Reflexões sobre a Medalha Cruz e Sousa
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POR OCASIÃO DA ENTREGA DO PRÊMIO CRUZ E SOUSA: DO SIMBOLISMO AO SIMBÓLICO
Gabriel Medeiros Chati ([email protected])
Há oito anos me projeto na sociedade como um trabalhador da cultura por acreditar
no poder de transformação da arte. Esta, quando arte de fato, liberta e de espírito indômito,
contribui como nenhuma outra manifestação humana para uma maior consciência de si e do
mundo.
É com orgulho e entusiasmo que acompanhamos a conquista recente da AMORABI
(Associação de Amigos e Moradores do Bairro Itinga), na sua indicação à Medalha de Mérito
Cultural Cruz e Sousa. Este é um dos resultados de mais de 10 anos de promoção da arte e da
cultura na cidade de Joinville, independentemente de subvenção pública, baseada no
voluntariado.
Esta próxima quinta-feira, 24 de novembro de 2011, marcará os 150 anos de
nascimento do poeta catarinense Cruz e Sousa. Nesta data será entregue a Medalha que leva o
nome do eminente abolicionista, em homenagem. Infelizmente, a ocasião festiva não diminui
o atual descaso do governo do Estado para com a área cultural. Trabalhar com arte e cultura
no nosso país, como é sabido pela maioria, não é tarefa fácil. Os projetos culturais de grupos e
instituições dependem em boa parte de recursos públicos. O que a maioria pode desconhecer
é que, principalmente para aqueles que se mantém sob padrões éticos inalienáveis que
pressupõem a legalidade e o melhor uso desse dinheiro que é de todos, mesmo quando
apoiados pelo poder público, enfrentam inúmeras dificuldades burocráticas.
O mesmo governo que promove o mencionado prêmio cria uma série de empecilhos
pelo acesso e gestão destes recursos. Se por um lado temos o reconhecimento pela seriedade,
pertinência e qualidade conquistadas através dos projetos, por outro, este reconhecimento
não se materializa em uma estrutura mais sensível, transparente e eficiente por parte do
Estado. Os mesmos grupos e/ou pessoas que honram a memória daquele corajoso negro,
combatente inveterado da escravidão, enfrentam situações das mais estapafúrdias para
continuar na frente de batalha pela arte e a cultura.
O que se espera é que o simbolismo do estilo literário não se transfigure em discurso
simbólico, demagógico e inócuo. É passado o tempo de priorizar-se a transformação pela
cultura: os resultados positivos são inquestionáveis. Questionável é, no entanto, a posição
dúbia e esguia daqueles que se aquartelam no poder da estrutura política e emperram as
ações que visam à libertação do real poder da arte e da cultura do povo e pelo povo.
Para saber mais: http://www.casamilitar.sc.gov.br/decretoCS.htm (decreto); http://www.sol.sc.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=664:medalha-cruz-e-
sousa&catid=102:conselho-estadual-de-cultura&Itemid=153 (agraciados)