RELATO DE EXPERIÊNCIA DO PROJETO PERMANECER: … · nos mapas mentais objetivou promover com as...

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1 RELATO DE EXPERIÊNCIA DO PROJETO PERMANECER: USO DOS MAPAS MENTAIS: LER E INTERPRETAR AS PAISAGENS DOS CERRADOS BAIANOS Karla Barbosa de Almeida 1 Valney Dias Rigonato 2 1. A Educação do Campo: Os Cerrados 3 como Alternativas no processo Ensino- Aprendizagem da Geografia Escolar Atualmente são sérios e graves os problemas pelos quais passam o processo educativo em nosso país: baixa qualidade de aprendizagem, desinteresse dos alunos, evasão escolar, desgaste do professor, insatisfação dos pais, elevados índices de reprovação, queixa do mercado em relação aos profissionais que saem da escola. Entretanto, sobretudo, a Educação no Campo tem passado por eventualidades tornando o processo de ensino e aprendizagem ainda mais dificultoso, tais como: uma escola com currículo urbano, as péssimas condições físicas da escola, o transporte precário e a falta de investimento do governo. Além disso, as políticas pensadas para as escolas do campo não atendem as peculiaridades das populações que moram nesse espaço geográfico. Para Arroyo (1986, p.17), a burguesia agrária, industrial ou financeira, tradicional ou moderna, sempre teve um projeto educativo específico para as classes subordinadas, para fazer cidadãos e trabalhadores submissos a seus interesses. Assim, é possível constatar que a educação destinada ao campo e imposta às comunidades como forma de suprir as demandas geradas pelo modo de produção capitalista que não considera as peculiaridades do campo, dentre elas destaca-se a cultura dos sujeitos do campo, o modo de vida e em especial os saberes locais. Nesse sentido Molina (2004), assegura que: As formas tradicionais de desenvolverem-se as políticas públicas de educação rural foram desqualificadoras da própria existência do campo e dos seus sujeitos. Pensar uma educação do campo significa pensar o campo em toda complexidade. (MOLINA, 2004, p.77). 1 Bolsista do programa Permanecer 2014/2015. Estudante do curso de Geografia no Centro de Humanidades na Universidade Federal do Oeste da Bahia-UFOB. E-mail: [email protected] 2 Orientador do projeto Permanecer 2014/2015. Licenciado e Mestre em Geografia pelo Instituto de Estudos Socioambientais da Universidade Federal de Goiás IESA/UFG. Atualmente é professor do curso de Geografia no Centro de Humanidades na Universidade Federal do Oeste da Bahia UFOB. E-mail: [email protected]. 3 Rigonato (2013) utilizou-se o conceito (Cerrados) no plural pela compreensão de que o mesmo é detentor tanto de uma rica biodiversidade como de uma diversidade social, econômica, cultural e política ímpar.

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RELATO DE EXPERIÊNCIA DO PROJETO PERMANECER: USO DOS MAPAS

MENTAIS: LER E INTERPRETAR AS PAISAGENS DOS CERRADOS BAIANOS

Karla Barbosa de Almeida1

Valney Dias Rigonato2

1. A Educação do Campo: Os Cerrados3 como Alternativas no processo Ensino-

Aprendizagem da Geografia Escolar

Atualmente são sérios e graves os problemas pelos quais passam o processo educativo

em nosso país: baixa qualidade de aprendizagem, desinteresse dos alunos, evasão escolar,

desgaste do professor, insatisfação dos pais, elevados índices de reprovação, queixa do

mercado em relação aos profissionais que saem da escola. Entretanto, sobretudo, a Educação

no Campo tem passado por eventualidades tornando o processo de ensino e aprendizagem

ainda mais dificultoso, tais como: uma escola com currículo urbano, as péssimas condições

físicas da escola, o transporte precário e a falta de investimento do governo. Além disso, as

políticas pensadas para as escolas do campo não atendem as peculiaridades das populações

que moram nesse espaço geográfico.

Para Arroyo (1986, p.17), a burguesia agrária, industrial ou financeira, tradicional ou

moderna, sempre teve um projeto educativo específico para as classes subordinadas, para

fazer cidadãos e trabalhadores submissos a seus interesses. Assim, é possível constatar que a

educação destinada ao campo e imposta às comunidades como forma de suprir as demandas

geradas pelo modo de produção capitalista que não considera as peculiaridades do campo,

dentre elas destaca-se a cultura dos sujeitos do campo, o modo de vida e em especial os

saberes locais.

Nesse sentido Molina (2004), assegura que:

As formas tradicionais de desenvolverem-se as políticas públicas de

educação rural foram desqualificadoras da própria existência do campo e dos

seus sujeitos. Pensar uma educação do campo significa pensar o campo em

toda complexidade. (MOLINA, 2004, p.77).

1 Bolsista do programa Permanecer 2014/2015. Estudante do curso de Geografia no Centro de Humanidades na

Universidade Federal do Oeste da Bahia-UFOB. E-mail: [email protected] 2 Orientador do projeto Permanecer 2014/2015. Licenciado e Mestre em Geografia pelo Instituto de Estudos

Socioambientais da Universidade Federal de Goiás – IESA/UFG. Atualmente é professor do curso de Geografia

no Centro de Humanidades na Universidade Federal do Oeste da Bahia – UFOB. E-mail:

[email protected]. 3 Rigonato (2013) utilizou-se o conceito (Cerrados) no plural pela compreensão de que o mesmo é detentor

tanto de uma rica biodiversidade como de uma diversidade social, econômica, cultural e política ímpar.

2

Conforme apontam dados do censo populacional 2010 (IBGE, 2010), a população no

Brasil é predominantemente urbana, mas existem milhares de municípios brasileiros com

características rurais, o município de São Desiderio na Bahia é um desses exemplos em que e

68,79% da população moram na zona rural, entretanto a educação oferecida nas escolas

públicas do campo é, na sua maioria, é uma educação elitista que não atende as necessidades

dos homens, mulheres e jovens que vivem e trabalham no campo.

Pode-se afirmar que é uma educação urbana, que visa atender as necessidades do

agronegócio, agroindústria e comércio. Contudo como salienta Fernandes & Molina (2004, p.

50) o campo não é somente o território do negócio. É, sobretudo, o espaço da cultura, da

produção para a vida. Apesar disso, os estudantes do campo ao longo da história tiveram que

receber uma Educação do campo construída na cidade e não participam do processo de

construção de sua própria Educação.

É necessário políticas públicas pensada para os estudantes que vivem no campo e que

a educação oferecida à população rural não seja pensada a partir de um viés urbano. Pois a

própria lógica do capitalismo moderno subordinou o campo à cidade, no qual o homem do

campo brasileiro foi estereotipado como fraco e atrasado, conforme discursões apresentadas

por Fernandes (2004), [...] que critica a representação idealizada da história do Jeca Tatu, de

Monteiro Lobato, em que o caipira preguiçoso, pensado pela lógica urbana incapaz de

desenvolver a cultura, o social e a economia, desde que está presa a inércia doentia.

Para Caldart (2002, p.11) os povos do campo têm uma raiz própria, um jeito de viver e

de trabalhar, distintos do mundo urbano, e que inclui diferentes maneiras de ver e de

relacionar com o tempo, o espaço, o meio ambiente, bem como de viver e de organizar a

família, a comunidade, o trabalho e a educação.

Nos processos que produzem sua existência vão se também se produzindo como seres

humanos. Assim as experiências dos estudantes do campo nos Cerrados baianos e sua relação

com as paisagens próximas fornecem importantes elementos de entendimento da construção

da realidade vivida no campo e na mesorregião do extremo Oeste da Bahia.

A Educação do Campo se identifica pelos seus sujeitos: é preciso

compreender que, por trás de uma indicação geográfica e de dados

estatísticos isolados, está uma parte do povo brasileiro que vive neste lugar e

desde as relações sociais específicas que compõem a vida no e do campo, em

suas diferentes identidades e em sua identidade comum; estão pessoas de

diferentes idades, estão famílias, comunidades, organizações, movimentos

sociais. A perspectiva da Educação do Campo é exatamente a de educar as

pessoas que trabalham no campo, para que se encontrem se organizem e

assumam a condição de sujeitos da direção de seu destino. CALDART

(2004, p.180).

Seguindo a mesma linha, a autora afirma que um traço fundamental que vem

desenhando a identidade do movimento “Por Uma Educação do Campo” é a luta do povo do

campo por políticas públicas que garantam o seu direito à educação e a uma educação que

seja no e do campo:

A mesma autora esclarece que:

3

No: o povo tem direito a ser educado no lugar onde vive;

Do: o povo tem direito a uma educação pensada desde o seu lugar e com a

sua participação, vinculada à sua cultura e às suas necessidades humanas e

sociais. (CALDART, 2002, p.18.).

Nesse sentido de diversidade e de singularidade no campo, considerados como

conteúdo escolar deve ser concebido para além das suas formas físicas, considerando a

materialização dos modos de vida, o espaço simbólico, o fato de serem formadores de

sentidos de pertencimento e de identidade. (COSTA & SANTOS, 2009). Ressalta-se nesse

contexto e, especialmente na mesorregião do extremo Oeste da Bahia.

Com isso é importante salientar que o lugar e a cultura são elementos que não podem

ser ignorados na educação do campo, pois o modo vida, os saberes ambientais e culturais

emergem das relações do cotidiano em um determinado tempo e espaço e entender a cultura

dos povos cerradeiros/gerazeiros4 é uma condição fundamental para o ensino da educação do

campo. Pois são os povos cerradeiros/gerazeiros que viveram e vivem nas áreas de Cerrado,

constituindo uma identidade com inúmeros saberes culturais.

Nessa perspectiva, segundo Oliveira (2007):

A luz do Cerrado está nele, em sua beleza, em seus horizontes, rios, veredas,

troncos tortos e folhas coriáceas, frutos de sabor exótico e flores rústicas de

cores fortes, tamanduá bandeira, tucano e lobo-guará. A luz do Cerrado está,

também, na música, nos raizeiros, nas benzedeiras, nos santos e no povo

simples, e em sua cultura. O Cerrado é tudo isto. O encontro dos saberes da

escola com os saberes tradicionais, à troca de vivências, sentimentos e visões

com o povo, como parte de uma opção da escola em adotá-los como

referência pedagógica e metodológica. (Oliveira, p. 198, 2007)

Assim, pode-se afirmar que é valiosa a importância do Cerrado e dos seus saberes e

fazeres para a educação do campo e, especialmente para a Geografia Escolar desde que

grandiosa é sua riqueza física e cultural.

De esse modo o Projeto Permanecer5 “Uso dos Mapas Mentais: Ler e Interpretar as

Paisagens dos Cerrados Baianos” teve como objetivos gerais valorizar os saberes locais e

ambientais do domínio geoambiental dos Cerrados diante da fronteira agrícola da mesorregião

do extremo Oeste da Bahia e auxiliar na formação inicial e continuada de estudantes do

ensino básico, do ensino superior e de professores de escolas públicas do campo.

Cabe ressaltar que o relato de experiência aqui relatado foi orientado pelas as

seguintes ações (objetivos) abaixo relatadas:

Desenvolver e aprimorar metodologias de leitura e interpretação de mapas mentais

com o propósito de interligar saberes locais e ambientais para valorização da

4 Almeida, M.G. (2008b) reúne diversas identidades sertanejas para designar diferentes povos no sertão:

geraizeiros ou cerradeiros (que encontram localizados nas faixas do cerrado), catingueiros (persiste em florestas

de caatinga arbórea), vazanteiros ou barranqueiros (situados nas áreas de vazantes dos rios e lagoas). 5 Esse Projeto também teve como bolsista a estudante Elâyny Hellen Souza Soares, do curso de Engenharia

Ambiental e Sanitária da Universidade Federal do Oeste da Bahia- UFOB.

4

identidade ecológica local dos estudantes do ensino médio da zona rural de São

Desidério, BA;

Realizar oficinas de desenho, de pintura, de leitura e cordel com os estudantes do

Ensino Médio tanto para identificar suas percepções geoambientais como para

desenvolver princípios da alfabetização ecológica (CAPRA, 2004);

Promover leitura, interpretação e escrita - individual e coletiva - com base nos mapas

mentais dos estudantes do ensino médio para contribuir com o processo de ensino e

aprendizagem no Ensino Básico. (Projeto Permanecer 2014- nº 6596)

2. Apresentação do Projeto e Plano de Trabalho: O Uso dos Mapas Mentais: Ler e

Interpretar as Paisagens dos Cerrados Baianos.

O Projeto “Uso dos Mapas Mentais: Ler e Interpretar as Paisagens dos Cerrados

Baianos” foi realizado entre o período entre 01.07.2014 a 01.07.2015 na Escola Municipal

Ovídio Francelino de Souza situada em Ponte de Mateus na zona rural do Município de São

Desiderio - Bahia, a quase 100 km da sede do município.

Observa-se a localização do povoado no mapa a seguir:

Figura 1: Localização do Povoado de Ponte de Mateus, São Desidério- BA.

A Escola Municipal Ovídio Francelino de Souza, atende estudantes dos povoados

circunvizinhos no baixo vale do rio Guará, sendo o núcleo central que foi construído para

atender a política de Nucleação das Escolas no Campo no povoado de Ponte de Mateus.

Ressalta-se que essa escola atende uma rede de povoados no referido baixo vale,

conforme a figura a seguir:

5

Diagrama 1: Dinâmica da Política de Nucleação da Escola. Elaboração: Almeida (2014).

Esses povoados estão localizados com uma distância (4, 6 e até 40 km) bem

consideráveis da unidade escolar no povoado de Ponte de Mateus. Os estudantes fazem esse

percurso por meio do transporte escolar e durante esse projeto percebeu que eles enfrentam

algumas dificuldades para chegar à escola, principalmente devido às condições dos veículos

que quebram com frequência e as condições das estradas vicinais, sobretudo no período

chuvoso.

A metodologia desse projeto esteve baseada nos princípios da pesquisa-ação

participativa a qual promoveu o envolvimento tanto do objeto como o sujeito da pesquisa para

a transformação da realidade vivida. Com esses princípios os procedimentos metodológicos

foram criados com base em mapas mentais (representações socioculturais) desenvolvidos

pelos estudantes do turno noturno do Ensino Médio e Ensino Fundamental II que valorizou os

saberes tradicionais e a cultura de identidade dos povos geraizeiros.

Os resultados dividem-se em atividades práticas e de formação continuada. O primeiro

como o desenvolvimento de oficinas de desenho e pintura, fotografia e cordel, e exposições

fotográficas. Já o segundo, contribui para a formação continuada dos professores e

funcionários da instituição escolar e a promoção da cidadania ativa nas comunidades rurais,

sobretudo, na comunidade de Ponte de Mateus sede da referida escola. E, por fim, contribuiu

para a minha formação como estudante de licenciatura.

Esse projeto apresenta em dois planos de trabalho, trataremos nesse relatório do plano

de trabalho 01: Mapas mentais na formação de conceitos ambientais para estudantes do

Ensino Médio. No qual tem como proposta desenvolver a formação de conceitos com base

nos mapas mentais objetivou promover com as estudantes oficinas de desenhos e pintura para

a construção de mapas mentais do espaço vivido pelos mesmos nas áreas de Cerrados diante

da fronteira agrícola no Oeste da Bahia.

Para a realização das atividades proposta no plano de trabalho, houve uma parceria

com o Projeto “Desenvolvimento de Metodologias e Materiais Pedagógicos sobre Saberes

Ambientais”, da FERFA- Fundo do meio ambiente da Secretaria do Meio Ambiente da Bahia,

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que subsidiou financeiramente na compra de materiais para as oficinas, alimentação,

hospedagem e transporte.

3. Relato da Experiência: Atividades desenvolvidas e Resultados Alcançados

Inicialmente foi realizada uma sistematização da bibliografia e pesquisas e seleção de

poesias referentes ao tema do projeto, tais como:

Cerrado poético (Joaquim Gonçavel), Cerrado (Luciano Spagnol), O Cerrado

(Antônio Miranda), Seriema, a Princesa do Cerrado (Frutos do Cerrado), Como se

fosse um prefácio (Nikolaus Von Beher), Sem título (Nikolaus Von Beher), As cores

do fogo da vida (Aline Bassoli), Arvores do Cerrado: adormecer e despertar de

resistência (Lia Teodoro), Cerrado (Rosa Maria Pires) e Poesias sobre o Cerrado

(FALEIRO, F. G.; FARIAS NETO, A. L. de (Ed.)).

Em seguidas ocorreram os trabalhos de campos para os Povoados de Ponte de Mateus e

as comunidades circunvizinhas tendo como objetivos o reconhecimento da realidade vivida

pelos estudantes da escola e de seus familiares.

Durante esses trabalhos de campo foram realizadas atividades didáticas pedagógicas com

os estudantes do Ensino Fundamental II e Ensino Médio. Dentre essas atividades estão as

Oficinas que foram desenvolvidas: de desenhos, pinturas, fotografias e de cordel, sendo que

com base nos materiais produzidos pelos estudantes foram confeccionadas atividades

pedagógicas que foram propostas aos estudantes, assim desenvolver a formação de conceito -

leitura, escrita e debate com base na interface dos saberes tradicionais e os saberes científicos.

Foram realizadas também exposição fotográficas.

Durante a realização das atividades os resultados propostos nos objetivos descritos acima

foram alcançados como observa-se a seguir:

PERÍODO: 13,14 E 15 DE AGOSTO DE 2014

Oficina de Fotografias com os estudantes do Ensino Fundamental II: durante essa

oficina forma ensinado aos estudantes o manuseio da câmara fotográfica e passada as

informações do que seria relevante que eles tirassem as fotografias. O estudante

demostraram bastante interesse em participar dessa oficina e aprenderam bem rápido

a usar as ferramentas e técnicas para tirar as fotografias.

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Fotos: SOARES (2014).

Visitas em algumas casas dos estudantes que estavam participando da oficina de

fotografia. No qual aconteceu conversa com os pais para falar do projeto, observação

do modo de vida, dos Cerrados da região, registros fotográficos das realidades dos

estudantes e da comunidade escolar.

Visita ao povoado de Pedras:

Fotos: ALMEIDA (2015).

Oficina de Desenho com os estudantes do Ensino Médio.

Durante essa oficina os estudantes fizeram desenhos representando os Cerrados nas

escolas temporais: presente, passado e futuro. Os estudantes desenvolveram essa atividade em

tempo diferente entre si, teve aqueles que fizeram os desenhos bem rápido e outros que

ficaram imaginando a situação dos Cerrados nas diferentes escalas.

Fotos: SOARES (2014).

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Modelo de atividade produzida para a oficina

Desenhos feitos pelas estudantes na Oficina, são bem representativos, nos modelos

abaixo percebe-se uma devastação do bioma ao decorrer do tempo.

Com base nestas representações e nas observações das práticas sociais desses dois

grupos e da nossa interpretação enquanto sujeitos/objetos da pesquisa buscamos traduzir a luz

do discurso geográfico contemporâneo três tendências predominantes de representações

socioculturais identificadas nos mapas mentais/desenhos/textos dos estudantes jovens e

adolescentes daquela escola: cerrados desumanizados, uso e ocupação estereotipados e

cenários futuros: desertificação e urbanização.

Nos desenhos acima representam as ocorrências dos principais signos expressos pela

população de jovens adolescentes das comunidades rurais das populações originárias do

município de São Desidério, BA. As representações do “ontem” revelam a ausência humana nas

paisagens representativas nos cerrados baianos. Tal realidade representacional dificulta o cultivo

das identidades locais das populações população em relação ao da modernidade: “o mito da

natureza infinita; o mito do progresso e do crescimento ilimitado; o mito da igualdade

socioeconômica e do sucesso garantido nos grandes centros urbanos; o mito da neutralidade e da

superioridade da ciência e da tecnologia”, Duarte; Theodoro (2005, p. 18).

Já as representações do lugar-mundo atual possuem uma predominância de signos

interligados com as práticas agrícolas: ao desmatamento, a utilização dos bens naturais: água,

solo, vegetação que revelam as suas percepções ambientais imediatas devido a recém instalação

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da fronteira agrícola neste vale. Contudo, as representações dos jovens e adolescentes pouco

destacam os signos de seus modos de vida mais interligado com a biodiversidade.

Esses signos estereotipados são reveladores de usos inadequados mais em pequena escala

quando comparado com a transformação dos elementos paisagísticos naturais com a chegada dos

grandes empreendimentos agrícolas: plantação de eucalipto para energia de uma termelétrica à

montante das principais nascentes do rio Guará. Em síntese, as representações do hoje são

reveladoras de signos estáticos e estereotipados em relação às ebulições das práticas sociais que

esses jovens adolescentes estão inseridos em seus lugares- mundo de vivência.

Por último, as representações do amanhã são reveladoras de como o campo

representacional dos jovens adolescentes foram capturados pelo paradoxo estético da

modernização da agricultura.

Um paradoxo que incentiva as mudanças das práticas sociais no lugar-mundo vivido, com

a inserção de novas imagens e símbolos os quais conformam as ideologias no percebido. Com

isso, nota-se representações e práticas socioculturais descontextualizadas com as características

paisagísticas do lugar-mundo, sobretudo, ligadas ao agroextrativismo desenvolvidos pelas

famílias desses adolescentes e jovens pesquisados.

Contudo, as representações do amanhã revelam a predominância dos signos relacionados com

os elementos técnicos e tecnológicos interligados ao processo da urbanização no munícipio e na

região. Coloca-nos diante de um exercício de tradução que necessita se atentar para as

experiências e para as práticas sociais, ao agir e as ações em desdobramentos. Caso contrário,

ficaremos apenas no campo representacional da vida social que, com base no prisma científico

contemporâneo é ambígua. Elas podem tanto podem nos auxiliar como nos impossibilitar de

traduzir práticas de (re) existência, principalmente da população de jovens adolescente nos

territórios rurais desta região.

Os estudantes também fizeram poesias que relatam as caraterísticas do lugar onde

eles moram.

PERÍODO: 23 24 E 23 DE SETEMBRO 2014

Apresentação e discursão em sala de aula do Curta Metragem: Fogo Ardente, Água

Corrente, com os estudantes do Ensino Médio.

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Foto: SOARES (2014).

Participação na Caminhada Ecológica: lúdica, ao ar livre em contato direto com a

natureza.

A caminhada ecológica é um recurso didático que contribuem bastante para o ensino e

aprendizagem dos estudantes, pois esses com orientação dos professores fazem uma

ponte entre o conhecimento assimilado na sala de aula com as suas realidades. Essa

atividade foi realizada até a nascente do riacho da ponte, um dos afluentes do rio Guará

no município de São Desidério-Ba. Durante essa atividade foi realizada uma roda de

conversa sobre a grilagem de terras e de devastação dos Cerrados Baianos.

Foto: CERRANO (2014).

Roda de conversa com os moradores dos povoados:

Os moradores dos povoados compartilharam os seus saberes e os problemas que eles

enfrentam, tais como a grilagem de terras e o desmatamento das áreas dos Cerrados. Essa

prática foi bem relevante para aprender e entender as dinâmicas de interesses sobre as

áreas dos Cerrados, além de conhecer um pouco mais da história e cultura dos moradores

dos povoados. Essa atividade foi orientada pelo DRP- Diagnóstico Rural Participativo “é

um conjunto de técnicas e ferramentas que permite que as comunidades façam o seu

próprio diagnóstico” (Verdejo 2006, p.6).

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Foto: SOARES (2014).

PERÍODO: 03 E 04 DE JUNHO E 14 E 15 DE JULHO DE 2005

Oficina de Poesia e Cordel e Exposição Fotográfica:

Para a realização dessa oficina confeccionamos um arquivo em PowerPoint como

dezenas de fotos tiradas pelas estudantes. Esse arquivo foi exposto antes da realização da

oficina para que os estudantes pudessem ter mais inspiração para escrever as poesias.

Observa-se a seguir alguns slides:

O propósito dessa atividade foi trazer para a sala de aula as paisagens vividas. Valorizar o vivido pelos os

estudantes. Trazer para o currículo os valores simbólicos.

Foto: ALMEIDA (2015).

Exposição Fotográfica:

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Essa segunda exposição fotográfica foi realizada entre os dias 14 e 15 de Julho de 2015.

As fotos tiradas pelos estudantes foram impressas e expostas em um painel montado em

conjunto pelas bolsistas e o orientador desse projeto.

Fotos: ALMEIDA (2015).

A Exposição despertou interesse dos estudantes, funcionários da escola e moradores

dos povoados. É uma ferramenta metodológica que contribuem bastante para que toda a

comunidade escolar e os pais dos estudantes reconhecessem a importância e o quanto são

belas as paisagens dos Cerrados dos seus povoados.

Outra atividade que confeccionamos foi uma seleção de poesias feitas pelos estudantes

que foram agrupadas em uma folha A4 com outra poesia selecionada de outros autores. Esse

material foi entregue para os estudantes no final da oficina para que pudessem ler em casa e

fazer outras poesias.

A seguir temos outra atividade confeccionada com a junção das poesias e os desenhos

feitos pelos estudantes.

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A participação no Programa Permanecer 2014 contribuiu significadamente para a minha

formação, pois tendo um contato com os estudantes, professores, funcionários da escola e pais

pude perceber as particularidades e as dificuldades que o sistema de ensino e, sobretudo, e

Educação do Campo em São Desidério enfrenta.

Como os estudantes o contato permitiu notar o grande conhecimento empírico que eles

possuem acerca da flora e fauna dos lugares onde eles moram, sendo que inúmeras vezes foi

falado pelos estudantes os nomes das frutas, animais e árvores... dos Cerrados. Aqueles

estudantes menos falantes por inúmeras vezes nos surpreendeu com os belíssimos e bem

representativos desenhos, fotografias e poesias sobre e dos lugares onde eles vivem. Durante a

análise dos materiais produzidos pelos estudantes percebeu-se que muitos estudantes

apresentaram dificuldades de escrita, decorrentes principalmente da falta do processo de

alfabetização adequado. Há também, dificuldade na formação de conceitos de vida e a falta de

interligação do mundo vivido e os conhecimentos escolares.

Com os professores da escola foi possível perceber as dificuldades que muitos enfrentam

desde pela falta de material para ser usados durante as aulas, até a dificuldade como o

transporte para chegar até a sede de São Desiderio ou em outras cidades mais próximas como

é o caso de Correntina. Entretanto foi gratificante perceber o empenho, a curiosidade e o

esforço desses professores que buscam ou já possuem um nível superior para aperfeiçoar e

adquirir mais conhecimento.

Outro fator que contribuiu bastante para o bom andamento do nosso projeto foi a

receptividade da diretora6 da escola que sempre organizou os horários para que fosse possível

realizar as ações do projeto.

Para chegar à escola as dificuldades começavam durante a viagem, pois o acesso ao

local que é por meio de estradas vicinais que de acordo com o período do ano ficavam bem

piores e ainda ficar dias sem comunicação que seja por telefone, internet foi um desafio, mas

com a tranquilidade, a receptividade dos moradores e as belas paisagens da região fizeram

valer a pena. Além disso, ver um sorriso de um estudante ao perceber que o texto da aula é

uma poesia escrita por ele foi muito gratificante.

6 Jaqueline de Oliveira Ribeiro

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Com o contato com os moradores e com o modo de vida nos povoados contribuiu para

repensar e refletir sobre a necessidade de preservar os Cerrados, pois esse é para muitos

moradores é a fonte de alimento, remédio, matéria prima para produzir artesanatos.

Assim diante das experiências vívidas durante esse projeto imensa foi a minha

aprendizagem, tanto para a minha formação e para minha vida pessoal.

REFERÊNCIAS

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sertanejo. In: ALMEIDA, Maria Geralda de; CHAVEIRO, Eguimar.Felício; BRAGA, Helaine da Costa. (Org.).

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ARROYO, Miguel G. Da escola carente à escola possível. São Paulo: Loyola, 2ª ed. 1986.

CALDART, Rosali Salete. Educação do campo: Identidade e políticas públicas, 2002, cap. 2, p 11.

______.____________. Elementos para construção do projeto político e pedagógico da educação do campo,

2004, pag.180.

CAPRA, F. A Teia da Vida. 9. ed. São Paulo: Cultrix, 2004.

COSTA, Cláudia Lúcia da. SANTOS, Rosselvelt José dos. Ensino de Geografia no Campo: A importância do

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DUARTE, Laura. G.; THEODORO, Suzi (Orgs.) Dilemas do Cerrado: Entre o ecologicamente (in)correto e

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MOLINA, Mônica Castagna. JESUS, Sônia Meire Santos Azevedo. Contribuições para a construção de um

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Colóquio do Núcleo de Estudos em Espaço e Representações (NEER)- 2013.

Projeto Permanecer 2014 - nº 6596 “Uso dos mapas mentais: ler e interpretar as paisagens dos cerrados baianos”.

Universidade Federal do Oeste da Bahia.

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VERDEJO, Miguel Expósito. Diagnóstico Rural Participativo – um guia prático. Secretaria de Agricultura

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