Regresso à Pátria

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Os Lusíadas, Regresso à Pátria, paráfrase, Expresso

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Regresso à pátria

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142Até aqui, Portugueses, concedidoVos é saberdes os futuros feitosQue, pelo mar, que já deixais sabido,Virão fazer barões de fortes peitos.Agora, pois que tendes apreendidoTrabalhos que vos façam ser aceitosÀs eternas esposas e fermosas,Que coroas vos tecem gloriosas,

Foi-vos concedido,Portugueses, ficar aconhecer os feitos queserão praticados porhomens corajosos nomar que deixaisdescoberto. Agora, quejá tendes apreendido ostrabalho que merecemglória eterna…

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Podeis embarcar para avossa pátria, que o ventoé a favor e o mar estátranquilo”Assim diz Tétis, e logolargam da ilha, levandoconsigo refresco,mantimento, e acompanhia das Ninfas,que terão enquanto omundo durar.

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Assim navegaram no marsereno até avistar a terraem que nasceram.Entraram a barra do Tejoe entregaram à Pátria eao Rei o prémio e aglória que os mandouprocurar, e com o qualse ornou com novostítulos.

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145Não mais, Musa, não mais, que a Lira tenhoDestemperada e a voz enrouquecida,E não do canto, mas de ver que venhoCantar a gente surda e endurecida.O favor com que mais se acende o engenhoNão no dá a pátria, não, que está metidaNo gosto da cobiça e na rudezaDuma austera, apagada e vil tristeza.

Não mais, Musa. Nãoposso mais. A lira tenhodesafinada; a vozenrouqueceu. E não épor cantar: é por verque venho cantar paragente dura e surda. Osprémios que estimulamo talento não os dá aPátria, mergulhada naganância e numa tristee vil mediocridade.

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146E não sei por que influxo do DestinoNão tem um ledo orgulho e geral gosto,Que os ânimos levanta de continoA ter para trabalhos ledo o rosto.Por isso vós, ó Rei, que por divinoConselho estais no régio sólio posto,Olhai que sois (e vede as outras gentes)Senhor só de vassalos excelentes.

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154Mas eu que falo, humilde, baixo e rudo,De vós não conhecido nem sonhado?Da boca dos pequenos sei, contudo,Que o louvor sai às vezes acabado.Nem me falta na vida honesto estudo,Com longa experiência misturado,Nem engenho, que aqui vereis presente,Cousas que juntas se acham raramente.

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Tenho braço para vosservir, mente para voscantar. Só me falta seraceite por vós,Se o Céu me concederisso, e vós voslançardes em empresadigna de ser cantada,(como já se adivinhaque vai suceder, dada avossa inclinação),

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Ou fazendo que o Atlas,ante sua vista, tremaainda mais quando avista de Medusa opetrificou, ouconquistando i impériomarroquino, prometoque a minha lira voscantará de tal modo quesereis considerado umnovo Alexandre, quenão terá que invejar asorte de Aquiles.