Relações entre conformismo e utopia -...

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Nº21 1º Semestre de 2009 Revista FACOM Resumo Abstract 1 Cultura e Contracultura 1 O conceito polêmico de geração é um conceito marxista. Mas não leninista, e sim lennonista. Adeus, Lênin, bem-vindo Lennon! O marxismo-leninismo morreu, viva o marxismo-lennonis- mo! 2 E falar em geração é falar em geração baby-boom. Aquela geração que nasceu no imediato pós-II Guerra (meados dos anos 1940, início dos 1950) e que hoje já passou pela experiência do poder em várias partes do mundo. E como professor baby-boomer, nascido em 1951, sempre digo orgulhoso aos meus alunos, até com certa empáfia, que pertenço a uma geração totalmente mais: mais alta, mais bonita, mais ousada, mais inteligente, mais revolucio- nária, mais criativa. E mais mentirosa também!... 3 A geração baby-boomer está ultrapassando a maturidade. Cantada nos versos de Pete Tow- shed, do The Who, - em My generation (1967): “I hope I die before I get old” (espero morrer an- tes de ficar velho), a geração dos que nasceram e se formaram no contexto da Guerra Fria, da aventura espacial, da revolução científica e tecnológica, da emergência do rock, da revolução The sixties counterculture relationship with culture is the same between the germany concept Bildung and Kultur, between the utopy and conformism. . Keywords: Counterculture, utopy, cultural policy. A relação da contracultura dos anos 1960 com a cultura como a mesma relação que se estabelece en- tre os conceitos de cultura em alemão: Bil- dung versus Kultur, entre a utopia e o conformismo. Palavras-Chave: Contracultura, utopia, política cul- tural. Martin Cezar Feijó Para minha filha Beatriz, aquariana. “I hope I die before I get old” - Pete Towshed, The Who, My Generation (1967) “Se vestem como Tarzan, têm o cabelo de Jane, mas cheiram como a Chita” - Ronald Reagan, então governador da Califórnia, referindo-se aos hippies (1967). Relações entre conformismo e utopia

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Resumo Abstract

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Cultura e Contracultura1

O conceito polêmico de geração é um conceito marxista. Mas não leninista, e sim lennonista. Adeus, Lênin, bem-vindo Lennon! O marxismo-leninismo morreu, viva o marxismo-lennonis-mo!2 E falar em geração é falar em geração baby-boom. Aquela geração que nasceu no imediato pós-II Guerra (meados dos anos 1940, início dos 1950) e que hoje já passou pela experiência do poder em várias partes do mundo. E como professor baby-boomer, nascido em 1951, sempre digo orgulhoso aos meus alunos, até com certa empáfia, que pertenço a uma geração totalmente mais: mais alta, mais bonita, mais ousada, mais inteligente, mais revolucio-nária, mais criativa. E mais mentirosa também!...3 A geração baby-boomer está ultrapassando a maturidade. Cantada nos versos de Pete Tow-shed, do The Who, - em My generation (1967): “I hope I die before I get old” (espero morrer an-tes de ficar velho), a geração dos que nasceram e se formaram no contexto da Guerra Fria, da aventura espacial, da revolução científica e tecnológica, da emergência do rock, da revolução

The sixties counterculture relationship with culture is the same between the germany concept Bildung and Kultur, between the utopy and conformism. .

Keywords: Counterculture, utopy, cultural policy.

A relação da contracultura dos anos 1960 com a cultura como a

mesma relação que se estabelece en-tre os conceitos de cultura em alemão: Bil-

dung versus Kultur, entre a utopia e o conformismo.

Palavras-Chave: Contracultura, utopia, política cul-tural.

Martin Cezar Feijó

Para minha filha Beatriz, aquariana.

“I hope I die before I get old”- Pete Towshed, The Who,

My Generation (1967)“Se vestem como Tarzan,têm o cabelo de Jane, mas cheiram como a Chita”- Ronald Reagan, então governador da Califórnia, referindo-se aos hippies (1967).

Relações entre conformismo e utopia

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sexual, da luta pelos direitos civis, e que pude-ram testemunhar, ou até participar ativamen-

te, de transformações importantíssimas, que até hoje assustam conservadores

de vários tons e ideologias. E parte desta geração, não toda,

nem a maioria, mas a mais barulhen-ta, espalhafatosamente vestida, ou es-

candalosamente despida, fez parte de um movimento cultural que merece uma

abordagem histórica sem preconceitos ou comentários superficiais e tendenciosos. Um

grupo pequeno que propunha – mesmo que te-nha reunido quase meio milhão de pessoas em um único evento, o Festival de Woodstock no ve-rão de 1969, Estado de Nova York, EUA - uma mudança radical de valores e sentimentos e que acreditava num futuro melhor. Revolucionário, enfim. Até já se disse que a diferença entre o conser-vador e o revolucionário é que o conservador é pessimista com relação ao futuro e otimista com relação ao passado. O revolucionário, também independentemente do que advoga, e da forma como - se violenta ou pacífica, se no terreno das idéias ou da ação -, se caracteriza exatamente por uma profunda confiança (quase sempre de forma exagerada) na capacidade humana em construir a própria história. É o que está na base de todas as utopias, para o bem e para o mal. Para o conservador, o melhor da história já ocor-reu. E num passado, preferencialmente remoto, anterior à Revolução Francesa. Normalmente, o conservador é um “crítico das utopias” em nome de uma aparentemente sagrada lucidez.

No fundo, e nem sempre assumido, é um nostálgico da Idade Média, quando as mulheres e servos “sabiam” seu papel social. Para o revolucionário, por seu lado, a His-tória está por se fazer, o que não tem pro-blema algum, nem se pode dizer ser uma afirmação inconsistente. O problema está em sua crença, a de que a história de-pende “profundamente” dele, quando não “exclusivamente”. Neste sentido, um tanto ampliado, é tão revolucionário um Stalin, que tentou fazer história a machadadas (como a que desabou sobre a cabeça de Trotsky, outro revolucionário, por exemplo) quanto um Henry Ford, para quem a Histó-ria não importava, só o presente.Portanto, os conceitos aqui não são em-pregados com sentido político-ideológico, seja afirmativo ou negativo, mas no sen-tido em que seus agentes o entenderam, mesmo que equivocados. E o papel da ge-ração baby-boom que assumiu um papel social transformador teve uma especifici-dade histórico-cultural.O objetivo deste texto, como parte de uma pesquisa mais ampla, é abordar uma uto-pia que esteve presente numa busca a uma alternativa à Guerra Fria, a que di-vidia o mundo em dois sistemas político-ideológicos: o capitalista e o comunista. E esta alternativa recebeu vários nomes, mas pode ser sintetizada e historicamente analisada por um conceito: contracultura. Mas a utopia da contracultura não pode

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Cena do musical “Hair”

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ser compreendida sem a cultura, da qual faz par-te, mesmo que a negando. E utopia aqui entendido em seu sentido original, de u-topos, de não-lugar, o lugar não existente, a ser construído pela vontade histórica. Mesmo que possa adquirir o sentido em que o senso comum o atribui: como o sonho impossível de se realizar, como uma perda de tempo de sonhadores, ou fa-náticos, sem noção de realidade, como mito a ser desmistificado. O mesmo que dizem os céticos com relação a qualquer crença, a qualquer reli-gião, a qualquer, em suma, utopia. Utopia vista como sonho, no sentido de John Lennon deu quando respondeu a quem o cha-mava de sonhador no sentido pejorativo em “Imagine: “but I’m not only one” (“mas eu não sou o único”). Ou como o “I have a dream” (“eu tenho um sonho”) de Martin Luther King. Há um otimismo na utopia assim como há pes-simismo na distopia. Ambos como parte de uma cultura, seja em que sentido for.

Conceito de cultura

O conceito de cultura é um conceito polissêmico, flexível e complexo. Cultura pode ser vista tanto do ponto de vista da antropologia – cultura como regra -, como do Aufklärung alemão: Bildung - cultura como exceção. Do ponto de vista da an-tropologia – Kultur em alemão – tem mais um sentido de Civilização, como algo pronto, defini-do. Tem relação com identidade – de um povo, de uma etnia, de uma tribo, de uma classe – e seu peso sobre os corações e mentes é decisivo como alertou Marx sobre “os mortos governando os vivos”. Kultur, também em alemão, tem rela-ção com o Zeitgeist, o espírito do tempo. Foi este sentido que Freud deu ao seu O mal-estar da civilização - em alemão, Das Unbeha-gen in der Kultur, (publicado em 1930), e muitas vezes traduzido para o português como O Mal-estar na cultura, o que é não somente compre-ensível, como correto, embora impreciso quanto à existência de outro conceito em alemão mais consistente e mais moderno. Freud dá um sen-tido ao conceito mais antropológico, da cultura como norma, costume e regras dominantes, e como se manifestam no mundo moderno, mes-mo que ele distinga com muita precisão os ter-mos Kultur e Zivilization.4

Bildung: formação intelectual, moral e estética

Já o conceito de Bildung, surgido no Aufklärung alemão, no Iluminismo da época de Kant, Goethe e Hegel, implica em uma relação com a cultura no plano mais individual, mais privada, mais sub-jetiva, tendo a ver com educação, mais propriamente formação5: formação inte-lectual, moral e estética. Um princípio ilu-minista que procura especificar bem três aspectos decisivos quanto à contribuição individual a um quadro cultural.- Formação intelectual quanto a uma cultu-ra obtida formalmente, cultivada, ligada ao papel da escola na transmissão do conhe-cimento. Mas racional e lógica, em suma. - Formação moral, que se aproxima do conceito de Kultur, tendo relação com identidade, com valores que não são ne-cessariamente transmitidos, e nem teria como, pela escola, e sim pela família, in-cluindo nisto o papel da religião. - E, por fim, formação estética, não ape-nas quanto aos critérios artísticos, mas principalmente quanto ao gosto, que não se aprende apenas na escola ou na esfera privada, mas principalmente na experiência de vida fora desses ambientes. Estética aqui não vista como uma categoria inte-lectual de juízo artístico, mas com relação a sua origem etimológica do grego aeste-sia: sentir na pele, mobilizar todos os sen-tidos na relação com o prazer do que se vê, se ouve, se come, se cheira ou se toca.Na formação intelectual, a ciência; na for-mação moral, os valores; na formação es-tética, a percepção. Cultura como regra de um lado, como pos-sibilidade de subversão do outro. Era este o verdadeiro sentido, mesmo que assus-tador, que lhe dava o dramaturgo nazista Hans Jhost, ao afirmar que quando ouvia a palavra cultura, logo carregava seu revól-ver, assim como foi este que o banqueiro norte-americano Nelson Rockefeller, paro-diando o nazista após a II Guerra, quando afirmou que ao ouvir a palavra cultura logo pegava seu talão de cheques!...

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Embora profundamente diversos; o nazista e o capitalista, e seus peculiares e específicos mo-dos ideológicos, haviam compreendido bem o significado da palavra cultura. O primeiro em sua truculência contrária a liberdade que a cultura representa; o segundo ao estabelecer com uma sutil graça que tudo passa a ser determinado pe-las leis do mercado, o que acabou mesmo ocor-rendo no momento que a cultura como Bildung se transformou em cultura como Kultur, a regra vencendo a exceção.

Contracultura

Contracultura foi o nome que recebeu a rebelião de jovens na segunda metade da década de 60 do século XX, principalmente jovens universitá-rios norte-americanos de classe média que se recusavam a cumprir serviço militar em função da Guerra do Vietnã. Buscando uma vida alter-nativa, também criavam uma nova música e ne-gavam uma sociedade de alta tecnologia e so-ciedade de consumo correspondente. O que permitiu a emergência desta categoria social – os jovens – foram as transformações decorrentes do pós-guerra. Eric Hobsbawm cha-ma o período de “era dourada”, pois foi marcada por um desenvolvimento econômico sem pre-cedentes, permitindo não apenas consolidar os Estados Unidos como potência mundial, mas a reconstrução da Europa e o enfrentamento do subdesenvolvimento na América Latina. No Bra-sil, o governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961) implantou um Plano de Metas que permi-tiu a instalação da indústria automobilística e a construção de Brasília, apesar do alto endivida-mento externo. A explosão demográfica, conhecida como baby-boom, foi fruto de uma euforia decorrente do otimismo, refletido em números, do período que sucedeu a grande catástrofe. Foi neste período que se consolidou a televisão como utensílio

doméstico, incluindo vários outros, entre eles a máquina de lavar roupas, tida re-centemente pela Igreja Católica como a verdadeira responsável pela “emancipa-ção” da mulher no século XX, e não a pí-lula anticoncepcional.6 O crescimento econômico permitiu o sur-gimento de uma nova, e ampliada, classe média nas áreas metropolitanas, e não apenas nos países desenvolvidos. São os filhos dessa nova classe média, tão bem estudada por C. Wright Mills (intelectual tão importante para a sociologia norte-americana quanto Florestan Fernandes para a brasileira), que vão formar o “exér-cito”, em que pese a ironia, dos batalhões do flower power. Formados pela televi-são, tiveram acesso a uma informação mais variada e escolaridade ampliada, inclusive com o fim da separação entre sexos nas escolas tanto no ensino médio quanto no universitário. Com mais tempo, mais informação e mais dinheiro, passa-ram não só a consumir quanto questionar a sociedade de consumo. Surge assim a categoria social do jovem; consumidor de um lado, sim, mas tam-bém pronto para exigir seus direitos de cidadania. Não se trata, portanto, nem de mito, nem de bobagem sociológica, mas de uma nova configuração histórica com todas suas conseqüências. Uma delas, o protesto contra a cultura de seus pais, do american way of life aos li-mites de um etnocentrismo WASP (bran-co, anglo-saxão, protestante). A contracultura é, neste sentido básico, uma criação norte-americana, considera-se parte de um sonho americano, e in-fluenciou jovens no mundo todo, inclusive no mundo comunista, apesar das restri-ções de informações.

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Um ato de rebeldia contra as normas vigentes em todos os níveis: intelectuais, morais e estéticos. Uma revolução cultural mais do que política, ape-sar das grandes conseqüências políticas. No Brasil, um intelectual teve importância decisiva na divulgação desta tendência: Luís Carlos Maciel, inicialmente através de uma coluna no semanário O Pasquim, intitulada Underground, posteriormen-te na tentativa de criar publicações próprias.7 Nos três níveis de uma Bildung, os militantes da contracultura refletiam, atuavam e cantavam: no plano intelectual, podiam tanto se dizer inspira-dos em pensadores como Herbert Marcuse ou Nietszche. Escritores da Beat generation, como o On the road de Jack Kerouac (que está viran-do filme dirigido pelo brasileiro Walter Salles), ou o Uivo de Allen Ginsberg, assim como o inglês Aldous Huxley (principalmente o de The doors of perception), também tiveram um importante destaque. Podiam ainda se fundamentar nas pesquisas de uma antropóloga como Margareth Mead junto às comunidades de Samoa, no Pacífico sul, nos anos 1920,8 que demonstrava a possibilidade antropológica de uma vida sexual livre, o que fundamentava um novo plano moral para o mo-vimento hippie.9O que demonstra que contracultura não signi-ficava um movimento antiintelectual, a favor da ignorância, mas contra a cultura dominante, a favor de uma nova cultura, em todos os níveis, uma cultura alternativa. No plano estético, o importante papel desempenhado pela música,

através da enorme inventividade e talento de várias bandas, cantores e guitarristas que se revelavam através do rock.10O historiador Eric J. Hobsbawm, em seu já clássico Era dos Extremos, assim defi-niu o contexto em que intitulou de “Revo-lução Cultural “:

“A cultura jovem tornou-se a matriz da revolução cultural no sentido mais am-plo de uma revolução nos modos e cos-tumes, nos meios de gozar o lazer e nas artes comerciais, que formavam cada vez mais a atmosfera respirada por homens e mulheres urbanos. Duas de suas caracte-rísticas são, portanto, relevantes. Foi ao mesmo tempo informal e antinômica, so-bretudo em questões de conduta pessoal. Todo mundo tinha que “estar na sua”, com o mínimo de restrição externa, embora na prática a pressão dos pares e da moda im-pusesse tanta uniformidade quanto antes, pelo menos dentro dos grupos de pares e subculturas.” 11

Um produto importante da contracultura foi o musical Hair, que está sendo remon-tado na Broadway neste ano de 2009, o que comprova a atualidade ou mesmo a nostalgia daquele movimento. A peça Hair trazia uma novidade aos palcos tra-dicionais: era uma ópera-rock. Hair foi um projeto dos atores Gerome Ragni e

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Cena do musical “Hair”

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James Rado, com música de Galt MacDermot, que teve sua estréia off-Broadway em outubro de 1967 no Teatro Público de Joseph Papp, em Nova York. Seu sucesso imediato permitiu ir para a Broadway em abril de 1968, ficando quatro anos em cartaz, com sucesso absoluto, com quase duas mil apresentações em Nova York e com nú-meros semelhantes por onde foi montada, como em Londres, por exemplo. No Brasil, Hair foi dirigida por Ademar Guerra (1933-1993) já em 1969, ficando dois anos em cartaz, também com sucesso.12 Um mito marcava a peça, o mito que o movi-mento hippie incorporou como utopia, a do início de uma nova Era, a Era de Aquário (ver letra de “Aquarius” no Box), que segundo alguns hippies e astrólogos, amadores ou profissionais, teve seu início no dia 14 de fevereiro de 2009, ao en-cerramento da Era de Peixes, dos dois mil anos de mensagem cristã. A crença na Era de Aquário vem sendo ridicula-rizada por vários intelectuais céticos, o que não deve surpreender. Desde Aristóteles, passando por Rousseau, sabemos que a diferença entre ficção e história, arte e ciência, está entre a mentira verossímil e o verossímil comprovado. Enquanto a verdade da ciência deve ser confir-mada pela pesquisa empírica, a verdade da poe-sia está na verdade que pode haver na mentira. A Era de Aquário pode ter sido uma invenção que um picareta do tipo Aleister Crowley (guru que Paulo Coelho esconde e John Lennon co-locou na capa do Sgt. Peppers) promoveu e se autopromoveu, mas sua incorporação na performance coletiva conhecida como movimen-to Hippie foi uma atitude estética com toda carga de utopia (no sentido exposto acima) que merece respeito como qualquer crença, por mais ingênua que seja, e que se torna problemática quando vira ideologia, o que no caso da contracultura, seria um contrassenso.

O fim de um sonho?

Em 1970, John Lennon concedeu uma entrevista ao editor da revista Rolling Stone, Jann Wen-ner, que lhe perguntou, comentando a letra po-lêmica da música God, onde afirmava o famoso “The dream is over” (“o sonho acabou” 13): - Quando soube que estava caminhando para o verso “I don’t believe in Beatles” (eu não acredito nos Beatles)?

John Lennon respondeu que não sabia quando havia chegado ao fim de todas aquelas coisas em que antes acredita-va, e que os Beatles também haviam se transformado em um mito que ele não acreditava mais.14 Mas, curiosamen-te, foi um ano depois daquela entrevista que John Lennon gravou Imagine (1971), onde se declara “sonhador”, e que deu início a uma trajetória mais politizada e só encerrada com os tiros que recebeu de um suposto fã na porta de seu prédio, o Dakota, em Nova York.15 Vários outros fatos poderiam ser levanta-dos como indicações de um fracasso da utopia hippie16:- O massacre comandado pelo guru tido como hippie, Charles Manzon, na casa do cineasta Roman Polanski, onde várias pessoas foram assassinadas, incluindo sua mulher, a atriz Sharon Tate, grávida;- O festival de Altamont, na Califórnia, numa apresentação da banda Rolling Stones, quando um espectador negro, e armado, foi apunhalado por um Hell Angel’s, que fazia a segurança do festival por sugestão da própria banda, em de-zembro de 1969;- A radicalização armada de alguns gru-pos hippies e o aprofundamento da re-pressão no governo Nixon;

Aquarius

When the moon is in the Seventh HouseAnd Júpiter aligns with Mars

Then peace will guide the planetsAnd love will steer the stars

This is the dawning of the age of AquariusThe age of Aquarius

Aquarius!Aquarius!

Harmony and understandingSympathy and trust abounding

No more falsehoods or derisionsGolding living dreams of visions

Mysthic crystal revelationAquarius!Aquarius!

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- A transformação da distribuição de drogas numa indústria global de narcotráfico;- A absorção de um estilo de vida a uma indústria da moda e da sociedade de consumo tão criticada pelos hippies, entre outros.17 Mas a questão central do legado da contracultura vai além da piada do jornalista de que o legado de Woodstock foi o renascimento do piolho.18 Hoje, com a vitória de Barak Hussein Obama para presi-dente dos EUA, só para citar um exemplo represen-tativo, pode-se dizer que as lutas políticas da contra-cultura pelos direitos civis finalmente vêm obtendo resultados concretos e realistas, e que mesmo se a contracultura tenha sido absorvida pelo mercado (o que não é?), algumas questões ainda são importan-tes na agenda política, como diz o próprio Obama:

“A fúria da contracultura pode ter se dissi-pado mais em consumismo, opções de vida e preferências musicais do que em compro-metimento político, mas os debates relativos a questões raciais, guerra, pobreza e as rela-ções entre os sexos não avançaram”. 19

Portanto, a relação entre a utopia e o confor-mismo na contracultura implica na diferença entre uma posição aberta às transforma-ções sócio-culturais estabelecidas na agen-da político-cultural dos movimentos juvenis dos anos 1960, menos até do que uma pla-taforma política e ideológica de aspiração ao poder.

God(John Lennon, 1970)

God is a concept by which we measure our pain

God is a concept by which we measure our painYeah, pain yeah, pain

I don’t believe in magicI don’t believe in I ChingI don’t believe in Bible I don’t believe in Tarot I don’t believe in HitlerI don’t believe in Jesus

I don’t believe in Kennedy I don’t believe in Buddha I don’t believe in Mantra

I don’t believe in GitaI don’t believe in YogaI don’t believe in KingsI don’t believe in Elvis

I don’t believe in ZimmermanI don’t believe in BeatlesI don’t believe in Beatles

I just believe in meYoko and me

And that’s realityThe dream is over, what can I say

The dream is over yesterdayI was the dream weaver but I’m reborn

I was the walrus but now I’m JohnAnd so dear friends

you’ll just have to carry onThe dream is over

Imagine(John Lennon, 1971)

Imagine there’s no heavenIt’s easy if you tryNo hell below us

Above us only skyImagine all the people

Living for todayAha

Imagine there’s no countryIt isn’t hard to do

Nothing to kill or die forAnd no religion too

Imagine all the peopleLiving life in peace

Yoo-hooYou may say that I’m a dreamer

But I’m not the only oneI hope some day you’ll join usAnd the world will be as one

Imagine no possessionsI wonder if you can

No need for greed or hungerA brotherhood of manImagine all the peopleSharing all the world

Yoo-hooYou may say that I’m a dreamer

But I’m not the only oneI hope some day you’ll join usAnd the world will live as one

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E principalmente, no que tange a uma vida mais livre, mais natural e menos preconceituosa. Romântica e utópica. Romântica, mas no sentido que lhe dava o filósofo e naturalista Henry David Thoreau (1817-1862), ao criar o importante concei-to de “Desobediência Civil”20; tão bem apropriado, com resultados práticos em benefício da humani-dade, por líderes como Mahatma Gandhi, Martin Luther King e Nelson Mandela. Utópica, nos dois sentidos, mas alternativa, pelo menos existencial e esteticamente, a um conformismo dominante. Uma questão político-cultural, portanto. E que os versos do jovem Pete Towshend so-bre a própria geração que não queria morrer de velhice, que está fisicamente envelhecendo, mesmo tendo se livrado dos piolhos (até porque muitos cabelos caíram), possa significar não a morte do ainda jovem, mas a maturidade alerta e atualizada no século XXI, em que ainda, mais do que nunca, “é preciso estar atento e forte/ Não temos tempo de temer a morte/ Tudo é divino, maravilhoso”, como diz a letra de uma música histórica, e contracultural, de Caetano Veloso e Gilberto Gil na bela voz da bela Gal Costa, minha paixão juvenil.

1 Palestra realizada como parte do curso FAAP Humanité, em parceria com IDP (Instituto de Di-reito Público Brasiliense), Brasília, 01 de abril de 2009. 2 Marxismo-lennonismo, mas também poderia ser groucho-marxismo. Na verdade, uma forma metafórica e bem-humorada de quebrar um pouco a sisudez dos bancos acadêmicos. Sobre o groucho-marxismo, ver Bob Black. Groucho-marxismo. Tradução de Michele de Aguiar Vartulli. São Paulo: Conrad do Brasil, 2006.3 Em ciências humanas, não existe uma distinção clara entre fatores subjetivos e objetivos nas análises de processos sociais. O positivismo acreditou na pos-sibilidade de uma ciência pura, mas as contribuições intelectuais mais significativas na modernidade nun-ca esconderam suas principais motivações ideológi-cas. Ideológicos são sempre os outros, uma maneira desonesta de camuflar os próprios interesses. É do importante cientista social norte americano C. Wright Mills, que desenvolveu o conceito de “imaginação so-ciológica”, a pertinente observação de que condições sociais e intelectuais não excluem uma visão pessoal, sendo este um sentido “sobre a fusão de vida pessoal e intelectual” (Sobre o artesanato intelectual e outros ensaios. Tradução de Maria Luiza X. de A. Borges. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2009, pág. 28).

4 Sobre este livro de Freud, ver: Jacques Le Rider; Michel Plon e Gérard Raulet. Em torno de O mal-estar na cultura de Freud. Tradu-ção de Carmen Lúcia Montechi Valladares de Oliveira e Caterina Koltai. São Paulo: Escu-ta, 2002. E Jean-Michel Quinodoz. Ler Freud. Guia de leitura da obra de S. Freud. Tradução de Fátima Murad. Porto Alegre: Artmed, 2007, pp. 257-263. 5 Uma boa introdução ao conceito tal como está trabalhado aqui é dada pelo francês Vic-tor Hell: A idéia de cultura (São Paulo, Martins Fontes, 1994) e um desenvolvimento mais de-talhado em Dieter Schwanitzer: Cultura geral (São Paulo, Martins Fontes, 2006), Bildung no original. É bastante interessante a vida deste professor de história da cultura na Alemanha que teve de se aposentar para publicar sua obra principal porque quando na ativa ocupa-va seu tempo em preencher relatórios exa-tamente sobre sua produtividade (!). Morreu quando o livro foi publicado na Alemanha e não pode ver o sucesso que se tornou com mais de 2 milhões de livros vendidos. Ironias da academia!!!... Se num país desenvolvido isto ocorre, imagine num atrasado!...6 “Emancipação feminina em três velocida-des”. Revista da Semana. 19 de março de 2009, pp.10-11.7 No O Pasquim de 08 de janeiro de 1970, Maciel publicou um Manifesto Hippie, em que comenta a diferença de visões de mundo, es-tabelecendo um contraste entre o que chama de “velha razão” e “nova sensibilidade”. Uma análise desta comparação pode ser vista em Cláudio Novaes Pinto Coelho. “A contracultu-ra: o outro lado da modernização autoritária”. In: Anos 70: trajetórias. São Paulo: Iluminuras/ Itaú Cultural, 2005.pp.41-44. 8 Orientanda de Franz Boas na Universidade de Colúmbia, Nova York – mesma universida-de e mesmo orientador de Gilberto Freyre -, Margareth Mead (1901-1978) escandalizou meios acadêmicos e sociais quando sua tese sobre a vida sexual de jovens de Samoa foi publicada em 1928, com o título Coming of age in Samoa. Neste trabalho, que ganhou imediata repercussão, favorável ou desfavo-rável, a autora defendia que os jovens de Sa-moa viviam felizes, longe de tabus e repres-sões sexuais. Nos anos 1960 foi lido como possibilidade de uma vida sexual livre, e nos anos 1980 foi violentamente questionado por outro antropólogo, Derek Freeman, em plena Era Reagan, que considerou aquele trabalho um mito a ser destruído. Sobre esta polêmica,

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de encontro mais famoso dos hippies, foi ce-lebrado “A Morte do Hippie”, uma grande ma-nifestação que ironizava o fim do movimento. Cf. David Farber. “The Intoxicated State/Ille-gal Nation: Drugs in the Sixies Couterculture. In: Peter Braunstein & Michael William Doyle (orgs). Imagine Nation. The american counter-culture of the 1960s & 1970s. New York Rou-tledge, 2002, pg. 36. 17 Sobre isto, ver: Joseph Heath & Andrew Potter. Nation of rebels. Why Counterculture Became Consumer Culture. New York: Harper Collins, 2004.18 V. Ruy Castro. “O legado de Woodstock”. Opinião. Folha de São Paulo. 06/04/2009, A2.19 Barak Obama. A audácia da esperança. Reflexões sobre a reconquista do sonho ame-ricano. Tradução de Candombá. São Paulo: Larousse do Brasil, 2007, pág. 41. O presi-dente Obama também resgatou em início de seu mandato uma “utopia de um mundo sem armas nucleares” (Revista Veja. Edição 2108. 15 de abril de 2008, pp. 66-67.), uma agenda típica da contracultura.20 Sobre uma boa introdução ao conceito de Henry D. Thoureau, ver: Andrew Kirk. Deso-bediência civil de Thoureau. Tradução de Dé-bora Landsberg. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2008.

ADORNO, Theodor W. As estrelas descem à terra. A coluna de astrologia de Los Angeles Times. Um estudo de superstição secundária. Tradução de Pedro Rocha de Oliveira. São Paulo: Unesp, 2008. BLACK, Bob. Groucho-marxismo. Tradução de Michele de Aguiar Vartuli. São Paulo: Con-rad do Brasil, 2006.BRAUNSTEIN, Peter; DOYLE, Michel William (edtd.). Imagine Nation. The american coun-terculture of the 1960s & 1970s. New York: Routledge, 2002.FEIJÓ, Martin Cezar. “A Força da Imaginação ou o Blefe do Jogador. Espiritualidade e en-tretenimento na era da globalização”. Revista Facom. Revista da Faculdade de Comunica-ção da Fundação Armando Álvares Penteado. Nº 10. www.faap.br/publicações. _________________. O que é política cultu-ral. São Paulo: Brasiliense, 1983. (Coleção “Primeiros Passos”, vol. 107)FRIEDLANDER, Paul. Rock and Roll. Uma história social. Tradução de A. Costa. Rio de Janeiro: Record, 2002.

ver: Hal Hellman. Grandes debates da ciência. Tra-dução de José Oscar de Almeida Marques, 1999, pp. 227-246.9 Um detalhado relato sobre o comportamento sexual no período pode ser encontrado no trabalho do jorna-lista Gay Talese. A mulher do próximo. Uma crônica da permissividade americana antes da era da Aids. Tra-dução de Pedro Maia Soares. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.10 Uma história desta explosão estética pode ser vis-to em: Paul Friedlander. Rock and Roll. Uma história social. Tradução de A. Costa. Rio de Janeiro: Record, 2002.11 Eric J. Hobsbawm. “Revolução cultural”. In: Era dos extremos. O breve século XX. Tradução de Marcos Santarrita. São Paulo: Companhia das Letras, 1995, pág. 323.12 A montagem em São Paulo, apresentada inicial-mente no Teatro Bela Vista, foi depois para o Teatro São Pedro. Com o sucesso, inaugurou o Teatro Aqua-rius, no antigo Cine Rex, (que depois virou Teatro Záccaro, onde era gravado o programa de televisão Perdidos na Noite nos anos 1980., programa de Faus-to Silva, um programa (talvez não intencionalmente) um tanto contracultura que depois virou mainstream na Rede Globo de Televisão). A montagem paulis-ta de Hair foi por mim assistida, com o entusiasmo dos 20 anos, cabelos longos, rebeldia sem causa e calças rasgadas, umas dez vezes, acredito. Pode ter sido menos, mas lembro até das mudanças do elen-co, que tinha Altair Lima, Aracy Balabaniam, Antonio Fagundes, Sônia Braga, Ney Latorroca, Helena Ignês, entre outros. O elenco mudava quase sempre, mas em todas as vezes que assisti, Armando Bógus estava presente. Lembro-me também de ter lido no Pasquim, minha leitura preferida na época, um comentário ácido de Paulo Francis sobre a idade dos “hippies” da mon-tagem brasileira, considerados um pouco velhos para o papel de jovens hippies: “É que eles são hippies da 2ª Guerra...”13 É do brasileiro Gilberto Gil, na mesma época, os versos musicados: “O sonho acabou/Quem não dor-miu num sleep-bag/ nem sequer sonhou...”14 Rolling Stone – as melhores entrevistas da revis-ta Rolling Stone. Editadas por Jann S. Wenner e Joe Levy. Tradução de Emanuel Mendes Rodrigues. São Paulo: Larousse do Brasil, 2008, pág. 44.15 Sobre esta trajetória de John Lennon nos anos 1970, e a perseguição política realizada pelo Estado norte-americano do período, ver o filme The U.S. vs. John Lennon, David Leaf & John Schenfield, 2006. E uma biografia completa de Lennon em Philip Norman. John Lennon – A vida. Tradução de Roberto Muggiati. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.16 Em 06 de outubro de 1967, nas esquinas das ruas Haight-Ashbury, em São Francisco, Califórnia, ponto

Page 10: Relações entre conformismo e utopia - FAAPfaap.br/revista_faap/revista_facom/facom_21/martin.pdf · Martin Cezar Feijó Para minha filha Beatriz, aquariana. “I hope I die before

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Martin Cezar FeijóProfessor de Comunicação Comparada da FACOM-FAAP. Doutor em ciências da comuni-cação pela ECA-USP e historiador formado pela FFLCH-USP. Professor-pesquisador no programa de Pós-Graduação em Educação, Arte e História da Cultura na Universidade Presbiteriana Mackenzie (EAHC-UPM). Autor de vários livros.