Relato final sobre o diario pessoal.

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Produção do Diário Pessoal Justificativa: Nas séries iniciais do Ensino Fundamental, geralmente, as produções escritas realizadas na escola são direcionadas para a leitura e apreciação do professor e das famílias e, muitas vezes não têm sentido para as crianças. Dessa forma, a produção de diários pessoais foi proposta para que em primeiro lugar a escrita tivesse valor para os educandos, autores da sua própria história e que fosse frequente ao longo do primeiro semestre. Os alunos do 2º ano durante essa fase de sua formação, apropriam-se sistematicamente das regras que caracterizam os usos da Língua Portuguesa. Porém, mais do que escrever textos para aprender, essa produção precisaria ser significativa para as eles. Quando em fevereiro de 2011 recebi meus 23 alunos entre 6 e 7 anos de idade, pude diagnosticar que, apesar de 21 crianças dominarem a escrita alfabética e 2 se encontrarem no nível silábico alfabético, não desenvolviam ainda textos com a coesão e coerência que possibilitassem a total compreensão do leitor. A falta de pontuação dificultava a interpretação do que haviam registrado. Diziam que não sabiam o que escrever. Na busca de possibilidades para desenvolver os aspectos que observei, é que a produção de diários pessoais apresentou-se extremamente rica. Esse gênero textual é um dos conteúdos de nossa série, mas eu não queria que fosse trabalhado apenas como informação em algumas aulas específicas. Vi na produção dos diários pessoais ao longo do ano, uma estratégia bastante promissora para o conhecimento e vivência dos conteúdos dessa etapa escolar e, além disso, a possibilidade de documentarem a história de cada um de forma lúdica e prazerosa. Objetivos: O diário pessoal é o registro dos fatos marcantes para cada criança e se constitui como texto único, com as marcas de seu autor. Ao propor a escrita e leitura de seu próprio diário e o dos colegas, pretendi que cada criança se

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Relato final sobre o diario pessoal.

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Produção do Diário PessoalJustificativa: Nas séries iniciais do Ensino Fundamental, geralmente, as produções escritas realizadas na escola são direcionadas para a leitura e apreciação do professor e das famílias e, muitas vezes não têm sentido para as crianças. Dessa forma, a produção de diários pessoais foi proposta para que em primeiro lugar a escrita tivesse valor para os educandos, autores da sua própria história e que fosse frequente ao longo do primeiro semestre.

Os alunos do 2º ano durante essa fase de sua formação, apropriam-se sistematicamente das regras que caracterizam os usos da Língua Portuguesa. Porém, mais do que escrever textos para aprender, essa produção precisaria ser significativa para as eles.

Quando em fevereiro de 2011 recebi meus 23 alunos entre 6 e 7 anos de idade, pude diagnosticar que, apesar de 21 crianças dominarem a escrita alfabética e 2 se encontrarem no nível silábico alfabético, não desenvolviam ainda textos com a coesão e coerência que possibilitassem a total compreensão do leitor. A falta de pontuação dificultava a interpretação do que haviam registrado. Diziam que não sabiam o que escrever.

Na busca de possibilidades para desenvolver os aspectos que observei, é que a produção de diários pessoais apresentou-se extremamente rica. Esse gênero textual é um dos conteúdos de nossa série, mas eu não queria que fosse trabalhado apenas como informação em algumas aulas específicas.

Vi na produção dos diários pessoais ao longo do ano, uma estratégia bastante promissora para o conhecimento e vivência dos conteúdos dessa etapa escolar e, além disso, a possibilidade de documentarem a história de cada um de forma lúdica e prazerosa.Objetivos:

O diário pessoal é o registro dos fatos marcantes para cada criança e se constitui como texto único, com as marcas de seu autor. Ao propor a escrita e leitura de seu próprio diário e o dos colegas, pretendi que cada criança se apropriasse das características desse gênero textual, bem como dos usos formais da nossa língua.

Além disso, acreditei que a intencionalidade de cada registro e a sua frequência, levaria meus alunos a valorizarem a escrita como uma estratégia de preservação da memória, identificando no diário, uma fonte histórica, isto é, material que os auxiliasse a lembrar no futuro as experiências já vivenciadas.

O diário também serviria como objeto de reflexão sobre a própria escrita, possibilitando periodicamente, que cada estudante voltasse ao passado de seus registros, utilizando conhecimentos gerais e gramaticais como recursos para ampliar suas produções textuais no futuro. O material produzido pela turma, além de me fornecer elementos de intervenção, demonstraria a evolução escrita das crianças ao longo do tempo.

Finalmente, pretendi que toda a turma se tornasse leitora e ouvinte dos diários produzidos, incentivando o desenvolvimento de estratégias de leitura e escuta, para que houvesse compreensão de todos, e também, estimular uma postura de respeito às produções dos outros.Conteúdos curriculares:

Reconhecimento de Fontes Históricas; Produção de textos com coerência, coesão, segmentação das palavras e paragrafação. Elaboração do gênero diário, seguindo suas características; Leitura e interpretação; Emprego dos sinais de pontuação (ponto final, exclamação, interrogação); Emprego adequado da ortografia;

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Uso do dicionário; Paragrafação; Sílabas/ separação e translineação; Emprego de maiúsculas em início de frases; Respeito a partir do “saber ouvir”.

MetodologiaNa lista de material individual que as famílias receberam no ato da matrícula, já foi

pedido um caderno brochura pequeno de 90 folhas. Todas as professoras do 2º ano já haviam definido que trabalharíamos com a produção de diários pessoais, de acordo com as características de cada grupo.

Na 1ª etapa dos nossos estudos, desenvolvi em minha turma uma aula sobre Fontes Históricas, mostrando fotografias e diferentes objetos que nos oferecem “pistas” para conhecer a História dos lugares e das pessoas. Perguntei se lembravam quando andaram pela primeira vez, ou quando nasceu o primeiro dentinho e puderam constatar que cada criança tem os fatos de sua vida contada, até então, pelos adultos de sua família que tiraram fotos, guardaram objetos e narraram acontecimentos de quando eles ainda eram bem pequenos. Esses relatos foram realizados sempre sob a ótica do outro. Agora que já estavam crescidos, poderiam eles mesmos, registrar a própria história por meio do diário.

Apresentei, então o “Diário da Julieta” e “Diário da Julieta 2”, do autor Ziraldo, para que conhecessem esse tipo de texto e sua função. Vimos que no seu diário, a personagem Julieta demonstra sua identidade, caracterizando-o com seus gostos e assuntos. Essa então foi nossa 2ª etapa: caracterizar o diário com imagens e palavras que o identificassem como seu. As crianças tiveram alguns dias junto com sua família para realizar essa atividade.

Em seguida, definimos o que seria necessário conter o diário para que ele atingisse seu objetivo: Contar a vida de cada criança! Estabeleci junto à turma que o diário não seria secreto, mas garanti que a socialização das anotações só seria feita com a permissão dos autores. Uma das crianças registrou posteriormente que estava gostando de escrever no diário “Porque é muito legal escrever no diário e ele não é secreto”.

O “Diário de Julieta” nos deu pistas de como registrar os fatos, como “falar” com o diário para iniciar as produções. Assim, meus alunos passaram a iniciar os textos, inspirados na personagem: “Querido diário”, “Valioso diário”, “Precioso diário”, “Brother”, Super Mega Diário, entre outras saudações.

Nosso livro de Língua Portuguesa veio ao encontro do trabalho desenvolvido trazendo textos extraídos do “Diário da Minhoca”e “Diário de um Gato”, possibilitando a reflexão sobre a necessidade da indicação do dia em que os fatos ocorreram, para que eles sejam recordados com maior precisão.

Inicialmente as propostas de registro partiram de mim, diante de momentos que considerei marcantes. Gradativamente as próprias crianças passaram a solicitar o diário para fazer seus registros espontâneos.

Como um dos objetivos do diário foi mostrar a evolução escrita dos alunos, estabeleci com a turma que ele não seria corrigido. Não mexeríamos no passado, mas refletiríamos sobre os aspectos necessários a aprimorar nos registros futuros. Isso causou

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grande surpresa nas crianças, pois me mostravam o diário esperando que eu o corrigisse. Uma aluna certa vez exclamou: “Está tudo certo!” E foi correndo contar para outra amiga.

Após a avaliação inicial, os momentos de produção passaram a ser precedidos de instantes na roda, onde eu elegia o aspecto que daria destaque e orientava coletivamente aquele registro.

O primeiro aspecto foi o que caracterizava o texto diário: Data, saudação, assunto e despedida. Sempre dizia que o diário não sabia de nada o que havia acontecido e que eles precisavam contar todos os detalhes. Também abria espaços para a leitura em voz alta e o grupo foi se acostumado a observar e perguntar:

“Que dia que isso aconteceu?”

O uso de parágrafos era difícil de compreender. Então, propus que fizéssemos um rascunho em tópicos antes da escrita. Cada tópico expressava um assunto a ser abordado e , por isso, seria desenvolvido a partir do espaçamento da margem. A cada novo tópico, iniciaríamos em nova linha. A partir daí, a configuração dos textos foi se modificando. No dia 4 de março, 10 alunos utilizaram paragrafação.

Para percepção de que a pontuação era necessária, utilizei duas estratégias: produção de textos coletivos e leitura, previamente autorizada pelos autores, de alguns diários em voz alta. Em outras situações, pedi que reescrevessem no caderno um dos primeiros textos, acrescentando a pontuação. Gradativamente a pontuação passou a fazer parte dos registros e, consequentemente, a letra maiúscula para início de frases.

Ao trabalhar a ortografia, pedia que relessem o diário para analisarem como faziam os registros. Foi muito interessante quando estudaram o uso da letra H. Perguntei: “Será que em algum momento vocês escreveram a palavra ‘hoje’ sem h?”. A reação da turma foi unânime em negar essa possibilidade, mas para surpresa de algumas crianças, o “oje” estava lá. Alguns queriam corrigir o diário, mas insisti que não, pois naquele momento escreviam daquela maneira e daqui para frente seria mais aprimorado.

Temos em sala um banco de palavras que é enriquecido durante a exploração da ortografia. Por isso propus a criação de um banco de palavras temático, relacionado à produção daquele dia. Perguntava à turma quais palavras para eles poderiam gerar dúvidas e ora as escrevia no quadro para pesquisa, ora solicitava a conferência no dicionário. As dúvidas mais frequentes eram:

“ Com l ou com u?”

“ Com m ou com n?”

“Com u ou com o?”

“ Com s ou com z?”

“ Com s, com c, ou com ç?”

Em momento seguinte pedi que observassem se nas produções anteriores haviam feito a separação silábica. Em caso positivo, por que isso foi necessário e se a separação tinha sido feita corretamente. Uma aluna escreveu que não tinha separado nenhuma sílaba porque nunca tinha pensado nisso. Outra escreveu que às vezes separava corretamente e outras não. A meu ver, essas crianças demonstraram grande maturidade, pois só puderam

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chegar a essas conclusões, porque haviam internalizado a necessidade e regra de separação silábica.

As famílias foram informadas sobre os objetivos desse trabalho. Através de bilhete e a realização de Encontro Pedagógico de Pais, solicitei que incentivassem esse momento de produção.

Avaliação e autoavaliação:

Foi a avaliação permanente das produções que direcionou minhas intervenções e estratégias durante o trabalho.

Na escola, a prova é um dos elementos de avaliação e por meio dela pude constatar a apropriação que meus alunos faziam do gênero diário. Mas esse não é o único instrumento. A leitura dos relatos, a observação de suas produções, a escuta das crianças em suas demandas e avaliações individuais, me possibilitou atuar sistematicamente durante todo o semestre.

No dia 24 de fevereiro de 2011, fiz meu primeiro registro após a leitura dos diários. Eu queria saber se os alunos:

1- Colocaram os elementos essenciais do diário?

2- Utilizaram parágrafos?

3- Utilizaram a pontuação para enriquecer a expressão?

4- Utilizaram letra maiúscula?

Constatei que das 23 crianças, 8 deixavam de colocar algum elemento que caracteriza esse gênero textual. Apenas 2 utilizavam paragrafação, 8 utilizaram a letra maiúscula e 3 utilizaram a pontuação em algum momento do texto. Na mesma semana propus outra produção e o quadro se repetiu com pequenas alterações.

Em maio pedi que preenchessem uma avaliação individual. Todos anotaram que gostavam de escrever em seu diário e justificaram:

“Ele é muito legal porque nele eu posso guardar muitas coisas”.

“Porque no futuro a gente lê e lembra”.

“Porque é uma maneira de lembrar das coisas do passado”.

“Porque eu aprendo mais”.

Porém, além do valor histórico do diário, eu quis que percebessem que habilidades já possuíam e quais ainda precisariam desenvolver. Eram elas:

1-Colocaram a data sempre antes de começar a escrever?

2-Colocaram a saudação?

3-Escreveram a despedida quando acabo o assunto?

4-Começaram a escrever com letra maiúscula?

5-Utilizaram a letra maiúscula depois da pontuação?

6-Utilizaram a pontuação?

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Algumas crianças relutaram em admitir que não faziam tudo que estava ali e reler o diário ajudou a constatar quais habilidades precisariam ficar mas atentos. Assim, escreveram:

“Eu vou ficar mais atento na pontuação”.

“Tenho que colocar mais vezes a pontuação”.

“Usar um pouco mais a vírgula”.

Ao final desse semestre percebi minha turma com o potencial de escrita sensivelmente ampliado e muito avanço nos aspectos iniciais. Concluímos o trabalho de sensibilização, apropriação desse gênero textual, percepção de que o texto é formado por frases que adquirem significado de acordo com a pontuação e que os parágrafos estruturam os textos a partir dos temas desenvolvidos. Ainda tenho duas crianças que deixam de colocar algum dos elementos do diário e quatro escrevem apenas quando eu solicito.

Um aspecto que torna a produção de diários pessoais especial é a relação permanente dos estudantes no processo de avaliação. Em nenhum momento deixo meu papel de educadora, mas coloco-os como sujeitos reflexivos todo tempo.

Considero esse trabalho repleto de êxitos, principalmente porque apostei nessa ideia. Investi meu tempo, pesquisas, organizei meu planejamento e a todo momento enxergo a possibilidade de criação de textos.

Trabalhar com a produção de diários pessoais se apresenta como excelente potencial de multiplicação, pois amplia significativamente os conhecimentos dos alunos. Além disso, apresenta-se rico em sua simplicidade de materiais, tornando-se aplicável em qualquer região e diversidade educacional existente em nosso país.