Relações entre Lévi-Strauss e Ambientalismo e seus desdobramentos

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS MATHEUS FONTEBASSO RAMIRO MENIN RA: 553808 Turma A Trabalho final – Antropologia Contemporânea II

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Relações entre Lévi Strauss e ambientalismo, considerand

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SO CARLOSCENTRO DE EDUCAO E CINCIAS HUMANASDEPARTAMENTO DE CINCIAS SOCIAIS

MATHEUS FONTEBASSO RAMIRO MENIN RA: 553808Turma A

Trabalho final Antropologia Contempornea II

SO CARLOS2014

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Em diversas passagens das obras de Lvi-Strauss o autor se mostrou imensamente preocupado com questes relacionadas para com a natureza, assim como a situao em que as sociedades permeadas pelo capitalismo, necessariamente predatrias, se encontravam.Em sua crtica ao humanismo presente em sua obra Antropologia Estrutural II afirma que o mesmo, seja em sua proposta clssica originada na aristocracia da Renascena ou na da burguesia do sec. XIX, consistiam em colocar o ser humano como o centro das sociedades, lembrando que esse ser humano era restrito e especfico: homem, europeu, aristocrata ou burgus, ou seja, o humanismo at ento servia a interesses dos beneficirios que formavam a classe privilegiada. Alm disso, os humanismos tendiam a separar cada vez mais o homem da natureza, ocasionando numa imensa despreocupao tica para com todas outras formas de vida, tratando-as como que para mero uso das supostas necessidades humanas. Lvi-Strauss chegou a sugerir uma terceira forma de humanismo, na qual se usaria das tcnicas cientficas da etnologia, que busca compreender e aprender com culturas distantes, buscando uma reconciliao entre o homem e a natureza. E mobilizando mtodos e tcnicas tomadas de emprstimo a todas as cincias, para faz-los servir ao conhecimento do homem, a etnologia clama pela reconciliao do homem e da natureza num humanismo generalizado[footnoteRef:1] [1: LVI-STRAUSS, Claude. Captulo XV: Os trs tipos de humanismo In: Antropologia Estrutural II. Tempo Brasileiro: Rio de Janeiro, 1993 pag. 280.]

Em outro momento, mais especificamente no captulo XXII de O Olhar Distanciado, Lvi-Strauss refletiu sobre a liberdade da maneira como dada chegando a propor uma ampliao desse conceito a todas as formas vivas da natureza. Pode-se, ento, conceber um fundamento das liberdades cuja evidncia suficientemente forte a todos? S se descortina um, mas ele implica que a definio do homem como ser moral se substitua uma vez que seu carter mais evidente a do homem como ser vivo. Ora, se o homem comea por ter direitos ao ttulo de ser vivo, daqui resulta imediatamente que esses direitos reconhecidos humanidade enquanto espcie encontre os seus limites naturais dos direitos das outras espcies. Os direitos da humanidade cessam assim no momento preciso em que o seu exerccio pe em perigo a existncia de outra espcie[footnoteRef:2] [2: LVI-STRAUSS, Claude. Captulo XXII Reflexes Sobre a Liberdade. In: O Olhas Distanciado. Edies 70, 2010 pag. 375.]

No seu texto A Lio de Sabedoria das Vacas Loucas, aponta que os seres humanos levaram a separao para com a natureza ao extremo Eu diria que em decorrncia do capitalismo tal como suas adequaes e apropriaes em funo do mercado consumidor ocasionando, por exemplo, na Indstria da Carne. A ponto de alcanarmos males da modernidade como a converso de animais em laboratrio nutritivos[footnoteRef:3], nos quais seus resduos so reaproveitados para produo de rao para os mesmos, diminuindo assim o custo de alimentao dos animais desse suposto laboratrio, resultando em potencializao dos lucros. No entanto, esses abusos tambm possuem decorrncias espantosas, como a doena da vaca louca. [3: Comte dividia os animais em trs categorias: a primeira em animais de selvagens, a segunda os animais de laboratrios nutritivos destinados ao nosso consumo e a terceira a animais domsticos]

Nesse mesmo texto Lvi-Strauss sugere que chegar um dia em que a ideia predominante de uma alimentao carnvora/onvora, causar repulsa a maioria das pessoas: Pois chegar um dia em que a ideia de que os homens do passado, para se alimentar, criavam e massacravam seres vivos e expunham complacentemente sua carne em pedaos nas vitrinas inspirar por certo a mesma repulsa que, para os viajantes dos sculos XVI ou XVII, as refeies canibais dos selvagens americanos, africanos ou australianos.[footnoteRef:4] E que esse processo est sendo antecipado por conta de resultados da modernidade como a doena da vaca louca. [4: A lio de sabedoria das vacas loucas]

Tambm recusa o axioma de que a expanso da civilizao necessariamente uniformizara o planeta:Ao amontoar-se, como vemos hoje, em megalpoles to grandes como provncias, uma populao antes mais distribuda esvaziar outros espaos. Definitivamente abandonados por seus habitantes, esses espaos retornariam a condies arcaicas e neles, aqui e ali, as mais estranhas formas de vida se instalariam. Em vez de marchar para a monotonia, a evoluo da humanidade acentuaria os contrastes e criaria at mesmo novos, restabelecendo o reinado da diversidade. Rompendo com hbitos milenares, tal a lio de sabedoria que teremos um dia aprendido, talvez, com as vacas loucas.[footnoteRef:5] [5: A lio de sabedoria das vacas loucas]

Com base nessas informaes, possvel estabelecer comparaes entre os pensamentos de Lvi-Strauss e movimentos sociais ambientalistas/ecologistas tal como suas inmeras vertentes, tal como seus conceitos.Na sua proposio sobre liberdade j discorrida nesse texto, possvel identificar uma grande relao com o veganismo tico tanto como filosofia, quanto como sua utilizao em movimentos sociais. De modo geral, o veganismo prega de maneira tica os direitos dos animais a vida, que procura evitar o uso dos mesmos como propriedade atravs do no consumo de produtos de origens animais e o boicote a atividades e produtos considerados especistas O especismo um caro conceito a essas correntes, consiste no ponto de vista de que uma espcie, no caso a humana, tem todo o direito de explorar de inmeras formas outras espcies de vidas por atribuir valores inferiores a elas.Apesar de Lvi-Strauss no se engajar diretamente nesses movimentos, ele influenciou outras pessoas antroplogas que passaram a ser reconhecidas por movimentos ambientalistas em suas diversas vertentes, tal como se engajaram nos mesmos. Por exemplo, no agosto ltimo, Viveiros de Castro, junto da filsofa Dborah Danowski conceberam ume vento de cunho interdisciplinar objetivando uma reflexo geral sobre a mudana climtica e a crise ambiental global. Viveiros falaria, na ocasio, como a histria da espcie humana e a histria do planeta comeam a se confundir no que chamou de antropoceno. O capitalismo passar a ser um episdio da paleontologia[footnoteRef:6]. Como no ver nisso uma intensificao das perspectivas de uma atividade antropolgica que busca repensar as prprias fronteiras prticas entre natureza e cultura? [6: Em: < http://revistapiaui.estadao.com.br/edicao-97/despedida/esse-mundo-ja-era >. Acesso em: 10/11/2014]

At ento, falava-se que viveramos ainda o Holoceno, perodo desde a ltima glaciao. O termo Antropoceno reafirma a ideia de que a ao humana est mudando radicalmente a prpria geologia e estrutura do planeta, nesse sentido que pode se falar do capitalismo como um perodo da paleontologia: as mudanas atmosfricas, a exploso do carbono, a quantidade de plstico etc, vo pode ser rastreadas por centenas de anos no futuro, isso caracteriza um perodo paleontolgico nico, porque pela primeira vez a ao racional que o cria e o modifica.Dessa forma, fica explicita a influencia de Lvi-Strauss para com esses movimentos ambientalistas, mesmo que de maneira indireta atravs de outras pessoas que nele se influenciaram, por exemplo, Eduardo Viveiras de Castro.

Referncias Bibliogrficas

LVI-STRAUSS, Claude. Captulo XXII Reflexes Sobre a Liberdade. In: O Olhar Distanciado. Edies 70,

LVI-STRAUSS, Claude. Captulo XV: Os trs tipos de humanismo In: Antropologia Estrutural II. Tempo Brasileiro: Rio de Janeiro, 1993

LEVI-STRAUSS, Claude. A lio de sabedoria das vacas loucas.Em: . Acesso em: 10/11/2014

CASTRO, Eduardo Viveiros de. Claude Lvi-Strauss por Eduardo Viveiros de Castro. Em: . Acesso em: 10/11/2014

ESTEVES, Bernado. Esse mundo j era: Como viver o antropoceno. Em:. Acesso em: 10/11/2014