REFLEXÕES SOBRE A PROPOSTA DE IMPLANTAÇÃO DE … · em Engenharia e Gestão nas Cidades,...

13
REFLEXÕES SOBRE A PROPOSTA DE IMPLANTAÇÃO DE UM LABORATÓRIO DE ENGENHARIA E GESTÃO DAS CIDADES EM CURSOS DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Jose Andre Villas Boas Mello (Cefet-RJ) [email protected] ANDREA JUSTINO RIBEIRO MELLO (Cefet-RJ) [email protected] Os laboratórios em cursos de graduação têm a principal função de dar suporte às atividades destinadas ao ensino, pesquisa e extensão. Em um curso de Engenharia de Produção a ênfase da formação recai sobre a transformação do meio físico e reecursos naturais, em produtos e serviços necessários ao bem estar da coletividade. Diante de tal perspectiva e da importância de interiorização de cursos de engenharia, destaca-se a relevância de um laboratório que realize estudos sobre os problemas das cidades, simulando de forma realística sobre cenários em busca de alternativas e proposições que melhorem a qualidade de vida das populações. Assim são descritas as possibilidades interdisciplinares que podem ser exploradas nos eixos teóricos previstos em um curso de engenharia de produção. Palavras-chaves: Laboratório, cidades, ensino-apredizagem XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.

Transcript of REFLEXÕES SOBRE A PROPOSTA DE IMPLANTAÇÃO DE … · em Engenharia e Gestão nas Cidades,...

Page 1: REFLEXÕES SOBRE A PROPOSTA DE IMPLANTAÇÃO DE … · em Engenharia e Gestão nas Cidades, fundamentalmente, que seja viabilizado dentro do curso de Engenharia de Produção, buscando

REFLEXÕES SOBRE A PROPOSTA DE

IMPLANTAÇÃO DE UM LABORATÓRIO

DE ENGENHARIA E GESTÃO DAS

CIDADES EM CURSOS DE

ENGENHARIA DE PRODUÇÃO

Jose Andre Villas Boas Mello (Cefet-RJ)

[email protected]

ANDREA JUSTINO RIBEIRO MELLO (Cefet-RJ)

[email protected]

Os laboratórios em cursos de graduação têm a principal função de dar

suporte às atividades destinadas ao ensino, pesquisa e extensão. Em

um curso de Engenharia de Produção a ênfase da formação recai

sobre a transformação do meio físico e reecursos naturais, em

produtos e serviços necessários ao bem estar da coletividade. Diante

de tal perspectiva e da importância de interiorização de cursos de

engenharia, destaca-se a relevância de um laboratório que realize

estudos sobre os problemas das cidades, simulando de forma realística

sobre cenários em busca de alternativas e proposições que melhorem a

qualidade de vida das populações. Assim são descritas as

possibilidades interdisciplinares que podem ser exploradas nos eixos

teóricos previstos em um curso de engenharia de produção.

Palavras-chaves: Laboratório, cidades, ensino-apredizagem

XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no

Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.

Page 2: REFLEXÕES SOBRE A PROPOSTA DE IMPLANTAÇÃO DE … · em Engenharia e Gestão nas Cidades, fundamentalmente, que seja viabilizado dentro do curso de Engenharia de Produção, buscando

XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no

Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.

2

REFLEXÕES SOBRE A PROPOSTA DE IMPLANTAÇÃO DE UM LABORATÓRIO DE

ENGENHARIA E GESTÃO DAS CIDADES EM CURSOS DE ENGENHARIA DE

PRODUÇÃO

Os laboratórios em cursos de graduação têm a principal função de dar suporte às atividades

destinadas ao ensino, pesquisa e extensão. Em um curso de Engenharia de Produção a ênfase

da formação recai sobre a transformação do meio físico e recursos naturais, em produtos e

serviços necessários ao bem estar da coletividade. Diante de tal perspectiva e da importância

de interiorização de cursos de engenharia, destaca-se a relevância de um laboratório que

realize estudos sobre os problemas das cidades, simulando de forma realística sobre cenários

em busca de alternativas e proposições que melhorem a qualidade de vida das populações.

Assim são descritas as possibilidades interdisciplinares que podem ser exploradas nos eixos

teóricos previstos em um curso de engenharia de produção.

Palavras-chaves: Laboratório, cidades, ensino-apredizagem.

INTRODUÇÃO

Até o início da década de 90 a educação de ensino superior no Brasil se localizava

prioritariamente nos centros urbanos, devido tanto a sua maior densidade populacional quanto

a sua importância político-econômica em relação às regiões periféricas ou mais afastadas das

capitais. Entretanto, o adensamento de áreas não centrais se consolidou como alternativa para

camadas populacionais que buscavam moradia

O adensamento dessas áreas associado ao incremento em sua importância política

impulsionou o movimento de interiorização do ensino superior no Brasil, que alcançou o seu

ápice com o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades

Federais - Reuni, do Ministério da Educação.

A interiorização se caracterizou como uma iniciativa do governo federal que deu o alicerce

para o desenvolvimento regional em diversas cidades. Entre 2003 e 2009, 236 cidades que

não eram atendidas por instituições de ensino superior foram atendidas pelo processo de

expansão. Segundo dados do governo publicados no jornal Estado de São Paulo em

03/03/2010, no período, cerca de 20 mil professores e funcionários administrativos

concursados foram contratados.

Um dos pontos que mais se destaca do processo de interiorização é o crescimento dos cursos

de Engenharia no País, área crítica para a viabilização de um desenvolvimento econômico

sustentável e para a qual, as vagas praticamente dobraram, passando de 16.340 para 32.502

entre 2006 e 2010, no entanto, ainda há um déficit considerável de profissionais. Se já era a

área em que mais havia vagas nas federais - isso levando em conta cursos que vão das

tradicionais: mecânica, civil e elétrica a outras mais novas, como têxtil ou ambiental - as

engenharias hoje estão muito à frente da segunda colocada, a área de Letras, que oferece

19.348 vagas a cada ano letivo. (PARAGUAÇU, 2010)

Essa expansão representa uma oportunidade sem igual para o desenvolvimento econômico

local na medida em que amplia o acesso ao ensino superior em determinadas regiões e em que

Page 3: REFLEXÕES SOBRE A PROPOSTA DE IMPLANTAÇÃO DE … · em Engenharia e Gestão nas Cidades, fundamentalmente, que seja viabilizado dentro do curso de Engenharia de Produção, buscando

XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no

Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.

3

cria a oportunidade de que essas próprias regiões transformem-se em “laboratórios” para o

aprimoramento do processo de ensino-aprendizagem. Dessa forma, o conhecimento científico

e tecnológico levado para essas regiões viabiliza que a comunidade local amplie sua visão de

mundo e que a instituição de ensino exerça seu papel de agente de transformação, envolvendo

comunidade acadêmica e comunidade local através do tripé ensino-pesquisa-extensão.

Considerando-se a relevância de uma orientação acadêmica voltada para a manutenção desse

tripé, entende-se como de grande valia para o CEFET/RJ, especialmente no âmbito da

Unidade Descentralizada de Ensino de Nova Iguaçu (UnED/NI), a criação e implementação

tanto de núcleos de pesquisa como de grupos e laboratórios de estudo que permitam o

desenvolvimento e/ou o aprimoramento de práticas que melhorem a qualidade de vida local

através da transformação da realidade econômica, social e/ou política encontrada.

Dentro dessa perspectiva, apresenta-se, a seguir, dentro do âmbito da região de referência da

unidade CEFET/RJ UnED/NI, uma proposta de criação e instalação de um Laboratório de

Estudos Interdisciplinares em Engenharia e Gestão nas Cidades como forma de contribuir

com a construção de um espaço que privilegie estudos e projetos inovadores e essenciais

voltados para as cidades, impulsionando tanto o crescimento local como a criação de soluções

para problemas pontuais enfrentados por Nova Iguaçu e municípios limítrofes que envolvam a

engenharia, em especial a engenharia de produção.

Nesse sentido, entende-se que o objetivo principal deste trabalho é o de provocar reflexões

sobre as possibilidades existentes na criação de um Laboratório de Estudos Interdisciplinares

em Engenharia e Gestão nas Cidades, fundamentalmente, que seja viabilizado dentro do curso

de Engenharia de Produção, buscando compreender de forma abrangente e clara suas

possibilidades, seu dinamismo e suas possíveis limitações além do meio para lidar com elas.

Entende-se que o presente estudo se mostra bastante relevante na medida em que está

alinhado com as orientações das atuais leis educacionais, com a sistemática para a criação de

laboratórios proposta pelo ABEPRO e, em particular com a capacidade do CEFET/RJ em

atender as demandas locais.

2 - DESENVOLVIMENTO MUNICIPAL E A CIDADE DE NOVA IGUAÇU

As investigações teóricas e empíricas disponíveis, tendo como referência os problemas das

cidades periféricas e em particular a cidade de Nova Iguaçu e seu entorno, serviram de base e

inspiração para a formulação desta proposta de criação do laboratório de engenharia e gestão

nas cidades para uma unidade de ensino superior instalada na Região Metropolitana do Rio de

Janeiro (RMRJ) a partir do programa de interiorização do ensino superior.

A RMRJ, também conhecida como Grande Rio, foi instituída pela Lei Complementar Federal

nº20, de 1º de julho de 1974, após a fusão dos antigos estados do Rio de Janeiro e da

Guanabara. Com 11.812.482 habitantes (IBGE/2008), ela se configura como a segunda maior

área metropolitana do Brasil, terceira da América do Sul e 23ª maior do mundo.

Desde sua formação, essa região sofreu muitas transformações em sua delimitação

administrativa e geográfica com a exclusão e a inclusão de alguns municípios. Em termos de

exclusão destacam-se as saídas dos municípios de Petrópolis em 1993, Maricá em 2001 e

Itaguaí e Mangaratiba em 2002. Em contrapartida, foram incluídos os municípios de Belford

Roxo e Queimados em 1993, Tanguá, Japerie Seropédica em 1997 e Mesquita em 2001.

Itaguaí tornou-se novamente município da RMRJ em outubro de 2009, que atingiu um total de

18 municípios.

Page 4: REFLEXÕES SOBRE A PROPOSTA DE IMPLANTAÇÃO DE … · em Engenharia e Gestão nas Cidades, fundamentalmente, que seja viabilizado dentro do curso de Engenharia de Produção, buscando

XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no

Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.

4

Nova Iguaçu, localização da UnED N.I. do CEFET/RJ, é um dos 13 municípios que

compõem a Baixada Fluminense, segunda região mais populosa do estado do Rio de Janeiro,

com mais de três milhões de habitantes. A Baixada Fluminense é parte integrante da RMRJ e

é formada pelos municípios de Duque de Caxias, Nova Iguaçu, São João de Meriti, Nilópolis,

Belford Roxo, Queimados e Mesquita, todos ao norte da cidade do Rio de Janeiro. Além

desses municípios, para alguns estudiosos também podem ser considerados como parte da

Baixada os municípios de Magé e Guapimirim (a leste), Japeri, Paracambi, Seropédica e

Itaguaí (a oeste e noroeste).

“[...] a Baixada Fluminense é a expressão, o resultado, a materialização de uma metrópole

que se reproduziu segregando. A nossa curta história é a de uma região que acelerou seu

adensamento populacional a partir dos anos cinqüenta com o processo de industrialização do

país. As pessoas foram expelidas do centro dinâmico econômico [...] para os novos

loteamentos sem infra-estrutura que surgiam nos poucos municípios da região da Baixada

Fluminense. E assim as pessoas foram vivendo, construindo sua meia-água, abrindo suas

“barracas” para melhorar o orçamento e trabalhando na capital do Estado ou, até 1975, na

Cidade-Estado Guanabara. Daí o velho jargão: as cidades da Baixada são cidades

dormitórios” (OLIVEIRA, 2005).

Essa passagem nos permite perceber um pouco sobre a realidade da ocupação geográfica das

cidades da Baixada Fluminense, cujo crescimento se deu de forma desordenada, sem nenhum

planejamento. Gerando-se um espaço urbano cheio de carências onde a esfera pública não

pôde ou não teve condições de prover a distribuição de serviços públicos de forma organizada

de modo a garantir uma razoável qualidade de vida a todos.

2.1- NOVA IGUAÇU E O CONTEXTO SÓCIO-ECONÔMICO

Nova Iguaçu limita-se com Miguel Pereira

(norte), Duque de Caxias (nordeste), Japeri

(noroeste), Rio de Janeiro (sul), Mesquita

(sudeste), Seropédica (sudoeste), além de

Belford Roxo (leste) e Queimados (oeste).

Denominado Cidade de Nova Iguaçu, desde

1997, pela Lei Complementar nº 006, o

referido município está dividido

administrativamente em 09 Unidades

Regionais de Governo (URG's), conforme

figura 01.

As URGs estão oficialmente agrupadas em

SPIs ("zonas"), levando em conta a posição

geográfica e a história da ocupação. A

organização da cidade de Nova Iguaçu

obedece, atualmente, a duas leis e um

decreto:

Organização do território: definida e

delimitada na Lei nº 006 de 12 de

dezembro de 1997 - Plano Diretor de

Desenvolvimento Urbano Sustentável

(PDDUS) de Nova Iguaçu; e

Figura 01 – URG’s da Cidade de Nova Iguaçu

Page 5: REFLEXÕES SOBRE A PROPOSTA DE IMPLANTAÇÃO DE … · em Engenharia e Gestão nas Cidades, fundamentalmente, que seja viabilizado dentro do curso de Engenharia de Produção, buscando

XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no

Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.

5

Bairros: definidos na Lei nº 2952, de 17 de dezembro de 1998 e delimitados no

Decreto nº 6083, de 12 de janeiro de 1999.

As Unidades Regionais de Governo e seus respectivos bairros estão listados no quadro 01.

URG Bairros Qtde de

Bairros

População e extensão

geográfica

1 Centro, Califórnia, Vila Nova, Caonze, Bairro da

Luz, Santa Eugênia, Jardim Iguaçu, Chacrinha,

Moquetá, Jardim da Viga, Rancho Novo, Vila

Operária, Engenho Pequeno, Jardim Tropical, Prata

15 175.562 habitantes em

40,0877 km2

2 Posse, Cerâmica, Ponto Chic, Ambaí, Nova América,

Carmary, Três Corações, Kennedy, Parque Flora,

Bairro Botafogo

10 117.834 habitantes, em

15,8682 km2

3 Comendador Soares, Ouro Verde, Jardim Alvorada,

Danon, Jardim Palmares, Rosa dos Ventos, Jardim

Pernambuco, Jardim Nova Era

08 108.614 habitantes em

13,089 km2

4 Cabuçu, Palhada, Valverde, Marapicu, Lagoinha,

Campo Alegre, Ipiranga

07 76.350 habitantes em

74,56 km2

5 Km-32, Paraíso, Jardim Guandu, Prados Verdes 04 57.467 habitantes em

30,4140 km2

6 Austin, Riachão, Inconfidência, Carlos Sampaio,

Tinguazinho, Cacuia, Rodilândia, Vila Guimarães

08 96.199 habitantes em

33,8348 km2

7 Vila de Cava, Santa Rita, Rancho Fundo, Figueiras,

Iguaçu Velho, Corumbá

06 63.035 habitantes em

30,8867 km2

8 Miguel Couto, Boa Esperança, Parque Ambaí,

Grama, Geneciano

05 50.872 habitantes em

16,6876 km2

9 Tinguá, Montevidéu, Adrianópolis, Rio D'Ouro,

Jaceruba

05 13.328 habitantes em

253.294 km2

Quadro 01 – Bairros, população e extensão geográfica de cada URG’s de N.I.

Oliveira (2006) a fim de traçar um perfil acerca dos aspectos demográfico, social, econômico,

cultural e de infra-estrutura, selecionou dados da amostra do Censo Demográfico de 2000,

realizando uma hierarquização dos bairros segundo os déficits sociais verificados, e

dividindo-os em cinco intervalos de classe.

TIPO CONDIÇÃO

Sócio-Econômica De Infra-estrutura

1 MELHOR MELHOR

2 ALTA ALTA

3 MÉDIA MÉDIA

4 PRECÁRIA PRECÁRIA

5 ALTA DESVANTAGEM CARÊNCIA

Fonte: Oliveira (2006).

Quadro 02 – Tipologia das Condições Sócio-Econômicas e de Infra-estrutura proposta

Page 6: REFLEXÕES SOBRE A PROPOSTA DE IMPLANTAÇÃO DE … · em Engenharia e Gestão nas Cidades, fundamentalmente, que seja viabilizado dentro do curso de Engenharia de Produção, buscando

XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no

Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.

6

Utilizando-se da tipologia proposta por Oliveira (2006) para classificar os bairros de Nova

Iguaçu é possível identificar os bairros que se encontram em condições mais precárias,

apresentando, consequentemente, maiores demandas a serem atendidas. Informações que

podem ser extraídas a partir da observação do quadro 03, a seguir.

Tipo 1 Tipo 2 Tipo 3 Tipo 4 Tipo 5 Califórnia Boa Esperança Ambaí Adrianópolis Campo Alegre

Caonze Comendador Soares Austin Cabuçu Geneciano

Centro Da Luz Botafogo Cacuia Iguaçu Velho

Chacrinha Da Posse Carmary Carlos Sampaio Jaceruba

Jardim Tropical Da Prata Da Cerâmica Corumbá Montevidéu

Vila Nova Da Viga Da Palhada Danon Rio D'ouro

Rancho Novo Engenho Pequeno Ipiranga Figueiras

Jardim Iguaçu Jardim Alvorada Grama Moqueta Jardim Nova Era Inconfidência

Santa Eugênia Kennedy Jardim Guandu

Marapicu Jardim Palmares

Miguel Couto Jardim

Nova América Pernambuco

Ouro Verde Km 32

Paraíso Lagoinha

Ponto Chic Parque Ambaí

Rosa dos Ventos Parque Flora

Santa Rita Prados Verdes

Tres Corações Rancho Fundo

Valverde Riachão

Vila Operária Rodilândia

Tinguá

Tinguazinho

Vila de Cava

Vila Guimarães

07 bairros 10 bairros 21 bairros 25 bairros 06 bairros

Fonte: Oliveira (2006).

Quadro 03 – Classificação dos bairros de Nova Iguaçu de acordo com a tipologia proposta

Percebe-se a partir dos quadros 02 e 03, que a organização sócio-espacial da cidade de Nova

Iguaçu sob a perspectiva da distribuição atual dos serviços está em desacordo com as

exigências presentes da população. Então, é eminente a necessidade de se realizar um estudo

da real situação entre oferta e demanda dos serviços públicos integrados em rede,

principalmente ao considerarmos a hipótese de que Nova Iguaçu se encaixa no perfil de uma

cidade catalisadora de fluxos, o que torna emergencial a reflexão no eixo das estratégias e

gestão nas cidades.

Apesar de sua centralidade econômica em relação aos outros municípios da Baixada

Fluminense, Nova Iguaçu, cresceu sob um modelo de desenvolvimento não sustentável, no

qual a desigualdade econômica e social encontrou um terreno fértil. Dentro da desigualdade

que se expressa territorialmente, o centro de Nova Iguaçu se constitui em uma “ilha”,

concentrando a população de maior renda, onde 10% dos residentes são empregadores e 19%

profissionais de nível superior (Censo IBGE, 2000). Por outro lado, sua grande periferia o

coloca como o segundo maior município da RMRJ em número de pessoas que vivem na

extrema pobreza e de desempregados.

Page 7: REFLEXÕES SOBRE A PROPOSTA DE IMPLANTAÇÃO DE … · em Engenharia e Gestão nas Cidades, fundamentalmente, que seja viabilizado dentro do curso de Engenharia de Produção, buscando

XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no

Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.

7

De acordo com informações disponibilizadas pela Prefeitura Municipal, Nova Iguaçu ainda é

o maior município da Baixada Fluminense em extensão territorial, com 524,04 km²,

(respondendo por 11,1% da Área Metropolitana), e o segundo em população, estimada em

831 mil habitantes, pelo IBGE (2000). Possui elevada densidade demográfica, 1.449,60

hab/km² – bem acima da média do Estado, que é de 328,08 hab/km².

Mesmo após diversos desmembramentos administrativos que ocorreram ao longo da década

de 90 do século XX e dos anos subseqüentes, por meio de vários processos de emancipação

na Baixada Fluminense, conforme se percebe pela figura 02, Nova Iguaçu continuou sendo

grande tanto na sua dimensão geográfica como econômica e não deixou de ser a principal

referência na região.

Fonte: Atlas Escolar de Nova Iguaçu

Figura 02 – Nova Iguaçu diante dos processos de emancipação na Baixada Fluminense

Essas disparidades justificam um estudo mais profundo e cuidadoso sobre a região de Nova

Iguaçu assim como do modelo de desenvolvimento adotado e seus reflexos sobre a qualidade

de vida da população. Entende-se que a partir dessa observação mais detalhada, será possível

contribuir com propostas concretas que permitam a efetiva transformação econômica e social

do Município de forma mais equitativa e sustentável.

3- O LABORATÓRIO PROPOSTO E A PRÁTICA DA INTERDISCIPLINARIDADE

Page 8: REFLEXÕES SOBRE A PROPOSTA DE IMPLANTAÇÃO DE … · em Engenharia e Gestão nas Cidades, fundamentalmente, que seja viabilizado dentro do curso de Engenharia de Produção, buscando

XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no

Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.

8

Para que o Laboratório de Engenharia e Gestão das Cidades alcance os objetivos a que se

propõe, torna-se indispensável a participação ativa de membros da comunidade acadêmica da

UnED NI, do CEFET/RJ e de pesquisadores locais, formando uma rede de colaboração.

Percebe-se com clareza, que a integração ao projeto de pesquisadores, oriundos de outras

instituições de ensino, assim como da iniciativa privada e de órgãos públicos pertencentes ao

Município de Nova Iguaçu, pode enriquecer a dinâmica de debates e discussões que se

pretende colocar em prática desde sua criação.

Dessa forma, para assegurar a manutenção da pluralidade dos debates, e o caráter

interdisciplinar aqui proposto, os convites inicialmente feitos aos membros da comunidade

acadêmica da UnED NI do CEFET/RJ serão estendidos para outras instituições.

Fazem parte dos objetivos do Laboratório:

- Desenvolver a habilidade de comunicação escrita;

- Consolidar os conhecimentos teóricos e tecnológicos estudados;

- Contribuir para a formação de um Engenheiro de Produção focado na solução de

problemas das cidades;

- Entender as cidades como núcleos em rede com relações sociais e econômicas;

- Estudar o estado das artes das tecnologias das cidades que permitem melhorar a

condição de vida da sociedade como um todo;

- Estudar técnicas de gerenciamento e administração;

- Promover o estudo e o fomento ao empreendedorismo e a inovação nas cidades.

As atividades a serem desenvolvidas serão compostas por conjuntos de tarefas que permitam

ao estudante o desenvolvimento de competências e habilidades que permitam uma sólida

construção de conceitos inerentes à formação do egresso, desse modo, viabilizando a

assimilação dos conhecimentos necessários ao futuro exercício profissional.

O Manual de organização de Laboratórios para cursos de Engenharia de Produção elaborado

pela Comissão de Graduação da ABEPRO, sugere a adoção de uma visão pragmática de

assimilação dos fundamentos subjacentes aos fenômenos de interesse, de modo que a

construção de conceitos inicie-se sobre uma base observacional crítica, orientada pelo

docente, mas construída, passo-a-passo, pelo discente.

De modo especial, o LABCID pretende promover os estudos exploratórios sobre as cidades

em direção a compreensão de temas antes marginalizados pelas perspectivas tradicionais, mas

que agora podem ser tratados de maneira interdisciplinar. Para MORIN, (2002) a pesquisa

focada na prática interdisciplinar consegue formar alunos com a capacidade de “articular,

religar, contextualizar, situar-se num contexto e, se possível, globalizar, reunir os

conhecimentos adquiridos”.

A visão de mundo, pautada na relação entre o todo e as partes, dão o respaldo necessário ao

conceito de interdisciplinaridade. Este conceito está apoiado no entendimento da

complexidade de um tema, se colocando acima das barreiras disciplinares.

Para se fazer interdisciplinaridade, não basta tomar um tema e o desenvolver em torno duas

ou três ciências. A interdisciplinaridade consiste em um objeto novo que não pertença a

ninguém. (MACHADO, 2000).

Page 9: REFLEXÕES SOBRE A PROPOSTA DE IMPLANTAÇÃO DE … · em Engenharia e Gestão nas Cidades, fundamentalmente, que seja viabilizado dentro do curso de Engenharia de Produção, buscando

XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no

Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.

9

AUGUSTO et al (2004) citam que a interdisciplinaridade compreende troca e cooperação,

uma verdadeira integração entre as disciplinas de modo que as fronteiras entre elas tornem-se

invisíveis para que a complexidade do objeto de estudo se destaque. Nesta visão

interdisciplinar, o tema em estudo está acima dos domínios disciplinares.

“a metodologia interdisciplinar parte de uma liberdade científica, alicerça-se no

diálogo e na colaboração, funda-se no desejo de inovar, de criar, de ir além e exercita-

se na arte de pesquisar” (FAZENDA, 1994, p. 69).

Segundo CREMASCO (2009), o profissional de engenharia precisa possuir um perfil de

formação generalista, humana e reflexiva, e ser capacitado a absorver e desenvolver novas

tecnologias, desenvolvendo a sua atuação crítica e criativa na identificação e resolução de

problemas oriundos da atual época, se tornando um profissional capaz de moldar-se às novas

necessidades.

4- ASPECTOS CONTRIBUTIVOS E LEGAIS DO LABORATÓRIO

A aplicação da perspectiva interdisciplinar conduz a engenharia a ser percebida como uma

ciência capaz de conceber e implementar soluções científicas, a partir de um projeto, um

sistema integrado de ações e objetos, que assegurem o crescimento econômico sustentável de

uma cidade.

Essa definição reforça, de um lado, que a engenharia tem por base a ciência, mas que,

enquanto a ciência tem por objetivo originar novos conhecimentos, a engenharia visa resolver

diretamente problemas práticos mediante a criação de dispositivos, estruturas e processos.

Para tal, a engenharia parte de um projeto que possui como características: unicidade do

objeto, limitação do tempo de sua concepção, bem como um objetivo definido que instrui suas

metas de desempenho.

De acordo com as diretrizes da ABEPRO compete ao Engenheiro de Produção, o projeto, a

modelagem, a implantação, a operação, a manutenção e a melhoria de sistemas produtivos

integrados de bens e serviços, envolvendo homens, recursos financeiros e materiais,

tecnologia, informação e energia. Dessa forma, em uma visão ampla, produzir é mais que

simplesmente utilizar conhecimento científico e tecnológico. É necessário integrar fatores de

natureza diversos, atentando para critérios de qualidade, produtividade, custos,

responsabilidade social entre outros.

“Compete ainda especificar, prever e avaliar os resultados obtidos destes sistemas para a

sociedade e o meio ambiente, recorrendo a conhecimentos especializados da matemática,

física, ciências humanas e sociais, conjuntamente com os princípios e métodos de análise e

projeto da engenharia”.

“A Engenharia de Produção, ao voltar a sua ênfase para características de produtos (bens e/ou

serviços) e de sistemas produtivos, vincula-se fortemente com as idéias de projetar e viabilizar

produtos e sistemas produtivos, planejar a produção, produzir e distribuir produtos que a

sociedade valoriza. Essas atividades, tratadas em profundidade e de forma integrada pela

Engenharia de Produção, são fundamentais para a elevação da qualidade de vida e da

competitividade do país”.

Diante de tais premissas, entende-se que a Baixada Fluminense, mais especificamente Nova

Iguaçu e as cidades adjacentes possam se constituir em laboratório de estudos relacionados à

engenharia de produção, sob múltiplas perspectivas, e em diversos campos de conhecimento

Page 10: REFLEXÕES SOBRE A PROPOSTA DE IMPLANTAÇÃO DE … · em Engenharia e Gestão nas Cidades, fundamentalmente, que seja viabilizado dentro do curso de Engenharia de Produção, buscando

XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no

Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.

10

científico e técnico. Portanto, as cidades em suas áreas de transporte, educação, saúde,

habitação, lazer, demandam pesquisas que identifiquem e solucionem problemas, melhorando

a qualidade de vida e a eficácia municipal. A UnED Nova Iguaçu do CEFET/RJ está no

“centro” de uma região que sofre os efeitos do fenômeno das conurbações e grandes

concentrações demográficas de populações empobrecidas, tão peculiares da América Latina.

O LABCID envolve-se com esse contexto na medida em que se propõe a aprimorar o

entendimento crítico dessa realidade. A partir desse amadurecimento prévio, entende-se que é

possível contribuir com projetos inovadores que permitam a identificação clara das lacunas,

seus aspectos qualitativos e a conseqüente qualificação dos serviços públicos. O que, entende-

se como passo fundamental para o alcance do desenvolvimento sustentável na região.

Além de seu aspecto contributivo, a presente proposta está amparada nas determinações legais

da Lei de Diretrizes e Bases da Educação - Lei Nº 9394 de 20 de dezembro de 1996, com

particular atenção ao artigo 43 que baliza as ações a serem desenvolvidas no âmbito de um

projeto de curso de graduação. Art. 43. A educação superior tem por finalidade:

I - estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito científico e do pensamento

reflexivo;

II - formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores

profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na

sua formação contínua;

III - incentivar o trabalho de pesquisa e investigação científica, visando o desenvolvimento da

ciência e da tecnologia e da criação e difusão da cultura, e, desse modo, desenvolver o

entendimento do homem e do meio em que vive;

IV - promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem

patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicações ou de outras

formas de comunicação;

V - suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento cultural e profissional e possibilitar a

correspondente concretização, integrando os conhecimentos que vão sendo adquiridos numa

estrutura intelectual sistematizadora do conhecimento de cada geração;

VI - estimular o conhecimento dos problemas do mundo presente, em particular os nacionais e

regionais, prestar serviços especializados à comunidade e estabelecer com esta uma relação de

reciprocidade;

VII - promover a extensão, aberta à participação da população, visando à difusão das

conquistas e benefícios resultantes da criação cultural e da pesquisa científica e tecnológica

geradas na instituição.

Considerando-se o exposto, evidencia-se que essa interação da Instituição de Ensino com a

sociedade é relevante não somente para essa última, que pode ser beneficiada por projetos

dessa natureza, como para os estudantes, que podem se tornar atores relevantes nesse processo

de transformação da teoria em prática, requisitos fundamentais para se tornarem profissionais

qualificados.

Diante dessa perspectiva ALVES et al (2006), apresenta que a Lei de Diretrizes de Base

sugere a intencionalidade em romper com alguns paradigmas estabelecidos, talvez o maior

deles seja a mudança do foco do ensino de conteúdos (“instrucionismo”) para evidenciar a

aprendizagem dos alunos. A aprendizagem não deve ser encarada como um produto final e

sim como um processo contínuo, onde o erro e a dúvida são peças fundamentais. A

Page 11: REFLEXÕES SOBRE A PROPOSTA DE IMPLANTAÇÃO DE … · em Engenharia e Gestão nas Cidades, fundamentalmente, que seja viabilizado dentro do curso de Engenharia de Produção, buscando

XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no

Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.

11

equiparação das cargas curriculares entre teoria e prática é outra recomendação proposta pela

nova lei. A prática deverá incluir uma permanente reflexão sobre como é que se aplica o

conhecimento nas questões concretas da vida.

Fazendo referência a um projeto político pedagógico centrado na aprendizagem

reconstrutivista, ALVES et al (2006) destaca que deve haver o cuidado em torno do espaço

físico e condições de funcionamento da escola, incluindo aí a preocupação com o entorno da

escola. É necessário enfatizar o caráter qualitativo das pesquisas científicas e a valorização de

uma postura reflexiva permanente dos pesquisadores em relação à metodologia, a

epistemologia e a ontologia em relação ao modelo adotado e ao fenômeno.

5- ÁREAS DE ATUAÇÃO

Com base em uma reflexão a respeito da Engenharia de uma Cidade Sustentável, o LABCID

pretende estudar como a melhoria da qualidade de vida pode ser alcançada, lançando uma

pauta de debates e estudos que investiguem a evolução urbana e a referida demanda de infra-

estrutura e de serviços públicos.

Segundo MARTINARD (1986), a engenharia urbana é a “arte de conceber, de realizar e de

gerenciar sistemas técnicos urbanos; o termo sistemas técnicos urbanos tem dois significados:

o primeiro enquanto rede suporte, isto é, uma dimensão física, e o segundo enquanto rede de

serviços”. Por exemplo, o sistema de abastecimento de água de uma cidade tem a dimensão

física da rede de distribuição de água, com as tubulações, os equipamentos de tratamento de

água, captação, etc. No entanto é também imprescindível levar em consideração a dimensão

dos serviços prestados de operação e de manutenção da rede e dos equipamentos, tarifação e

cobrança pelo serviço prestado, controle da qualidade da água e muitos outros aspectos de

gerenciamento deste sistema.

Essa ênfase comporta tanto discussões mais amplas e abstratas como a temática do

desenvolvimento propriamente dito como também diversas temáticas mais específicas

relacionadas à infra-estrutura de uma região. Nesse último aspecto, enquadram-se os diversos

tipos de serviços públicos existentes como saúde, educação, transportes, segurança, lazer,

esportes etc.

A existência do LABCID poderá propiciar o desenvolvimento de novos projetos de pesquisa

tanto na modalidade de iniciação tecnológica e/ou iniciação científica, bem como na

modalidade de trabalhos de conclusão de curso. Por trás das reflexões sobre “cidades” estarão

enfoques e questões históricas da engenharia de produção, tais como: arranjo produtivo local,

clusters, inovação, estratégias organizacionais, estudos de localização, etc. Dada essa

abrangência, evidencia-se a necessidade do estabelecimento de uma agenda de trabalho que se

inicia com foco metodológico exploratório, para posteriormente, traçar os passos

subseqüentes a esse.

Percebe-se que dentre os frutos a serem colhidos com a sua implementação está a criação de

projetos com caráter extensionista e o aprimoramento do ensino tanto nas disciplinas já

existentes como a partir da criação de disciplinas eletivas relativas às temáticas tratadas nesse

âmbito. Dentro das disciplinas cria-se o espaço para tratar de projetos de infra-estrutura,

planejamento e ordenamento da cidade, planejamento e gestão dos serviços, políticas

públicas, desenvolvimento sócio-econômico, gestão de projetos, dentre outras possibilidades.

Embora a presente proposta considere essencial um debate mais amplo com os diversos

membros do LABCID para a construção conjunta de uma agenda de trabalho, estabelece-se a

Page 12: REFLEXÕES SOBRE A PROPOSTA DE IMPLANTAÇÃO DE … · em Engenharia e Gestão nas Cidades, fundamentalmente, que seja viabilizado dentro do curso de Engenharia de Produção, buscando

XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no

Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.

12

seguir 6 temários de estudo que podem ser ajustados de acordo com o interesse local e foco

institucional, e possíveis eixos de atuação do Laboratório no âmbito da pesquisa.

Temários / Eixos

Est

raté

gia

Fin

ança

s

Ges

tão

Qu

alid

ade

Tec

no

log

ia

Mer

cad

olo

gia

Pro

cess

os

Fo

rmaç

ão

em

En

gen

har

ia

Eco

no

mia

Transportes: Mobilidade Urbana; Legislação; O Aeromóvel de Nova

Iguaçu como uma tecnologia de transporte limpa baseada em propulsão

pneumática; TransBaixada; Arco Metropolitano. x x x x x x x

Saúde: Demandas locais e gerenciamento da qualidade do atendimento; x x x x x x x

Educação: Modelos Educacionais; Tecnologias Educacionais; Demandas

Profissionais. x x x x x x x x

Desporto e Lazer: Megaeventos. x x x x x x

Empreendedorismo e Desenvolvimento Regional: Projeto de

Produto Imobiliário e Avaliação Mercadológica em Nova Iguaçu; Recente

centralidade e Empreendedorismo por oportunidade em Nova Iguaçu;

Motivação e Gestão em Empreendedorismo; Agronegócio; PPPs.

x x x x x x x x

Inovação Tecnológica: Patentes; Tecnologias para o varejo; Redes de

Empresas e Gestão da Cadeia Produtiva; Inovação. x x x x x x

6 – CONCLUSÃO

Dentro de uma perspectiva apropriada, percebe-se que a proposta de criação de um

Laboratório de Estudos Interdisciplinares em Engenharia e Gestão nas Cidades,

fundamentalmente, que seja viabilizado dentro do curso de Engenharia de Produção, permite

o surgimento de um espaço privilegiado para o fortalecimento e aprimoramento do processo

de ensino-aprendizagem.

Esse aprimoramento é viabilizado por uma cultura amparada no tripé ensino-pesquisa-

extensão, na qual o aluno passa a conviver com problemas reais, contribuindo efetivamente

para a identificação e implementação de soluções adequadas e factíveis dentro de um espaço

de interação entre as comunidades acadêmica-científica e a comunidade local.

O próprio processo de expansão baseado na interiorização do ensino superior trouxe à tona

essa possibilidade ímpar ao privilegiar regiões até então totalmente abandonadas pelo poder

público em praticamente todas as esferas do serviço público.

Ou seja, a infra-estrutura deficitária torna-se um espaço no qual alunos, professores,

pesquisadores, comunidade e poder público podem desenvolver uma dinâmica própria para a

solução dos problemas das cidades.

Page 13: REFLEXÕES SOBRE A PROPOSTA DE IMPLANTAÇÃO DE … · em Engenharia e Gestão nas Cidades, fundamentalmente, que seja viabilizado dentro do curso de Engenharia de Produção, buscando

XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no

Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.

13

Dessa forma, o laboratório aqui proposto torna-se um meio através do qual a instituição de

ensino pode exercer seu papel de agente transformador, propiciando o desenvolvimento local

sustentável ao mesmo tempo em que atende à demanda por engenheiros. Mas vale ressaltar, o

engenheiro de produção proveniente dessas práticas é um engenheiro diferente, mas sensível

às necessidades da sociedade ao mesmo tempo em que entende com maior clareza o poder de

sua atuação.

7- BIBLIOGRAFIA

ABREPO. Laboratórios recomendados para o curso de engenharia de produção. Reunião

conjunta do GT Graduação, GT Pós-Graduação e Diretoria da ABEPRO. 2008

ALVES C.H.F., LEAL M.G.F.L., VIEIRA A.T. Proposta de projeto pedagógico para um

curso de engenharia de multimídia no cefet/RJ. COBENGE 2006.

AUGUSTO T.G.S., CALDEIRA A.M.A., CALUZI J.J., NARDI R. Interdisciplinaridade:

concepções de professores da área ciências da natureza em formação em serviço. Revista

Ciência e Educação. 2004.

CREMASCO, M. A. . A responsabilidade social na formação de engenheiros. In: Instituto

Ethos de Empresa e Responsabilidade Social. (Org.). Responsabilidade social das empresas. 1

ed. São Paulo: Editora Peirópolis, 2009.

FAZENDA, I. C. A. Interdisciplinaridade: história, teoria e pesquisa. Campinas: Papirus,

1994. (Coleção Magistério: Formação e Trabalho Pedagógico)

FIRJAN. Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro. Índice Firjan de

Desenvolvimento Municipal. Disponível em <http://www.firjan.org.br>. Acesso em 10 de

setembro 2010.

MACHADO, N. J. Educação: projetos e valores. 3. ed. São Paulo: Escrituras, 2000.

MARTINARD, C. Le génie urbaine, Rapport au Ministre de l´Équipment, du Logement, de

l´Aménagement du Territoire et des Transports. La documentation française, Paris. 1986.

MORIN, E. Educação e complexidade: os sete saberes e outros ensaios. São Paulo: Cortez,

2002.

OLIVEIRA, D. S. Geografia das desigualdades sócio-espaciais: o caso do município de Nova

Iguaçu na Baixada Fluminense. In: XV Encontro Nacional de Estudos Populacionais.

Caxambu / Minas Gerais. XV Encontro Nacional de Estudos Populacionais, 2006.

PARAGUAÇU, L. Número de vagas nas federais cresce 63% em quatro anos. Jornal O

Estado de São Paulo. 03/03/2010

TURETA, C. A virada prática nos estudos de estratégia. RAE, Vol. 47, Nº 4. 2007