II – COMBATENDO OS VENTOS DE DOUTRINAS. II – COMBATENDO OS VENTOS DE DOUTRINAS.
REFLEXÕES SOBRE A TRADUÇÃO NO BRASIL … da primeira versão brasileira de O morro dos ventos...
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REFLEXÕES SOBRE A TRADUÇÃO NO BRASIL
Aluna: Marcela Lanius
Orientadora: Marcia Amaral Peixoto Martins
Introdução e Objetivos
Esta pesquisa teve como objetivo analisar, a partir de prefácios ou textos afins
que acompanham edições traduzidas e são de autoria dos próprios tradutores ou dos
editores, as reflexões, posicionamentos e opiniões destes acerca de temas como o
processo tradutório, as dificuldades enfrentadas durante a tradução e a visão sobre a
tradução como uma arte e também como um ofício. O exame de tais textos possibilitou
a obtenção de outros dados de extrema relevância para que um panorama não apenas
literário, mas também histórico, político e social fosse formado, como por exemplo:
quais eram as editoras que cediam espaço para que seus tradutores pudessem se
expressar, e quais tradutores transcenderam esse papel e elaboraram reflexões sobre sua
atividade.
Nesta etapa do projeto, que dá continuidade aos estudos iniciados em 2009/2,
buscamos levantar o corpus das obras literárias norte-americanas e britânicas que foram
traduzidas especialmente nas décadas de 1930, 40 e 50. Esse recorte foi feito diante do
grande impulso tomado pela tradução no período, devido a fatores como medidas
econômicas que garantiram a expansão da indústria editorial. Segundo José Paulo Paes
(1990, p. 9-10), os anos 1940 e 1950 constituíram a época áurea da tradução no Brasil.
De modo geral, os dados coletados puderam proporcionar um panorama interessante
sobre as ideias a respeito da tradução que circularam no Brasil durante as décadas de
maior expansão desta atividade, a partir das palavras e considerações dos principais
atores desse movimento: os tradutores.
Metodologia
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Para a compilação do corpus necessário, buscamos inicialmente os autores de
língua inglesa considerados como mais populares, além das obras literárias mais
conhecidas – e que, portanto, seriam as primeiras a serem traduzidas para o português.
Uma vez reunidas todas cinquenta e cinco obras, foi feita uma análise mais detalhada de
cada volume, procurando edições que continham reconhecimento e/ou análise do
trabalho do tradutor, por meio de paratextos como introduções/apresentações, textos de
orelha e/ou quarta capa e, principalmente, prefácios, posfácios e notas extensas. As
obras foram pesquisadas na Biblioteca da PUC-Rio e também em lojas de livros antigos
e usados situadas principalmente no centro da cidade do Rio de Janeiro.
Conclusões
Foram encontradas, dentre os volumes pesquisados, reflexões importantes acerca
do processo tradutório pelo olhar dos próprios tradutores. Além disso, pudemos analisar
o destaque inédito dado a estes na publicação de coleções inéditas traduzidas para o
português.
As colocações feitas pelo tradutor Paulo Rónai na década de 1950 são de
extrema importância para a construção de um posicionamento sobre a tradução e o
papel do tradutor.
Outras importantes reflexões foram feitas pelos tradutores das obras de Oscar
Wilde, João do Rio (Paulo Barreto) e Oscar Mendes.
Cabe destacar, ainda, o ineditismo da correspondência entre o autor e seu
tradutor, como é o caso do volume analisado de “... E o vento levou”, de autoria de
Margaret Mitchell e tradução de Francisca de Basto Cordeiro.
É importante dar crédito às editoras que cederam espaço e reconhecimento aos
tradutores. São elas a Livraria José Olympio Editora, Irmãos Pongetti Editores, Editora
do Autor, Editora Civilização Brasileira S.A. e Editora Globo.
A partir deste ponto, apresentaremos os tradutores e suas reflexões.
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Francisca de Basto Cordeiro
A tradutora da primeira edição de ... E o vento levou, publicada no Brasil em 1940, traz
em seu volume não as suas impressões sobre o processo tradutório, mas uma inédita
correspondência com a autora, Margaret Mitchell.
Esta carta é de extrema relevância para a pesquisa, uma vez que retrata uma faceta
inédita dentro das reflexões sobre a tradução: o posicionamento do autor frente ao
trabalho do tradutor – no caso, valorizando-o, o que não é muito frequente. É
interessante analisar como Mitchell assume as dificuldades tradutórias encontradas em
sua obra e provavelmente apontadas por Basto Cordeiro em sua primeira quarta, a qual
não tivemos acesso. Na resposta publicada, lê-se (grifos nossos):
“ ATLANTA, GEORGIA, 27 de Junho de 1939
Minha prezada Sra. De Basto Cordeiro,
Muito lhe agradeço a sua carta de 8 de Junho referente ao trabalho que lhe deu a
tradução portuguesa do “Gone with the Wind”. Tudo quanto me diz respeito
interessou-me imenso, pois, como bem pode imaginar, as excursões do meu livro por
países longínquos e idiomas estrangeiros, são para mim do maior agrado. Reconheço
quanto a sua obra de tradutora deve ter sido delicada e difícil porque “Gone with the
Wind” não só está repleto de gíria, como cheio de modismos meridionais.
Foi propositadamente que assim escrevi, esperando poder transmitir um pouco do
sabor regional da minha Georgia. Enquanto escrevi o “Gone with the Wind”, não
imaginei a possibilidade de vir a ser traduzido. Se a tivesse adivinhado, talvez tivesse
tido um pouco de piedade dos meus tradutores!
Agradeço-lhe a maneira pela qual ajeitou o dialeto dos negros. A natureza dos
negros tem sido a pedra em que tropeçam algumas versões estrangeiras, uma vez que
não existe população negra em muitos países europeus tornando-se portanto,
intraduzível a sua maneira de falar. Ao ler a sua carta ficou-me a certeza da
excelência da sua tradução. Lamento não me ser possível lê-la em português, língua
absolutamente desconhecida para mim.
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Tenho lido muita coisa sobre o Brasil e acho interessantíssimos os contos regionais.
O Brasil encantou sempre a minha imaginação desde a minha infância quando lia (e
ouvia contar) histórias de Confederados que, não se conformando com a rendição do
general Lee em Appomattox, foram para o Brasil com suas famílias. Quanta narrativa
ouvi, sobre esses “Irredutíveis”, e de como, depois de haverem perdido todos os seus
escravos nos Estados-Unidos e reduzidos à pobreza, viram repetir-se a mesma situação
com a abolição da escravatura no Brasil.
É muito amável da sua parte augurar a simpatia que Scarlett, Rhett e outros dos
meus personagens despertarão no Brasil. Terei imenso prazer em que a profecia se
realize. Tenho a certeza de que o sucesso do meu livro será devido à sua formosa
tradução.
Cordialmente,
MARGARET MITCHELL MARSH”
O tradutor desconhecido de Oscar Wilde
Na tradução de O Fantasma de Canterville, datada de 1945 e infelizmente com o
nome do tradutor não mencionado, não foram encontrados relatos sobre o processo
tradutório desta obra. Contudo, na nota explicativa do volume, encontramos um
parágrafo em que o famoso tradutor João do Rio é citado. Lê-se:
“Dizia o nosso saudoso João do Rio, um de seus mais fiéis tradutores, que ‘para
traduzir Wilde é preciso ver que a sua obra é como os mosaicos das basílicas antigas,
como as tapeçarias de Arácio, como as rendas, como os tecidos, imagens que se
justapõem e, muitas vezes, ingênuas, sugerem grandes coisas e, outras, perversas,
prendem e apavoram.”
Rachel de Queiroz
Tradutora da primeira versão brasileira de O morro dos ventos uivantes, é importante
ressaltar que este volume em particular dá enorme crédito à tradutora – possivelmente
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por já ser uma escritora famosa. Nele, as obras da tradutora aparecem antes mesmo do
que a listagem das obras da autora do original. Além disso, esta versão é a única que
recebeu o nome de O morro do vento uivante, no singular – o que pode indicar certa
influência e poder por parte da tradutora, como revela a nota reproduzida abaixo:
“NOTA À 1ª EDIÇÃO BRASILEIRA
(...)
* * *
O título desta tradução O Morro do Vento Uivante devem-no a tradutora e os
editores à precisa trouvaille literária de Tasso da Silveira, no seu poema “Balada de
Emily Brontë”, publicado no livro “As imagens acesas” em 1928. Muito gratos ficamos
ao ilustre poeta por nos haver permitido usá-lo, certos de que outra versão mais feliz
não existe para o Wuthering Heights original.
R.Q
Ilha do Governador, março de 1947.”
Mário Mascherpe
Tradutor da primeira – e possivelmente única – tradução do livro de J. P Donleavy
intitulado Sexta-feira Triangular, Mascherpe produziu uma extensa reflexão sobre sua
tradução da obra, que vem publicada nas orelhas da edição de 1967 (grifos nossos):
“ Sexta-feira Triangular (...) apresentará ao leitor aspectos difíceis de elucidar,
como antes ofereceu ao tradutor dificuldades em pontos diversos: o estilo, a crua
linguagem com sabor de gengibre, a mistura de planos em que se processa a ação.
Traduzido para o português não poderia adotar o estilo dos homens pacíficos
que vivem numa terra alheia à guerra, inundada de sol onde tudo parece sólido e novo.
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A tradução devia – como aconteceu, aliás através de um trabalho constante de
fidelidade do tradutor – conservar os aspectos inalienáveis de seu estilo. (...)
A crueza dos termos, traduzida, chocaria os menos avisados, que não
procurassem descobrir (...).
Para os que captaram a realidade total da obra, porém, a crueza da linguagem,
oportuna, é exigência de fidelidade a uma tecedura artística que não se pode desfigurar
sem trair.”
É interessante observar que todo o trabalho do tradutor foi baseado no conceito da
fidelidade deste ao original e, para ele esse é o único motivo de ser o resultado final bem
sucedido.
Paulo Barreto (João do Rio)
No volume de Intenções que foi analisado, o tradutor faz dois importantes comentários
sobre a tradução, nas páginas 5 -22. São eles (grifos nossos):
“Aos Editôres
(...) dou com as provas das Intenções sobre a mesa de trabalho.
Há quanto tempo andam essas provas comigo, à espera de um prefácio! Lembra-me
bem o trecho da vossa carta: “Desde que o seu desejo e o nosso é de divulgar as obras
do Grande Poeta em língua portuguesa, desde que a comum vontade é tornar bem
conhecido Wilde, achamos de absoluta necessidade um prefácio do tradutor. Wilde é
tão mal conhecido...”
A princípio não vos dei razão, preso ao temor de não poder dizer as coisas magníficas
que deviam ser ditas em se tratando do maior poeta moderno, de gênio inquieto e
prestigioso. Quando um homem não faz profissão de tradutor – o traduzir um obra
única significa bem a admiração absoluta. Quando esse homem não é propriamente
um cretino e dá provas de saber, de compreender a beleza, a sua admiração basta para
indicar ao público o trabalho de incomparável destaque. Para que um prefácio e
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principalmente às Intenções que são como o prefácio da obra de Vida e de Beleza de
Wilde? Ao traduzir a prodigiosa Salomé – que o público amou e da qual alguns
pobres homens sem espírito falaram felizmente mal – eu me limitara a algumas notas
biográficas, um esqueleto cronológico. Ao traduzir Intenções, jamais me acudiria a
possibilidade de interpretar em meia dúzia de páginas a arte, o poder sugestivo, a
fascinação assombrosa do gênio irlandês. Para que um prefácio? Vi porém que o
vosso desejo persistia, e tristemente comecei a ler não os livros que a respeito do Poeta
tem sido escritos, mas os prefácios, os lamentáveis prefácios que as inúmeras traduções
das suas obras fizeram escrevinhar publicistas da França, da Itália, de outros países.
(...)”
1911.
“Nota
Esta tradução foi feita sobre a edição inglesa, publicada em Paris, com o auxílio de
traduções italianas e francesas. As notas explicativas das alusões e referências do
texto são da tradução francesa. Aproveitamo-las porque expõem amplamente o que a
um leitor pouco conhecedor da vida inglesa, seria difícil compreender. Como na
tradução de Salomé, e como nas outras obras de Wilde a aparecer, não nos moveu o
intuito senão de trasladar com o seu movimento, as suas insistências, os seus ritmos, a
sua inconfundível feição ao trabalho do poeta. Seria profundamente disparatado, o
desejo de alguns espíritos de má vontade à aparição da Salomé; que o tradutor fizesse
da tradução uma obra sua – (...) ou lhe tirasse a fisionomia dando-lhe um outro
estilo. Traduzir Wilde no estilo de João de Barros seria tão estapafúrdio como
traduzir Coelho Netto no estilo de Montaigne. (...) O estilo é a aparência da alma, é a
roupagem das ideias e dos sentimentos – é a pressão, a atitude escrita. (...) Para
traduzir Wilde é preciso ver que a sua obra é como os mosaicos das basílicas antigas,
como as tapeçarias de Aracio, como as rendas, como os tecidos, imagens que se
justapõem e, muitas vezes, ingênuas, sugerem grandes coisas e, outras, perversas,
prendem e apavoram. (...). Exatamente por isso que procuramos quanto possível
conservar-lhe a característica.
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Essas reflexões são extremamente interessantes, visto que retratam não apenas as
colocações do tradutor a respeito de traduzir um escritor cuja fama o precede, mas
também o fato de que a editora pediu ao tradutor por um prefácio – pois, segundo
infere-se, apenas o seu tradutor pode conhecê-lo a fundo.
Além disso, Barreto também traduziu Salomé, na década de 1960 (o volume não
contém o ano exato de publicação). Nele, ele redige uma pequena nota sobre a tradução,
em que admite para o leitor que a tradução em questão não é direta:
“Do poema francês fizeram-se logo inúmeras traduções, porque este admirável
poema já foi representado e editado em italiano, alemão, austríaco, russo e até em
japonês. Naturalmente todas essas traduções tiveram como o texto, não o original
francês, mas a tradução inglesa que apareceu com ilustrações de Beardsley. Foi por
essa tradução que nos guiamos.”
Oscar Mendes
No volume que contém a obra completa de Oscar Wilde – inteiramente traduzida por
um único tradutor – há um relato, não deste, mas sim da editora, onde se lê (grifos
nossos):
“Os textos das duas edições em que nos baseamos foram conferidos de modo a
evitar discordâncias e, ocorridas estas, deu-se preferência ao texto inglês da edição
Collins. (...)
Para dar unidade à tradução, e garantir, tanto a sua fidelidade quanto a
acurada versão no vernáculo dos não infreqüentes requintes do original, foi ela
inteiramente ao escritor e crítico literário Oscar Mendes, a quem já se deve a das
Obras Completas de Edgar Poe (...), Tolstoi, Dickens, Pasternak, Emily Brontë,
Conan Doyle, Pearl Buck e Sandburg. Ele é, também, o autor das notas introdutórias,
que muito ajudarão o leitor na compreensão da obra, do autor, e da sua
circunstância.”
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Além disso, há um segundo relato na página 789 do livro. Na nota preliminar redigida
pelo tradutor Oscar Mendes sobre a peça The Importance of Being Earnest lê-se (grifos
nossos):
“A peça é um verdadeiro fogo de artifício de graça, de enredo, de pilhéria, de
sátira, de absurdos, de situações cômicas, de qüiproquós, tudo repleto de frases de
espírito, de disparates, de irreverências, de contrastes cômicos, de palavras, entre o
nome Earnest (Ernesto) e o adjetivo earnest, sério, grave, importante, formal.
Traduzindo para o português esta peça, o poeta Guilherme de Almeida achou uma
solução para o trocadilho, com o nome próprio Prudente e o adjetivo prudente,
solução que, data vênia, aqui também adotamos.”
Nesse exemplo, pode-se analisar novamente a importância creditada ao tradutor pela
editora em questão. Para manter a concisão de um volume de obras completas e manter
um mesmo estilo, um único tradutor foi escolhido.
Alvaro Alencar, Antônio Rocha, Jório Dauster
Os três tradutores acima traduziram a primeira edição da simbólica obra de Salinger, O
apanhador no campo de centeio. No volume analisado, pode-se inferir que houve uma
correspondência entre os tradutores e o autor da obra, visto que há uma nota no início
do livro que diz:
“Os três diplomatas brasileiros que fizeram a presente tradução escolheram o
título ‘A Sentinela do Abismo’. O Autor preferiu, entretanto, intitulá-lo ‘ O Apanhador
no Campo de Centeio’”.
Essa passagem reflete não apenas a interpretação que os autores tiveram sobre a obra,
mas também o envolvimento do autor em escolher, para a língua portuguesa, o título
que lhe convinha – fato que pode demonstrar uma possível preocupação do autor com o
público que viria a ler a sua obra traduzida.
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Nelson Rodrigues
Apesar de ser conhecido como cronista e também por suas peças, e não por seu trabalho
como tradutor, Nelson Rodrigues foi de fato um tradutor muito ativo. O volume aqui
analisado traz um pouco o prestígio de ter um tradutor que, na época, já era um escritor
consagrado – e, portanto, possivelmente atrairia um público maior para a obra em
questão. É o que se pode ler nas abas do livro, nas quais o último parágrafo diz:
“ O responsável pela tradução é um nome que dispensa comentários. Nelson
Rodrigues, profundo e celebrado conhecedor das tramas e das realidades do sexo na
vida contemporânea e da alma feminina, estava sem dúvida mais apto do que ninguém
a pôr em relevo todas as intenções e todas as intensidades que compõem este livro
palpitante e único.”
Rubem Braga
Assim como Nelson Rodrigues, Rubem Braga é mais conhecido por sua carreira como
escritor do que como tradutor. Contudo, é ele o autor do romance Terra dos homens, de
Antoine de Saint-Exupéry. Na segunda edição feita para o livro, há um relato de Braga
que foi mantido em todas as edições seguintes, reproduzido abaixo:
“NOTA DO TRADUTOR
Revendo meu trabalho para a segunda edição brasileira deste livro, devo
apresentar agradecimentos a um leitor que fez, em carta, a crítica de minha tradução.
Trata-se do Sr. Charles Astor, aviador francês, que vive em nosso país. Acolhi quase
todos os reparos de sua crítica autorizada, e muito lhe agradeço as lições que me deu.
R. B.
Rio, julho de 1946.”
Nele, pode-se ver a postura de humildade que o tradutor assume, além de aceitar o fato e
que sua tradução é uma obra em progresso, nunca concluída – outra faceta inédita dos
tradutores até aqui analisados.
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J. L. Costa Neves
Apesar do tradutor de David Copperfield não ter produzido nenhum relato sobre o
processo tradutório no volume analisado, a edição carrega consigo uma nota redigida
pela editora, na qual o último parágrafo tece elogios à tradução, enfatizando a questão
da fidelidade ao estilo do autor:
“A tradução de Costa Neves é um poema de compreensão e fidelidade.
Conservando a simplicidade do estilo de Dickens, soube manter todas as virtudes que
fazem desse autor um dos maiores romancistas do mundo.”
Gilberto Miranda
O tradutor do romance de James Baldwin, intitulado Numa Terra Estranha, não tece
nenhum comentário específico sobre o processo tradutório. Contudo, na primeira página
da 1ª edição – a página que precede a narrativa – contém o seguinte aviso, que não é
assinado explicitamente pelo tradutor ou pela editora, mas ressalta a tradução como um
veículo da difusão da literatura:
“Êste livro destina-se a leitores adultos: sob nenhum pretexto deve ser posto na
mão de menores. Ao traduzir para português esta aterradora história do submundo de
Nova York, a intenção da Editora Globo foi dar a conhecer ao público brasileiro uma
que o crítico americano Granville Hicks considera “um dos mais poderosos romances
de nossa época.”
Sodré Vianna, Marques Rebelo e Olimpio Monteiro
Os três tradutores acima são responsáveis por uma edição de três contos de Anatole
France, no qual cada um traduziu um conto. Mas, apesar de não haver relato dos
tradutores sobre o trabalho, é importante ressaltar – novamente – o destaque oferecido
aos tradutores; seus nomes aparecem tanto em baixo dos títulos dos romances como no
índice.
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Outra importante relevância deste livro é a segunda orelha, que traz o
lançamento no Brasil da primeira edição do romance Jane Eyre, de Charlotte Brontë.
Nela, lê-se:
“ A tradução de JANE EYRE foi feita pelo escritor Sodré Viana, cuja
capacidade é uma garantia de sucesso, tal como se deu com a versão de THAIS,
de Anatole France, julgada pela crítica um primoroso trabalho literário.”
Ivan Emilianovitch
O tradutor da primeira edição do célebre romance de Turgueniev, Pais e filhos, não tece
nenhum comentário a respeito do processo tradutório. Contudo, é dada grande
relevância, por parte da editora, o fato de que a tradução em questão é a primeira que foi
feita diretamente do russo para o português.
Antônio Houaiss
O consagrado intelectual brasileiro pela tradução de uma das mais célebres obras de
James Joyce, Ulisses, na década de 1960. No volume analisado encontram-se diversas
notas sobre a atividade tradutória, ainda que não sejam feitas pelo tradutor. Na contracapa lê-se,
por exemplo, um excelente reconhecimento ao tradutor (grifo nosso):
“ANTÔNIO HOUAISS
Dedicou um ano de trabalho à realização desta verdadeira proeza intelectual,
conseguindo transpor para o nosso idioma a magia verbal do grande autor
irlandês.”
Já nas orelhas do livro, pode-se ler a seguinte nota de Augusto de Campos (grifo nosso):
“O ULISSES de Houaiss
O motivo principal da excelência da tradução que Antônio Houaiss fez
de Ulysses reside, a meu ver, na sua radicalidade. Entre verter simplesmente
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“as ideias” do texto, aclimatando-as ao “gênio” (ou fantasma?) “da língua
portuguesa” e subverter o idioma para corresponder às invenções do original
inglês, Houaiss optou por esta última alternativa. E o fez, por vezes, com mais
arrojo que os seus predecessores (...).
(...) Impossível ser fiel ao espírito da obra sem transportar a sua
insubordinação linguística para o idioma ao qual se queira vertê-la. E foi isso
mesmo que Houaiss soube compreender, partindo para uma tradução também
“antinormativa” , que revolve a língua e o leitor com o insólito de suas
recriações vocabulares e sintáticas.
(...)
Pois bem. Até há pouco, este romance anti-romance era lido e
conhecido entre nós apenas pelos poucos intelectuais que podiam destrinchar
o seu complicadíssimo texto inglês ou ainda servir-se da mediação de
traduções estrangeiras, mais explicativas do que criativas e, afinal, sempre
intermediárias em relação ao idioma do leitor. Agora, qualquer um pode ter
uma noção precisa do Ulysses através da recriação de Antônio Houaiss. E,
encorajado por ela, chegar quem sabe ao próprio original, essa enciclopédia
da literatura de vanguarda, antes quase inacessível.
Eis o que torna sumamente positivo o lançamento do Ulisses, na versão
radical de Houaiss, fazendo receder para segundo plano o debate
pormenorizado desta ou daquela solução mais discutível do tradutor e
conferindo ao seu trabalho significado muito maior do que o de uma tradução
comum.
(...) Nesse sentido, o Ulisses de Houaiss passa a constituir um dos itens
prioritários na formação e no amadurecimento da nova cultura brasileira.
Essa longa nota torna-se essencial para a compreensão da tradução como um veículo de
difusão de outras culturas, pensamentos e literaturas para o brasileiro. Além disso, serve
como forte prova do panorama de expansão vivenciado nas décadas de 1950 e 60 no
país.
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Paulo Rónai e Aurélio Buarque de Hollanda
O terceiro volume da coleção Mar de histórias – antologia do conto mundial – que,
aliás, é compilada pelos dois famosos intelectuais e tradutores – apresenta uma série de
pontos relevantes sobre os tradutores, além do prefácio assinado pela dupla. Entre eles
encontra-se o relato – de uma página – listando todas as traduções por eles assinadas,
além daquelas feitas com colaboração de outros tradutores e escritores.
“ Na escolha dos contos, procurou-se atender a vários objetivos. Quisemos
dar espécimes característicos da maneira dos autores e distintivos das
literaturas às quais pertencem. Evitamos os contos muitas vezes traduzidos e
demasiadamente conhecidos. (...)
Conforme o critério já adotado nos volumes anteriores, fêz-se a
tradução, sempre que possível, do original. De vinte e cinco autores, apenas três
(Multatuli, Buysse e Jacobsen) que ignoramos, recorremos a amigos
competentes, cujo auxílio agradecemos: o Prof. Ansgar Knud Jensen, a Srª.
Gerta Heilig e o Sr. Guttorm Hanssen, tradutores, respectivamente, dos contos
de Bjørnson, Neruda e Bang. A versão dos demais contos do volume é trabalho
nosso.
Paulo Rónai e Cecília Meirelles
Neste incrível exemplar de duas das mais conhecidas obras do poeta alemão Rilke,
Cartas a um jovem poeta & A canção de amor e de morte do porta-estandarte
Cristóvão Rilke, há um interessantíssimo prefácio assinado por Cecília Meirelles, no
qual lê-se (grifo nosso):
“ Não se vai tentar a tarefa quase impossível de falar de Rainer Maria Rilke na
brevidade desta apresentação de duas de suas obras, talvez as mais fáceis de traduzir e
de explicar. (...)
Este prefácio visaria especialmente falar da primeira das traduções, de
que se ocupou o Sr. Paulo Rónai, poliglota e erudito já incorporado às letras
brasileiras, e que verteu para o nosso idioma com a exatidão possível –
considerando-se o que há de intencional na linguagem de Rilke – essas cartas
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tão ricas de outra substância , além do simples conselho literário. Se alguma
vez se sente, na tradução, certa obscuridade, ela é como a do original: por
estarem as palavras obedecendo à fidelidade do pensamento, mais que à
facilidade da elocução. (...)
***
(....)
Esta tradução pode-se dizer que estava feita desde 1929, sobre a versão
francesa de Suzanne Kra. Por que foi feita, nem se sabe, uma vez que não se
premeditava a sua publicação. Decerto, pela própria simpatia que o poema
desperta, pela força de que dispõe, e que o vai impelindo sempre em outros
idiomas. (...)
Quanto a esta versão, procurou-se aclarar sobre o texto original, antes
de a publicar, algumas obscuridades da primitiva tradução. E deve-se ainda ao
Sr. Paulo Rónai o favor de a ter socorrido, em certas dúvidas, assegurando-lhe,
assim, uma fundamental justeza.”
É interessante notar como este prefácio é moldado como uma desculpa ao leitor, por não
ser uma tradução direta e também, possivelmente, por não ser considerada a melhor
tradução possível.
Paulo Rónai
No volume de 1964 intitulado Contos húngaros, o tradutor não tece nenhum comentário
específico sobre o processo tradutório dos contos – feito inteiramente por ele. Contudo,
há grande destaque ao tradutor na contracapa da edição, ao passo que os nomes dos
autores não são sequer mencionados na capa ou contracapa. Há ainda uma apresentação
dos contos, feita por Rónai. Nela, pode-se analisar o último parágrafo, onde há um
latente desejo do tradutor de que o volume seja bem sucedido – o que pode indicar uma
preocupação dele em que o leitor brasileiro conheça a literatura húngara:
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“ Caso esta coletânea encontre a desejada acolhida junto ao público, pretendo
dentro de algum tempo apresentar-lhe noutro volume o conto húngaro de nossos dias,
(...).
Para maior fidelidade, mantive por toda a parte os antropônimos húngaros em
sua forma original, com o sobrenome a preceder o nome.”
Já para o volume especial dos “Cadernos de cultura”, um serviço de documentação do
Ministério da Educação e da Cultura da década de 1950, Rónai preparou um “Roteiro
do conto húngaro”. Aqui, o tradutor tece diversos comentários acerca da tradução da
literatura húngara, além de demonstrar grande preocupação com o leitor brasileiro,
organizando os dados históricos e provendo informações extras sobre os autores e sobre
a própria Hungria. É no prefácio que temos (grifo nosso):
“Isolada em pleno centro da Europa, por causa de seu meio de expressão, a
civilização húngara é uma das menos conhecidas do velho Continente. Entretanto, sua
literatura não carece de obras dignas de serem traduzidas. Algumas foram para o
alemão; poucas para o francês, o italiano e o inglês; nenhuma, por assim dizer, para o
português. A versão de uns poucos livros húngaros, de línguas intermediárias para o
nosso idioma, é devida ao acaso de um êxito momentâneo de best-sellers (e que, até
agora, não coube a nenhuma obra realmente forte.)
Mas a tradução de um único romance de Mikszáth ou Móricz, por exemplo,
por mais poderoso que fosse, revelar-nos-ia apenas um único talento e um só modo de
ver, de reagir e de exprimir. Uma antologia da prosa, com preponderância de trechos
de romance, teria sempre algo de fragmentário. Uma antologia de poemas exigiria um
poeta brasileiro conhecedor do idioma húngaro e suscitaria o dilema de verter em
prosa, despojando assim as poesias de seus atributos mais essenciais, ou de procurar
equivalências arbitrárias entre os ritmos de dois mundos poéticos totalmente diversos.
Uma antologia do conto húngaro constituiria o meio mais indicado de nos
aproximarmos não somente da literatura, mas da alma húngara. (...) Essa necessidade
foi sentida a tal ponto que já saíram em português numerosas antologias do conto
húngaro, infelizmente compiladas por organizadores pouco escrupulosos. Ignorando a
Hungria e a língua Húngara, fizeram eles sua escolha dentro da escassa matéria
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traduzida noutros idiomas, sem obedecer a qualquer critério de hierarquia literária,
cometendo erros de interpretação a cada passo.
(...) procurei escolher os contos de tal forma que apresentem quase todos os
tipos do conto moderno e todas as suas variantes dentro da literatura húngara;
temperamentos artísticos e escolas literárias diferentes; atmosferas e estilos diversos;
numa palavra, material ilustrativo para uma teoria do gênero.
(...) se nem sempre escolhi, desses autores, o conto que julgo de mais valor, foi
ou por motivo de espaço ou pela impossibilidade de conseguir o original. Como quer
que seja, com todas as suas limitações, os doze contos do livrinho foram escolhidos
entre vários milhares.
As notas biobibliográficas do fim do livro contêm os esclarecimentos
necessários acerca dos autores, assim como sobre os originais utilizados para a
tradução.
(...)
Ficaria encantado se este mostruário, além de contribuir para a definição do
conto moderno, despertasse entre os leitores o desejo de conhecer outras produções
da literatura húngara.
Para não multiplicar as notas, dou no fim do volume um pequeno léxico dos
termos húngaros ocorrentes nos contos.”
Como último exemplo do trabalho de Rónai enquanto tradutor, analisamos a primeira –
e única – edição de Antologia do conto húngaro, que também tem tradução integral do
tradutor em questão.
O prefácio, de autoria de João Guimarães Rosa, possui uma série de colocações sobre o
tradutor e como este desenvolve a arte de traduzir – sendo o traduzir aqui encarado por
Guimarães Rosa como, de fato, algo de complexidade maior: (grifo nosso)
“(...)
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Mais, êle é, por propensão e experiência, um tradutor, no pleno senso, mestre
nessa arte minuciosa e estreita, seu comprovado cultor, seu modesto estudioso. Dêle,
temos, além de vários ensaios publicados na imprensa sobre tal especialização
literária, um livro de lei, conseguido, prestante – a Escola de Tradutores –
oportuníssimo.
(...)
(...) é um poliglota: demais do húngaro, do latim e do português, dominando
excelentemente o francês, o alemão e o italiano, familiarizando com o inglês,
conhecendo o grego e o russo, orientando-se na gramática, na estrutura formal e na
intimidade da essência de ainda outras, que bem. Isto que, para o ofício, é acume e
gume, já que que, mesmo no simples bilateral de um qualquer traduzir, crê-se que a
visão de recursos, o dedo, o abarco, a capacidade específica de um tradutor, muito
aumentam, se é que não crescem em razão direta, do número de idiomas que governa.
Uma tradução é saída contra Babel; e tenho que, do gorar da Tôrre, adveio não
apenas a separação das falas: cada qual, ao seu tempo, perdeu algo da geral eficácia,
ficando repartido entre as outras, e que só no remirar do conjunto é que um dia deverá
restituir-se de ver.
Tão a maior, sobre tanto, foram motivos de saudade e gratidão que trouxeram
Rónai a dar-nos, neste conjunto de contos – que êle com alma e esforço buscou,
escolheu, traduziu – um pouco e muito de seu país de origem.
(...)
Sobre as validades desse idioma, souberam construir uma literatura.
Dessa literatura, já vária e dilatada, contando com notáveis obras, entradas no
pecúlio universal, é que Paulo Rónai nos entrega, num dos gêneros mais próprios para
pôr à vista e em perspectiva as características de uma ambiência humana e a
compleição anímica de um povo – o conto, - um válido panorama, retrato multifronte,
corte transversal bem realizado. Páginas que escolheu e verteu, já vimos, sobre
intento sentimental e com honrado afã que uma tarefa destas requer: a de transcoar o
mel que outras abelhas favêiam. Vão ver como o tecido da tradução é caprichado e
homogêneo, com correção, graça e escorrência.
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Sente-se o mestre, Magister. Saudável é notar-se que ele não pende para sua
língua natal, não imbui de modos-se-afeto seus textos, que nem mostram sedimentos da
de lá; não magiariza. Antes, é um abrasileiramento radical, um brasileirismo
generalizado, em gama comum, clara, o que dá o tom.”
Já na introdução, feita pelo próprio Paulo Rónai, temos novamente retratada a
preocupação do tradutor com seu público leitor, além de uma justificativa à
impossibilidade de traduzir mais textos húngaros (grifo nosso):
(...)
(...) As emoções que as suas páginas porventura venham a despertar, graças a
esta versão portuguêsa, em almas distantes, são a oferenda que lhes tributo à memória.
(...)
Em primeiro lugar, tive de omitir narrativas que pela sua extensão se
classificariam menos como contos do que como novelas (como são quase todas as
histórias de Mikszáth Kálmán, de quem, em consequência, dei dois contos excelentes na
verdade, mas não tão significativos como algumas daquelas). Pesarosamente renunciei
também a verter obras de todo intraduzíveis (...) e a deixar de lado um ou outro contista
(...) cuja mensagem está essencialmente na língua e no estilo. Interferiu ainda a
possibilidade de encontrar textos originais, muito deles publicados uma única vez, o
que motivou a omissão de mais alguns autores e a tradução de dois contos de Ady
Endre e Kaffka Margit, de versões francesas da minha autoria, feitas há tempos.
(...)
Traduções feitas diretamente do húngaro, a não ser para o alemão (língua da
vizinha Áustria, à qual a Hungria durante séculos esteve ligada por laços antes
constitucionais que afetivos), contam-se pelos dedos; em português não conheço
nenhuma, salvo as que eu mesmo executei: as demais são versões, às vezes em terceiro
ou quarto grau.
(...)
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As diferenças que vão da expressão húngara à expressão em qualquer idioma
ocidental e, especialmente, em português, são tão grandes, e tão parcos os recursos que
o tradutor pode dispor (antecedentes, dicionários, etc.), que eu não me haveria
animado a tentar sozinho uma divulgação de obras húngaras. Para singular felicidade,
pude dispor da colaboração tão dedicada quanto competente de meu fraternal amigo e
metre Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, que, em sua tripla qualidade de filólogo
erudito, ensaísta de fino gôsto e contista de talento, quis ajudar-me a dar a estes contos
uma forma definitiva em português.
(...)
Sendo intenção minha oferecer um panorama não só conto húngaro, mas da
própria vida magiar, não poupei as notas de pé de página para elucidar alusões a
costumes, práticas e crendices locais, acontecimentos históricos, elementos da
paisagem, etc. Um índice de nomes próprios, apenso ao volume, contém os
equivalentes portugueses dos antropônimos que ocorrem nos contos.
Além disso, a contracapa do livro traz cinco comentários de críticos prestigiados acerca
da atividade tradutória de Rónai. Citamos aqui algumas delas (grifo nosso):
“ MANIFESTAÇÕES DA CRÍTICA À RESPEITO DE TRABALHOS ANTERIORES DE
PAULO RÓNAI
Acerca da edição brasileira de A Comédia Humana, de BALZAC:
“Entregando uma tarefa tão gigantesca à operosidade e à competência de um
ensaísta da categoria de Paulo Rónai, a Editôra Globo abre um novo caminho à
indústria do livro do Brasil, provando que as traduções, quando realizadas assim,
podem ser um fator de educação e cultura da maior transcendência. Essa edição de
Balzac vale como uma lição e como um exemplo.”
PEREGRINO JÚNIOR
“Não creio que Balzac tenha encontrado em qualquer parte, fora da França,
moldura mais proporcionada à sua grandeza.”
EUGÊNIO GOMES
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Acerca de Balzac e A Comédia Humana:
“O livro de Paulo Rónai constitui um verdadeiro curso, semelhante aos que
antes da guerra um André Maurois fazia com tanto êxito na Universidade dos Anais,
em Paris... É o essencial sobre um assunto imenso que aí encontramos, mas o essencial
apresentado por um especialista, no qual prevalece um crítico agudo e um escritor de
primeira ordem.”
BRITO BROCA”
Tendo como base os volumes analisados, é possível criar um panorama com as
visões e opiniões mais recorrentes entre os tradutores estudados e também sobre seus
críticos e editores. Esse panorama seria constituído, portanto, dos seguintes pilares:
• A tradução só é bem realizada quando é mantida uma suposta “fidelidade total”
ao original. Assim, o papel do tradutor é reduzido a apenas verter sentenças e
manter construções e formatações – e portanto não aproxima seu leitor da obra,
ao mesmo tempo que não se coloca como digno de um espaço maior do que a
sombra do autor do original.
• É dado crédito e reconhecimento ao tradutor quando este geralmente é alguém
que já possui renome, como um escritor ou intelectual brasileiro. Aos tradutores
que não têm outra atividade ligada às letras, é dado pouco espaço para reflexões
ou “confissões”.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] PAES, José Paulo. A tradução literária no Brasil. In: ______. Tradução: a ponte
necessária. São Paulo: Ática, 1990. p. 9-31.
[2] MITCHELL, Margaret. ... E o vento levou. Tradução de Francisca de Basto
Cordeiro. Editora Irmãos Pongetti Editores, 1940. 1ª edição.
[3] WILDE, Oscar. O Fantasma de Canterville. Tradutor não mencionado. Editora
Clube do Livro. São Paulo, 1945. Edição desconhecida.
[4] BRONTË, Emily. O morro do vento uivante. Tradução de Rachel de Queiroz.
Livraria José Olympio Editora, 1957. 3ª edição.
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[5] DONLEAVY, J. P. Sexta-feira Triangular. Tradução de Mário Mascherpe. Editora
Civilização Brasileira. Rio de Janeiro, 1967. 1ª edição.
[6] WILDE, Oscar. Intenções. Tradução de Paulo Barreto (João do Rio). Livraria
Império Editora. Rio de Janeiro, 1957. 1ª edição.
[7] WILDE, Oscar. Salomé: poema dramático em 1 ato. Tradução de João do Rio
(Paulo Barreto). Editora Alhambra. Brasília, 19--. Edição desconhecida.
[8] WILDE, Oscar. Obra Completa. Tradução de Oscar Mendes. Editora José Aguilar.
Rio de Janeiro, 1961. 1ª edição.
[9] SALINGER, Jerome David. O apanhador no campo de centeio. Tradução de
Alvaro Alencar, Antônio Rocha, Jório Dauster. Editora do Autor. Rio de Janeiro, 1965.
Edição desconhecida.
[10] RAPHAEL, Frederic. Darling. Tradução de Nelson Rodrigues. Livraria Eldorado
Editora S.A., 1967. 1ª edição.
[11] SAINT-EXUPÉRY, Antoine de. Terra dos homens. Tradução de Rubem Braga.
Livraria José Olympio Editora. Rio de Janeiro, 1969. 14ª edição.
[12] DICKENS, Charles. David Copperfield. Tradução de J. L. Costa Neves. Irmãos
Pongetti Editores. Rio de Janeiro, 1962. 6 ª edição.
[13] BALDWIN, James. Numa terra estranha. Tradução de Gilberto Miranda. Editora
Globo, 1965. Edição desconhecida.
[14] FRANCE, Anatole. 3 Romances – Taís, História Cômica, A Revolta dos Anjos.
Tradução de Sodré Vianna, Marques Rebelo e Olimpio Monteiro, respectivamente.
Irmãos Pongetti Editores. Rio de Janeiro, 1960. 1ª edição.
[15] TURGUENIEV, I. S. Pais e Filhos. Tradução de Ivan Emilianovitch. Livraria
Martins Editora; Coleção Excelsior. São Paulo, 1941. 1ª edição.
[16] JOYCE, James. Ulisses. Tradução de Antônio Houaiss. Editora Civilização
Brasileira S.A. Rio de Janeiro, 1967. 2ª edição, 846 p.
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[17] HOLLANDA, Aurelio Buarque de & RÓNAI, Paulo. Mar de Histórias
(Antologia do conto mundial III – Século XIX, 2ª parte). Tradução de Hollanda e
Rónai. Livraria José Olympio Editora. Rio de Janeiro, 1958. 1ª edição.
[18] RILKE, Rainer Maria. Cartas a Um Jovem Poeta & A Canção de Amor e de
Morte do Porta-estandarte Cristóvão Rilke. Tradução de Paulo Rónai e Cecília
Meireles, respectivamente. Editora Globo. Rio de Janeiro, 1953. 1ª edição.
[19] RÓNAI, Paulo. Contos Húngaros. BUP – Biblioteca Universal Popular. Rio de
Janeiro, 1964. 1ª edição.
[20] RÓNAI, Paulo. Roteiro do Conto Húngaro. Os cadernos de cultura – Serviço
de Documentação do Ministério da Educação e Cultura. Seleção, tradução e notas de
Paulo Rónai. Rio de Janeiro, 1954. 1ª edição.
[21] RÓNAI, Paulo. Antologia do conto húngaro. Editora Civilização Brasileira
S.A. São Paulo, 1957: 1ª edição. 280 p.