Reflexões Sobre o Ensino de Contabilidade

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62 B. TÉC. SENAC, Rio de Janeiro, v. 33, n.1, jan./abr. 2007. Ilustração: Aliedo

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Ensino de contabilidade

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  • 62 B. TC. SENAC, Rio de Janeiro, v. 33, n.1, jan./abr. 2007.

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  • 63B. TC. SENAC, Rio de Janeiro, v. 33, n.1, jan./abr. 2007.

    REFLEXES SOBRE O ENSINO DECONTABILIDADE: ASPECTOS CULTURAIS E

    METODOLGICOSClaudio Ulysses Ferreira Coelho *

    Resumo

    O objetivo principal deste artigo promover uma reflexo sobre o ensino da contabilidade no Brasil, enfatizandoaspectos culturais e metodolgicos. A importncia desse debate tem como objetivo principal apontar anecessidade de mudana de foco dos programas de contabilidade no pas, a fim de torn-los mais prximos snecessidades profissionais de nosso tempo e alinhados dinmica social e econmica atual. Por meio dadiscusso sobre o desenvolvimento histrico, educacional e profissional da contabilidade no Brasil at suaconfigurao atual no cenrio nacional, verificar-se-, neste estudo, alguns pontos merecedores de ateno paraa consecuo do objetivo principal do presente debate: a melhoria da qualidade dos programas de contabilidadeno Brasil.

    Palavras-chave: Ensino contbil; Cincia social; Perfil profissional; Sistema contbil; tica profissional

    ro, uma das reas mais antigas a possuiruma instituio educacional especfica.

    A profisso tambm desfruta dessalongevidade, visto que a primeira regula-mentao contbil realizada em territ-rio brasileiro depois de sua independn-cia ocorreu em 1870, atravs do reconhe-cimento oficial da Associao dos Guar-da-Livros da Corte por meio do DecretoImperial n. 4. 4751 .

    Esse decreto representa um marco,pois, como lembra RODRIGUES(1988)2 , caracteriza o guarda-livros comoa primeira profisso liberal regulamenta-da no pas e, como se sabe, representa aorigem da profisso contbil nacional.

    Um outro aspecto importante as-senta-se sobre a configurao atual darea contbil e de sua perspectiva decrescimento. Isso pode ser visualizadono s pela quantidade atual de oferta decursos de contabilidade em todo o pas,mas tambm pelo nmero de profissio-nais atuantes.

    De acordo com dados do InstitutoNacional de Estudos e Pesquisas Educa-cionais (INEP 2006)3 , no cadastro de

    instituies do ensino superior encon-tram-se 947 cursos de Cincias Cont-beis. Significa que a contabilidade repre-senta a sexta maior rea de conhecimentodo pas em nmero de cursos oferecidos,ficando atrs apenas dos cursos de Ad-ministrao, Pedagogia, Engenharia,Direito e Letras.

    Outro dado importante, agora for-necido pelo prprio Conselho Federalde Contabilidade (CFC)4 , aponta que,em 31 de outubro de 2006, havia exatos397.684 profissionais ativos registradosem todo o pas. Esse nmero coloca aclasse profissional contbil entre as trsmaiores do Brasil em nmero de afilia-dos. Ao todo havia, naquela data, 65.776organizaes contbeis e escritrios in-dividuais em todo territrio nacional, oque demonstra uma ntida demanda demercado para a rea.

    Aliado a esses dois aspectos iniciais,longevidade e configurao profissionalatual, h ainda um terceiro, que represen-ta a preocupao com a necessidade doaumento da qualidade dos programasde contabilidade, a fim de possibilitar,

    * Assessor tcnico das reas profissionais de Gesto eComrcio do Senac Departamento Nacional.Mestre em Cincias Contbeis pela UFRJ e professordo Ibmec/RJ e da Universidade Gama Filho.E-mails: [email protected] [email protected] para publicao em 19/01/07.

    INTRODUO

    Muitas seriam as razes que poder-amos apresentar para defender a impor-tncia de uma reflexo sobre o processode ensino e aprendizagem na rea cont-bil. Um primeiro aspecto seria a longevi-dade que a rea goza, tanto do ponto devista educacional quanto profissional,no cenrio nacional.

    O embrio da educao contbil noBrasil so as aulas de Comrcio, quetiveram incio com a vinda da Corte Por-tuguesa ao pas, em 1808, em funo daguerra na Europa e a invaso francesaimposta por Napoleo. Nesse mesmoano fundada, ento, a Aula de Comr-cio da Corte. , portanto, dentro docontexto histrico-educacional brasilei-

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    num futuro prximo, a melhorado controle dos recursos econ-micos do pas e o aumento datransparncia na gesto das finan-as pblicas e privadas.

    A conquista dos elementosmencionados no terceiro aspectocertamente consolidaria a imagemdessa profisso to importante,mas, principalmente, possibilita-ria uma participao mais efetivada sociedade no acompanhamen-to dos resultados econmicos esociais do pas.

    Um melhor controle das con-tas, a reduo dos desperdcios e oplanejamento dos gastos so as-pectos importantes para o desenvolvi-mento de uma nao e de seus cidados.

    Sendo assim, a insero de metodo-logias ativas no processo educacionalcontbil do pas, o uso efetivo dos recur-sos tecnolgicos disponveis em prol dareferida melhoria de qualidade e a buscapor uma mudana de foco na abordagemdos temas fundamentais e relevantes noensino da profisso tornam-se impera-tivos.

    Essa , na verdade, a proposta dediscusso deste artigo.

    1. O QUE REALMENTE IMPORTANTENO ENSINO DA CONTABILIDADE?

    Diante de um cenrio to complexoe mutvel como o que se observa emnossos dias, esse um questionamentoque merece anlise acurada.

    O mundo hoje diferente e amanho ser tambm. A tecnologia faz parte denossa rotina e a velocidade das informa-es uma realidade que ao mesmotempo nos assusta e nos desafia a acom-panh-la.

    O ambiente empresarial encontra-se em ebulio. Alm dos avanos datecnologia da informao, h a concor-rncia, os acordos internacionais, asbarreiras fiscais, a necessidade de trei-namento de pessoal, o controle doscustos, a adaptao a situaes merca-dolgicas cada vez mais inconstantes,enfim, so muitas as variveis.

    No sem motivo, ento, apreocupao com os aspectos edu-cacionais de modo geral, pois,como afirmam DEFFUNE & DE-PRESBITERIS (2000), um nvelelevado de educao de uma populaopode mudar a natureza do trabalho5 .

    por meio da educao queser possvel garantir s novas ge-raes os direitos cidadania e aaquisio dos recursos necessriospara o acesso ao mercado de traba-lho dentro de um cenrio tal comoo delineado linhas atrs.

    Nesse sentido, h que se con-cordar com NEGRA (1999) quan-do afirma que em qualquer pro-

    cesso educacional atual preciso levarem considerao a crescente globaliza-o dos mercados e tambm a evoluonatural que isso implica: informaesso criadas e descartadas numa veloci-dade surpreendente6 .

    Por essa razo, o ensino da contabi-lidade no deve compreender somenteos aspectos prticos, tcnico-operacio-nais e mecnicos de suas formas de regis-tro. Ele deve avanar para questes maisabrangentes que envolvam anlise crti-ca, postura tica, tomada de deciso emaior sensibilidade aos aspectos polti-cos, econmicos e sociais.

    A educao contbil deve estar asso-ciada idia de que papel da contabili-dade e de seus profissionais fomentar aformao de uma sociedade mais justa emais digna.

    Vive-se um tempo em que comumverificar-se na imprensa a veiculao defraudes, esquemas e corrupes que, pelafreqncia com que ocorrem, criam umsentimento de descrdito generalizado.Com isso, nossas sociedades, assim como asinstituies e as organizaes que as compem,no mais se apresentam, individual ou coleti-vamente, como legtimas (ENRIQUEZ,1997)7 .

    Nesse aspecto, no que diz respeito aoensino da contabilidade, entendemosque um primeiro passo nessa direoseria reafirm-la na sala de aula comocincia social aplicada, e no como cinciaexata. Esse um ponto de extrema im-portncia, embora parea bvio, poden-do inclusive soar estranho num primei-

    ...o ensino da

    contabilidade no devecompreender somenteos aspectos prticos,

    tcnico-operacionais emecnicos de suasformas de registro.

    Ele deve avanar paraquestes mais

    abrangentes queenvolvam anlise

    crtica, postura tica,tomada de deciso emaior sensibilidade

    aos aspectos polticos,econmicos e sociais.

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    ro momento. Sua inobservncia, po-rm, pode trazer enormes prejuzos aosprocessos de ensino e de aprendizagemda matria.

    fato que a contabilidade, em seusregistros, relatrios e demonstrativos,se utiliza bastante de nmeros. Por ve-zes at, a fim de explicar como e porquetais resultados foram alcanados, em-prega ainda dados percentuais e ndicesestatsticos. No entanto, h que se pon-derar o fato de que, para se chegar aosresultados finais em um determinadoperodo, foram necessrias inmerasaes subjetivas, seja na escolha de alter-nativas, na opo pelo uso de determina-do critrio em detrimento de outrostambm possveis, ou nas decises so-bre os procedimentos a tomar em situ-aes inusitadas, que nem por terem talcaracterstica deixam de ser merecedorasde orientao contbil. Em outras pala-vras, possvel obter resultados cont-beis diferentes numa mesma situaosem que para isso seja necessrio ferir alegislao ou utilizar artifcios que visemludibriar o resultado das operaes, oumesmo infringir normas e regulamen-tos. Basta haver uma circunstncia em

    que haja dois ou mais caminhos poss-veis e escolher alternativas diferentes.Essa uma situao que os profissionaisda rea contbil se deparam com relativafreqncia.

    Dessa forma, sendo essa a concepona prtica profissional, ou seja, enfrentarvrias situaes em que no existam fr-mulas nicas e precisar decidir num curtoespao de tempo e dentro de limitestcnicos, operacionais, ticos e legais, ficasem sentido o ensino da contabilidadebaseado somente na execuo prtica declculos realizados exausto ou na reso-luo de exerccios padronizados queexijam apenas raciocnio matemtico,sem qualquer estmulo anlise.

    Nas cincias exatas, como a matem-tica e a fsica, a aplicao de uma opera-o traz um resultado nico e exato. Oresultado de uma equao matemtica invarivel, mesmo se a repetirmos duasou mais vezes. Da mesma forma, ainvestigao de fenmenos na fsica ne-cessita de mtodos cientficos que com-provem, por meio de repetio e com aobteno de resultados idnticos, a ocor-rncia de determinados processos fsi-cos.

    J na contabilidade, apesar do usomacio dos nmeros, no se concebeessa exatido. Por essa razo, os cursosprecisam equilibrar os aspectos quantita-tivos traduzidos pelos nmeros comquestes qualitativas que produzam ca-pacidade para a tomada de deciso. Osaspectos subjetivos nas escolhas de alter-nativas para a resoluo de problemasemergentes integra o perfil profissionaldo contador de nosso tempo e, portan-to, deve ser objeto de ateno no proces-so de ensino e aprendizagem dos cursosde Cincias Contbeis, pois como afir-mam SILVA e SILVA (1996), no possvel ensinar e educar descontextualizadode nossa era, do nosso espao8 .

    Para melhor entendermos essa ques-to, vamos analisar dois breves exem-plos. So simples e bsicos, porm apre-sentam situaes reais de trabalho. En-tendemos que sero esclarecedores doponto a que se deseja chegar.

    As empresas comerciais, por exem-plo, compram e vendem produtos. importante para elas a informao cont-

    bil de quantas mercadorias foram adqui-ridas, quantas foram vendidas e qual osaldo final no estoque. A contabilidadepode prover essa informao sem muitadificuldade. No entanto, existe mais deuma forma de se controlar os custosdesses produtos. Analisaremos doisdesses mtodos: O custo mdio e oPEPS, que a abreviao da frase Pri-meiro que Entra, Primeiro que Sai.

    Se uma empresa compra em determi-nado ms 10 produtos ao custo unitriode R$ 100,00, e no ms seguinte mais 10produtos por R$ 110,00 cada, vendendoem seguida 15 desses produtos, ela deve,pelo custo mdio, fazer a seguinte conta:

    Quantidade de produtos comprados:20 (10 do primeiro ms + 10 do segundoms)

    Valor dos produtos comprados:R$ 2.100,00 (10 produtos x R$ 100,00 + 10produtos x R$ 110,00)

    Mdia dos produtos:2 100 / 20 unidades = R$ 105,00 (custounitrio)

    Logo, se cada produto tem um custounitrio de R$ 105,00 e a empresa vende15 desses produtos, o custo dos produ-tos que foram vendidos soma R$1.575,00 (R$ 105,00 x 15 unidades).

    Se, porm, a empresa optar pelo m-todo PEPS, o clculo diferente, poisnesse mtodo os produtos mantm osseus valores originais, mesmo na venda.Nesse caso, seria preciso baixar primeiroos valores mais antigos, pois eles devemser os primeiros a sair. Sendo assim, oclculo seria o seguinte:

    Quantidade de produtos comprados:10 un. ao custo de R$ 100,00 = R$ 1.000,00

    10 un. ao custo de R$ 110,00 = R$ 1.100,00

    total de 20 un. ao custo de =R$ 2.100,00

    Na hora da venda, ter que se consi-derar primeiro o preo das primeirasmercadorias compradas (10 unidadespelo preo unitrio de R$ 100,00) e so-mente depois que elas se esgotarem com-pletar a conta com as demais. O clculoseria a seguinte:

    Produtos vendidos - 15, sendo:10 unidades x R$ 100,00 = R$ 1.000,0005 unidades x $ 110,00 = R$ 550,00total de 15 unidades R$ 1.550,00

    ...no que diz respeito ao

    ensino dacontabilidade,

    entendemos que umprimeiro passo nessa

    direo seriareafirm-la na sala de

    aula como cinciasocial aplicada, e nocomo cincia exata.

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    Como se pode observar, realizandoa mesma operao, porm utilizandomtodos de controle diferentes chegou-se a resultados diferentes, a saber: R$1.575,00 pelo custo mdio e R$ 1.550,00pelo PEPS.

    Nesse caso, muito importante apre-sentar em sala de aula a dinmica defuncionamento e controle desses e deoutros mtodos. Mas isso no sufici-ente. to somente o primeiro passo. preciso, tambm, examinar com os alu-nos as vantagens e desvantagens quecada mtodo pode proporcionar e, umpouco mais adiante, garantir-lhes auto-nomia analtica que os possibilite decidircom firmeza, em cada situao, qual m-todo deve ser utilizado e porqu. Queimplicaes isso pode ter? Deve-se lem-brar que o lucro na venda do produtoadvm da diferena positiva entre recei-tas e despesas. Logo, o controle do esto-que e a apurao do custo das mercado-rias que foram vendidas afetam direta-mente o lucro da empresa. Alm disso,o governo estabelece o lucro como fatogerador de alguns tributos e, portanto, aescolha do mtodo trar tambm impac-tos tributrios para a empresa. Os alu-nos devem saber, ainda, que algunsmtodos podem no ser aceitos pelalegislao fiscal de nosso pas.

    Como se observa, so muitas asimplicaes decorrentes de uma sim-ples escolha de critrio e discutir emclasse essas questes to importantequanto o aprendizado dos clculos deapurao de cada mtodo. At porque

    tais implicaes e diferenas de valoresentre os mtodos tendem a se reduzirem processos econmicos estveis. Ouseja, se no houver inflao, por conse-guinte no haver variaes de preos nascompras dos produtos e, nesse caso,tanto faz utilizar um mtodo ou outro:o resultado ser o mesmo. Fica claro,portanto, que variveis no contbeis a inflao, por exemplo, que tem cunhoeconmico afetam o trabalho contbil.

    Essa mais uma razo para no limi-tar e resumir o ensino da contabilidadesomente aos aspectos estritamente con-tbeis, pois, como j afirmara CAMAR-GO (1991),sem doutrina, sem cultura ge-ral, no se pode ambicionar plenitude no desem-penho do exerccio da profisso contbil9 .

    Um segundo exemplo bastante elu-cidativo est no clculo do custo da ela-borao de um produto ou da prestaode um servio. Custo o gasto realizadona produo de um bem. Existem cus-tos que voc consegue identificar direta-mente em cada produto - so os custosdiretos. Pode-se calcular, por exemplo,com relativa preciso, quanto de material(madeira, ferro, frmica etc.) se gastoupara a construo de uma mesa ou deuma cadeira, mas impossvel saberquanto de energia eltrica foi consumidoindividualmente na produo de cadauma. At porque o gasto com energiaeltrica no ocorre somente nas mqui-nas de produo da fbrica, mas tambmos computadores nas salas administrati-vas, as lmpadas nos corredores e asmquinas de caf, por exemplo, conso-

    mem energia. Ou seja, somenteuma parte desse gasto com ener-gia, aquele realizado na fbrica, considerado custo de produ-o. preciso, portanto, esta-belecer alguma forma de medi-o desse gasto, porque umaparte dele aquela que foi utili-zada na produo custo,mas a outra parcela utilizadapela administrao geral ou pelosetor de vendas da empresa re-presenta uma despesa operaci-onal, e na lgica contbil no seconstitui um custo.

    Calcular o custo de energiadespendido na elaborao de

    mesas e cadeiras, por exemplo, exigirum clculo inicial para identificao doquanto de energia foi gasto especifica-mente na produo. Posteriormente,aps a identificao do quanto de energiafoi gasto exclusivamente para a constru-o das mesas e cadeiras, ser necessrio,ainda, ratear esse valor total encontradounitariamente aos produtos, utilizan-do-se para isso, alguma base lgica paraessa diviso. Se, por exemplo, a conta deenergia eltrica somou no ms R$2.000,00, e a contabilidade conseguiu,por meio de instrumentos de medio etcnicas de controle de consumo, chegara concluso de que 80% dessa energia foigasta na produo, como saber quantocada mesa ou cadeira consumiu efetiva-mente para o valor desse custo? Umprofissional pode, por exemplo, dividiresse valor de R$ 1.600,00 igualitariamen-te aos produtos. Um outro profissional,porm, pode entender que as mesas, porserem maiores e demandarem mais tem-po na construo, devem carregar custosem maior proporo do que as cadeiras.Fica claro, portanto, que seja no clculode apurao do custo de energia eltrica(quanto relativo especificamente pro-duo?), seja nos critrios de rateio (qualo custo de energia de cada mesa ou cadei-ra?), entram aspectos subjetivos e sonecessrias decises pessoais do profis-sional. Nesse caso, to importante quan-to identificar os critrios de rateio saberas implicaes que determinada escolhapode trazer ao custo do produto, aopreo de venda e, at na dinmica deproduo da empresa.

    KOLIVER (1999) questiona o enfo-que tradicional dos cursos na rea cont-bil e relata que a grande maioria peca porrestringir, com grande freqncia, os es-tudos contbeis a um elenco de procedi-mentos aplicados, com prejuzo de umaviso ampla da contabilidade10 .

    Ensinar corretamente os clculos, omtodo de registro e os critrios de con-trole, a fim de que haja condies deelaborao de demonstrativos contbeise financeiros consistentes e dentro dospadres de qualidade exigidos, , semsombra de dvidas, fundamental. Po-rm, o ensino da contabilidade deve avan-ar para alm dos registros, somas, sub-

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    traes e clculos percentuais. Esse nopode ser o limite final do curso, pois nose trata apenas de nmeros, equaes edados estatsticos. A contabilidade,como cincia social que , deve merecerum enfoque diferente. Os nmeros soimportantes, mas os valores envolvidosnas decises tambm o so. importan-te que os cursos no caiam na armadilhade se apresentar um emaranhado denmeros sem que se criem condiespara que os alunos possam entender oporqu dos clculos e que tipo de infor-mao pode ser obtida em cada frmulaou somatrio de valores. Em outraspalavras, h que se evitar conceder exces-siva importncia s contas e aos clculossem vincul-los s necessidades das or-ganizaes e dos anseios daqueles quede alguma maneira iro se utilizar da-quelas informaes para uma tomadade deciso.

    2. A INFLUNCIA DOS EVENTOSSOCIAIS NO ENSINO DACONTABILIDADE NO BRASIL

    No sem razo que existe certadificuldade de entendimento dos reaisobjetivos da contabilidade e das confu-ses que muitas vezes as pessoas tmpelo fato de vincularem a cincia contbilexclusivamente a nmeros. Afinal decontas, para se chegar a um resultadocontbil, h que se fazer contas. No en-tanto, nmeros sem significados e semexplicaes so apenas nmeros.

    A contabilidade, desde os temposmais antigos, esteve associada mate-mtica. Isso um fato. O incio de seuperodo cientfico, por exemplo, estrelacionado publicao, em 1494, daobra Suma de Arithmetica Geometria etProportionalit, escrita por um frade itali-ano chamado Luca Paccioli11 , que eraprofessor de matemtica.

    A obra de Paccioli era, na verdade, umtratado matemtico que inclusive con-tinha tbuas de multiplicao at 60 X 60,recurso muito til na poca. A contribui-o contbil desse livro foi a apresenta-o de um mtodo de controle denomi-nado de partidas dobradas. Muitoembora ele no tenha sido o real criadordo mtodo, foi o primeiro a exp-lo deforma didtica e com tratamento bastan-te extensivo, aps muita pesquisa juntoaos comerciantes da poca. Muitos dosprincpios contbeis apresentados nesselivro so utilizados, sem alterao, at osdias de hoje.

    Geograficamente, Portugal um pasvizinho da Itlia. Essa proximidade,alm de outros aspectos de ordem po-ltica, facilitou a importao e utilizaodesses mtodos de controle pelos por-tugueses que foram largamente utiliza-dos para controlar a entrada e sada dosprodutos de sua principal colnia, oBrasil. Nosso pas, por sua vez, herdoudiretamente dos portugueses esses me-canismos de controle e os conhecimen-tos contbeis.

    O fato que a contabilidade, histori-camente, nunca foi valorizada no Brasil.A preocupao com o controle nuncateve uma preocupao forte em nossopas, seja no mbito organizacional ou

    pessoal. O planejamento oramentrio eo controle das contas jamais foram trata-dos como prioridade. Retrata-se a umaquesto cultural. Possivelmente a farturade riquezas naturais, aliada nossa vastaextenso territorial e clima tropical, fazi-am com que no tivssemos tanto traba-lho para a produo. Nesta terra, em seplantando tudo d, j escrevia Pero Vaz deCaminha, escrivo da frota de Pedrolvares Cabral em carta ao Rei de Portu-gal, Dom Manuel.

    Alm disso, Portugal nunca teve tra-dio contbil, e sua preocupao inicialno Brasil era to somente de cunho ex-plorativo, o que acarretava uma preocu-pao excessiva com aumento dos lucrosnas remessas de produtos e pouca alusoa mecanismos de planejamento e con-trole permanentes e efetivos. Mesmodepois da independncia, a fartura degua, de alimentos, de florestas etc. nonos trouxe grandes preocupaes com ocontrole. Por essa razo, verifica-se nopas um enorme desperdcio no s derecursos naturais, mas tambm de recur-sos econmicos. Gasta-se mais do que searrecada, injetam-se grande soma de va-lores em obras que, muitas vezes, nochegam a ser concludas. No h, enfim,uma disciplina de acompanhamento dodesenvolvimento dos gastos, e isso es-tende-se para alm das organizaes, al-canando at os nveis familiar e pessoal.Logicamente que essas questes influen-ciaram fortemente na reduo do avanoda cincia contbil em nosso pas.

    No entanto, no se pode mais negli-genciar a falta que a contabilizao dosrecursos, seja no mbito pblico ou pri-vado, faz para um melhor desenvolvi-mento estrutural e econmico do pas.No se pode mais conceber nem o des-perdcio de gua e de alimentos nem o degastos financeiros. Tais questes preci-sam estar presentes nos cursos da reacontbil. preciso reconhec-la comocincia social que . fundamental oentendimento por parte dos alunos daimportncia social da contabilidade noauxlio resoluo desses problemas.Dito de outra maneira, no basta fazercontas e encontrar valores, preciso ana-lisar a aplicao dos recursos, planejar asoperaes (a fim de se prevenir situaes

    ...h que se evitar

    conceder excessivaimportncia s contas

    e aos clculos semvincul-los s

    necessidades dasorganizaes e dos

    anseios daqueles quede alguma maneira

    iro se utilizardaquelas informaespara uma tomada de

    deciso.

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    ...Se o controle no

    efetivo, no h como serealizar planejamentos

    eficazes, e essedescompassodesorganiza o

    desenvolvimento dequalquer ao. Acontabilidade pode

    efetivamente auxiliarna resoluo desseproblema que afetaindividualmente o

    cidado, a coletividade,as organizaes e, emltima instncia, o pas.

    fazer qualquer juzo de valor. Pretende-se apenas mostrar fatos.

    Segundo LOPES e MARTINS (2005),historicamente possvel reconhecer duasgrandes tradies do direito: o chamadodireito romano, que o regime adotadono Brasil, e o direito consuetudinrio.Como afirmam esses autores, no direitoromano, as normas emanam do texto legal, isto, para que algo tenha valor necessrio que hajauma meno clara e especfica na lei12 . Odireito consuetudinrio, por sua vez, temnos costumes e tradies as origens de suaregulamentao.

    Essa tradio legal logicamente inter-fere na prtica contbil, visto que h leisregulando quase tudo neste pas e mui-tas delas certamente afetam a CinciaContbil. O que falta, muitas vezes, umacompanhamento eficaz a fim de se ga-rantir o fiel cumprimento das leis. Essasituao estende-se para o ambiente or-ganizacional, chegando inclusive aos in-divduos. Falta rigor nos controles.Se o controle no efetivo, no h comose realizar planejamentos eficazes, e essedescompasso desorganiza o desenvol-vimento de qualquer ao. A contabili-dade pode efetivamente auxiliar na reso-luo desse problema que afeta indivi-dualmente o cidado, a coletividade, asorganizaes e, em ltima instncia, opas. O currculo dos cursos precisa pre-conizar os aspectos sociais, econmicose polticos que interferem no desenvol-vimento da contabilidade. Eles no sexplicam as razes que levam os profis-sionais a realizarem algumas escolhas,mas tambm apresentam a necessidadede interligao dos conhecimentos con-tbeis com outras reas do conhecimen-to. Como afirma LAFIN (2005), pre-ciso promover aes no ensino da contabilida-de que busquem superar a dicotomia entreteoria e prtica e que configurem a graduaocomo o lugar de referncia da produo e dapesquisa.13

    No difcil identificar, pelas razesapresentadas anteriormente, que a edu-cao contbil no Brasil sofreu forte in-fluncia italiana. No entanto, a partir dadcada de sessenta, houve uma mudanade orientao didtica no ensino da con-tabilidade decorrente da introduo denovos mtodos. SCHMIDT (2002) afir-

    ma que a partir dessa mudana de orientaodidtica, a influncia dos autores italianos edas escolas de pensamento italianas foi sendosubstituda pelos autores norte-americanos14 .Tal fato ocorreu por conta da necessida-de de se rever e repensar o ensino dacontabilidade naquela poca em funodos avanos econmicos e sociais deento. Tal situao repete-se agora. Comum mundo tecnologicamente avanadoe muito mais globalizado, h que seajustar o ensino contbil para atender asnovas demandas. preciso, mais umavez, repens-lo. O que fazer ento paraajustar esse foco e ampliar a viso dacontabilidade, principalmente para seusnovos aprendizes?

    3. AJUSTAR O FOCO UMA NOVAANTIGA VISO CONTBIL

    Alterar o foco dos cursos de cinciascontbeis no algo to simples quantopossa parecer. o que afirmam IN-GRAM e HOWARD (1998)15 , que aler-tam que uma mudana de objetivos irrequerer, por exemplo, que os critriosde avaliao sejam revistos, adequando-os para que sirvam de auxlio ao alcancedesses novos objetivos. Afinal, o maisimportante no o aluno encontrar oresultado que est no gabarito do exer-ccio, mas compreender os procedimen-tos realizados e os caminhos percorri-dos para se alcanar determinado resul-tado final. Esses estudiosos lembram,ainda, que as instituies apresentamestruturas e culturas diferentes, haven-do, por exemplo, aquelas que enten-dem que o objetivo principal do curso apresentar aos alunos as bases concei-tuais da contabilidade, enquanto ou-tras consideram mais importante enfa-tizar questes comportamentais. Ou-tras, ainda, podem entender que o ob-jetivo essencial do curso transmitiraos alunos aquelas competncias quelhes possibilitem ter autonomia paragerenciar suas vidas profissionais. Taismudanas seriam, portanto, bastantecomplexas, nunca uniformes, varian-do, inclusive, por questes ideolgicas.

    Seja como for, o estabelecimento deobjetivos educacionais abrangentes e con-

    indesejveis que trazem enormes preju-zos), averiguar os instrumentos demedio, acompanhar a legislao e evi-denciar claramente os resultados apura-dos para que todos possam v-la e en-tend-la.

    Com respeito a legislao, precisosalientar que nosso pas possui umaforte estrutura legal. Essa tambm umaherana europia que afeta profunda-mente a cincia contbil em nosso pas.No uma exclusividade, visto que pra-ticamente todos os pases latino-ameri-canos apresentam tal caracterstica. Aoapont-la, no se quer, de forma alguma,

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    sistentes e um desenvolvimento curricularque concorra para esses objetivos devemser priorizados como meta. Isso deve serfeito independentemente dessas questesculturais e estruturais abordadas anterior-mente. importante salientar, ainda, quealgumas das competncias dos profissio-nais da rea contbil so inerentes a suafuno e ao seu papel na sociedade. Repre-sentam, portanto, a sntese de sua atuao.No podem variar em funo de aspectosculturais, estruturais ou a partir de nfaseseducativas, mas so condies inequvocasde reconhecimento profissional, e sem elasno se poder exercer a profisso comdignidade.

    claro que os cursos de contabilida-de precisam garantir que os alunos com-preendam profundamente a dinmicacontbil, conheam o embasamento te-rico que as fundamenta, apliquem cor-retamente os mtodos, processos e crit-rios aceitos como essenciais garantia decredibilidade e consistncia das informa-es, reconheam a importncia dos me-canismos de apurao e controle, e men-surem esses dados com perspiccia, evi-denciando-os em demonstrativos e rela-

    trios. No entanto, tais conhecimentosno existem por si s. Precisam estarharmonizados com outras questes edecises fora do mbito estritamentecontbil.

    No ensino da contabilidade, preci-so avanar para alm das fronteiras con-tbeis, mas sem perder a gnese de suaconstituio, a razo de seu surgimento,o motivo pelo qual ela se perpetuou portodos esses anos, desde as antigas civili-zaes at as sociedades atuais. A conta-bilidade e sua razo de ser jamais muda-ram. Houve apenas um aumento daquantidade e da complexidade das ope-raes e uma enorme diversificao devariveis que interferem na concluso deseus objetivos.

    Nesse sentido, uma questo inicialque se deve fazer tentar responder auma pergunta simples e bsica: O que contabilidade?

    Parece-nos fundamental discutir esseponto porque entendemos que, muitasvezes, no se configuram de modo claropara a sociedade a verdadeira importn-cia e o significado da contabilidade. Essafalta de nitidez traz reflexos no s paraa imagem da profisso, mas tambm -eprincipalmente - para o prprio proces-so de ensino e aprendizagem contbil.Afinal de contas, o que a contabilidaderepresenta? Para que ela serve? Quais soseus limites e por que ela necessria?Dificilmente algum que no tenharespostas devidamente claraspara estas questes ir seinteressar em ingressar emestudos nessa rea. Almdisso, se os pais dessesfuturos trabalhadoresno enxergarem suaimportncia, no im-primiro esforos deconvencimento ou deorientao aos seus fi-lhos nesse sentido,visto no vislumbra-rem na rea algo real-mente valioso.

    A fim de tentar elucidaresses pontos, salientamos, ini-cialmente, que a contabilidade uma cincia que tem objetoprprio: o patrimnio.

    Cabe contabilidade, portanto, or-ganizar e controlar dados e informaessobre esse patrimnio. Em tempos an-tigos, o foco residia nas pessoas fsicas,pois eram elas que possuam riquezasque necessitavam de controles. Aindano existiam organizaes empresariaistais como concebidas hoje. Com o passardo tempo, porm, e com os avanos nasreas de administrao e da tecnologia dainformao, a nfase patrimonial recaiusobre as pessoas jurdicas, muito embo-ra, ainda nos dias de hoje, seja necessriopara qualquer pessoa fsica fazer uso deconceitos e princpios contbeis para finsde planejamento e controle pessoal desuas finanas e de seu patrimnio parti-cular. Esse patrimnio, que o objeto deestudo da contabilidade, composto debens, compreendendo tudo aquilo que aempresa possui, ou seja, veculos, m-veis, mquinas etc., direitos, represen-tando valores a receber de outros e obri-gaes, significando valores a pagar aoutros. A contabilidade ento incumbe-se de organizar, registrar e controlar to-das as variaes que ocorrem nesse patri-mnio, e esse acompanhamento feitocom um objetivo muito claro: auxiliarcom informaes e valores todas as pes-soas que queiram conhecer, por algumarazo, os resultados alcanados por de-terminada empresa.

    ...A contabilidade e suarazo de ser jamaismudaram. Houve

    apenas um aumento daquantidade e da

    complexidade dasoperaes e uma

    enorme diversificaode variveis que

    interferem na conclusode seus objetivos.

  • 70 B. TC. SENAC, Rio de Janeiro, v. 33, n.1, jan./abr. 2007.

    O objetivo dacontabilidade ,

    portanto, ajudar essaspessoas, em suadiversidade, com

    informaes, dados evalores que as

    auxiliem a tomardecises acertadas ecom menores riscos.

    Essas pessoas que se interessam pe-las informaes contbeis so denomi-nadas, em geral, de usurios da contabi-lidade, e podem representar tanto pes-soas fsicas quanto jurdicas.

    Os usurios da contabilidade somuitos e podem ter necessidades diferen-ciadas. Esse ponto importante, poispressupe que nem todos os usuriospodem estar em busca das mesmas infor-maes. Tal afirmao carrega consigo ain-da uma outra pressuposio: a de quemesmo que essa convergncia acontea,ou seja, ocorra a busca de uma mesmainformao por dois usurios diferentese distintos, em funo da necessidade decada um, tal informao poderia ser ana-lisada sob ticas diferentes. Para entendermelhor essa discusso, e por uma questodidtica, vamos segmentar esses usuriosem duas grandes categorias: usurios in-ternos e externos.

    Alguns usurios internos, por exem-plo, diretores e gerentes das empresas,logicamente demandam informaescontbeis gerais para gerirem o negcio.No entanto, para eles pode interessarprioritariamente conferir, pelos resulta-dos da contabilidade, se as metas traa-das e estabelecidas pela direo geral daempresa no incio do perodo foram ouno alcanadas. Os demais funcionriosda empresa, tambm usurios internos,podem, por sua vez, estar mais interes-sados nos benefcios indiretos e na me-lhoria das condies de trabalho. Saber ovalor do montante reservado pela em-presa para o benefcio social dos empre-

    gados e de seus dependentes, bem comoos eventuais planos de ampliao dessesbenefcios , certamente, uma informa-o muito mais importante para eles doque o cumprimento do plano de metas.

    Como havamos afirmado anteri-ormente, essa segmentao est apre-sentada no intuito de fortalecer a idiade necessidades diversas de informa-es contbeis pelos vrios usurios.De forma alguma quer se dizer que elassejam excludentes entre si. claro quenenhum trabalhador, seja ele do corpodiretivo ou no, ficaria tranqilo se aempresa no apresentasse estabilidadefinanceira que lhes garantisse algumasegurana. No entanto, existe uma bus-ca maior por parte de algumas infor-maes em detrimento de outras. Osacionistas e investidores, por exem-plo, podem estar muito mais interes-sados no critrio de distribuio doslucros adotado pela empresa. Em rela-o aos usurios externos tambm exis-te essa dicotomia, pois enquanto ogoverno avalia prioritariamente infor-maes da contabilidade relativas aomontante de tributos recolhidos, asempresas fornecedoras de materiais einsumos podem estar mais interessa-das nas informaes relativas aos volu-mes de vendas, cnscios de que quantomaiores forem as vendas daquela em-presa, maiores sero as quantidades demateriais que ela precisar encomen-dar. Por tabela esses fornecedores tam-bm lucrariam. J para as instituiesfinanceiras, o foco se direciona para as

    condies de garantia depagamento de dvidasassumidas. Em outraspalavras, s se empres-ta recursos se houvergarantias reais de que aempresa tem patrim-nio suficiente para sal-dar as dvidas assumi-das. A prpria socieda-de, em ltima instn-cia, tambm usuriadas informaes cont-beis, pois atravs des-ses demonst ra t ivospode averiguar, porexemplo, se a empresa

    est destinando recursos para progra-mas de preservao ambiental ou seest envolvida na defesa de causas so-ciais. Na esfera pblica, a sociedadepode tambm acompanhar o desen-volvimento dos gastos e avaliar se adistribuio dos recursos foi realizadadentro dos limites oramentrios pre-vistos. possvel demonstrar o mon-tante de recursos destinados educa-o, sade, saneamento bsico, cultu-ra, segurana pblica e outras priorida-des que as cidades precisam estabelecer.Sendo assim, pode-se verificar que asinformaes apuradas pela contabili-dade so vistas por muitas pessoas eque estas podem ter necessidades dife-rentes.

    O objetivo da contabilidade , por-tanto, ajudar essas pessoas, em sua di-versidade, com informaes, dados evalores que as auxiliem a tomar decisesacertadas e com menores riscos. Para queesse auxlio seja efetivo, to importantequanto fazer os clculos, elaborar de-monstrativos e apurar o resultado ope-racional dentro dos padres, normas eprincpios fundamentais, ter condiesde explicar didaticamente com exemplos,

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    orientaes e argumentos consistentes oque est por detrs dos frios nmerosdos relatrios. O que realmente essesdados querem dizer?

    Os alunos dos cursos de contabilida-de devem aprender a realizar os clculose elaborar os relatrios e demonstrativoscom alto padro de qualidade, em rgidaobedincia aos princpios e normas con-tbeis e sob os limites legais, como exigea tica profissional. Porm, os cursosdevem evidenciar tambm habilidadescomunicativas orais e escritas, alm dascapacidades de argumentao e de persu-aso, porque so eles, os contadores, quetero que explicar para as pessoas osusurios o que os nmeros significame, se alguma discordncia ainda houverquanto anlise realizada, provavelmen-te sero necessrios argumentos contun-dentes e balizados que sejam efetivostanto na defesa de uma idia quanto noconvencimento para uma tomada de de-ciso. Esse o cenrio de atuao doprofissional contbil e o grande desafio, trazer essa realidade para os cursos decontabilidade.

    4. A IMPORTNCIA DO PERFILPROFISSIONAL

    No se pode pensar num curso decontabilidade de qualidade e que efetiva-mente garanta condies de um bomdesempenho profissional aos novospostulantes ao cargo se no se tem claroo perfil profissional atual.

    Inicialmente, o curso deve logo cor-rigir a m concepo que muitos estu-dantes tm de que o contabilista de hoje o mesmo de tempos atrs. No exis-tem mais guarda-livros. H cerca de dezanos, SAUDAGARAN (1996)16 j sepreocupava com o foco dos cursos deCincias Contbeis. Esse autor j naque-la poca defendia que o objetivo maiorde um curso na rea contbil seria formarprofissionais com uma ampla viso con-tbil, muito alm daquela estreita pers-pectiva de escriturao com nfase nodbito e crdito e no ativo e passivo oferecida ainda em muitas instituies.A razo para isso muito simples: se omundo de hoje completamente dife-

    rente daquele de tempos atrs, no hcomo conceber um curso que ainda man-tenha intacta a mesma concepo, carac-tersticas e objetivos do passado. im-perativo, portanto, delinear de formantida o perfil profissional do contadorque se espera qualificar no curso, identi-ficando claramente as competncias ne-cessrias para essa concretizao. Esse um passo fundamental no intuito depossibilitar a insero no mercado deprofissionais realmente qualificados eque efetivamente atendam as necessida-des atuais do mundo do trabalho. Isso o que tambm defende CAMARGO(1999), quando diz: h que se conhecerplenamente a rea de atuao profissional docontador, a fim de que se tenha conhecimentodo que este ir precisar em conhecimentos parapoder, honestamente, desempenhar sua mis-so17 . FERREIRA (1992) segue a mes-ma linha de raciocnio: analisar o ensino

    da contabilidade merece, antes, analisar-se oambiente em que a profisso est inserida18 .

    Em linhas gerais e com base no cen-rio atual, um curso de contabilidade deveenfatizar, alm dos aspectos estritamen-te contbeis (teoria, princpios, formas emtodos de registro, relatrios, demons-trativos etc.), pontos fundamentaiscomo: o papel da contabilidade no siste-ma econmico como um todo, a intera-o da contabilidade na poltica, na eco-nomia e nos ambientes empresariais, oprocesso de estabelecimento de estrat-gias, padres e tomadas de deciso nacontabilidade que afetam o desenvolvi-mento das organizaes, alm de discu-tir suas dimenses agora internacionais.Preocupaes mais recentes, como asrelativas ao meio ambiente, por exem-plo, tambm fazem parte do campo deatuao da contabilidade e no podemdeixar de ser referenciadas. Qual a ajuda quea contabilidade pode dar para responder atodas essas questes?

    Como se observa, o perfil do profissi-onal contbil mudou drasticamente. Naverdade, ele acompanhou o ritmo das alte-raes econmicas, sociais e polticas nomundo. Imagina-se que, em breve, hajaum padro contbil internacional, ou seja,critrios homogneos em todos os pases.J existem organismos internacionais dis-cutindo a questo e emitindo pronuncia-mentos. Esse tema precisa estar tambmpresente no currculo dos cursos de cinciascontbeis. Alm desses pontos, funda-mental tambm que os programas doscursos abordem extensivamente, um temaque por vezes esquecido: as limitaes dainformao contbil.

    5. OS LIMITES DAS INFORMAESCONTBEIS

    Certos valores ou benefcios, embo-ra muito importantes para uma empre-sa, no podem ser reduzidos a um n-mero, um valor ou ndice financeiro. Acontabilidade oferece, na verdade, umsistema de informaes amplo e abran-gente, presente em todas as organiza-es, passvel de comparao, visto quesegue princpios fundamentais, normasorientadoras e padres aceitos universal-

    ...os cursos devem

    evidenciar tambmhabilidades

    comunicativas orais eescritas, alm dascapacidades de

    argumentao e depersuaso, porque soeles, os contadores, que

    tero que explicarpara as pessoas osusurios o que osnmeros significam...

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    mente. Porm, ela no pode e jamaisconseguir resolver todos os problemas.Existem vrias questes que no passampor qualquer sistema de informao, em-bora sejam importantes do ponto devista da cultura da organizao, de suacapacidade intelectual e da aprendizagemorganizacional.

    Nem tudo pode ser traduzido emnmeros. Valores so subjetivos e, por-tanto, no podem ser mensurados comexatido. Sendo assim, importante afir-mar que as informaes contbeis de-vem ajudar as pessoas a tomarem deci-ses, mas de forma alguma representamcom exatido o retrato de uma realidadepresente ou futura. Em outras palavras,h que se demarcar fronteiras entre osnmeros apurados nos resultados oulevantados nas projees com outras va-riveis no controlveis. As informaescontbeis representam uma referncia,um ponto de apoio, mas a dinmica domundo rpida e, na maioria das vezes,surpreendente. Alm disso, a subjetivi-dade das escolhas e decises dos diver-sos usurios carregam consigo desejos eideologias, alm de diferenciados grausde importncia sobre determinada in-formao. Aspectos intuitivos tambmno podem ser expressos em nmeros.Projees so estimativas. Elas podemno vir a se concretizar. No entanto, ainformao contbil tende a minimizarriscos.

    Muitas vezes, em funo das inme-ras fraudes e desvios ocorridos em em-presas e organizaes pblicas, as pesso-as tendem a questionar a eficincia dacontabilidade no acompanhamento dasaes organizacionais. Como j foi ditoneste trabalho, a contabilidade realmen-te incapaz de resolver todos os proble-mas de controle das aes no ambienteempresarial. Porm, importante dife-renciar limitaes da contabilidade como uso indevido dos controles e manu-seio fraudulento das informaes. Gran-de parte das fraudes e falhas de controleno resulta de problemas vinculados contabilidade propriamente dita enquan-to sistema de informaes, mas da utili-zao inadequada e indevida de algunsde seus mecanismos. Um bom profissi-onal reconhece os limites da contabilida-

    de e sabe detectar tais fronteiras. pre-ciso que as pessoas de fora tambmentendam essa diferena. Como elas irosaber se no lhes for dito?

    Discutir as limitaes da cincia con-tbil fundamental e deve ser uma pri-oridade nos cursos de contabilidade.Debater tambm os danos que o usoindevido dos instrumentos de controledesse sistema podem causar s organiza-es, aos usurios e sociedade de modogeral tambm igualmente relevante.Isso diz respeito imagem da profissoe auto-estima do profissional. preci-so incutir nos alunos que os aspectostcnicos so importantes, mas no me-nos do que a postura profissional. Naverdade, elas so indissociveis. A capa-cidade de comunicao que se exige noscursos , inclusive, para garantir aos alu-nos a coerncia profissional e a iniciativapara se insurgir contra eventuais afirma-es que erroneamente forem veiculadasna mdia ou ditas sobre a ineficincia dacontabilidade em certas situaes, quan-do, na verdade, isso no representar umareal falha no sistema. preciso mostrare comunicar s pessoas, pelos meios emodos possveis, a diferena entre limi-tao contbil e uso indevido das infor-maes contbeis.

    A contabilidade, como cincia socialque , precisa ser identificada e conhecidapor sua utilidade, e no pelo fato de estarconstantemente associada a eventos ne-gativos, seja pela negligncia nos contro-les, por falha nos procedimentos de au-ditoria ou pela manipulao de dados einformaes. Tais fatos denigrem a ima-gem do contador mesmo que, muitasvezes, ele no tenha qualquer participa-o ou envolvimento na situao. Nofinal o que fica a desconfiana. O resgateda tica profissional e a reconquista defi-nitiva de credibilidade junto sociedades sero alcanados atravs da educao,pois a melhoria do conceito e a conseqentevalorizao profissional do contabilista estona dependncia de sua boa formao culturale tcnica, que deve constituir o principal obje-tivo da classe contbil (FRANCO, 1997)19 .A abordagem do tema , portanto, deinegvel relevncia, e objetiva tambmvisualizar um novo cenrio da profisso,em que a responsabilidade social e a

    ...dentre os vrios

    atributos inerentes aocontador, a tica

    profissional seria ovalor mais importantepara incrementar oaumento da eficcia

    da atuaoprofissional e para

    garantir oreconhecimento daimportncia da

    cincia contbil junto sociedade.

  • 73B. TC. SENAC, Rio de Janeiro, v. 33, n.1, jan./abr. 2007.

    importncia educacional estejam firme-mente inseridas.

    Essa necessidade j sentida halgum tempo pelos profissionais darea. Uma pesquisa realizada no muni-cpio do Rio de Janeiro (COELHO,2000)20 junto a 136 profissionais con-tbeis atuantes em empresas comerci-ais, industriais e de servios comprovaessa tese. Na opinio dos entrevista-dos, dentre os vrios atributos ineren-tes ao contador, a tica profissionalseria o valor mais importante para incre-mentar o aumento da eficcia da atuaoprofissional e para garantir o reconheci-mento da importncia da cincia cont-bil junto sociedade. A valorizao daprofisso s possvel com a melhoriados programas de contabilidade emtodos os nveis. H que se mudar acultura, redimensionar o perfil dos pro-fissionais e inserir no curso a utilizaode recursos tecnolgicos em benefcioda aprendizagem. Discutiremos esse l-timo tema a partir de agora.

    6. A TECNOLOGIA A SERVIO DAEDUCAO CONTBIL

    No mundo globalizado de hoje, no possvel a atuao de uma empresa semque haja movimentao de recursos atra-vs de um sistema financeiro, que cobravalores por esse servio em troca de faci-lidades que s o desenvolvimento datecnologia pode trazer.

    O volume de registros e operaes,aliado a necessidade de informaesimediatas exige, cada vez mais, umaimerso nos meandros tecnolgicos ecomputacionais. Esse um caminhosem volta. Os controles contbeis hojeatuam dentro de sistemas integradosque so atualizados com efetiva cons-tncia. Essas atualizaes so necessri-as em funo da prpria dinmica domundo moderno. Esse o ambiente detrabalho do profissional de contabili-dade. Da mesma forma que no se podeimaginar um escritrio contbil ou umdepartamento de contabilidade de umaempresa sem computadores com aces-so internet e sem a devida integraoa toda essa realidade virtual, no se

    poderia conceber, de forma anloga, umcurso de Cincias Contbeis em quealunos e professores no tivessem a suadisposio recursos que procurassemretratar, tanto quanto possvel, esseambiente profissional. Qual olimite no qual a ausncia do usodos recursos tecnolgicos nocurso pode prejudicar o pro-cesso de ensino e aprendiza-gem da contabilidade e impli-car na perda de qualidade dessecurso?

    Nos aspectos pedaggicose metodolgicos, poder-se-iaquestionar, ainda, se poss-vel trabalhar todo o programasomente com aulas expositi-vas e com muita escrita no ca-derno, sem ao menos apresentarum mnimo de proximidade comos recursos tecnolgicos presentes noambiente dos negcios. A tecnologiapode (e deve) otimizar o tempo deaula. Por que continuar a ditar exercci-os ou mesmo copi-los no quadro seh recursos que podem substituir essaprtica? Sempre que for possvel, porque no utiliz-los? Os recursos tecno-lgicos podem ser um instrumentofacilitador tambm na concepo demetodologias ativas que requeiram aparticipao dos alunos de uma formamais efetiva.

    A busca pela informao, atravs dapesquisa, deve ser estimulada. No ambi-ente empresarial onde o aluno ir atuar,a informao ter que ser procurada, in-vestigada e analisada de forma consis-tente a fim de se tomar as decises pau-tadas em argumentaes e avaliaesfundamentadas. Nada lhe vir a mo depronto. A capacidade de abstrao e an-lise deve ser enfatizada nos cursos, por-que so requisitos profissionais funda-mentais nos dias de hoje. Nesse sentido, importante conciliar o uso dos recursostecnolgicos adoo de um modelopedaggico que tenha como objetivoprincipal fazer com que os graduados emcontabilidade adquiram no curso com-petncias que se igualem s exigidas por aque-les que iro empreg-los (PRATT; FRE-DERICKSON 1995)21 . A tecnologiapode e deve ser utilizada nos cursos de

    cincias contbeis, tanto do ponto devista da otimizao do tempo de aulaquanto na perspectiva de proximidadeda prtica profissional. Ela precisa estarpresente nos cursos de contabilidade pelosimples fato de que a tecnologia faz partede nossa vida.

    A educao a distncia aliada tecno-logia mostra-se um caminho rico para aexplorao educacional na rea contbil, epode, ao mesmo tempo, facilitar o incre-mento dos programas de contabilidade eorientar os alunos a vislumbrarem commais clareza uma necessidade que certa-mente tero: de educao continuada.

    7. CONCLUSO

    Refletir sobre o ensino da contabilida-de fundamental para o crescimento dacincia contbil em nosso pas. Esse cres-cimento no deve se pautar apenas noaumento do nmero de profissionais nomercado, mas tambm na qualidade dosservios que a contabilidade pode e deveprestar sociedade. No h melhor ma-neira de se mudar o contexto contbilatual do que por meio da educao.

    A dinmica do mundo, a internacio-nalizao dos mercados, a concorrncia e

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    muitas outras questes exigem novapostura profissional e, portanto, re-querem mudanas consistentes e signi-ficativas no ensino, a fim de permitiraos alunos a aquisio de competnciasque realmente lhes dem condies parauma atuao eficaz diante desse cenrio.Reconhecer a contabilidade como cin-cia social, cujo objetivo essencial aju-dar pessoas, deve ser algo relembradocontinuamente pelo corpo docente afim de que o ensino no fique descon-textualizado e para que os procedimen-tos metodolgicos ao longo do cursoconcorram para o atendimento desseobjetivo. Para tanto, h que se mudaraspectos culturais e comportamentaisarraigados em nosso contexto social eque muitas vezes emperram e dificul-tam o desenvolvimento da contabilida-de em nosso pas. O objeto de estudoda contabilidade continua sendo o pa-trimnio, e seu objetivo principal decarter social, pois visa auxiliar o serhumano em necessidades especficas.As organizaes, sejam elas pblicas ouprivadas, representam o ambiente deatuao da cincia contbil. Elas, po-rm, so compostas por pessoas quenecessitaro, em maior oumenor grau e em situaesdiversas e distintas, de in-formaes fornecidas pelacontabilidade para decidi-rem-se por um caminho eagirem de acordo com aquiloque elas almejam ou esperam.O ensino da contabilidade, por-tanto, deve trabalhar em harmo-nia nmeros, clculos e contas, comvalores, posturas e procedimentos.Em outras palavras, deve equilibraraspectos quantitativos e qualitativos.Um debate permanente sobre o que efetivamente importante no ensinoda contabilidade e quais devem ser osobjetivos principais do curso apre-sentam-se como questes fundamen-tais para um eficiente desenho curricu-lar que concorra para o atendimentodessas necessidades. O perfil do pro-fissional da rea contbil muito di-ferente de outras pocas. No entanto,h que se diferenci-lo ainda mais. Sa educao pode tornar isso possvel.

    certo que o desenvolvimento dacontabilidade no pas no est atreladosomente aos aspectos contbeis, masest vinculado tambm a melhoria daqualidade de vida das pessoas, a organi-zao econmica do pas e ao reconhe-cimento social da necessidade de plane-jamentos e controles efetivos para umavida coletiva melhor. Contabilizar im-portante porque gera informaes cujoconhecimento prvio pode nos alertarpara uma situao ou mesmo nos ensi-nar sobre alguns fatos importantes.Sem informao no se tem viso clarado que est pela frente. Com informa-o pode-se prevenir muitos proble-mas. A tecnologia e os benefcios que elaproduz devem ser aproveitados nosprogramas de contabilidade, seja porquestes didticas, metodolgicas e deotimizao do tempo de aula, seja porevidenciar, ainda que de maneira parcial,o ambiente de atuao profissional. Porfim, o debate educacional sempre ins-tigador e tem o dom de renovar espe-ranas e expectativas de crescimento pes-soal e coletivo em todos os aspectos.Como afirma LAFFIN (2005), umaeducao de qualidade pressupe ser constru-

    tiva e participativa, deixando o aluno,tanto quanto professor, de serem umobjeto de manifestao da aprendiza-gem para ser participante do processode construo do conhecimento22 .

    SITES:

    http://www.portalmedico. org.br/es-tatisticas/estatisticas. asp?portal = Aces-so em 04 de janeiro de 2007 9h50

    h t t p : / / w w w . o a b . o r g . b r /relatorioAdvOAB.asp Acesso em 04 dejaneiro de 2007 9h55

    http://www.cce.ufsc.br/~nupill/lite-ratura/carta.html Acesso em 05 dejaneiro de 2007 10h

    NOTAS:

    1 Apud. PELEIAS, Ivam Ricardo; BAC-CI, Joo. Pequena cronologia do desen-volvimento contbil no Brasil: os pri-meiros pensadores, a padronizaocontbil e os congressos brasileiros de

    ...O ensino da

    contabilidade,portanto, devetrabalhar em

    harmonia nmeros,clculos e contas, com

    valores, posturas eprocedimentos. Emoutras palavras, deveequilibrar aspectos

    quantitativos equalitativos.

  • 75B. TC. SENAC, Rio de Janeiro, v. 33, n.1, jan./abr. 2007.

    contabilidade. Revista Administrao online, FECAP, v. 5, n.3, p. 39-54, jul./ago./set.2004. Disponvel em: Acesso em : 20. dez. 2007. EsseDecreto Imperial n. 4.475 de 18 de fevereirode 1870, reconheceu oficialmente a Associ-ao dos Guardas-Livros da Corte, tornandoo guarda-livros uma das primeiras profis-ses liberais regulamentada no Brasil.

    2 RODRIGUES, Alberto Almada. A impor-tncia do professor no ensino e a educaocontbil. Revista do CRCRS, Porto Alegre,v. 17, n. 51, p. 39-44, 1988. p. 42.

    3 Instituto Nacional de Estudos e PesquisasEducacionais (Inep 2006). No cadastro deinstituies do ensino superior encontram-se 947 cursos de Cincias Contbeis, Dispo-nvel em: Acesso em: 28 dez. 2006.

    4 Conselho Federal de Contabilidade (CFC)Disponvel em: Acesso em:04, jan. 2007

    5 DEFFUNE, Deisi; DEPRESBITERIS, La.Competncias, habilidades e currculosde educao profissional crnicas ereflexes. So Paulo: Editora Senac/SP,2000. p. 32.

    6 NEGRA, Carlos Alberto Serra. Metodolo-gia para o ensino contbil: o uso de artigostcnicos. Contabilidade Vista e Revista,Belo Horizonte, v. 10, n. 1, p. 13-17, mar.,1999. p. 22.

    7 ENRIQUEZ, Eugne. Os desafios ticosnas organizaes modernas. Revista de Ad-ministrao de Empresas RAE, SoPaulo, v.37, n.2, p.6-17, abr./jun., 1997. p. 37.

    8 SILVA, Tnia Moura da Tnia Moura da;SILVA, Slia Grbner da. Cincia Contbil:a necessidade de mercado. Revista CR-CRS, Porto Alegre, v. 25, n. 85, p. 19-25, abr/jun, 1996. p. 23.

    9 CAMARGO, Ynel Alves de. O ensino dacontabilidade e o futuro da profisso. Re-vista CRCRS, Porto Alegre, v. 20, n. 66, p.39-46, 1991.

    10 KOLIVER, Olvio. A educao contbil noBrasil: Panorama, desafios e desenvolvi-mentos futuros . Revista Brasileira deContabilidade, Braslia, v. 26, n. 108, p. 18-21, 1998. p. 27.

    11 PACCIOLI, Luca. Suma de ArithmeticaGeometria et Proportionalit. Apud. VAL-LE, Francisco; ALOE, Armando. Fr LucaPacioli e seu tratado de escriturao decontas. So Paulo: Atlas, 1966. 198 p.

    12 LOPES, Alexandre Broedel & MARTINS,Eliseu. Teoria da contabilidade uma nova

    abordagem. So Paulo: Atlas, 2005. p. 52.

    13 LAFFIN, Marcos. De contador a professor:a trajetria da docncia no ensino superiorde contabilidade. Florianpolis: ImprensaUniversitria, 2005. p. 171.

    14 SCHMIDT, Paulo. A histria do pensa-mento contbil. Porto Alegre: Bookman,2000. reimpresso 2002. p. 209.

    15 INGRAM, Robert W.; HOWARD ThomasP. The association between course objec-tives and grading methods in introductoryaccounting courses. Issues in accountingeducation, v. 13, n. 4, nov., 1998.

    16 SAUDAGARAN, Shahrokh M. The firstcourse in accounting: an innovative appro-ach. Issues in accounting education. v.11,n. 1, p. 84-94, 1996. p. 85.

    17 CAMARGO, Ynel Alves de. O ensino dacontabilidade e o futuro da profisso. Re-vista CRCRS, Porto Alegre, v. 20, n. 66, p.39-46, 1999. p. 39.

    18 FERREIRA, Aracli Cristina de Sousa. Oensino da contabilidade Mudana noscursos de cincias contbeis Questo decurrculo ou mentalidade? ContabilidadeVista e Revista, Belo Horizonte: v. 4, n. 1,p. 3-8, fev., 1992. p. 3.

    19 FRANCO, Hilrio. Cursos de ps-gradua-o, educao profissional continuada evalorizao da profisso contbil. RevistaBrasileira de Contabilidade, Braslia, v. 26,n. 103, p. 46-55, jan./fev., 1997. p. 53.

    20 COELHO, Claudio Ulysses Ferreira. O en-sino superior de contabilidade e o merca-do de trabalho : uma anlise no municpiodo Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2000. 138f. Graf. Dissertao (Mestrado em CinciasContbeis) Faculdade de Administrao eCincias Contbeis, UFRJ. 2000.

    21 PRATT, Jamie; FREDERICKSON, James R.A model of the acoounting education pro-cess. Issues in accounting education. v. 10,n. 2, l995. p. 231.

    22 LAFFIN, Marcos. (2005) op. cit., 2005. p.171.

    ABSTRACT

    Claudio Ulysses Ferreira Coelho. Re-flections on teaching accounting:cultural and methodologicalaspects.

    The main objective of this article is topromote a reflection on accountingteaching in Brazil, focused on cultu-ral and methodological aspects. Theimportance of this discussion is main-

    ly to point out the need to shift thefocus of accounting programs in thecountry, in order to bring them closerto current professional needs, as wellas to align them to current social andeconomic dynamic. Through discus-sion on historical, educational, andprofessional development of accoun-ting in Brazil, up to its current con-figuration in the national scenario,this study stresses some points thatdeserve attention in order to achievethe main purpose of this discussion: toimprove the quality of accounting pro-grams in Brazil.

    Keywords: Accounting; Teaching;Social science; Professional profile;Accounting system; Professional ethics.

    RESUMEN

    Claudio Ulysses Ferreira Coelho. Re-flexiones sobre la enseanza dela contabilidad: aspectos cultu-rales y metodolgicos.

    El objetivo principal de este artculo espromover una reflexin sobre la ense-anza de la contabilidad en el Brasil,enfatizando aspectos culturales y me-todolgicos. La importancia del objeti-vo principal del debate es sealar lanecesidad de un cambio de enfoque enlos programas de contabilidad del pas,a fin de hacerlos ms afines a las nece-sidades profesionales de nuestro tiempoy al mismo tiempo, adaptarlos a ladinmica social y econmica actual. Pormedio de la discusin sobre el desarrollohistrico, educacional y profesional dela contabilidad en el Brasil, hasta suconfiguracin actual en el escenarionacional, se comprobarn en este estu-dio, algunos puntos que merecen aten-cin con referencia al logro del objetivoprincipal del presente debate: mejorar lacalidad de los programas de contabili-dad en el Brasil.

    Palabras clave: Contabilidad;Enseanza; Ciencia social; Perfilprofesional; Sistema contable; ticaprofesional.

    Una Vieja Escuela para Gente NuevaLuis Felipe Jimnez Jimnez Desenvolvimento Econmico Local, Parceria Pblico-Privado e a Cobertura Municipal da Educao ProfissionalDonaldo Bello de Souza; Marise Nogueira Ramos; Neise Deluiz Educao Popular: experincias de rdio-educao no Brasil, de 1922 a 1960Valria Mrcia Mendona A Contribuio da Prtica Reflexiva para uma Docncia com Profissionalidade Ana Maria Rocha Oliveira Reflexes Sobre o Ensino de Contabilidade: aspectos culturais e metodolgicosClaudio Ulysses Ferreira Coelho Gesto Pblica e Dilogo Social para a Igualdade de Gnero e Raa: elementos para construo de uma metodologia Ana Claudia Farranha