Regulação Emocional - Revista Saúde 2014

3
D ESCONTROLE E MOCIONAL RAIVA, CIÚMES, IMPULSIVIDADE E TRISTEZA. Observamos na clínica que uma das experiências mais problemáticas para os pacientes é ter a sensação de estarem dominados pelas emoções e não saberem como lidar com a sua intensidade. Tais pacientes acreditam que a estabilidade emocional não existe e que vão sofrer para sempre. Apresentam ataques de raiva, gritam, choram, agridem e depois sentem muita vergonha. Com medo de serem abandonados, ligam milhares de vezes para o namorado ou namorada depois de uma discussão somente para terem certeza de que está tudo bem, porém, arrependem-se após cada ligação porque percebem o quanto estão exagerando. Na tentativa de lidar com o sentimento crônico de vazio e tristeza provocam cortes, arranhões, queimaduras, machucados, sexo promíscuo, comem compulsivamente, abusam de álcool e droga e frequentemente tentam suicídio. Esta é a vida fronteiriça de quem está sempre no limite entre a experiência emocional funcional e o total descontrole, a impulsividade que leva a auto-agressão deliberada, as explosões de raiva, o ciúmes doentio, à violenta agressão verbal contra os outros e, principalmente, contra aqueles que de fato lhe importam afetivamente. É o jeito borderline de ser, de quem é governado pelas emoções e onde a razão e lógica não são o mais importante. O Transtorno de Personalidade Borderline (TPB) se caracteriza por um padrão de grande vulnerabilidade emocional, padrões de relacionamentos interpessoais instáveis e intensos, esforços frenéticos no sentido de evitar um abandono real ou imaginário, dificuldade em controlar a raiva, instabilidade do humor, tendência de se autodepreciar ou autoinvalidar-se e recorrentes comportamentos autodestrutivos, com gestos ou ameaças suicidas e automutilação. Esta instabilidade muitas vezes desorganiza 1

description

Regulação Emocional

Transcript of Regulação Emocional - Revista Saúde 2014

Descontrole EmocionalRaiva, cimes, impulsividade e tristeza.Observamos na clnica que uma das experincias mais problemticas para os pacientes ter a sensao de estarem dominados pelas emoes e no saberem como lidar com a sua intensidade. Tais pacientes acreditam que a estabilidade emocional no existe e que vo sofrer para sempre. Apresentam ataques de raiva, gritam, choram, agridem e depois sentem muita vergonha. Com medo de serem abandonados, ligam milhares de vezes para o namorado ou namorada depois de uma discusso somente para terem certeza de que est tudo bem, porm, arrependem-se aps cada ligao porque percebem o quanto esto exagerando. Na tentativa de lidar com o sentimento crnico de vazio e tristeza provocam cortes, arranhes, queimaduras, machucados, sexo promscuo, comem compulsivamente, abusam de lcool e droga e frequentemente tentam suicdio.Esta a vida fronteiria de quem est sempre no limite entre a experincia emocional funcional e o total descontrole, a impulsividade que leva a auto-agresso deliberada, as exploses de raiva, o cimes doentio, violenta agresso verbal contra os outros e, principalmente, contra aqueles que de fato lhe importam afetivamente. o jeito borderline de ser, de quem governado pelas emoes e onde a razo e lgica no so o mais importante. O Transtorno de Personalidade Borderline (TPB) se caracteriza por um padro de grande vulnerabilidade emocional, padres de relacionamentos interpessoais instveis e intensos, esforos frenticos no sentido de evitar um abandono real ou imaginrio, dificuldade em controlar a raiva, instabilidade do humor, tendncia de se autodepreciar ou autoinvalidar-se e recorrentes comportamentos autodestrutivos, com gestos ou ameaas suicidas e automutilao. Esta instabilidade muitas vezes desorganiza a vida familiar e profissional, fazendo com que as pessoas prximas estejam sempre pisando em ovos, tentando agradar, evitar brigas por falar no tom errado ou com a expresso facial errada.Quem sofre com o TPB na verdade possui um Transtorno da Regulao das Emoes (TRE), padro de dificuldade recorrente em regular ou controlar as emoes desagradveis, a alta sensibilidade a estmulos emocionais negativos, a intensa manifestao emocional, o retorno lento ao nvel emocional basal e a tendncia de culpar o ambiente social, responsabilizando outras pessoas por seus sentimentos e demandas irrealistas.SuicdioAs estimativas das taxas de suicdio em quem sofre de desregulao emocional variam, sendo bastante significativas, em torno de 10%. O desejo de morrer em pacientes que sofrem de grande desregulao emocional normalmente razovel, pois se baseiam na experincia de que a vida atualmente insuportvel devido quantidade excessiva de crises, brigas, estresses e problemas de relacionamento. AutomutilaoDe 70 a 75% dos pacientes borderline tm um histrico de pelo menos um ato de automutilao. H muitos tipos de comportamentos de automutilao, desde aqueles que no necessitam de tratamento mdico, como, por exemplo, cortes superficiais nos braos com estilete e lminas de barbear, arranhes leves, batidas com a cabea na parede e queimaduras com cigarro. Ou tambm aqueles que exigem atendimento em unidade de tratamento intensivo, como nos casos de overdose por abuso de substncias e cortes profundos. E a prtica de automutilao entre adolescentes se dissemina cada vez mais na internet atravs das redes sociais, preocupando pais e escolas.Tratamento psicoterpicoA Terapia Comportamental Dialtica (TCD) uma das poucas intervenes com dados empricos e eficcia comprovada. Neste tipo de psicoterapia o paciente aprende a identificar e classificar suas emoes, exerccios de relaxamento, intervenes baseadas na aceitao e tolerncia ao mal-estar, focando no sentido existencial. Se no houvesse o risco de suicdio, a profisso do psiquiatra e do psiclogo seriam bem mais fcil. Por isto, dentro da hierarquia de tratamento o primeiro passo reduzir os comportamentos suicidas e parassuicidas (comportamentos autodestrutivos sem a inteno de se matar). O tratamento de indivduos suicidas exige um protocolo estruturado para responder a comportamentos suicidas, incluindo comportamentos de ideao e ameaa de suicdio. Neste aspecto, poucos profissionais de psicologia esto realmente capacitados para manejar crises de comportamento suicida. Tratamento Farmacolgico

2