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XI Salão de Iniciação Científica – PUCRS, 09 a 12 de agosto de 2010
XI Salão de
Iniciação Científica PUCRS
Relações de Trabalho estabelecidas dentro do Grupo Gerdau no
período de 1942-1945.
Tatiane Bartmann, Luciano Aronne de Abreu (orientador)
Faculdade de História, PUCRS.
Resumo
A presente pesquisa tenciona estudar as relações de trabalho estabelecidas no interior
do grupo Gerdau, considerando o modo de organização da empresa e suas possíveis relações
com os valores trazidos por um imigrante alemão cujo objetivo é aventurar-se no mundo dos
negócios. Possivelmente as políticas autoritárias do período do Estado Novo juntamente com
os valores germânicos ligados a disciplina, influenciaram no andamento da Gerdau. Norbert
Elias refere-se ao “ethos Guilhermino”, este conceito demonstra as origens do espírito
guerreiro e aburguesado que, segundo ele, estão presentes na sociedade germânica e as quais
possuem expressão nas relações entre patrão e trabalhador. É importante para este trabalho
analisar em que medida o fator étnico influenciou o desenvolvimento industrial do Rio
Grande do Sul para se compreender melhor como se deu a industrialização do estado sul-
riograndense.
Introdução
O papel do setor exportador nas economias periféricas em comparação com os
paises desenvolvidos difere pelo caráter de dependência existente na função de
produção. Segundo Maria da Conceição Tavares (dentre outros importantes
pesquisadores sobre a economia dos países periféricos) a intenção produtiva dos países
subdesenvolvidos como o Brasil era a monocultura em larga escala para a exportação,
não havia a preocupação com a criação de um mercado interno que trouxesse maior
estabilidade para a economia brasileira. Assim, o desenvolvimento econômico do
Brasil ocorre de forma dependente às exportações.
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Obedecendo aos percalços externos como, por exemplo, a Primeira Guerra
Mundial, a Crise de 29 e a Segunda Grande Guerra, o Brasil vai sofrendo
interferências significativas em sua produtividade de maneira não linear. Se por um
lado, guerras externas atuam como barreira protecionista para o mercado nacional
fazendo com que a produtividade, que anteriormente era ociosa, volte suas atenções ao
mercado interno, por outro lado, prejudica a capacidade de importar bens de capital
para a expansão industrial.
O setor da economia brasileira de maior relevância produtiva voltada “para
fora”, no final do século XIX e início do XX, é o setor cafeeiro cuja capacidade de
acumulação de capital supera outros setores da economia. Uma maneira de entender a
industrialização do Brasil é considerá-la resultante da acumulação de capital da
cafeicultura que permitiu a inversão em capital industrial. É assim que Wilson Cano
explica a formação do centro dinâmico industrial no estado de São Paulo. É em São
Paulo que a imigração atua a fim de suprimir a necessidade de mão-de-obra negra,
ajudando, assim, a superar a estrutura arcaica do escravismo que impede estruturas de
desenvolvimento mais dinâmicas. Para mudar a visão preconceituosa que se tinha do
trabalho, principalmente do esforço físico, a imigração foi adotada.
Os imigrantes destinados aos núcleos cafeicultores diferem daqueles colonos
chegados ao Rio Grande do Sul com objetivos de ocupação territorial e valorização da
terra, visto que, muitos lotes cedidos aos colonos necessitavam desmatamento para que
depois, pudessem servir ao cultivo da terra. Os primeiros alemães aqui chegados
estavam envolvidos com o processo produtivo colonial e contribuíram para a
denominação do Rio Grande do Sul como “Celeiro do Brasil”. Analisando essa forma
de referir-se ao estado, nota-se a principal característica da economia sul-riograndense:
economia que visa abastecer o mercado interno da cafeicultura a fim de baixar o custo
de produção do café. É como fornecedor de gêneros alimentícios indispensáveis que o
Rio Grande do Sul impõe-se no mercado nacional e internacional.
A pecuária foi, durante longo período, o setor mais próspero da economia sul-
riograndense, mas, conforme explica Pesavento, a forma de organização pecuarista
não permitia que este setor dinamizasse o estado para o desenvolvimento capitalista.
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Dentre alguns fatores, levantados pela autora, para a ineficácia em criar condições para
o desenvolvimento capitalista, encontra-se a questão das grandes extensões de terras
para a produção de gado e o baixo emprego de mão-de-obra e distribuição de salários,
pois não eram necessários muitos empregados para tomar conta da lida no campo.
Assim, percebe-se que a pecuária não cria um mercado consumidor, ou seja, pessoas
com capacidade aquisitiva, questão importante para o desenvolvimento industrial.
Sendo assim, não é da pecuária que sairá o capital necessário para
investimentos industriais. O Rio Grande do Sul não possui um desenvolvimento
industrial semelhante ao desenvolvimento do centro econômico do país, visto que, não
ocorreu a transferência de capital da pecuária, produção de maior relevância até a
terceira década do século XX. Por outro lado, o capital individual atua para a formação
capitalista de desenvolvimento.
Neste contexto, o fluxo de imigrantes não cessa e dentre as levas de alemães
que chegam a região sul do Estado, encontra-se Johannes Heinrich Kaspar Gerdau
emigrante do Porto de Hamburgo (1869), fixa-se na Colônia de Santo Ângelo.
Trazendo consigo a visão de negócios empresariais existente em um país que estava
muito a frente do desenvolvimento econômico industrial do Brasil, ele envolve-se no
comércio e no loteamento de terras. O espírito empreendedor e a disciplina para lidar
com os negócios é característica de muitos imigrantes alemães que se instalaram no
Rio Grande do Sul e que encontram neste lugar, condições de crescer e prosperar em
investimentos industriais.
Analisando alguns aspectos cotidianos estabelecidos dentro do grupo Gerdau,
como por exemplo, almoços promovidos pra todos trabalhadores os quais também
possuem descendência germânica, percebe-se o espírito de comunidade da empresa.
Há certa condescendência entre aqueles que possuem um passado comum, uma origem
semelhante. Devido a carência de recursos do estado, é necessário que imigrantes
investidores que compartilham o mesmo intuito de desenvolvimento empresarial,
unam-se pela causa.
Dentre alguns aspectos que foram importantes a prosperidade da empresa
Gerdau, está o rigor moral e a severa disciplina característica germânica que remete ao
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“ethos Guilhermino” (conceito criado por Norbert Elias), trata-se de uma expressão
que demonstra as origens do espírito guerreiro e aburguesado que está presente na
sociedade germânica e que se expressa nas relações entre patrão e trabalhador.
Considera-se esta explicação válida para entender também atitudes como, por
exemplo, atender sempre ao horário corretamente, não se atrasar em hipótese alguma,
características relacionadas popularmente com valores herdados da moral germânica.
Metodologia
Primeiramente realiza-se uma revisão historiográfica a fim de verificar o que já
existe de obras escritas sobre o tema que objetivo estudar. Partindo para a coleta destes
dados, verifica-se a possibilidade de execução e a originalidade do trabalho a
desenvolver.
No presente momento da pesquisa, trabalha-se com a bibliografia selecionada a
fim de entender o processo de industrialização do Rio Grande do Sul, bem como,
encontrar possíveis relações desse desenvolvimento industrial com a imigração alemã
no estado.
É neste ponto do trabalho que se organizam os levantamentos de fontes
primárias como, por exemplo, regimentos de trabalho da empresa Gerdau. Realizam-se
contatos com o arquivo da Gerdau, situado na Avenida Farrapos, com o objetivo de
buscar fontes empíricas que demonstrem as condições da empresa e do trabalhador no
período de 1942-1945.
Na seqüência da pesquisa serão analisados os dados a fim de visualizar a
relevância destes para a resolução da problemática proposta. Só então parte-se para a
redação do trabalho.
Assim, penso não esgotar o tema trabalhado, mas, contemplar o estudo sobre a
industrialização do Rio Grande do Sul sempre tendo em vista o caso de uma grande
empresa que prosperou.
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Resultados (ou Resultados e Discussão) Tendo a pesquisa em andamento, os resultados não são conclusivos e não arrisco a exposição dos mesmos.
Conclusão
Percebe-se a peculiaridade da industrialização do Rio Grande do Sul com
relação ao centro do Estado (RJ, SP), bem como, a contribuição fundamental do empresariado
imigrante para organizações mais dinâmicas do sul do país. No entanto, há a necessidade de
muita pesquisa para que possamos responder com segurança se, de fato, existe a atuação dos
valores e do rigor disciplinar dentro da empresa Gerdau e se estes valores influenciam no
progresso da empresa. Assim, acredita-se que este trabalho permitirá o melhor entendimento
sobre a industrialização do Rio Grande do Sul efetuada pela iniciativa imigrante alemã.
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