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Universidade Federal de Pernambuco NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação - 1 - REFOCALIZAÇÕES DAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM AVA A PARTIR DA POSIÇÃO SOCIAL E DISCURSIVA DO PROFESSOR EM FORMAÇÃO CONTINUADA Claudia Vivien Carvalho de Oliveira Soares 1 (UESB) Resumo: Este trabalho apresenta uma discussão acerca dos processos interativos vivenciados no Moodle, com base nas interações construídas em uma disciplina de um Curso de Especialização em Língua Inglesa. Os dados apresentados foram coletados por meio de observação participante e questionários. Os resultados indicam que os processos interativos vivenciados no ambiente virtual, apresentam-se de forma muito significativa para os alunos e que o Fórum de Discussão distingue-se pela perspectiva de construção coletiva de conceitos e significados. Palavras-chave: Ambiente Virtual de Aprendizagem, Interação, Prática Pedagógica. Abstract: This paper presents a discussion about the interactive process that occurs at Moodle on a discipline of a specialization course. The data were collected by participant observation and questionnaires. The results shows that the process lived in the virtual environment are significant to students and that the Discussion Forum distinguishes from the other interfaces because of its perspective of conceptions and means collective construction. Key-words: Virtual Learning Environment, Interaction, Pedagogical Practice. Introdução Os ambientes virtuais de aprendizagem (AVAs) representam a união das tecnologias informáticas e suas aplicações com as telecomunicações e as diversas formas de expressão e linguagem, envolvendo, não só um conjunto de interface para socialização de informação e de conteúdos de ensino e aprendizagem, mas também, interfaces de comunicação síncrona e assíncrona (SANTOS, 2010), com a

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REFOCALIZAÇÕES DAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM AVA A PARTIR DA POSIÇÃO SOCIAL E DISCURSIVA DO

PROFESSOR EM FORMAÇÃO CONTINUADA

Claudia Vivien Carvalho de Oliveira Soares1 (UESB)

Resumo: Este trabalho apresenta uma discussão acerca dos processos interativos

vivenciados no Moodle, com base nas interações construídas em uma disciplina de um Curso de Especialização em Língua Inglesa. Os dados apresentados foram coletados por meio de observação participante e questionários. Os resultados indicam que os processos interativos vivenciados no ambiente virtual, apresentam-se de forma muito significativa para os alunos e que o Fórum de Discussão distingue-se pela perspectiva de construção coletiva de conceitos e significados. Palavras-chave: Ambiente Virtual de Aprendizagem, Interação, Prática Pedagógica. Abstract: This paper presents a discussion about the interactive process that occurs at Moodle on a discipline of a specialization course. The data were collected by participant observation and questionnaires. The results shows that the process lived in the virtual environment are significant to students and that the Discussion Forum distinguishes from the other interfaces because of its perspective of conceptions and means collective

construction. Key-words: Virtual Learning Environment, Interaction, Pedagogical Practice.

Introdução

Os ambientes virtuais de aprendizagem (AVAs) representam a união das

tecnologias informáticas e suas aplicações com as telecomunicações e as diversas

formas de expressão e linguagem, envolvendo, não só um conjunto de interface

para socialização de informação e de conteúdos de ensino e aprendizagem, mas

também, interfaces de comunicação síncrona e assíncrona (SANTOS, 2010), com a

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possibilidade metodológica de constituição de saberes, diferente da proposta

convencional de uma sala de aula. É um espaço de interação em que os

participantes compartilham, por meio da leitura e escrita de textos, e se

comunicam em busca de significados que propiciem processos construtivos de

aprendizagem potencializando, dessa forma, o saber em uma perspectiva de

colaboração.

Um ambiente on-line de aprendizagem não é apenas um conjunto de interfaces e ferramentas tecnológicas e, sim, um organismo vivo que se auto-organiza a partir das relações estabelecidas entre os sujeitos que interagem produzindo conhecimentos a partir das mediações tecnológicas e simbólicas das tecnologias digitais (SANTOS, 2010, p. 124).

Os ambientes virtuais de aprendizagem vêm sendo amplamente utilizados por

instituições de ensino superior, em cursos de graduação e pós-graduação, não só

como apoio à educação a distância, como também a educação presencial. Nesse

último caso, esses espaços são utilizados como um suporte às atividades

desenvolvidas na sala de aula convencional como forma de ampliação, da noção de

sala de aula para além do espaço físico entre quatro paredes.

Este artigo focaliza as práticas pedagógicas desenvolvidas em uma disciplina

no ambiente Moodle, com base no entendimento de que atividades colaborativas

são construídas com o gerenciamento do professor, mas, sobretudo, com a

participação ativa dos alunos.

Ambientes virtuais como espaço de constituição de saberes

O conceito de ambientes virtuais é apresentado por Santos e Okada (2005)

como “[...] um espaço fecundo de significação onde seres humanos e objetos

técnicos interagem potencializando, assim, a construção de conhecimentos, logo a

aprendizagem”. Sua caracterização parte, então, de uma dimensão sociocognitiva

em que o propósito de aprender é significativo. Nesse sentido, tais ambientes

podem favorecer a criação de uma rede de interesses, fazendo com que estes

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possam ser considerados como comunidades virtuais, em que os participantes se

comunicam de forma tanto síncrona como assíncrona em busca de interesses

comuns. Marcuschi (2004, p. 21) conceitua a comunidade virtual como “[...] uma

espécie de agregação social que emerge da rede Internetiana para fins específicos.

Seriam pessoas com interesses comuns ou que agem com interesses comuns num

dado momento, formando uma rede de relações virtuais (ciberespaciais).” Nesse

contexto, Paiva (2006) evidencia que “[...] deixamos de ser seres humanos

isolados para nos transformarmos em uma rede humana comunicante e

conseguimos, através da mediação do computador, comunicar, ao mesmo tempo,

com muitas pessoas, sem limitações de tempo e espaço”.

Um ambiente virtual de aprendizagem caracteriza-se, então, como um

espaço de interação entre professores e alunos e representa uma possibilidade

metodológica de constituição de saberes, diferente da proposta convencional de

uma sala de aula, em que alunos e professores se comunicam essencialmente por

meio da fala, portanto, de interações face a face. Nessa perspectiva, a interação

pode representar um processo complexo de trocas e significações, por meio do qual

o sujeito modifica-se, constituindo uma nova realidade (BEHAR ET AL.,2005).

Segundo Braga (2007), a Internet afeta as práticas de ensino de três maneiras

distintas no momento em que possibilita a comunicação a distancia, propicia

ferramentas técnicas que dinamizam a produção de textos hipermídia e abre

acesso a um banco de informações potencialmente infinito.

É importante salientar que o uso de ambientes virtuais de aprendizagem no

meio educacional ainda é algo novo e, portanto, um processo em construção que

necessita de um pensar crítico e reflexivo no uso de suas interfaces. Segundo Levy

(2001), o suporte digital permite novos tipos de leitura e de escrita coletivas. Nessa

prática de ler e refletir sobre a escrita do outro para produzir o seu próprio texto é

que se manifesta a construção coletiva, que requer participação efetiva de todos

que, em uma dada situação, interagem.

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Em relação ao potencial dos ambientes virtuais de aprendizagem, em

contextos educacionais, Passareli (2007) adverte que:

o universo da cibercultura nos permitir transitar, simultaneamente, por diferentes instancias da realidade. A idéia de que comportamentos e emoções experimentadas na exploração de ambientes virtuais não são reais constitui-se em engano fatal. A vida contemporânea contempla, em todas as suas vertentes, os meios e as mediações propiciadas pela

tecnologia digital. Por operar na virtualidade, um portal, educacional ou não, propicia uma trama de vozes de inédita complexidade: são textos tradicionais (linguísticos), imagens, animações, vídeos, interações síncronas ou assíncronas. Podem-se ouvir as mais diferentes vozes, formuladas nos mais variados códigos (PASSARELI, 2007, p. 329).

Outra questão, que não se pode perder de vista, em contextos de ambientes

virtuais de aprendizagem e de práticas inseridas no contexto da educação formal,

diz respeito ao fato de que professores e alunos são cadastrados com base em suas

identidades no mundo real, e os protocolos e as regras que os regem constituem

extensão da escola, embora novas práticas e comportamentos também estejam

sendo forjados, pela utilização dessas mídias como extensão de atividades de

educação presencial (PASSARELI, 2009).

Práticas pedagógicas em AVA na perspectiva de construção coletiva

de significados

Com o advento da cibercultura, as práticas pedagógicas tendem a buscar um

diálogo mais profícuo com as práticas de letramento digital. Na perspectiva do

ensino de línguas é interessante levar em consideração a possibilidade de uso das

tecnologias digitais como forma de ampliação do saber. Crystal (2002) evidencia o

fato de que algumas atividades linguísticas tradicionais podem ser facilitadas pelo

meio eletrônico, enquanto que outras não seriam possíveis. O autor ainda afirma

que algumas atividades linguísticas, permitidas, pelo meio eletrônico, não seriam

possíveis de se desenvolverem em outro meio.

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Nesse contexto, os ambientes virtuais de aprendizagem surgem como uma

proposta metodológica que tem o potencial de integração de multissemioses em

uma perspectiva de construção coletiva de significados.

A inteligência, que teria antes uma dimensão voltada para o individual, pode

se transformar, pela participação do coletivo, numa dimensão "multindividual" na

qual, a construção do conhecimento por vários indivíduos apresenta alguns

elementos como marca de identidade, subjetividade e história individual, em que

cada um dos sujeitos participantes é valorizado. Na visão de Levy (1993, p. 135):

O pensamento se dá em rede na qual, neurônios, módulos cognitivos humanos, instruções de ensino, línguas, sistemas de escritas, livros e computadores se interconectam, transformam e traduzem as representações.

As situações de comunicação são essenciais na condução de um fazer

pedagógico que leve em consideração a efetiva participação coletiva no processo

de construção de conhecimentos para que a inteligência possa se caracterizar como

uma rede que se multiplica pelas relações humanas (SOARES, 2010).

Teles (2009) destaca três características, para salas de aula colaborativas

on-line, apontadas nos estudos de Warschauer (1997) e Harasim et al. (2005): a)

Comunicação de grupo (e não só de um a um), permitindo que cada participante se

comunique diretamente com outros colegas de sala de aula on-line; b)

Independência de lugar e tempo, permitindo que estudantes acessem a sala de aula

on-line de qualquer localidade com acesso à internet, a qualquer hora do dia,

dando-lhes assim, tempo necessário para desenvolver uma reflexão crítica e uma

análise dos temas postados na discussão; c)Interação via comunicação mediada por

computadores que requer que os estudantes organizem suas ideias e pensamentos

por meio da palavra escrita e compartilhem esses pensamentos e comentários em

um formato que os outros colegas possam facilmente ler, digerir, tecer

comentários e exercitar tarefas intelectuais.

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Metodologia

Esse estudo teve como base as interações ocorridas no percurso da

disciplina Aprendizagem de língua inglesa mediada por computador, no Curso de

Especialização em Língua Inglesa como Língua Estrangeira, oferecido na

modalidade presencial pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). A

referida disciplina foi oferecida na modalidade a distância com dois encontros

presenciais, sendo o primeiro, para ambientação do Moodle e o segundo, no final

da disciplina, para apresentação de trabalhos desenvolvidas com as ferramentas

disponibilizadas no ambiente. A disciplina foi organizada em quatro semanas como

mostra a figura 1.

Figura 1: Organização da disciplina no Moodle

Fonte: http://moodle.uesb.br/course/view.php?id=41

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Para cada semana utilizou-se um fórum para discussão de aspectos teóricos

relacionados a cada temática. Os fóruns foram desenvolvidos com base no formato

de Fórum Simples disponibilizado pelo ambiente, como demonstrado pela figura 2.

O fórum, assim organizado, permite um encadeamento de ideias, formando uma

cadeia de diálogos.

Os fóruns podem apresentar tipos textuais diversos, ou seja, argumentos,

contra-argumentos, relatos, contribuições, questionamentos, respostas aos

questionamentos, inferências, dentre outros.

Os materiais foram disponibilizados em textos (PDF), audios (podcasts) e

vídeos. As interfaces utilizadas foram o fórum de discussão, chat e Wiki.

Figura 2: Fórum ‘First Words’

Fonte: http://moodle.uesb.br/course/view.php?id=41

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Nesse estudo, foram utilizados questionários e observação participante. A

turma se constituiu de sete alunos, na maioria, professores de língua inglesa. Todos

responderam ao questionário. Para efeito das análises, as respostas dos alunos são

apresentadas, nesse texto, em forma de excertos, organizados em molduras.

Apresentação e discussão dos dados

Em relação a interação no ambiente, 71% dos alunos afirmam ser a primeira

experiência pedagógica em ambientes dessa natureza. Dos participantes que

responderam o questionário, 85% não apresentam dificuldade nas interações em

relação ao ambiente, como também na relação com os colegas e o professor. E 57%

dos respondentes afirmam que usaria o ambiente na educação básica.

Esses percentuais indicam um bom nível de receptividade de uso de

ambientes virtuais no contexto da educação, tanto no nível superior como no nível

básico.

A dinãmica dos fóruns de discussão favoreceu uma participação efetiva dos

alunos na construção de ideias e conceitos referentes às temáticas trabalhadas

durante o percurso da disciplina. Foram desenvolvidos três fóruns temáticos:

Tecnologias digitais na educação - 28 inserções; Jogos online nas aulas de língua

inglesa - 28 inserções; Possibilidades do podcast - 20 inserções

Em relação às interfaces disponibilizadas no ambiente para o

desenvolvimento das temáticas, a maioria dos alunos escolheu o Fórum de

discussão como o primeiro em ordem de prioridade/importância: Sobre isso um

aluno responde:

O fórum possibilita a iteração das pessoas, através de debates, perguntas e discussões entre o grupo diante do tema. Acho que ele seria mais do que uma sala de aula virtual, na verdade penso que seria um ambiente para troca e construção.

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Percebe-se que há um reconhecimento do fórum de discussão como um

cenário de sala de aula em que o professor não se estabelece como o detentor do

saber. Sobre isso um aluno afirma:

Opiniões diversas, vários pontos de vista construindo uma visão coletiva sobre determinados tópicos. Isto, basicamente, compõe um cenário ideal de sala de aula. Não há uma pessoa que detem soberanamente o conhecimento e sim um grupo que

compartilha e enriquece a discursão

Ainda no que diz respeito aos fóruns de discussão, os alunos salientam as

questões de tempo e espaço pertinentes ao ambiente virtual em oposição à sala de

aula convencional, como mostra o excerto abaixo:

Com certeza e uma sala de aula de boa qualidade porque temos que dar conta do material cobrado pelo professor - leitura, vídeos - e compartilhar a interpretação com todos os colegas, ao contrário da sala convencional que temos um horário a cumprir e não dá tempo de todos contribuírem e compartilhar o conteúdo

trabalhado.

Em relação aos materiais disponibilizados, a maioria dos alunos elegeu o

material em vídeo como o mais interativo. Sobre isso um aluno comenta:

O material em vídeo torna as tarefas mais simples e agradáveis. Sendo assim, os meios tecnológicos de comunicação, em especial os vídeo, em minha opinião devem ser sempre ser usados como recurso para educar, interagir e contribuir para

o aprendizado e o conhecimento.

Em relação à experiência de participar de uma disciplina na modalidade a

distância, com a mediação de um ambiente virtual, os alunos demonstram que,

apesar de terem um conhecimento bom em informática, as práticas pedagógicas

em ambientes, dessa natureza, constituem-se como novidade no cenário

educacional e como uma necessidade nos dias atuais. O excerto abaixo nos mostra

um indicativo de que o diálogo, entre os colegas, favorece o entendimento sobre o

impacto das tecnologias no meio escolar e os desafios a superar. Percebe-se que no

espaço dos ambientes virtuais de aprendizagem o processo de leitura se torna

essencial na construção de significações coletivas. Levy (2001, p. 36) afirma que

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“[...] o espaço do sentido não pré-existe à leitura. É ao percorrê-lo, ao cartografá-

lo que o fabricamos, que o atualizamos”. É preciso ler, interagir, produzir diálogos

consigo e com os outros na busca de sentidos, para que a escrita aconteça de forma

interacional.

O curso atende uma exigência quase que essencial para a formação do docente dos dias atuais. Aprendizagem no ambiente virtual, além de ser uma alternativa interessante e estimulante, complementa e, em alguns casos, pode substituir os métodos tradicionais de ensino. O curso [...] me apresentou um ambiente virtual (Moodle, ferramenta desconhecida por mim, apesar de considerar que possuo conhecimento muito bom em informática), forneceu material teórico e prático para me aprofundar no assunto e explorar essas possibilidades na minha prática em sala de aula e, de certo modo, tive uma noção de como colegas de profissão reagem e se posicionam frente à esses novos desafios através dos comentários dos colegas de classe.

A vivência no espaço do ambiente virtual de aprendizagem favoreceu a

quebra de preconceitos em relação a modalidades que se diferenciam da sala de

aula convencional, onde a interação acontece face a face. Um aspecto relevante

diz respeito ao grau de exigência em cursos a distância. A autonomia do aluno, no

cumprimento das atividades, solicitadas pelo professor, mostra-se como condição

para o sucesso no curso. O excerto abaixo indica que as trocas de experiências em

relação aos temas trabalhados favorecem o processo de aprendizagem. É

importante salientar que, no contexto dessa disciplina, não houve hierarquização

em termos das intervenções. Isso quer dizer que as intervenções feitas pelos alunos

representam a mesma significação daquelas elaboradas pelo professor.

Intervenção se caracteriza, na perspectiva educacional, como um ato que

pode constantemente marcar os processos que ocorrem com alunos em sua maneira de construir conhecimento. Na visão de Freire (1987), “somente o diálogo, que implica um pensar crítico,” é capaz de gerar uma ação comunicativa entre educador e educando. A intervenção em si é que estabelece se um conhecimento está sendo construído ou “transferido”, “repassado”. A dimensão do diálogo é explicitada por Freire como a essência da educação, pois, a partir deste, se estabelece uma interação entre educador e educando proporcionando-lhes a oportunidade de serem sujeitos do processo e, portanto, de crescerem juntos numa relação horizontal, não imposta (SOARES, 2010, p. 21).

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Nessa perspectiva, o pensar colaborativo, torna-se essencial na compreensão

de que o ambiente pode potencializar espaços de troca e, portanto, de interação,

entre os participantes.

(A disciplina) rompeu meu preconceito com relação ao uso de tecnologias, pois abriu minha mente para os benefícios que a tecnologia traz para educação de língua inglesa. As propostas foram claras, a utilização do ambiente foi fácil por causa da organização dos itens. O curso sendo a distância exigiu mais de nós com relação a nossa participação, as leituras e análises dos materiais que deveriam ser discutidos nos fóruns o que nos incitava a procurar outras fontes ou material para compartilharmos com o colega (desenvolvendo a autonomia), e isso fazia com que sentíamos a necessidade e vontade de entrar no ambiente para saber se algum colega postou algo novo. As trocas de experiências com relação a cada tema estabelecido foi muito proveitoso e quantas opiniões sobre uma mesma temática, pois aprendíamos pela interação e cooperação com o colega e professora.

Apesar do reconhecimento de que as Tecnologias da Informação e

Comunicação têm redimensionado as formas de pensar e agir na sociedade vigente,

as práticas educacionais ainda não se encontram conectadas com esse pensar,

como demonstrado no excerto abaixo.

Foi superinteressante, pois conheci ferramentas, as quais eu nem sabia que existiam, principalmente usá-las para um formato educativo. Foi enriquecedor interagir e compartilhar experiências, refletir sobre a teorias estudadas, opinar, analisar e aprender com as propostas postadas pelo professor e colegas.

Considerações Finais

Os eventos de letramentos digitais vivenciados pelos alunos, no ambiente

virtual, apresentam-se de forma positiva no contexto do curso, e nos trazem

algumas reflexões sobre as práticas pedagógicas no cenário atual. Há uma

percepção de que o uso de ambientes virtuais de aprendizagem revelam-se como

uma proposta metodológica viável para o contexto educacional. Nessa perspectiva,

as práticas em que a colaboração e a troca de siginificados estão presentes,

dinamizam o processo de aprendizagem. O ambiente virtual não se apresenta como

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uma forma de repositório de conteúdos temáticos e atividades dos alunos, mas se

constitui como um espaço em que o saber é construído com base nas interações

entre aluno-aluno, aluno-interface, aluno-objetos de estudo e aluno-professor.

O Fórum de Discussão distingue-se, das demais interfaces, pela perspectiva

de construção coletiva de conceitos e significados, representando, dessa forma,

uma interface singular no desenvolvimento de cursos, na modalidade a distância,

por entender que os processos de construção de sentidos partem de um coletivo

que pode ressiginificar o individual. A prática de leitura e produção escrita, nos

fóruns de discussão, nos mostra que é possível construir sentido de forma coletiva.

A tecnologia, utilizada pela plataforma virtual, favorece o desenvolvimento de uma

cadeia dialógica, em formato de arquivo, que proporciona, em qualquer tempo e

espaço, o direito de ser acessado, por qualquer dos participantes. Esse acesso

pode, a depender do objetivo de cada usuário, representar um diferencial na forma

de construir sentidos, significados, ideias e conceitos relacionados ao tema

estudado, discutido, debatido.

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1 Doutora em Letras e Linguística pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Professora do Departamento de

Estudos Linguísticos e Literários (DELL) da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB).