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Relatório de Embarque no Navio de Pesca e Processamento Industrial “Kimpo Maru n o 58” no Cruzeiro de Pesca de Caranguejos de Profundidade (Reb Crab) Alessandro A. R. Athiê Bolsista DTI - Score Sul Processo n o : 38.0057/99-9 REVIZEE Junho/Julho 1999

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Relatório de Embarque no Navio de Pesca e Processamento Industrial “Kimpo Maru no 58” no Cruzeiro de

Pesca de Caranguejos de Profundidade (Reb Crab)

Alessandro A. R. AthiêBolsista DTI - Score Sul

Processo no: 38.0057/99-9REVIZEE

Junho/Julho1999

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ÍNDICE

INTRODUÇÃO........................................................................ ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.

O CARANGUEJO DE PROFUNDIDADE (RED CRAB) ................................ ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.

DESCRIÇÃO E HISTÓRICO DA EMBARCAÇÃO ....................................... ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.

ARTE DE PESCA E EQUIPAMENTO ........................................................ ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.

OPERAÇÃO DE PESCA E PROCESSAMENTO INDUSTRIAL DOS CARANGUEJOSERRO! INDICADOR NÃO D

OBSERVAÇÕES SOBRE A CAPTURA, A ÁREA DE PESCA E OS DADOS

MORFOMÉTRICOS DOS ORGANISMOS AMOSTRADOSERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.

CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................. ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.

BIBLIOGRAFIA ..................................................................... ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.

TABELAS E FIGURAS ........................................................ ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.

ANEXOS................................................................................................................................................40

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LISTA DE TABELAS Tabela I - Características do Navio de Pesca Kimpo Maru no 58 Tabela II - Lista de pessoal embarcado no Kimpo Maru no 58 (3o cruzeiro) Tabela III - Dados operacionais e esforço de captura na pesca de caranguejos de

profundidade executada pelo Navio de Pesca "Kimpo Maru no 58" durante o terceiro cruzeiro de operação na região sul do Brasil.

LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Dois exemplares de Chaceon ramosae capturados na operação de

pesca do Kimpo Maru no 58, sendo (A) uma fêmea e (B) um macho. Obs.: paquímetro, usado como escala de referência, com 20 cm de comprimento.

Figura 2 - Esquema de um Chaceon ramosae com destaque para as medidas morfométricas de comprimento e largura (traço vermelho) e altura (estrela verde); também são evidenciadas as partes do caranguejo de onde são obtidos os produtos (em preto) para comercialização: FE - carne fibrosa, FC1 - caldo grosso e FC2 - caldo fino, todos oriundos da moagem; HP - dactilos ou quelas; FY - cilindro de carne, AM - carne macerada, ambos provenientes das patas; e KS - metade de cefalotórax .

Figura 3 - Visão geral do Navio de Pesca “Kimpo Maru no 58” (A), com detalhe do local, a bombordo (B), onde são acondicionadas as armadilhas. Em (C) podem ser vistas as armadilhas com dois tipos diferentes de malha e a “anca”, assinalada com uma seta.

Figura 4 – Área de pesca do Kimpo Maru no 58, com destaque para a região (em vermelho) onde foram realizados os 20 primeiros lances do terceiro cruzeiro.

Figura 5 - Dimensões do covo de base circular e perfil cônico, utilizado pelo navio de pesca “Kimpo Maru no 58”, na pesca de caranguejos de profundidade (Red Crab).

Figura 6 - Como iscas, para atração dos caranguejos, são utilizadas cabeças (A) de diversos tipos de peixes de grande porte (p.ex. atum, bonito, albacora e corvina); presas duas a duas (B) por presilhas de aço inox dentro das armadilhas.

Figura 7 - Três etapas de lançamento das armadilhas ao mar: (A) as armadilhas, iscadas, são fechadas e presas no cabo madre por um tripulante; (B) em fila, os marinheiros passam as armadilhas para Boreste; (C) as armadilhas são colocadas na rampa da popa e, devido ao próprio peso do cabo que as antecede e ao movimento do navio, são arremessadas na água.

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Figura 8 - As linhas de armadilhas são marcadas com bóias (A) para facilitar a localização e recolhimento das mesmas; com um gancho em uma haste de metal (B), as bóias e as armadilhas são fisgadas e puxadas para bordo (C), com a ajuda do guincho do pau de carga, na proa a Boreste.

Figura 9 - As armadilhas, suspensas, são abertas por baixo (A), sobre uma plataforma de armazenagem temporária (B), anexa a área de limpeza dos caranguejos (seta); depois os cabos das armadilhas são presos e as mesmas são transportadas para a popa por um teleférico (C) a Boreste, sendo reiscadas e estocadas até o próximo lançamento.

Figura 10 - Toda a operação de pesca (lançamento, recolhimento e processamento do pescado) é controlada do passadiço (A), pelo Comandante do navio e pelo Mestre de Pesca (Fishing Master); este último plota em cartas náuticas (B) e em diário de bordo, as coordenadas iniciais, intermediárias e finais do lance de armadilhas (linha), além dos dados temporais da operação, número de armadilhas, tipo de isca e quantidade de caranguejos pescados por lance.

Figura 11 - Na área de limpeza e pré-corte, no eixo rotativo (A), com um cilindro metálico sulcado (seta amarela) a carapaça dos caranguejos é arrancada e com uma escova circular (seta vermelha) as vísceras são retiradas (B); em seguida o caranguejo é partido em duas partes, com meio cefalotórax e quatro patas cada sendo colocados em caixas plásticas (C), as quelas são separadas em caixotes para cozimento e a parte posterior das mesmas segue por uma esteira para um saco de rede, que quando cheio é posto nas caldeiras de cozimento.

Figura 12 - Com um cortador de ferro (A), os tripulantes (B) separam as patas (C) do meio-cefalotórax (D), sendo colocadas em caixotes; que são então levados para cozimento.

Figura 13 - Com um guincho hidráulico (A), grupos de 9 engradados plásticos são colocados nos tanques de cozimento com água salgada (B), a 100 oC por 10 minutos, para cozimento e esterilização da carne dos caranguejos. A parte posterior das quelas são levadas para cozimento no próprio saco de rede (C), sendo depois encaminhadas para moagem na área industrial do navio (porão), por um alçapão (seta).

Figura 14.1 - As partes posteriores das quelas passam por uma moenda-trituradora (A), e numa primeira moagem é separada, em uma peneira cilíndrica rotativa (B), a parte mais densa e fibrosa (seta anarela) da carne de caranguejo, que após ser prensada (C), para retirada do excesso de água, constitui o primeiro produto obtido na moenda.

Figura 14.2 - Após a 1a moagem, os restos triturados são passados por uma 2a moagem (fig.14.1-A) e por uma segunda, e mais fina, peneira cilíndrica rotativa (D), de onde é separado um caldo pastoso (seta) de carne de caranguejo. Este caldo é coado (E), onde a porção mais grossa constitui o segundo produto da moagem (usado para temperos) e a porção mais fina e

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líquida, constitui o terceiro produto da moagem (usado para fazer “Kani-kana”).

Figura 15 - Depois de cozidas as patas são trazidas para a área industrial (porão) onde, uma a uma, são passadas por uma prensa cilíndrica (A e B) para retirada da carne, sendo o resto das patas (casca) jogado ao mar por esteiras. Aqui obtêm-se dois tipos de carne, uma mais macerada (dos segundo e terceiro segmentos da pata) e um segundo tipo, mais compacta e estruturada - na forma de pequenos cilindros (do primeiro segmento). Estes dois tipos de carnes das patas são pesados e embrulhados (C) separadamente, constituindo tipos diferentes de produtos, sendo os pequenos cilindros de carne, o produto de maior valor comercial.

Figura 16 - Depois de processados, os produtos são devidamente empacotados - em sacos plásticos e caixas de papelão - e rotulados, segundo os seus tipos e qualificações: FE - carne fibrosa, FC1 - caldo grosso e FC2 - caldo fino, todos oriundos da moagem (A); HP - dactilos ou quelas (B); FY - cilindro de carne, AM - carne macerada, ambos provenientes das patas (C); e KS - metades de cefalotórax (D). Depois as caixas são seladas (E) e colocadas no túnel de congelamento por 18 horas, sendo em seguida armazenados nas câmaras frigoríficas do navio.

Figura 17 – Variação por lance da captura e da captura por unidade de esforço (CPUE), nas operações de pesca do navio “Kimpo Maru no 58”.

Figura 18 – Variação do número de covos no lance de pesca e captura por unidade de esforço (CPUE), nas operações do navio “Kimpo Maru no 58”.

Figura 19 - Variação da captura de caranguejos em função da profundidade de operação do petrecho de pesca.

Figura 20 – Proporção de machos e fêmeas por lance de pesca com covos circulares durante as operações de pesca do navio “Kimpo Maru no 58”.

LISTA DE ANEXOS Anexo 1 – Modelo da ficha de bordo e dados operacionais de pesca para o Kimpo

Maru no 58. Anexo 2 – Modelo da ficha de dados biológicos e morfométricos dos caranguejos. Anexo 3 – Modelo da ficha de dados biológicos usada pelos japoneses para

controle da qualidade de captura dos caranguejos. Anexo 4 – Modelo da ficha de dados biológicos e morfométricos para as capturas

acidentais de peixes ósseos e cartilaginosos. Anexo 5 - Modelo da ficha de dados biológicos e morfométricos para as capturas

acidentais de crustáceos diversos.

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Introdução

O programa REVIZEE (Recursos Vivos da Zona Econômica Exclusiva),

gerenciado pelo Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da

Amazônia Legal, tem como objetivos gerais inventariar os recursos vivos da ZEE,

caracterizar as condições ambientais de suas ocorrências, determinar suas

biomassas e estabelecer seus potenciais de captura. Estas informações são

essenciais para o conhecimento do estado atual dos recursos pesqueiros

explotados e potencialmente exploráveis, contribuindo para o gerenciamento

pesqueiro costeiro e oceânico. Além disto, tais informações, vem a fornecer

subsídios técnico-científicos para a adaptação e modernização da frota pesqueira

nacional de pesca de alto mar e para a reorganização do setor pesqueiro.

Vinculado ao Programa REVIZEE - Score Sul, o Projeto “Prospecção de

Recursos Demersais com Armadilhas e Pargueiras na Zona Econômica Exclusiva”,

tendo como área de enfoque a região sul e sudeste do Brasil, foi concebido como

parte das ações de prospecção de estoques pesqueiros demersais.

A região de abrangência deste projeto incluiu parte da costa sudeste-sul do

Brasil, tendo como limites costeiros a área de produção petrolífera da Bacia de

Campos, a leste de Cabo Frio (RJ) e, ao sul, o Arroio Chuí (RS). Na direção normal

à costa vem sendo investigada a área situada entre as distâncias de 12 e 200

milhas náuticas da costa, entre as isóbatas de 100 e 1200 metros.

Em novembro de 1998, durante um cruzeiro com o N/Pq Soloncy Moura,

dentro do Projeto acima referido, constatou-se a atuação do Navio de Pesca “Kimpo

Maru no 58”, um navio-fábrica japonês registrado em Santos-SP (Portaria IBAMA no

146/97), na área de prospecção ao largo da costa sul do Rio Grande do Sul. A arte

de pesca empregada pelo navio eram covos circulares, maiores do que os utilizados

pelo REVIZEE e ainda em número muito superior.

Dado o profundo interesse em conhecer melhor a tecnologia de pesca

empregada por essa embarcação japonesa, além das estratégicas necessidades de

se quantificar/qualificar o recurso explorado, bem como estudar a capacidade

operacional da embarcação, tentou-se estabelecer contato com o armador

responsável pela mesma em Santos.

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Através do contato estabelecido pelo CEPSUL/IBAMA de Rio Grande, foi

possível (em maio/1999) o diálogo com o Sr. Roberto Imai, um dos donos na

IMAIPesca Ind. e Com. de Pescados Ltda, firma que arrendou o Kimpo Maru para a

pesca de caranguejos de profundidade na costa brasileira. Após algumas reuniões a

IMAIPesca, de forma aberta e muito cordial, disponibilizou todos os mapas de bordo

da embarcação, que já havia realizado dois cruzeiros de pesca, permitindo ainda o

embarque de um pesquisador brasileiro do REVIZEE no terceiro cruzeiro do Kimpo

Maru, na costa do Rio Grande do Sul (entre junho e setembro/1999).

Os objetivos básicos deste embarque, com duração prevista de um mês,

consistiram na obtenção de dados biológicos e pesqueiros referentes as espécies

de caranguejos de profundidade capturados com covos (armadilhas) circulares, na

área de atuação do Kimpo Maru, bem como das espécies capturadas

acidentalmente por tal arte de pesca.

Valores de comprimento, largura e altura do cefalotórax; peso; sexo e estadio

de maturidade, foram anotados para os caranguejos e demais crustáceos, coletados

aleatóriamente na plataforma de armazenagem do convés de proa, para os lances

de pesca efetivamente acompanhados. Além disso foram coletados dados de

comprimento total, peso, sexo e estadio de maturidade para as espécies de peixes

capturadas nas armadilhas.

O caranguejo de profundidade (Red Crab)

A denominação genérica de “caranguejo vemelho” ou “caranguejo de

profundidade” engloba, na costa Brasil/Uruguai, cinco espécies de decapodos

braquiura da família Geryonidae: Geryon quinquedens Smith, 1879; Chaceon

noctialis; Chaceon quinquedens Smith, 1879; Chaceon ramosae Manning, Tavares

e Albuquerque, 1989 (Figura 1); e Chaceon cf. affinis Edwards e Bouvier, 1894

(Melo, G. A. S., comum. pess.1).

Todas estas espécies são epibentônicas de ampla distribuição geográfica,

sendo encontrados no Atlântico ocidental, dos Estados Unidos até a Argentina; no

Atlântico oriental, da Noruega até a Namíbia; no Índico, de Madagascar até Japão e;

no Pacífico, na Nova Caledônia e no Chile (Cayré et al., 1979, Beddington & Cooke,

1 Melo, Dr. Gustavo Augusto S. (1999) – Docente/Pesquisador do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo.

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1983; Defeo et al., 1992; Melo, G. A. S., comum. pess.1); apresentando em grande

parte destas regiões uma distribuição simpátrica.

Habitam áreas de fundos lamosos a areno-lamosos em profundidades que

variam entre 30 e 2200 metros, sendo mais comuns abaixo da isóbata de 200

metros.

Todas estas espécias apresentam alto valor comercial, sendo os maiores

mercados consumidores encontrados no Japão, Estados Unidos e oeste da Europa.

A carne destes animais é processada, principalmente na forma de homogeneizado

ou em pedaços isolados (Figura 2), independente da espécie, de forma indistinta,

sendo comercializadas sob a denominação comum de “Red Crab”.

No caso específico de Geryon quinquedens e de Chaceon quinquedens

(provável sinonímea – ainda em discussão), estes animais muitas vezes são

comercializados inteiros alcançando grande preço, principalmente no mercado

japonês. Segundo informações obtidas com o Sr. Mori, mestre de pesca do Kimpo

Maru, um prato feito com um caranguejo inteiro, sem manchas, pode chegar a

custar U$ 110,00 no Japão.

Descrição e Histórico da Embarcação

O Kimpo Maru no 58 foi construido no Japão, em 1986, para a Taiyo Fishing

Co. Ltd – uma das maiores empresas do ramo pesqueiro industrial e comercial

japonês - para operar em águas costeiras e oceânicas internacionais como atuneiro

de jornada longa, dispondo de grande autonomia, podendo ficar até 3 meses no

mar. Em 1990 o navio passou por uma série de reformas e modificações estruturais,

sendo adaptado e aparelhado para a pesca de caranguejos de profundidade,

usando covos (armadilhas) de base circular e perfil cônico como principal arte de

pesca (Figura 3).

Na Tabela I temos as características da embarcação, após sua reforma, e

conseqüente transformação em navio fábrica, o que possibilitou a mesma pescar,

processar e armazenar os derivados de carne de caranguejo de forma autônoma a

ainda em alto mar.

Durante o período de 1991 a 1993, o navio operou como embarcação

arrendada, no Golfo do México, para uma firma mexicana, denominada MEXPesc.

Ltda, parceira da Taiyo Fishing no México, dentro da pesca de caranguejos

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comumente chamados de “red crab”, que até onde se pôde constatar trata-se das

espécies Chaceon quinquedens e C. affinis. A partir de meados de 1993 o navio foi

levado para a Namíbia onde passou a trabalhar diretamente pela Taiyo na pesca de

caranguejos de profundidade, tendo operado entre as profundidade de 150 a 2000

m, ao longo da costa daquele país.

Em 1997, o Kimpo Maru foi trazido para o Brasil sob os cuidados da

IMAIPesca Ind. e Com. de Pescados Ltda, de Santos - SP, firma que arrendou o

mesmo da Taiyo, tendo Santos como porto de registro, saída e chegada dos

cruzeiros.

O navio passou a operar na pesca de caranguejos na ZEE brasileira em

1998, após nova reforma, atuando principalmente na região sul do país, junto ao

litoral do Rio Grande do Sul e bem próximo da fronteira com o Uruguai,

principalmente entre as latitudes de 30oS e 35oS e as longitudes de 50oW e 52ºW

(Figura 4). Esta embarcação já fez prospecções experimentais também no nordeste

do Brasil e ainda entre as latitudes de 19oS e 21oS e as longitudes de 34oW e 39oW,

em busca de novas e mais produtivas áreas de pesca de caranguejos ou de novos

recursos potencialmente exploráveis.

Já haviam sido efetuados dois cruzeiros de pesca industrial de caranguejos,

o primeiro entre 16 de setembro de 1998 e 17 de dezembro de 1998 e o segundo

entre 30 de dezembro de 1998 e 08 de abril de 1999, ambos na região sul do Brasil.

O terceiro cruzeiro foi realizado entre 16 de junho de 1999 e 18 de setembro de

1999, constituindo este o primeiro cruzeiro realizado por este navio no inverno, no

litoral do Rio Grande do Sul.

O presente relatório diz respeito ao período de 16/06/99 a 11/07/99, quando o

navio operou a 34o28’ e 34o44’ de latitude sul e 51o47’ e 51o59’ de longitude oeste

(Figura 4), tempo este que o pesquisador do Programa REVIZEE permaneceu

embarcado para registro e tomada de dados das operações de pesca de caranguejo

e morfometria e sexo dos organismos alvo da pesca do navio, além de eventuais

espécies capturadas acidentalmente.

A tripulação do Kimpo Maru não é fixa, com exceção dos tripulantes

japoneses, podendo ser de diversas nacionalidades e sendo esta constantemente

renovada por diversos fatores, entre eles a desistência dos marinheiros em fazer

novas viagens devido ao trabalho árduo e a viagem muito longa (cerca de 3 meses);

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por falta de mão de obra qualificada ou ainda devido a salários baixos por jornada

de trabalho – R$ 1.000,00/mês (segundo os marinheiros brasileiros).

Devido ao fato da permanência do navio no Brasil por pelo menos mais 3

anos, tanto a IMAIPesca como a Taiyo tem interesse em treinar e manter uma

tripulação em sua maioria composta de brasileiros, além do pessoal japonês,

todavia esta intenção não obteve muito sucesso até o momento devido aos motivos

expostos acima. Com relação ao salário baixo, ao que tudo indica esta queixa não é

compartilhada pelos tripulantes estrangeiros visto que os mesmos recebem

comissão sobre o total de carne de caranguejo produzida por cruzeiro, o que na

última viagem rendeu cerca de R$ 11.500,00 por tripulante (segundo alguns

marinheiros namíbios). Tal discrepância de salários é explicada pelo armador

devido ao fato dos brasileiros estarem trabalhando pela primeira vez para a

IMAIPesca/Taiyo e, por contrato, os mesmos só teriam direito a comissão após 1

ano de efetivação.

No terceiro cruzeiro a tripulação do Kimpo Maru foi composta por 11

japoneses (tripulação regular), 5 namíbios, 3 angolanos, 6 indonésios e 9 brasileiros

(Tabela II), sendo que os tripulantes namíbios e angolanos estavam responsáveis

por, juntamente com o contra-mestre japonês, treinar os demais marinheiros.

Arte de Pesca e Equipamento

A arte de pesca utilizada no Kimpo Maru 58 é o covo de base cilíndrica e

perfil cônico, com armação em ferro e malha de rede de kuremona com 110 mm

(tipo 1) ou com 50 mm (tipo 2) medida entre nós de ângulos opostos e esticada,

semelhante as armadilhas utilizadas por outras embarcações japonesas que já

operaram no Brasil entre 1984 e 85 (Silva, 1985; Lima & Branco, 1986, 1991). As

armadilhas com malha de rede de 110 mm são as comumente utilizadas nas

operações de pesca, tendo apresentado capturas maiores do que sua similar de

menor malha. Segundo informado, os covos de malha de 50 mm são mais usados

em locais de fundo arenoso e que apresentam baixa produção pesqueira, sendo

estas armadilhas menos seletivas.

Um terceiro tipo de armadilha é utilizada no Kimpo Maru e que se destaca

das demais (Figura 3C), não pelo tipo de malha, mas sim pelo próprio peso da

estrutura de ferro, muito mais pesada que as demais - cerca de 50 kg, denominada

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“anca”, usada como poita para estabilidade e fixação da unidade de pesca junto ao

fundo do mar.

As dimensões gerais do covo podem ser observadas na Figura 5,

destacando-se as medidas dos diâmetros do aro da base, com 155 cm, do aro

intermediário, com 125 cm e do aro superior externo, com 98 cm, além da altura

total de 85 cm. Tais dimensões caracterizam estes covos como os maiores já

utilizados no Brasil para pesca específica de caranguejos.

Os caranguejos entram na armadilha pela parte superior da mesma, no aro

superior interno, onde existe uma secção cônica de plástico de 25 cm de altura –

feita da parte superior de baldes, sem o fundo – com 61 cm na abertura maior e 43

cm na menor, já dentro da armadilha.

Presas a este funil plástico são colocadas, com presilhas de ferro inoxidável,

duas cabeças de peixe, em lados opostos da abertura, que servirão de iscas para

atração dos caranguejos (Figura 6).

Como iscas são utilizadas, por ordem de preferência, cabeças de dourado,

bonito, galhudo, albacora, corvina (Micropogonia furnieri), pescada olhuda

(Cynoscion striatus), abrótea (Urophycis brasiliensis), merluza (Merluccius hubbsi) e

eventualmente, na falta de cabeças ou quando as mesmas não estão

completamente descongeladas, são usados saquinhos de rede de malha estreita,

com vísceras de peixes dentro. As iscas são postas para descongelar, no convés

em água corrente, 24 horas antes de sua utilização, só sendo usadas quando

descongeladas e preferencialmente, já exalando odor de carne deteriorada.

As armadilhas são montadas em unidades de pesca ou lances que os

japoneses denominam de “linhas”.

Cada “linha” é composta de quatro bóias plásticas de PVC, dispostas

linearmente, na sua porção emersa primária, seguida de um cabo de arrinque de

polipropileno (de 1 polegada) com comprimento 3 vezes a profundidade local, que

termina em uma armadilha especial, denominada “anca” - feita com ferro de 1

polegada e meia, muito mais pesada que as demais – partindo da mesma o cabo

madre ou cabo de fundo, onde são presas as armadilhas. Na outra extremidade do

cabo madre existe outra “anca”, de onde sai um segundo cabo de arrinque, também

com 3 vezes a profundidade local, que termina na superfície em três bóias plásticas

de PVC, amarradas a um mastro com uma bandeira vermelha triangular de

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sinalização. Para os lance que planeja-se o recolhimento no período de pouca luz

natural, é colocado um emissor rádio e uma lanterna junto ao mastro da bandeira.

Todos os cabos (arrinque e madre) são da mesma espessura e do mesmo

material, sendo diferenciados pela presença de cabos secundários perpendiculares

ao cabo madre, onde são atadas as armadilhas. Não são usados distorcedores ou

manilhas para a amarração, sendo a mesma feito por intermédio de “nós de

marinheiro”, específicos para cada parte da unidade de pesca.

Entre a “anca” e a primeira armadilha são deixados cerca de 800 metros de

cabo – o mesmo é feito para a segunda “anca” e a última armadilha da linha. As

armadilhas distam entre si 21,6 metros ou 12 braças. Das armadilhas sai um cabo

fino (1/2 polegada) de polipropileno que é atado a outro cabo semelhante que sai do

cabo madre, desta forma, cada armadilha dista aproximadamente 2,5 metros do

cabo de fundo.

A supressão de ferragens na linha foi feita para facilitar e otimizar o

lançamento e recolhimento das unidades de pesca, desta forma, o desengate das

armadilhas, a união e a separação dos cabos é bem mais rápida e segura. Todavia,

os nós utilizados e o tipo de amarração dos cabos das armadilhas demandam um

período de treinamento por parte da tripulação, o qual foi feito, no terceiro cruzeiro,

durante os cerca de três dias de navegação até o primeiro local de trabalho de

pesca.

Além da arte de pesca acima descrita, o navio conta ainda com um sistema

de navegação por satélite (GPS-FURUNO) acoplado ao piloto automático; dois

radares de ampla varedura (FURUNO), duas ecossondas (FURUNO), termômetros

para água superficial (inserido no casco), barômetros, radiogoniômetro, agulha

giroscópica, radio em UHF, VHF e SSB, telefone via satélite, entre outros

equipamentos utilizados para a pesca e para comunicação com outros navios nas

imediações ou com o IMAIPesca (em Santos) e até mesmo com a Taiyo, no Japão.

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Operação de Pesca e Processamento Industrial dos Caranguejos

Durante os dois primeiros dias de navegação a tripulação passa por um

intenso treinamento onde aprendem os nós de amarração das armadilhas (como

dito anteriormente); as laçadas necessárias para fixação dos cabos entre as

armadilhas e o cabo de fundo; a forma correta de prender as iscas; a higienizarão

das diversas áreas de trabalho do navio, entre eles o setor de processamento dos

caranguejos - tanto de convés como paiol e porão; e recebem instruções sobre a

forma correta e cuidados com a operação das máquinas de evisceração,

despolpamento e embalagem; a rotina de congelamento do produto final e a faina

de convés para lançamento e recolhimento das armadilhas.

Aproximadamente nas coordenadas 32o49.32’S e 50o35.92’W o navio fez sua

primeira operação real de convés, com o recolhimento de uma linha de 430

armadilhas que haviam sido deixadas “estocadas” no fundo do mar (a 358 metros

de profundidade), quando do retorno da última viagem de pesca. Ainda nas

imediações foram recolhidas mais 400 armadilhas de uma segunda linha a 300

metros de profundidade, totalizando 830 armadilhas novas que foram colocadas

juntas com as 600 armadilhas que o navio já transportava quando da saída do

porto. Segundo o Sr. Mori, chefe das operações de pesca, esta estratégia é

necessária pois, dado o tamanho do navio e a distância percorrida para a chegada a

área de pesca, o transporte desnecessário de todas as armadilhas vazias até o

porto constitui um desperdício de espaço e combustível.

Das 830 armadilhas recolhidas, 62 estavam quebradas e por isso foram

descartadas e jogadas ao mar. Antes de seu descarte, são retiradas a presilha de

amarração da boca, as presilhas de fixação das iscas e o funil plástico da boca.

A linha com armadilhas é recolhida com a ajuda de um guincho e com

garatéias visto que estas linhas, para não serem roubadas, não tem cabo de

arrinque ou bóias de marcação, sendo mantidas na coordenada desejada através

de poitas de 60 kg ou mais, dependendo do local.

Durante o recolhimento das armadilhas foram capturados 38 batatas, 9

congros-rosa (Genypterus brasiliensis), 186 “caranguejos-aranha” (Libynia spinosa)

e 82 “caranguejos de fundo” (Chaceon sp), este último o principal alvo de pesca do

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Kimpo Maru. Tais animais não foram colocados nas estatísticas de pesca devido a

não fazerem parte das operações regulares de pesca de caranguejo, sendo sua

captura acidental, e por isso, com exceção dos peixes, todos devolvidos ao mar.

Após o recolhimento foram iscadas 865 armadilhas para serem lançadas no

dia seguinte, sendo acondicionadas abertas e uma sobre as outras, em parte da

popa e na passagem de bombordo.

As operações regulares de pesca tem início normalmente as 7 horas da

manhã e o término das mesmas, no convés se dá pelas 20 horas e na fábrica não

existe hora definida, estendendo-se até o final do processamento do material

pescado no mesmo dia.

O lançamento das armadilhas se faz pela popa do navio e em três etapas

(Figura 7):

1 - as armadilhas, já iscadas, são fechadas por um tripulante e presas ao

cabo madre por outro marinheiro;

2 - em fila, os marinheiros passam as armadilhas de mão em mão, rolando as

mesmas, para Boreste e

3 - as bóias são lançadas ao mar, depois, com o cabo de arrinque já

esticado, segue-se o lançamento da “anca” e em seguida as armadilhas

são colocadas, uma a uma, na rampa da popa e, devido ao próprio peso

do cabo que as antecede e ao movimento do navio (a velocidade de 3,2

mn), são arremessadas na água. Após a última armadilha, e o

estiramento do resto do cabo de fundo, é lançada a segunda “anca” e a

seguir, o segundo arrinque. Na extremidade deste último encontram-se

as demais bóias de marcação e a bandeira para sinalização.

Nesta operação atuam cerca de 12 marinheiros, os demais ficam na proa

esperando instruções ou preparando material para os próximos lançamentos ou

recolhimentos. O tempo de lançamento varia de acordo com a quantidade de covos

na unidade de pesca, oscilando entre 40 e 50 minutos.

O recolhimento das armadilhas (Figuras 8 e 9) é uma operação que requer

muita atenção e esforço da tripulação, em geral composta de 6 marinheiros nesta

fase do trabalho, e que pode levar varias horas para ser completada.

8

Page 15: Relatório de Embarque no Navio de Pesca e Processamento ...

Após a localização das bóias, com um gancho na ponta de uma haste de

metal presa ao cabo de aço do guincho, um tripulante recolhe a ponta do cabo de

arrinque e um segundo tripulante prende esta ponta a uma roldana mecânica que

puxa o cabo para dentro do navio. Ainda de posse do guancho, o primeiro tripulante

fisga armadilha por armadilha que, com a ajuda do guincho do navio é içada para

bordo (Figura 8) até uma plataforma de madeira, na proa a Boreste, junto da área

de processamento dos caranguejos, no convés.

As armadilhas, suspensas são abertas por baixo, por um terceiro marinheiro,

sobre a plataforma de armazenagem temporária (Figura 9) e também retira a

armadilha do gancho e o devolve para o segundo marinheiro. Um quarto marinheiro

recolhe a armadilha e prende o cabo de amarração (armadilha/madre) na própria

armadilha. Por uma rampa, esta armadilha é passada para um quinto marinheiro

que coloca as mesmas em um teleférido (ou transportador automático) (Figura 9C),

responsável por levá-las, por Boreste, até a popa onde são novamente iscadas e

guardadas, esperando novo lançamento.

O cabo recolhido nesta fase é levado pela água, por um recolhedor mecânico

de cabo, da proa para a popa, onde é enrolado e preparado para novo lançamento.

Após o término da operação de recolhimento, uma nova linha ou unidade de

pesca é preparada e lançada ao mar. Tanto o recolhimento como o lançamento das

linhas de pesca são monitorados, do passadiço (Figura 10), pelo Capitão e

principalmente pelo Mestre de Pesca - “Fishing Master”; este último plota em cartas

náuticas (Figura 10B) e em diário de bordo, as coordenadas iniciais, intermediárias

e finais dos lance de armadilhas, além de dados temporais de operação, número de

armadilhas, tipo de isca, quantidade (em kg) de caranguejos pescados por lance,

além de informações atmosféricas pertinentes.

Em paralelo ao recolhimento das armadilhas, na área de processamento de

convés, aproximadamente 8 marinheiros, fazem a limpeza e pré-corte dos

caranguejos (Figura 11). Nesta parte da operação também é feita uma triagem,

onde as fêmeas pequenas e/ou ovadas e os machos muito pequenos são

devolvidos ao mar. O refugo das carapaças é lançado na água através de uma

esteira de borracha, na parte inferior da mesa de limpeza.

Em um eixo mecânico rotativo, com um cilindro metálico sulcado, os

marinheiros arrancam a carapaça dos animais e, com uma escova giratória, retiram

9

Page 16: Relatório de Embarque no Navio de Pesca e Processamento ...

as vísceras dos mesmos e fazem a limpeza das patas e quelas, extraindo

organismos incrustantes ou sujeira de cima destas. Em seguida o caranguejo é

partido em duas partes, com meio cefalotórax e quatro patas cada, sendo colocados

em caixas plásticas (Figura 11C). As quelas são separadas em caixotes plásticos,

sendo posteriormente encaminhadas para o cozimento; a parte posterior do braço

da quela é levada por uma esteira para um grande saco de malha de rede (dentro

de uma cisterna com água do mar corrente), que quando cheio é posto nas

caldeiras de cozimento.

As caixas plásticas com os meio-cefalotórax são colocadas no meio do

convés de proa onde um grupo de marinheiros (Figura 12), munidos de cortadores

de ferro, separam as quatro patas do meio-cefalotórax, na altura da primeira

articulação, colocando-os separados em novos engradados (Figuras 12C e D).

Estes, quando cheios, são levados para o cozimento, também no convés de proa.

Independente do conteúdo dos engradados – patas, quelas ou meio-

cefalotórax, com um guincho hidráulico (Figura 13), grupos de 9 engradados

plásticos são colocados nos tanques de cozimento de água salgada, a 100o C por

10 minutos, para cozimento e esterilização da carne dos caranguejos. Após esta

este tempo, os engradados são colocados em um tanque de água do mar a

temperatura ambiente, para esfriamento e depois de alguns minutos, são

encaminhados por um elevado para o porão do navio dando continuidade ao

processo de preparação da carne dos caranguejos.

A parte posterior das quelas são levadas para cozimento no próprio saco de

rede (Figura 13C), sendo depois encaminhadas para a moagem na área de

processamento industrial do navio (porão), por um grande alçapão na proa que dá

abertura para o recipiente de recolhimento da moenda.

Não importando a quantidade, todo o pescado do dia precisa ser cortado e

cozido no mesmo dia, para que a carne dos caranguejo não perca a qualidade e

possa ser congelada. A cada cozimento as temperaturas dos tanques de fervura e

de resfriamento, bem como os tempos de preparo, são tomados e registrados.

Estas informações depois são incorporadas a um relatório técnico que acompanha

os produtos finais quando da exportação.

10

Page 17: Relatório de Embarque no Navio de Pesca e Processamento ...

No porão e no paiol do navio fica a área de processamento industrial do

navio. Nela encontram-se uma moenda-trituradora, oito prensas cilíndricas, uma

empacotadora/seladora, o túnel de congelamento e os frigoríficos para

armazenagem dos produtos finais.

Para entrar nesta área, os marinheiros tem de lavar as mãos, pés e roupas

plásticas em uma solução detergente e ainda passar uma solução antibiótica nas

mãos. Esta medida preventiva, rigorosamente respeitada no navio, é uma exigência

sanitária imposta pelo mercado japonês e americano para que a carne de

caranguejo possa ser exportada para esses países. Além disso todos os tripulantes

na fábrica devem trabalhar de chapéu ou gorro.

A moagem das partes posteriores das quela é feita no porão do navio.

Através do alçapão no convés de proa, as mesmas chegam a um reservatório seco

de onde, manualmente, são jogadas dentro da moenda-trituradora (Figura 14.1). Em

uma primeira moagem, por uma peneira cilíndrica rotativa de furos largos, é

separada a parte mais densa e fibrosa da carne (Figura 14.1B). Este

triturado/homogeneizado de carne de caranguejo é colocado em uma bandeja de

alumínio, vazada e com tela no fundo, que passa por uma prensa hidráulica onde o

excesso de água é retirado da carne. Em seguida o homogeneizado é pesado e

empacotado (em um saco grande de plástico acondicionado em uma caixa de

papelão), sendo prontamente levado para a área de congelamento, constituindo o

primeiro produto já finalizado da moagem.

A resto da primeira moagem (pedaços de carapaça, fragmentos de carne e

água) segue, por uma esteira, para uma segunda moenda de onde, por uma

peneira cilíndrica rotativa de furos estreitos, sai um caldo pastoso de carne de

caranguejo (Figura 14.2D). Este caldo é então coado (Figura 14.2E), onde a porção

mais grossa constitui o segundo produto da moagem (usado na preparação de

temperos); a porção mais fina e líquida constitui o terceiro produto da moagem,

sendo que esta caldo bastante ralo é usado, misturado com carne de peixe, para a

fabricação do “Kani-kana”. Os dois tipos de caldos são, separadamente, colocados

em sacos plásticos pequenos, pesados e lacrados. Cada quatro sacos são

acondicionados em uma caixa de papelão (Figura 16A), sendo a mesma levada

para a área de congelamento.

11

Page 18: Relatório de Embarque no Navio de Pesca e Processamento ...

Depois de cozidas, as patas são trazidas para a área industrial (porão) onde,

uma a uma, são passadas por uma prensa cilíndrica (Figuras 15A e 15B) para

retirada da carne, sendo o resto das patas (casca) jogado ao mar por esteiras. Os

marinheiros ficam sentados, aos pares, em bancos de metal e, com sacos plásticos

e caixinhas plásticas pequenas, fazem o pré-empacotamento dos produtos obtidos

das patas. Aqui obtêm-se dois tipos de carne, uma mais macerada (dos segundo,

terceiro e quarto segmentos da pata) e um segundo tipo, mais compacta e

estruturada - na forma de pequenos cilindros (do primeiro segmento ou “coxa”).

Estes dois tipos de carnes das patas são colocados, separadamente, nas

caixinhas plásticas que são recolhidas para uma mesa central (Figura 15C), onde é

retirado o excesso de água de cada embalagem, pesadas e embrulhadas (Figura

16C) sendo, doze a doze, acondicionadas em uma caixa de papelão que é levada,

após o lacramento, para o túnel de congelamento. A carne retirada das “coxas” das

patas dos caranguejos constitui o produto de maior valor comercial. Em virtude

deste fato, do segundo para o terceiro cruzeiro, a IMAIPesca/Taiyo instalou mais

quatro unidades de prensamento, visando o lucro sobre este tipo de produto.

Tanto as quelas, como os meio-cefalotórax, após o cozimento, não

necessitam de uma segunda preparação, já estando prontos para serem

embalados. Os engradados plásticos com os mesmos são levados para a área

industrial e separadamente, as quelas (Figura 16B) e os cefalotórax (Figura 16D),

são ensacados, pesados e acondicionado em caixas de papelão que, após seladas

(Figura 16E), são colocadas no túnel de congelamento.

De maneira comparativa, na Figura 2 observa-se o animal inteiro com as

partes a serem processadas devidamente assinaladas e rotuladas segundo a

classificação do produto final; e na Figura 16 podem ser observados alguns desses

produtos finais já prontos e em fase de empacotamento.

Após 18 horas no túnel de congelamento, a tripulação, em grupos de oito

homens que se alternam diariamente, fazem a passagem das caixas para a área de

armazenagem nos frigoríficos do navio, no segundo e terceiro porões.

12

Page 19: Relatório de Embarque no Navio de Pesca e Processamento ...

Observações sobre a captura, a área de pesca e os dados morfométricos dos organismos amostrados

Foram efetivamente acompanhados 20 lances de pesca de caranguejos

(Tabela III), no período entre 20/06 e 08/07 do presente ano, realizados entre 34o28’

e 34o44’ de latitude sul e 51o47’ e 51o59’ de longitude oeste (Figura 4), sendo

lançados entre 429 e 500 covos por unidade de pesca (média de 474,65

covos/lance), com captura média de 2.220,55 kg, totalizando 44.411 kg de

caranguejo para os 9.493 covos utilizados.

De forma geral o tempo médio de permanência das unidades de pesca na

água foi de aproximadamente 40 horas, sendo o menor tempo de 18 horas e o

maior de 67 horas.

A captura por unidade de esforço (CPUE) revelou-se baixa em relação a

capturas feitas por outros barcos usando petreços semelhantes para a mesma área

de pesca. O mínimo valor constatado para o Kimpo Maru foi de 2,642 kg/covo e o

máximo 7,200 kg/covo, tendo-se como CPUE média 4,687 kg/covo.

Lima & Branco (1991) e Silva (1985), relatam a experiência de pesca de

caranguejos, com covos circulares, de dois navios-fábrica japoneses (Koyo Maru no

8 e Hoshin Maru no 2) no período entre 1984 e 1985, para a mesma área de

atuação do Kimpo Maru e ainda para a costa de Santa Catarina. Estas

embarcações obtiveram capturas de 11,07 kg/covo e 6,2 ton/dia no Rio Grande do

Sul e 6,26 kg/covo e 4,1 ton/dia para Santa Catarina. Considerando-se a mesma

área referente a costa do Rio Grande do Sul, os valores de CPUE obtidos para o

Koyo Maru no 8 mostraram-se mais altos do que os obtidos para o Kimpo Maru,

mesmo quando padronizados o período de submersão para 20 horas de tempo

efetivo de pesca.

Quando considerados os valores de CPUE, feitos numa análise preliminar

para os dois cruzeiros de primavera/verão realizados pelo Kimpo Maru, constatam-

se valores mais altos e até superiores, entre 11,083 e 15,712 kg/covo, para a

mesma área efetiva de pesca. Estes valores acima mencionados não são definitivos

pois os lances dos dois primeiros cruzeiros do Kimpo Maru ainda estão sendo

analisados. O mesmo pode ser dito para os valores observados para o terceiro

cruzeiro visto que, tais resultados dizem respeito apenas aos primeiros 20 lances da

13

Page 20: Relatório de Embarque no Navio de Pesca e Processamento ...

viagem, sendo que os dados referentes aos demais lances ainda não foram

enviados pelo IMAIPesca para a análise.

As diferenças entre os valores de CPUE observados para os cruzeiros de

primavera/verão e inverno do Kimpo Maru podem ser explicadas pela mudança nas

características físico-químicas das massas d’água presentes na região,

principalmente em relação a temperatura da água e a salinidade, motivando a

migração latitudinal e longitudinal das populações de caranguejos. Resultados

semelhantes podem ser observados em Barea & Defeo (1986) e Defeo et al. (1992),

para a costa uruguaia e argentina, em dois trabalhos sobre a pesca de Geryon

quinquedens.

Outro motivo que pode ter contribuído para as menores capturas no terceiro

cruzeiro diz respeito a preparação técnica do pessoal embarcado. Durante metade

do período em que este pesquisador esteve embarcado, a tripulação esteve em

regime de treinamento, fazendo apenas um lance por dia. Em operações regulares

de pesca esta mesmo navio, com tripulação mais treinada, executou 2 a 3

lances/dia, aumentando desta forma a área amostrada pela arte de pesca.

Nas Figuras 17 e 18 verifica-se que, tanto em termos de captura absoluta

como por unidade de esforço, a eficiência de pesca dos covos não esteve

associada ao aumento no número de armadilhas, mas sim a localização geográfica

dos lances em função da profundidade local (Figura 19), sendo as capturas mais

eficientes para as isóbatas mais rasas, inferiores a 550 metros. Este fato é

semelhante ao observado por Barea & Defeo (1986) e Defeo et al. (1992), onde os

rendimentos médios máximos foram entre as profundidade de 400 a 500 metros no

verão e 600 a 900 metros na primavera.

Com relação a proporção de machos e fêmeas capturadas (Figura 20),

considerando-se a sub-amostragem feita para a coleta de dados morfométricos e

biológicos, constata-se que na maior parte dos lance ocorreu uma clara

predominância dos machos sobre as fêmeas, todavia observa-se que os lances

onde esta relação foi inversa existia a proximidade geográfica das áreas de

realização da pesca. Este fato sugere que a distribuição dos indivíduos no fundo

possa ser em faixas por segregação sexual, onde em algumas latitudes/longitudes

predominam machos e em outras predominam fêmeas.

14

Page 21: Relatório de Embarque no Navio de Pesca e Processamento ...

Mori (comum. pess.2) relatou durante o embarque que em diversas ocasiões

existe grande predomínio de machos em dois ou três lances seguidos e contíguos,

sucedidos por outra série de lances também contíguos mas com predomínio de

fêmeas. Esta distribuição também pode ser observada ao longo de um lance

quando se verifica uma série de armadilhas com predomínio de machos, seguida de

outra série com predomínio de fêmeas. Este fato sugere a distribuição dos sexos

em manchas ou faixas, o que vem a corroborar com a idéia de distribuição em

faixas, segundo a latitude, observada na figura 20.

Valores de comprimento, largura e altura do cefalotórax; peso; sexo e estadio

de maturidade, foram anotados para 5218 caranguejos, coletados aleatóriamente na

plataforma de armazenagem do convés de proa, para os 20 lances de pesca. As

amplitudes de comprimento dos machos (70 a 210 mm) foram bem diferentes que

as fêmeas (60 a 120 mm) mostrando que estas são bem menores do que aqueles,

como visto na figura 1. Este mesmo tipo de relação, porem em proporções

diferentes também é verificada para a largura e altura do cefalotórax. Existe uma

intrínseca relação proporcional entre as medidas comprimento-largura-altura e

também entre comprimento-largura-peso que podem servir para a classificação ou

até mesmo para definição de populações. Os dados referentes a biometria destes

animais ainda esta sendo analisada, não sendo possível ainda atribuir valores

numéricos concretos a estas relações proporcionais.

Considerando-se todos os lances efetuados, os covos circulares usados no

Kimpo Maru mostraram-se altamente específicos para a pesca de caranguejos

sendo que, para um total de 9.493 armadilhas utilizadas e 44.411 kg de

caranguejos, foram capturados apenas 2 exemplares de Bathynomus spp, 6

exemplares de Osteichthyes (Urophycis mystaceus) e 4 exemplares de

Chondrichthyes (“Caçonete”).

2 Mori, Shigesi (1999) – Mestre de operações de pesca (Fishing Master) do navio Kimpo Maru no 58.

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Page 22: Relatório de Embarque no Navio de Pesca e Processamento ...

Considerações Finais

Apesar do tempo de permanência do pesquisador do REVIZEE, embarcado

no Kimpo Maru no 58, ter coincidido com um período de treinamento da tripulação e

por isso com uma intensidade de operação de pesca mais baixa, o número de

lances observados e os dados obtidos para os cruzeiros anteriores permitem afirmar

que os valores de abundância relativa encontrados, a forma de atuação seletiva,

não predatória e com baixo impacto ambiental direto tornam a pesca com covos

altamente recomendável e prática.

Considerando-se as diferenças de tamanhos observados entre caranguejos

de sexos opostos, e ainda os trabalhos presenciados no Kimpo Maru neste terceiro

cruzeiro, fica claro que a pesca com covos atua sobre os dois estratos da

população, de forma indistinta e não seletiva em termos de tamanho. Este fato

chama a atenção para a preocupação por parte dos japoneses em devolver para o

mar as fêmeas ovadas e/ou de pequeno porte, bem como os machos pequenos,

como uma forma de proteger as matrizes e garantir a reprodução da espécie,

visando a manutenção da exploração lucrativa do caranguejo de profundidade.

Devido a algumas divergências quanto a identificação das espécies de

caranguejos capturadas na região sul/sudeste e nordeste do Brasil, pelo projeto de

prospeção demersal do Programa REVIZEE, exemplares destas amostragens e

animais capturados dentro das atividades de pesca do Kimpo Maru foram remetidos

para identificação, por especialistas, do Museu de Zoologia da USP/SP (Dr.

Gustavo Augusto S. de Melo) e do Smithsonian Institute/EUA (Dr. Ray Manning).

Até o momento já se conhece o parecer do Dr. Gustavo Melo que classificou os

animais pescados pelo navio japonês como sendo Chaceon ramosae Manning,

Tavares & Albuquerque, 1989 e os espécime capturados no nordeste como sendo

Chaceon cf. affinis Edwards & Bouvier, 1894.

A identificação por parte do especialista no Smithsonian Institute ainda não

foi recebida, todavia se a identificação feita pelo especialista brasileiro se confirmar,

então ter-se-à provavelmente três espécies de caranguejos (Chaceon ramosae,

Chaceon noctialis e Geryon quinquedens) coabitando áreas muito próximas e

constituindo talvez um importante recurso compartilhado pelo Brasil, Uruguai e

Argentina. A semelhança com os dados de densidade, distribuição batimétrica e

16

Page 23: Relatório de Embarque no Navio de Pesca e Processamento ...

alguns aspectos da biologia destas espécies na área sudeste-sul e aqueles

encontrados por Defeo et al. (1992) corroboram com esta hipótese.

Em paralelo à elaboração e digitação do banco de dados de operação de

captura de caranguejos de profundidade durante as atividades de pesca

desenvolvidas pelo Kinpo Maru no 58 (IMAIPesca/Santos), envolvendo os dois

cruzeiros de verão (1997/1998) e o cruzeiro de inverno (1999), nas proximidades do

Rio Grande do Sul, esta sendo desenvolvido o banco de dados biológicos e

morfométricos de Chaceon ramosae, obtidos durante este terceiro cruzeiro. Estes

dados constituem uma oportunidade excepcional para o estudo da abundância,

dinâmica populacional e potencial pesqueiro para esta espécie, permitindo inclusive

a avaliação da sustentabilidade do recurso pesqueiro.

Os trabalhos desenvolvidos por Barea & Defeo (1986) e Defeo et al. (1992)

com a pesca de Geryon quinquedens na ZCPAU, evidenciam a preocupação com a

administração deste potencial recurso pesqueiro, tendo calculado valores de

captura permissível em torno de 1.760 e 3.700 ton/ano e rendimento potencial

médio calculado em 2.700 ton/ano. Para estes valores por eles calculados, estimou-

se que apenas 2 barcos poderiam ter permissão para a captura do recurso em

questão. Este tipo de pesquisa ainda não foi desenvolvida para as espécies de

caranguejos de profundidade encontradas no Brasil, sendo os dados obtidos com os

mapas de bordo do Kimpo Maru e com o embarque neste mesmo navio, o primeiro

passo em direção a estudos que evidenciem comprometimento do recurso e

critérios para sua utilização.

Recomenda-se que, se possível, novos embarques sejam realizados, além

do constante acompanhamento e análise dos mapas de bordo das embarcações

envolvidas com este tipo de pesca, sejam elas as atuais ou futuras.

Em especial, o trabalho de Lima & Branco (1991) demonstra de forma

bastante clara que, sem o adequado gerenciamento destes recursos, seu uso

sustentável e futuro pode ser seriamente comprometido.

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Page 24: Relatório de Embarque no Navio de Pesca e Processamento ...

Bibliografia

Barea, L. & Defeo, O. (1986) Aspectos de la pesqueria del cangrejo rojo (Geryon quinquedens) en la Zona Comun de Pesca Argentino-Uruguaya. Publ. Com. Téc. Mex. Fr. Mar, 1(1): 38-46.

Beddington, J. R. & Cooke, J. G. (1983) The potencial yield os fish stoks. FAO Fish. Tech. Pap., 242, 47p.

Cayré, P.; Le Loueff, P. & Intes, A. (1979) Geryon quinquedens, le crabe rouge profond. Biologie, pêche, conditionnement, potentialites d’explotation. La Pêche Maritime, 1210, 8p.

Defeo, O.; Barea, L.; Niggemeyer, F. & Little, V. (1992) Abundancia, distribucion y dimensionamiento de la pesqueria del cangrejo rojo Geryon quinquedens Smith, 1879 em el Atlantico sudoccidental. Informe Tecnico no 38, Instituto Nacional de Pesca, Montevideo, Uruguay. 72p.

Lima, J. H. M. de & Branco, R. L. (1986) Análise das operações de pesca do caranguejo de profundidade (Geryon quinquedens Smith 1879) por barcos japoneses arrendados na região sul do Brasil – 1984/85. SUDEPE-CEPSUL. 23p. (mimeografado)

Lima, J. H. M. de & Branco, R. L. (1991) Análise das operações de pesca do caranguejo de profundidade (Geryon quinquedens Smith 1879) por barcos japoneses arrendados na região sul do Brasil – 1984/85. Atlântica, Rio Grande, 13(1):179-187.

Silva, J. N. A. (1985) Introdução da pesca comercial de caranguejos de alta profundidade no Brasil. Informe de viagem no 7. Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento Pesqueiro – PDP/SUDEPE. Ag. Rio Grande: 1-21.

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Page 25: Relatório de Embarque no Navio de Pesca e Processamento ...

Tabelas e Figuras

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Page 26: Relatório de Embarque no Navio de Pesca e Processamento ...

Tabela I - Características do Navio de Pesca Kimpo Maru n o 58

Nome da Embarcação Kimpo Maru no 58Nome e endereço do armador no Japão

Taiyo Fishing Co.Ltd 2-4-18 Nakaminato, Yaizu-shi Shizuoka-ken - Japan

Nome e endereço do armador no Brasil (arrendatário)

IMAIPesca Ind. e Com. de Pescados Ltda R. Otavio Corrêa, 115 1o and. Santos-SP

Nome e endereço do construtor Yamanishi Shipbuilding & Iron Works Ltd Ishinomaki, Miyagi-ken

Ano de construção Fevereiro de 1986Tipo de ambarcação Covos (armadilhas)Classificação Alto-marNúmero de registro 128227 - JFXBComprimento total 56,96 metrosComprimento entre perpendiculares

54,00 metros

Bolca moldada 8,7 metrosCalado 3,85 metrosTonelagem bruta 349 toneladasVelocidade 16 nósCapacidade de congelamento 45 ton/diaTemperatura do paiol (oC) -40Capacidade do porão pescado 869,56 m3

Número de porões de pescado 06 (seis)

Capacidade de combustível 485 toneladasCapacidade de água potável 41 toneladasPotência do propulsor 2000 HPPotência do auxiliar 2 x 540 HPNúmero de tripulantes 32 (trinta e dois)Número de propulsores 01 (um)Diâmetro externo do propulsor 3960 mmMaterial do casco aço soldadoProdução de gelo a bordo nãoProcessamento a bordo Evisceração, despolpamento,

congelamento e embalagem

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Tabela II - Lista de pessoal embarcado no Kimpo Maru n o 58 (3o cruzeiro)

No Nome Grau ou função País de origem

1 Toyomitu Sugita Capitão Japão2 Shigesi Mori Fishing Master / oficial náutico Japão3 Fujio Morita Operador de rádio Japão4 Yutaka Haga Pescador Japão5 Masanori Sasaki Pescador Japão6 Kyugoro Abe Cozinheiro Japão7 Kazuhiko Hotta Chefe de máquinas Japão8 Tatsuo Kitamura Sub-chefe de máquinas Japão9 Mitsuo Aramichi Condutor Japão

10 Tatsunosuke Simazaki Condutor Japão11 Iishihamba Shikwambi Maquinista Namíbia12 George T. K. Ashoongo Maquinista Namíbia13 Paulus Elia Pescador Namíbia14 Jackson Mateus Pescador Namíbia15 Joseph Paulus Pescador Namíbia16 Ndeutala Haindaka Pescador Angola17 Bonefacio Jenonimo Pescador Angola18 Tercisio Mekeni Inacio Pescador Angola19 Syarifudin Pangoro Pescador Indonésia20 Ahmad Lamatoro Pescador Indonésia21 Rasumi Pescador Indonésia22 La Ade Latasmini Pescador Indonésia23 Ujang Janenal Aripin Pescador Indonésia24 Nurkholis Pescador Indonésia25 Darci Antônio de Camargo Imediato Brasil26 Antônio Modesto da Silva Pescador Brasil27 Tsunezaki Makanda Kari Técnico de Pesca Brasil28 Ronaldo Alves Marques Pescador Brasil29 Manoel Messias dos Santos Pescador Brasil30 Idelfonso Bernarde de Oliveira Técnico de Pesca Brasil31 Luciano da Silva Dias Pescador Brasil32 Daniel Batista de Oliveira Pescador Brasil33 Katsumasa Shirai Condutor Japão34 Alessandro Augusto Rogick Athiê Pesquisador REVIZEE Brasil

Page 28: Relatório de Embarque no Navio de Pesca e Processamento ...

Tabela III - Dados operacionais e esforço de captura na pesca de caranguejos de profundidade executada pelo navio de pesca "Kimpo Maru no 58"durante o terceiro cruzeiro de operação na região sul do Brasil.

Número do Lance

Data de Lançamento Latitude Longitude Profundidade

(m)

Tempo de Submersão

(min)

Número de Covos

Captura (kg)

CPUE (kg/covo)

Captura Cumulativa

(kg)

Frequência Machos

(%)

Frequência Fêmeas

(%)

1 20/6/1999 34o41.93' 51o57.02' 648 2620 429 1988 4,634 1988 53 472 20/6/1999 34o44.04' 51o59.72' 550 1315 436 1536 3,523 3524 51 493 21/6/1999 34o39.97' 51o56.91' 502 2520 436 1784 4,092 5308 55 454 22/6/1999 34o39.97' 51o56.91' 601 2520 429 1452 3,385 6760 52 485 23/6/1999 34o41.57' 51o57.23' 551 2590 436 2680 6,147 9440 71 296 24/6/1999 34o40.42' 51o51.56' 698 2590 429 2316 5,399 11756 70 307 25/6/1999 34o39.60' 51o51.56' 479 2520 479 3236 6,756 14992 74 268 26/6/1999 34o41.28' 51o57.01' 600 2540 480 2104 4,383 17096 68 329 27/6/1999 34o36.10' 51o53.88' 508 4020 480 3456 7,200 20552 71 2910 28/6/1999 34o41.68' 51o56.75' 647 3960 479 2528 5,278 23080 62 3811 30/6/1999 34o32.98' 51o50.90' 548 2533 480 3308 6,892 26388 58 4212 1/7/1999 34o42.68' 51o57.03' 695 2547 500 1896 3,792 28284 56 4413 2/7/1999 34o32.65' 51o50.63' 552 2545 500 3112 6,224 31396 46 5414 3/7/1999 34o37.71' 51o54.02' 600 2410 500 2096 4,192 33492 61 3915 4/7/1999 34o31.94' 51o50.51' 516 2530 500 2884 5,768 36376 47 5316 5/7/1999 34o37.67' 51o53.44' 649 2510 500 1321 2,642 37697 60 4017 6/7/1999 34o28.66' 51o47.46' 550 1440 500 1543 3,086 39240 62 3818 7/7/1999 34o33.64' 51o50.77' 603 1085 500 1508 3,016 40748 49 5119 7/7/1999 34o29.59' 51o47.17' 500 2540 500 2143 4,286 42891 65 3520 8/7/1999 34o33.40' 51o50.09' 652 1095 500 1520 3,040 44411 49 51

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A

B

Figura 1 - Dois exemplares de Chaceon ramosae capturados na operação de pesca do Kinpo Maru no 58, sendo (A) uma fêmea e (B) um macho. Obs.: paquímetro, usado como escala de referência, com 20 cm de comprimento.

HP

AM

FY

KS

FE / FC

Comprimento

Largura

Figura 2 - Esquema de um Chaceon ramosae com destaque para as medidas morfométricas de comprimento e largura (traço vermelho) e altura (estrela verde); também são evidenciadas as partes do caranguejo de onde são obtidos os produtos (em preto) para comercialização: FE - carne fibrosa, FC1 - caldo grosso e FC2 -caldo fino, todos oriundos da moagem; HP - dactilos ou quelas; FY - cilindro de carne, AM - carne macerada,ambos provenientes das patas; e KS - metade de cefalotórax .

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A

B

C

Figura 3 - Visão geral do Navio de Pesca “Kimpo Maru no 58” (A), com detalhe do local, a bombordo (B), onde são acondicionadas as armadilhas. Em (C) podem ser vistas as armadilhas com dois tipos diferentes de malha e a “anca”, assinalada com uma seta.

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-54.00 -52.00 -50.00 -48.00 -46.00-36.00

-34.00

-32.00

-30.00

-28.00

Lagoa dos

Patos

Rio Grande

Itajaí

N

100 500

1000Cabo de Santa Marta Grande

Figura 4 - Área de pesca do Kimpo Maru no 58 com destaque para a região (em vermelho) onde foram realizados os 20 primeiros lances do terceiro cruzeiro.

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155 cm

125 cm

98 cm

65 cm

42 cm

43 cm

61 cm

43 cm

25 cm

Figura 5 - Dimensões do covo de base circular e perfil cônico, utilizado pelo navio de pesca “Kinpo Maru no 58”, na pesca de caranguejos de profundidade (Red Crab).

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B

A

Figura 6 - Como iscas, para atração dos caranguejos, são utilizadas cabeças (A) de diversos tipos de peixes de grande porte (p.ex. atum, bonito, albadora e corvina); presas duas a duas (B) por presilhas de aço inox dentro das armadilhas.

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A

B

C

Figura 7 - Três etapas de lançamento das armadilhas ao mar: (A) as armadilhas, iscadas, são fechadas e presas no cabo madre por um tripulante; (B) em fila, os marinheiros passam as armadilhas para estibordo; (C) as armadilhas são colocadas na rampa da popa e, devido ao próprio peso do cabo que as antecede e ao movimento do navio, são arremessadas na água.

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A

B

C

Figura 8 - As linhas de armadilhas são marcadas com bóias (A) para facilitar a localização e recolhimento das mesmas; com um gancho em uma haste de metal (B), as bóias e as armadilhas são fisgadas e puxadas para bordo (C), com a ajuda do guincho do pau de carga, na proa a estibordo.

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A

B

C

Figura 9 - As armadilhas, suspensas, são abertas por baixo (A), sobre uma plataforma de armazenagem temporária (B), anexa a área de limpeza dos caranguejos (seta); depois os cabos das armadilhas são presos e as mesmas são transportadas para a popa por um teleférico (C) a estibordo, sendo reiscadas e estocadas até o próximo lançamento.

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A

B

Figura 10 - Toda a operação de pesca (lançamento, recolhimento e processamento do pescado) é controlada do passadiço (A), pelo Comandante do navio e pelo Mestre de Pesca (Fishing Master); este último plota em cartas náuticas (B) e em diário de bordo, as coordenadas iniciais, intermediárias e finais do lance de armadilhas (linha), além dos dados temporais da operação, número de armadilhas, tipo de isca e quantidade de caranguejos pescados por lance.

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A

B

C

Figura 11 - Na área de limpeza e pré-corte, no eixo rotativo (A), com um cilindro metálico sulcado (seta amarela) a carapaça dos caranguejos é arrancada e com uma escova circular (seta vermelha) as vísceras são retiradas (B); em seguida o caranguejo é partido em duas partes, com meio cefalotórax e quatro patas cada sendo colocados em caixas plásticas (C), as quelas são separadas em caixotes para cozimento e a parte posterior das quelas segue por uma esteira para um saco de rede, que quando cheio é posto nas caldeiras de cozimento.

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C

D

AB

Figura 12 - Com um cortador de ferro (A), os tripulantes (B) separam as patas (C) do meio-cefalotórax (D), sendo colocadas em caixotes; estes engradados são então levados para cozimento.

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A

B

C

Figura 13 - Com um guincho hidráulico (A), grupos de 9 engradados plásticos são colocados nos tanques de cozimento com água salgada (B), a 100 oC por 10 minutos, para cozimento e esterilização da carne dos caranguejos. A parte posterior das quelas são levadas para cozimento no próprio saco de rede (C), sendo depois encaminhadas para moagem na área industrial do navio (porão), por um alçapão (seta).

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A

BC

1o moagem 2o moagem

Figura 14.1 - As partes posteriores das quelas passam por uma moenda-trituradora (A), e numa primeira moagem é separada, em uma peneira cilíndrica rotativa (B), a parte mais densa e fibrosa (seta anarela) da carne de caranguejo, que após ser prensada (C), para retirada do excesso de água, constitui o primeiro produto obtido na moenda.

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D

E

Figura 14.2 - Após a 1o moagem, os restos triturados são passados por uma 2o

moagem (fig.14.1-A) e por uma segunda, e mais fina, peneira cilíndrica rotativa (D), de onde é separado um caldo pastoso (seta) de carne de caranguejo. Este caldo é coado (E), onde a porção mais grossa constitui o segundo produto da moagem (usado para temperos) e a porção mais fina e líquida, constitui o terceiro produto da moagem (usado para fazer “Kani-kana”).

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A B

C

Figura 15 - Depois de cozidas as patas são trazidas para a área industrial (porão) onde, uma a uma, são passadas por uma prensa cilíndrica (A e B) para retirada da carne, sendo o resto das patas (casca) jogado ao mar por esteiras. Aqui obtêm-se dois tipos de carne, uma mais macerada (dos segundo, terceiro e quarto segmentos da pata) e um segundo tipo, mais compacta e estruturada - na forma de pequenos cilindros (do primeiro segmento). Estes dois tipos de carnes das patas são pesados e embrulhados (C) separadamente, constituindo tipos diferentes de produtos, sendo os pequenos cilindros de carne, o produto de maior valor comercial.

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A B

C

DE

Figura 16 - Depois de processados, os produtos são devidamento empacotados -em sacos plásticos e caixas de papelão - e rotulados, segundo os seus tipos e qualificações: FE - carne fibrosa, FC1 - caldo grosso e FC2 - caldo fino, todos oriundos da moagem (A); HP - dactilos ou quelas (B); FY - cilindro de carne, AM -carne macerada,ambos provenientes das patas (C); e KS - metades de cefalotórax (D). Depois as caixas são seladas (E) e colocadas no túnel de congelamento por 18 horas, sendo em seguida armazenados nas câmaras frigoríficas do navio.

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Figura 17 - Variação por lance da captura e da captura por unidade de esforço (CPUE), nas operações depesca do navio "Kinpo Maru no 58"

Figura 18 - Variação do número de covos no lance de pesca e captura por unidade de esforço (CPUE), nasoperações de pesca do navio "Kinpo Maru no 58"

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

3500

4000

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20

Número do lance de pesca

Cap

tura

(kg)

0,000

1,000

2,000

3,000

4,000

5,000

6,000

7,000

8,000

CPU

E (k

g/co

vo)

Captura (kg) CPUE (kg/covo)

380

400

420

440

460

480

500

520

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20

Número do lance de pesca

Núm

ero

de c

ovos

0,000

1,000

2,000

3,000

4,000

5,000

6,000

7,000

8,000

CPU

E (k

g/co

vo)

Número de Covos CPUE (kg/covo)

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Figura 19 - Variação da captura de caranguejos em função da profundidade de operação do petrecho de pesca.

Figura 20 - Proporção de machos e fêmeas por lance de pesca com covos circulares durante as operações de pesca do navio "Kinpo Maru no 58"

0

20

40

60

80

100

Freq

uênc

ia re

lativ

a (%

)

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20

Número do lance de pesca

% Machos % Fêmeas

0100200300400500600700800

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20

Número do lance

Prof

undi

dade

(met

ros)

05001000150020002500300035004000

Cap

tura

de

cara

ngue

jos

(kg)

Prof. (m) Captura (kg)

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Anexos

20