RELATÓRIO DE CAMPO BARTLO, Roger Henrique SILVA, … · possível observar muito a paisagem do...
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RELATÓRIO DE CAMPO
BARTLO, Roger Henrique
SILVA, Simoni Meire
OKADA, Karina Harumi
INTRODUÇÃO
O presente trabalho é resultado do trabalho de campo realizado pelo 4°
do curso de Geografia da Universidade Estadual de Londrina, realizado pela
professora Márcia Siqueira nos dias 07/06/2012 às cidades de Foz do Iguaçu
no Paraná, Ciudad Del Este no Paraguai e Puerto Iguazú na Argentina. O
trabalho teve como finalidade a observação do espaço geográfico da tríplice
fronteira e a inter –relação existente entre as cidades.
Para a disciplina de Geografia do Brasil, o objetivo do trabalho de campo
é observar as relações sociais, econômicas e políticas da tríplice fronteira, ou
seja, analisar a relação das diversas etnias que ocupam a região e como elas
se aproveitam da utilização do território.
Diversos autores afirmam que a região pode ser considerada uma
metrópole tri-nacional, por abarcar uma imensidão serviços, atender uma
diversa área comercial e ainda ser um pólo turístico, essas particularidades são
nossa fonte de análise, pois discorremos no seguinte trabalho os diversos usos
do território na região e o seus impactos no espaço. Devido a essa intensa
relação da região com outras áreas do Brasil e do mundo, visitamos a tríplice
fronteira com o objetivo de analisar o que Santos (1996) chamou de Circuitos
de produção e círculos de cooperação.
Metodologicamente, se baseamos nas origens da geografia clássica e
realizamos uma análise totalmente descritiva, nossos esforços foram em
aproveitar o conteúdo discutido em sala de aulas e levar a campo. Na prática
observamos as diversas espacialidades que o território pode abranger devido
as suas funções econômicas, sociais e culturais e descreveremos a seguir
essas espacialidades inexactas da fronteira entre Brasil, Argenti na e Paraguai.
1° DIA NA TRÍPLICE FRONTEIRA
Nosso ponto de partida foi o Museu Histórico de Londrina, da í em diante
nosso objetivo era observar como o espaço geográfico vai se modificando à
medida que você realiza uma viagem. Neste contexto estamos partindo da
segunda maior cidade do Estado do Paraná, que conta segundo o último senso
do IBGE (2010) com mais de 500.000 mil habitantes e percorremos por volta
de 500 km até chegar ao nosso destino que é a cidade de Foz do Iguaçu
conhecida mundialmente pelas suas belezas naturais, pelo trajeto não foi
possível observar muito a paisagem do lado de fora do ônibus por a viagem ter
sido realizada a noite, mas o pouco que se pode analisar sobre a viagem é
como as áreas rurais e urbanas são presentes em nosso Estado, e como as
estradas de rodagem cruzam essas paisagens moldando uma rede de
transportes interligada com ambas os mundos.
Fizemos duas paradas pelo caminho para nos alimentar até chegar a
Foz do Iguaçu (a primeira parada na cidade de Campo Mourão e a segunda na
cidade de Santa Terezinha do Itaipu) , adentramos na cidade mais ou menos
por volta das 7 da manha e fomos direto ao hotel Lanville Athéenée. Ao chegar
ao hotel descarregamos nossas malas e partimos para o nosso primeiro
compromisso do dia, a passagem pela ponte internacional da amizade rumo à
cidade Paraguai de Ciudad Del Este.
Fonte: http://burgos4patas.blogspot.com.br/
Ao seguir rumo à ponte, nos deparamos com um intenso
congestionamento em plena BR 277 (nessa parte a estrada é conhecida como
rodovia do atlântico que faz a ligação entre Assunção capital do Paraguai e o
Porto de Paranaguá) , o que nos levar a afirmar que as relações comerciais
existentes entre as duas cidades são intensas. A baixo o mapa mostra a
variedade de opções de se chegar a tríplice fronteira pelas estradas de
rodagem.
Fonte:http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S010230982008000100008&script=sci_arttext
Assim, temos que destacar a importância da ponte Internacional da
Amizade que foi construída em na década de 1950 em cooperação dos
governos brasileiro e paraguaio numa ambição de integração entre os dois
países e junto com a BR 277 é o elo fundamental para a ligação entre o
território brasileiro e o Paraguai.
Figura 3 Autor: Karina Harumi Okada
A foto mostra bem a o congestionamento de carros e o intenso fluxo de
automóveis e pessoas que a rodovia recebe diariamente, a travessia da
fronteira pode ser feita tanto por automóveis como a pé e não existe um
controle nem uma restrição ao número de vezes que as pessoas poder
percorrer a travessia. Pode- se observar na foto como a paisagem é poluída
pelos Outdoors que nada mais é que uma forma de propagando escolhida
pelos comerciantes para atrair os consumidores, ressaltando a importância
comercial que a região tem, mas essa não foi sempre a realidade do local, no
passado a região se destacava pela sua produção de madeira e erva mate.
A cidade de Foz do Iguaçu surgiu com a função de ser uma base militar
implantada pelo governo brasileiro no final do século XIX, a colônia militar foi
implantada com a finalidade de minimizar a influência Política da Argentina na
bacia platina. Assim, a colônia militar do Iguassu surge numa perspectiva bélica
e nos anos seguintes uma medida do governo leva a uma política de
povoamento, onde o governo brasileiro acreditava que ao aumentar o número
de brasileiro na região fortaleceria o domínio do território.
Nesse período as empresas estrangeiras produtoras de erva mate
(conhecidas como Obranges) operavam i legalmente no território brasileiro, o
que obrigou o governo nacional a tomar essa medida de domínio do território.
Nesse cenário histórico surge o Município de Foz do Iguaçu (a
emancipação ocorreu em 1914) que nesse primeiro momento tinha uma
determinada função política, a de ser um ponto estratégico nas ações
brasileiras de domínio e fiscalização da região, mas ao decorrer do século XX a
cidade foi ganhando uma nova função econômica e se tornou grande área
comercial e com um setor terciário consolidado, atualmente a cidade conta com
aproximadamente 315.000 mil habitantes e, é conhecida pelo seu comércio
internacionalmente de produtos ilegais que adentram no país pela ponte da
Amizade vindos do Paraguai e pelo seu forte turismo, explorado pelas suas
belas cataratas e pela imensidão da usina hidrelétrica de Itaipu.
Diariamente, milhares de pessoas atravessam a ponte para realizar
compras no Paraguai, essa atividade é realizada pelos chamados sacoleiros
que realizam essa prática como forma de sustento de suas famílias, pois essas
pessoas vão a Ciudad Del Este para comprar produtos para revender em suas
cidades de origem, assim alimentando a produção e escoando os produtos
ilegais pelo Brasil.
Figura 4 Autor: Karina Harumi Okada
É impossível analisar a cidade de Foz do Iguaçu sem ressaltar sua
ligação econômica com a cidade paraguaia de Ciudad Del Este. Essa relação
teve início com a inauguração da ponte na década de 1960 e se intensificou
nas décadas seguintes, principalmente com a chegada dos imigrantes árabes
que impulsionaram o comércio na região.
Ciudad Del Este é a segunda maior cidade Paraguai, é a capital do
estado Paraguai de Alto Paraná (o Paraguai possui 17 estados) e é a segunda
cidade em importância econômica e demográfica do país, só perdendo para a
capital Assunção. Assim, podemos afirma que as cidades de Foz do Iguaçu e
Ciudad Del Este estão ligadas economicamente pelo comércio, territorialmente
pela Ponte Internacional da Amizade é além disso compartilham a energia
elétrica gerada pela Itaipu Bi-nacional.
A cidade paraguaia de Ciudad Del Este é para muitos um local de
trabalho e quanto para outros um paraíso para as compras, a cidade concentra
uma imensa variedade de lojas e Shopping Centers, sem contar os diversos
vendedores informais que comercializam seus produtos de menor qualidade
(que na grande maioria são produzidos em países asiáticos) nas ruas e
calçadas por preços mais baixos, abastecendo uma rede de comércio de
produtos falsificados principalmente no Brasil.
O fluxo ilegal pela ponte da Amizade é uma ação constante nessa
paisagem, essa atividade é comanda em ambas as cidades por organizações
ilegais que trazem a região uma sensação de incerteza enquanto a segurança
do local.
Essa relação intrínseca entre as duas cidades trouxe uma nova
territorialidade a região, principalmente após a década de 1970 quando
chegam a região imigrantes árabes (na maioria libaneses) que expandiram as
relações comercial entre as cidades, num primeiro momento levando produtos
brasileiros a cidade Paraguai e atualmente esses imigrantes estabelecida suas
lojas em Ciudad Del Este abastecem as sacolas dos “sacoleiros” que vão a
cidade em busca de produtos de baixo valor para comercializar no Brasil.
Figura 5 Autor: Karina Harumi Okada
A foto 5, mostra como é o cotidiano já do lado Paraguai. O intenso fluxo
de pessoas e carros e motos (na grande maioria moto taxistas) é assustador
num primeiro momento, já ao passar a porte é possível perceber a
concentração de lojas, shoppings e ambulantes que disputam cada consumidor
de diferentes formas, sendo no visual, no preço ou pelo próprio poder de
convencimento do vendedor.
Ciudade Del Este foi fundada em 1957 inicialmente com o nome de
Puerto' Presidente Stroessner (o nome foi uma homenagem ao ditador Alfrade
Stroessner e foi alterado para Ciudad Del já na década de 1980) com a
finalidade de ser um ponto estratégico para as ambições políticas e
econômicas do governo Paraguai (o acordo para a construção da ponte da
Amizade foi assinado no ano de 1956).
Atualmente, a cidade tem como características marcantes seu comércio
ilegal e legal, já que muito consumidores na grande maioria brasileiros buscam
as lojas da cidade por oferecerem preços melhores que os encontrados no
Brasil.
Sobre o processo de urbanização é possível observar como o
crescimento da cidade foi desordenado, a verticalização é intensa e se
concentra nas proximidades da ponte da amizade, sendo que essa área é
praticamente toda comercial, e o fluxo de pessoas e carros é intenso, nesse
contexto, o transito é uma desordem, motos e pessoas se misturam com carros
e as leis de trânsitos praticamente não existem.
Essa multiplicidade de pessoas e mercadorias é uma característica
marcante da área da fronteira, no lado paraguaio podemos analisar como o
sítio de Ciudad Del Este influenciou na distribuição espacial de suas
construções, a inclinação existente no terreno faz com que as construções
sigam essa irregularidade morfodinâmica, pois logo após passar pela ponte
você pode se deparar com o intenso comércio de lojas e de ambulantes, onde
o comércio legal se confunde com o ilegal, isso comprova que nem as
dificuldades do terreno atrapalharam a concentração dos serviços próximos à
ponte, o que podemos considerar que para os comerciantes quanto mais
rápido for o contato com o consumidor mais fácil será a sua venda.
Ciudad Del Este foi fundada nesse contexto, de ser um corredor viário e
um pólo econômico paraguaio dividindo a importância econômica com a capital
Assunção, essa inter-relação entre o Brasil e o Paraguai é muito forte e esta
presente nas ruas de Ciudad Del Este onde compradores vindos de diversos
cantos do Brasil consomem milhões de dólares e alimentam um circuito
comercial transnacional.
Ao andar pelas ruas de Ciudad Del Este é possível observar a
inexistência de uma infraestrutura consolidada, muitas ruas não contam com o
meio fio não foi visto uma rede de esgoto o que significa que grande maioria
dos resíduos líquidos escoa para as redes hídricas ou se depositam pelas ruas
da cidade, o que explica o forte cheiro que se sente ao andar pelas ruas da
cidade. O lixo é outro problema grave, as ruas estão entupidas de lixos e não
observamos nem trabalhadores municipais responsáveis em limpar as ruas
como não foram encontrados lixeiras que incentivassem a coleta ou reciclagem
do material residual.
Figura 6 Autor: Karina Harumi Okada
A poluição fica bem nítida na foto a cima, onde as pessoas circulam no
meio do lixo algo que já virou comum no cotidiano de Ciudad Del Este, outra
poluição é a visual, onde mesmo após uma lei que retirou os outdoors da
cidade não conseguiu minimizar a feiúra visual existente na cidade.
A falta de uma rede de esgoto é um problema muito sério, pois se não
foi encontrado na área central essa infraestrutura, muito dificilmente será vista
nas áreas residências mais carentes o que mostra que a cidade sofre com
problemas estruturais importantes para o bem estar da sua população.
Outro problema a se destacar e a organização espacial ou a inexistência
dela, a cidade não conta com áreas verdes (na área comercial observada) a
impermeabilização do solo é total, os motoristas não seguem as leis de trânsito
, as ruas não tem uma forma regular o que mostra a falta de planejamento
urbano de sua planta criando uma desordem urbana que assusta a todos que
visitam a cidade pela primeira vez.
Finalizando, Ciudad Del Este surge de um projeto político ambicioso do
governo paraguaio, mas sem um planejamento urbano eficiente que
preparasse a cidade para receber o fluxo de pessoas e número de habitantes
que moram em seu perímetro urbano (222.274 habitantes em 2002)
oferecendo a ambos uma infraestrutura básica. Isso afirma que a ação do
governo paraguaio em criar um território na região deu certo em partes o
problema foi à falta de planejamento urbano em Ciudad Del Este que nos dias
atuais convive com problemas urbanos típicos das grandes metrópoles. O que
nos faz pensar sobre qual será o futuro dessa cidade? O que os governos
municipal, estadual e federal paraguaio estão fazendo para minimizar esses
problemas e qual é o papel do governo brasileiro? Será que existe uma
preocupação de nossos governantes por um território que não é nosso, mas
que nosso povo usufrui tanto. Essas são algumas das reflexões que nos leva a
refletir como o desenvolvimento econômico de uma região não
necessariamente significa desenvolvimento social.
Fonte: professora Márcia Siqueira
Ao analisarmos a nossa quadra (quadra número 3) observamos as
diferenças daquela quadra para as demais, essa quadra tem como
característica uma diminuição das verticalizações que é mais intensa na área
próxima a ponte, os prédios misturam as funções sendo no térreo uma
atividade comercial a nos andares a cima área residencial.
Figura 8 Autor: Karina Harumi Okada
Sobre o comércio na área ele é menos intenso e a circulação de
pessoas é menor, o fluxo de cambistas também diminui o que mostra que essa
quadra tem uma atividade comercial menos intensa que nas áreas próximas a
ponte. Nessa quadra também existe a presença de comerciante que vendem
seus produtos na calçada, existe um shopping de baixo status, onde você pode
encontrar produtos de vestuário de baixa qualidade.
Sobre o fluxo do trânsito ele é menos intenso, sendo essa quadra
localizada na marginal da rodovia o que significa que os carros pouco passam
pela rua em frente a nossa quadra. Já sobre a infraestrutura da quadra não é
possível verificar bueiros e nem rede de esgoto e o que é geral em todas as
outras quadras, a poluição tanto visual como em forma de resíduos pela rua.
Existe uma passarela para pedestres em frente à quadra e uma praça,
ambos os espaços são ocupados por ambulantes que abordam as pessoas
que param pra descansar na praça ou que estão atravessando a passarela, é
importante destacar que nessa praça existem algumas poucas árvores, algo
muito raro na paisagem de Ciudad Del Este.
Figura 9 Autor: Karina Harumi Okada
Por fim, a organização espacial da nossa quadra é um pouco diferente
das quadras próximas à ponte da Amizade, sendo que a rua é mais larga e
surgem as primeiras áreas residências. Mostrando que a área comercial de
Ciudad Del Este se localiza principalmente próxima a área de acesso ao
território paraguaio o que podemos afirmar que as cidades de Foz do Iguaçu e
Ciudad Del Este estão conurbadas e só estão separadas pela ponte, mas ao
mesmo tempo a ponte é o elo entre as duas cidades que tem nesse comércio
um circuito de cooperação intenso.
O TURISMO NA REGIÃO
O turismo é um importante setor econômico para as cidades de Foz de
Iguaçu e Ciudad Del Este, a primeira tem grande potencial turístico devido as
suas riquezas naturais, sendo o carro chefe as belíssimas cataratas do Iguaçu
que atraem turistas de todo o mundo que visitam Foz do Iguaçu para admirar
as belezas das quedas d’água. Ciudad Del Este atrai outro tipo de turista o
chamado turismo do consumo que é movimentado pelos “muambeiros” que
invadem a região e atravessam a ponte da amizade em busca de bons preços
na compra de mercadorias dos mais diversos tipos.
Ambos os municípios sabem aproveitar dessas atrações turísticas, foz
tem uma excelente estrutura apoiada no turismo ambiental e também para
acolher os muambeiros que chegam à cidade com intenção de fazer compras
no Paraguai. Sobre o ecoturismo em Foz, destaque para o parque Nacional do
Iguaçu, onde o turista pode encontrar com um leque de atrações como trilhas e
passeios a barco, além de poder admirar as belezas naturais do parque que
conta com um ônibus que transporta os turistas pelos vários pontos do parque
proporcionando um passeio agradável pelas belas paisagens existente ali,o
parque conta com vários guias preparados que vão fazendo as explicações
sobre a fauna e a flora existentes naquele ecossistema, e o que é melhor tudo
a um preço acessível.
Figura 10 Autor:Karina Haruma Okada
Outra característica importante do parque a limpeza de suas trilhas,
estas contam com lixeiras espalhadas por todo o trajeto para que os turistas
depositem os seus lixos no devido lugar, assim não contaminando o parque e
assim prejudicando os animais que ali vivem.
Agora, outra atração turística de Foz do Iguaçu é a usina binacional de
Itaipu, essa hidrelétrica que começou a ser construída em meados da década
de 1970 (no governo do general Geisel) em parceria com o governo paraguaio,
é a maior hidrelétrica do mundo e produz energia elétrica que é dividida pelos
dois países.
Essa gigantesca construção é um importante atrativo turístico para a
cidade que recebe turista do Brasil e do mundo que se impressionam com o
tamanho da hidrelétrica, ou seja, ao mesmo tempo em que tem sua função de
fornecer energia elétrica é um excelente atrativo turístico devido a sua
imensidão.
Enquanto Ciudad Del Este se aproveita do seu intenso comércio para
atrair os turistas à cidade, assim os baixos preços dos produtos atraem
milhares de pessoas que alimentam o comércio ilegal na região, assim a
cidade é conhecida internacionalmente por ser um local de distribuição de
mercadorias pirateadas criando um aspecto negativo para o seu turismo.
Ao analisar ambas as cidades e o seu uso do território, percebemos que
o setor turístico é bem diferente dos dois lados da fronteira ( Brasil e Paraguai),
já que no lado brasileiro as amenidades naturais e os atrativos de infra
estrutura como hotéis e restaurantes proporcionam conforte e segurança para
os turista fazendo girar uma grande quantidade de renda na cidade, enquanto
do lado paraguaio o fluxo de dinheiro que gira é somente o do comércio já que
os turistas apenas vão a Ciudad Del Este para consumirem e após a compra
das mercadorias voltam aos território brasileiro, ou seja, o turismo em Ciudad
Del Este não é explorado da mesma forma que em Foz do Iguaçu já que a
primeira ganhou fama de ser uma áreas perigosa e rede de abastecimento de
atividades ilegais.
Figura 11 Autor: Karina Haruma Okada
Essa última foto mostra ilustra bem o que foi discorrido a cima, que os
turista que vão a Ciudad Del Este passam pela aduaneira brasileira em busca
de mercadorias no Paraguai e no mesmo dia voltam para o território brasileiro
após realizar suas compras, muitos ficam detidos ao serem barrados pelos
agentes da receita federal e têm suas mercadorias apreendidas devido ao
excesso de compras no país vizinho, criando uma analogia podemos dizer que
esse é um turismo pendular comparando a movimentação das pessoas na
fronteira com as migrações internas existentes principalmente em grande
cidades conurbadas.
2° DIA NA TRÍPLICE FRONTEIRA
Dentre as atividades do segundo dia do trabalho de campo, na manha
visitamos a Itaipu binacional e o Ecomuseu. Nessa visita mais uma vez foi
possível verificar que alem de produzir energia elétrica a usina é uma excelente
atração turística, com uma barragem de imensidão faraônica os turistas podem
se deparar com o poder da ação humana alterando e modificando a natureza
em favor de desenvolvimento da sociedade.
Existe toda uma estrutura para atender os turistas dentro da usina que
disponibiliza de uma sala de cinema onde é passado um filme sobre a história
e importância da hidrelétrica, de profissionais qualificados e um interessante
museu que explica a história da colonização e ocupação da região.
Figura 12 Autor: foto tirada pelo fotógrafo que trabalha na usina.
Após o almoço nos dirigimos à cidade argentina de Puerto Iguazú que
tem sua dinâmica econômica entre o turismo e o comércio local, e lá foi
possível analisar as diferenças do uso do território do lado argentino. Assim
como no Paraguai o acesso ao país vizinho é feito por uma ponte , a ponte
internacional Tancredo Neves (finalizada em 1982) também conhecida como
ponte da Fraternidade é o elo de ligação entre o território brasileiro e argentino
na região, mas chegando ali já é possível verificar as diferenças das relações
entre os dois países diferentemente de como é feito em território paraguaio.
Primeiramente, ao chegar à aduana é necessário fazer sua identificação
com um documento pessoal com foto, assim você tem o direito de ficar até três
dias como turista legal no país, caso contrário não reali zar uma nova
identificação no término desse prazo você se torna ilegal no território argentino.
Ao passar pela aduana nos dirigimos para a cidade de Puerto Iguazú,
mas antes não tem como não citar o Shopping Duty Free onde é possível
encontrar uma variedade de produtos com preços mais acessíveis que no
Brasil e em alguns casos que no próprio Paraguai.
Figura 13 Autor:Karina Haruma Okada
A foto a cima mostra o fluxo de carros passando pela aduana argentina,
logo após passarmos pela aduana encontramos já em Puerto iguazú o
comércio todo fechado devido à tradicional parada para o sono à tarde a
chamada siesta (influência da colonização espanhola).
Figura 14 Autor:Karina Haruma Okada
Sobre a organização espacial e o uso do território a diferença é enorme,
Puerto Iguazú é uma cidade menor em representatividade política e econômica
que as outras duas até aqui já analisadas, suas ruas são mais largas e menos
movimentadas, a limpeza é umas das suas principais características. O trânsito
é tranquilo e as ruas são bem sinalizadas, o comércio é bem menos intenso
destacando pequenas lojinhas que buscam atingir um nicho de turista de maior
status econômico.
A infraestrutura é visível, as ruas são limpas e o saneamento básico com
bueiros e meio fio mostram as diferenças de Puerto Iguazú para Ciudad Del
Este, outra aspecto importante é a arborização algo muito raro no lado
paraguaio.
Existe um comércio que prioriza os turistas de maior poder executivo e
as lojas valorizam os produtos da região, também é possível encontrar um
mercado municipal onde concentram bares, restaurantes, pequenas lojas de
vestuário e artesanato.
O transporte público oferece linhas até Foz do Iguaçu e Ciudad Del Este
(o transporte inter-urbano é presente em toda a tríplice fronteira) e os ônibus
são de boa qualidade, o preço da passagem é de R$ 4,00 reais e você ainda
conta com taxistas que oferecem corridas que poder ser pagas tanto em
Guarani, Pesos, Dólares ou Reais.
Figura 15 Autor:Karina Haruma Okada
Finalizando, Puerto Iguazú é uma cidade aconchegante que
valoriza suas características regionais e prioriza a qualidade de vida de seus
moradores, diferente das outras cidades do tríplice fronteira que em nome do
desenvolvimento econômico transformaram suas paisagens e perderam suas
características originais em nome do desenvolvimento comercial. Por fim,
voltamos à aduaneira nos identificamos e retornamos ao território brasileiro.
ASPECTOS IMPORTANTES DA TRÍPLICE FRONTEIRA
Sobre os dois dias do trabalho de campo, nos do grupo relatamos
algumas observações sobre o cotidiano da tríplice fronteira e destacaremos em
pontos a partir de agora.
- A mobilidade de pessoas, trabalhadores, moedas e a própria língua nas três
cidades era intensa, melhor exemplificando eram brasileiros trabalhando em
Ciudad Del Este e Puerto Iguazú, paraguaios trabalhando em Foz (nós tivemos
a oportunidade de conversa com um dos garçons do Hotel, paraguaio que
trabalhava a dois anos em Foz do Iguaçu ) e como as línguas se misturavam, o
português o inglês e o Espanhol e para a grande maioria um portunhol (uma
mistura de tentativas de conversa entre brasileiros e povos castelhanos).
- A diferença cambial entre Peso, Real, Guarani e Dólar que é muito variável e
inflacionada.
- a precariedade da infraestrutura em Ciudad Del Este, destacando o
emaranhado de fios que poluem a paisagem da cidade com cabos e fios
expostos e pendurados em postes de baixa qualidade, o que é um perigo para
um curto circuito e começo de um incêndio.
- As disparidades na qualidade das construções principalmente entre Ciudad
Del Este e Puerto Iguazú. Essas disparidades são reflexos das funções
econômicas de ambas, outro aspecto que nos chamou atenção foi à diferença
entre os veículos e ônibus, a situação desses na Argentina é muito melhor que
no Paraguai.
-Sobre as pontes, enquanto a ponte Internacional da Amizade convive com um
fluxo de pessoas e veículos intenso durante todo o dia, na ponte da
fraternidade ( Tancredo Neves) o fluxo é bem menor, não existindo os grande
engarrafamentos que são normais na passagem da ponte da Amizade e outro
aspecto importante de ressaltar é que não existe uma passagem de pedestres
entre o Brasil e a Argentina.
- O papel do Estado, em Puerto Iguazú você pode observar uma preocupação
do setor público enquanto a qualidade de vida da sua população e dos turistas
que ali adentram diariamente, diferentemente de Ciudad Del Este onde o
abandono do Estado é quase total, e não existe uma preocupação social nem
ambiental com a cidade.
-A função das cidades, essa função fica explicita em suas formas e na sua
organização espacial. Assim Ciudad Del Este, Foz do Iguaçu e Puerto Iguazú
têm suas paisagens relacionadas diretamente com suas funções econômicas
na região.
-pouca ou quase inexistentes área agrícola.
-A verticalização de Ciudad Del Este, Foz do Iguaçu e Puerto Iguazú são
diferentes do ponto de vista que na primeira cidade a concentração da
verticalização é próxima a ponte da amizade, em Foz a verticalização é mais
espalhada concentrando a maioria dos prédios na área central enquanto na
cidade argentina não existe prédio de grande porte com pouquíssimos prédios
com mais de 4 ou 5 andares.
- A mobilidade pendular intensa, na tríplice fronteira.
- Influência da imigração nas atividades comerciais da região, principalmente a
de árabes, essa influência está presente em bares, restaurantes e até em
lanches, (encontramos diversas lanchonetes que vendiam Shawarma, lanhe
tipicamente árabe).
- a presença de poucas empresas na região, o que afirma a importância do
setor terciário e do turismo.
- a disparidade enquanto a questão ambiental nas três cidades.
Assim, esses foram alguns dos pontos que observamos na tríplice
fronteira e que nos chamaram atenção sobre as especificidades endêmicas
existente nessa área onde umas multiplicidades de relações se misturam e se
confundem entre as fronteiras nacionais e ao mesmo tempo criam um território
único e interligado.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Primeiramente, ressaltar a importância do trabalho de campo como
metodologia fundamental para a ciência geográfica, pois a partir dele é possível
observar e analisar as relações entre a sociedade e a natureza e as
transformações do espaço geográfico em determinada localidades num
determinado período histórico.
Sobre a tríplice fronteira e como se dispõe o uso do seu território, sua
organização é heterogênea e diversificada, existe uma divisão social do
trabalho mais intensa em algumas áreas e menos em outras, e uma divisão
territorial do trabalho bem marcantes entre as cidades que compõe a tríplice
fronteira, e sobre essas diferenças do uso do território o trabalho de campo foi
fundamental como opção metodológica de averiguação do conteúdo até então
discutido em sala de aula.
A conurbação urbana existente entre as 3 cidades que para alguns
autores pode ser considerada há formação de uma metrópole trinacional é
uma área onde as disparidades econômicas e sociais e políticas são
gigantescas, onde as culturas se misturam, mas ao mesmo tempo são
imiscíveis, valorizando suas heranças culturas e seus aspectos nacionais, mas
de uma forma geral formam a heterogênea região Guarani onde as belezas
naturais das cataratas são o orgulho tanto do lado brasileiro como do lado
argentino e como o rio Paraguai é importante para os três países criando uma
integração muito forte entre as nacionalidades.
Como afirmam Santos e Silveira (2011) os acréscimos técnicos renovam
a materialidade de um território, essa realidade é vista diferentemente nas três
cidades visitadas, onde a infraestrutura foi cristalizada diferente na região
devido a fatores políticos, econômicos e sociais que transformaram a região
nos últimos 50 anos, uma região que no início dos anos 1960 era uma área
pouco povoada e onde o domínio econômico era predominantemente
argentino, se tornou hoje uma área de intensa urbanização e que tem grande
influência no cenário mundial.
Por fim, a tríplice fronteira é marcada pela integração comercial,
econômica, culturas e social das três nacionalidades, que caracterizam
objetivos de seus governos e transforma a região com principal cenário do livre
comércio incentivado pelo Mercado Comum do Sul – MERCOSUL.
REFERÊNCIAS
BARTLO, Roger Henrique. Caderneta de campo. Geografia do Brasil,
Tríplice Fronteira. 2012
GOMES, Cristiane. Legislação Ambiental do Mercosul e a Gestão de
Recursos Hídricos na Tríplice. 2008. 182 p. Dissertação (Mestrado em
Geografia), Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2008.
OKADA, Karine Harumi. Caderneta de campo. Geografia do Brasil,
tríplice fronteira. 2012
ROSEIRA, Antônio Marcos. Foz do Iguaçu: Cidade Rede Sul-
Americana. São Paulo. 2006. Dissertação (Mestrado – Programa de Pós-
Graduação em. Geografia Humana) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas da Universidade de São Paulo, 2006.
SANTOS, M. A natureza do espaço; técnica e tempo razão e
emoção. São Paulo: Hucitec, 1996.
SANTOS, Miltons; SILVEIRA, Maria Laura.O Brasil: Território e
sociedade no início do século XXI. Rio de Janeiro: BestBolso, 2011.
SILVA, Simoni Meire. Caderneta de campo. Geografia do Brasil,
Tríplice Fronteira. 2012