Relatório 3 – Químicos para concreto

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Autoria e Edição de Bain & Company 1ª Edição Fevereiro 2014

Bain & Company Rua Olimpíadas, 205 - 12º andar 04551-000 - São Paulo - SP - Brasil Fone: (11) 3707-1200 Site: www.bain.com

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Este trabalho foi realizado com recursos do Fundo de Estruturação de Projetos do BNDES (FEP), no âmbito da Chamada Pública BNDES/FEP No. 03/2011. Disponível com mais detalhes em <http://www.bndes.gov.br>.

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Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 3

Índice

Químicos para concreto .................................................................................................................. 4

1. Setor de construção civil ............................................................................................................. 4

2. Químicos para construção civil .................................................................................................. 5

3. Químicos para concreto............................................................................................................... 9

3.1. Panorama da indústria de cimento e concreto ................................................................. 9

3.2. Condições de demanda ..................................................................................................... 11

3.3. Tendências futuras ............................................................................................................. 14

4. Fatores de produção .................................................................................................................. 15

4.1. Matérias-primas ................................................................................................................. 15

4.2. Mão-de-obra e infraestrutura ........................................................................................... 16

4.3. Ambiente regulatório ........................................................................................................ 16

5. Características da indústria ...................................................................................................... 17

6. Diagnóstico ................................................................................................................................. 19

7. Linha de ação .............................................................................................................................. 19

7.1. Redução da informalidade no setor de construção civil .............................................. 19

7.2. Desenvolvimento de pesquisa para evolução da tecnologia local .............................. 21

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................ 23

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Químicos para concreto

O segmento de “Químicos para concreto” foi selecionado para detalhamento devido à relevância do setor de construção civil no Brasil (que representou 5,7% do PIB em 20121) bem como pela sua perspectiva de crescimento no País, estimulado pelos índices de déficit habitacional, pela necessidade de aumento de infraestrutura e pelo fortalecimento de políticas estruturantes já em andamento, como o Programa “Minha Casa, Minha Vida”, ou em implementação, como o aumento do número de concessões rodoviárias e aeroportuárias.

1. Setor de construção civil

O mercado de construção civil no mundo é estimado em torno de 8 trilhões de dólares em 2012, e estima-se que esse mercado deva atingir um valor total de 12 trilhões de dólares em 20202. Com relação à divisão regional deste mercado, percebe-se um aumento da importância relativa dos países emergentes frente aos países desenvolvidos (com destaque para a China). Especialistas deste setor indicam que os principais mercados emergentes devem elevar sua participação no mercado global de construção ao longo desta década.

No Brasil, o setor de construção civil apresentou crescimento acima do PIB entre os anos de 2005 e 2012, ganhando participação frente a outros setores da economia, como detalhado na Figura 1. Este panorama gera um mercado promissor para os produtos químicos utilizados como insumo na indústria de construção.

1 Sindicato Nacional da Indústria de Cimento 2 Análise Bain/Gas Energy

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Figura 1: Setor de construção no PIB do Brasil

O crescimento do mercado brasileiro está em linha com outros países em desenvolvimento, e a expectativa é de que a sua participação relativa se mantenha em torno de 2% do mercado global até o ano de 2020, de acordo com relatórios de mercado consultados.

2. Químicos para construção civil

O setor de construção civil utiliza uma ampla variedade de produtos químicos, em diversas aplicações. De modo geral, esses produtos melhoram as propriedades dos insumos de construção, proporcionando maior durabilidade, resistência e eficiência aos materiais, como por exemplo, o aumento da resistência térmica para o asfalto ou maior resistência à corrosão e infiltrações em edificações.

Considerando grupos de aplicações, o setor de químicos para construção civil pode ser dividido em 4 segmentos principais: químicos para concreto (incluindo químicos para cimento e argamassa), modificadores de asfalto, adesivos/selantes, e revestimentos protetores. A Figura 2 apresenta cada um destes segmentos e os principais produtos relacionados.

Fonte: Sindicato Nacional da Indústria de Cimento

Evolução da construção civil no Brasil e participação do setor na economia(Setor indexado em 100 para o ano de 2004)

4,9% 4,7% 4,9% 4,9%5,3%

5,7% 5,8% 5,7%

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Figura 2: Segmentos de produtos que compõem os químicos para construção

A demanda por diferentes tipos de produtos químicos para construção civil varia de acordo com alguns drivers, sendo os principais: o mix do tipo de construção demandado (infraestrutura, residencial, não residencial); o mix dos modelos construtivos utilizados (por exemplo, estruturas de edificações em madeira, concreto, ou metálicas); o mix do “produto civil” demandante (obra civil “nova” ou renovação de obra existente) e o grau de industrialização e sofisticação dos materiais e soluções empregadas (por exemplo, penetração do uso de argamassa industrial versus argamassa “virada em obra”, composta por cimento, areia e cal).

Países desenvolvidos apresentam mercados relativos mais relevantes de “adesivos e selantes” e “revestimentos protetores”, devido à predominância de renovação de obras já existentes e ao menor uso relativo de soluções estruturais em concreto (por motivos de custo relativo em relação a opções alternativas e/ou aspectos culturais).

Países em desenvolvimento apresentam maior consumo relativo de químicos para concreto, dada a maior relevância de obras civis “novas” e maior uso de soluções estruturais em concreto.

Estima-se que o mercado mundial de químicos para construção deve chegar a 39 bilhões de dólares em 20143 (Figura 3). O crescimento deste mercado é impulsionado principalmente pelas regiões em desenvolvimento, com destaque para a China, reflexo do volume de atividade de construção civil nesse país. De fato, a China consumiu, em 2011, 57% de todo o cimento produzido no mundo, quase nove vezes o volume de cimento consumido da Índia, que é o segundo principal mercado global4.

3 Council of Science and Industrial Research 4 Sindicato Nacional da Indústria de Cimento; International Cement Review; análise Bain

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Figura 3: Mercado global de químicos para construção

Especialistas estimam que o mercado da América do Sul e Central de químicos para construção civil será de aproximadamente 2,4 bilhões de dólares em 2014, cerca de 6% do mercado global. O Consórcio não teve acesso a dados estatísticos do mercado de químicos para construção civil no Brasil. Contudo, considerando a representatividade global da demanda por construção civil do Brasil (estimada em torno de 2% do mercado mundial5), e a relevância do país na economia da América Latina, pode-se inferir que atualmente o mercado brasileiro de produtos químicos para construção civil seja de aproximadamente 1 bilhão de dólares em 2012.

O Consórcio organizou o aprofundamento dos 4 segmentos de químicos para construção civil em Relatórios distintos. O presente Relatório detalha o segmento de “químicos para concreto”. Os demais segmentos são detalhados nos Relatórios descritos a seguir:

• O segmento “modificadores de asfalto” é abordado no Relatório “Butadieno, Isopreno e derivados”;

• O segmento “adesivos e selantes” é abordado no Relatório “Setores de Média Prioridade”, no capítulo “Colas, adesivos e selantes”;

• O segmento “revestimentos protetores” teve seus produtos dispersos em segmentos distintos: os produtos de tintas, vernizes e pigmentos são abordados no Relatório “Setores de Média Prioridade”, no capítulo “Corantes e pigmentos, Óxido de titânio, Tintas, vernizes e produtos afins”; enquanto que a parte de resinas epóxidas, que constituía um segmento próprio que foi despriorizado e não será avaliado em detalhe.

5 Entrevistas com especialistas

Fonte: Council of Scientific & Industrial ResearchNota: Dados de África, América Central e Sul e Oceania estimados com base em percentual do PIB relacionado à construção

Mercado global de químicos para construção (US$M)

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Vale ressaltar que esses três Relatórios mencionados anteriormente abordam produtos utilizados tanto pelo setor de construção civil quanto por outros setores da economia, por exemplo, o automotivo. Nesse Relatório, é apresentado a seguir, e de forma breve, um diagnóstico sobre potenciais oportunidades de investimento no Brasil, quando considerado somente os produtos utilizados pelo setor de construção civil.

• Modificadores de asfalto: menor segmento, em valor financeiro, dentre os 4 segmentos de químicos para construção civil, com um mercado local cerca de 7 vezes menor que o mercado local de químicos para concreto. Estima-se que o mercado brasileiro atualmente seja de 25 milhões de dólares por ano6. Os produtos deste segmento apresentam preço médio pouco superior ao de químicos para concreto, porém também se caracterizam como commodities7. Algumas oportunidades específicas de investimento no Brasil podem surgir se consideradas as futuras concessões destinadas à expansão da infraestrutura de base rodoviária no Brasil nos próximos anos;

• Adesivos e selantes: valor de mercado no Brasil estimado entre 200 e 250 milhões de

dólares em 2012. Segmento composto por produtos de maior valor agregado, os quais apresentam o maior preço médio dentre os 4 segmentos analisados8. Trata-se de um segmento dominado por multinacionais como BASF e Sika, embora alguns players locais como Vedacit e Artecola também possuam competitividade em nível regional. Podem existir oportunidades relacionadas a produtos de maior tecnologia, que apresentam maior valor agregado;

• Revestimentos protetores: no mundo, é o maior mercado em valor dentre os 4 segmentos de químicos para construção civil, embora tenha menor relevância que químicos para concreto em alguns países emergentes9. Estima-se que atualmente o consumo de tintas e vernizes no Brasil seja de 1,5 bilhões de litros10. Embora relevante, o mercado local parece já adequadamente abastecido pela produção nacional.

A demanda de químicos para construção civil no Brasil ainda não pode ser considerada sofisticada, reflexo do grau de desenvolvimento e da industrialização relativa do setor de construção civil local. Entretanto, de acordo com especialistas, pode-se esperar uma evolução da sofisticação desse setor, com impactos positivos na demanda de produtos químicos. Alguns drivers dessa evolução são:

• Aumento do custo da mão-de-obra de execução, especialmente nos grandes centros urbanos, demandando soluções que aumentem sua produtividade (por exemplo, com a utilização de argamassas industrializadas, químicos para secagem rápida de concretos e de pré-moldados);

6 Entrevistas com especialistas 7 Entrevistas com especialistas 8 Entrevistas com especialistas 9 Federation of Indian Chambers of Commerce and Industry (2012) 10 Sitivesp

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• Aumento do grau de profissionalização e especialização da mão de obra: técnicos e engenheiros de empresas construtoras estão realizando projetos considerando métodos construtivos de maior densidade química, que geram ganhos de produtividade e reduzem custos (por exemplo, utilização de poliestireno expansível para preenchimento de lajes e paredes ao invés de tijolos cerâmicos, tornando as edificações mais leves, requerendo menor dimensionamento estrutural e, portanto, menor consumo de concreto e vergalhões);

• Aumento da sofisticação tecnológica do mercado fornecedor de insumos para construção civil, que direciona o mercado para soluções com maior conteúdo químico (ex: químicos que proporcionam melhor isolamento térmico ou eficiência energética);

• Novas regulamentações, que favorecem a utilização de técnicas mais modernas de construção, e, consequentemente, incentivam o maior uso de químicos (ex: implementação da Norma de Desempenho NBR 15.575:2013, detalhada no item 4 do Relatório).

3. Químicos para concreto

3.1. Panorama da indústria de cimento e concreto

Para análise do segmento de químicos para concreto, faz-se necessário entender com maiores detalhes o funcionamento da cadeia do cimento e concreto, incluindo suas características e perspectivas para os próximos anos.

O mercado mundial de cimento, concreto e agregados foi de aproximadamente 473 bilhões de dólares em 2011. Deste total, o cimento correspondeu a 46% (cerca de 218 bilhões de dólares), o concreto atingiu 38% (cerca de 182 bilhões de dólares) e os agregados completaram os 16% restantes (cerca de 73 bilhões de dólares). A divisão destes valores de mercado, juntamente com uma descrição acerca dos principais materiais para construção, pode ser observada na Figura 4.

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Figura 4: Mercado global de material de construção e seus principais componentes

O processo de formulação do concreto pode ser descrito pela cadeia de valor apresentada na Figura 5, na qual são detalhados os principais insumos de construção utilizados até sua utilização pelos consumidores finais.

Figura 5: Cadeia de valor da produção de concreto

Compradoresde cimento

Compradoresde clínquer

Compradores de matéria-prima

Extração de Matéria-Prima

Produção de Cimento

Produção de Concreto

Compradoresde concreto

Agregados

• Etapa de produção mais delicada e cara- A matéria-prima é moída em pó fino, calcinada a ~2000 °C e arrefecida para formar o clínquer

- Clínquer e gipsita (matéria-prima do gesso) são misturados e moídos em um pó fino que é o cimento final

• Muitas plantas menores importam o clínquere realizam a última etapa apenas para obter cimento

• Extração de matérias-primas de pedreiras, usando técnicas de perfuração e detonação

- Geralmente perto do local de produção

• Cimento, agregados, ar e água sãomisturados para formaro cimento

- O concreto pode ser misturado em um local de produção e, em seguida, entregue a canteiros de obras em caminhões ou misturado diretamente em canteiros de obras

Fonte: Elaboração Bain e Gas Energy

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Ao observar o histórico do consumo global de cimento (insumo para a elaboração de concreto), percebe-se que o mesmo tem crescido a uma taxa de 7,6% ao ano entre 2001 e 2011 em toneladas. O crescimento da demanda é concentrado na Ásia, onde a China se destaca como o maior mercado consumidor da cadeia de cimento. Cabe destacar que o Brasil foi o quarto consumidor mundial de cimento em 2011, posição conquistada a partir de 2009, devido ao forte crescimento da demanda interna nos últimos anos. Estes valores podem ser observados na Figura 6 a seguir.

Figura 6: Histórico global de consumo de cimento em toneladas

Com base em entrevistas realizadas com especialistas do setor, o Consórcio avalia o segmento considerando o cenário de manutenção da expansão do consumo de cimento e concreto nos próximos anos. Este crescimento deve ser impulsionado por fatores como o crescimento do PIB mundial, o aumento do grau de urbanização das economias, o crescimento populacional e a demanda de infraestrutura dos governos. Este panorama gera um mercado promissor para os químicos para concreto no contexto internacional.

3.2. Condições de demanda

Conforme já mencionado na seção anterior desse Relatório, os “químicos para concreto” são produtos utilizados na mistura do concreto, cimento ou argamassa, como redutores de água, modificadores de pega e incorporadores de ar. Dentre estes tipos de produtos, destacam-se químicos como formiato de cálcio (acelerador de pega), e produtos à base de lignossulfonatos e policarboxilatos (redutores de água).

De acordo com especialistas da indústria, o segmento de químicos para concreto representa aproximadamente 25% do mercado global de químicos para construção. Desta forma, com base no valor do mercado global de químicos para construção, pode-se inferir que o mercado de químicos para concreto será de aproximadamente 9,8 bilhões de dólares em

Fonte: International Cement Review, SNIC, Bain Analysis

7,6% a.a.

China consumiu 57% de todo o cimentoglobal em 2011

Evolução

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2014. Conforme já citado, estima-se que no Brasil a participação de químicos para concreto no mercado de químicos para construção seja superior à média global, dada a demanda característica de um país emergente.

Os químicos para concreto possuem grande especificidade de acordo com a região em que são utilizados. Fatores como temperatura ambiente e formulação do concreto levam à exigência de químicos distintos para maior eficácia de uso. Esta especificidade, somada ao baixo valor agregado de boa parte destes produtos e à baixa barreira tecnológica no processo produtivo, justificam a baixa representatividade deste segmento na balança comercial, em relação ao mercado local.

O segmento de químicos para concreto atingiu um total de 30 milhões de dólares de importações em 201211, compondo apenas 0,1% do total de importações da indústria química brasileira no ano12. Além do baixo valor relativo, estas importações também são fragmentadas em diversos produtos de baixo volume. O preço médio das importações no segmento em 2012 foi de 0,90 dólar por quilo e, excluindo-se um produto mais representativo, não há outros produtos específicos que se destaquem na proporção do valor total13. Tendo em vista estas características, o Consórcio não avaliou em mais detalhes os produtos agrupados atualmente em NCMs cuja nomenclatura não permitia a identificação precisa dos produtos contidos em sua classificação. Estes produtos permaneceram agrupados sob o grupo de “outros aditivos para cimento, argamassas e concretos”.

O baixo volume de importações corrobora a visão de diversos especialistas entrevistados – o mercado brasileiro já é bem abastecido por uma ampla gama de players locais, que atendem a demanda local com produtos fabricados no País. Dado o baixo preço médio destes químicos, os custos de logística acabam inviabilizando a importação de alguns produtos. A Figura 7 traz o detalhamento da evolução das importações e exportações do segmento de químicos para concreto desde 2008.

11 Conforme apresentado, alguns produtos químicos que podem ser utilizados para construção não foram classificados pelo Consórcio neste segmento. 12 Aliceweb 13 Aliceweb

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Figura 7: Balança comercial do Brasil no grupo de químicos para concreto

Ao avaliar as especificidades da demanda local de químicos para concreto, os especialistas deste setor são unânimes em apontar que o mercado brasileiro apresenta, atualmente:

• Demanda pouco exigente: dado que o mercado prioriza produtos de baixo custo em detrimento de benefícios de longo prazo advindos do uso de químicos de maior qualidade. A demanda pouco exigente é descrita como um dos principais obstáculos para a evolução do mercado local.

• Venda direta em licitações: nas grandes obras públicas de infraestrutura, é uma prática recorrente no mercado brasileiro os fabricantes de químicos para concreto negociarem diretamente com o cliente final (como órgãos do governo ou empresas estatais), pulando a intermediação das empresas concreteiras. Esta prática permite a negociação de contratos de longo prazo para fornecimento de químicos, garantindo um percentual mínimo de utilização de químicos, mas pressionando o setor para a comercialização de produtos de menor custo (“commodities”).

• Cadeia de cimento verticalizada: a cadeia de fabricantes de cimento no Brasil vem se verticalizando nos últimos anos, com a aquisição de pedreiras para garantia de matéria-prima e de fabricantes de concreto para a viabilização de canais de distribuição. Atualmente, cinco concreteiras associadas às fabricantes de cimento detêm cerca de 80% do mercado de concreto no Brasil: Polimix, Supermix, Engemix, Holcim Brasil e Intercement14. Esta concentração de mercado pode elevar o poder de barganha desses compradores de químicos.

14 SNIC, ABESC, clippings, prospecto de IPO Votorantim Cimentos, relatório anual InterCement e entrevistas com especialistas

Importações brasileiras de químicos para concreto (US$M)

Importações representam 0,1% entre todos os segmentos do Estudo

Fonte: Aliceweb, análise BainNota: exclui químicos que possuem maiores aplicações em outros segmentos

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3.3. Tendências futuras

As tendências tecnológicas que estão impactando o segmento estão em linha com as tendências gerais de demanda de químicos para construção apresentadas na seção anterior do Relatório. Neste sentido, especialistas relatam que há um movimento de migração para matérias primas e produtos com maior nível de tecnologia e, consequentemente, com maior valor agregado. No segmento de químicos para concreto, os produtos mais simples são os que utilizam como matéria-prima o lignossulfonato, um composto obtido como resíduo da indústria de papel e celulose. Os produtos a base de lignossulfonato são chamados de produtos de 1ª geração e dão origem a plastificantes mais simples. Já os químicos a base de melamina e naftaleno são mais sofisticados, e reduzem ainda mais a necessidade de água na mistura do concreto15, sendo chamados aditivos de 2ª geração. Por fim, os químicos a base de policarboxilato são compostos poliméricos produzidos a partir da indústria petroquímica, que dão origem aos super e hiperplastificantes, produtos de maior valor agregado. Estes tipos de químicos são chamados de 3ª geração e têm ganhado cada vez mais espaço no mercado ao longo dos últimos anos.

Outro movimento de grande relevância é a crescente adoção de técnicas e materiais voltados à sustentabilidade na construção civil. Produtos que gerem menor quantidade de resíduos, que permitam a redução de desperdícios ou que emitam menos CO2 têm sido privilegiados (vide descrição adicional com relação a este tipo de impacto na seção de Políticas de Desenvolvimento desse Relatório).

Uma melhoria efetiva no panorama da indústria de químicos para concreto demandará a modernização de toda a cadeia a jusante. O setor de construção civil no Brasil, apesar do potencial de expansão, ainda possui deficiências técnicas relevantes frente a outros países, que precisam ser endereçadas para que a indústria química relacionada ao setor possa de fato atingir seu potencial pleno.

Existem dificuldades na importação de maquinário, que acabam sendo utilizados em menor proporção em relação a outros países. Associações da indústria de construção estimam que o custo para aquisição de máquinas como guindastes no exterior equivalha ao preço do aluguel de 6 a 12 meses do equipamento no Brasil16. A esta dificuldade, soma-se o planejamento inadequado dos projetos, que faz com que pelo menos 30% das obras no País não cumpra seus prazos de entrega17.

É com base nessas tendências tecnológicas que o comportamento da demanda brasileira deve ser influenciado nos próximos anos. A perspectiva futura para o Brasil é de evolução gradual no nível de formalidade/industrialização no segmento, tendendo a maior adoção de químicos e estruturação da cadeia de construção civil como um todo. Cabe ressaltar, no entanto, que os especialistas entrevistados enxergam esta mudança como ainda distante e gradativa, não gerando oportunidades imediatas no setor.

15 A resistência final do concreto é inversamente proporcional à quantidade de água adicionada. Os aditivos do tipo plastificante permitem a produção de um concreto trabalhável com menor adição de água 16 Reportagem de representante de associação do setor 17 Câmara Brasileira da Indústria de Construção

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4. Fatores de produção

4.1. Matérias-primas

Uma das principais desvantagens do setor de químicos para concreto no país está na dependência de matérias-primas importadas (principalmente policarboxilato e lignossulfonato), pois a produção local destes insumos não é suficiente para atender o mercado brasileiro. Tal fato encarece o produto local devido à tributação incorrida na importação dos insumos, havendo espaço para incentivar a produção local destes compostos. Maiores detalhes sobre as matérias-primas da cadeia cuja produção poderia ser incentivada serão fornecidos posteriormente no item 6.

No Brasil, a matéria-prima mais comumente utilizada nos químicos para concreto é o lignossulfonato (em sua maior parte importado da África do Sul18). Entretanto, novas tecnologias implantadas nas fábricas de papel e celulose no mundo estão eliminando a geração desse subproduto, levando a sua substituição no mercado. O total de importações de lignossulfonato em 2012 foi equivalente a 32 milhões de dólares19. Contudo, este montante não foi exclusivamente direcionado ao uso na construção civil, pois o composto também possui aplicações na indústria alimentícia.

Apesar do uso ainda não tão difundido no Brasil, a tendência no setor é a de maior utilização do policarboxilato, um polímero que confere propriedades superiores no trato com o concreto. O principal benefício no uso de aditivos derivados de policarboxilato é o menor consumo de água no concreto, o que permite menor utilização de cimento na mistura e proporciona maior resistência e durabilidade ao produto final. Esta relação de custo-benefício mais favorável confere aos derivados de policarboxilato um preço de 3 a 5 vezes superior ao dos derivados do lignossulfonato20.

Da mesma forma que no lignossulfonato, o policarboxilato também é um composto importado pelas empresas locais, e tem sido comprado principalmente da Alemanha, Coréia do Sul e Estados Unidos. O único grande player que possui uma planta local com produção relevante é a BASF, com unidade fabril estabelecida no município de Guaratinguetá, no estado de São Paulo. A planta possui capacidade de produção de até 16 mil toneladas de éter policarboxilato (PCE)21 e foi inaugurada em 2008.

18 Entrevistas com especialistas da indústria 19 Aliceweb 20 Entrevistas com especialistas da indústria 21 Insumo para superplastificantes

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4.2. Mão-de-obra e infraestrutura

Além das matérias-primas, o setor de químicos para concreto (e para construção, como um todo) enfrenta outros desafios relevantes. Um obstáculo para a expansão da indústria de químicos para concreto no Brasil se refere à qualidade e informalidade22 da mão-de-obra no setor de construção civil. Para que os químicos tenham o efeito adequado, é de fundamental importância que os funcionários responsáveis pela aplicação e utilização do produto na obra sejam capacitados para tanto. Tal capacitação, na maior parte dos casos, é de responsabilidade da empresa fabricante dos químicos.

Neste sentido, um desafio relevante no Brasil é que, devido ao baixo nível de escolaridade e preparo que predomina no setor, a capacitação da mão-de-obra acaba sendo aquém da desejada, o que leva a formulações e aplicações inadequadas dos compostos para concreto. Este tipo de ocorrência é um desafio à utilização de produtos com maior grau de tecnologia, posto que uma aplicação inadequada leva a perda dos efeitos esperados pela utilização dos químicos. A questão da capacitação da mão-de-obra é um problema complexo, passível de solução apenas num prazo de tempo mais longo.

Por fim, conforme já citado anteriormente, outro item relevante que impacta o segmento se refere à infraestrutura e logística para entrega dos químicos para concreto nos diferentes locais de obra. Dado o caráter de commodity de parte dos produtos neste segmento e as baixas margens relacionadas a alguns produtos, o transporte e a entrega compõem parte relevante da estrutura de custo dos químicos para concreto. Como os locais de aplicação destes químicos estão dispersos pelos diversos pontos do País, as empresas se deparam com os desafios decorrentes de lacunas da infraestrutura logística nacional.

4.3. Ambiente regulatório

Com relação ao ambiente regulatório para o segmento, existem algumas lacunas que, caso preenchidas, podem fomentar o desenvolvimento do setor, como, por exemplo, a adoção de políticas e regulamentações mais rígidas sobre os padrões de qualidade da construção civil, aproximando o nível de exigência ao de países mais desenvolvidos, como os Estados Unidos. Este tipo de medida fomenta o aumento da penetração dos químicos de construção em geral no País, posto que estes são de fundamental importância para a melhoria das propriedades de vários materiais utilizados em diversas obras.

Nesta linha, um grande avanço recente na regulamentação brasileira foi a nova Norma de Desempenho (NBR 15.575:2013), publicada em fevereiro de 2013 pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e que entrou em vigor em maio de 2013. Esta norma eleva o nível de desempenho mínimo exigido ao longo da vida útil de toda e qualquer edificação habitacional no Brasil. Dentre as novas exigências da Norma está a elevação do período de responsabilidade das empresas de construção civil sobre as estruturas entregues para um período de 50 anos (o prazo anterior previsto pelo Código Civil Brasileiro era de 20 anos). A Figura 8 detalha o tempo de vida útil de projeto relacionado a cada sistema de construção.

22 Dados do Sinduscon-PR, indicam que mais de 40% dos trabalhadores do setor de construção civil no Brasil operam na informalidade.

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Figura 8: Prazos de vida útil por sistema definidos pela NBR 15.575:2013

Estima-se que, para atender a essa Norma, o custo final das construções deve se elevar em torno de 3% a 7%, com parte deste aumento de custo vindo da maior utilização de químicos para construção civil e materiais de maior qualidade23.

5. Características da indústria

O mercado global de químicos para concreto é dominado por empresas internacionais, tais como BASF, Dow, Sika, WR Grace e RPM International.

No Brasil, existem diversas empresas locais que competem em nichos específicos, mas os grandes grupos globais também mantêm a liderança local no setor, estabelecida pela instalação de unidades próprias ou por aquisição de empresas locais. Como exemplos de movimentos de aquisições recentes, podemos citar a compra da Rheoset pela WR Grace em 2012 e a compra da Viapol pela RPM International, também no mesmo ano. A Figura 9 traz uma breve descrição das principais empresas competidoras no segmento.

23 De acordo com Ercio Thomaz, pesquisador do IPT-USP e um dos elaboradores da norma. O acréscimo seria de 3% a 4% para imóveis enquadrados no nível intermediário e de 6% a 7% para imóveis no nível superior.

SistemaVida útil de projeto

(anos)

Mínimo Superior

Estrutura ≥ 50 ≥ 75

Pisos internos ≥ 13 ≥ 20

Vedação vertical interna ≥ 40 ≥ 60

Vedação vertical externa ≥ 20 ≥ 30

Cobertura ≥ 20 ≥ 30

Hidrossanitário ≥ 20 ≥ 30

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Figura 9: Descrição das principais empresas atuantes em químicos para construção no mundo

Apesar da tendência de especialização dos produtos do setor, os químicos para concreto são produzidos por meio de processos relativamente simples, que, em sua maioria, não requerem tecnologia avançada em sua fabricação, utilizando, por exemplo, misturadores de baixa complexidade como equipamentos principais (boa parte deles produzida nacionalmente, segundo os especialistas da indústria). A cadeia local de indústrias relacionadas ao setor consegue suprir as necessidades locais dos produtores de químicos para concreto, mas não representam diferencial relevante para alavancar o setor.24

Na última década, grande parte da produção global de químicos para concreto tem migrado para a China, onde empresas como a BASF assumindo a liderança da produção por meio de joint ventures. Os principais fatores que contribuem para o estabelecimento de unidades produtivas naquela região são a liderança em custo e a forte demanda local, que posicionam a China como principal mercado consumidor global.25

24 Entrevistas com especialistas da indústria 25 Entrevistas com especialistas da indústria

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Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 3

6. Diagnóstico

Após pesquisa extensiva acerca do mercado e entrevistas com players envolvidos na cadeia (produtores, clientes, fornecedores, associações de classe e universidades), o Consórcio conclui que os principais gargalos que reduzem as oportunidades de negócio no segmento de químicos para concreto são a limitada formalização e a necessidade de modernização do setor de construção civil no País. Enquanto estes gargalos não forem contornados, as oportunidades de negócio nesse segmento terão caráter limitado, devido principalmente ao baixo potencial de aumento e de sofisticação da demanda por produtos químicos de maior valor agregado, para concreto.

Além disso, a demanda local pouco sofisticada frente aos mercados desenvolvidos, o caráter de commodity da maior parte dos produtos, o alto grau de fragmentação da indústria e a ausência de competitividade dos fatores de produção no Brasil representam obstáculos relevantes para a realização de novos investimentos locais no setor de químicos para concreto. A balança comercial dos químicos para concreto também é pouco expressiva se comparada a outros segmentos priorizados no Estudo, apresentando um valor de importações relativamente baixo, de aproximadamente 30 milhões de dólares em 2012.

A percepção geral extraída das entrevistas com especialistas do setor que corroboraram o desenho das oportunidades é de que o mercado local é bem abastecido, não havendo grandes diferenciais para o Brasil se destacar no cenário internacional.

7. Linha de ação

O Consórcio identifica duas iniciativas que podem fortalecer o segmento de químicos para concreto no Brasil.

7.1. Redução da informalidade no setor de construção civil

A Norma de Desempenho (ABNT NBR 15575) para a construção civil, publicada em 2013, já exige maiores padrões de qualidade nas edificações comerciais e residenciais no Brasil. Contudo, ainda existem lacunas de regulamentação frente a mercados desenvolvidos, que poderiam incentivar a adoção de químicos para construção no país.

Ainda existe espaço para novas medidas, tanto na criação de regulamentações específicas para o setor de construção civil, quanto na melhoria dos processos relacionados às licitações públicas das grandes obras de infraestrutura no Brasil, as quais privilegiam os fornecedores de menor custo e, muitas vezes, podem gerar viés na decisão final para utilização de insumos que não apresentam a melhor relação de custo-benefício no longo prazo.

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Mesmo sem revisar as políticas relacionadas a este tipo de contratação, a garantia de especificações técnicas adequadas com relação ao uso de químicos e a fiscalização de seu cumprimento nos projetos já trariam benefícios ao setor. Atualmente, as licitações possuem requisitos técnicos mínimos de performance para os químicos sendo contratados. No entanto, estas exigências deveriam ser validadas em boa parte dos casos por testes laboratoriais que garantam a adequação dos produtos e dos fornecedores que disputam a concorrência.

Um benefício relevante do melhor uso de químicos que embasa a oportunidade sendo discutida neste Relatório é a redução do impacto ambiental da cadeia, posto que a aplicação de químicos aumenta a eficiência do uso do cimento, um produto cuja indústria é uma das maiores responsáveis por emissões de CO2 no mundo26.

No Brasil, o tema da redução de CO2 é direcionado pela Política Nacional de Mudanças Climáticas, que definiu compromisso de redução de 5% das emissões totais brasileiras do setor industrial projetadas para 2020. Esta política abrange os 7 setores que mais contribuem com a emissão de gases estufa, sendo eles: cimento, alumínio, química, papel e celulose, siderurgia, vidro e cal. A evolução da emissão de CO2 no Brasil pelo setor industrial e a participação do setor de cimento podem ser observadas na Figura 10 a seguir.

Figura 10: Emissões de CO2 do setor industrial no Brasil

26 Atualmente, a indústria de cimento é responsável por cerca de 5% das emissões de CO2 no mundo. Com a previsão de que o consumo de cimento possa dobrar no mundo até 2050, esta participação pode chegar a 20%, caso novas tecnologias não sejam adotadas para controlar as emissões.

0

20.000

40.000

60.000

80.000

100.000

1990

47%

21%

14%7%

52.537

1995

49%

18%

7%

16%

7%

63.065

2000

49%

22%

7%

13%4%

71.675

2005

49%

18%

7%5%

13%

4%

77.944

2010

46%

27%

7%7%5%4%

82.048+56%

7%

+56%

2%

4%

2%54%-3%-1%3%

2%

CAGR(90-10)

Produção deFerro-Gusa e Aço

Produção de cimento

Produção de cal

Uso de HFCs

Indústria Química

Produção de Alumínio

Outros setores

Produção de CO2 do setor industrial no Brasil (Gg CO2 eq.)

Fonte: Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação – Estimativas anuais de emissões de gases estufa no Brasil

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Neste contexto, químicos plastificantes de concreto tem papel fundamental no controle de emissões de gases estufa pela cadeia, pois reduzem o percentual de cimento utilizado por volume de concreto. Em 2013, estima-se que para cada tonelada de cimento, sejam produzidos 610 quilos de CO2 no Brasil. O uso de plastificantes no concreto seria capaz de reduzir este montante em até 7%27.

Outra medida a ser analisada buscando a redução da informalidade e a promoção ao uso de produtos de maior desempenho é a adequação de ementas dos cursos técnicos de construção e arquitetura. Observa-se no Brasil certa desinformação acerca das reais vantagens de utilização de químicos de maior desempenho por parte dos profissionais que atuam no mercado informal, os quais são influenciadores na decisão de compra dos materiais de construção.

Em resumo, é importante promover o incentivo à formalização do setor de construção civil brasileiro, buscando desestimular as construções informais, que utilizam métodos menos produtivos, menos sustentáveis e uma mão de obra informal. Um exemplo de iniciativa que trabalha esta questão é a proibição da mistura e produção de concreto na obra em algumas zonas urbanas, como adotado por países como Estados Unidos e China.

7.2. Desenvolvimento de pesquisa para evolução da tecnologia local

Como já detalhado ao longo deste Relatório, apesar da maior parte dos químicos para concreto possuir baixo valor agregado e competir em uma base de preços, existe uma forte tendência de migração para produtos de maior tecnologia, que oferecem melhores margens às empresas produtoras.

Neste contexto, os especialistas entrevistados identificam um risco futuro de defasagem tecnológica do Brasil, o que, consequentemente, poderia levar a um aumento do déficit comercial no segmento. Avaliando o histórico do País, a defasagem em químicos se mostra como parte de um contexto muito maior de atraso tecnológico do setor de construção civil frente aos mercados desenvolvidos. Por aqui, a combinação de alto custo dos maquinários (boa parte importada) e mão-de-obra barata contribui para que o setor tenha dificuldades em avançar rumo a tecnologias mais modernas. No setor de químicos, um reflexo recente dessa defasagem pode ser visto pelo atraso do País na adoção dos hiperplastificantes (químicos de 3ª geração) e pela alta informalidade existente na elaboração de concreto no Brasil.

Assim, uma iniciativa a ser adotada como contingência a essa movimentação do mercado é o fomento a linhas de pesquisa no setor que contribuam para o desenvolvimento de tecnologias adequadas às demandas locais. Dada à especificidade dos químicos de concreto de acordo com a região aplicada, o desenvolvimento deste tipo de iniciativa poderia contribuir para o aumento de competitividade do mercado local, fazendo com que o mesmo continue a ser bem abastecido pelos players locais e com níveis de importação pouco relevantes na balança.

27 Sindicato Nacional da Indústria de Cimento (SNIC) Cement Admixtures Association (UK) e entrevistas com especialistas

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Para o desenvolvimento de tais iniciativas de pesquisa, podem-se selecionar participantes interessados em toda a cadeia dos químicos de concreto.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALICEWEB – Dados sobre importação e exportação dos segmentos.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. NBR 15.575:2013. Edificações Habitacionais – Desempenho, 2013

BAIN & COMPANY, Building materials industry overview, 2006.

BAIN & COMPANY, Cement Market Overview, 2013.

BAIN & COMPANY, Infrastructure Construction Market, 2012.

CÂMARA BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DE CONSTRUÇÃO, 2013. <http://cbicdados.com.br>

Cement Admixtures Association, 2013

COUNCIL OF SCIENCE AND INDUSTRIAL RESEARCH. Role of Chemicals in Modern Construction, 2010

IHS CHEMICAL, 2013 <http://www.ihs.com/products/chemical/planning/scup/construction.aspx>

ING. ING on Building Materials, 2012.

INSTITUTO BRASILEIRO DE IMPERMEABILIZANTES. Manual de utilização de aditivos para concreto dosado em central, 2011.

International Cement Review, 2013

INTERNATIONAL ENERGY AGENCY, WORLD BUSINESS COUNCIL FOR SUSTAINABLE DEVELOPMENT. Cement Technology Roadmap Update 2009.

MCTI, SEPED E CGMC. Estimativas anuais de emissões de gases de efeito estufa no Brasil, 2013.

SINDICATO NACIONAL DA INDÚSTRIA DE CIMENTO (SNIC). Relatório Anual, 2012.

SINDICATO DA INDÚSTRIA DE TINTAS E VERNIZES DO ESTADO DE SÃO PAULO, 2013