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Relações Internacionais e Globalização DAESHR014- 13SB (4-0-4) Professor Dr. Demétrio G. C. de Toledo – BRI [email protected] UFABC – 2019.I Aula 2 6ª-feira, 15 de fevereiro

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Relações Internacionais e GlobalizaçãoDAESHR014- 13SB

(4-0-4) Professor Dr. Demétrio G. C. de Toledo – BRI

[email protected]

UFABC – 2019.I

Aula 2

6ª-feira, 15 de fevereiro

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Módulo I: Origens de nosso

Aula 2 (6a-feira, 15 de fevereiro): Conceitos fundamentais: globalização(ões),imperialismo(s) e hegemonias do capitalismo histórico

Texto base:

KOCHER, Bernardo, (2011) Globalização: Atores, ideias e instituições.

O’ROURKE, Kevin H. e WILLIAMSON, Jeffrey G. (2004) “Once more: When did globalisation begin?”, p. 23-47, http://www.tcd.ie/Economics/staff/orourkek/offprints/EREH2004.pdf

Textos complementares:

ARRIGHI, Giovanni. (2000) “As três hegemonias do capitalismo histórico”, p. 27-47.

AMIN, Samir (2005) “O imperialismo, passado e presente”, p. 77-123, http://www.scielo.br/pdf/tem/v9n18/v9n18a05.pdf

HARVEY, David (2004) “The ‘new’ imperialism: accumulation bydispossession”.

DOWRICK, Steve, DeLong, J. Bradford (2003) “Globalization and convergence”.

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Conceitos fundamentais: globalização(ões), imperialismo(s) e

hegemonias do capitalismo histórico

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Globalização(ões)

• O que é?

• Quando começou?

• O que se globaliza?

• Quem se beneficia?

• Como medir?

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Globalização(ões): O que é?

“Trata-se de um neologismo surgido nos anos 1980 eamplamente difundido na década seguinte. (...) Aexpressão é, num primeiro momento, uma dimensãoideológica da vitória do capitalismo sobre o comunismo.Saindo de cena o regime comunista surgia um mundoglobalizado. (...) Diríamos que tratamos de um paradigmasem teoria, utilizado para explicar todo e qualquer fato.Dada a inviabilidade de um consenso teórico procuraremoso significado da globalização refletindo sobre a necessidadedo seu uso – e não de sua essência – em função dastransformações que o capitalismo sofreu desde meados dosanos 1960”. (Kocher, 2011: 151)

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Globalização(ões): O que é?

“A globalização não é ainda uma realidade totalmentefactível, já que existem, por exemplo, inúmeras barreirasconcretas a uma livre circulação da força de trabalho e deprodutos agrícolas em diversos mercados. (...)Materializando-se apenas em algumas atividades (finanças,informações, comércio internacional de mercadoriasmanufaturadas, turismo etc.) a globalização tem sidodesde as suas origens mais um projeto do que umarealidade para a maioria dos seres humanos”. (Kocher:152-153, in Kocher 2011)

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Globalização(ões): O que é?

“(...) Para definir o momento atual em que se encontra aeconomia capitalista, prefiro falar de mundialização, que éum processo que implica que os elementos fundamentaisdesse sistema, como a lei do valor, a extração de trabalhoexcedente da classe operária, a obtenção de ganhos pelaclasse capitalista a partir da apropriação da mais-valiagerada pelo mundo do trabalho, são verdadeiramente ossuportes sociais e estruturais que estão sendo‘globalizados’, no sentido de que operam em escalamundial e simultânea em favor do capital e da classecapitalista em seu conjunto”. (Sotelo: 154, in Kocher, 2011)

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Globalização(ões): O que é?

“(...) Outro elemento que hoje é mais mundializado emrelação ao passado é o imperialismo entendido como asuperestrutura atual do modo de produção capitalista, sema qual esse modo fatalmente pereceria”. (Sotelo: 155, inKocher, 2011)

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Globalização(ões): O que é?

“Globalização é uma categoria muito utilizada naatualidade e não possui um significado único. É utilizadacomo sinônimo de mundialização e alude à eliminação dasfronteiras nacionais aos efeitos da atividade econômica. Éum conceito que, em geral, define a tendência crescente deabertura da economia mundial, favorecendo a circulação debens, serviços, capitais e, até certo ponto, pessoas.”(Gambina: 158, in Kocher, 2011)

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Globalização(ões): Quando começou?

“Is globalisation 50, 500 or 5.000 years old? Most economiststake the ‘big bang’ view, and think globalisation happenedvery recently. Most historians also take the big bang view, butpoint to globalisation in the distant past, citing famous dateslike 1492. We argued recently in this (O’Rourke andWilliamson 2002a) and another journal (O’Rourke andWilliamson 2002b) that both views are wrong. Instead, weargued that globalisation has evolved since Columbus, but thatthe most dramatic change by far took place in the nineteenthcentury.” (O’Rourke e Williamson, 2004: 109)

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Globalização(ões): Quando começou?

“Economically significant globalisation did not start with 1405and the first junk armadas heading west from China, or with1492 and Columbus sailing those little caravels west fromEurope, or with 1571 and the arrival in Manila of those statelygalleons from Mexico. Globalisation became economicallymeaningful only with the dawn of the nineteenth century,and it came on in a rush.” (O’Rourke e Williamson, 2004: 109)

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Globalização(ões): Quando começou?

• Andre Gunder Frank (1990), começo do sistema mundo:

“The origins of our present world system can and shouldbe traced back at least 5.000 years to the beginning of therelations between Mesopotamia and Egypt”. (Frank, 1990:228).

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Globalização(ões): Quando começou?

• Flynn e Giráldez (2004), começo da globalização:

“We propose that globalisation began when the Old Worldbecame directly connected with the Americas in 1571 viaManila”. (Flynn e Giráldez, 2004: 82).

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Globalização(ões): Quando começou?

Dowrick e DeLong (2003), eras da globalização:

• 1870-1913: 1ª era da globalização;

• 1914-1945: interregno, fechamento das economiasnacionais no entreguerras;

• 1945-2000: 2ª era da globalização.

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Globalização(ões): Quando começou?

Neste curso, adotaremos como data inicial do (atual) processo de

globalização os anos 1970

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Globalização(ões): Quando começou?

• Eventos marcantes do começo da globalização (segundo nossadefinição):

– Fim do Sistema Bretton Woods (1971, EUA acabam com aconversibilidade ouro-dólar); segue-se processo definanceirização e desregulação da economia mundial.

– Choques do petróleo (1973 e 1979), gerando inflação erecessão na economia mundial e o fim da era dourada decrescimento e convergência pós IIGM.

– Eleições de Margaret Thatcher (1979-1990) e Ronald Reagan(1981-1989), que implementam plataformas neoliberais.

– Choque de juros do FED em 1979 (comandado por PaulVolcker), resultando na crise da dívida da América Latina.

– Quinta Revolução Tecnológica - TIC.

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Globalização(ões): o que se globaliza?

• Capital

• Produtos agrícolas e manufaturados

• Serviços

• Mercadorias ilícitas

• Informação

• Tecnologia

• Conhecimento

• Pessoas

• Doenças

• Instituições

• O que mais?

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Globalização(ões): quem se beneficia?

• Globalização gerou convergência ou divergência entre asnações?

“Our historical narrative makes it clear that globalization of theeconomy does not necessarily imply global convergence.Periods of expansion of transport and trade and flows ofcapital and migrants have marked the development of a clubof convergent economies, but countries outside the club havefallen behind in relative terms even in eras of strong growth.Moreover, over the past two decades many countries havefallen behind, not just relatively but absolutely, in terms ofboth income level and structural development”. (Dowrick eDeLong, 2003: 2017)

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Globalização(ões): Como medir?

• Indicador discreto binário: presença ou ausência de fluxode x entre regiões, independentemente do volume?

• Indicador contínuo: a partir de que volume de fluxo de xpode-se falar em globalização?

• Tudo se globaliza com a mesma facilidade (por exemplo,capital e pessoas)?

• Grande ênfase na literatura sobre globalização emindicadores econômicos; não há, no entanto, consensosobre os indicadores mais adequados.

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Imperialismos

“Derived from the Latin word imperium, it refers to therelationship of a hegemonic state to subordinate states,nations or peoples under its control. An imperial policytherefore usually means a deliberate projection of a state'spower beyond the area of its original jurisdiction with theobject of forming one coherent political and administrativeunit under the control of the hegemon”. (The PenguinDictionary of International Relations, 1998, verbeteImperialism).

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Imperialismos

“Territorial expansion is an age-old phenomenon but in themodern world it is usual to identify two distinct phases: (a)mercantilist or dynastic imperialism which dates roughlyfrom 1492 to 1763 and which saw the Western hemisphereand much of Asia come under European control and (b)'new' imperialism 1870-1914, which witnessed thesubjugation by Europe of most of Africa and part of the FarEast. The period between is dormant in the sense thatdomestic issues such as balance of power, free trade,nationalism and the industrial revolution were the majorpreoccupation's of the European states.” (The PenguinDictionary of International Relations, 1998, verbeteImperialism).

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Imperialismos

“In contemporary usage the word has become politicizedand now denotes any form of sustained dominance by onegroup over another. 'Cultural', ‘economic’ or 'structural'imperialisms are phrases frequently used to describe moresubtle forms of relationship that do not involve overtpolitical control.” (The Penguin Dictionary of InternationalRelations, 1998, verbete Imperialism).

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Interpretações clássicas sobre o imperialismo, Mariutti (2013)

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• Interpretações liberais (John Hobson, Norman Angell,Joseph Schumpeter):

“O aspecto mais relevante das interpretações sobre oimperialismo que aqui qualificamos como ‘liberais’ é odestaque do peso que as forças ‘pré-capitalistas’ exerceramna expansão territorial que marcou a Era do Imperialismo.”(Mariutti 2013: 40)

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Interpretações clássicas sobre o imperialismo, Mariutti (2013)

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• Interpretações liberais (John Hobson, Norman Angell,Joseph Schumpeter):

“É evidente que, como tal procedimento tinha comoobjetivo dissociar o imperialismo do capitalismo, atendência foi mais no sentido de exagerar a influência dostraços ‘“pré-capitalistas’ do que em mostrar os processose as circunstâncias em que estas forças se amalgamaramcom os elementos ‘tipicamente’ capitalistas.” (Mariutti2013: 40)

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Interpretações clássicas sobre o imperialismo, Mariutti (2013)

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• Interpretações liberais (John Hobson, Norman Angell,Joseph Schumpeter):

“E, mesmo nos momentos onde este tipo de vínculoé estabelecido, a tendência é reforçar o caráter anômaloda situação, de modo a preservar o axioma básico de queo capitalismo, em sua forma pura (sic), não gerarianenhuma tendência ao imperialismo.” (Mariutti 2013:40)

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Interpretações clássicas sobre o imperialismo, Mariutti (2013)

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• Interpretações marxistas (Rosa Luxemburgo, Vladimir Lênin,Rudolf Hilferding, Nikolai Bukharin):

“O cenário é diferente no caso das interpretaçõesmarxistas. O vínculo entre a exportação de capitais e oimperialismo era um dos temas dominantes na passagemdo século XIX para o XX. Dentre os marxistas,predominantemente, a relação entre o capitalismo e oimperialismo era vista a partir desta ótica.” (Mariutti 2013:40)

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Interpretações sobre o imperialismodo século XIX, Mariutti (2013)

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• Interpretações marxistas (Rosa Luxemburgo, Vladimir Lênin,Rudolf Hilferding, Nikolai Bukharin):

“Em parte, isto se explicava pela necessidade deapontar as diferenças entre o imperialismo e ocolonialismo mercantilista e, simultaneamente, ressaltaro caráter crescentemente parasitário do capitalismoavançado.” (Mariutti 2013: 40)

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Imperialismo segundo Lênin (Imperialismo, fase superior do capitalismo, 1917)

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• Exportação de capitais dos países centrais para a periferia.

• Hegemonia do capital financeiro no modo de produçãocapitalista, a partir da fusão do capital bancário com oindustrial, sob domínio do primeiro.

• O imperialismo provoca o parasitismo especulativo, asguerras e o colonialismo. Mas ele não é o reflexo de umacondução errada do capitalismo. É um caminho naturaldeste, dada a monopolização do capital (sociedadesanônimas, ações, cartéis e monopólios) e a influênciacrescente deste na esfera do Estado.

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Imperialismos: Ellen M. Wood,imperialismo excedente”

“Pela primeira vez na história do Estado-nação moderno, asmaiores potências do mundo não estão engajadas numarivalidade geopolítica e militar direta. Essa rivalidade foiefetivamente deslocada pela competição à maneiracapitalista. Ainda assim, à medida que a competiçãoeconômica foi superando o conflito militar nas relações entreos principais governos, mais os Estados Unidos lutaram parase tornar o poder militar mais esmagadoramente dominanteque o mundo já viu.” (Wood, 2014/2003, O império do capital:109).

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Imperialismos: Ellen M. Wood, imperialismo excedente”

“Alguns poderiam chamar isso de ‘imperialismo excedente’(...) Esse é o paradoxo do novo imperialismo. É o primeiroimperialismo em que o poder militar foi criado não paraconquistar território nem para derrotar rivais. É umimperialismo que não busca expansão territorial nemdominação física de rotas territoriais. Ainda assim eleproduziu essa enorme e desproporcional capacidade militarcom um alcance global sem precedentes.” (Wood,2014/2003, O império do capital: 109).

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Imperialismos: Ellen M. Wood, imperialismoexcedente”

“O capital global necessita dos Estados locais. Mas, apesar de osgovernos que agem sob o comando do capital global seremtalvez mais eficazes que os antigos colonizadores, que nopassado levaram os imperativos capitalistas por todo o mundo,eles também geram grandes riscos. Em particular, estão sujeitosàs suas próprias pressões internas e forças de oposição; e seuspróprios poderes coercitivos podem cair nas mãos erradas,contrárias à vontade do capital imperial. (...) O capital global,liderado pelos Estados Unidos, não pode receber bem nemmesmo o tipo de mudança eleitoral que, no momento em queeste livro era finalizado [2003] ocorria no Brasil.” (Wood,2014/2003, O império do capital: 117)

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Imperialismos: novo imperialismo, acumulação porespoliação, David Harvey

“Global capitalism has experienced a chronic and enduringproblem of overaccumulation since the 1970s. (…) I interpretthe volatility of international capitalism during these years,however, as a series of temporary spatio-temporal fixes thatfailed even in the medium run to deal with problems ofoveraccumulation. It was, as Gowan argues, through theorchestration of such volatility that the United States sought topreserve its hegemonic position within global capitalism.”(Harvey, 2004: 64)

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Imperialismos: novo imperialismo, acumulação porespoliação

“The recent apparent shift towards an open imperialism backedby military force on the part of the US may then be seen as asign of the weakening of that hegemony before the seriousthreat of recession and widespread devaluation at home (…).But I also want to argue that the inability to accumulatethrough expanded reproduction on a sustained basis has beenparalleled by a rise in attempts to accumulate by dispossession.This, I then conclude, is the hallmark of what some like to call ‘the new imperialism’ is about.” (Harvey, 2004: 64)

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Samir Amin (2005): Imperialismo, passado e presente

“O título escolhido para as páginas que seguem (o imperialismo– passado e presente) refere-se diretamente à minha tesecentral, a saber, de que a expansão global do capitalismo foiimperialista em todas as etapas de sua história e assimpermanece por todo o futuro vislumbrável (enquanto osistema permanecer essencialmente fundado sobre a lógica docapitalismo).” (Amin, 2005: 82)

“O imperialismo, então, não é um estágio – nem mesmo oestágio supremo – do capitalismo. Ele é, desde a origem,imanente à sua expansão. A conquista imperialista do planetapelos europeus e seus filhos norte-americanos se desdobrouem dois tempos e dá início talvez a um terceiro.” (Amin, 2005:84)

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Samir Amin (2005): Imperialismo, passado e presente

“O primeiro momento desse desenvolvimento devastador doimperialismo foi organizado em torno da conquista dasAméricas, no quadro do sistema mercantilista da Europaatlântica da época (...) O segundo momento da devastaçãoimperialista foi construído com base na revolução industrial ese manifestou pela submissão colonial da Ásia e da África.‘Abrir os mercados’ e apoderar-se das reservas naturais doglobo eram as reais motivações, como é sabido hoje em dia (...).Estamos hoje nos confrontando com o início dodesenvolvimento de uma terceira onda de devastação domundo pela expansão imperialista, encorajada pela derrocadado sistema soviético e dos regimes do nacionalismo populistado terceiro mundo.” (Amin, 2005: 84)

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Hegemonias do capitalismo histórico (Arrighi, 2000)

• Principais conceitos:

– Soberania

– Dominação

– Hegemonia

– Anarquia ordenada

– Caos sistêmico

– Lógica territorialista

– Lógica capitalista

– Ciclos sistêmicos de acumulação (fases deexpansão material e expansão financeira)

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I

II

III

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Hegemonias do capitalismo histórico (Arrighi, 2000)

• Soberania: “reúne numa única instância o monopólio daforça num determinado território e sobre umadeterminada população”.

• Dicotomia soberania estatal – anarquia internacional:“Só onde existe o fenômeno de uma pluralidade deEstados soberanos é que se pode distinguir, em sentidoestrito, uma esfera de relações internas, ou seja,subordinadas à soberania, de uma esfera de RelaçõesInternacionais, isto é, desenvolvidas entre entidadessoberanas, não subordinadas a uma autoridadesuperior”.

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Hegemonias do capitalismo histórico (Arrighi, 2000)

• “O conceito de ‘hegemonia mundial’ (...) refere-seespecificamente à capacidade de um Estado exercerfunções de liderança e governo sobre um sistema denações soberanas. (...) O governo de um sistema deEstados soberanos sempre implicou algum tipo de açãotransformadora, que alterou fundamentalmente o modode funcionamento do sistema. (...) Esse poder é algomaior e diferente da ‘dominação’ pura e simples. É opoder associado à dominação, ampliada pelo exercícioda ‘liderança intelectual e moral’.” (Arrighi 2000: 27-28)

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Hegemonias do capitalismo histórico (Arrighi, 2000)

• “A dominação será concebida como primordialmentefundamentada na coerção; a hegemonia, por sua vez,será entendida como o poder adicional que éconquistado por um grupo dominante, em virtude de suacapacidade de colocar num plano ‘universal’ todas asquestões que geram conflito.” (Arrighi 2000: 28)

• “Um Estado dominante exerce uma função hegemônicaquando lidera o sistema de Estados numa direçãodesejada e, com isso, é percebido como buscando ointeresse geral.” (Arrighi 2000: 29)

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Hegemonias do capitalismo histórico (Arrighi, 2000)

• Dominação:

imposição por meio da força; coerção;

submissão; ausência de legitimidade

• Hegemonia:

dominação

+

consentimento; adesão consensual; liderança; persuasão; algum grau de legitimidade

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Hegemonias do capitalismo histórico (Arrighi, 2000)

“A ‘anarquia’ designa a ‘ausência de um governo central’.Nesse sentido, o moderno sistema de nações soberanas eo sistema de governo da Europa medieval, de que eleemergiu, classificam-se como sistemas anárquicos. Todavia,cada um desses dois sistemas teve ou tem seus própriosprincípios, normas, regras e procedimentos implícitos eexplícitos, que justificam nossa referência a eles como‘anarquias ordenadas’ ou ‘ordens anárquicas.’” (Arrighi2000: 30)

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Hegemonias do capitalismo histórico (Arrighi, 2000)

“O ‘caos’ e o ‘caos sistêmico’, em contraste, referem-se auma situação de falta total, aparentemente irremediável,de organização. (...) À medida que aumenta o caossistêmico, a demanda de ‘ordem’ – a velha ordem, umanova ordem, qualquer ordem! – tende a se generalizar cadavez mais entre os governantes, os governados, ou ambos.Portanto, qualquer Estado ou grupo de Estados que estejaem condições de atender a essa demanda sistêmica deordem tem a oportunidade de se tornar mundialmentehegemônico.” (Arrighi 2000: 30)

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Hegemonias do capitalismo histórico (Arrighi, 2000)

• Anarquia: ausência de um poder central, de um líder

• Anarquia ordenada: ausência de um poder central, masexistência de regras no sistema

• Hierarquia: existência de um líder, estrutura estratificadade poder (acima, abaixo, no mesmo nível)

• Caos: ausência total de regras

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Hegemonias do capitalismo histórico (Arrighi, 2000)

Arrighi descreve o capitalismo histórico como umasucessão cíclica de caos sistêmico, anarquia ordenada,nova queda no caos sistêmico, volta à anarquia ordenada:caos sistêmico, portanto ausência de uma potênciahegemônica; ascensão de uma potência hegemônica, queestabelece uma anarquia ordenada; decadência dapotência hegemônica e disputa entre várias potências pelahegemonia, que lança o sistema internacional novamenteno caos sistêmico; vitória e ascensão de uma nova potência,que restabelece a anarquia ordenada etc.

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Hegemonias do capitalismo histórico (Arrighi, 2000)

“(...) Ciclos sistêmicos de acumulação, cada um consistindonuma fase de expansão material (DM) seguida por umafase de expansão financeira (MD’).” (Arrighi 2000: 88)

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Hegemonias do capitalismo histórico (Arrighi, 2000)

• 1ª Hegemonia do capitalismo histórico: cidades-Estadoitalianas (Veneza, Florença, Gênova e Milão), séculosXIV-XVI

• 2ª Hegemonia do capitalismo histórico: ProvínciasUnidas, séculos XVIII

• 3ª Hegemonia do capitalismo histórico: Reino Unido,século XIX

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Hegemonias do capitalismo histórico (Arrighi, 2000)

4ª Hegemonia do capitalismo histórico: Estados Unidos(século XX-XXI?)

“(...) Uma nova ordem mundial, centrada nos Estados Unidos eorganizada por esse país. (...) No fim da Segunda GuerraMundial já estavam estabelecidos os principais contornosdesse novo sistema: em Bretton Woods foram estabelecidas asbases do novo sistema monetário mundial; em Hiroshima eNagasaki, novos meios de violência haviam demonstrado quaisseriam os alicerces militares da nova ordem; em São Francisco,novas normas e regras para a legitimação da gestão do Estadoe da guerra tinham sido explicitadas na Carta das NaçõesUnidas.” (Arrighi 1996: 283)

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Hegemonias do capitalismo histórico (Arrighi, 2000)

• Cada hegemonia do capitalismo histórico foiacompanhada por um ciclo sistêmico de acumulação euma lógica de ação estatal:

– Primeira hegemonia/ciclo sistêmico de acumulação:Gênova (e Veneza, Florença e Milão); lógicacapitalista;

– Segunda hegemonia/ciclo sistêmico de acumulação:Províncias Unidas; lógica capitalista;

– Terceira hegemonia/ciclo sistêmico de acumulação:Grã-Bretanha; fusão das lógicas capitalista eterritorialista;

– Quarta hegemonia/ciclo sistêmico de acumulação:EUA; fusão das lógicas capitalista e territorialista.

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Hegemonias do capitalismo histórico (Arrighi, 2000)

• Pensando a partir de Arrighi (2000), em que fase estamosdo atual ciclo de acumulação capitalista? Há algumapotência hegemônica? Até quando? Quais as naçõesrivais dessa potência?