REFORMA Antes sem-terra, -...

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Antes sem-terra, " agora sem-lei Florianópolis, Maio-Junho de 1988 REFORMA AGRÁRIA: Na Central Relatório: Hospital 'Rodolfo de prometeu Risco: na Diga 33, entrada sua e mentiu consulta - o na saída terminou! Páginas 2 e 4 Págína-S Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

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Antes sem-terra,"

agora sem-lei

Florianópolis, Maio-Junho de 1988

REFORMA AGRÁRIA:

Na Central

Relatório: Hospital

'Rodolfo de

prometeu Risco:

na Diga 33,

entrada sua

e mentiu consulta-

o

na saída terminou!

Páginas 2 e 4 Págína-S

Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

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MelhorPeça Gráfica

I SetUniversitário

Maio 88

ZEBOJornal Laboratóriodo Curso de Comu­nicação Social daUniversidade Fede­ra de Santa Cata­rina.Texto: Analü Zidko,Arley Machado, Clâu­dia Carvalho. ClâudíaFinardi, Dauro Veras,Elaine, Ewaldo W. Ne­to, Fernando Croco­

mo, Heloisa Dallanhol,Ilka Goldschmidt, Is­mail Ahmad Ismail, Ja­ques Mick, Ligia Gas­taldi.Mârcla CarvalhoMarcos Cardoso, M&:.rio Otâvío Vaz', Mar í­laine Sulzbach, MartaMoritz, Monique Van­dresen, Rafael Masse­li, Rubens Vargas, Ru­chelle Zandavalle, Sa­brina Franzoni, SílviaZamboni, Taciana

Varnning Xavier,

Diagramação: AnalüZidko, Clâudia Carva­lho, Ilka Goldschmidt,Ivan Santos, Rute En­riconi, Sabrina Fran­zoni.Arte: Paulo Caruso,Milton Alves,Fotografia: SabrinaFranzoni, Philippe>Arruda, Ilka Goldsch­midt, Fernando Cro­como"

Laboratório Foto­gdfico: Carlos Locz­telli, 'Marques IndioCasara, Philippe Ar­ruda, Pedro Mello,Edição, coordenaçãoe supervisão: Profes­sores Eduardo Me­ditsch, Luiz AlbertoScotto, Ricardo Bar­reto,

Ediçã� Gráfica: Ri­cardo BarretoTelefone: (0482)33-9215Telex: (0482) 240 BR

Correspondência:Caixa Postal 472, De­partamento de Comu­nicação e Expressão,Curso de Jornalismo,F1orian6polislSCAcabamento e Im­

pressão: Fundação daProdutividade, fones2'b7756 e 22-6312,Porta Alegre, RS.Distribuição Gratui­taCirculação Dirigida

QUÉREMOS MAIS•

""0"0 ,"

... ,

Jacques Mick

"Gaúcho s6 vem pra SantaCatarina pra chamar a PolíciaMilitar de Brigada', pescar tainha'com anzol e xingar os catarina".Foi assim que reagiu uma repõr­ter quando perguntada sobre a

"invasão" de jornalistas do RioGrande do Sul no mercado deSanta Catarina. Apesar do bom

humor, a resposta carrega um quêde reserva, um certo pessimismoquanto ao futuro dos profissío­nais de comunicação, vítimas do

terrorismo do "mercado de reser­

va" e, em conseqüência, dos bai­xos salários, da falta de opçõese, até, de seus pr6prios precon­ceítos,

Das 66 instituições de ensi­

no que oferecem cursos de Co­

municação Social no Brasil, seteestão no Rio Grande do Sul.Cinco delas (PUC, UFRGS, IC­Pel, UNiSINOS e UFSM) têmhabilitação em Jornalismo, o que

garante, a cada final do ano,um grande contingente de novos.

profissionais para invadir as rá­dios, televisões e jornais à cata

de empregos. Isso quando já não

O ex-reitor Rodolfo Pinto da Luz despe- Pelo.contrário, foi durante a última ges-diu-se do cargo onerando os cofres da Uni- tão na Reitoria que o Curso de Jornalismo

versidade com um caro e bem impresso "Re- da UFSC deixou de freqüentar a lista dos

latório de Atividades". A utilidade do citado melhores do país, onde chegou a figurar em

"Relatório" para as atividades de Ensino, -sétimo lugar, de acordo com a Revista Play­

Pesquisa e Extensão que justificam o dinheiro lfoy. En: gra,!de parte, esta queda, 4eveu-seque a sociedade investe em nossa instituição a deterioração de nossos labo�atorzos, que

poderia ser argumentada sobre seu-testemu- nunc.a cp,:taram c£?m .ma�utençao a.d�CJ.uada,nho como registro histórico, não fosse ele junclOna,:zo.s f!.speczalzzCfdos ou possibilidades

, um documento mentiroso. O ex-reitor "rela- de substituição de equipamentos obsoletos.

ta", por exemplo, ter expandido o espaçoNo presen!e mome'!to,. quando. se inicia

flsico do Curso de Jornalismo, o que não uma n,0�a gestao na Re!to!za, este Jornal-la­fez jamais. Nosso espaço não aumentou se-

boratorzo recebe o premzo de melhor peça

quer um centfmetro quadrado durante a ges- gráfica no "1 �Set Univer�itário", promovidotão de Rodolfo Pinto da Luz: pela RBS e PUC do Rio Grande do Sul,

Saláriosbaixos,

,... .

concorrencia

desleal, etc ....

Apesar de 20% das escolas

de Comunicação Social do Brasilestarem na Região Sul, o merca­

do de trabalho é escasso, sendo

ocupado muitas vezes por traba­

lhadores sem regulamentação pa­ra atuarem como jornalistas. Emconseqüência, surge um grandenâmero de desempregados que

busca, de todas as formas, espaçopara exercer a profissão, Dianteda realidade, são forçados a abdi­car do sonho da "grande impren­sa" e a assumirem meios de "co­

municação institucional" que, namaioria das vezes, não são bemvistos pelos demais companheirosde profissão, Isso freqüentementeprovoca rivalidades regionais, e

o surgimento de preconceitoscom relação às diversas faces doJornalismo.

Jornalismoexíge apromessa'concorrendo com jornais universitârios de to­do o sul do país. É uma prova de que, dadasas condições, sabemos trabalhar. O dinheiropúblico investido aqui' tem tido retorno, éum bom investimento. Não se pode dizer o

,

mesmo de algunsfolhetos de propaganda pes-,soai impressos a 'cores.

Quando as instituições nacionais entramem crise; quando a sociedade perde suas re­

ferências, quando o futuro parece nebuloso,o bom jornalismo é' um produto de primeiraqualidade iNão se acha um caminho sem a

verdade. E nisso que jogamos o nosso tra­

balho.

Mercado escasso e, convulsionado

)Gorbatchevaté na tvbrasileira.Reagan?Ora ...

O jornalismo custa pra darcaras na televisão brasileira.

":obrindo a reunião de cúpulaem Moscou, Luís Carlos Aze­nha, rep6rter da TV Manchete,descrevia a arquitetura da Praça,Vermelha, quando viu passar o

presidente Gorbatchev com suacomitiva. O que podia não passarde mais uma pauta para encherlingüiça nos noticiários se trans­formou numa, entrevista inédita.Era a primeira vez que o lídersoviético falava a, um repõrterda América Latina. /

O caso gerou tanta repercus­são que até a Rede Globo trans-:mitiu a matéria. Aos gritos de

/ "Mr. Gorbatchev!", de repente,o rep6rter interpelava a comitivae conseguia, sem 'muito esforço,falar com o presidente atravésde um intérprete. Gorbatchevmostrou interesse em visitar a

América Latina e evitou fa:larna questão da dívida dos paísesdo Terceiro Mundo. Para ele,também, ,é um assunto muitocomplicado ...

estão trabalhando há mais tempo,irregularmente, sem o registroprofissional e nem diploma.

Essa espécie de problemaocorre em todo o País. Em Santa

Catarina, além das demissões queenxugam o mercado de vagas,o Sindicato dos Jornalistas luta

para diminuir o número de pro­flssionais em situação irregulare que não têm o registro mas

assim mesmo exercem a função.O acordo salarial realizado em

fins de maio trouxe diversas con­

quistas, acompanhadas de um rea-

Os Cursos de Comu­nicação Social do sul do,país, participaram no mêsde maio do I Set Universi­tário, promovido pela Fa­mecos (Faculdade dosMeios de ComunicaçãoSocial da PUC de PortoAlegre). O coucurso en­

volveu laboratórios de áu­dio, cinema, fotografia,peças gráficas, redação evídeo.

'

Com exceção da'UFSC que ganhou o pre- A Edição premiadamio de melhor peça grãfi-ca com o "ZERO" e dedois outros prêmios con-

quistados pela UF'RGS, a

promotora do evento foia "estrela" do concurso.Em áudio, tanto na partede jornalismo como publí-

juste de 405,7% sobre o pisode maio de 87.

ALTERNATIVAS

Aa faculdades "preparam o

aluno para a grande imprensa",no dizer de Henrique Finco, pro­fessor da UFSC, que alerta paraa necessidade profissional valori­zar mais os veículos alternativos,ou a "comunicação institucional".Em São Paulo, por exemplo, um \

diagramador ganha menos na

"Folha de São Paulo", do quereceberia trabalhando num dosmuitos jornais de bairro da cida-

de. "Ele recebe o status", analisaFinco. Assim, trabalhar num

grande jornal consiste na realiza­

ção profissional de muitos es­

tudantes.Diante disso, as Assessorias

de-Imprensa de indústrias, empre­sas, sindicatos ou organizaçõespolíticas se constituem numa al­ternativa de mercado, No entan­

to, elas ainda são rnal vistas, porcausa da fama de "cabides de

emprego" que adquiriram nesses

muitos anos de uso indíscrimi­nado da "comunicação institucio­nal". Quadro que vem mudando,com a afirmação de revistas bem- .

elaboradas, como a "Via Cintura­

to", da Pirelli, a "{caro", da Va­

rig -ou à "Apoio Sindical", doSindicato dos Metalúrgicos deSão Paulo. De qualquer maneira,há sempre o inconveníente . deser a "voz do dono", mas essa

realidade ainda está muito distan­te de ser modificada.

Códigoficou sem

três artigos.Leia e

-,

pense

Por um lamentável erro de

cálculo, na diagramação, o texto

-da edição passada que reprodu--zia o Código de �tica do Jorna-lista, foi publicado íncompleto.>sem três os artigos finais do capí­tulo III, "da responsabilidadeprofissional do jornalista". As­sim, publicamos agora os referi­dos artigos, reparando nossa fa­lha:

Art. 15 - O jornalista deve

permitir o direito de resposta àspessoa'> envolvidas ou menciona­das em sua matéria, quando ficardemonstrada a existência de equf-vocos ou incorreções.

'

,

Art. 16 - O jornalista devepuguar pelo exercício da sobera­nia nacional, em seus aspectospolítico, econômico e social, e

pela prevalência da vontade damaioria da sociedade, respeitadosos direitos das minorias.

Art. 17'- O 'jomalista devepreservar a língua e a 'culturanacional.

Zero e vídeo premiam'O Curso e sua

®

combatividade-�- cidade e categoria Iivre,

a PUC tirou o primeiro lu­gar, o mesmo acontecen­do em documentário cine­matográfico, fotografia e

redação. Em peça gráfica,a PUC ficou apenas com

a parte da publicidade,deixaudo a de jornalismocom o Zero, da UFSC. Osmelhores vídeos jornalís­ticos e publicitários foramda PUC, mas em catego-'ria livre a UFRGS saiu ga­nhando. Os estudantes deTelejornalismo 1, daUFSC, ganharam com o

vídeo "Bom dia presiden­te", uma menção honro­sa.

Ilka Goldschmidt

Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

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HOSPITAL DE RISCO

OS' fantasmas andam de brancotam na falta de estoque do bancode sangue. Mas o diretor acredita queo banco, que fica sob a chefia docauteloso dr, GiImar Pacheco é extre­

mamente bem organizado e "até cede

'saague para outras instituições que ne­

'cessitam", Para ele o üníco problema'é'novamente com o espaço' físico, "eledeve ser ampliado o quanto antes para

que os acadêmicos possam passar a

trabalhar lá dentro".Mas quem resolve essa "repen­

tina", falta de sangue no HU ,por exem­

plo, é uma comissão de Sindicância,"que s6 serve para amedrontar, nuncapara apurar os fatos", conta um funcio­nário. Ele já participou de uma dessascomissões e afirma que antes de qual­quer coisa as pessoas são chamadase alertadas de que nada deve ser desco­

berto, pois o objetivo "é s6 meter

medo". Esse "incidente" do dia 5 já'foi entregue para a comissão qúe pro­'meteu estudar o caso. Até agora nadafoi apurado, mas é que os diretoresdo hospital andam bastante preocu­pados com outros eventos importantes.A "Gincana" do dia 22 de maio, porexemplo, revirou o hospital duranteuma semana inteira.

Os médicos doHU

" -

so sao

encontradosno pagamento

Enquanto o diretor do HospitalUniversitário se preocupa em arranjarverbas para acabar as obras e contratar

mais funcionários, os médicos já des­

cobriram uma maneira mais fácfl paraconseguir dinheiro, É s6 sumir do

hospital e esperar pelo salãrío no finllldo mês. Pareceque está dando resulta­

do. Ali tem médico com mais de cinco

empregos, enfermeiros descuidados,médicos com meia hora de expediente,banco de sangue sem sangue, conselho

que não é conselho. Ali tem muitas

coisas que o diretor geral desconhece.

Tem sempre gente na fila paramarcar Consultas mas nunca ninguémpara atender. Isso já virou rotina no

Hospital Universitário. Os pacientesmais corajosos ainda' conseguem espe­rar quinze, às vezes vinte dias porum atendimento, os outros desistem

ou procuram outros hospitais. Isso

porque o HU conta com 900 funcioná­

rios, entre eles 120 médicos que deve­

riam cumprir vinte horas semanais.Mas isso não acontece já que o núme­ro mãxímo para cada médico é de

dez pacientes por dia e que algunsdeles pomo o dr, Renato da Rosa,que tem um consultório na rua Jerôni­mo Coelho, trabalha no Centro Médi­co do Estreito e no Hospital ColôniaSantana, reservam para o Hospital

,

Universitário apenas' sens horários de

folga.

CAUfELOSA E DESCUIDADA

Outros casos -de negligência en­

volvem a chefe de enfermagem, mas

os funcionários preferem não' falar,"porque se a gente fala não conseguemais emprego nem aqui nem em canto

nenhum". Alguns 'ainda arriscam a

contar algo e é assim que as históriasaparecem. No verão do ano passado,o HU fez um convênio com o Corpode Bombeiros onde alugaram um heli­

c6ptero para serem executados os sal-.vamentos, Os contatos eram feitosatravés do telefone, assim quando o

helicóptero estivesse pr6ximo do hos­

pital se comunicaria com o motoristada ambulância para que o processode salvamento fosse acelerado. Numdesses salvamentos, a comunicação nãoteriasido processada e quando o helí­

c6ptero chegou ao HU a ambulânciaestava se dirigindo para o local de

pouso; ,Na tentativa de salvar maisrapidamente 'a vida da paciente, um

tenente do Corpo de Bombeiros teria-alevado no colo até a emergência ondea enfermeira Paula se, recusou a daratendimento porque a moça não haviachego na ambulância. "Foi uma cena

horrível, o tenente com a pacienteno colo e a Paula aos berros gritandoque não atendia", conta o funcionárioque assistiu a tudo: Depois de muitadiscussão a paciente teria sido atendidae tudo voltava ao normal. Ao "nor­mal" do HU.

Para o diretor do hospital o pro­blema da emergência é o espaço físico."Ela não tem capacidade para atender120 pacientes por dia como está aten­

dendo. É muita gente para n6s selecio-,narmos o que-é realmente urgente".Apesar de "improvísada", ele acha quea emergência do HU está dentro dospadrões da saúde brasileira.

,

Assim. funciona o HU. Com pa­cientes perdidos pelos corredores' sematendimento e sem atenção. Enquantoisso 120 médicos, 120 leitos. Os pa­cientes estão no hospital, e os mé­dicos?

SEM RAIO-X

Talvez sejaessa má administraçãoo "calo" do HU. O 'setor de radiogra­fias é um dos locais onde nunca tem

ninguém. Principalmente ã noite as

salas ficam completamente vazias. Os

responsáveis pelo setor aparecem, mar­cam presença- e depois de alguns minu­tos, tudo deserto novamente. Enquantoisso tem pacientes esperando na filacom radiografias marcadas até parao dia 28 de julhÇl.

to setores que· estão parados", diz.Mas a situação é bem mais grave

e chega a tal ponte que alguns médicostrabalham somente um dia na semana.

É o caso do hematologista dr, Gilmar

Pacheco" que além de consult6rios na

Rua Osmar Cunha e no Ceisa Center,deixa livre para o HU as terças-feirasde manhã, quando não atende maisdo que seus dez pacientes; "Ele nunca

tem hora certa para sair. Chega aquiàs ,7:30 e quando a gente vê já se

foi", conta a moça das consultas. Mui­

tos problemas também acontecem na

ortopedia. Médicos como o dr, DaniloFerreira Rodrigues são desconhecidos

mesmo pelos funcionários com mais

tempo na casa. "Acho que esse médico

já não trabalha mais aqui", diz um

deles.

que o sistema de saúde no Brasil émuito caótico e que a área de saúdeé muito complexa", tenta explicar o

diretor do hospital. Ele acha o atendi­mento do HU muito bom e os médicosmuito cautelosos, "sõ não está melhor

porque não recebemos maiores aten­

ções das autofidades competentes",-

E é assim que anda o HospitalUniversítãrio, A cada dia uma surpre­'sa. No último dia 5 de maio mais

um caso sem explicação. Segundo um

funcionário a emergência do hospitalrecebeu' um paciente perdendo muito

sangue. O que _ aconteceu ninguém sa­

be mas o paciente não recebeu o san­

gue que precisava e acabou morrendo.

Alguns culpam a cautelosa enfermeira­

chefe Paula Stela Leite, "que não

providenciou o sangue", outros apos-

� �Sistema desaúde no Brasil

é caótico"

"O dr, Renato aparece segunda,terça e sexta às 14 horas, quase nunca

fica até as seis", diz a D. Eulinada marcação.de consultas. Já o ortope­dista dr, -Abel do Rosário pode ser

encontrado no HU das 8 às 9 horas

da manhã, depois disso "ninguém sabe,ninguém viu". O Chefe do Depto,Pessoal da UFSC, Nilto Parma diznão ter maiores conhecimentos sobreos horários de trabalho no hospital,..os contratos são feitos para os médi­cos trabalharem quatro horas por dia.E o proprio hospital que nos fornecea lista de freqüência no final do mêse n6s 56 encaminhamos os pagamen­tos".

"O que temos que entender é

"Este doutor.é picareta"o professor Henrique­

Finco, do Curso de Jorna­lismo da UFSC, ficou duassemanas internado no HU

após um acidente automobí­lístico. A ,imperícia de um

dos médicos que o ateudeu

poderia tê-lo aleijado. Aqui,o seu depoimento:

"Fiquei hospitalizadodurante 14 dias no nu, com

fraturas múltiplas e um pul­mão perfurado. Só após dozedesses dias é qUi! fui encami- _

nhado à Ortopedia, aos cui­dados do Dr. Abel do Rosá­rio. Este cidadão engessoumeu braço direito e minha

perna direita, recomendando

que voltasse dali a um mês,-

1lO dia 10 de março. Tudobem. Fiquei tranqüilo. Algunsdias depois, quando me sentia

menos pior, fui levado a Porto soas será que esse "doutor"Alegre. Como o gesso da per- está / aleijando? Este pensa­na havia quebrado, procurei menta é deprimente. Muitasum médico para refazer o tra- pessoas que passam ali são se­balho. Ele bateu novas radio- - gurados do Inamps, sem recur­

grafias e constatou a necessi- sos para reagir a tamanha in­dade de uma cirurgia de ur- competência e irresponsabili­gência no pé direito, sob pena dade, E o pior é quepagam ca­

de perder um ou dois dedos. ro por esse "tratamento": 8%Um terceiro médico confirmou de seu.salãrio, a cada mês.o diagnóstico, dizendo literal­mente que "este doutor quete atesdeu lá em Florianópolisé um picareta. Merece ser

processado". Perguntei se elesustentaria este parecer, no

caso de um processo. A res­

posta foi afirmativa. Não irei. processá-lo, pois -exigtrta existem médicos assim".muito de mim ç ainda estou

me recuperando de toda essa

confusão. Mas isso não impe­de de imaginar: quantas peso,

E para quem quer marcar consul­ta com o pneumologista dr, Paulo

Roberto Zeni, são muitas as opções.Ou pode receber atendimento no seu

consult6rio particular no centro, na

Eletrosul ou ainda numa Clínica de

Reabilitação na Agronômica onde eleexerce a função de "chefe". E no

HU? Lá ele aparece às 8 horas da

manhã, se não tem paciente, vai embo­ra, se a agenda estiver "lotada", antesdas 9:30 horas está tudo terminado.

"Minha sorte, por outrolado, foi poder contar com o

trabalho do Doutor J. J. Car­

doso, Pneumologista. Estemédico foi além da simples efi­ciência, ele prestou um aten­

dimento dedicado. Bom que

- Mas o diretor geral do HU, Al­berto Chterspeski, acha que a conclu­são das obras e a contratação de mais

pessoal são fundamentais para o bom

an�ento do hospital. "Faz vinte e

cinco anos que as, obras começarame ainda não conseguimos construir tu­do aqui dentro. Precisamos tambémde um número bem maior de funcioná­rios para coloreamos em funcionamen-

Henrique Finco

Professor e JornalistaCláudia Carvalho

JUN-88'

ZERO I, -, / P�3, ..... �. " ,

L

-

Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

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Corredores são salas de aula

Em 79, quando o Curso-de Co­municação foi ciiado e instalado no

prédio da Imprensa Universitãria,eram duas salas de aula, coordenadoriae secretária, Hoje, nove anos depois,as condições do curso continuam, total­mente precárias. Um corredor com um

banheiro no fundo, é nisso que se

resume o espaço ffsico do curso.

São vinte e um professores amon­toados em quatro salas, junto de todoo material fotográfico, arquivos defotos, laudas, além do míerocompu­tador que, por sinal, deveria ser insta­lado numa sala com ar condicionado,Nem os professores têm condições depreparar suas aulas no curso, nem os

materiais são devidamente instalados.AIMs, refrigeração é luxo para

quem tem que aprender num laborató­rio de fotografia com sete ampliadorese apenas um funciona perfeitamente.Ou num Iaborat6rio de ntdio que ficaao lado da sala de vídeo e quando

Jornalismo:sem espaçofísico e, sem

equipamento

Quando o Conselho Departamen-1111 do Centro de Ciências Humanas(CCH) convocou uma Assembléia Ge­ral )lara decidir qual seria o processoutilizado para a eleição da nova direto­ria, não imaginava que isso resultarianuma experiência-inédita no campus.Inédita e democrática: foi escolhidaa votação universal, onde os valoresde voto são os mesmos para todasas categorias, professores, al_unos e

servidores, Apesar da escolha ter sidoquase unânime, as polêmicas dentro90 proprio CCH j� apareceram: servi­dores se negando, a votar na chapadn,ica e professores se sentindo amea­

çados pelas avaliações a serem feitas."Essa sed uma forma de se parar

de discutir a nível de categorias parase discutir as propostas a nível de

> universidade", declara, o professor depsicologia e candidato à vice-direçãoCCH, Marcos Ribeiro Ferreira. Pro­vavelmente são essas discussões que

os alunos estão vendo algum filme,é impossível fazer qualquer gravaçãopor causa do barulho. Além disso,o calor na sala de rãdio estraga cons­

tantemente a aparelhagem.Carregar mãquínas de escrever de'

um lado para o outro do curso jãé comum. Como há apenas uma salade redação, sempre que um professorestã dando aula s6 é possível datilogra­far algum trabalho se houver outrasala disponível, se não o jeito ,é irtrabalhar nó corredor mesmo. Isso émuito comum 9,uando há aula de reda­ção m, redaçao V e edição simulta­neamente e todos os alunos precisamtrabalhar. Quando sobram niáquinas,a disputa é grande para conseguir umaboa, pois se não é a fita que estãgasta, pode ser uma tecla faltando.Peça Iara é uma salinha que fica em­

baixo da escada. Lugar reservado,quem for um pouquinho alto não en-

-

tra, Nessa "sala" junto de muita poei­ra, pode-se ver os slides que irãoformar os audiovisuais.

Em outra sala de vinte metros

quadrados funcionam as secretarias dodepartamento e do curso, onde traba­lham cinco funcionãrios, Nessa salaficam os documentos e os únicos doistelefones, .um faz ligações s6 para den­tro e outro para fora. Esperar na mado telefone também é rotina no curso.

Promessas da Reitoria para resol­ver o problema do espaço ffsico dojornalismo não faltaram. Durante qua-

levam os servidores a, pensar que aca­

barão perdendo espaço. "Eles têm uma

visão corporativista", completa M�cos.

Outros Centros j� estão utilizan­do o CCH como exemplo para uma

discussão sobre uma democratizaçãodo ensino e dos espaços das categorias.Isso, não se deve, no entanto, a uma

divulgação através da imprensa. M�cos Ribeiro conta que procurou o Jor­nal Uníversítãrío para divulgar as no­

vidades do CCH, mas nada foi publi­cado "por falta de espaço". O profes­sor acredita que a Reitoria receie a

generalização do voto universal, o quemodificaria totalmente a estrutura polí­tica dentro da Universidade. Ele achaque é um processo legítimo, que nãopode ser considerado uma solução, e

sim uma maneira de viabilizar novos

avanços,A chapa ãníca que concorre às

eleições do CCH tem como candidata

KAMPUS

tro anos o ex-reitor Rodolfo Pintoda Luz ficou prometendo o espaçoocupado pela Psicologia. Até uma

planta baixa foi mandada para o Cursode Jornalismo para que se estudassecomo funcionariam as ínstalacões de­pois da desocupação da área. Uma for­ma da Reitoria enrolar e ganhar tem­po.

No ano passado, Rodolfo Pintoveio até o curso fazer novas premes­sas, Ele prometeu que assim que o

prédio do CCH (Centro de CiênciasHumanas) ficasse pronto a Psicologiase mudaria. Mas quando o Reitor fezo balanço de sua gestão num folhetocolorido, saiu-uma foto de ufn profes­sor do jornalismo dando aula com

a seguinte legenda: "Jornalismo, maisespaço". Ao contrãrio, nessa épocao jornalismo perdeu espaço, pois o"laborat6rio de ratos" da Psicologiafoi desocupado e logo depois ali foiinstalada uma biblioteca setorial docurso de letras. A idéia era ocuparo espaço com um, auditório, jã queo CCE é o único centro que nãopossui um.

Arley Machado

ã direção a professora de Antropolo­gia, Ana Maria Beck, e foi compostaem Assembléia GeraI. A base das pro­postas é a produção de conhecimentoatravés da pesquisa: "As universidadestendem a se transformar em um 3:grau", afirma Ribeiro. Ele não acredi­ta que possa haver um ensino acadêmi­co enquanto os professores e os alunosfiquem restritos às salas de aula ao

invés de dinamizar e aprofundar os

estudos através da pesquisa. E suas

f!:0postas não excluem os servidores:Na produção do conhecimento, o ser­

vidor deve participar". Para compro­var essa tese, Marcos cita como exem­

plo, duas pesquisas suas, j� publica­das, que têm servidores como co-au­

tores.

Taciana Xavier

Baixa Sociedade'_

Um dos proprietários da LojaBeco, do calçadão da Deodo­ro, abriu a cabeça de um defí­ciente mental no dia dois pas­sado. Ainda não sabemos o

que ele procurava. Segundopopulares que tentaram lin­char o agressor, suas férias na

condicional devem acabar.e

Elliot Ness quer saber o desti­no dos envolvidos na apreen­são de nove quilos de pó pelaPolícia Federal de Itajaí,

Zero recebeu denúncia de que. a Polícia Federal de Florianó­polis estaria usando como se­

de social a fazenda de JucaGaleano, o maior traficante dosul do país. Tem mais

A Penitenciária Estadual deFlorianópolis passou a exigirdas mulheres dos hóspedes,além da roupa de cama, arti­gos de uso pessoal, no "sexyapple" a que têm direito. Odocumento não cita a cami­sinha.

Ignorante: "João", bêbadonum bar do continente, se ba­bava. Pela PM, no 4 � Distritoele chegou. Não conheceu um

hospital .•• ali mesmo ele mor­reu.

�.O chá-dançante promovido na

cadeia pública de Floríanôpo­lis vai entrar para a história:alguns presos "dançaram",

pelos mais diversos motivos,levando uma sova de man­

gueira e toalha molhada, dada,pela gentil carceragem daque­le estabelecimento corretivo.Foram servidos alguns aperiti­vos e salgadinhos (água e pãode sal). Estava di-vi-no!l!

Rodinha, -1 � de junho. De cue­

cas, Buzunga condecoradopor duas rajadas de INA daPM carioca. Se não morresse,dos tiros, morreria pelo modocomo foi carregado.

Elliot Ness

Gatti lança livro sobrefilme de Glauber Rocha

O fim das' taxas e dos Jetonsda UFSC, estã sendo proposta parao segundo semestre deste ano peloDCE. Segundo Rejane Gomes, presi­dente da entidade, "se a Reitoria nãoprecisasse pagar jetons, não teria por­que cobrar as taxas dos alunos". Sócom o pagamento de Jetons, a UFSCgastou, em 1987, a quantia de Cz$512.733,24, o que equivale, hoje, a

30.160 passagens da linha beira-mar.Os jetons são uma espécie de bonifica­ção pàga aos membros dos ConselhosCentrais - Universitãrio, de Ensino,e de Curadores - da UFSC. Parareceber 65 por cento do salmo mÚli­mo de referência, por reunião, bastaassinar a Iista de presença.

"Isto é um absurdo", protesta Re:.jane, "a maioria dos conselheiros j�recebe salmos da UFSC, e as reu­

niões estão incluídas na carga horá­ria", diz ela. A composição de cadaum dos conselhos inclui o reitor, os

\

prõ-reítores, o vice-reitor anterior, o'

ex-reitor mais antigo, os diretores decentro, representantes das federaçõespatronais, professores, servidores e

1/5 de estudantes. A exceção dos estu­dantes, que doam bonificações parao DCE - é com essa grana que a

entidade sobrevive -, os demais conse­

lheiros "embolsam" esta quantia.

A possibilidade do DCE perderSua maior fonte de arrecadação nãopreocupa Rejane Gomes, "nós não po­demos é permitir que tal despesa ab­surda continue a existir". Mas ela lem­bra que sem preciso o apoio de todos

Com lançamento pela,Editora da UFSC na noite dodia três de junho no auditóriodo Centro de Convivência daUniversidade Federal, foiapresentado ao público o livro"Barravento: a estréia deGlauber", do professor JoséGatti, do Curso de Comuni­cação Social.

Os presentes foram re­

cepcionados 'pela professoraGilka Girardello, em razão doautor encontrar-se em NovaYork completando curso dedoutorado.

A obra é resultado da te­se de mestrado de Gatti, e

analisa a posição de Glauberno trabalho frente às realida­des místicas dos costumes e

crendices africanos impregna­dos na cultura do povo baia­no. A preocupação com as ca­

racterísticas técnicas da fitaemerge intensamente do texto

pelo prisma crítico de um dos

inspiradores da CinematecaCatarinense.

os estudantes, afinal, diz ela "o DCE

passam a viver de suas próprias per­nas". Não se conhece ainda a posiçãooficial das associações de professorese de servidores da UFSC, mas a ex­

pectativa do DCE é que elas tambémap6iem esta luta.

Quem jã garantiu, caso a matériavã para o Conselho Uníversítãrío, seuvoto a favor, foi a diretora do Centro

Tecnológico, Helena Sterner. Ela, a

exemplo de Rejane, também considera"um absurdo alguém receber para par­ticipar de reuniões". Outro que tam­bém estaria disposto a apoiar a propos­ta dos estudantes é o diretor do Centrode Saúde, Jorge Polidoro, mas, o seu

voto "dependeria da proposta apresen­tada pelo relator do processo".

Esta não sed a primeira vez queo DCE apresentam uma proposta refe­rente ào pagamento dos Jetons. Embo­ra, seja a primeira em termos de "can­celamento". Ano passado, foi apresen­tada uma proposta segundo a qualtodos os conselheiros doariam seus be­neffcios para a construção da moradiaestudantil. Mas, ela nao foi aceita

pela maioria dos membros do Conse­lho Uníversitãrio,

Categorias têm o mesmo

peso na eleição do CC"

7 '

_P,4 _ ZERO''

,.i,,,,,_JUN-88,

',

,/,

Carlos Eduardo Caê

B�.a estréia de I'" m.

, gal.Jber

ioSégaUi

O professor Mauro Pom­mer, especialista na área e o

cineasta catarinense Zeca Pi­res, colega de Gatti na Cine­mateca, enalteceram o estudo _

contido na obra, sendo exibi­do em seguida o filme deGlauber Rocha, um dos mar­

cos iniciais de sua carreira,

Sérgio Machado

Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

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EI.ES DECIDEM

Era uma vez a tal da tesouraA Constituintefazconto-de-fadascoma

comunicação1988. Ano da abolição à

censura da informação jornalísti­ca. Desta vez não foi a princesaIsabel a responsável pelo grito deliberdade e sim a rainha da

política atual: A Constituinte. A

informação se livrou enfim daschibatadas e as portas das senzalasforam abertas para que o pensa­mento seja livre ... Será???

.

o capítulo da Comunica­

ção foi votado dia 24 de maio e os

443 votos aprovaram o textoelaborado pelas lideranças parti­dárias. A rainha resolveu mesmo

acabar com os tiranos de seu reinoe proibiu o monopólio dos meiosde comunicação... Burocracia éoutra palavra proibida. Agorarevistas e jornais não precisam de

licença para serem publicados.Brasileiríssima, a rainha disse queas empresas jornalísticas e deradiodifusão deverão pertencer a

brasileiros natos ou naturalizadoshá mais de 10 anos (como o Mr.Victor Civita e o Mr. SenorAbravanel).

Os súditos do poder execu­tivo serão encarregados de outor­

gar e renovar as concessões dasemissoras que terão um prazo de.10 anos para rádio e 15 anos paraTV. Um mensageiro do paláciochamou a atenção do povo para as

exigências reais: Toda programa-

A Constituinte aprovou o

capítulo referente à Educação,estabelecendo que a "educação édireito de todos e dever do estado, eda família", nos estabelecimentos

públicos "o ensino será gratuito",todos terão "igualdade de condiçõespara acesso ao ensino público", as

universidades gozarão de "autonomiadídãtíco-cíentffíco, administrativa e

de gestão financeira", e que ogoverno federal "aplicará anualmente18 por cento dos impostos na

educação". Na realidade, "segundeafirmou o pró-reitor da UFSC

- Gilberto Ãngelo, "pouca coisa mu­

I,;A:::':::B:::'rux=:::a:::M=a:::lv:::a:::d=e:::za=j;::o:::g:::o"'õ';=se":".ll:::"'e-n-c-a-n":"t-o:':a:::q:::u:::i=========::::::"::"'::"":":::::::::":"::::""=::::::"::"'::":::::::::"':::::::::"':::::::::"'::::::::.J dou em relação ao Que se tinha".

ção de emissoras de rádio e 1Vdeverá ter preferências por fínali­dades educativas, informativas e

culturais, promover a culturanacional é regional e respeitar osvalores éticos e sociais da pessoa e

da família (como por exemplo os

educativos enlatados americanose a ética de um filme em queRonald Reagan massacra os ín­dios do oeste).

Não à censura

artistas poderão finalmente mos­

trar os trabalhos que tantas vezes

foram destruidos pela maldosasenhora que os impedia dedenunciar através da arte. Uma leifederal, vai instituir horários e a

censura etária para que os concei­-tos morais da instituição chamkdafamília não sejam afetados.

-

nenhum desses vícios. O objetivodo conselheiro é proteger as

crianças dós comerciais que en­

grandecem '0 fumo, as bebidasalcoólicas e os medicamentos.

A rainha concedeu urna

entrevista coletiva à imprensa e

disse que pretende arquivar os

textos aprovados. Ela vai tirarumas férias e onde estiver terá a

certeza de que tudo estaráacontecendo conforme as leisreais, e seremos felizes parasempre ...

Sua majestade ainda anun­

ciou a proposta de um dosconselheiros, o deputados JoséElias Murad; os fumantes, os

adeptos do halterocopismo e os

hípocondrfacos .

vão assistir àspropagandas de seus produtosprediletos, acompanhada de uma

_

contrapropaganda que mostra os

males que o produto causa, isto se

o dono da emissora não tiver

A Sra. Censura, uma dascostureiras do palácio, perdeu a

tesoura e não poderá mais cortaras diversas manifestações dopovo. Os paletós e as calças jeansvão se encontrar nos microfonespara expor suas idéias (os paletósfalam primeiro, é claro), Os

Márcia Carvalbo

Fenaj faz concurso fotográfico para(

jornalistas de todo o país (

Estão abertas até o dia 10 de

junho as inscrições para o prêmioKodak-Fenaj de Fotojomalismo 88.Esse concurso é aberto à fotógrafosportadores de registro profissional efiliados à algum Sindicato de Jorna­listas Estadual. Podem concorrer

fotos em cores e preto e branco,publicadas ou não, que tenham sidorealizadas no período de 21/6/87 a

10/7 /88.Os trabalhos podem ser inscri­

tos nas categorias reportagem, polí­cia, esportes, seqüência geral e ensaiofotogéãfico (reportagem fotográfica),sendo \

que cada profissional pode,inscrever até três trabalhos porcategoria. As fotos, sem moldura,devem conter no verso o nome do

autor, endereço e telefone além do lo­cal e data em que foram realizadas.

O vencedor do concurso vaireceber 100 OTNs, diploma e

medalha, e os primeiros e segundolugares nas demais categorias serão

premiados com filmes fotográficos.Além disso, os autores selecionados

receberão seus direitos autorais em

forma de premiação. Todas as

fotografias premiadas não vão ser

devolvidas aos autores.

Um representante da Kodak,um editor e um crítico de fotografiae um' membro da comissão deRepresentantes Fotográficos de SãoPaulo julgarão os trabalhos.

As fotografias acompanhadosde fichas de inscrição deverão .�serremetidos aos Sindicato dos Jornalis­tas Profissionais no Estado de SãoPaulo, rua Rego Freitas, .530 -

Sobreloja, C�P 01220, Vila Buarque- SP. Outras informações e o

regulamento do concurso podem ser

conseguidos também nesse endereço.

Arley Macbado

Uma das principais reivindica­ções dos estudantes e professores,"verbas públicas apenas para as

escolas públicas", não foi aprovada.Pela nova lei as escolas privadas "quenão apresentam fins lucrativos",poderão receber verbas do governo;A presidente do DCE, Rejane Gomes,consídera a aprovação deste itemcomo "prejudicial para a educação".Ela, acredita em grandes mudançaspara o ensino público, pois, segundoela "a onda de privatização do ensinovai continuar".

A líder estudantil destaca quenão basta apenas aprovar um itemque obrigue o estado a dar 18 porcento para a educação. "f. precisosaber como esse dinheiro seráaplicado". Entre os estabelecimentosq�e .c0!l�inuaram a rec;e_?er ver�aê>doMínistérió da Educaçao, estao as

escolas militares. E, apesar doaumento do percentual de verbas, é:bem provãvel que o dinheiro para a

construção de moradias estudantis e

para a manutenção dos Restaurantes,Univesitários continue bloqueado.Rejane afirma que "nem mesmo a

suplementação de verbas 'para a

UFSC, neste semestre, está garanti­da",

A dirigente estudantíl fazquestão de ressaltar que "apesar denão conseguirmos tudo o quepretendíamos, obtivemos uma im­portante vitória ao derrotarmos a

proposta do, centrão". A propostainicial daquele grupo de parlamenta­res, apontava o fim do ensino públicono Brasil. Rejane não concorda com a

afirmação de que tal "vitória"deveu-se ao acordo de cúpulas.

Na sua opinião, "foi funda­mental a manifestação realizada pelosestudantes no plenário da Constituin­te". Na semana que ocorreu a

votação do item "educação", o

Congresso Nacional foi invadido porestudantes de. diversos estados, quevisitavam os parlamentares em buscade apoio para sua proposta. De SantaCatarina foram 39 alunos, levadospelo DCE;UFSC, e mesmo sem saberinformar o número total de acadêmi­cos .presentes em Brasilia, Rejaneafirma ter sido esta "a maior.manífestação acontecida na Consti­tuinte".

Carlos Eduardo Caê

Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

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Ambiente, sempre ameaçado

Partido Verde·é contrao acordo nuclear

Lagoa de

Potecas

pode poluirrio Imaruí

Exatamente durante a

Semana do Meio Ambiente,'comemorada nacionalmenteentre os dias 1 � e 7 de junho,a Fundação de Amparo à Tec­nologia e ao Meio Ambiente(FATMA) aprovou um projetode saneamento que ignora os

requisitos mais básicos de

proteção ao ecossistema local.Através de um acordo de ca­

valheiros, a Fundação isentoua Companhia Catarinense de

Águas e Saneamento (CA...

SAN) ; da obrigação de medir

previamente as conseqüênciasque suas obras vão ter sobretoda a flora' e fauna do RioImaruí. O sistema de esgotosimilar realizado em Camboriúindica que a falta de planeja­mento ambiental, pode alteraras características dos rios,transformando-os em focos de

proliferação de mosquitos e

fontes de mau cheiro.No dia 28 de maio, um

ex-funcionário da CASAN de­nunciou irregularidades sobrea lagoa de estabilização que

Organizado em mais de 48 muni- -

cípíos do Estado, o Partido Verde

já está em condições de participardas eleições de movembro, Em Santa

Caterina o PV é mais representativono Vale do Itajaí, grande Florian6-

polis e no sul do Estado. No seu

programa, o partido afirma ser de mili­tantes e não de burocratas, já quenão permite que seus membros ocupemmais de um cargo nos diretórios, muni­cipal e estadual.

O rompimento com o FMI 'e a

denúncia do acordo nuclear brasileiro,responsável por 8% da dívida externa

brasileira, são algumas propostas polí­ticas do PV. E um dos seus-princípaisartículadores no Estado é RogérioPortanova, formado em Direito e pós­graduado em Direito Ambiental, ele

afirma que a política do partido nãoé meramente conservacionista e citao acidente de Goiânia como um alerta

para o perigo da radiação nuclear.Para estas eleições, o PV vai

participar da Frente Popular, poisacredita que só com a união dos parti­dos de esquerda será possível uma

vitória contra os grandes partidos.Além do PV a Frente Popular é forma­da pelo PCB, PC do B, PDT e PSB.

MARGINAIS SOCIAIS

Aposentados, menores, mulheres,homossexuais e negros. Rogério-Porta­nova propõe uma maior reflexão sobre

os direitos e desejos destes grupos,ao denominá-los marginais sociais.

está sendo implantada em Po­tecas, município de São José.A obra teria sido iniciada no

princípio do mês, sem passarpor um teste obrigatório: a

, apresentação do Relatório deImpacto no Meio Ambiente(RIMA) à FATMA, responsá­vel pela concessão de licençaspara construções deste tipo.A primeira reação dos enge­nheiros do órgão foi anunciar

que provavelmente a obra se­

ria embargada. No dia seguin­te, o Superintendente paraAssuntos Técnicos, MárcioRezende Francalaccí , anun­

.ciava o perdão à empresa in­fratora.

INCONFORMISMO

"A Casan provou queseu projeto foi aprovado em1977, quando ainda não haviaa exigência do RIMA", justi-­ficou o superintendente pe­rante um grupo de ecologistasinconfonnados com a com­

plascência da FATMA. Os

próprios engenheiros do órgãolamentaram a decisão. Gusta­vo Masenes Carmona foi umdeles, argumentando que a re­

solução n � 1 do Conselho Na­cional do Meio Ambiente,baixada em 1986, decreta a

necessidade da realização doRIMA antes da implantaçãode sistemas de saneamento.

"Os homossexuais sofrem hoje um ter­rível preconceito por causa da AIDS,o que é uma injustiça pois no Brasil,com a .falta de critérios nos bancos

, de sangue, o número de casos da doen­

ça em hemofilicos supera o dos homos­

sexuais", afirma,O líder ecologista cita o protesto

'dos aposentados do Sul do Estado,em fevereiro deste ano,' como um

exemplo da força dos movimentos so-

,ciais no Brasil. Veiculada em jornaisnacionais e da América Latina, a ma­

nifestação dos aposentados parou a

BR-I0l, dando impulso a outros movi­mentos do gênero no País. Além dis­so, lembra Portanova, busca-se. ummaior espaço político para as mulhe­res. "Encarar a mUlher como mão-de:obra produtiva e não apenas em sua

especificidade sexual", conclui Rogé­rio.

ECODESENVOLVIMENfO

A política de ecodesenvolvimento­coloca em xeque os problemas da so­

ciedade industrial. Surgida na Europa,a idéia de um desenvolvimento quepreserve o meio ambiente tomou po­pular as duas principais bandeiras dos.,verdes. Uma delas é o desarmamentoe a outra é a produção zero, ondeos ecologistas do Primeiro Mundoprotestam contra um ilusório progres­so. Eles afirmam que Q custo socialdeste progresso é maior dó que se

oferece em beneficios aos que .produ-

INCERTEZAS

"O último parágrafo dispõeque todas as disposições em

contrário estariam revogadasa partir daquele momento

(86)" , completa Carmona.Embora o RIMA só tenha vi­rado exigência a nível nacio­nal neste ano, datam de 1980a leis estaduais que prevêema obrigatoriedade de sua reali­

zação para obras que envol­vam recursos. naturais.

O grande perigo de uma

lagoa destinada ao processa­mento de esgoto é sua tendên­cia a gerar uma quantidade ex­.cessiva de algas, ainda mais

quando ela comporta um volu­me de água considerável, co­mo os 18 milhões de litros quevão inundar Potecas. Todo o

material orgânico da lagoa se­

rá despejado no Rio Imaruí ,numa afronta perigosa à so­

brevivência da fauna e flora

aquática. "Os moradores daPonte do Imaruí estão com

muito medo que a lagoa preju­dique a pesca de mariscos e

,

berbigões", relata o pescadorPedro Antônio Silveira. Até

agora esta comunidade só re­

cebeu a garantia de que a

FATMA vai esta aberta a re­

clamações futuras, que serãoencaminhadas à CASAN paraas devidas providências.

ALTOS CUSTOS

"Não podemos inviabili-

zem, Na Áustria, por exemplo, umacomunidade preferiu desaquecer um

pouco suas casas, para economizar no

número de megawats que provêm da

energia nuclear.

"Dívergindo das posturas socia­

Jistas clássicas, a política de ecodesen­volvunento não visa apenas a distribui­

ção da renda, mas o perfeito equilíbriodo homem na Terra", afirma Portano­

va mostrando-se com isso contrário à

instalação de indústrias na Ilha, afir­mando que com a agricultura a cidade

pode tomar-se auto-sustentável em ali­. mento: "Precisamos refazer o cinturão

verde que Florianópolis tinha há um

tempo atrás, isto não é uma volta ao

passado mas sim um pulo para o futuro,já que tudo poderia ser feito com o uso

de computadores".

USINA DE LIXO

Portanova critica a prefeitura de

Florianópolis pelo descaso com quetrata as causas ecológicas, comJ por

exemplo na questão do lixo: "O PV

solidarizou-se com a 'comunidade do

Itacorubi, pedindo o fechamento do

lixão. O mesmo aconteceu coma co­

munidade Sambaqui, onde os ecolo­

gistas apoiaram o protesto dos morado­res pela não instalação da usina delixo no local", afirmou Portanova es­

çlarecendo que não estavam sendoobedecidas as exigências do Conselho

Nacional do Meio Ambiente. O Co.:

zar uma obra de saneamento

que vai beneficiar 99 mil habi­tantes com a execução do RI­MA, que exige o desembolsode Cz$ 80 milhões e mais trêsmeses do projeto parado",alega Grover Alvarado, da Di­visão de Projetos da CASAN.Os técnicos da FATMA infor­mam que não são necessáriosmais que 30 dias para que o

estudo seja feito. Com relaçãoaos custos, eles variam de

0,1% a 5% do orçamento totalda obra.

"Pesquisas feitas por ins­titutos americanos revelamque em casos em que ó levan­tamento ambiental não é ob­servado, as empresas acabamtendo que dispender poste­riormente cerca de 20% docurso inicial para corngireventuais complicações no

ambiente", é a ressalva do en­

genheiro Carmona. Quandoem maio próximo a lagoa deestabilização de Potecas for

posta em funcionamento, serágeraI a expectativa - ou a

apreensão - sobre o quanto a

imprudência da Casan vai cus­tar, não para seus cofres, maspara o ecossistema da grandeFlorianópolis.

lIeloisa Dallanhol

NAMA exigia a apresentação de trêslocais disponíveis para a construçãoda usina, mas quando a Prefetura ela­

borou o Relatório de Impacto do MeioAmbiente (RIMA),já definiu o local".Numa atitude arbitrária do Prefeito",protestou.

Portanova afirma que o PV ata-,caria o problema de maneira efetiva:a solução seria a construção de peque­nas usinas em algumas localidades com

custos menores para os cofres públi­cos. "No caso do lixo recolhido no

centro da cidade, poderia se pensar'na construção de. uma usina fora da

ilha", disse,Outro descaso da prefeitura, para

Portanova, foi o projeto Naturinha."Foi no mínimo uma atitude hip6cri­ta", se referindo ao patrocínio da Sou­za Cruz ao projeto. Coin a intençãode educar ecologicamente as crianças,o 'Narurinha visitava as escolas e as

praças da cidade, mostrando corno se

deve preservar o meio ambiente". Maspor trás da boa intenção da prefeitura,estava .a propaganda de uma empresaaltamente poluidora". Para ele isto de­monstra "o quanto as autoridades nãoencaram os problemas ecológicos de

frente", concluíu..

Ewaldo W. Neto

Rubens Vargas

"Essa gente que você não vê faza televisão que vê". Essa é uma dasfrases conhecidas que são usadas parahomenagear os profissionais de televi­são - no caso desta, os da Rede Globo.Porém; existem aqueles que você não

vê, mas ouve, como é o caso de MarlaAlice Barreto, ex-rádio-atriz e dubla­dora, que estreou aos 14 anos na prí- I

meíra rádio-novela de Santa Catarina.

Florianopolitana, simpática e fu­

mante inveterada, Maria Alice iniciou

sua carreira em 1949, na Rádio Guaru­

já, com a rádio-novela "Nuvem Negraem Céu Azul", de Gustavo Neves

Filho; que também era o galã do pro­grama, atuando no papel principal.Atuou em rádio-novelas até 1954, pa­ralelamente com um emprego de canto­ra-craner no Lira Tênis Clube, indopara o Rio de Janeiro em 1955. Lá,a passeio, fez teste para a Rádio Na­cional e acabou.ficando até 1965. Seu

primeiro trabalho na capital carioca

foi "Há sempre outra mulher", de Ro­berto Faissal, onde interpretava a "ou­tra".

Em 1958 pass0l! a fazer dubla­

gens para a companhia cinematográ­fica Atlântida, ccA BeÍa Adormecida",de Walt Disney, foi sua primeira du­

blagem, onde fazia o papel-título. Em1959 foi dublar em televisão, na com­

panha Herbert Richers, fazendo vozes

variadas no seriado "Bat Masterson".Daí para frente sua voz foi gravadapara vários. filmes e desenhos anima­dos (que são sua especialidade) como;As prisioneiras (filme), Escola de He­

róis (desenho animado), Sissy (seriado­de TV, fazendo o papel-título), Dallas'(seriado de TV, onde dublava a voz

�de Afton - uma das amantes do milio-nário do petróleo IR) e outros.

Virginiana, fã de livros que con­

tam sagas de família, Érico Veríssimoe João Ubaldo Ribeiro, vidrada em

doces, voltou à Florianópolis em 78.

Segundo ela, há duas formas de dubla­gem: por teJa, que o filme passa em

tela de cinema para ser dublado, assimmais fácil e por VT, onde as fitasdo filme ou desenho são vividos entre

três ou quatro monitores de vídeo.

Hoje com uma filha, e uma neta

de 11 meses, divide seu tempo como

síndica do prédio .onde mora e com

um "bico" na Rádio Guaraujá, em

Florianópolis. Diariamente, grava 45

minutos no programa "Tarde Milioná­

ria", de Mário Silva, onde faz a voz

do menino Floripinha, na hora dos

sorteios. Porem, cada vez que volta

ao Rio de Janeiro, faz pequenos servi­

ços de dublagem. Apesar de trabalhar

em rádio AM, Maria Alice apreciaum bom rock nas FMs, detesta Alcio­ne, assiste os noticiários de TV e

lê o jornal "O Globo" do Rio, ondegostaria de voltar a morar e trabalhar

erndublagem,

Marcos Cardoso

Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

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PERSEGUIDOS

OLPacusa Israel de terrorismo,

/'

Estado judeu foi o problema

Anistia defende o Homem em todo o planeta

Palestino diz crianças pnrticipam, S6 que é uma

revolta em que usa-se apenas pause pedras contra as armas mais so­

fisticadas que existem fornecidas

pelo impertalisrno norte-americano.Eu acho que com este levante o

lim da ocupação está mais próximo.A solidariedade internacional estámaior e a própria con scíência mun­

dial reconhece cada vez mais a cau-'

sa pales�ina. Agora, está, claro que'quem pratica o terrorismo é Israel.Aquela idéia que a grande imprensamundial tenta vender de que os âra­bes são terroristas está acabando.Eles praticam o terror, nós' a lutapela liberdade. Nós somos liberta­dores.Zero - Falando na grande imprensa,sabe-se que o sionismo exerce grandedominação na imprensa mundial. Poristo, muitas vezes, a questão palestinafica de fora dos grandes noticiários.Agora, noticia-se pela grandiosidadedo levante e da repressão. A O LP

pretende fazer alguma coisa para mini­mizar esta dominação dos meios de

Comunicação pelos sionistas?Fawzi - Ninguém pode tapar o solcom a peneira. De fato, eles cons-

que revolta é

contra opressãoO Vice-Representante da Organi­

zação para a.Libertação da Palestina

no Brasil, Fawzi El Mashni, proferiuuma palestra no audit6rio da Reitoriada Universidade Federal de Santa Ca­

tarina. Antes, porém, concedeu entre­

vista' exclusiva para o Zero. Na con­

versa; Fawzi fala do atual levante

palestino nos territ6rios ocupados da

atuação da imprensa mundial,dos pla­nos da O LP para o futuro e do supos­to 6dio recfproco entre árabes e ju­deus. Durante toda a entrevista Fawzímostrou-se tranqüilo, mas 'podia notar­se uma ponta de saudade e tristeza

quando ele fala da péssima situaçãoque estão vivendo os- palestinos.Zeru- Como está a situação nos terri­t6rios ocupados atualmente?Fawzi - A partir de !J de dezembrode 87, começou um levante palesti­no contra a ocupação israelense.Este levante teve por motivos ime­diatos, o atropelamento propositalde 'operârios palestinos por um ca­

minhão do exército de Israel. ,Qua­tro pessoas morreram e nove fica-

,/ ram feridas. A partir dar, os pro­testos eclodiram na Faixa de Gazae Cisiordâníà estendenda-se por to­do o terrítõríe ocupado. Até hoje,as manifestações, os protestos,greves gerais, etc. ••• continuam'e provocaram uma violenta repres­são por parte de Israel. Praticarama política da mão-de- ferro, que­bra-ossos, enterraram pessoas vi­,vas, jogaram gente de helicópteros,fecharam escolas e hospitaís. Da­

quéla data até hoje, já morreram

345 pessoas, oito mil ficaram feri­das e vinte mil foram presas inco­municáveis em prisões e campos de

concentrações onde nem a CruzVermelha pode entrar. Mas o moti­vo principal da revolta é mesmo

a ocupação. Foram 20 anos fer­mentando e a revolta acabou explo­dindo agora.Zero, - Este é um movimento queveio de baixo, da pr6pria população.que sentiu na came estes 40 anos

de perda parcial da terra e 20 'anosde perda total. Por isso, o senhoracha que há condições do levante al­cançar seus objetivos maiores?Fawzi - Esta é uma revolução po­pillar. Homens, mulheres, velhos e

No dia 14 de maio, Israel come­morou os 40 anos de sua criação.São 40 anos de intranqüilidade e guer­ras. Tudo começou com uma resoluçãoda ONU que resolveu dividir a Pales­tina, criando o chamado Lar Nacionaldos Judeus. Esqueceu-se porém, quenaquele territ6rio havia um povo queo habitava desde 3000 -antes de Cristo.Subestimou-se o direito deste povo.Era mais de um milhão de pessoas,não era portanto --ú'ma terra sem povopara um povo sem terra", como procla­maram os judeus na época. Ali existia.uma população que produzia as melho­res frutas cítricas do mundo, que linhauma cultura, uma tradição, língua, re­ligião, costumes. Dividiram a terradeste povo deixando-lhes apenas 44%de seu territ6rio inicial. Não conten-

_ tes, tomaram os outros 56% e começa­ram a expulsar os palestinos -de sua

terra. Hoje, eles estão espalhadospelomundo, Mas, mesmo assim, ainda sãomais de um milhão e meio que habitama outrora Palestina.

Agora, resolveram dar um basta

Quem foi preso por suas convic­

ções, cor, sexo, origem éfnica, idiomaou religião, pode acalentar uma espe­

rança. É que a qualquer momento a

Anistia ,Internacional pode ,resolverseu caso. A Anistia Internacional é

um movimento mundial que independede qualquer governo, interesse políticoe econômico, ou/ grupos religiosos,e que atua na defesa de pessoas quetenham sido presas sem acusação for­

mal ou julgamento. No Brasil há três

representações da Anistia Internacio­

nal nas -cidades de São Paulo,' Riode Janeiro e Porto Alegre,

O movimento conta com mais de

500 mil membros e simpatizantes espa­lhados em 150 países e territórios' do

mundo. Para preservar sua imparciali­dade e independência a Anistia Inter"

guiram enganar a opmrao públicanestes 40 anos. Mas, com o levanteos meios de comunicação têm mos­

trado para o mundo as atrocidadesdo governo israelense e demonstroua tenacidade do, povo palestino. A

a esta situação e foram para as ruas

armados de paus e pedras para lutaremcontra os que os expulsaram de suas

terras. Foram 40 anos fermentandouma revolta interior. A população ára-,be dos territórios ocupados está fazen­do uma revolução. Sem' armas com

que lutar, eles parecem ter perdidoo medo. Enfrentam o quarto melhorexército do mundo de peito aberto.São crianças de dez, doze anos, mulhe­

res, jovens, homens, velhos.. Estãodeterminados e pelas imagens que 'o

documentário a-"Revolta das Pedras"rios mostra eles não vão parar mais.A bandeira palestina não está maisguardada, o Hatar (sfmbolo de luta \

do povo árabe) também não.Nesta revolta, quase 400 palesti­

nos já morreram. Apenas uma judia.Isto porque um grupo de adolescentesde um movimento religioso intranacio­nalista judeu, resolveu invadir a aldeia

palestina de Beita, escoltado por solda­dos armados com metralhadoras Uzi,para "mostrar aos árabes quem é quemanda na região", confirmou" depois

nacional controla rigorosamente a

aceitação de fundos, mas para manter­

se e conseguir seus objetivos, ela é

financiada por seus membros, atravésde contribuições individuais ou doa­

ções.

Os "prisioneiros de consciência",a quem a Ari'istia Internacional têm

como alvo estão na metade dos 154

'países membros das Nações Unidas.

O quê preocupa e torna mais difícil

sua ação, é que em mais de 50 paísesas pessoas podem ser presas sem acusa­

ção ou julgamento, e em mais de

cem a pena de morte está em vigor,até mesmo por ofensas políticas.

Em Londres fica o "quartel gene­ral" da Anistia Internacional. É na

capital inglesa que trabalham cerca

de,200 funcionários responsáveis pela

imagem de que Israel era um estado

democrático caiu por terra. Mesmo

assim, a censura continua enorme.

Zero - Golda Meier declarou certa'vez, que "s6 vai haver paz no OrienteMédio quando os árabes amarem seus

filhos tanto quanto odeiam os judeus".Qual sua opin ião sobre -esta frase?Fawzi - Certa vez, eu ouvi' umcamponês palestinó dizer a repór­teres norte-americanos que "nósnão temos ódio- nem do povo nem

da religião judia. E nós não quere­mos que nossos filhos que nasceram

sobre ocupação tenham este ódio".Realmente, são os israelenses queestão criando este rancor no cora­

ção dos palestinos. Sempre ouvimosGolda Meier, Sharon, Menachem

Begin, falar em paz. Mas sempreforam os primeiros a fazer a guer­ra. Os massacres, desde Deir Yas­sim até Sabra e Chatila, o recente

ataque <!e Tunfs e as matanças de

agora. E esta a paz que eles ,pro­clamam,Zero - Israel tem feito ataques a

quase todos os países árabes. Não seria

agora a hora de integralização destes

países?

uma das componentes do grupo. Oconflito foi inevitável, morreram dois'palestinos e a jovem judiaTirza Po­rat, de 15 anos. O ministro da justiça

.

exigiu que a aldeia fosse varrida do

mapa. 13 casas foram explodidas -

sendo que uma delas era de um árabeque prestou socorro aos judeus e agoravai ser indenizado - todo rnundo foicolocado sobre toque de recolher.Quatro dias depois o chefe do Estado­Maior das Forças de Defesa de Israel,general Dan Shomrom, veio de públi­co dizer que- Tirza foi morta por' umabala disparada por uma das armas dossoldados. A ultradireita reagiu e pediua renúncia do general, que não aconte­

ceu, e ainda manteve suas conclusões,

Devido a aberrações como esta,é que a "Revolta das Pedras" estánas ruas. O que acontecerá daqui paraa frente, ninguém sabe. Enquanto isto,muitos palestinos ainda morrerão, ju­deus também. E a tão propalada painão surgirá sem que seja dada uma

solução para o povo palestino.

pesquisa. Estas pessoas recolhem e

apuram informações obtidas de fontes

diversas, como jornais, boletins gover­namentais, relat6rios de advogados e

organizações humanitárias. Há equipesdo movimento que são reunidas parafazer pesquisa em diversos países, co­mo também acompanhar julgamentos.

Quando li Anistia Internacionaldescobre-um preso de consciência, co­mo são conhecidos seus presos, elaenvia cartas aos governos, embaixadas,principais jornais e familiares do pre­so. Além disso, recolhem assinaturas

para petições internacionais, e 'ajudamas famíliasdos presos com roupas, me­

dicamentos e agasalhos.

Se você quiser fazer parte da

Anistia Internacional, pode agir devários modos. Pode enviar cartas pres-

Fuwzi - Eu acho da maior impor­tâncía a unificação do mundo ára­be. Lamentavelinente, existemmuitos interesses internos na re­

gíâo, O imperialismo procura divi-dir para enfraquecer. Mas unidadeé a força e nós queremos a força.Assim, Israel não poderá ser tãoarrogante e agressivo como agora.Se houvesse união, o sionismo pen­saria ] O vezes antes de atacar um

país árabe, pois enfrentaria uma

forte resistência.Zero' - E a religião tem atrapalhado'?Fawzi - Felizmente na Palestina,viviam tranqüilamente cristãos,muçulmanos e ateus sem proble­mas. Judeus também. São muitosos judeus que têm defendido a causa

palestina. Nós sempre fomos contrao fanatismo religioso e os estadossectários.Zero- Dentro da própria OLP exis­tem dirigentes de outras religiões, nãoé?Fawzi - Os padres Hilário Capuccí,Ibrahim Mayade. Nas outras fac­ções temos George Habasehe e mui­tos outros.

Zero - A O LP tem recebido apoiodos outros povos? Tem se mostradosolidário com outros povos em lutaz-;E as relações com o Brasil?Fawzi - Nós acreditamos que a so­

lidariedade é o Bálsamo dos povos.A questão da paz, da justiça e daliberdade não tem fronteiras. Coma solidariedade internacional nossa

luta fica mais forte, temos maisânimo para vencer. Da mesma for-

./ma que recebemos, damos solida­riedade aos outros povos em luta.Sempre que atacam um povo quebusca sua 'autodeterminação estãonos atacando também. Quanto ao

povo e o governo brasileiro, já de­monstraram inúmeras vezes o seu

apoio ao povo palestino.

Zero � O que pretende ser feito daquipara a frente?Fawzi - A luta continua. Agora,pretendemos uma Conferência In­ternacíonal da Paz sobre a direção,da ONU. Queremos uma-conferên­cia onde estejam os membros do

,Col]sélho de Segurança da O� e

que a OLP entre em pé de igualdadenas discussões. A ONU já foi res­ponsável pela tragédia do povo pa­lestino. Agora é a vez de repararo erro.

Entrevista e textoIsmail Ahmad Ismail

sionando os governos onde haja presosde consciência, juntar-se a grupos lo­

cais, tornar-se membro-contribuinte ou

também comprar publicações que rela.tam casos concretos de violação dosdireitos humanos.

Os membros da Anistia Interna­cional lutam pela sua pr6pria dissolu­

ção. Mas, segundo eles, isso s6 vaiacontecer quando as discriminações,as violações dos direitos humanos, a

pena de morte e a prática da tortura

forem extintas. Porém, o mundo ainda

está muito distante disto.

I

Mário Vaz

'.'Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

Page 8: REFORMA Antes sem-terra, - hemeroteca.ciasc.sc.gov.brhemeroteca.ciasc.sc.gov.br/zero/zerojornais/ZERO1988MAI.pdf · Ivan Santos, Rute En ... ter quando perguntada sobre a "invasão"

Eleitores sem direito à terraArmas e coação:Polícia desaloja

I

33Jamílias

"Fizeram todo-mundo.le­

vantar na ponta do rifle, leva­ram alguns pra delegacia e atémulher grávida de sete meses

perdeu criança por causa do

susto". É o que conta Lear­cino Roberto Gonçalves, mo­rador de um barraco na conti­nuidade da rua Almirante Ta­

mandaré, em Coqueiros, e quejunto com 33 famílias estásendo despejado de sua casa.

A polícia, depois de in­vadir as casas, levou algumaspessoas ao 4: Distrito. A

maioria analfabetas, lá foram

"convidadas" a depor, e mes-

mo não _ sabendo ler tiveram

que "assinar" (impressão di­

gital), sem a presença de um

advogado, o papel onde esta-

<vam suas "declarações". ()que assinaram não sabem •. A

polícia civil, ao ser questío­nada pela invasão das casas,

alegou estar fazendo busca de

"drogas e ladrões". Segundoos moradores.os carros que os

policiais usavam eram particu­lares e eles estavam armados

de fuzis e metralhadoras.

Depois deste episódio, a

polícia ficou um mês fazendo

vigilância permanente, impe­dindo que os assentados con­

sertassem seus barracos mes­

mo durante as fortes chuvas,quando muitas famílias com

crianças não tiveram onde fi-.car.

A propriedade onde as

famílias se encontram é de

Seu Sebastião Gonçalves e seus

sete filhos correm o risco de a qual­quer momento serem despejados, Se­bastião é agricultor e veio de Lagespara Florianópolis em busca de vidamelhor. Que vida a deste Sebastião

Ele . trabalhou durante dois anos

e meio numa fazenda em Lages, cui­dando do gado e plantando, Ganhavao equivalente a l mil cruzados hoje.Mas Sebastião não podiaaiar galinhas,pois a esposa do patrão disse queatrapalhavam as suas. Ele acabou colo­eando sua ãníca galinha na panela.

"Eu plantei uma roça de um al­

queire e pouco lavrado, da terça parteeu ia ganhar uma, mas quando chegouna colheita ele vendeu ·tudo· e nãome deu nada".

JUSTIÇA Q�ANDO?

Norma Giácomo, que diz queos assentados poderiam conti­nuar no local, se não fossemas constantes reclamações quevem recebendo dos moradoresda área nobre residencial quefica proxima aos casebres.•Norma Giãcomo entrou com i

urn processo de despejo na

justiça.A Comissão do Solo Ur­

bano (movimento popular) e

o Caprom (Centro de Apoioe Promoção do Migrante), aosaberem da precária situaçãoem que se encontram as famí­

lias, começaram a organizar opessoal, a partir da conscíen­

tização sobre seus direitos bá­

sicos, como a moradia. Atual":mente estão localizando um

terreno para começarem a

pressionar a AdministraçãoMunicipal.

A prefeitura vem segui-

Mas seu Sebastião não desistiu,o patrão prometeu que ao completardois anos e meio de trabalho, irialhe dar uma casa prontinha, não iria

precisar colocar um prego do seu bol­so. Mas quandó completou o tempo,o dono da fazenda negou a casá.

"Quando eu quis ir embora, fuicobrar meti salmo, ele disse que tinhaque fazer a conta na ponta do lápis.Daí cobrou o leite que eu gastava,·sabão que eu fazia, lenha que eu usava

e ·00 final me sobrou onze contos,·que não deu nem pra; passagem".

"Eu resolvi vir pra cidade, na

casa do meu irmão. Comecei a procu­rar emprego em tudo que era fazenda.Conversei com o Dr. Vilson, desem-

damente prometendo para 16das famílias (estas estão sobre

o terreno de D. Norma, as ou­tras 17 famflias estão em ter-

bargador, ele tem 15 milhões de terra,s6 terra boa, ele aceitou um' acordode cinco meses".

"Mas é muito diffcil se manter

o 1: ano sozinho; eu pedi ajuda, mas

o dono do terreno não quis ajudar.Eu tive que deixar tudo lá, terra plan­tada, Í1Z um açude Com pá. Mas faltouo "Borô" (dinheiro), nao podia ficarlá, minha família ia morrer de fome.O dono ficou com a plantação, comodesconto da minha conta".

"Resolvi vir pra esse lugar, aquiem Coqueiros, montei minha casa,

comprei minhas duas vacas e agoraquerem me tirar daqui, porque essa

granfínagem não quer os barracos na

frente da casa deles. Pra onde eu

levo a minha família agora?".

renas do DNER e da Celesc),seu assentamento em outra

área, mas até o momento nãoexiste nada de concreto. Ou­tro órgão envolvido é o Mirad(Ministério da Reforma e De­senvolvimento Agrário), quese interessou ao saber que al­

gumas famílias-tinham vonta­

de de trabalhar no campo.Foi somente há uma se­

mana que se conseguiu fazerurn acordo com dois advoga­dos da proprietária do terreno

e com o juiz, para garantir a

permanência dos moradores

por 120 dias. Enquanto isso,a Prefeitura, o Mirad e a Co­hab tentam chegar a urna "so­lução". As famílias, se forem

despejadás, não têm para ondeir.

Sabrina Franzoni

Suborno paga conta de jantar

Sebastião: "Pra onde levo minha família?"

O que você faria se recebesse

de UD!ll pessoa, um envelope contendo

10 mil cruzados, sabendo que este

dinheiro estava sendo utilizado parasubom&-la? Gastaria? Rasgaria? De­

vo�? Se quiser uma sugestão, a

Associaçio de clubes da Primeira Di­

visão pode lhe dar. a isso mesmo.

Essa entidade, ao saber da tentativa

de suborno que o 4rbitro Antônio.Rogério os6rio, sofrera do funcio­

nmo do Brusque, Nilo Debrassi, se

reuniu para debater o assunto. Ap6sdiscutir o caso, foi realizado um jantarde confraternização, onde a conta foi

,paga com os 10 mil cruzados do supos­to suborno.

O jogo realizado na cidade de

Brusque, entre o time da casa e o

Avar, vilidÕ pela dltima rodada do

returno da Taça Salim Mussi Miguel,teve um fato lamentável: tentativa de

suborno. O resultado do jogo interes­

-Sava diretamente ao Brusque, que luta­va com o Figueirense, por uma vaga

no Hexagonal FinaI do campeonatocatarinense.

O supervisor do Brusque foi acu­sado pelo m-bitro da partida de tentar

subornã-lo, Antônio Rogério disse queNilo Debrassí fez a tentativa the oba-

I

mando na entrada do estãdío, Não

houve acordo e o dirigente do Brusquedeixou no vestimio, um pacote de

toalhas contendo um envelope com

10 mil cruzados.

Ap6s o jogo, o dinheiro foi en­

tregue ao presidente da FCF (Federa­ção Catarinense de Futebol), Delfimde Pãdua Peixoto. Curiosamente, s6

18 dias mais tarde é que a FCF levou

o assunto a püblico, Segundo Delfim,"a Federação não divulgou anterior­

mente o caso' porque julgou-se mais.

adequado aguardar a volta de Ciro

Roza". O presidente do Brusque estava

�no Mato Grosso, e s6 retornou no

dia 17 de maio.

No dia seguinte, a ASSociaçãode Clubes se reuniu e decidiu sugerirao Brusque o afastamento do dirigenteNilo Debrassi do cargo de supervisor,caso se confirme a tentativa de subor­

no. Este funcionãríc j� esteve envolvi­

do em episódio semelhante, anos atrás,em Tubarão.

Entretanto, Nilo Debrassi conti­

nua trabalhando normalmente nOBrus­que, contrariando a sugestão da Asso­

ciação de clubes que decidiu encerrar

o caso com o seu afastamento do fute­

bol. Segundo Debrassí, "estranho não

é o m-bitro acusar de suborno, mas

sim falar que isso teria ocorrido dois

dias depois, e não anotar nada na

sâmula", Debrassi resolveu, então,convocar uma nova reunião da Asso­

ciação de clubes para apurar a verdade

dos fatos. "Cometeram uma grandeinjustiça contra mim e eu vou reverter

esta situação", desabafou o dirigente".

ORIGENS

A demora da Federação de levar.

o C3l!O a pãblíco - 18 dias mais tarde- dificultou a ação do Figueirensede parar o campeonato, por se sentir

prejudicado. No dia 20 de maio, a

direção do clube da capital entrou

com dois requerimentos junto à FCF,como providência de ordem cautelar.

Um foi destinado ao TJD (Tribunalde Justiça Desportiva) solicitando que

seja esclarecido o caso e que o Brus­

que seja excluído, dando ao Figuei­rense" como terceiro interessado no

processo, o direito de participar do

Hexagonal Final.,

A tentativa do Figueirense foi

em vão. Segundo Delfim, "o clube

da capital tem todo direito de sabel'

a verdade do caso, mas não tirar a

. vaga de ninguéin". Além disso, o

Brusque alega que a atitude de tentar

subornar o juiz partiu de um funcio­�mo e não de um diretor", Baseadonestes fundamentos, o Figueirense so­

freu vlfrias derrotas nos tribunais, e

o campeonato segue com a partící­pação do Brusque.

O julgamento de Nilo Debrassitent sua .primeira sessão nos próximosdias. Mais uma vez o futebol catari­

'nense estã envolvido nos tribunais,Parece que esta voltando às suas ori­

gens.

Rafael Masseli

Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

Page 9: REFORMA Antes sem-terra, - hemeroteca.ciasc.sc.gov.brhemeroteca.ciasc.sc.gov.br/zero/zerojornais/ZERO1988MAI.pdf · Ivan Santos, Rute En ... ter quando perguntada sobre a "invasão"

CADERNO Z ESPECIAL

A geração que disse nãorias: homossexuaís, negros (MartinLuther King, líder negro norte-ame­

rlcano, foi assassinado em quatro de

abril de 68 e sua morte provocouuma onda de violência racial em todo

os Estados Unidos), judeus, gritavam"amor'Scom tanta energia quanto ou­

tros na Hist6ria gritaram "ôdio",Entre 67 e 69 o consumo do

LSD (Diatilamida de Ácido Lisérgico)quadruplicou. Afinal, viajar de ãcídoera uma maneira de sair da real, por­tanto rejeitar o sistema, cair fora, emoposição ao cenãrio repressivo da épo-

'

\

qt.

mismo - provocava a miséria de uma

grande maioria desencadeando violên­cia e guerra. Suas famílias burguesas

.

e moralistas se tornavam frustrados(Freud talvez diria que eles agiamsob a influência do instinto de morte- destruir para destruir-se), e esse senti­

meato de frustração os inclinava àviolência.

Na verdade esses estudantes esta­

vam influenciados pelo movimento

hippieque jã tinha ganhado o mando,Se nem todos os jovens dessa épocaeram hippies; pelo menos viviam de

alguma forma o "hippie-way-of-life".Acreditavam no "faça amor, não façaguerra" e fumavam seus baseados escu­tando o som de seus ídolos: Beatles,Rolling' Stones, Janis Joplin, Jimmy !!)Hendrix, Bob Dylan, Joan Baez, Raul ....

Seixas, Os Baianos, os Mutantes.....

O...O'"

Ao imobilismo,a todas as

formas de poderOs muros de Berkeley deram o

recado ao mundos "Não se pode con­

fiar em ninguém com mais de trinta

anos". O governo da Bélgica fechavaa maior universidade cat6lica do mun­

do•. 0 dia 22 de março era o marco

de que a revolta estudantil se iniciarana França com a invasão da Universi­dade de Nanterre.

O auge dessa revolução foi maiode 68. No dia seis, em Paris, dez

mil estudantes. protestaram contra o

fechamento da Sorbonne, E no seguin­te, já eram vinte mil em choque com.a polícia; Dez milhões de trabalha­

dores franceses cruzaram seus braçosem solídarledade a eles.

Por todo os Estados Unidos, Eu­ropa (inclusive a Tchecoslovãquia),Brasil e demais países da América

Latina, estudantes saíam às ruas em

_ passeatas de protesto, invadiam reito­rias, quebravam mesas; e, até mesmo,

caíam no pau com professores.A revolução de 68 foi um dos

mais importantes acontecimentos con­

temporâneos, Estudantes de classe mé-

Alguns psícõlogos diziàm que o

hippie era uma criança em busca de

identidade, e que tinha medo de ser

posto à. prova no trabalho, na socieda-.

de, por isso preferia viver à margemdela, não participar da Hist6ria, viverapenas o momento.

Em 1988, o ex-hippies j;t estãocom mais de trinta anos. (Sed quese pode confiar neles?) Alguns acaba­

ram sendo engolidos pelo esquema,casaram, têm filhos e são capítalistas,Outros continuam lutando de algumaforma por seus ideais e participamde movimentos de preservação da na­

tureza, protestam contra armas e usinas

nucleares, acham que o terceiro mundo

tem que se libertar do imperialismoda Trilateral, e esperam a Era de

Aquãrío, Outros decidiram se isolardo mundo, da sociedade e foram viver

de uma forma alternativa.

Os jovens dos anos sessenta eram

o oposto da turma d�s cinqüenta -

que buscavam o prazer pelo consumo

'desenfreado. Os jovens dos sessenta

foram educados na sociedade do "ter",.

onde' o "ser" significava pouco. Porisso que alguns tornaram-se hippiese buscaram uma forma alternativa de

viver. Fundaram comunidades e mani­festavam seu repúdio contra a guerra- garotos norte-americanos juraramnão servir no Vietnã, outros queima­vam suas cédulas de convocação e

fugiam para o Canadá.Cbm roupasexõticasvos hippie!l,

mostraram o "power-flower". A IDa-.

neira de se vestirem era suá lingua­.gem, Apenas sua Presença j;t mostravaque não estavam de acordo com o

mundo. Sentados indiferentes pelas

Avida estancou de repente, ou foi omundo que-cresceu\

.

\ -

i

Até vir o pacifismo, muita pedra rolou

ruas, às vezes pediam uma mordida

do sanduíche de quem passava, outras. davam um beijo, um abraço. O sloganera: "Beije, não mate". Havia outros:

_"Jesus .era um beatnik", "Deus estã

consumir, na verdade, uma sublimaçãodo' prazer, segundo a psícanãlíse freu­

diana.A revolução sexual, iniciada pé­

las feministas que queimaram seus su­

tiãs em praça pública, pelos casais

nus em Woodstock, e a paula anticon­

cepcional, atingia seu auge. O casa­

mento estava falido, era careta tam­

bém, Legal, era ninguém ser de nin­

guém, transar com quem estivesse a

Inn. E isso contínuou valendo até bem

morto".

Eles dançavam de maneira estra­

Dha ("Hair", a peça estreou, na Broad­

way em 30 de abril de 68), faziamdia e alta, na maioria, estavam desgos- os "love-in", festas com a comunídade,

Buscavam a liberdade total, inclusivetosos com o ensino arcaico; professo­res autorítãrios; dogmas não questiona­dos, A sociedade industrial - levava

Mas, e o sonho acabou?do prazer

_amoroso, do prazer do cor­

po. Xô à repressão, que era coisados pais preocupados com o produzir-

pouc9 tempo. Com o aparecimentoda'Aids a liberação sexual retrocedeu.­

Os hippies defendiam as mino"

Ivan Santosalguns ao aburguesamento e consu-

Janeiro }- Montand, no Cine Alasca, no Rio,sob protesto da Associação Brasileirade Cinemas de Arte.

Tchecoslovãquía suicida-se em Praga.18 A primeira bomba do ano explodeno prédio do consulado dos EUAem São Paulo.21 Alunos da Faculdade de Filosofiada uss e da Fundação Getúlio Var­gas (SP), em greve por mais vagasnas escolas, invadem a sala da Congre­gação da USP, quebram mesas e tro­cam socos com professores.22 Invasão da Universidade de Nan­terre, na periferÍa de Paris, marca

o início da revolta estudantil na Fran-ça. r

24 O Conselho de Segurança' daONU condena os ataques de Israelà Jor<IfuJia.'

-.

28 No choque entre estudantes e-aPM carioca durante protesto contrao fechamento do restaurante uníversi­tãrío do Calabouço, no Rio, é baIeadoe morto o estudante secundaristaÉd­son Luís de Lima Souto, de 16 anos.30 Em protesto contra a morte de '

Édson Luís, ocorrem manifestações es­

tudantis em vãríos Estados, as. maisviolentas, com enfrentamento e cho­ques violentos em São Paulo, Rio"Salvador, Belo Horizonte e Porto Ale-gre. '

A Assembléia Nacional tchecaelege o general Ludvik Svoboda paraa Presidência,

A poltcia alemã dissolve pas­seata de 4 mil estudantes em P,er­lim Ocidental.23 Estudantes ocupam a Universi­dade de Columbia, em Nova York.29 A Universidade Federal de Mi­nas Gerais' é fechada. A PoltciaMilitar invade o campus da Uni­versidade de Brasflia..(U.nB), espan­ca estudantes. Congressistas pro­testam.30 Estréia na Broadway o musical"Hair".

Morre em São' Paulo, aos 76anos, o empresário Francisco de AssisChateaubriand Bandeira de Mello, ouAssis Chateaubriand, propríetãrío dos"Díãrios Associados", um império decomunicações que reunia. 32 jornais,18 estações de TV, 24 estações derádio, quatro revistas e uma agênciade notícias.

5 Conflitos raCIaIS em Washing­ton,'Nova York, Boston e F16rida.

No Brasfl; O ministro da Justí- ,

ça, Luiz Antônio da Gama e Silva,baixa a portaria 177, proibindo,sob pena de prisão, qualquer mani­festação da Frente Ampla sob aforma de comícios, reuniões e pas­seatas.

Choques entre manifestantes e

policiais IJa saída da missa pelamorte de Edson Luis, no Rio.

Três mil estudantes e operã­rios realizam passeatas de protes­to contra a proscrição da FrenteAmpla em Santo André, no ABCpaulista.7.Baltimore é ocupada por tropasfederais apôs conflitos raciais.8 O novo pr ímeiro-ministro daTchecoslovâqu ia, Oldrick Cermik,anuncia a formação de seu gabi-nete.

-

9 Chega a 37 o número de mortosem conflitos raciais nos EUA des­de a morte de Luther I\i'ng, com1.500 feridos, 10 mil prisões e 62cidades em estado de emergênciaem dez Estados.

..0 Ministério de Justiça liberapara maiores de 21 anos a peça"Cordélia Brasil", de Antônio Bí­var, depois de cortar 6 dos 43palavrões do texto e suprimir uma

cena (em que uma prostituta lêuma bula de barbitúrico).14 O primeiro-rninistro francês,Georges Pompidou, anuncia que os

presos politicos serão anistiados. /

.

5 Antonin Novotny é substituído !!ªSecretaria Geral do PC da Tchecoslo­

�Ula por Alexander Dubcek,

10 O governo espanhol fecha a Facul­dade- de Ciências Econômicas da Uni­versidade de Madri para conter mani­festações . estudantis contrârías ao regi-me franquista. <,

15 Um- comando norte-vietnamitabombardeia a base aérea norte-ameri­cana de Da Nang, no Vietuã do Sul,destruindo aviões, horas depois de os

EUA anuaciarem a disposição de nãorespeitar a trégua de 36 horas previstaspara a entrada do ano novo lunarTet.

16 Estréia no Teatro Princesa Isabel,no Rio, a peça "Roda Víva", de ChicoBuarque de Hollanda, com direção deJosé Celso Martinez Corrêa.

17 No palco .do Teatro Record, emSão Paulo, Roberto Carlos apresenta,o último programa "Jovem Guarda",que existia desde setembro de 1965e vinha perdendo audiência progres­sivamente.

18 Portaria .do ministro do Trabalho,Jarbas Passarinho, determina que ne­

nhum sindicato de traballiadores pode­rá receber empréstimo ou auxílio fi­nanceiro do exterior sem autorizaçãoespecial do Ministério do Trabalho,

19 Relatório oficial norte-americanofixa em 120 mil as baixas dos EUAdesde o início da Guerra do Vietnã.

I. 20 O governo da Bélgica fecha a

maior universidade católica do mundo,Louvain, apôs uma semana de confli­tos com os estudantes;'-

22 A Censura Federal proíbe sessão

eseecial do filme "Adorável Pecado-.

ra • com Marilyn Monroe e Yves

Fevereiro

1: Forças do Vietnã invadem provín­cías do Vietnã do Sul no delta dono MeKong, infiltram-se em Saigone instalam em Hué um governo revo­

lucíonãrío,11 Greve de protesto contra a Censuraparalisa os teatros do Rio de Janeiro.12 Lançado nos Estaos Unidos o livro"Soul on Ice" do "pantera negra" El-dridge Cleaver. .

14 A Universidade de São Domingosé cercada por tropas do Exército apôsprotestos estudantis.15 A primeira passeata estudantil de1968 no Rio de Janeiro, por melhorescondições de ensino, reúne menos decinqüenta participantes.17 O Vietnã .ínicía violenta ofensivacontra Saigon e outras 21 cidades sul­vietnamitas,24 Tropas norte-americanas e sul-viet­namitas retomam a provfncía de Hué,ap6s violentos combates com as forçasnorte-vietnamitas.28 Nova passeata estudantil no Riode Janeiro reúne mais de 500 parti­cipantes.

Maio1 : CGT e estudantes enfrentam-senas ruas de Paris durante passeatado Dia do Trabalho.3 Governo francês fecha a Sorbo­une.6 Em Paris, dez 'mil estudantesprotestam nas ruas contra o fecha­mento da Sorbonne; nos choquescom policiais, mais de cem pessoasficam feridas.7 Estudantes realizam comícios re­lâmpago em vârías âreas do centrodó Rio de Janeiro, enquanto a PMocupa a Cinelând ia,

.

Em Paris, vinte mil manifes­tantes entram em choque com a

polícia durante cerca de cinco ho­ras; sete policiais são feridos eo prédio do jornal "Le Figaro"é apedrejado. _

8 Dez mil estudantes iniciam a

"reconquista pacifica" da Sorbo­nne.9 O ministro da Educação da Fran­ça; Alan Peyref'itte," anuncia quea Sorbonne permanecerâ fechada.10 "Noite das Barrtcadas'Yvintemil estudantes enfrentam a policiaem manifestações em Paris, 367são feridos e 468 são presos.11 O presidente Charles De Gaulleanuncia a reabertura da Sorbonne,

Abrll

t Março 1: Durante todo o dia, são registradosvãrios choques entre estudantes e poli­ciais no Rio de Janeiro. As 20h, o

Comando da PM pede ajuda de tropasfederais, alegando ao governador Ne­grão de Lima que não detém maiso controle sobre a cidade. ,

4' O líder negro Martin Luther KingJr. é assassinado com um tiro no pes­coço em Memphis, no Estado do Te­nnesse, A violência racial explode em

vãrías cidades dos EUA.

1: Israel anexa a Cisjordânia, área:conquistada à Jordânia durante a

"Guerra dos Seis Dias" em junho de1967.Choques entre policiais e estudantesem Roma e. outras cidades italianas.8 Estudantes entram em choque com

a polícia em Varsóvia e outras cidadesda Polônia. '

'14 O vice-ministro da Defesa. da

Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

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68-88

Em68,estudantes era vanguarda\

e representatividade do movimento de-formando as entidades estudantis e

transformando-se em meros apêndicesdo Ministério da Educação.

No entanto, os estudantes se or­

ganizaram e -fizeram ressurgir novas

chamas de rebeldia conseguindo revo­

gar a lei. Suplicy de Lacerda declara:'''0 que aéonteceu em alguns casos iso­lados foi a vit6ria de minorias ativistasdemocratas".

INfERVENÇÃOAMERICANA

Apesar da ideologia americana jáestar embrionária em 1947, "o quenão se mantinha pelas armas manter­

se-ia pela persuasão e pela ideologiaresultante da educação", parece se con­

solidar com os acordos feitos' entreMEC e USAID, que vai policiar as

universidades do Brasil. Em parte, es-. ses acordos resultaram do golpe militar".

de 64 que assumiu responsabilidadedireta, te6rica e prática do sistemaeducacional brasileiro, dispondo de

um país cobaia para seus experimen­tos.

Em caráter sigiloso. foram assina­dos os acordos que institucionalizaram

a intervenção norte-americana no ensi­no brasileiro. O mais famoso delesfoi o anteprojeto de "Concentração.da política norte-americana na Améri­ca "Latina na organização universitáriae sua integração econômica", recomen­dando como deveria se processar a

interferência: "desenvolver uma filo­

sofia educacional para. o conti­

nente (•••), a transformação da univer­sidade estatal numa fundação privada(•••), eliminação da interfer�ncia' estu­dantil na admínlstração, tanto colegia­da como gremial (�••), colocação doensino superior em bases rentáveis,cobrando matrículas crescentes durante

E foram presos,mortos. Masveio a desuníão

Um dos maiores instrumentos de

lutas políticas e reivindicat6rias no

período de forte repressão do país, "­

foi o movimento estudaatíl, A UniãoNacional dos Estudantes, criada em

1937, abraçou as questões específicasde ensino, além da defesa da democra­cia e dos direitos humanos, com moti­

vações políticas explícitas lutando con­

tra a ditadura.A verdade é que as elites conser­

vadoras empenhadas na agitação deum golpe de Estado, não vacilaramem apontar a UNE como uma dassete cabeças do "dragão comunista"no país. Em abril de 64, a repressãofoi suficiente para paralisar por algumtempo a luta dos estudantes. Em 1968o mundo experimenta uma avalanchede manifestações estudantis que atin­

giu cidades distantes quanto Paris,México ou Praga. No Brasil, o movi­mento retoma impulso e toma' a van­guarda nas mobilizações de protestoe manifestações de descontentamentosocial frente ao governo.

Já em 65 os estudantes consegui­ram através de um plebiscito repudiarenergicamente um decreto baixado pe­lo ministro da Educação, Flávio Suplí­cy de Lacerda, tentando extinguir a

UNE e substituí-la por um Diret6rioNaciona1 de Estudantes, atrelado às au­toridades do regime, Em de 9 de no­

vembro de 65, Castelo Branco institu­

cionalizou a Lei Suplicy Lacerda, vi­sando acabar com a participação polítí­ca dos estudantes, destruir a autonomia

um período de 10 anos ..•••"

L porar vai .�••

Nas passeatas, as reivindicaçõesespecfficas da área de ensino, como

a defesa da UNE, do ensino gratuito,da autonomia universitária, da não

vinculação da Universidade a 6rgãosnorte-americanos, se misturaram com

denúncias polftícas de ordem geral.O movimento funcionou como um

porta-voz do descontentamento da so­

ciedade frente ao regime militar.MORTE PARA:ESTUDANfES

Enquanto escolas se agitavamcom o problema das verbas, em algu­mas manifestações localizadas da re­

pressão, no início um fato no Rio. viria mudar qualitativamente o caráterdas mobilizações e do pr6prio movi­

mento estudantil, -com grandes repres­sões na vida política brasileira, No

dia 28 de março de 68, foi morto

no Rio, o estudante secundarista Ed­

son Luís Lima Souto, de 16 anos,

pela polfcia, que reprimiu com violên­

cia uma manifestação pacífica em defe­

sa do restaurante universitário "Cala­

bouço", em vias de ser fechado. O

corpo de Edson foi carregado peloscolegas até a Assembléia Legislativa,na .Cinelândia, e todas as tentativas

da polícia e das autoridades para tomá­

lo dos estudantes foram inúteis.

na temperatura, tendo o Rio como

centro nervoso.

. DISS,OLUÇÃO DA UNEOs incidentes da "sexta-feira san­

grenta" de protesto em todo o país,foram marcados por choques, com re­

pressão policial se repetindo em todos

os Estados. No dia 25 de junho, noRio, uma passeata reuniu cem mil pes­soas, que protestavam contra o brutalassassinato de Edson Luís e repudiara política econômica imposta desde64 e as inúmeras medidas restritivas

da liberdade de manifestação. A situa­

ção se agravava marcando que se esgo­tavam as possibilidades de conquistara democracia por meios pacíficos, Estaargumentação começa a tomar força.Grupos se lançaram na luta armada

que recrutou seus militantes especial­mente no-meio tmíversitãrió, A UNE·

chegou a um ponto crítico, no períodoanterior ao congresso de 68, com vá­rias organizações e tendências dentro

do movimento estudantil somando cer­ca de 43 grupos ou organizações di­

ferentes.

hum local como a CRUSP é apenasum dos aspectos da questão. Apesardisso, o movimento estudantil aindateve ânimo e força para se recompor:um conselho da UNE foi realizado

em São Paulo em novembro, optandopela realização de reuniões estudantis

para cumprir a eleição da nova dire­toria'.

, Com a publicação do Ato Institu­cional n: 5, em 13 de dezembro de

1968, a radicalização do quadro políti­co se acelera. A ditadura se impõe.De 1969 em diante, se registra desarti­

culação e uma nítida regressão nas

manifestações estudantis, em beneffciodo crescimento das ações clandestinas

e das operações armadas. O movi­mento estudantil s6 vai sair desse tor­

por que viveu' no perfodo Médio de­

pois de 74.,

No rastro desses anos de repres­são; muitos estudantes foram presos,torturados e mortos pelos õrgãos de

repressão. Um deles, Honestino Mon­

teiro Guimarães, último presidente da

UNE, antes de sua desarticulação em

76, foi preso e continua desaparecido.Vladimir Palmeira, presidente da

extinta União Metropolitana dos Estu­

dantes, preso durante 46 dias, no Rio,em 1968,·considera o movimento estu­

dantil incapaz de derrubar o poder."O movimento estudantil vai estudan­do e vai vendo que os grandes proble­mas da Universidade estão ligados àestrutura social. Então sabe que a Uni­vesidade pela qual luta - gratuita, pú­blica, livre, democrática - s6 'podeser conseguida em outro sistema".

DISSOLUÇÃONovas diferenças iriam aparecer

nas discussões sobre a forma de se

realizar o trigésimo �ongres� daUNE. No dia 11 de outubro em Ibiú­

na, São Paulo, onde estavam reunidos700 estudantes, o congresso foi abertofaltando ainda muita gente, inclusiveLuiz Travassos, presidente da UNE.

Quase 800 estudantes foram detidose levados numa.longa viagem de voltaà São Paulo em ônibus fretado pelarepressão para o Presídio Tiradentes.

Mils o erro político de se tentarrealizar clandestinamente um congres­so de entidades e massa, quando haviaainda condições concretas de f�lo

Em todo o país o movimento estu­

dantil lutava. Durante uma semana os

estudantes ganharam as ruas e foram

violentamente reprimidos. Em Goiás, a

polícia abriu fogo contra os estudantes

que se protegiam na catedral de Goiâ­

nia, ferindo três. Grandes passeatasem Belo Horizonte, São Paulo e no'

Nordeste, com muitas prisões e feri­

dos. Em junho o ambiente subiriaMarílaíne Sulzbach

A gente quer ter voz .atíva e no nosso destino mandaralém do Teatro Odeon, a Óperade Paris e a Ópera Cômica.22 Aprovada no Brasil a lei quepermite o enquadramento de meno­

res de 18 anos na Lei de SegurançaNacional.

Jâ são 8 milhões os trabalha­dores em greve em toda a França.As "três maiores centrais sindicaisfrancesas CGT, comunista,CFDT, cristã, e FO, socialista -

propõem imediata abertura de ne­gociações com o governo.

90 Ilder estudantil DanielCohn-Bendít, de nacionalidade ale­

mã, é impedido de retornar à Fran­

ça apôs uma curta viagem à Bélgi­ca e Holanda.

Em Nova York, choques entre

policiais e estudantes' que tentam

reocupar a Universidade de Co­lúmbia deixam saldo de 60 feridos.

. 23 No Quartier Latin, em Paris....seis mil' estudantes entram em cho­

que com a polfcia,:24 Intensa luta entre policiais e

estudantes no Quartier Latin. A

polfcia dispersa manifestação de20 mil pessoas na praça da Basti­lha. Estudantes e operârios (estesdesobedecendo determinação da

CGT), espalham-se pela cidade.Um grupo estimado em sete milmanifestantes invade e incendeiaa Bolsa de Valores de ParisoComosaldo, dois mortos e mil feridos.25 O primeiro-ministro GeorgesPompidou inicia negociações com

as centrais sindicais francesas. Jâsão mais de dez milhões os traba­lhadores em greve em todo o pats.28 Daniel Cohn-Bendít entra clan­destinamente na França e reapare­ce discursando em Sorbonne.

O ministro da Educação da

França, Alan Peyrefitte, renunciaao. cargo, que passa a ser acumu­

lado pelo primeiro-ministro. Geor­ges Pompidou.

Em Nova York, o artista plâs- .

tico Andy Warhol, uma das maisimportantes estrelas 'da arte pop,é baleado pela atriz Valerie- Sola­nis, que trabalhou em vârios deseus filmes.

O governo brasileiro classífí­ca como "âreas de segurança na­cional" 68 municípios que deixa­rão de ter eleições diretas paraprefeitura.5 Candidato à Presidência dosEUA pelo Partido Democrata, o

senador Robert Kennedy é baleadodurante uma festa do Hotel Ambas­sador, em Los Angeles, onde come­morava a vit6ria nas eleições pri­mâr ias de Dakota do Sul e Calif6r­nia. Morre 25 horas depois.11 Polícia francesa tenta retomara Sorbonne, Os estudantes mantêmocupação em sete outras escolas,12 Estudantes alemães entram em

greve, Ocorrem enfrentamentos en­tre policiais e estudantes na Ar­gentina, Uruguai e Colômb ia,

O governo francês dissolve 11organizações estudantis e profbemanifestações de rua durante a

campanha eleitoral. _

Estudantes decretam greve ge-nil na Argentina.

-

16 Polfcia retorna a Sobornne, naFrança.18 Manifestações estudantis no

México, Chile, Turquia, Venezue­la, Equador e Espanha,19 A "Marcha dos Pobres" sobreWashington retine cem mil pes­soas, lideradas pela víãva de Mat­tin Luther King, Coretta.24 A policia de Washington fechaa "Cidade da Rer.surreição", acam­pamento organizado pelos Iíderesda "Marcha dos Pobres"; o prefei­to da cidade é o jovem reverendoJesse Jackson, de 26 anos.26 A "Passeata dos Cem Mil" reã­ne milhares de pessoas nas ruas

centrais do Rio de Janeiro.

29 O cineasta franco-sufço Jean­Luc Godard filma as barricadasno Quartier Latin, em Paris, ap6sa interrupção 'do 'Festival de Ca­nnes de 1968; à noite participacom Louis Aragon e Elsa Trioletda passeata de trabalhadores or­

ganzada pela CCG pelas ruas deParis.

Enquanto o presidente Char­les De Gaulle reúne-se com seu

gabinete sob a ameaça de renun-i

ciar, uma manifestação convocadapela CGT retine 200 mil pessoaspelas ruas de Paris, entre estudan­tes, trabalhadores, intelectuais e

73 deputados comunistas. Durantehoras os manifestantes dão"adeus" a De Gaulle.30 De Gaulle dissolve o Parlamen-

-

to francês com o apoio do'Exérci­to e convoca eleições gerais.31 Centenas de milhares de traba­lhadores começam a retornar ao

trabalho.

VA CGT francesa,' que reúnecerca de 10 milhões de trabalha­dores, anuncia greve geral de 24horas em solidariedade 'aos estu­dantes.

12 Em Curitiba (PR), choque decinco horas entre 500 uníveraítã­rios e cerca de 1.300 soldados daPM paranaense.13 No décimo aníversârío da voltade De Gaulle ao poder, meio mi­lhão de trabalhadores e estudantesfranceses desfilam pelas ruas deParis, durante nove horas, cantan­do "A Internacional" e agitandobandeiras da guerrilha vietcong.

Estudantes franceses ocupamtodas as universidades. Greve ge-ral de 24 horas, ,

14 Dois mil estudantes invademe depredam a reitoria na Universi­dade Federal, do Paranâ, em Cu­ritiba.

Estudantes interrompem uma

apresentação no Teatro Nacionalda Odeon, em Paris, dirigido peloator Jean Louis Barrault, e decla­ram-no "fechado ao pãblico bur­

guês".15 Em São Paulo, estudantes daUSP invadem e ocupam o Bloco

C, inacabado, do Conjunto Resi­dencial da Universidade, ,CRUSP.

Em Nantes, dois mil operâriosda Sud Aviation, estatal, ocupama fãbrica e mantêm presos seus

diretores.Três milhões de trabalhadores

entràm em greve no Reino Unido.16 O governo espanhol fecha a

Faculdade de Filosofia e Letrasde Madri, ap6s manífestações estu­

dantis.17.500 operâríos entram em

greve nas fâbricas francesas da Re­nault" em' Le Mans, Flins, Creone Havre, ocupando as unidades e

mantendo presos seus diretores.Centenas de! estudantes de i-

xam a Sorbonne em direção a

Billancourt, subúrbio parisiense,para prestar solidariedade' aosoperãr íos grevistas da Renault.

Greve-surpresa deixa Parissem jornais.17 Greves afetam a operação doAeroporto de Orly e da Râdio e

Televisão da França. 60 mil' poli­ciais fortemente armados vigiamas ruas de Paris.

18 JIi são 50 as fâbricas ocupadaspor grevistas em toda a França.

Um grupo de diretores, ato­

res, técnicos e produtores de cine­ma invade a sala de projeção doFestival de Cannes,. obrigando a

direção a suspender a mostra e

transformã-la em local de comício'permanente de apoio ao movimen­to estudantil e operâr io, O cineas­ta franco-suíço Jean-Luc Godardlidera o protesto, subindo na cor­

tina que protege a tela para impe­dir que seja aberta, e é esmurradopor espectadores contrâríos à·sus-·pensão da mostra. Os cineastasLouis Malle, François Truffaut,Roman Polanski, Alain Resnais e

Milos Formam retiram seus filmesda competição oficial.

Violentos choques entre estu­dantes de esquerda e direita na

Universidade de Pránkfurt, Alema­nha Ocidental.

Em Berkeley, Calif6rnia, 866uuíversítârios prestam juramentosolene de não servir o Exércitodos EUA enquanto durar a Guerrado Vietnã.20 Paris amanhece sem serviçosde metrô, ônibus, tâxís, telefones,correios, pão e jornais.

Hâ racionamento de gasolinae de gêneros de primeira neces­

sidade.Seis milhões de trabalhadores

ocupam 300 fâbricas em toda a

França. Os estudantes.ocupam,

Depois de ocupar a CidadeUnivers ítâr ia de Roma, milharesde estudantes italianos marchamaté o Palãcío . Parnese, sede daapresentação diplomâtica da Fran­ça, em solidariedade aos estudao­tes franceses. À noite, erguem bar­ricadas, viram e encendeiam car­

ros.Policia espanhola reprime

violentamente estudantes e operã­rios que tentavam ocupar a Uníver­sidade de Madri.

Junho1: 'Ferroviârfos é servidores püblí­cos voltam ao trabalho na França.Mantêm-se em greve os setores me­

talúrgicos, siderúrgico, de minera­ção e indústria automobtlística,4 Estudantes entram em greve ge­ral no Rio e em Florian6polis (SC).

Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

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68·88 '"""""II

Homem pisou na Lua. E .daí?

Monge budista se imola contra a guerra

Os efeitos do napolns contra civis vietnamitas- �

Fumar maconha? Hámuito tempo isso deixou deser um forte símbolo de con­

testação. Fazer viagens com

LSD já saiu de moda; a ondaagora é cheirar cocaína. Amorlivre? É visto com temor,de­pois que pintou a AIDS. Comisso, o hábito da monogamiadeixou de ser careta, transfor­mando-se em um inteligenterecurso de sobrevivência.Sim, estamos nos anos 80,vinte.anos depois daquela dé­cada de reviravoltas.

Os jeans, as flores e os

cabelos compridos foram per­feitamente assimilados pelaindústria cultural, mastiga­dos, transformados e retrans­formados. E tudo isso rendeumuita grana. Por que comprarum jeans -novo e esperar queele desbote, se as roupas sto­ne-washesd já estão pronti­nhas na vitrina?

Os poucos remanescen­

tes hippies são hoje conside­rados por muita gente como

vagabundos que usam essebom pretexto para assumir o

fato de não fazerem nada,Aliás, boa parte dos antigoshippies já descobriu outroscaminhos de "mudar o mun­

do":. começan-do por juntar o

próprio pé-de-meia. Artesana­to virou produção em série,imprensa alternativa virouempresa, pé na estrada crioubolhas e resolveu subir em

quatro rodas, (de preferência

uma' camioneta F-1000, com

cabine dupla, ar condicionadoe toca-fitas). Viver sem lençoe sem documento nao dá maisstatus como antes - nem mes­

mo entre os próprios jovens,Mil novas tribos foram

surgindo pelo caminho.Punks, darks, skin - heads,yuppies, neo-pôs-porra-ne­nhuma ••• No meio disso tudo,um fenômeno curioso: a nos­

talgia (às vezes cuidadosa­mente escondida). dos jovensdos anos 80 por uma épocana qual não viveram. Nostal­gia estranha esta, umamisturade admiração com negação ao

psicodelismo, à geração paz &amor.

"O passado não existe,nosso presente é sem perspec­tivas, o futuro ••• não sei sevamos chegar lá". A frase, di­ta por um jovem de 20 anos,dá no que pensar. Talvez aju­de a sintetizar a crise de uma

geração que viu. o idealismodel seu país ser vencido pelosistema. Hoje, como há 20anos, o perigo nuclear aindaé constante, as guerras e a fo­me continuam matando àspencas. O homem já pisou na

lua mas "e daí?, grande mer­

da!"- LÓgico, houve avanços.

-A organização dos movimen-tos sociais tomou bastante im­pulso. Luther King foi mortoé virou feriado, mulheres cau­

saram indignação e risos ao

"queimarem sutiãs em praçaspúblicas, o pacifismo ingênuoevoluiu para formas de lutasmais elaboradas. O própriomovimento hippie- originoumodos alternativos de convi­ver com a sociedade existentesem precisar renegá-Ia, e aomesmo tempo, escapando domero consumismo robotizado.

Até hoje ainda há gentetentando interpretar com exa­

tidão o que Jolin .

Lennon quisdizer com sua famosa frase"the dream is over" (o sonhoacabou), proferida na épocaem que os Beatles se separa­ram. Entre as traduções li­vres, há: "Xii, queimou o"'�_ovo!", "Dormi de mau jeito","Ah, vira o disco ..•

"

e "Pô,gente, assim de cabelo grandenós vamos deixar os barbeirosdesempregados". Pois é; quedia é hoje mesmo? Como disseJohn Cage, "é simplesmenteirritante pensar que podería..mos estar em qualquer outrolugar. Estamos aqui, agora".Nostalgias ou futurismos àparte, seria bom começar a

perceber isso e passar a desli­

gar o videogame com mais fre­qüência. Quem sabe, talvez os

jovens dos anos 90 olhem pradécada de 80 com uma ponti­nha de inveja

Dauro Veras

"Mas eis, chega a RodaViva e carrega o destinopra ·lá"Julhon Operação de "guerra" em S�oPaulo: Dops, SNI e PF caçam o

Hder terrorista Carlos Marighella.2 O presidente Costa e Silva assinadecreto de constituição da comis­são de estudos para a reforma uni­versitliria no Brasil.S O governo Costa e Silva profbepasseatas em todo o territ6rio na­cional•.23 A URSS anuncia manobras mili­tares na fronteira com a Tchecos­lovâquia,

Agosto2 O pres idente da proscrita UniãoMetropolitana dos Estudantes(UMES) da Guanabara, VladimirPalmeira, é preso.6 Exército ocupa as ruas do Riode Janeiro e frustra bma passeataestudantil em protesto contra a

prisão de Palmeira.18 Tropas do Vietnã do Norte rea­lizam violento ataque contra trêsâãsquatro zonasniílitares do Viet­nã do Sul.20 Fim� da "Primavera de Praga":a Tchecoslovâquia é invadida portropas da URSS,�Alemanha Ociden­tal, Polônia, Húngria e Bulgâr ía,23 A URSS .obstrui pelo veto, na

ONU, a votação da resoluç_ão quecondenaria a invasão da Tchecos-Iovâquia,

.

24 A França explode no Pacíficos1!a primeira bomba de hídrogê-nw.

. ,

28 Hubert H. Humphrey é indica-

do pelo Partido Democrata como

candidato à Presidência dos EUA.•29 Policia militar ocupa a Univer­sidade de Brasília (UnB).

Setembro3 Na sessão "pínga-fogo" da Câma­ra dos Deputados, em Brasflia, o

deputado federal Mârcio MoreiraAlves (MDB daGuanabara) afirmaque as Forças Armadas estão se'transformando em "vacalhouto detorturadores" conclama a popula­ção a não comparecer às paradasmilitares de 7 de Setembro. Ime­diatamente transmitido às chefiasdas Forças Armadas, o discursoseria o estopim da ,crise que culmi­nou na edição do Ato Institucional .

n:' 5, em dezembro.'

11 As tropas do Pacto de Vars6viainiciam a retirada de Praga, ap6snegociações mantidas em Moscoupelo novo premíê tcheco, OldrickCerník, '

12 A Assembléia Nacional daTchecoslovliquia restabelece, por275 votos contra 2, a censura e

outras medidas restritivas:18 O Exército mexicano ocupa a

Universidade Nacional apôs setesemanas de agitações estudantis.26 Marcelo Caetano é o novo pri--meiro-ministro .de Portugal, em

substituição a Antônio de OljveiraSalazar. /

·Outubro3 Choque entre estudantes de es-

querda, entrincheirados na Facul­dade de Filosofia da USP, e dedireita, da Universidade Macken­zie, em São Paulo. Morre o: estu«dante José Guimarães com um tiro.6 Passeatas de protesto no' Rioe em São Paulo pela morte de JoséGuimarães. Sete baleados no Rioe um em São Paulo. •9 �O prêmio Nobel da Paz é conce­

dido ao jurista francês René Cas­sin, principal autor da Declaraçãodos Direitos do Homem, de 1948.10 Por 441 votos a zero, a Assem­bléia Nacional francesa aprovadrâsticas reformas no sistema edu­cacional do pats.12' A ,PM paulista' prende 1.240estudantes durante o clandestino30� Congresso da UNE, em Ibiúna(SP).31 Forças norte-vietnamitas bom­bardeiam Saigon.

O presidente Lindon Johnsondetermína a suspensão dos bom­bardeios aéreos, navais e de arti­lharia sobre o Vietnã do Norte.

.Novembro4 O Supremo Tribunal Federal pe­de licença à Câmara para proces­sar o depu'tado Mârcío MoreiraAlves por ofensa às Forças Arma­das como conseqüência do discur­so proferido a 3 de setembro.S O republicano Richard Nixoné eleito 37� presidente dos EUA.Os democratas mantêmmaioria no

Senado ti na Câmara,6 Em Brastílava, na Tchecoslovã­quia, milhares de estudantes parti­cipam de manifestação de protesto /

queimando bandeiras soviéticasnas ruas •

21 O governo federal cria õ Conse­lho Superior de Cultura.

O presidente Costa e Silvasanciona nova Lei de Censura parafilmes e peças teatrais.22 Chega às lojas nos EUA o "Ál­bum Branco" dos Beatles.28 A Arena substitui nove de seus

representantes na Comissão deJustiça da Câmara, contrlirios àlicença para processar Mârcío Mo-.'reira Alves, para garantir a apro­vação do pedido do Supremo Tri­bunal Federal.

Dezembro

11 A Comissão de Justiça da Câ.!mara dos Deputados aprova o pe­dido de licença para o processocontra Mlircio M. Alves, por 19votos a 12.12 Por 216 votos contra 141 edoze abstenções; o Congresso Na­cional nega o pedido- de licença,formulado pelo Supremo TribunalFederal, a pedido da Presidênciada República, para processar o

deputado Mârcio Alves.13 Costa e Silva assina o Ato Insti­tucional n: 5 (AI-5) e Ato Comple­mentar n � 38, colocando o Congres­so em recesso por tempo indeter­minado. São presas em todo o paispessoas ligadas à

OPOSi,ãO.Ou­

tras, como o deputado M reio M.Alves, buscam asilo em em aixadas.e posteriormente partem para o

exílío,Em cadeia nacional de râdío

"e televisão, às 20h30min, o minis­tro da Justiça, Luiz 'Antônio daGama e Silva, anuncia a resposta.do &overno à se.ssão do Congresso ..Nacional do dia antenor: passa

'

a vigorar por tempo indeterminadoo AI-5, que possibilita ao governo,entre outras medidas, decretar o

recesso parlamentar, intervir nos

Estados sem as limitações previs­tas na constltuíção, cassar manda­tos e suspendet direitos políticos.30 O governo brasileiro divulgaa primeira lista de cassações combase no AI-5, encabeçada por Mâr­cio Moreira Alves, Renato Archere Hermano Alves. Carlos Lacerdateve seus direitos políticos sus­

pensos.31 Em cadeia nacional de râdíoe TV,' o presidente Costa e Silvaafirma que o AI-5 era a ãníca solu­ção para combater ;a "ansiada res­tauração da aliança entre corrup­ção e subversão".

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Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

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a política de .abertura de Gorbatchev.Martin Luther King teve um sonhonos Estados Unidos e possivelmenteJesse Jackson está dando o balançodas conquistas negras ao -Iongo da

campanha eleitoral. E os corpos dosestudantes mexicanos massacrados na

cidade do México talvez sejam lem­brados discretamente, nesse momentoem que estudantes sul-coreanos se pre­param para protestar contra o governo,numa olimpíada como a de 20 anos

atrás.As comemorações dos 20 anos

de 68 atingem o Brasil num momentomuito especial de sua história. Mo­mento de desencanto, com muita genteabandonando o país, inflação galo­pante, corrupção no governo, abismoentre· políticos profissionais e o povo.Mais do que qualquer outro país, o

Brasil está sem sonhos, sem projetopara o futuro. Sonhos não são políti­cas mas podem se articular earn elas.O movimento social estã acuado ten­tando defender o poder aquisitivo dossalmos e o nível de emprego.

Os grandes e fundamentais ternaslevantados em 68 que colocavam na'ordem do dia as reformas de basee a modernização da sociedade conti­nuam de pé. Como não houve respostapoI!tica as propostas poI!ticas da épo­ca, o Brasil será obrigado a convivercom o fantasma de 68. Resta desejarque os fantasmas movam a históriamais adequadamente com um respeitoã democracia, um senso de coligaçãode forças e uma grande abertura paraos temas novos que se fortaleceram"nos anos 80.

Continuamos querendo. Só queo impacto de duas décadas nos ensinoua estreita linha por onde caminhar:nem a miopia dos políticos que inves­tem apenas no poder do Estado, nema solidão dos movimentos sociais quese recusam a usar a máquina adrninis­trativa; nem o isolamento do indivíduoque não consegue ver além dos seus

interesses imediatos, nem a íntransí­gência do trabalho coletivo que passapor cima da plenitude individual.

Não deixa de ser um programamínimo para evitar que nos encontre­

mos daqui há 20 'anos, repetindo as

mesmas coisas de sempre. Como dizo filósofo tcheco Karel Kosik a hist&ria é indispensável se quisermos querecomece sempre do zero. No Brasilas transformações sociais foram tãodiscretas que às vezes temos essa ilu-

'

são de que nada mudou. Em 68, porexemplo, o movimento estudantil no

Rio e São Paulo pressionava o gover­no e o movimento operário realizavaas greves de Osasco (SP) e Contagem(MG). A espinha dorsal da oposiçãoeram os universitários; hoje o movi­mento operãrío ganhou uma outra di­mensão e a partir de núcleos de traba­lhadores especializados formou-se o

PT.Está tudo em constante mutação,

embora a gente tenha a suspeita funda­da, em certos momentos, que as mu­

danças são para pior. É preciso comba­ter a idéia daquele soldado do Vietnãde que está tudo parado, muito calmo.As coisas estão caminhando para trás.Amanhã, quem sabe ••• Depende denós.·

UMA REFLEXÃO

Mudar, dependeUmaanálise

dos avanços e

retrocessos

Vamos enterrar 68? Essa sur­

preendente pergunta na capa da revistafrancesa "Globe" não é apenas a lem­brança de que 20 anos se passaram.Na esteira das. comemorações da mf­dia, dos programas de dois minutosanalisando, em profundidade, um mo­

vimento mundial, surgia uma centelhade crítica. Lá dentro, como todos os

analistas bem comportados, "Globe"limitava-se a separar o trigo do joio,e a ensinar o que se devia reter o

que enterrar, de uma década tão emo-. cionante,

O que os jornalistas não chega­ram a perceber é exatamente que 68só tem vida na medida em' que écriticado e todos os seus mitos sãopassados no liquidificador. Quando se

começa a usar medalhas no peito e

se desfilar nas paradas cívicas entãoé porque, realmente somos todos can­

didatos ã múmia.Nesse processo mundial de exu­

mação de 68, há críticas fundamentais Onão apenas ao que aconteceu, mas ...à maneira como a década foi represen- �tada pelo os que viveram mais profun-·damente, Nada mais indefensável, porexemplo, do que essa teoria do big­bang da história, Um momento em

que "tudo começou", momento quecontinua lançando sua luz ao longodas décadas, como uma estrela morta.

Pessoalmente, temo ter contribuí-do para esse mito. Costumava contar,em minhas conferências, a história deum jovem negro que deserdou na

guerra do Vietnã e vivia em Esto­colmo. Nas noites geladas de inverno,olhando para a imensidão branca, eleque nâeu em Nova York e sobrevi­veu a várias emboscadas no Vietnã,dizia:

- Isto aqui está muito calmo.Muito calmo.

Comparando com os anos queviriam depois, o de 68 foi, realmente,carregado de acontecimentos, na Euro­pa e na América, nos países capita­listas e no socialismo real. Mas a

insistência nessa tecla pode estimularum tipo de nostalgia defensiva, algoque o sociólogo Fred Davis chamoude ponte sobre identidades cambiantes.

E que o mundo muda, a pessoamuda, e no domínio da fantasia, a

saudade serve para fixar algo no per­manente fluxo de mutação. Desampa­rados nos anos 80, muitos se voltam

para trás em busca de tempos quenão podem mais ser vividos. A cele­

bração do passado torn�e oposiçãoao presente e; nesse sentido, a nostal­gia pode desempenhar um papel con­servador. Num belo artigo intitulado

, "Os Usos da Nostalgia", Todd Gitlinsintetizou bem claramente o que énecessãrio 'no momento. Segundo ele"não precisamos das colagens da mídia,os inevitáveis programas do gênero68 foi assim. Nem precisamos de uma

nostalgia pura. O que se precisa é�o "retorno do historicamente repri­mido".

É urn conceito superelástico quese tomou emprestado da psicanálisemas não deve ser descartado. Gitlinnão teve tempo de devolvê-lo nem

de explicar com clareza. o que é quefoi reprimido historicamente e por

,,

enos

Apesar dessas limitações, é urna

trilha que se pode seguir. Um cami­nho para 20 anos depois dizer algumacoisa no meio .de um turbilhão de

lembranças, registros históricos seeun- .

dários e conflitos' de subjetividades.Quando escolhermos o slogan da

campanha eleitoral de 86, estávamos,de alguma maneira, tentando resolvero problema. Era preciso dar nosso,

- ir direto ã essência do que precisaser .preservado em .68, daquilo quepoderia servir como ponte entre as

, décadas."É só querer". Essa fórmula bem

sintética tentava resgatar a herança de68 e falar naquilo que tinha sido repri­mido ao longo dos anos que se sucede­ram: li vontade, um projeto coletivo.

Diffcil dizer quem reprimiu. Averdade é que nos países europeus,o pós-68 foi marcado, por uma ascen­

são do liberalismo. A intervenção esta­tal era criticada em vários níveis, so­bretudo porque inibia o único meca­

nismo efetivo para controlar o movi­mento no conjunto: o mercado,

Os apóstolos da mão invisíveldeslocaram com grande facilidade o

mesmo tipo de raciocínio para a histó­ria no conjunto. Partindo de uma críti­ca justificada às grandes idéias detransformação, muitas delas resultandoem massacres sangrentos; questionarama idéia mesma de intervir no processohistórico. A partir de agora, estavadecretada a morte dos intelectuais que{alavam sobretudo e opinavam sobreo rumo do País; a partir de agoragrandes ideais para mudar o mundopassariam a ser vistos com suspeição.A própria' capacidade do político demudar alguma coisa era questionada,Não se estimulava mais a organizaçãopara mudar o sentido da ação do Esta­do. Era preciso, .no máximo, organizaro indivíduo pará se defender dos ata­

ques do Estado. Era preciso não tornaro poder mas se defender dele neutrali­zando-o progressivamente.

,

Essas idéias prosperaram não ape­-_nas porque expressavam mudanças po-

líticas inas também atingiam questõesreais. Uma delas, na crítica ãs grandesidéias, era a constatação de que a

história não estava previamente escri­ta, que a história não tinha um sentidoinexorável como se fesse uma espéciede divindade.

Abriu-se o campo para a reflexãodemocrática, para a compreensão de

que não havendo nenhum sentido pro­fundo na trajetória humana era nossa

tarefa comunicar nesse sentido a histó­ria no entrechoque cotidiano dasidéias.

Outro aspecto que acabou sendomuito generoso também no pós-68 foia revelação dos micropoderes, dasteias de dominação que se armam na

sociedade, cadeia, hospitais psiquiátri­cos, etc., enfim toda a teoria quefoi celebrizada pelos trabalhos de Mi-chel Foucault.

.

Smgiram movimentos no interiordos presídios, os seres humanos consí­derados loucos se organizaram paradefender seus direitos, inúmeros aspec­tos da prática social, que não eram

examinados sob a 6tica política, passa­ram a ser indicadores do processo de

dominação.Uma coisa é dizer que a história

não tem sentido e que devemos aban­donar qualquer pretensão de encontrá­lo. Outra coisa é dizer que a história

- não tem seritido mas que é precisoprocurá-lo coletivamente, que sem um

projeto e uma ação comum, o futuroestá bloqueado.

das morais sem compreender· o querepresente na expressão do avanço dasforças materiais e de ampliação da

própria liberdade.Dificilmente os anos 80 poderão

reproduzir movimentos como o dos

hippies 011 mesmo o dós punks. Acre­dito que a idéia das pessoas se vesti�·.rem da mesma maneira, pertencerama tribos urbanas, falarein a mesma

linguagem, talvez esteja superada nes­se momento da história. Deixar-seaprisionar debaixo do mesmo rótulode "juventude" por exempló é darchance aos políticos de encerrarem nu­

ma mesma palavra uma diversidade.de situações. E esquecer também queos movimentos de transformações hojepassam por gerações irmanadas num

mesmo desejo. '

O êxito do SOS Racismo na

França, no meu entender, deve-se àcompreensão dos anos 80 e dos 60.O slogan "Touche pas mon pote" (Nãotoque no meu chapa") é um apeloaos indivíduos brancos que se indig­nam com a discriminação que árabes,negros e asiáticos estão sofrendo.

E a primeira tentativa que dáuma volta no impulso moral clássicoque diz que o indivíduo deve se sacri­ficar pelo coletivo. Ele assume o indí­vidualismo desejoso de romper com

sua solidão, sem se negar enquantoindividualismo.

Talvez seja maneira de rompero impasse, de costurar as outras pontasque ficaram soltas, daquela época paracá. O movimento das mulheres, dosnegros, das minorias sexuais, das asso­

ciações de bairro, enfim os movimen­tos nascidos de preocupações com a

própria sorte, acabaram sendo sociaissem negar o indivíduo.

Considerações tão gerais podemdar a impressão de que 68 foi um

ano absolutamente idêntico para todosos países, independente da singularí­dade de seu momento histórico. Masnão foi bem assim. O que se discutehoje na Tchecoslovãquia é a serne­

lhança da Primavera de Praga com

Esse legado de 68 não poderiaatravessar os anos se não se invé1ti­gassem também as causas que fizeram68 apodrecer. Uma delas é não ter

compreendido os perigos da fantasiapolítica, sobretudo daquela que substi­tui a vontade da maioria pela açãode pequenos grupos predestinados a

fazer história.O avanço do individualismo é

um dos temas que mereciam uma dasmais tranqüilas reflexões. Muitos que­

. .rem se livrar dele com rápidas.pincela-

Fernando GabeiraEscritor e jornalista

Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina