Relação entre desemprego e tecnologia no Brasil a partir do Plano ...
-
Upload
truongduong -
Category
Documents
-
view
214 -
download
0
Transcript of Relação entre desemprego e tecnologia no Brasil a partir do Plano ...
FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA
NÚCLEO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS
DEPARTAMENTO DE ECONOMIA
CURSO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS
Letícia Satômi Kuroda
RELAÇÃO ENTRE DESEMPREGO E TECNOLOGIA NO BRASIL A PARTIR DO
PLANO REAL
PORTO VELHO
2008
LETÍCIA SATÔMI KURODA
RELAÇÃO ENTRE DESEMPREGO E TECNOLOGIA NO BRASIL
A PARTIR DO PLANO REAL
Monografia apresentada à FundaçãoUniversidade Federal de Rondônia comorequisito parcial para obtenção do título debacharel em Ciências Econômicas.
Orientador: Prof. Jonas Cardoso
PORTO VELHO
2008
LETÍCIA SATÔMI KURODA
RELAÇÃO ENTRE DESEMPREGO E TECNOLOGIA NO BRASILA PARTIR DO PLANO REAL
Monografia apresentada à FundaçãoUniversidade Federal de Rondônia comorequisito parcial para a obtenção do títulode bacharel em Ciências Econômicas
Data da aprovação: ___/___/_____
Prof. Jonas Cardoso
Prof. Edílson Lobo
Prof Silvio Persivo
PORTO VELHO
2008
RESUMO
Este trabalho apresenta as causas do crescente aumento do desemprego nosúltimos anos, principalmente após a implantação do Plano Real em 1994,enfatizando o impacto que as mudanças tecnológicas provocam no mercado detrabalho, resultando no desemprego tecnológico ou estrutural. Expõe dados,estatísticas e estudos feitos por grandes instituições como IBGE (Instituto Brasileirode Geografia e Estatística), DIESSE (Departamento Intersindical de Estatística eEstudos Sócio-Econômicos), SEADE, IPEA etc. Aborda a importação de bens decapital e a produtividade como conseqüências da tecnologia, e também causadorasdo desemprego, e as mudanças ocorridas ao longo dos anos nas empresas e emsua mão-de-obra. Chegando à conclusão que após o Plano Real, o desempregotecnológico aumentou significativamente. Ou seja, com a maior automação eespecialização das empresas frente á tantas inovações, o corte na mão-de-obra foiinevitável. E, apesar do progresso tecnológico influenciar de forma positiva nasempresas (aumentando sua produtividade), tem ocorrido um detrimento no mercadode trabalho.
Palavras-chave: Desemprego tecnológico. Importação de bens de capital.Produtividade.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................. 06
2. A TRAJETÓRIA DO PLANO REAL ................................................................. 08
2.1 ASPECTOS SOCIAIS ..........................................................................10
2.2 ASPECTOS ECONÔMICOS ............................................................... 10
3. O DESEMPREGO TECNOLÓGICO E A MODERNIZAÇÃO .............................. 13
4. A TRAJETÓRIA DO CRESCENTE DESEMPREGO A PARTIR DE 1994 ...........16
5. CONCLUSÃO ...................................................................................................... 26
6
1. INTRODUÇÃO
O Brasil vive, atualmente, numa época em que depende, constantemente, da
tecnologia, onde todos se encontram “acomodados” com tanta facilidade, agilidade e
eficácia nos produtos e serviços, tornando-se cada vez mais necessitados destes
meios. As indústrias e as empresas são exemplos de que necessitam destas
tecnologias e procuram adaptar-se a estas evoluções do processo de produção.
Esse avanço tecnológico tem influenciado o mercado de trabalho e conduz a
um tema tão comum e conhecido, que é o desemprego. Atribui-se o fato de ser
comum e conhecido por afetar a maioria dos habitantes do país, direta ou
indiretamente. Na pesquisa feita pelo IBGE (Instituo Brasileiro de Geografia e
Estatística) em Julho de 2007, estima-se que há aproximadamente 2,2 milhões de
pessoas desempregadas no Brasil nas seis regiões metropolitanas (Belo Horizonte,
Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo). As causas do
desemprego são várias, mas este estudo irá se limitar a tratar apenas do
desemprego causado pelo progresso tecnológico, chamado desemprego
tecnológico.
Este trabalho tem por objetivo analisar as mudanças ocorridas no mercado de
trabalho a partir de 1994 com a implantação do Plano Real. A partir deste contexto,
busca-se avaliar os impactos das inovações tecnológicas, bem como mostrar as
alterações no emprego como a criação ou destruição de postos de trabalho em face
da automação. Tem por objetivo também apresentar como conseqüência dessa
modernização a produtividade e a importação de bens de capital. Assim como,
relacionar o aumento dessas duas variáveis com o aumento da taxa de desemprego
no país. Será também avaliado o comportamento das empresas frente ao acelerado
processo produtivo, onde se empregam a produtividade e a importação de bens de
capital como conseqüências da evolução tecnológica. Tem por objetivo, também,
relacionar o aumento da produtividade e o crescente aumento da importação de
bens de capital, a partir da década de 90, com o aumento dos níveis de desemprego
no país.
A apresentação dos objetivos deste trabalho está divida em três sessões. A
sessão 2 descreve os objetivos e etapas ulteriores da implantação do Plano real. Na
sessão 3 será apresentada as formas conceituais expostas por diversos autores à
respeito do desemprego, modernização, bens de capital, produtividade, Plano Real,
dentre outros assuntos relacionados com o trabalho. O capítulo seguinte discorre
sobre a trajetória do aumento do desemprego, a partir do início dos anos 90 até os
dias atuais através de exposição de quadros, tabelas e gráficos das principais
instituições que pesquisam sobre o desemprego.
7
2. A TRAJETÓRIA DO PLANO REAL
Em 1º de Julho do ano de 1994 foi implantado o Plano Real. Este plano
econômico foi criado durante o governo de Itamar Franco, pelo ministro Fernando
Henrique Cardoso, que veio a se tornar presidente no ano seguinte. Objetivo
principal do Plano Real era a diminuição da exorbitante inflação que assolava a
economia do país naqueles últimos anos. O Plano Real foi o plano que mais obteve
êxito em seus resultados, comparado com os outros planos que o antecederam, tais
como: Cruzado (1986), Bresser (1987), Verão (1989), Collor I (1990), Collor II
(1991)1. O Gráfico 1 representa a inflação mensal dos respectivos planos citados.
Fonte: Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas FIPE/2000
Gráfico 1 – Inflação Mensal (IPC-FIPE)
A implantação do Plano passou por três etapas. A primeira etapa consistiu no
ajuste fiscal a curto prazo, ou seja, procurou-se reduzir e obter maior eficiência dos
gastos do governo. Para isto, foi criado no final do ano de 1993 e para atuar na
gestão de 1994 e 1995, o FSE (Fundo Social de Emergência), que tinha por objetivo
reduzir os gastos públicos e aumentar as receitas tributárias. Com isso, esperava-se
equilibrar as contas do governo e suprimir o déficit público, considerado o principal
causador da inflação. A segunda etapa iniciou-se no começo de 1994, com a criação1 Fonte: Artigo “O Plano Real e seus reflexos”, de Rosemar Cristina de Oliveira., de 1999.
8
da URV (Unidade Real de Valor), que teve como moeda transitória, entre o Cruzeiro
e o Real, o denominado Cruzeiro Real. Este tinha por objetivo indexar contratos,
preços e salários por meio da URV, bem como tornar a transição monetária menos
violenta. Diferenciou-se, neste caso, dos outros planos por não ter havido um
congelamento dos preços e salários ao tentar desindexar a economia. A terceira e
última etapa deu-se com a mudança da unidade monetária – o Real. Foi autorizado
ao Banco Central a emitir até março de 1995 até R$ 9,5 bilhões, e podendo haver
alteração em até 20% deste valor. Esta mudança monetária veio acompanhada de
adoção de âncoras monetária e cambial. A âncora monetária, baseava-se nas
restrições de emissão da quantidade de moeda como já foi exposto, não podendo
ser alterada, independente de pressões para assegurar a estabilidade da moeda. E
a âncora cambial consistiu na definição de um limite máximo de venda do câmbio na
paridade de R$ 1,00 = US$ 1, 00, procurando reduzir e estabilizar o nível de preços.
(SANDRONI, 2005, pg. 655)
A inflação, motivo principal da criação do plano, diminuiu de 7.273,4% no
primeiro semestre de 94 para 39% no segundo semestre. O sucesso inicial do plano
é incontestável. O gráfico 2 demonstra a veracidade dos efeitos do plano na inflação:
Fonte: IBGE, Sistema Nacional de Índices de Preços ao Consumidor (IBGE/SNIPC).
9
2.1 ASPECTOS SOCIAIS
No que tange a esse aspecto, a implantação do plano resultou, de um lado,
em ganhos no poder aquisitivo do trabalhador, mas por outro lado, houve um
acréscimo do número de desempregados, assunto que será abordado, mais
detalhadamente, ao longo do trabalho.
A diminuição da inflação ocasionou mudanças no poder de compra da
população, estimulando o consumo, que foi também influenciado pela mudança nos
salários e devido à facilidade de acesso ao crédito propiciado entre junho e
dezembro de 1994, que foi expandido em 150% 2. Antes, o salário mínimo comprava
pouco mais da metade de uma cesta básica, que em Julho de 94 custava R$ 106,95
e o salário mínimo era de R$ 64,79. Mas, com a nova moeda, houve um crescimento
de quase 60% no poder aquisitivo do trabalhador. 3
2.2 ASPECTOS ECONÔMICOS
No segundo semestre de 1997, a moeda nacional sofre um ataque com a
crise asiática e, como conseqüência, houve uma elevação da taxa de juros e
aumento dos tributos para equilibrar as contas do governo, apesar do Real não ter
sofrido desvalorização. Em 1998, ocorreu outro ataque especulativo à moeda com a
crise russa.
O período antes de 1999 era caracterizado pela adoção do câmbio fixo, o que
tornava o real sobrevalorizado, tanto que em Outubro de 1994 o câmbio alcançou a
cotação de R$ 0,83/US$ 1,00. Com o real sobrevalorizado, fez com que o fluxo de
2 MERCADANTE, Aloizio (org.). O Brasil pós-Real: a política econômica em debate. Campinas,SP, UNICAMP. IE, 1998.3 Brasil. Presidência da República. Brasil 1994-2002: a era do Real. Brasília: SECOM, 2002.
10
importações no país aumentasse consideravelmente, como pode ser observado no
gráfico abaixo.
O gráfico 3 demonstra a balança comercial (em US$ bilhões) no período
de 1994 a 2007, indicando a diferença do período antes e depois de 1999:
Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Secretaria de Comércio Exterior – SECEX Departamento de Desenvolvimento e Planejamento de Comércio Exterior - DEPLAGráfico 5 – Balança Comercial Brasileira – 1994 a 2007 – US$ bilhões FOB
O período após 1999, que foi caracterizado pela mudança do câmbio (adoção
do regime de câmbio flutuante) e conseqüente desvalorização do real frente ao
dólar, fez com que as exportações brasileiras aumentassem gradualmente, de forma
a tornar o fluxo cambial positivo para o país.
11
Nota-se que em 2000 ainda houve um pequeno saldo negativo na balança,
que se deveu ao reajuste de empresariados nacionais para reabrirem novamente
seus mercados. Contudo, a partir de então, o saldo da balança brasileira
permaneceu positivo.
12
3. DESEMPREGO TECNOLÓGICO E MODERNIZAÇÃO
As causas do desemprego são várias, mas esta monografia irá tratar apenas
do desemprego causado pelos avanços da tecnologia, onde:
O desemprego tecnológico é caracterizado pela diminuição relativa
da quantidade de trabalho humano empregado nas atividades
produtivas ou de serviço, que resulta da crescente mecanização ou
automação dessas atividades. (LANGER, 2004).
Desde a Revolução Industrial, este processo de automação vem acontecendo
não apenas no Brasil, mas no mundo inteiro. Pode-se notar que, com o passar dos
anos, vários postos de trabalho foram eliminados devido à modernização das
empresas. E estas, cada vez mais, procuram por trabalhadores mais especializados.
E a maioria, dentre esses desempregados, não dispõe de condições financeiras
para poderem se aperfeiçoar, e acabam não se inserindo em certos empregos que
são criados por essa modernização.
Muitos autores têm escrito sobre as inovações tecnológicas e os impactos
que causam na sociedade. Muitos estudos a respeito dos avanços da modernização
tecnológica enfatizam a importância que vêm adquirindo as inovações
organizacionais na estratégia de modernização das empresas. 4
As empresas adquirem tecnologias para não ficarem para trás e para obterem
uma maior produção e um custo menor. São inevitáveis os cortes na mão-de-obra.
Pois estes são substituídos por máquinas, que surgem constantemente.
Essa terceira revolução industrial e tecnológica vai revelando que a
economia do futuro é uma economia da rapidez e da agilidade das
informações, uma sociedade pós-industrial de serviços e do
4 WALTON, Richard E. Tecnologia de Informação: O uso de TI pelas empresas que obtêm vantagem competitiva/Richard E. Walton; tradução Edson Luiz Riccio. São Paulo: Atlas, 1993
13
conhecimento. O aumento de produtividade é espetacular, as
escalas de produção atingem um novo patamar, impulsionam a
formação de macromercados e configuram novos padrões de
concorrência internacional. (MERCADANTE, 1997, pg 133).
Ou seja, as empresas neste contexto de globalização, precisam se adaptar a
esse processo de modernização, pois se continuarem com os mesmo métodos
obsoletos, consequentemente, serão levadas à falência.
O autor também mencionou a respeito da produtividade, que é um outro
benefício que a tecnologia fornece. Segundo Campos (1999, 02) “Aumentar a
produtividade é produzir cada vez mais e/ou melhor com cada vez menos.” Então,
se uma máquina produz a mesma quantidade que um homem produziria num
espaço de tempo muito mais curto, isso só traria benefícios para uma empresa.
Pois, quanto mais fosse a produção, maior seria o lucro. O aumento da
produtividade se tornou essencial para o sucesso de uma empresa.
[...] sem produtividade ou sem a eficiência do processo produtivo,
dificilmente uma empresa vai ser bem-sucedida ou até mesmo
sobreviver no mercado. [...] a gestão da produtividade está se
tornando um dos quesitos essenciais na formulação das estratégias
de competitividade das empresas. (MACEDO, 2002).
Nota-se que a produtividade e a tecnologia estão articuladas e propiciam,
geralmente, às indústrias e às empresas, aumento nos lucros. Mas o aumento da
produtividade também tem um efeito negativo:
Em certo sentido, o comportamento extremamente distinto da
produtividade é influenciado pelo movimento de desestruturação do
mercado de trabalho. Isto é, a tendência de forte elevação do
desemprego aberto [...]. (POCHMANN, 2000).
14
Pochmann (2000), afirma que para se conseguir aumento na produtividade, é
preciso modernizar e seguir as inovações tecnológicas, mas sendo necessário,
desestruturar o mercado de trabalho, ou seja, causar desemprego.
Outro fator que contribuiu para o aumento do desemprego foi a abertura
comercial iniciada nos anos 90 pelo presidente Fernando Collor e que teve
continuação como estratégia econômica no Plano Real, como já citado na sessão 2.
Essa abertura representou um programa de liberalização financeira externa e de
eliminação de barreiras protecionistas contra a importação. Ou seja, ficou muito mais
fácil e barato de importar. Em conseqüência disso e, juntamente com o processo de
modernização, umas das importações que mais cresceram foi a de bens de capital. 5
A maioria dos autores considera bens de capital como sendo máquinas e
equipamentos.
Assim, a importação crescente desses bens prejudica o mercado de trabalho
de duas formas: por fornecer equipamentos mais modernos para as indústrias, e
isso acaba afetando a força de trabalho que é em parte descartada. E também por
haver uma substituição de produtos nacionais por importados. E isso faz com que as
indústrias que fabricam máquinas tenham que concorrer com os produtos
importados, os quais, muitas vezes, se tornam mais baratos que os nacionais,
prejudicando as empresas que são obrigadas a adotarem programas para reduzir
custos (eliminando certas porcentagens da mão-de-obra) e outras acabam por
fecharem, demitindo, portanto, milhares de operários, causando mais desemprego.
5 Bens de capital são bens que servem para a produção de outros bens, especialmente os bens deconsumo, tais como máquinas, equipamentos, material de transporte e instalações de uma indústria.Alguns autores usam a expressão bens de capital como sinônimo de bens de produção; outrospreferem usar esta última expressão para designar algo mais genérico, que inclui ainda os bensintermediários (matéria-prima depois de algumas transformações, como, por exemplo, o aço) e asmatérias-primas. (SANDRONi 2005, p.78)
15
4. A TRAJETÓRIA DO CRESCENTE DESEMPREGO A PARTIR DE 1994
Logo após a implantação do Plano Real, no segundo semestre de 1994,
devido à queda abrupta da inflação, criou-se um clima de euforia, apresentando
índices de aceleração do crescimento e resultados positivos no mercado de
trabalho. Segundo pesquisa feita pelo IBGE com pessoas a partir de 15 anos, em
seis regiões metropolitanas (Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São
Paulo e Porto Alegre), enquanto que no primeiro semestre de 94 havia uma média
de 833.594 desempregados, no segundo semestre caiu para 771.468. Na tabela 1
será apresentado o número de pessoas desempregas acima de 15 anos nas seis
regiões. Pode-se notar que, a partir de 1995, o desemprego voltou a subir,
apresentando uma média de 780.195 desempregados.
Tabela 1 – População desocupada de 15 anos e mais (série encerrada)Variável = População desocupada de 15 anos e mais (Habitante)
RegiãoMetropolitanae Tottal dasáreas - PME
Mês
1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002
Recife 74.127,33
60.645,75
63.639,42
67.107,67
103.934,25
97.168,50
96.163,92
97.895,92
91.627,58
Salvador 73.873,42
72.283
76.060,08
86.239,25
104.040,75
112.436,42
118.421,00
111.173,25
94.501,00
Belo Horizonte
66.495,58
60.511,33
76130,92
88.539,67
127.333,25
136.209,58
145.291,83
139.417,92
137.821,42
Rio de Janeiro
173.655,4
146.630,8
158.676,4
161.543,2
237.860,67
236.252,58
235.428,75
188.134,50
241.407,00
São Paulo 382.414,7
376.734,4
477.703,3
502.208,7
662.080,25
643.944,08
599.978,25
527.818,92
713.898,50
Porto Alegre 56.965
63.390,08
85.968,25
79.580,25
108.931,83
108.356,25
111.729,42
86.598,83
93.151,42
Total das áreas - PME
827.531,4
780.195,4
938178,3
985.218,7
1.344.181
1.334.417
1.307.013
1.151.039
1.372.406
Fonte: Elaboração Própria, com base nas tabelas do IBGE – Pesquisa Mensal de Emprego.
Nota-se, também, a disparidade do número de desempregados desde a
implantação do Plano, sendo que em 94 era de cerca de 827 mil, saltando para mais
de 1 milhão no ano de 2002.
16
Outro fator influente, além da implantação do Plano e da modernização, foi a
abertura comercial que influenciou no mercado de trabalho como já foi abordado. A
abertura comercial, iniciada no começo dos anos 90, facilitou a importação. Esta
facilidade foi reforçada na implantação do Real, como uma forma de acirrar a
concorrência com produtos importados e, como efeito, reduzir os preços internos. O
resultado não poderia ser outro, ocorreu um aumento intenso nas importações.
Dentre estas, destaca-se a de bens de capital, por haver uma analogia com o
aumento do desemprego, que será evidenciada nas tabelas adiante.
O aumento da importação de bens de capital, substituindo produtos nacionais
pelos importados, levou à falência muitas indústrias brasileiras por não resistirem à
forte pressão da concorrência, e conseqüentemente, à elevação do índice de
desempregados. Este aumento no desemprego deve-se ao fato de ter ocorrido mais
facilidade aos produtos importados, porque além de tornarem-se mais acessíveis
pelo preço mais baixos que os nacionais, também tinham qualidade superior. Como
os empresários estavam habituados com a proteção imposta pelo governo à
indústria doméstica, tendo o domínio do mercado, as empresas não se empenharam
em produzir com maior eficiência, pois não tinham concorrência estrangeira. Porém,
com a abertura comercial, o parque nacional enfrentou dificuldades para competir
com tanta eficiência e tecnologia que as indústrias estrangeiras detinham e
buscavam a redução de custos e aumento de produtividade. 6
As empresas nacionais que se mantiveram funcionando, procuraram adaptar-
se e foram compelidas a ajustarem seus métodos de produção, modernizando seu
processo de produção importando bens de capital como: máquinas e equipamentos
mais avançados, demandando, também, produtos de informática e comunicações e
6 Artigo de Márcia Regina Weise sobre o Comportamento da Indústria de Bens de Capital após o Plano Real, dez2000.
17
exigindo maior grau de especialização por parte dos trabalhadores. Em virtude de
terem adotado essas medidas poupadoras de mão-de-obra, houve aumento do
desemprego.
O gráfico 4 representa o quantum de importações de bens de capital no
período 1994-2007.
Fonte: Elaboração Própria. Dados do IPEADATA, Importações – Bens de capital – quantum – índice(média 2006 = 100)Gráfico 4 – Importações de bens de capital – quantum (1994 a 2007)
Devido a maior facilidade de importar e à necessidade de adquirir produtos
mais sofisticados, de alta tecnologia, muitas empresas optaram por importar
máquinas e equipamentos denominados bens de capital, para terem oportunidade
de resistir à forte pressão da concorrência com que começavam a conviver.
Se em 1994 a importação de bens de capital era cerca de 25%, em 1996
passou a ser mais de 50% (Gráfico 4). Para alguns autores, esse aumento é
positivo, pois gerou um crescimento da indústria geral. Porém, na visão de outros,
como explica a Funcex (Fundação Centro de Estudos em Comércio Exterior), foi
prejudicial, por ser um processo de troca do produto nacional por importado. Os
motivos que explicam o aumento das importações de bens de capital da década de
90 foram: as dificuldades impostas ao crescimento da indústria nacional, como o
18
aumento das taxas de juros que inviabilizaram investimentos no setor de produção
de bens de capital; a falta de estímulo do governo, sem uma política industrial para
valorizar a produção nacional; a sobrevalorização cambial; a menor eficiência do
parque industrial nacional em relação às empresas estrangeiras. Essas situações
eram conseqüências das medidas adquiridas em virtude do Plano como já foi
apresentado na sessão 2.
Pode-se notar no Gráfico 4 que a quantidade de importações de bens de
capital apresentou três grandes saltos, que foram nos anos de 1998, 2002 e início
de 2007. Os motivos para esses aumentos são as facilidades de importar estes
produtos a taxas de juros menores, como exemplo, a concessão de crédito pelo
BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), que concede às
empresas estrangeiras maiores facilidades. Em 2007, o fator que mais contribuiu
para o aumento das importações, não apenas no setor de bens de capital, foi a
desvalorização do dólar, que teve seu inicio gradativo em 1995 e foi efetivada em
1999 com o câmbio flutuante.
No primeiro trimestre de 1995, as taxas de desemprego continuaram a se
elevar. A balança comercial estava em desequilíbrio e para corrigir essa situação foi
necessário elevar as taxas de juros, o que foi bom para conseguir o resultado que se
pretendia, mas ruim para o mercado de trabalho. Devido a esse mecanismo de
controlar a balança comercial adotando medidas restritivas para obter uma
estabilização econômica, a taxa de desemprego se elevou.
No início do ano de 1997, a situação não foi diferente. A taxa de desemprego
da cidade de São Paulo era de 13,9%, saltando para 14,2% em fevereiro e 15% em
19
março 7. A seguir, o gráfico 5 mostra a taxa de desemprego no período 1994-1998
da região metropolitana de São Paulo.
FONTE: DIEESE/SEADE. PED – Pesquisa de emprego e desenvolvimento.Gráfico 5 – Taxa de desemprego total anual: Região metropolitana de São Paulo,1994-1998
Neste mesmo ano, a importação de bens de capital obteve um aumento de
31,26% em relação ao ano de 1996, onde grande parte das máquinas e
equipamentos importados foi destinada ao setor de telecomunicações. 8
Atribui-se a isso, o fato da crescente automação microeletrônica e da
informática em busca do aumento da produtividade. A produtividade possui uma
relação direta com o avanço tecnológico, ou seja, à medida que novas formas são
implementadas nos processos de produção, mais rápido se torna o processo,
conseguindo até mesmo uma diminuição nos custos e aumento dos lucros. Porém,
observa-se que o índice de desemprego aumentou ao mesmo passo que a
produtividade.
7 Dados extraídos do IBGE.8 Artigo O comportamento da indústria de bens de capital após o Plano Real, de Márcia Regina Weise, dez 2000.
20
Ferretti (2000, pg. 36-50) revelou em estudos que devido à crescente
modernização tecnológica, as empresas vêm adotando inovações organizacionais
na estratégia de modernização, pois os empresários começaram a se dar conta que
se não se adaptarem ao avanço tecnológico ficarão para trás face em tanta
transformação. Um exemplo desta mudança é a adoção das técnicas japonesas na
organização do trabalho. Um dos métodos que ganham destaque é o just-in-time,
que consiste num instrumento de controle da produção baseado no propósito de
atender a demanda com a maior rapidez possível e de minimizar os estoques. As
conseqüências disso para o empresário são positivas, pois aumentam seus lucros e
diminuem os custos. Para o trabalhador, porém, é uma ameaça, ois é deixado de
lado o método taylorista/fordista, onde cada trabalhador era treinado para fazer
determinada tarefa. E entra em cena os métodos japoneses, onde se baseia na
produção diversificada, com menos utilização de mão-de-obra, mais qualificada e
devendo exercer várias funções (multifuncional) e desenvolver diferentes tarefas.
Sem dúvida, com a adoção de métodos mais eficazes e modernos, a
produtividade das indústrias aumenta, ao passo que o desemprego também.
Enquanto antigamente a produtividade se dava com a divisão do trabalho,
atualmente o aumento da produtividade é demonstrado também na capacidade de
apenas uma pessoa desempenhar diferentes tarefas, como o método japonês já
apresentado. Nota-se que de um lado, elimina-se postos de trabalho e de outro lado,
passa-se a exigir trabalhadores mais especializados, participativos e polivalentes
para desempenharem novas funções que vão surgindo com base no progresso do
sistema de produção.
21
Outro fator que dificulta a diminuição da taxa de desemprego na cidade de
São Paulo é a adoção do modelo “stop and go” 9 (pára e segue), que serviu como
forma de prevenção após a crise mexicana em 94 e seus efeitos sobre a economia
brasileira, onde o governo adotou medidas restritivas. Com a instabilidade do
crescimento econômico e a demanda de mão-de-obra volátil (alta e baixa no índice
de desemprego), algumas empresas optaram por ao invés de contratar novos
funcionários, numa alta fase de crescimento, por contratar horas-extras. E de corte
de horas-extras quando a fase de crescimento baixar. 10 Então, ao invés de as
empresas contratarem mais empregados quando a produção cresce, ela apenas
ajusta a produção com a contratação de horas-extras. E quando ocorre uma
diminuição na produção volta ao horário normal. E, muitas vezes, para se ajustar ao
período de queda na atividade economia, as empresas, após a contratação de
horas-extras, optam por demitirem.
Abaixo serão correlacionadas duas variáveis:
Comparação entre os gráficos de Importações de Bens de Capital e da taxa de
desemprego:
9 Política em busca de crescimento econômico que embora lento, apresenta menores oscilações. Stop significa quando o Banco Central eleva a taxa de juros com o objetivo de diminuir o consumo e investimento para retardaro crescimento. E o go, representa o contrario.10 Site DIEESE. Matéria sobre “A aceleração do desemprego na grande São Paulo” em Maio de 1997.
22
Fonte: Elaboração Própria. Dados Ipeadata. Importações – Bens de capital – quantum – índice(média 2006 = 100).Gráfico 6- Taxa de Desemprego – 1994 a 2007
Fonte: Elaboração própria; dados Ipeadata. Taxa de desemprego – referência: 30 dias – RMs.Gráfico 7- Importações de Bens de Capital – 1994 a 2007
23
Pode-se verificar que em alguns momentos a alta na taxa de desemprego
corresponde também a uma maior quantidade de bens de capita importados. Tanto
que, a partir de 2004, quando a taxa de desemprego atinge seu ponto máximo,
corresponde a crescente alta da quantidade de importações.
FONTE: Elaboração própria a partir dos dados do IPEAGráfico 8 – Importação de bens de capital e desemprego no Brasil no períodode 1994 a 2007
Quando o desemprego está baixo é um sinal de que a economia está
aquecida, ou seja, há aumento no consumo, aumentando a demanda por bens.
Nesse cenário, os empresários irão aumentar a sua produção. A compra de bens de
capital visa aumentar a produção e a produtividade. Nesse caso, não se cria novos
empregos, apenas mantêm-se os já existentes. O problema é que a população
economicamente ativa continua crescendo, aumentando as taxas de desemprego.
Pelo gráfico 7 é possível visualizar que há defasagem entre as variáveis
analisadas, mostrando que, quando o desemprego está baixo, as importações de
bens de capital estão altas e vice-versa. Fazendo uma análise no período de 1994 a
24
CONCLUSÃO
Com este trabalho, possibilitam-se notar, com a opinião de diversos autores,
que essas mudanças (Plano Real, abertura comercial, avanço tecnológico)
causaram diversos benefícios para o desenvolvimento do país, influenciando de
forma positiva na aceleração do crescimento. Entretanto, para o mercado de
trabalho, principalmente, as influências não foram tão positivas assim. Pois, apesar
de o progresso tecnológico ter criado novos postos de trabalho, muitos não se
enquadram neste perfil, por não atenderem às expectativas das empresas, e não
possuírem especialização suficiente, e isso acarretou um dos piores problemas
sociais do Brasil, que é o aumento do desemprego. A concorrência entre as
empresas e a busca pela permanência no mercado levam as empresas a
acompanhar o progresso de modernização que o mundo vem passando desde a
década de 70. O aumento da produtividade passou a ser inerente ao processo de
produção de empresas e indústrias.
Nesse contexto pós-real, a modernização se tornou mais sólida, intensa. Um
dos objetivos desse plano (facilitar que indústrias estrangeiras entrassem no
mercado nacional para diminuir os preços internos) fez com que o parque nacional
despertasse para o atraso e buscassem o rumo da globalização. Processos
produtivos obsoletos foram abandonados e novas técnicas mundiais foram
adotadas, que muitos autores definem como poupadoras de mão-de-obra. Para os
novos empregos criados com base na modernização são necessários operários
capacitados para operar máquinas e desempenharem inúmeras funções, o que não
é a realidade do povo brasileiro.
26
O processo para todos se habituarem a esta nova era globalizada e
modernizada é longo, e enquanto isso, de um lado vagas não são preenchidas e de
outro, trabalhadores ficam sem serviço.
Por fim, observou-se que o comportamento do mercado de trabalho foi
influenciado tanto por questões políticas (Plano Real), como também por novas
formas de produção (avanço tecnológico).
27
REFERÊNCIAS
BRANDÃO, Nilson. Importações de bens de capital, 2006. Disponível em <http://www.sindlab.org.br> Acessado em 20/09/2007.
CAMPOS, Vicente Falconi. TQC: Controle da Qualidade Total (no estilo japonês).8ª edição. Editora EDG. Belo Horizonte, 1999.
CANUTO, Otaviano. Comércio Exterior. Disponível em <http://www.mre.gov.br> Acessado em 17/09/2007.
CARDOSO, Fernando Henrique. 7 anos do Real (1999-2002).
DEPARTAMENTO INTERSINDICAL DE ESTATÍSTICA E ESTUDOS SÓCIO-ECONÔMICO <http://www.diesse.gov.br>
FERRETTI, Celso João; ZIBAS, Dagmar M. L. (org.). Novas Tecnologias, trabalho e educação. 9ª edição. Editora Vozes, Petrópolis, RJ, 2003.
FUNDAÇÃO SISTEMA ESTADUAL DE ANÁLISE DE DADOS <http://www.seade.gov.br>
Importação de bens de capital já substitui produtos nacionais. 07 de março de 2006. Disponível em <http://www.vermelho.org.br> Acessado em 21/11/2007.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA <http://www.ibge.gov.br>
INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA <http://www.ipeadata.gov.br> acessado em 30 de abril 2008.
LEITE, Márcia de Paula. Modernização tecnológica e relações de trabalho, pág. 36-50. In: ZIBAS, Dagmar M. L. (Org.) Novas Tecnologias, trabalho e educação. 9ª edição. Editora Vozes, Petrópolis, RJ, 2003.
MACEDO, Mariano de Matos. Gestão da Produtividade nas empresas. Disponívelem < http://www.fae.edu/intelligentia/artigos/lerArtigo.asp?lngIdArtigo=1215&lngIdArea=179> Acessado em 30/07/2007
MERCADANTE, Aloizio (org.). O Brasil pós-Real: a política econômica emdebate. Campinas, SP, UNICAMP. IE, 1998.
OLIVEIRA, Rosemar Cristina de. O Plano Real e seus Reflexos. Disponível em: < http://www.univap.br/biblioteca/hp/Mono%202001%20Rev/019.pdf>. Acesso em: 28 de Janeiro de 2008.
POCHMANN, Márcio. Produtividade e Emprego no Brasil dos anos 90. Disponível http://www.eco.unicamp.br/artigos Acessado em 30/10/2007.
28
SANDRONI, Paulo. Dicionário de Economia do século XXI. Rio de Janeiro, EdRecord, 2005.
SANTOS, Chico. Bens de Capital. Disponível em http://www.ipea.gov.br Acessadoem 10/02/2008.
TAVARES, Maria da Conceição. Importações de bens de capital e crescimento.Publicado pelo jornal O Globo, 1997.
WALTON, Richard E. Tecnologia de Informação: O uso de TI pelas empresasque obtêm vantagem competitiva/Richard E. Walton; tradução Edson Luiz Riccio.São Paulo: Atlas, 1993
WEISE, Márcia Regina. O Comportamento da Indústria de Bens de Capital apóso Plano Real. Rev. FAE, Curitiba, v.3, p. 31-38, set./dez 2000.
29