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Reflexões sobre o Ensino de Língua Portuguesa - Vasconcelos Revista Diálogos N.º 17 abril./maio. 2017 312 Reflexões Sobre o Ensino de Língua Portuguesa no Ensino Fundamental II de uma Escola da Rede Pública de Jucati - Pe 1 d.o.i. 10.13115/2236-1499.v1n17p312 Jéssica Santos Vasconcelos 2 - UPE/UCAM Fernando Augusto de Lima Oliveira - UPE Resumo: A língua é inerentemente um sistema inerentemente; no entanto, neste trabalho, partimos do pressuposto que seu ensino, na maioria das vezes, se alicerça somente à gramática normativa, camuflando esta heterogeneidade. À vista disso, realizamos uma pesquisa sistemática com o corpo docente de Língua Portuguesa de uma escola pública, a fim de compreendermos com qual concepção de língua eles trabalhavam em suas aulas e se tentavam desenvolver a Competência Comunicativa em seus alunos. A análise dos dados foi realizada à luz da perspectiva teórica da Sociolinguística Educacional, tendo como suporte os estudos de Bortoni-Ricardo (2004, 2005, 2014); Hymes (1966); Cavalcante (2015); Bagno (2007, 2014); Guy e Zillles (2006) e Antunes (2003); e, para legitimar o ensino de língua a partir de um viés heterogêneo, nos fundamentamos no PCN de Língua Portuguesa (1997) e no PEBEPE (2012). 1 Trabalho orientado por Fernando Augusto de Lima Oliveira, Doutor em Linguística e professor da Universidade de Pernambuco UPE/Campus Garanhuns. E-mail: [email protected] 2 Graduada em Letras Português e suas literaturas pela Universidade de Pernambuco - UPE/Campus Garanhuns e Pós-Graduanda em Ensino de Língua Portuguesa pela Universidade Cândido Mendes UCAM. E- mail: [email protected]

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Reflexões sobre o Ensino de Língua Portuguesa - Vasconcelos

Revista Diálogos N.º 17 – abril./maio. – 2017 312

Reflexões Sobre o Ensino de Língua Portuguesa no

Ensino Fundamental II de uma Escola da Rede Pública

de Jucati - Pe1

d.o.i. 10.13115/2236-1499.v1n17p312

Jéssica Santos Vasconcelos 2 - UPE/UCAM

Fernando Augusto de Lima Oliveira - UPE

Resumo: A língua é inerentemente um sistema

inerentemente; no entanto, neste trabalho, partimos do

pressuposto que seu ensino, na maioria das vezes, se alicerça

somente à gramática normativa, camuflando esta

heterogeneidade. À vista disso, realizamos uma pesquisa

sistemática com o corpo docente de Língua Portuguesa de

uma escola pública, a fim de compreendermos com qual

concepção de língua eles trabalhavam em suas aulas e se

tentavam desenvolver a Competência Comunicativa em seus

alunos. A análise dos dados foi realizada à luz da perspectiva

teórica da Sociolinguística Educacional, tendo como suporte

os estudos de Bortoni-Ricardo (2004, 2005, 2014); Hymes

(1966); Cavalcante (2015); Bagno (2007, 2014); Guy e

Zillles (2006) e Antunes (2003); e, para legitimar o ensino de

língua a partir de um viés heterogêneo, nos fundamentamos

no PCN de Língua Portuguesa (1997) e no PEBEPE (2012).

1 Trabalho orientado por Fernando Augusto de Lima Oliveira, Doutor em

Linguística e professor da Universidade de Pernambuco – UPE/Campus

Garanhuns. E-mail: [email protected] 2 Graduada em Letras – Português e suas literaturas pela Universidade de

Pernambuco - UPE/Campus Garanhuns e Pós-Graduanda em Ensino de

Língua Portuguesa pela Universidade Cândido Mendes – UCAM. E-

mail: [email protected]

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Palavras-chave: Língua; Ensino; Heterogeneidade;

Sociolinguística Educacional; Competência Comunicativa.

Abstract: Language is inherently a heterogeneous system;

however, in this paper, we assume that its teaching, in most

cases, is based only on normative grammar, covering this

heterogeneity. In view thereof, we conducted a systematic

research with Portuguese teachers of a public school, in

order to understand which language conception they worked

with in their classes and if they tried to develop

Communicative Competence in their students. The data

analysis was carried out in the light of the theoretical

perspective of Educational Sociolinguistics, supported by

Bortoni-Ricardo studies (2004, 2005, 2014); Hymes (1966);

Cavalcante (2015); Bagno (2007, 2014); Guy and Zillles

(2006) and Antunes (2003); And to legitimize the teaching

of language from a heterogeneous bias, we are based on the

PCN of Portuguese Language (1997) and PEBEPE (2012).

Keywords: Language; Teaching; Heterogeneity; Educational

Sociolinguistics; Communicative Competence.

1. Introdução

A Sociolinguística Educacional surge com a

finalidade de analisar como a heterogeneidade linguística é

refletida no âmbito escolar, verificando seu impacto no

processo de ensino-aprendizagem da Língua Portuguesa

(LP). Para tanto, parte do pressuposto de que a língua é “[...]

intrinsecamente heterogênea, múltipla, variável, instável e

está sempre em desconstrução e em reconstrução” (BAGNO,

2007, p. 36).

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Podemos afirmar que essa vertente teórica tem dado

significativas contribuições no que concerne ao ensino de

LP, uma vez que seus postulados estão presentes nos

documentos que regem o ensino de língua, a saber: os

Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN, 1997) e os

Parâmetros para a Educação Básica do Estado de

Pernambuco (PEBEPE, 2012). Os referidos documentos,

alicerçados às teorias da Sociolinguística Educacional,

fornecem aos docentes o respaldo necessário para que eles

efetivem o ensino de língua a partir de uma perspectiva

heterogênea e interacional e, por conseguinte, desenvolvam a

Competência Comunicativa (CC) nos alunos.

No entanto, no presente trabalho, partimos da

conjectura que, quase sempre, os docentes trabalham a partir

de um viés homogêneo; e, em consequência disso, não

desenvolvem a CC em seus alunos. À vista disso, realizamos

um estudo sistemático com o corpo docente de uma escola

da rede pública de ensino, a fim de verificarmos com qual

perspectiva de língua eles trabalhavam em suas aulas.

De acordo com o aspecto formal, este trabalho está

dividido em quatro tópicos, conforme o exposto a seguir:

Tópico 1 – A Sociolinguística Educacional -

Objetivamos, com esse tópico, introduzir discussões

referentes à Sociolinguística Educacional e ao plurilinguismo

existente no Brasil.

Tópico 2 – O ensino de Língua Portuguesa – Nesse

item, apresentamos, de maneira genérica, como o ensino de

língua ocorre no país, bem como suas consequências. Nesse

sentido, expomos as contribuições da Sociolinguística

Educacional para o ensino de língua, as quais estão presentes

nos documentos que regem o sistema educacional nacional e

estadual.

Tópico 3 – Pressupostos Metodológicos e Análise de

Dados - Essa parte do trabalho compreende a apresentação

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da estruturação do corpus da pesquisa, bem como a sua

análise.

Tópico 4 – Considerações Finais – Nesse tópico,

apresentamos nossas conclusões a respeito do estudo

desenvolvido.

2. A Sociolinguística Educacional

A Sociolinguística teve seu desenvolvimento pautado

por dois princípios: o relativismo cultural e a

heterogeneidade linguística inerente e sistemática. De acordo

com o primeiro princípio, nenhuma variedade linguística

deveria ser considerada inferior ou subdesenvolvida; e, em

conformidade com o segundo, toda e qualquer língua é

marcada pela variação, a qual é sistemática e organizada.

(Cf. BORTONI-RICARDO, 2014, p. 157)

A partir desta e de outras premissas defendidas por

esta vertente teórica, surge a Sociolinguística Educacional,

uma ciência que analisa as variações linguísticas e suas

consequências no processo de ensino-aprendizagem de

língua. E, se tratando do ensino de língua no Brasil, é preciso

mencionarmos que esse país possui “[...] 190 línguas

indígenas, mais umas duas dezenas de línguas de imigração

(alemão, italiano, japonês, árabe, libanês etc.)” (BAGNO,

2014, p. 44), além da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS).

Sendo assim “o plurilinguismo está presente nesse país que

se diz monolíngue.” (CAVALCANTE, 2015, p. 300)

No entanto, apesar da existência de diversas línguas

no país, é irrefutável que o Português Brasileiro (PB) é a

língua majoritária, tendo em vista que a maioria dos

brasileiros o têm como língua materna; porém, “[...] esse

mesmo português brasileiro apresenta um alto grau de

diversidade e de variabilidade” (BAGNO, 2004, p. 27) isto é,

tê-lo como língua oficial não significa que há apenas uma

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forma de falá-lo, uma vez que a língua é um sistema

maleável.

Partindo desse pensamento, no próximo tópico

discutimos como se dá o ensino de língua no Brasil.

3. O ensino de Língua Portuguesa

Considerando que a língua oficial do Brasil, o PB, é

uma língua multifacetada, assim como qualquer outra, é

irrefutável que há sérias lacunas no que se refere a seu

ensino, uma vez que este, na maioria das vezes, é alicerçado

somente à gramática normativa, prezando pelo ensino da

língua padrão, em detrimento das demais variedades

linguísticas.

E, à medida que o ensino ocorre desta forma, a

instituição escolar funciona como uma força centrípeta, isto

é, uma força que tenta conter o caráter variável e mutável da

língua; além disso, mascara a realidade linguística do país,

ao passo que veicula uma única língua, a qual é considerada

“exemplar” e desconsidera toda e qualquer variante diferente

desta.

Isso posto, consideramos que o ensino de língua

continua preso a métodos arcaicos, apesar das inúmeras

contribuições teóricas e metodológicas da Sociolinguística

Educacional estarem presentes nos documentos que

governam o ensino de língua nacional e estadual.

Os Parâmetros para a Educação Básica do Estado de

Pernambuco (PEBEPE, 2012, p. 20) reconhecem que a

heterogeneidade é um fenômeno constituinte das línguas,

sendo assim, propõem a valorização dessa diversidade como

uma forma de combater o preconceito linguístico, como

podemos perceber no seguinte trecho: “Entendê-la como

variação significa reconhecer como legítimas as diferenças

dialetais e de registro que se apresentam em relação à

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variedade padrão, valorizar a diversidade linguística é

combater uma das formas mais severas de preconceito, o

linguístico.”

É importante frisar que nem a Sociolinguística

Educacional, tampouco os parâmetros curriculares, rejeitam

o ensino da língua padrão no contexto educacional, pelo

contrário, reconhecem a importância da sua abordagem, uma

vez que essa língua é considerada um instrumento de

ascensão social. À vista disso, é incumbência da escola

garantir que todas as pessoas, em especial aquelas

pertencentes às classes sociais desprestigiadas, tenham

acesso a essa modalidade, uma vez que “o caminho para uma

democracia é a distribuição justa de bens culturais, entre os

quais a língua é o mais importante.” (BORTONI-RICARDO,

2005, p. 15) e “[...] a apropriação da norma culta é

compreendida como condição para o exercício de uma

cidadania ativa” (PEBEPE, 2012, p. 21).

Nesse sentido, postulamos que a escola tem a função

de oferecer a língua padrão aos alunos, apesar do processo

de padronização realizar-se arbitrariamente, isto é, ser fruto

de fatores políticos, sociais, históricos e ideológicos e, por

não possuir nenhuma relação com fatores linguísticos,

(GUY; ZILLES, 2006, p. 43) todo cidadão tem direito de

conhecer novas possibilidades linguísticas; porém, “[...] não

só as regularidades da norma culta devem ser alvo de

análise, mas também as regularidades de outras variantes”

(PEBEPE, 2012, p. 21). Dessa maneira, a escola deve

respeitar e trabalhar com a língua materna do aluno, não

tentando modificá-la ou excluí-la, afinal, língua é identidade,

mas intervindo de modo cuidadoso, para que a criança possa

aprender novos hábitos, pois “[...] quando os modos de falar

da criança não são um campo de conflito, ela se torna mais

aberta à aquisição de estilos mais monitorados.”

(BORTONI-RICARDO, 2004, p. 42).

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Assim sendo, o professor de língua desenvolve em

seus alunos a Competência Comunicativa (CC), tendo em

vista que respeita a língua materna dos mesmos e, em

consonância a isso, lhes apresenta novas formas linguísticas,

ampliando gradativamente suas potencialidades

comunicativas e lhes orientando a adequar a língua de

acordo com a situação comunicativa que estiverem imersos.

O conceito de CC foi desenvolvido por Del Hymes

em 1966. O referido teórico afirma que além de regras para a

formulação de frases, há normas sociais e culturais que

definem a adequação do falar. Essa noção se alicerça

basicamente na adequação da língua feita, esqueçamos as

distinções remotas entre “certo” e “errado”, que acabam

fazendo o aluno sentir-se inferior; outrora, devemos

substituí-las pela dicotomia “adequado” e “inadequado”, de

forma que os mesmos entendam que há situações em que é

mais adequado usar a língua padrão e há outras situações que

permitem o uso de variantes, o que vai haver nessas

situações é um grau maior ou menor de monitoramento

estilístico.

A adequação ocorre a partir de regras estabelecidas

pelo meio social; e, na maioria das vezes, fazemos isso de

forma inconsciente. É preciso pensar, não muito, para

percebermos que nossa vida e nossas atitudes são baseadas

no princípio da adequação, uma vez que apropriamos nossas

roupas, maquiagens e etc. com base nos lugares em que

iremos usá-las; e, com a língua, isso não seria diferente. O

amoldamento da língua irá depender dos fatores

determinados pela cultura de um grupo, do grau de

formalidade/informalidade da situação, do grau de

intimidade entre os interlocutores e diversos outros fatores.

Desta maneira, as orientações oficiais de língua

portuguesa (PCN, 1997, p. 41) têm como objetivo principal

para o ensino fundamental que, no decorrer dos oito anos da

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educação básica, os alunos adquiram uma competência em

relação à linguagem.

Em suma, presumimos que o papel do professor de

Língua Portuguesa não é somente ensinar a língua padrão,

mas partir do uso interativo da língua, sendo assim,

considerar as línguas em uso. Além do mais, é preciso que

haja uma base teórica que sustente seus posicionamentos em

sala de aula, já que sabemos que teoria e prática são

indissociáveis, como enfatiza Antunes (2003, p. 40-41):

Não pode haver uma prática eficiente sem

fundamentação num corpo de princípios

teóricos sólidos e objetivos. Não tenho

dúvidas: se nossa prática de professores se

afasta do ideal é porque nos falta, entre

outras muitas condições, um

aprofundamento teórico acerca de como

funciona o fenômeno da linguagem humana.

[...] concepções, enfim acerca do uso

interativo e funcional das línguas, é o que

pode embasar um trabalho verdadeiramente

eficaz do professor de português.

Haja vista o que discutimos neste tópico,

desenvolvemos uma pesquisa qualitativa com todas as

professoras de Língua Portuguesa do ensino fundamental II

de uma escola pública, a fim de tentar compreender como se

dá o ensino de língua nessa escola. No próximo tópico,

portanto, detalhamos os procedimentos metodológicos para a

realização do estudo em questão bem como sua análise.

4. Pressupostos Metodológicos e Análise de dados

Para realizar o referido estudo sistemático com o

corpo docente de Língua Portuguesa de uma escola da rede

pública de ensino, primeiramente solicitamos a autorização

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da gestora e, quando ela nos concedeu a autorização,

procuramos as professoras de Língua Portuguesa da

instituição, o que totaliza quatro, tendo em vista que a escola

é de pequeno porte. Durante a pesquisa, tivemos como

objetivo constatar com qual perspectiva de língua elas

trabalhavam em suas aulas e se tentavam desenvolver em

seus alunos a competência comunicativa como os

documentos que regem o sistema educacional propõem.

Para darmos início às atividades, nos apresentamos e

pedimos que elas nos respondessem algumas perguntas, por

meio de uma entrevista, e elas não se opuseram. É válido

frisar que cada professora atua em uma série específica do

ensino fundamental II.

A entrevista foi gravada, sendo assim, antes de

realizá-la, elaboramos um questionário escrito para

sistematizar as perguntas durante a conversação. As

respostas das docentes foram transcritas, material que

constitui o nosso corpus, o qual foi analisado.

A análise do corpus foi realizada à luz da perspectiva

teórica da Sociolinguística Educacional e, para fazê-la,

selecionamos algumas perguntas do questionário, as quais

consideramos mais relevantes para nos ajudar a compreender

como acontecia o ensino de língua.

Nossa análise foi dividida da seguinte forma:

primeiramente, apresentamos a pergunta e, logo abaixo da

mesma, expomos fragmentos enumerados das respostas das

quatro docentes, fazendo uma breve discussão. No que tange

à identificação das educadoras, não citamos nomes, apenas

utilizamos P1, P2, P3 e P4 para nos referirmos às

professoras.

Primeiramente, perguntamos a formação de cada

docente e todas responderam que são formados em Letras e

que atuam na área em que se formaram. Perguntamos

também se elaboravam uma sequência didática e todas

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afirmaram que sim. Logo após, iniciamos o questionário,

conforme pode ser visualizado abaixo:

1- Em que se baseia para elaborar a sequência

didática?

P1: “Algo que peguei muito como sugestão foi um

projeto que tivemos, (1) o GESTAR, ele é um programa

feito pelo governo federal, que tem como finalidade

trabalhar com os professores sequência e a adaptação ao

novo estudo da língua para quem fez universidade há um

certo tempo, (2) ele colocou justamente essa questão de

gêneros textuais, variação linguística que nós não vimos

como antes na faculdade.”

P2: “Na realidade dos alunos.”

P3: “Livros, revista, pesquiso em computador, nos

sites.”

P4: “(3) Primeiro, eu me norteio pelo

planejamento, (4) depois tenho que adaptar esse

planejamento à situação de cada turma, porque a gente

sabe que as turmas não são homogêneas e aí você tem que

fazer uma adaptação do planejamento com as ferramentas de

trabalho que você tem pra alcançar aquele objetivo que é

fazer com que o estudante aprenda.”

No depoimento da P1 é possível identificarmos que

ela tem formação continuada, pois fez parte de um projeto

para se atualizar, por conseguinte, aperfeiçoou sua prática

em sala de aula, como vemos no fragmento (1).

Consideramos isso extremamente relevante, uma vez que

com o decorrer do tempo as coisas mudam e o professor,

enquanto mediador do conhecimento, necessita acompanhar

essa mudança para não refletir em sua prática as lacunas de

sua formação. Observamos também que este programa é

relevante, pelo fato de orientar os docentes a trabalhar com

coisas novas, as quais eles não tiveram contato durante a sua

formação acadêmica. Comprovamos isso por intermédio do

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fragmento (2). A partir desses trechos percebemos que a

professora em questão busca novos conhecimentos, no

entanto foge um pouco da pergunta e não relata de fato em

que se baseia para elaborar suas aulas.

A P2 dá uma informação muito vaga, a qual não nos

permite compreender em que se alicerça para elaborar suas

aulas. É importante adequar as aulas à realidade dos alunos,

sim, mas é preciso mais que isso para ter uma prática

pedagógica eficaz.

A resposta da P3 também é muito vaga, pois relata

apenas os meios de pesquisa que usa para elaborar suas aulas

e não algum documento que direcione sua prática.

A partir da fala da P4, concluímos que ela segue os

documentos, os quais são a base de qualquer aula, como

vemos no fragmento (3) e além disso adapta o que vem

nesses documentos à realidade dos discentes de cada turma,

como podemos comprovar no trecho (4). Em seguida,

vejamos a pergunta 2.

2- Pra você, o que é língua materna? Como ensina

a língua materna?

P1: “A gente tem a nossa língua, que é de acordo com

as normas, que foi escolhida, que foi ‘decidido’ que seria

essa. Porém eu vejo como (5) língua materna aquela

linguagem que flui, que você pode se comunicar, que faz

parte do teu meio, mas teoricamente ainda é tido a língua

normativa, porém eu vejo que não funciona dessa forma, as

pessoas tendem a falar como as pessoas do meio que a gente

convive. Por exemplo, eu sei que é apostila, mas eu falo

“apoxtila” mesmo sabendo que não tem o x na escrita,

mesmo sabendo que não é assim. (6) Eu tento ensiná-la

unindo as duas coisas, mostrando a questão da gramática

normativa, porque é nosso instrumento de trabalho

também, então você está no meio culto, e eu acredito que

eles devem sim ter conhecimento disso, mas respeitando a

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linguagem deles, vendo ela também como um meio de

comunicação, fazendo um elo entre uma e outra, (7) não

corrigindo o falar deles, mas mostrando as

possibilidades, para que eles saibam que, de acordo com

o lugar que ele vai falar, ele deve adequar uma ou outra

forma.”

P2: “(8) É a base, é a estrutura. Através de leituras,

e através do dia-a-dia, a partir do conhecimento deles, você

vai aprimorando de acordo com a realidade deles, (9) pegar

o que eles trazem, porque a língua é viva e cada um tem o

seu modo de se expressar e você vai aprimorando, a

partir do que eles já conhecem.”

P3: “(10) Ensino de forma formal e informal,

porque depende do público alvo.”

P4: “(11) É a língua internalizada, aquela que cada

estudante traz, o que ele já tem dentro dele, que ele traz

da sua experiência enquanto ser humano, traz para escola,

para que na escola seja aperfeiçoada. Para ensiná-la é preciso

saber (12) fazer com que o estudante valorize o que ele já

tem, que é a língua materna, a língua internalizada, e

tenha a consciência de que tem a escola pra aprender a

norma culta, pois lá fora ele vai ser cobrado disso, então

tentar passar para o aluno a (13) questão da adequação, que

ele vai precisar adequar a fala dele à situação de

comunicação. Isso envolve valorizar o que ele já conhece, o

que ele já tem de bagagem, fazendo um paralelo com o que a

norma padrão pede pra gente passar, porque lá fora esse

aluno vai ser cobrado, vai ser exigido dele, então a escola

tem esse papel de valorizar a língua materna, mas também

introduzir a norma padrão, para que ele conheça e adeque

sua fala as diferentes situações de comunicação.”

A P1 e a P4 responderam, a nosso ver, corretamente,

tendo em vista que língua materna é aquela que

desenvolvemos de acordo com o meio ao qual somos

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expostos durante o período de aquisição da linguagem. Elas

trazem uma discussão ampla e pertinente sobre essa língua,

como percebemos em suas respectivas respostas, nos

fragmentos (5) e (11)

Sabemos que “é na escola que a criança brasileira

pobre vai começar a ter acesso a estilos diferentes de seu

vernáculo e vai iniciar a tarefa de incorporar esses estilos ao

seu repertório linguístico” (BORTONI-RICARDO, 2005, p.

206) e, de acordo com P1 e P4, é isso que ocorre em suas

aulas, uma vez que respeitam a língua materna dos alunos,

mas lhes apresentam a língua padrão, para terem um

conhecimento linguístico mais amplo, tal qual conseguimos

visualizar em suas respostas, nos excertos (6) e (12)

De acordo com o PCN de Língua Portuguesa (1997,

p. 32) é preciso que os alunos saibam “[...] quais as

variedades e registros da língua oral são pertinentes em

função da intenção comunicativa, do contexto e dos

interlocutores a quem o texto se dirige”. De acordo com as

docentes P1 e P4 é possível depreender de suas falas que

tentam orientar os alunos para que os discentes atentem para

a adequação. É perceptível, então, perceber que buscam

desenvolver em seus alunos a Competência Comunicativa

proposta por Hymes (1966), apesar de não citarem essa

nomenclatura, e isso fica nítido em suas respectivas

respostas, nos fragmentos (7) e (13).

P2 define língua materna como estrutura, outro viés

teórico sobre língua, que se enquadra na concepção teórica

perpetuada pela docente em sua prática. Nesse sentido,

língua é depreendida como estrutura adquirida, mediante o

meio que somos expostos, mesmo com variações, como

vemos na passagem (8). A docente afirma que “aprimora” a

língua do aluno, ou seja, aprimora sua língua materna, como

vemos no trecho (9).

A P3 não define o que solicitamos. A resposta dela é

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um pouco incoerente, pois ela diz a forma como ensina a

língua portuguesa, como vemos no fragmento (10). No caso,

ela se utiliza da linguagem formal e informal para abordar os

conteúdos. Concluímos que ela não responde o que pedimos.

Vejamos a pergunta 3.

3- Defina o que é língua.

P1: “Um instrumento de comunicação.”

P2: “É um meio de comunicação.”

P3: “A língua é o signo linguístico.”

P4: “(14) De acordo com a norma padrão é aquela

estrutura, que (15) nos permite nos comunicar, mas tem

algo muito importante de frisar que a gente tenta passar pra

os estudantes é que (16) a língua é viva, dinâmica, ela

muda com o passar do tempo, então uma língua jamais

vai ser homogênea, ela é formada de uma pluralidade

imensa e de uma heterogeneidade.

P1 e P2 dão respostas semelhantes, pois defendem

que a língua, de fato, é um instrumento de comunicação;

pois, de acordo com uma dimensão interacionista da

linguagem, “[...] as línguas só existem para promover a

interação entre pessoas” (ANTUNES, 2003). P3 diz que é o

signo linguístico. P4 defende língua a partir de três vieses:

um formalista (14); outro, interacionista (15); e, por último,

funcionalista (16). A seguir, vejamos o questionamento 4.

4- Se apoia em quais teóricos para ensinar língua

materna?

P1: “Eu gosto de alguns escritores de livro didático,

isso vai parecer estranho porque eu (17) gosto de Cereja e

gosto de Marcos Bagno, e um não tem nada a ver com o

outro. Eu pego um pouco de Bagno, porque ele fala da

questão do Português Brasileiro, essa questão de respeito,

mas gosto muito de Cereja e tento unir os dois. Minha visão

é não chegar ao ápice nem em uma coisa nem em outra. (18)

Eu não concordo em eliminar a normativa, porque eu

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Revista Diálogos N.º 17 – abril./maio. – 2017 326

acredito que é necessário, então tento juntar os dois.”

P2: “Nem lembro mais desses teóricos que eu estudei

tanto...”

P3: “Em vários... Não lembro ao certo.”

P4: “(19) Tem Marcos Bagno que tem uma

linguagem mais objetiva que dá pra os alunos

compreenderem, tem Marcuschi também... mas assim, pra

minha visão, pra ampliar meu conhecimento, mas pra

trabalhar com eles tem que fazer uma seleção de algo que

seja mais compreensível pra eles.”

P1 e P4 citam Bagno, por ele conceber a língua a

partir de uma perspectiva heterogênea. No entanto, P1

salienta que gosta de Cereja, que traz a questão da língua

padrão, pois ela considera importante que seja trabalhada no

âmbito educacional, como vemos no fragmento (18). Mais

uma vez percebemos que P1 tenta desenvolver nos alunos a

competência comunicativa, pois aborda a língua padrão,

respeita a língua materna dos alunos e sempre fala para eles

para adequá-la a seus contextos comunicativos.

Segundo Irandé Antunes (2003, p. 40), “Não pode

haver nenhuma prática eficiente sem fundamentação num

corpo de princípios teóricos sólidos e objetivos”. No entanto,

a P2 e a P3 mostram desconhecimento de um suporte teórico

que sustente suas práticas, ou seja, há a ausência de um fator

importante nas aulas. Segue, em seguida, a pergunta 5.

5- Quais as dificuldades encontradas na atuação do

professor de língua materna?

P1: “(20) Essa visão do aluno de que a língua é

algo tão distante do que ele fala, eu acho que isso

dificulta, a questão normativa, a questão dos conteúdos

parece algo distante da realidade. Eu tento mostrar pra eles

porque aquilo é útil, qual a importância do sujeito oculto,

porque pra eles só o nome não tem função nenhuma, então

eu falo que ficaria repetitivo. (21) Uma das dificuldades

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maiores é mostrar que a língua é viva, real e necessária,

que a língua trabalhada na escola não é outra diferente

da que eles falam, é apenas outra forma.”

P2: “(22) Eles acham difícil, por conta das regras e

das exceções, porque complica um pouco, o que dificulta

acho que é isso aí, essas regras e essas exceções. (23)

Porque a língua é viva, e dependendo do momento, da

situação que você esteja, cada lugar você vai aplicar de

um modo, aí, acho que isso eles acham difícil.”

P3: “Eu acho que, por exemplo (24) uma biblioteca

pra que a gente trabalhe com a língua materna, apoio

mais dos pais, que nós não temos.”

P4: “(25) Desmistificar a noção de certo ou errado,

porque muitos estudantes ainda tem essa convicção de que

existe aquele modelo ideal de língua, de que existe aquele

falar certo e falar errado, então pra você consiga passar pra

eles essa questão de adequação, adequando a fala e a escrita

à situação de comunicação. Porque eles vêm de uma cultura

onde prega-se o certo e o errado, onde prega-se que a norma

culta é o modelo ideal de língua e só ela deve ser utilizado,

(26) então a barreira seria isso aí, sensibilizar esses

estudantes a perceberem que não mais seria utilizado o

certo e o errado, mas sim os termos adequados.”

P1, P2 e P4 relatam que a maior dificuldade é quando

se apresenta a língua padrão, pois os alunos acham algo

distante da língua materna deles; no entanto, tentam realizar

um ensino de língua contextualizado e sempre citam a

questão da “adequação” que, de acordo com Hymes (1966),

é tão importante. Podemos visualizar isso a partir de suas

respectivas falas nos fragmentos (20), (22) e (25)

P3 apresenta uma resposta coerente, pois é necessário

ter um ambiente de leitura para ampliar o universo

linguístico dos alunos bem como o apoio dos pais. Vejamos

o questionamento 6.

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6- Defina Sociolinguística.

P1: “(27) Eu acho que é o estudo da língua de

acordo com a sociedade. O meio que ele convive, o papel, a

função que a língua vai desempenhar de acordo com quem

você deseja se comunicar e aí você faz a adaptação.”

P2: “Não tinha na minha grade.”

P3: “A Sociolinguística para mim é de grande

importância, pois é através da variação da língua que a gente

forma o outro, respeitando sua diversidade cultural.”

P4: “(28) Essa ciência que estuda a relação da

língua com a sociedade, busca mostrar a partir de estudos

como está sendo vivenciado essa língua, é um estudo mais

aprofundado entre língua e sociedade.”

P1 e P4, de acordo com nossas leituras, define a

ciência corretamente, tal qual podemos visualizar em suas

respostas (27) e (28).

P2 não teve acesso na graduação, nem mostra ter se

atualizado, fato que pode acarretar um enorme prejuízo em

sua atuação. E a P3, não define a Sociolinguística, apenas diz

que ela é importante; além do mais, consideramos uma

resposta um tanto vaga. A seguir, vejamos a pergunta

7- A Sociolinguística está presente em suas aulas?

Como?

No que concerne à primeira pergunta, todas

responderam que sim, abaixo visualizamos a resposta da

segunda pergunta.

P1: “Sempre que você vai trabalhar com gênero

textual, ou algo assim, envolve a linguagem de quem está se

comunicando, com quem se falou, se é criança ou adulto, se

é o discurso de uma mulher, de uma pessoa mais culta ou

menos culta. Então sempre ponho isso nas minhas atividades

de interpretação e (29) falo pra eles a questão da nossa

adequação. As vezes a gente faz trabalhos, tipo, eu (30) já

mandei turmas minhas irem na feira pesquisar como as

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pessoas falavam e se expressavam, pra que eles percebam

isso.”

P2: “Porque a gente não pode trabalhar somente com

a gramatica pura, (31) tem que ser mais maleável.”

P3: “(32) A linguagem formal e informal está

presente no nosso convívio com o aluno, no livro, no

conteúdo...”

P4: “Dependendo do planejamento e das turmas onde

eu leciono, vou incluindo a partir do livro didático que tem

um certo capítulo que trata disso e pra complementar (33) é

possível levar vídeos, documentários, para que eles

possam ver outras pessoas falando do assunto e assim

possam abranger de uma maneira positiva.”

P1 faz atividades práticas fora da sala de aula, uma

maneira dinâmica de perceber que a língua é um sistema

vivo, como visualizamos em sua fala no fragmento (30). P4

mostra se utilizar de diversos recursos para que os discentes

possam perceber que a língua é heterogênea, como

confirmamos no fragmento (33). De acordo com a fala da

P2, percebemos que ela desconhece a importância de se

trabalhar com a Sociolinguística, pois para ela é apenas uma

forma de ser “maleável” e fugir da norma padrão, como

percebemos no trecho (31). P3 tem uma fala reduzida à

linguagem formal e informal e não explicita como trabalha

com a Sociolinguística.

8- Já leu algo voltado para a Sociolinguística

Educacional?

SIM NÃO

P1 X

P2 X

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P3 X

P4 X

Fonte: Vasconcelos (2016)

Observamos que P1 e P4 têm um conhecimento

teórico sobre a concepção teórica e que, ao menos, leem

sobre a temática. Por fim, vejamos a pergunta 9.

9- Como você trabalha com as variedades

linguísticas dos seus alunos?

P1: “(34) Eu tenho o hábito de pedir pra eles

analisarem, vendo a linguagem das pessoas que eles

convivem, a linguagem deles e a gente discutir esse uso, e

eu trabalho muito a questão da adequação, em que

momento é adequado que se fale assim e em que momento

não é.”

P2: “(35) Respeitando cada uma delas e

aperfeiçoando a linguagem formal, (36) mostrando o que

é certo e o que errado, onde você deve usar e onde não

deve, (37) que não é errado mas depende da situação e do

lugar.”

P3: “De acordo com a sua localidade, a sua cultura,

porque, (38) a gente fez um projeto ano passado com eles,

onde cada um mostrava a sua região, o modo de falar

específico.”

P4: “Primeiro tem que valorizar o que eles já

possuem enquanto língua materna, e a partir do que eles

possuem passar essa questão da valorização e a

conscientização de que se faz necessário uma adequação.

Então, trabalhar a variação linguística (39) de uma maneira

que eles possam compreender a importância e

compreender a diversidade que existe no nosso país pra

que eles possam se conscientizar que precisam adequar a

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fala à situação de comunicação.”

P1 mostra que solicita atividades práticas e, mais uma

vez, fala sobre a adequação, que gira em torno da CC, como

percebemos no trecho (34). P2 tem uma resposta

contraditória, pois em outra resposta afirmou que

aperfeiçoava a língua dos alunos (a língua materna) e, nessa

resposta, ela diz que aperfeiçoa a língua formal e respeita a

língua deles, como vemos no fragmento (35). Para tanto,

utiliza em sua fala os termos “certo” e “errado”, como

podemos ver no fragmento (36), logo depois retifica a

informação, tal qual observamos no fragmento (37).

P3 mostra mais uma informação limitada, como se as

variações se limitassem à variações regionais, como

podemos perceber no fragmento (38).

P4 sempre cita que a língua é heterogênea e que tenta

mostrar para os alunos a adequação, mostra que tenta

desenvolver a Competência Comunicativa em seus alunos,

como visualizamos no trecho (39)

A partir da análise dos dados, obtidos através da

entrevista, foi possível depreendermos como as professoras

de Língua Portuguesa da escola trabalham em suas aulas e

percebemos que todas as professoras consideravam a língua

um sistema heterogêneo.

No próximo tópico, apresentamos as considerações

finais a respeito de nosso estudo.

5. Considerações Finais

É irrefutável que a Sociolinguística Educacional

ganhou um espaço considerável nos documentos que regem

o ensino de língua, tendo em vista que suas contribuições

estão inclusas nos referidos documentos, os quais objetivam

fornecer aos docentes subsídios essenciais para que eles

trabalhem com a língua de forma heterogênea e reflexiva.

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No entanto, a Sociolinguística é uma ciência

relativamente nova, dessa forma, ainda está em processo de

aceitação por grupos de professores denominados

conservadores, os quais enxergam a língua como uma

entidade homogênea. E, foi partindo da hipótese de que os

docentes refletem esse conservadorismo em sala de aula, que

realizamos esta pesquisa.

De acordo com nossa análise, P1, P2, P3 e P4

trabalham a partir de um viés heterogêneo e, 3 delas, a saber:

P1, P2 e P4 tentam desenvolver em seus alunos a

Competência Comunicativa, pois apesar de não citarem este

termo na entrevista, afirmaram que respeitam a língua

materna dos discentes e tentam fazer com que eles

compreendam a importância da língua padrão, e os orienta a

realizar a adequação linguística conforme a situação

comunicativa.

Em contrapartida, P3, em nenhum momento, cita o

termo Competência Comunicativa, tampouco a palavra

adequação. Sendo assim, concluímos que, apesar de perceber

a heterogeneidade do sistema, não tenta desenvolver a CC

em seus alunos.

Dessa forma, ao término da análise, a hipótese inicial

deste trabalho foi refutada, pois todas as professoras de

Língua Portuguesa da escola em observação, trabalham a

Língua Portuguesa mediante um viés heterogêneo e 75%

delas tentam desenvolver a Competência Comunicativa em

seus alunos.

Isso posto, pudemos perceber que a Sociolinguística

Educacional vem ganhando um espaço significativo não

somente nos documentos que regem o ensino de língua, mas

também na prática dos professores, que seguem o que esses

documentos propõem.

Essa pesquisa foi importante para percebemos que o

ensino de Língua Portuguesa do ensino fundamental II, na

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escola em que a pesquisa foi desenvolvida, de modo geral,

não está alicerçado a uma perspectiva arcaica, mas a um viés

atual e heterogêneo, o qual tenta desenvolver nos alunos a

CC, com exceção de uma única docente, que precisa rever

sua prática pedagógica e aprimorá-la.

6. Referências

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Parábola Editorial, 2004.

_____. Nós cheguemu na escola, e agora: sociolinguística &

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