outra das ideias a ser extraída é o facto de que os professores

veem a inclusão como uma via para desenvolver nos alunos aspetos de

cariz maioritariamente social. Para os alunos com NEE, os professores

consideram que a inclusão possibilita desenvolver competências sociais. Já

para os alunos sem NEE, os professores certificam que a inclusão permite

que os alunos aprendam a viver com a diferença. Posto isto, podemos

concluir, então que, os docentes, regra geral, consideram que através da

inclusão os alunos tiram resultados positivos, mas somente por permitir que

estes experienciem diferentes realidades. Todavia, de acordo com Warwick

(2001), a importância não está, apenas, na colocação escolar dos alunos

com NEE, mas também, e sobretudo, na qualidade das aprendizagens que

lhes são proporcionadas. Esta é, efetivamente, a grande diferença entre a

integração e a inclusão, ou seja, a educação inclusiva "...pretende que a

escola não seja só universal no acesso mas também no sucesso"

(Rodrigues, 2003, p. 76).

6.6.2 Limitações do estudo

Relativamente às limitações do presente estudo, as mesmas prendem-se,

sobretudo, com o número limitado de sujeitos em estudo, devido aos

constrangimentos temporais e logísticos resultantes de se tratar de um trabalho

realizado no âmbito do mestrado. Para que se pudesse, de facto, generalizar

os dados à profissão docente era necessário um maior número de inquiridos.

No que diz respeito, a possíveis estudos posteriores acerca da temática

da inclusão, sugere-se que sejam analisadas as vantagens e desvantagens da

inclusão para os alunos sem NEE, visto ser parca a bibliografia dessa área.

Outro aspeto que poderia revelar-se de extremo interesse, consiste em analisar

as ideias dos professores com experiência no que respeita a alunos com NEE

e compará-las com os professores em início de carreira, para verificar se as

visões de uns e outros se assemelham, ou se, por outro lado, são distintas,

fruto da experiência, ou falta dela, com alunos que apresentam NEE.

6.7. Referências bibliográficas

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146

147

Síntese Final

A unidade curricular Estágio Profissional, que integra o plano de estudos do 2.º ciclo

conducente ao grau de Mestre em Ensino de Educação Física nos Ensinos Básico e

Secundário da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto (FADEUP), contempla duas

vertentes: a prática e a teórica.

A componente prática diz respeito à Prática Pedagógica Supervisionada, desenvolve-se

no contexto real da prática docente e tem como propósito integrar, progressivamente e de

forma orientada, o formando no exercício da vida profissional com vista ao desenvolvimento de

competências profissionais necessárias ao “…desempenho como futuro docente e (…) [à

promoção de] uma postura crítica e reflexiva em relação aos desafios, processos e

desempenhos do quotidiano profissional” (DL n.º 43/2007, artigo 14.º, ponto 4, alínea d).

A vertente teórica reporta-se ao presente relatório que se centra na descrição e análise

crítica das experiências e atividades desenvolvidas pelo EE no âmbito do EP, organizadas em

torno de quatro áreas de desempenho: Área 1 – Organização e Gestão do Ensino e da

Aprendizagem; Áreas 2 e 3 – Participação na Escola e Relações com a Comunidade; e Área 4

– Desenvolvimento Profissional. Além disso, no relatório de estágio é feita uma abordagem aos

conteúdos essenciais que sustentaram as ações do EE na prática pedagógica e que

contribuíram para a edificação de uma matriz concetual e metodológica. Alerta-se, ainda, para

a existência de um estudo de investigação-ação, que aborda a temática da inclusão. Este foi o

tema escolhido, pois o EE, no decorrer da sua prática pedagógica deparou-se com uma aluna

que apresenta NEE. Embora esteja de acordo com a inclusão de alunos com NEE nas turmas

de ensino regular, pois, também eles, tal como todos os outros, não deixam de ser seres

humanos e, como tal, merecem uma equidade de tratamento, o EE confessa que numa fase

inicial encontrou algumas dificuldades. Deste modo, procurou aceder a pontos de vista

alternativos e estratégias possíveis de interceder junto dos alunos com NEE.

Note-se que estas duas componentes (teórica e prática) não devem ser indissociáveis,

não devendo existir uma separação entre a teoria e a prática, mas antes encará-las “…numa

relação interaccional em que a teoria informa a prática e esta por sua vez, permite

reequacionar e reorganizar os pressupostos teóricos, constituindo-se desse modo como uma

fonte de conhecimento” (Sá-Chaves, 2000a, p. 75).

De salientar que esta estrutura e funcionamento do EP adotado pela FADEUP refletem

os princípios orientadores consignados na legislação destinada à formação conducente à

qualificação profissional, concretamente no Decreto-Lei n.º 74/2006, de 24 de Março, que

aprova o regime jurídico dos graus e diplomas do ensino superior, bem como, no Decreto-Lei

n.º 43/2007, de 22 de fevereiro, que aprova o regime jurídico da habilitação profissional para a

docência na educação pré-escolar e nos ensinos básico e secundário.

148

Na formação inicial de professores a experiência em contexto real, proporcionada pelo

EP, possui um papel preponderante, pois possibilita ao EE equacionar as suas práticas,

experimentá-las e problematizá-las (Gomes & Medeiros, 2005). Além do mais, de acordo com

Gomes & Medeiros (2005, p. 19), a prática pedagógica “…constitui um domínio promotor de

múltiplas reflexões”, que possibilitam ao formando uma melhor compreensão acerca das mais

diversas dimensões do processo educativo, desenvolvendo capacidades e competências

profissionais fulcrais para uma intervenção consciente e responsável (Sá-Chaves, 2000).

O EP sucedeu na Escola Básica Dr. Costa Matos, pertencente a Vila Nova de Gaia,

sendo oferecido ao EE, durante todo ao no letivo, a responsabilização na lecionação de uma

turma do 7.º ano de escolaridade. Neste processo de aprendizagem e desenvolvimento, o EE

teve a oportunidade de contar com o apoio e orientação do professor orientador Mestre Rui

Veloso e da professora cooperante Maria Silva. A colaboração e orientação destes atores foi

extremamente profícuo no processo de formação profissional do EE, pelo que estes o

ajudaram a progredir no seu desenvolvimento, contribuindo para a construção de um saber

pensar, saber agir e saber ser, fundamentais para uma intervenção pedagógica fundamentada

e ponderada.

Todo o trabalho realizado no âmbito do EP foi suportado pela reflexão, pois com o

decorrer da prática pedagógica tornou-se, para o EE, evidente a importância do ato de refletir

no sentido de procurar soluções e realizar eventuais ajustes na prática, com vista a uma

atuação que refletisse aquilo que são os traços que edificam um ensino de qualidade.

Assim, a experiência de prática pedagógica supervisionada contribuiu para desenvolver

no candidato a futuro profissional de educação uma atitude crítico-reflexiva e investigativa. No

desenvolvimento do seu trabalho este mobilizou-se de acordo com os diferentes tipos de

reflexão defendidos por Schön (1992): a reflexão na ação, a reflexão sobre a ação e a reflexão

sobre a reflexão na ação, explanados de modo pormenorizado ao longo do relatório.

Efetivamente foi pelo exercício constante de reflexão que o EE foi planificando, intervindo e

avaliando a ação pedagógica, de modo a promover o desenvolvimento de aprendizagens

significativas nos seus alunos.

Parece-nos relevante ressalvar, ainda, que foram as competências de reflexibilidade,

que o EE foi desenvolvendo no decurso do EP, que o permitiram tornar-se capaz de

desenvolver estratégias pedagógicas diferenciadas, atendendo à diversidade da turma e à

inclusão.

No presente relatório são postas em evidência as atividades desenvolvidas, as

estratégias de ação adotadas e os resultados obtidos no âmbito do EP.

Além disso pretende-se traduzir todo o trabalho desenvolvido em contexto real da prática

docente, que foi sustentado numa metodologia de investigação-ação, por se tratar de uma

“…estratégia de formação com potencialidades de provocar alterações nas práticas docentes

(…) [e promover] uma postura reflexiva, crítica e emancipatória” (Gonçalves & Sá, 2005, p.

131).

149

Neste sentido, ao longo do relatório refletimos acerca das diversas etapas do processo

educativo – observação, planificação, ação, reflexão, avaliação, entre outros –, apresentando a

importância de refletir sobre elas no sentido de criar condições para proporcionar um ensino de

qualidade e eficácia.

Relativamente à observação, de acordo com Estrela (1994, p. 29), esta “…constitui

naturalmente a primeira e necessária etapa (…) de uma intervenção pedagógica fundamentada

exigida pela prática quotidiana”. Assim, procurou-se salientar a relevância de realizar um

processo árduo e sistemático de observação, pois só dessa forma é possível recolher

objetivamente informações acerca da realidade, permitindo estruturar a ação de modo

fundamentado e contextualizado.

No que respeita à planificação da ação educativa, no presente relatório procedemos a

uma análise dos diferentes níveis de planeamento, especificamente o planeamento anual, a

unidade didática e o plano de aula. De facto, o planeamento, embora deva ser flexível, isto é,

não deva ser necessariamente seguida à risca, é um importante instrumento para o profissional

de educação. Isto porque, permite pensar/refletir de ante mão acerca dos conteúdos a lecionar

e adaptar o currículo às necessidades, interesses, motivações dos alunos, informações estas

recolhidas precisamente através da observação. Deste modo, depreende-se que o professor

deve revestir a sua ação com intencionalidade educativa, aspeto que abordamos

detalhadamente no decorrer do relatório. A intencionalidade educativa pressupõe que o

professor reflita sistematicamente sobre as suas ações, a fim de tomar decisões ponderadas e

que se ajustem às necessidades dos alunos.

A prática reflexiva constitui-se, de facto, uma das mais importantes dimensões do

trabalho do docente, um elemento preponderante na qualidade do processo de ensino e

aprendizagem ( Day, 2001; Zeichner, 1993).

Outra das funções desempenhadas pelo profissional de educação é avaliar. Desta forma

destacamos a importância do papel da avaliação, nomeadamente na recolha de informação

relevante “…para tomar decisões correctas [que são] importantes para a vida do aluno”

(Arends, 1995, p. 228). Ou seja, é graças à avaliação que o professor é capaz de adequar a

sua ação e postura ao contexto e às necessidades e interesses dos alunos, tornando-se,

assim, numa etapa crucial no decurso profissional de qualquer docente.

Procuramos, ainda, evidenciar as potencialidades que o processo de avaliação tem para

o aluno, alertando para o facto de ser importante o professor manifestar uma visão positiva do

processo de avaliação, de forma a que os alunos não obtenham uma imagem negativa deste,

mas antes que o encarassem como uma oportunidade de se informarem sobre as suas

aprendizagens.

Conhecedores da importância da colaboração/trabalho em equipa “…como factor de

enriquecimento da sua formação e da actividade profissional, privilegiando a partilha de

saberes e de experiências” (DL n.º 240/2001, anexo V, ponto 2, alínea c), considerou-se

relevante dedicar uma secção do relatório ao trabalho em equipa, com vista a mostrar aos

150

leitores que o desenvolvimento de um trabalho colaborativo pode contribuir para a qualidade do

ensino a proporcionar aos aprendizes.

Por último, no que diz respeito às etapas do processo educativo pareceu-nos útil dar

conta da importância da formação contínua como potenciador de crescimento profissional.

Importa compreender que qualquer professor deve agir diariamente para se tornar um

profissional de educação que proporciona aos seus alunos aprendizagens de qualidade. Como

tal, deve investir na sua formação no decurso de toda a sua carreira.

Com o estudo de investigação-ação procurou-se aceder às visões de vários professores

em relação ao tema da inclusão de alunos com NEE nas salas de ensino regular. Para tal, foi

aplicado um questionário aos professores para a recolha de informação. Assim, através da

análise dos dados, concluiu-se que quase a totalidade dos inquiridos são a favor da inclusão,

embora boa parte deles admitam que não possuem competências para dar a resposta

adequada às necessidades dos alunos.

Aproveitamos este momento final para dizer, mais uma vez, que o EP mostrou ser um

momento excecional na vida do EE, repleto de experiências únicas, que promoveram o seu

crescimento pessoal e profissional, pelo que desenvolveu capacidades e competências

promotoras de um desempenho profissional eficaz. Este está, agora, certo de que todos os

momentos experienciados, nesta que foi a sua primeira experiência no contexto real da sua

profissão, se fixarão na sua lembrança para sempre.

151

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160

XIX

Anexos

XX

XXI

Anexo I - Ficha individual do aluno

Ficha individual do aluno

Este inquérito destina-se ao fornecimento de um conjunto de informações importantes para a caracterização da turma. Desde já agradecemos a tua colaboração.

1. DADOS PESSOAIS Nome_________________________________________________Ano____ Turma___ Data de nascimento___________ Morada__________________________________________________________________ Código postal_______________ Nº de telefone________________________________ Autorretrato

Persistente Desistente Ambicioso

Otimista Pessimista Sensível

Confiante Inseguro Responsável

Paciente Impaciente Decidido

Calado Falador Orgulhoso

Irrequieto Calmo Exigente

Triste Alegre Atencioso

Extrovertido Tímido Amigo

Sociável Pouco sociável Criativo

Comunicativo Sentido de compromisso

Outro:

XXII

2. ANTECEDENTES ESCOLARES

Ficaste retido algum ano?

Não ……………….…. Sim ………….………..

Se sim, quantas vezes? ____________________________________________________

Em que anos? _________________________________________________________

3. TRANSPORTE PARA A ESCOLA

Qual o meio de transporte que utilizas para te deslocares para a escola?

A pé ......................…. Bicicleta ....................

Motociclo ..................

Automóvel ................. Transporte público ....

Quanto tempo gastas, em média, para te deslocares de casa até à escola?

01 - 15 Minutos …….. 16 - 30 Minutos …….. 31 - 45 Minutos

46 - 60 Minutos …….. 61 - 90 Minutos …….. > de 90 Minutos

4. DADOS MÉDICOS

Tens algum problema de saúde? Sim Não

Se sim, quais?

Problemas de pele

Problemas respiratórios

Problemas cardíacos

Problemas auditivos

Problemas visuais

Problemas de coluna

Epilepsia

Diabetes

Doenças crónicas

Alergias

Outros

Tomas algum medicamento regularmente?

Sim

Qual e para que efeito?________________________________________________

Não

XXIII

5. OCUPAÇÃO DOS TEMPOS LIVRES

Onde costumas, habitualmente, ocupar os teus tempos livres?

Casa …………...…… Escola ……..……….. Casa de amigos ……

Casa de familiares ..... Café / Bar ……...….. Rua .....................……

Jardim ………....……

Como costumas ocupar os teus tempos livres (assinala apenas 3 opções)?

Ajudar os meus pais ..................................................

Ir ao cinema ...............................................................

Praticar desporto .......................................................

Estudar .......................................................................

Ler ..............................................................................

Ouvir música...............................................................

Passear ......................................................................

Jogar computador ......................................................

Ver televisão ...............................................................

Costumas trabalhar nos tempos livres?

Não ……………….…. Sim ………….………..

Se sim, em quê?

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

6. DADOS RELATIVOS À EDUCAÇÃO FÍSICA

Tiveste Educação Física no 1º ciclo? Sim Não

Gostas de E. F.? Sim Não

Quais as tuas modalidades preferidas?

1ª ____________________ 2ª ____________________ 3ª ______________________

Quais as modalidades em que tens mais dificuldades?

1ª ____________________ 2ª ____________________ 3ª ______________________

Gostavas de participar nas atividades do Desporto Escolar durante este ano letivo?

Sim Em quais?_______________________________________________

Não

XXIV

Assinala três qualidades que a disciplina de Educação Física te tem ajudado a

desenvolver:

Aceitação da diferença

Cumprimento de regras

Gestão de conflitos

Capacidade para trabalhar em equipa

Lealdade/ Fair-play

Espírito de líder

Responsabilidade individual

Saber lidar com o imprevisto

Capacidade de adaptação à mudança

Aceitação do seu corpo

Capacidade de iniciativa

Espírito de sacrifício

Competência técnica

7. HÁBITOS DE PRÁTICA FÍSICA E DESPORTIVA

Quais as atividades desportivas que já praticaste e durante quanto

tempo?________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Praticas atividade física fora da escola? Sim Não

Se sim: Federado Não Federado

Indica as modalidades e o número de vezes por semana que as praticas

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Indica os motivos que te levam a fazer essa(s) atividade(s)

Por diversão

Para ocupar os tempos livres

Para conviver com os meus amigos

Para descarregar tensões

Para manter a linha

Para fazer carreira desportiva

Porque fui orientado pela família

Obrigado pela tua colaboração e um bom ano escolar

XXV

Anexo II - Planeamento anual

XXVI

XXVII

Anexo III - Unidade didática (Ex. Badminton)

Data 13/11 15/11 20/11 22/11 27/11 29/11 4/12 6/12

Espaço C3 C3 C3 C3 C1 C1 C1 C1

Aula nº 1 2e3 4 5e6 7 8e9 10 11e12

Duração 45 90 45 90 45 90 45 90

Sessão Conteúdos 1 2 3 4 5 6 7 8

Re

laçã

o c

om

ob

jeto

de

jogo

Pega

Ava

liaçã

o d

iagn

óst

ica

I/E

Pal

estr

a d

e ta

bag

ism

o

E E E C AS

Posição base I/E E E E C AS

Deslocamentos I/E E E E C AS

Serviço Longo I/E E E E AS

Clear I/E E E E AS

Amorti I/E E E E AS

Lob I/E E E AS

Encosto I/E E AS

Remate I/E E E

Co

nce

ito

s P

sico

sso

ciai

s

Entreajuda

Espírito Competitivo

Responsabilidade

Assiduidade e Pontualidade

Autonomia

Fair-play

Respeito

Cooperação

Disciplina

XXVIII

Cu

ltu

ra D

esp

ort

iva

His

tóri

a d

o F

ute

bo

l Origem

Evolução

Momentos Marcantes

Entidades organizadoras

Car

acte

riza

ção

do

Bad

mit

on

Leis de jogo

Arbitragem

Conhecimento do jogo

Co

nd

ição

Fís

ica

Cap

acid

ades

Co

ord

enat

ivas

Equilíbrio

Diferenciação Cinestésica

Coordenação óculo-manual

Orientação espacial

Cap

acid

ade

s C

on

dic

ion

ais

Força

Velocidade

Resistência

Flexibilidade

XXIX

Anexo IV - Plano de aula (Ex. 18/04/2013)

XXX

XXXI

XXXII

XXXIII

Anexo V - Questionário

Questionário

O presente questionário destina-se à recolha de informações para a

elaboração de um estudo no âmbito do Estágio Profissional, integrado no plano

de estudos do 2.º ano do Mestrado relativo ao Ensino da Educação Física nos

Ensinos Básico e Secundário.

Deste modo o questionário pretende aceder à conceção dos docentes

acerca da temática da inclusão de alunos com necessidades educativas

especiais (NEE) nas salas de ensino regular.

O questionário encontra-se dividido em duas partes, sendo a primeira

relativa aos dados pessoais dos inquiridos e a segunda às perguntas

relacionadas diretamente com o tema em estudo.

Agradecemos desde já a sua colaboração, solicitando o preenchimento

da totalidade das questões com o máximo rigor nas respostas dadas.

Parte I

Sexo - M F

Idade - _____

Tempo de serviço (anos) - _____

Habilitação académica:

Bacharelato

Licenciatura

Mestrado

Doutoramento

XXXIV

Outras especializações: ____________________________________________

Parte II

1 - No ano vigente encontra-se a trabalhar com alunos que apresentam NEE?

Sim Não

2 - Já teve alguma experiência anterior com alunos com NEE?

Sim Não

3 - Sente que a instituição educativa onde se encontra possui os recursos

necessários para assegurar a inclusão de alunos com NEE?

Sim Não

4 - Considera que a formação inicial lhe permitiu adquirir ferramentas

necessárias para oferecer uma resposta adequada aos alunos com NEE?

Sim Não

5 - Se pensa não ter adquirido, na sua formação, as competências necessárias

para intervir com alunos que apresentam NEE, quais as medidas que tomou no

sentido de melhorar o seu desempenho?

6 - Considera ter competências que lhe permitam desenvolver um bom trabalho

junto dos alunos com NEE?

Sim Não

XXXV

7 - Quais considera ser as vantagens da inclusão...

...para os alunos que apresentam NEE?

...para os alunos sem NEE?

8 - E as desvantagens?

(Alunos com NEE)

(Alunos sem NEE)

9 - Qual a sua opinião relativamente à inclusão nos dias que vigoram?

1 2 3 4 5

10 - Assinale com uma cruz na coluna que melhor

se adeque à sua opinião:

Dis

co

rdo

tota

lme

nte

Dis

co

rdo

pa

rcia

lme

nte

Se

m o

pin

ião

Con

co

rdo

pa

rcia

lme

nte

Con

co

rdo

tota

lme

nte

(1) O controlo da turma torna-se mais difícil quando nesta existem alunos com NEE.

(2) A inclusão de alunos que apresentam NEE nas salas de ensino regular implica a adaptação/alteração das atividades normais da aula.

(3) A presença de um aluno com NEE nas salas de ensino regular pode trazer benefícios para os alunos com desenvolvimento típico.

(4) O contacto que se estabelece entre os alunos com NEE e sem NEE atenua as suas diferenças.

XXXVI

(5) A atenção especial que os alunos com NEE exigem dos professores leva ao menor sucesso dos outros alunos da turma.

(6) Incluir numa sala de ensino regular alunos com NEE oferece aos outros alunos da turma novas situações de aprendizagem.

(7) A inclusão de alunos com NEE nas turmas de ensino regular oferece mais vantagens que entraves.

(8) Caso o professor não possua uma formação especializada, terá mais dificuldades em oferecer respostas adequadas aos alunos com NEE.

(9) Os alunos com NEE podem acelerar o seu ritmo de aprendizagem quando incluídos nas turmas de ensino regular, na medida em que têm como exemplo os alunos com desenvolvimento típico.

(10) A inclusão de alunos com NEE nas salas de ensino regular origina alterações significativas na intervenção pedagógica do professor.

(11) Incluir alunos com NEE fomenta, nos alunos, o respeito e a aceitação pela diferença.

As linhas seguintes destinam-se a eventuais observações que considere

pertinentes acerca da temática em estudo e que não estejam comtempladas no

presente questionário.

Obrigado pela disponibilidade!