Reflexões e algumas considerações sobre o livro « Cultura ... ·...

download Reflexões e algumas considerações sobre o livro « Cultura ... · PDF fileCapítulo 4 - parágrafo 2. Da natureza a cultura). ... « Levi-Strauss, a seu modo, formula uma nova teoria

If you can't read please download the document

Transcript of Reflexões e algumas considerações sobre o livro « Cultura ... ·...

  • Reflexes e algumas consideraes sobre o livro Cultura um conceito antropolgico :

    Transpondo para a cultura alimentar, o consumo de alimentos, os hbitos alimentares

    e os desafios deste sculo

    Juliana T. Grazini dos Santos 2012

    Livro : Cultura um conceito antropolgico , de Roque de Barros Laraia ; Coleo

    Antropologia Social 22 edio, Jorge Zahar Editor Rio de Janeiro, 2008.

    H alguns anos o conceito de cultura vem me intrigando e tenho tentado entender

    melhor o que se quer dizer e o que os especialistas em nutrio, alimentao e todos

    aqueles relacionados a sade e alimentao, querem dizer quando se referem a este

    termo.

    A alimentao influnciada ppor componentes biolgicos, sociais, econmicos e

    culturaisO que queremos realmente dizer com culturais ? Ser que na maneira pela qual

    abordamos a ingesto de alimentos e o estado nutricional de indivduos, comunidades ou

    populaes, levamos em considerao ou sabemos o que querer-se-ia levar em

    considerao a cultura e os fatores culturais ?

    A globalizao no estaria erradicando culturas e modos de vida que tinham muito mais a

    ver com as condies humanas ?

    Estaria o Homem contemporneo, submetido a mais uma evoluo da sociedade e da sua

    vida na terra ou caminhando para homogeneizao da espcie e consequentemente com a

    diminuio da capacidade de adaptao ? Ora, no teria sido at hoje a nossa capacidade

    de adaptao e particularidades culturais que nos permitiu manter a sobrevivncia da

    espcie ?

    a cultura influencia o comportamento social e diversifica enormemente a humanidade,

    apesar de sua comprovada unidade biologica (Apresentao Pgina 8 1 pargrafo)

    Temos hbitos alimentares diferentes, maneiras de comer diferentes porque moramos em

    regies geogrficas diferentes, tivemos e tnhamos at pouco tempo, acesso a alimentos

    diferentes, solos diferentes, climas diferentes, fomos submetidos a histrias e contextos

    socio-econmicos diferentes, e apesar da unidade biolgica nos tornavamos mais ou menos

    resistentes ou aptos ingerir alguns alimentos e algumas preparaes culinrias.

  • Quando Larai explica o significado do termo cultura : O termo germnico Kultur era

    utilizado para simbolizar todos os aspectos espirituais da comunidade, enquanto a palavra

    francesa Civilization referia-se principalmente s realizaes materiais de um povo. Ambos

    os termos foram sintetizados por Edward Tylor (1832-1971) no vocbulo ingls Culture, que

    tomado em seu amplo sentido etnogrfico este todo complexo que inclui conhecimentos,

    crenas, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hbitos adquiridos pelo

    homem como membro de uma sociedade.(1) (Capitulo 3 - Antecedentes Histricos do

    Conceito de Cultura pgina 25, 1 pargrafo), ele deixa claro que cultura algo adquirido e

    que engloba uma sries de fatores intrinsecos a sociabilidade humana.

    Neste contexto, eu me pergunto, ser que normatizar a alimentao humana numa escala

    internacional, ou global, considerando somente a unidade biolgica da espcie humana,

    seria o mais adequado ? Veremos mais para a frente que a unidade biolgica nfima

    quando comparada ao significado da socializao para o ser humano.

    Em 1871, Tylor definiu cultura como sendo todo o comportamento aprendido, tudo

    aquilo que independente de uma transio gentica, como diriamos hoje. Em 1917,

    Kroeber acabou de romper todos os laos entre o cultural e o biolgico, postulando a

    supremacia do primeiro em detrimento do segundo em seu artigo, hoje clssico O

    superorgnico (in American Anthopologist, vol. XIX, n 2, 1917). Completava-se, ento um

    processo iniciado por Lineu, que consistiu inicialmente em derrubar o homem de seu

    pedestal sobrenatural e coloc-lo dentro da ordem da natureza. O segundo passo deste

    processo, iniciado por Tylor e completado por Kroeber, representou o afastamento crescente

    desses dois domnios. (Captulo 3, pagina 28, 1 pargrafo).

    Ora, partindo destas afirmaes, me parece claro que homem no come somente por

    necessidade biolgica, apesar de na maioria das vezes pensamos em alimentao do ponto

    de vista biolgico. Embora j existam muitas pesquisas que relacionam aspectos

    emocionais e alimentao ou distrbios alimentares, e que as pequisas nas reas de

    antropologia e sociologia dos alimentos e da alimentao estejam em plena ascenso,

    grande parte dos programas de promoo em sade, parecem dissociar o homem do seu

    componente social e cultural e insistem fortemente para que se coma segundo suas

    necessidades biolgicas.

  • Em outras palavras, no basta a natureza criar indivduos altamente inteligentes, isto ela

    o faz com frequncia, mas necessario que coloque ao alcance desses individuos o

    material que lhes permita exercer sua criatividade de uma maneira revolucionria.

    Nesta passagem, o autor cita Santos Dumont, que saiu da sua cidade do interior do Brasil

    em foi para Paris, em 1892, onde teve condies de inventar o avio. Se transpusermos

    esta afirmao para a comida, eu me pergunto : se no se tem acesso a determinados

    alimentos, se no se tem meios de consumi-los ?

    Se a oferta de alimentos sempre a mesma como se pode variar uma alimentao ? Aqui

    no me refiro somente aos alimentos industrializados, padronizados e com pouqussima

    variao, penso naqueles alimentos que antes chamvamos de alimentos de poca e que

    esperavamos a sua estao para consumi-los. Hoje come-se manga e banana o ano

    todo em quase todos os continentes. Os europeus no podem sobreviver sem frutas

    tropicais ? Latino americanos no podem sobreviver sem morangos ?

    Resumindo, a contribuio de Kroeber para a ampliao do conceito de cultura pode

    ser relacionada nos seguintes pontos:

    1. A cultura, mais do que a herena gentica, determina o comportamento do homem e

    justifica as suas realizaes.

    2. O homem age de acordo com os seus padres culturais. Os seus instintos foram

    parcialmente anulados pelo longo processo evolutivo por que passou.

    3. A cultura o meio de adaptao aos diferentes ambientes ecolgicos. Em vez de

    modificar para isto o seu aparato biolgico, o homem modifica o seu equipamento

    superorgnico.

    4. Em decorrncia da afirmao anterior, o homem foi capaz de romper as barreiras das

    diferenas ambientais e transformar toda a terra em seu habitat.

    5. Adquirindo cultura, o homem passou a depender muito mais do aprendizado do que a

    agir atravs de atitudes genticamente determinadas.

    6. Como j era do conhecimento da humanidade, desde o Iluminismo, este processo de

    aprendizagem (socializaco ou endoculturaco, no importa o termo) que determina o

    seu comportamento e a sua capacidade artstica ou profissional.

  • 7. A cultura um processo acumulativo, resultante de toda a experincia histrica das

    geraes anteriores. Este processo limita ou estimula a ao criativa do indivduo.

    8. Os gnios so indivduos altamente inteligentes que tem a oportunidade de utilizar o

    conhecimento existente ao seu dispor, construindo pelos participantes vivos e mortos de

    seu sistema cultural, e criar um novo objeto ou uma nova tcnica. Nesta classificao

    podem ser includos os indivduos que fizeram as primeiras invenes, tais como o

    primeiro homem que produziu o fogo atravs do atrito da madeira seca; ou o primeiro

    homem que fabricou a primeira mquina capaz de ampliar a fora muscular, o arco e a

    flecha, etc. So eles gnios da mesma grandeza de Santos Dumont e Einstein. Sem as

    suas primeiras invenes ou descobertas, hoje consideradas modestas, no teriam

    ocorrido as demais. E pior do que isto, talvez nem mesmo a espcie humana teria

    chegado ao que hoje."

    (Paginas 50 e 51. Captulo 4. - Da natureza da cultura)

    Depois da leitura destes 8 aspectos, fica evidente que a alimentao humana e por

    conseguinte o estado nutricional do homem determinado pela cultura, pela

    socializao e pela sociedade onde o mesmo est inserido. Torna-se claro tambm que

    toda e qualquer medida de sade pblica deve ou deveria partir destas premissas para

    abordar a populao, uma vez que ditar regras alimentares pode ter um efeito inverso.

    Outro aspecto a necessidade de associar as cincias humanas e socias as cincias

    biolgicas. E, eu acabo por questionar o papel dos popularizadores das cincias biolgicas

    junto as sociedades atuais. Quem despertou a necessidade de ingerir alimentos

    enriquecidos ? Questiono tambm o papel da engenharia de alimentos e, sobretudo a

    mudana acelerada das sociedades. Se pensarmos do ponto de vista dos profissionais de

    marketing, os produtos so desenvolvidos e propostos uma vez que a sociedade est

    espera deles. O exemplo dos prato congelados condiz com este conceito : donas de casa

    trabalham, no tm muito tempo para cozinhas e algumas vezes nem o conseguem

    fazerde uma certa maneira contavam com a criao e oferta de produtos que a

    substitussem na cozinha.

    No sei se podemos culpar o capitalismo , mas fato que os valores atuais mudaram

    muito e nas sociedades industrializadas o homem consumidor ingurgita : ingurgita cultura

    de fcil acesso, sem muitos esforos ; ingurgita roupas, sapatos, e acessrios para circular

    socialmente, estar conectado com o mundo e poder ingurgitar mais facilmente ; ingurgita

    conhecimento ; ingurgita alimentos. O homem no necessita mais fazer esforo, quase tudo

  • esta ao seu disporO homem no mais ator e atuante no se