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1 Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13 th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X RELAÇÕES DE GÊNERO E FLUXOS SOCIOESPACIAIS DESIGUAIS DA ÁGUA NO MUNICÍPIO DE PARATY, RJ. Lívia Antunes Resumo: A temática da água é foco de análise de uma ampla rede de estudiosos, agentes políticos e econômico-sociais sofrendo, portanto, apropriações diversificadas influenciadas por diferentes construções culturais e cotas de poder. Por esse e outros motivos a água não pode ser tratada de modo isolado, como a racionalidade instrumental vem fazendo, é preciso que ela seja pensada enquanto território, isto é, cenário das contradições e desigualdades espaciais inerentes ao sistema capitalista ocidental. Muitos são os autores que se debruçam sobre essa árdua tarefa, numa tentativa de escapar de uma análise dicotômica entre sociedade e natureza. Esse esforço tem trazido resultados interessantes com consequente inserção de atores e cenários até então pouco contemplados, porém ainda são escassos os trabalhos que se preocupam com as relações de gênero nas análises dos fluxos desiguais da água. O presente trabalho procura trazer as relações de gênero para uma análise dos fluxos socioespaciais desiguais da água no município de Paraty, no Rio de Janeiro, entendendo que, assim como as relações de classe e "raça" determinam possibilidades de vivenciar e se apropropriar do espaço geográfico, as desiguais cotas de poder entre homens e mulheres também o fazem. Território de diversas comunidades tradicionais, Paraty é espaço concreto de lutas materiais e imateriais de caiçaras, sendo a mulher importante peça para entender a consolidação dos espaços de exclusão e, assim, dos territórios da água. Palavras-chave: fluxos desiguais da água, relações de gênero, territórios de exclusão, resistência feminina caiçara. Introdução O acesso aos recursos hídricos, assim como a qualquer outro recurso natural capitalizado, não se faz de maneira homogênea pelo contrário ele é, à priori, desigual, sendo sua distribuição parte de um sistema onde o "o fluxo de água expressa diretamente fluxos de poder entre os grupos sociais, assim como fluxos financeiros" (MACIEL COSTA, 2013). Nesse sentido e corroborando Acserald (2010), podemos dizer que a escassez é uma produção social que se dá, consequentemente, através de uma esfera simbólica e não somente pela despossessão material. No entanto, não somente a escassez da água é sentida de forma singular por cada agente ou grupo social. O acesso a uma água de qualidade também é direcionado pela mesma lógica e a distribuição dos rejeitos e proveitos de um sistema hídrico denuncia uma geografia desigual da água. Desse modo é preciso pensar a água enquanto território, isto é, "enquanto inserção da sociedade na natureza com todas as suas contradições implicadas no processo de apropriação da natureza pelos homens e mulheres por meio das relações sociais e de poder" (Porto-Gonçalves , 2005, pXX). Isso demonstra a importância de um pensamento geográfico que dê conta do território-água. Muitos são os autores que se debruçam sobre essa tarefa, numa tentativa de escapar de uma análise dicotômica entre sociedade e natureza. Contudo, mesmo com considerável ampliação de possibilidades de análise do território-água, ainda é muito tímida a ocorrência de estudos que considerem as relações de gênero nas análises dos fluxos desiguais da água. Em um grande número

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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

RELAÇÕES DE GÊNERO E FLUXOS SOCIOESPACIAIS DESIGUAIS DA ÁGUA NO

MUNICÍPIO DE PARATY, RJ.

Lívia Antunes

Resumo: A temática da água é foco de análise de uma ampla rede de estudiosos, agentes políticos e econômico-sociais

sofrendo, portanto, apropriações diversificadas influenciadas por diferentes construções culturais e cotas de poder. Por

esse e outros motivos a água não pode ser tratada de modo isolado, como a racionalidade instrumental vem fazendo, é

preciso que ela seja pensada enquanto território, isto é, cenário das contradições e desigualdades espaciais inerentes ao

sistema capitalista ocidental. Muitos são os autores que se debruçam sobre essa árdua tarefa, numa tentativa de escapar

de uma análise dicotômica entre sociedade e natureza. Esse esforço tem trazido resultados interessantes com

consequente inserção de atores e cenários até então pouco contemplados, porém ainda são escassos os trabalhos que se

preocupam com as relações de gênero nas análises dos fluxos desiguais da água. O presente trabalho procura trazer as

relações de gênero para uma análise dos fluxos socioespaciais desiguais da água no município de Paraty, no Rio de

Janeiro, entendendo que, assim como as relações de classe e "raça" determinam possibilidades de vivenciar e se

apropropriar do espaço geográfico, as desiguais cotas de poder entre homens e mulheres também o fazem. Território de

diversas comunidades tradicionais, Paraty é espaço concreto de lutas materiais e imateriais de caiçaras, sendo a mulher

importante peça para entender a consolidação dos espaços de exclusão e, assim, dos territórios da água.

Palavras-chave: fluxos desiguais da água, relações de gênero, territórios de exclusão, resistência feminina caiçara.

Introdução

O acesso aos recursos hídricos, assim como a qualquer outro recurso natural capitalizado, não

se faz de maneira homogênea pelo contrário ele é, à priori, desigual, sendo sua distribuição parte de

um sistema onde o "o fluxo de água expressa diretamente fluxos de poder entre os grupos sociais,

assim como fluxos financeiros" (MACIEL COSTA, 2013). Nesse sentido e corroborando Acserald

(2010), podemos dizer que a escassez é uma produção social que se dá, consequentemente, através

de uma esfera simbólica e não somente pela despossessão material. No entanto, não somente a

escassez da água é sentida de forma singular por cada agente ou grupo social. O acesso a uma água

de qualidade também é direcionado pela mesma lógica e a distribuição dos rejeitos e proveitos de

um sistema hídrico denuncia uma geografia desigual da água.

Desse modo é preciso pensar a água enquanto território, isto é, "enquanto inserção da

sociedade na natureza com todas as suas contradições implicadas no processo de apropriação da

natureza pelos homens e mulheres por meio das relações sociais e de poder" (Porto-Gonçalves ,

2005, pXX).

Isso demonstra a importância de um pensamento geográfico que dê conta do território-água.

Muitos são os autores que se debruçam sobre essa tarefa, numa tentativa de escapar de uma análise

dicotômica entre sociedade e natureza. Contudo, mesmo com considerável ampliação de

possibilidades de análise do território-água, ainda é muito tímida a ocorrência de estudos que

considerem as relações de gênero nas análises dos fluxos desiguais da água. Em um grande número

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de estudos as mulheres aparecem enquanto pertencentes a grupos sociais "periféricos", vistos de

maneira homogênea, o que não deixa aparente uma participação desigual destas no acesso a

recursos do território.

O presente estudo procura trazer as relações de gênero para uma análise dos fluxos

socioespaciais desiguais da água, entendendo que assim como as relações de classe e "raça"

determinam possibilidades de vivenciar e se apropriar do espaço geográfico, as desiguais cotas de

poder entre homens e mulheres também o fazem.

As mulheres, ao serem historicamente confinadas em espaços privados, como o dos

domicílios, ficam desfavorecidas na concorrência pelos espaços ditos públicos e/ou de poder.

Contraditoriamente, estas são, nestes espaços reduzidos, as maiores administradoras das tarefas e

rotinas caseiras. São elas que, diariamente, cozinham, lavam, abastecem as despensas, educam os

filhos, lidam com os problemas de infraestrutura e vivenciam situações cotidianas de falta de água e

luz entre outros serviços básicos.

A figura do homem chefe de família, quando presente nesse sistema institucional,

geralmente desenvolve ações pontuais na residência e ainda é, percentualmente falando, o principal

responsável pela maior parcela de dinheiro que adentra a economia doméstica. Mesmo hoje, quando

boa parte das mulheres trabalha e/ou executa outras atividades externas, ainda são estas que que

passam mais tempo em função da manutenção e funcionamento da casa e do sistema familiar.

Em relação à gestão da água nos domicílios é comum ficar à cargo da mulher, no seu papel

de mãe e dona de casa o transporte - quando necessário- armazenamento e uso desse recurso. Nesse

sentido a água pode ser vista não somente como elemento essencial à vida, como um todo, mas

também como elemento essencial ao funcionamento do ambiente familiar que acaba sendo, na

prática, gestionado pelas mulheres.

Nas comunidades tradicionais são as mulheres e crianças as que mantém uma maior relação

social e simbólica com a água, evidenciando, assim, a relevância que a divisão sexual do trabalho

desempenha nos fluxos desiguais da água.

Cenários de mulheres e crianças andando por várias horas em busca de água não são raras

no mundo, demonstrando o quão é afetado esse público e o papel que assumem na gestão

da água (HORA et al. 2012).

Por causa dessa relação direta com a água, seja a que sai das torneiras das casas ou recolhida

de rios, poços e reservatórios as mulheres desenvolveram, ao longo do tempo histórico e nos mais

diversos territórios, técnicas e estratégias para buscar, armazenar e usar esse recurso.

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Tais estratégias são, assim como outras atividades naturalizadas como femininas ligadas ao

trabalho do cuidado, (Falquet, 2015) apropriadas por um sistema mercadológico de gestão dos

recursos hídricos que, ao mesmo tempo que utiliza um conhecimento sociocultural historicamente

engendrado nas relações comunitárias matriarcais (ou ditas femininas), não dá possibilidade de

inserção dessas atoras nos espaços públicos, ao não somente desconsiderar essa participação e

demanda na formulação de leis e agendas socioambientais mas também ao privilegiar

explicitamente os homens nos cargos de Gestão da iniciativa privada ou nas esferas do Poder

Público.

Esse círculo vicioso acaba por reforçar uma vulnerabilidade que não pode ser entendida

somente através de variáveis como classe social ou "raça". Analisar as relações socioespaciais

desiguais dos fluxos da água exige não somente a consideração do elemento social gênero, mas a

colocação de tal categoria como uma variável indispensável para o entendimento da construção

social dos territórios e dos conflitos de interesses envolvidos. Assim como a Geografia crítica

procurou interpretar o espaço geográfico e as apropriações deste através de uma visão crítica às

relações socioespaciais capitalistas, a Geografia do Gênero pretende contemplar uma análise dos

territórios através das relações de poder entre homens e mulheres, sem, obviamente,

descontextualizar esses cenários com as históricas lutas classistas (Martinez et al., 1995).

Na perspectiva de apontar as outras relações de poder estabelecidas na produção do espaço é

que acreditamos ser importante o estudo das relações de gênero pela ciência geográfica. Nesse

sentido é objetivo central desse estudo analisar de que forma as relações de gênero contribuem nos

fluxos socioespaciais desiguais da água, traduzidos pela criação ou fortalecimento de territórios de

exclusão marcados pelas contradições entre acesso e distribuição. O recorte espacial epistemológico

escolhido é o do município de Paraty, ao sul do estado do Rio de Janeiro. Vale ressaltar que por se

tratar de um trecho de pesquisa realizada no âmbito do curso de doutorado em Geografia da UFRJ o

que será apresentado abaixo não traz resultados finais mas o princípio de uma discussão frutífera

que pode ser desenvolvida ao longo do projeto em questão.

Caracterização metodológica e da área de estudo

Como estamos propondo uma leitura da água enquanto território foi indispensável uma

revisão bibliográfica acerca do conceito de forma mais geral o que nos levou a Rogério Haesbaert

(2004), Agripino Souza (2009) e Milton Santos (1979; 1994; 1996). Junta-se a essa revisão

bibliográfica aquela que diz respeito, mais especificamente, ao território-água, sendo de suma

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importância os trabalhos de Porto-Gonçalves (2001; 2004; 2005), Maria Angélica Maciel Costa

(2013), Gisela Aquino Pires do Rio (2004;2005;2009) e Antônio Carlos Diegues (2005; 2007).

Sendo a proposta do presente estudo uma análise das relações socioespaciais desiguais dos

fluxos da água através da variável territorial gênero, se faz indispensável a discussão do conceito de

Geografia do Gênero entendida como " aquella que examina las formas en que los processos

socioeconómicos, políticos y ambientales crean, reproducen y transformam no sólo donde vivimos

sino también las relaciones sociales entre los hombres y mujeres que alli viven y, también, a su vez,

estudia cómo las relaciones de genero tienen un impacto en dichos procesos y en sus

manifestaciones en el espacio y en el entorno" (Little et al, 1988, p. 2).

Dessa maneira são contribuições teóricas autoras que ao longo da história da produção do

conhecimento científico se preocuparam com a colocação das relações desiguais entre homens e

mulheres, como Ana Sabaté Martinez et al (1995), Ruth Paneli (2004), Helena Hirata (2015), Little,

J. (1986; 1988), Ruth Vieira (2010), entre outras.

É com esse olhar que se pretende "ler" as relações desiguais dos fluxos de água do

município do Paraty (imagem 1), em visitações às comunidades e realização de pesquisa in loco

através do método da observação participante. De acordo com Becker (1997), a observação

participante se faz através de: a) recolhimento de informações com a participação do pesquisador

em momentos importantes do grupo e organização que este estuda; b) observação do

comportamento das pessoas diante de um determinado fato; e c) incitação de conversas com alguns

ou com todos os participantes do evento afim de desvendar as interpretações que eles têm sobre os

acontecimentos que o pesquisador observou.

Para essa etapa mais empírica, realizada em conjunção com revisão bibliográfica, estão

previstas ações que objetivam a construção de uma Cartografia Social, com realização de

questionários e entrevistas com as mulheres das comunidades estudadas, além do incentivo a

reuniões inter-comunitárias e confecção de mapas temáticos através da ferramenta ArcGis e Spring

em parceria com a APA Cairuçu e a Secretaria de Meio Ambiente de Paraty, sendo essas

ferramentas utilizadas para auxiliar as atividades ligadas às comunidades contempladas.

Imagem 1: Localização do

município de Paraty

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Fonte: Google, 2016.

A água vista em seus múltiplos territórios e composta de uma multiterritorialidade.

Figura em um imaginário comum, quando falamos de água, imagens contraditórias de lindas

cachoeiras e/ou nascentes limpas, por um lado e de rios poluídos e terras secas e "mortas" por outro.

É claro que realizando aqui esse exercício é preciso um certo grau de generalização. O que

queremos colocar é que as imagens relacionadas à água que guardamos e reproduzimos certamente

refletem, de alguma maneira, nossa vivência e apropriação sociocultural deste recurso.

Desse modo, água não pode ser entendida como um recurso natural somente, ela é isso e

também "capital", ela é força que movimentava os primeiros moinhos da Inglaterra da Revolução

Industrial e, portanto, vista por muitos como parte de um sistema produtivo. A água é também

aquela do ciclo "natural", em forma de nuvens, precipitação e evaporação. Ela está em nossos

corpos numa proporção altíssima e inserida em quase todos os produtos que consumimos, seja ele

industrializado ou agrícola.

É ainda mais interessante pensar na fluidez da água. Ao passo que podemos pensar nos

tantos cursos d' água existentes, é importante também tentar visualizar os caminhos que a água faz

para chegar aos seus consumidores.

Isso levanta uma questão essencial nas discussões acerca da temática dos recursos hídricos.

Se cada grupo ou indivíduo social, imbricado em suas construções socioculturais e cotas de poder,

se apropria de forma desigual dos recursos naturais, dentre deles a água, é indispensável pensá-la

considerando sua geograficidade, isto é "na inserção concreta da sociedade na sua geografia, com

suas diferentes escalas" (Porto-Gonçalves, 2005) e desigualdades territoriais.

A água, vista como território, tem um caminho geográfico bem estabelecido e não é,

necessariamente, à jusante, mas na direção daqueles grupos sociais que podem pagar por ela

(Maciel Costa, 2013). Ela é marcada pelas contradições do sistema capitalista e sua mercantilização

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envolve discursos de escassez que acabam por tornar seu(s) território(s) ainda mais complexos e

acirrados, seja quando pensamos em seu arranjo "interno", se é que isso é possível, seja quando

pensamos nos múltiplos territórios (relações de poder) que se sobrepõem e/ou perpassam seus

"limites".

É nesse sentido que busca-se nesse trabalho analisar as contradições territoriais da água

através de uma relação de poder um tanto desvalorizada nos estudos geográficos, a relação de

gênero, numa tentativa de reinterpretação dos fluxos geográficos desiguais da água inseridos nas

relações hierárquicas patriarcais.

A discussão sobre o território não é, de maneira nenhuma, nova na Geografia. Pelo

contrário, diversos são os autores que se debruçaram sobre a temática afim de entender as relações

de poder que se dão no espaço-vivido. No entanto, uma grande parte dessas discussões trazem uma

noção de território que exclui os recursos naturais numa confirmação de uma dicotomia entre

sociedade e natureza. Temos uma clara noção de que os múltiplos territórios "incluem" os recursos

naturais mas ainda é "falha" a tarefa de entender determinados recursos, como a água, por exemplo,

como um território que está em sobreposição com tantos outros, material e simbolicamente. Esse

exercício é essencial para que nos afastemos de uma noção naturalizadora da água, ao mesmo

tempo que podemos discutir os discursos de escassez que justificam delimitações físicas e criação

de novos territórios.

De acordo com Raffestin (1993), não podemos entender um recurso, seja ele qual for, como

uma coisa abstrata, uma materialidade isolada, ele é "uma relação cuja conquista faz emergir

propriedades necessárias à satisfação de necessidades" socialmente construídas e dotadas de

relações de poder, "como um meio para atingir um fim". Tais relações são mutáveis no espaço-

tempo vivido, entendido como um território complexo e cheio de multiplicidade e diversidade

funcional e/ou simbólica (Haesbaert,2004).

Segundo essa lógica, o próprio espaço-vivido, ou seja, o território em si pode ser lido como

um recurso, uma forma de abrigo que fornece além de "proteção", alimentos e condições de

reprodução sociocultural. É sobre (e nele) o espaço-vivido que se dão as práticas religiosas,

econômicas e políticas, pra não falar daquelas que são, comumente, naturalizadas. Vale dizer,

inclusive, que o reconhecimento desse espaço-vivido se dá exatamente pelas complexas relações

que o formam ou dão sentido para os atores sociais que o compõem, traduzidas pelos objetos-

conteúdo (Santos, 1986).

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Isso traz à tona uma importante questão sobre a temática. Aqueles que não se vêem nesse

"desenho" ou não têm suas necessidades satisfeitas ou mesmo não são aceitos na circunscrição

"delimitada" são, portanto, desterritorializados?

Se as territorialidades clássicas – inclusive a do Estado-nação, tal como foi

concebido dentro do que Foucault denomina ‘poder soberano’ – indicavam uma

distinção mais clara entre o dentro e o fora, o mesmo e o diferente, o ‘nativo’ e o

estrangeiro, cabe destacar, finalmente, que se trata agora de uma des-ordem

territorial marcada muito mais pela ambigüidade, onde o próprio processo que

construímos para ‘conter’ o outro, na verdade ‘nos contém’ e onde o ‘outro’ –

como no caso dos grandes fluxos migratórios Sul-Norte – está cada vez mais no

‘nosso’ território, do nosso lado (Haesbaert, 2004, p. 118)

Esse termo já foi discutido amplamente por diversos geógrafos, mas foi Rogério Haesbaert o

maior contribuinte nas discussões que questionam o uso deste. Para o autor, ao mesmo passo que

ocorrem movimentos sociais de desterritorialização se dão outros novos processo de

reterritorialização, dando início a um processo que ele chama como "des-re-torialização", "uma vez

que não é possível, nem individual, nem socialmente ter-se a ausência de alguma forma de

territorialidade" (Haesbaert, 2004).

O que nos traz à linha de raciocício que queremos aqui seguir. A água entendida como um

território que sofre, portanto, diversas apropriações influenciadas por também múltiplas construções

socioculturas que fazem dela, inclusive, ter diversos usos simbólicos e materiais e "formas"

geográficas diferenciadas já foi, historicamente, objeto e palco de disputas e conflitos e,

consequentemente, de processos que poderiam ser entendidos como de desterritorialização.

Não precisamos ir muito longe, só pensar nos inúmeros povos que são retirados do lugar de

onde vivem muitas vezes, por gerações, pra dar espaço a imensas barragens de usinas hidrelétricas,

ou daqueles que, vivenciando grandes intervalos de "tempo" seco em regiões do semi-árido

brasileiro, precisam se deslocar frequentemente à procura de água para satisfazer as demandas mais

básicas de dessedentação. Nesses dois exemplos há a figura da mulher como ator social central.

Desse modo o termo desterritorialização pode ser entendido como uma "fase" de um

processo maior, de um contexto materialista histórico que funcionaliza e refuncionaliza a lógica

espacial geográfica de acordo com os interesses do mercado ou da "falta" de políticas públicas

sociais, promovendo, em diferentes escalas de tempo e espaço, des-re-torializações.

Análise dos fluxos desiguais da água no Município de Paraty através das relações de gênero.

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O município de Paraty se encontra na divisa do estado do Rio de Janeiro e São Paulo e é

internacionalmente conhecido pelo seu centro histórico e suas paisagens de beleza singular. Os

turistas que procuram a cidade geralmente estão atrás de um "turismo ecológico" com vivência em

ambientes tradicionalmente caiçaras, quilombolas e/ou indígenas. Famosos são também seus

centenários engenhos de cachaça e os inúmeros festivais culturais que movimentam a economia

local ao longo do ano.

Mas nem só de cachaça e festivais vive o município. Atualmente Paraty se encontra entre as

cinco cidades mais violentas do estado e o tráfico comanda cada vez mais territórios, ampliando

seus domínios para além das "periferias". Os índices de saúde são considerados abaixo do

adequado, segundo o Ministério da Saúde (2015), e há locais, como Trindade, onde não há nenhum

tipo de tratamento do esgoto, o que tem ocasionado mortes infantis por diarréia crônica (Prefeitura

de Paraty, 2015) e agravado conflitos na região já marcada por históricas disputas fundiárias. Suas

muitas comunidades rurais e costeiras vivem na ausência de diversos serviços básicos, entre eles o

fornecimento regular de água.

No ano de 2014 foi firmada uma parceria público-privada com a Águas de Paraty,

ramificação da empresa Águas do Brasil, responsável, atualmente, pelos serviços de água e

saneamento básico em diversas cidades brasileiras, como Manaus, Petrópolis, Niterói e Votorantim

(Águas do Brasil, 2016).

Tal parceria foi uma tentativa de ampliar os serviços de abastecimento e tratamento da água

no município com sérios problemas na rede e abarca uma espacialidade de 34 bairros do Distrito-

sede (Prefeitura de Paraty, 2016). Apesar de ser uma cidade pequena, com cerca de 4O mil

habitantes (IBGE, 2016), a ocupação de Paraty é espacialmente ampla e muitas comunidades estão

há quilômetros de distância umas das outras. Há também áreas "isoladas" na região costeira onde só

se chega de barco e com poucas habitações, o que dificulta a implantação de sistemas tradicionais

de drenagem e saneamento básico pelo fator físico da distância do centro do município e, em outra

escala de análise, pela ausência de vantagem política e/ou econômica.

Sabe-se que o que faz com que empresas privadas adentrem no setor dos serviços de água e

saneamento básico, em detrimento da "falta" de capacidade das prefeituras em realizar tais serviços

de responsabilidade da esfera municipal, é a possibilidade de reaver seus investimentos através da

cobrança pela água encanada e limpa. Locais onde residem poucas pessoas ou a distância

geográfica demanda maiores investimentos não são, na lógica do mercado, áreas interessantes.

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Esse sistema vai desenhando ou mesmo intensificando uma geografia desigual dos fluxos da

água que corre na direção daqueles grupos sociais que podem pagar pelo acesso a um recurso que

até pouco tempo atrás era tratado, em muitas comunidades, como um território de uso comum.

Populações inteiras que centenariamente fizeram a gestão de seus territórios, inclusive do

território-água, e que desenvolveram técnicas comunitárias para isso, tem se visto obrigadas a

desapropriar espaços simbólicos e funcionais para a introdução de um sistema produtivo que os

coloca na posição de consumidor. É a responsabilização do ator social uma das características mais

marcantes do processo de privatização dos serviços de água.

Em uma região de populações majoritariamente costeiras e rurais onde as disputas

territoriais se traduziam, geralmente, por conflitos fundiários causados pela desapropriação de terras

para a implantação de Unidades de Conservação ou de condomínios de luxo e empreendimentos

turísticos, com consequente deslocamento das populações originárias (a maioria de origem indígena

e caiçara) para bairros do Distrito-sede, o fator cobrança de água pode ser interpretado enquanto

agravante e mesmo vetor de modificação do padrão espacial já conturbado.

Nesse sentido é importante o questionamento de como se dava o consumo da água

anteriormente a esse processo de cobrança pelos serviços de água nas comunidades afetadas e como

este tem acontecido, considerando, com base nas discussões teóricas apresentadas no seio da

Geografia do Gênero, os rebatimentos sobre a classe feminina e as implicações territoriais

correlatas.

A cobrança de água nos 34 bairros do Distrito-sede atinge de maneira desigual as mulheres?

De que maneira? Essas são apenas algumas questões a serem trabalhadas ao longo do projeto.

Uso das relações de gênero para analisar os fluxos socioespaiais desiguais da água em Paraty.

As perguntas lançadas no tópico acima apenas nos levam a um outro grupo de

questionamentos e essa inquietação é material de produção para buscar entender como as mulheres

são afetadas pelas contradições de um sistema de acesso e distribuição de água intrisecamente

desigual. Ou, por outro lado, como este grupo social pode trazer contribuições para a construção de

um discurso contra-hegemônico e, nesse sentido, de territórios e territorialidades não

homogeinizadoras.

Como colocado acima em diversos momentos, a busca de uma análise da água enquanto

território torna necessária a exposição e consideração de uma gama de elementos e atores sociais

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em seus conflitos de interesses e disputas territoriais funcionais e/ou simbólicas e,

consequentemente as oportunidades que cada grupo ou indivíduo tem para se lançar nas disputas.

O município de Paraty como um todo, no que diz respeito ao acesso à água, nunca enfrentou

grandes problemas, no entanto quando pensamos o acesso a uma água de qualidade, tratada e,

consequentemente, adequada para consumo, isso se torna uma questão, principalmente na zona

costeira e rural. Segundo o IBGE (2016) nessas áreas moram cerca de 9.000 pessoas, com uma

distribuição demográfica bastante irregular. Existem comunidades caiçaras da região costeira, como

a Ponta Grossa, que são constituídas por menos de 100 núcleos familiares. Nessas localidades mais

afastadas e menos povoadas, o território não é coberto pela PPP Águas de Paraty e o serviço de

água é feito por uma empresa tercerizada em contrato com a Secretaria de Obras do município. No

entanto, em visita a algumas localidades dessa região, como a Ponta Grossa, Praia do Sono,

Quilombo do Campinho, Trindade, Saco do Mamanguá, etc., pode-se perceber que, muitas vezes,

os sistemas de reservamento e/ou distribuição da água são criados, mantidos e geridos pelos

próprios moradores, principalmente pelas mulheres, que ficam à cargo dos serviços domésticos

enquanto os homens saem para trabalhar na pesca, como caseiros das casas de veraneio, ou em

atividades turísticas, como o transporte de barco.

Essa relação existente entre as mulheres e as territorialidades e múltiplos territórios que

entrecruzam o território-água do município de Paraty, mas, principalmente nessa zona rural e

costeira onde há, notoriamente, uma maior proximidade tanto com as fontes d'água quanto de

formas menos convencionais de gestão desse recurso, demonstram um espaço de leitura

epistemológica e reforçam a necessidade de insersão da variável gênero nos estudos acerca da

temática da água.

A relação gênero e água revela o papel desempenhado pelas mulheres como

principal responsável na busca e acesso da água (...) No entanto nota-se que as

mulheres têm, historicamente, exercido menor influência que os homens, na análise

dos problemas, na tomada de decisões e na definição das políticas públicas,

incluindo aquelas relacionadas aos recursos hídricos (VIERA, 2010, p. 68).

Há, nisso, uma notória relação contraditória que está não somente contida nas também

contraditórias relações socioespaciais do sistema capitalista ocidental, mas também na histórica

construção social patriarcal que naturaliza certas funcões enquanto femininas, como as do cuidado e

dos serviços domésticos e/ou comunitários, quando pensamos em comunidades rurais ou

tradicionais.

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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

O território-água, visto sob a òtica da Geografia do Gênero pode ser inspirador para

processos de reterritorialização e utilizado, inclusive, para recriar "sentimentos" de apropriação

distintas e de resistência à mercantilização e homogeinização da água.

Essa é uma visão que procura pensar os fuxos socioespais desiguais através do território-

água em conjunção com as territorialidades de gênero. Dessa maneira acredita-se que podemos,

inclusive, dar enfoque a processos de reterritorialização que são formas de resistência contra os

tantos processos espaciais de homogeinização e mercantilização da água.

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Gender relations and unique water socioespacial flows in the municipality of Paraty

Astract The theme of water is the focus of analysis of a wide network of scholars, political and

socio-economic agents, and therefore suffer diversified appropriations influenced by different

cultural constructions and dimensions of power. For this and other reasons water can not be treated

in isolation, as instrumental rationality has been doing, it must be thought of as territory, that is,

scenery of the contradictions and spatial inequalities inherent in the Western capitalist system.

There are many authors who address this arduous task in an attempt to escape from a dichotomous

analysis of society and nature. This effort has brought interesting results with consequent insertion

of actors and scenarios hitherto little contemplated, but there are still few studies that are concerned

with gender relations in the analysis of unequal flows of water. The present work seeks to bring

gender relations to an analysis of the unequal socio-spatial flows of water in the city of Paraty, Rio

de Janeiro, understanding that, just as the relations of class and "race" determine possibilities of

experiencing and appropriating space Inequalities of power between men and women also do so.

Territory of several traditional communities, Paraty is a concrete space of material and immaterial

struggles of caiçaras, being the important woman to understand the consolidation of the spaces of

exclusion and, thus, of the water territories.

Keywords: unequal flows of water, gender relations, territories of exclusion, female resistance

caiçara.