Relatório de Estágio Mestrado em Análises Clínicas · 2016-08-21 · Relatório de Estágio...

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Sara Margarida Lopes Pereira Brígido Relatório de Estágio Mestrado em Análises Clínicas Relatório de Estágio Curricular no âmbito de Mestrado em Análises Clínicas, orientado pela Dra. Maria Beatriz Tomaz e apresentado à Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra Setembro de 2014

Transcript of Relatório de Estágio Mestrado em Análises Clínicas · 2016-08-21 · Relatório de Estágio...

  • Sara Margarida Lopes Pereira Brgido

    Relatrio de Estgio Mestrado em Anlises Clnicas

    Relatrio de Estgio Curricular no mbito de Mestrado em Anlises Clnicas, orientado pela Dra. Maria Beatriz

    Tomaz e apresentado Faculdade de Farmcia da Universidade de Coimbra

    Setembro de 2014

  • iii

    "Determinao, coragem e autoconfiana so fatores decisivos para o sucesso.

    No importam quais sejam os obstculos e as dificuldades. Se estamos possudos

    de uma inabalvel determinao, conseguiremos super-los.

    Independentemente das circunstncias, devemos ser sempre humildes,

    recatados e despidos de orgulho.

    Dalai Lama

  • v

    AGRADECIMENTOS

    A realizao deste estgio no teria sido possvel sem a participao e colaborao de

    vrias pessoas. Na impossibilidade de as nomear todas em primeiro lugar, deixo aqui o meu

    especial reconhecimento s seguintes:

    administrao do Grupo Beatriz Godinho, por ter possibilitado a realizao do

    estgio do Mestrado em Anlises Clnicas no Labeto Centro de Anlises Bioqumicas, S.A..

    O meu muito obrigada Doutora Maria Beatriz Tomaz por ter orientado o estgio e pela

    disponibilizao de informaes imprescindveis para a realizao do relatrio.

    A todos os colaboradores do laboratrio, em especial Dra. Isabel Bento, Dra.

    Deolinda Leiria e Dra. Dlia Siva, por terem contribudo com os seus conhecimentos

    tcnicos e com a sua alargada experincia para a elaborao deste relatrio.

    Professora Doutora Leonor Martins de Almeida, Professora Catedrtica da

    Faculdade de Farmcia da Universidade de Coimbra, pelo apoio prestado ao longo dos trs

    anos de mestrado.

    Professora Doutora Gabriela Conceio Duarte Silva, pela ajuda e apoio dado na

    realizao deste relatrio de estgio.

    A todas as pessoas que direta ou indiretamente colaboraram para que o estgio fosse

    possvel.

    E por fim, um agradecimento final minha famlia que sempre demonstrou apoio

    incondicional em todos os momentos.

    A todos, o meu sincero Obrigada!

  • vii

    NDICE

    Capitulo I: Introduo ......................................................................................................................... 1

    Capitulo II: Caraterizao do Laboratrio de Estgio ......................................................... 3

    Capitulo III: Autoimunidade ............................................................................................................. 5

    3.1Doenas Autoimunes ............................................................................................................... 5

    3.2 Amostras na Serologia Autoimune .................................................................................. 6

    3.3 Imunoensaios no Diagnstico Serolgico das Doenas Autoimunes .............. 6

    3.3.1 Imunoensaio Enzimtico ............................................................................................................ 7

    3.3.2 Imunofluorescncia .................................................................................................................... 8

    3.3.3 Immunoblot .................................................................................................................................. 9

    3.4 Testes no Diagnstico de Doenas Autoimunes Sistmicas e Especificas de

    rgos ................................................................................................................................................. 10

    3.4.1 Doenas Autoimunes Sistmicas: Testes ................................................................ 11

    3.4.1.1 Anticorpos Anti Nucleares .................................................................................................. 11

    3.4.1.2 Anticorpos Anti-dsDNA ...................................................................................................... 14

    3.4.1.3 Anticorpos Anti-Peptdeo Citrulinado Cclico ................................................................ 18

    3.4.2 Doenas Autoimunes Especificas de rgo: Testes ........................................... 20

    3.4.2.1 Doenas Autoimunes Hepticas ......................................................................................... 20

    3.4.2.1.1 Anticorpos Anti-Mitocndria ........................................................................................... 20

    3.4.2.1.2 Anticorpos Anti - Msculo Liso / Anticorpos Anti - Microssomais Hepticos e

    Renais ..................................................................................................................................................... 21

    3.4.2.2 Doenas Autoimunes do Estmago ................................................................................... 24

    3.4.2.2.1 Anticorpos Anti- Clulas Parietais Gstrica ................................................................. 24

    3.4.2.3 Doenas Autoimunes do Intestino .................................................................................... 28

    3.4.2.3.1 Anticorpo Anti-Endomsio, Anticorpo Anti-Transglutaminase tecidular e

    Anticorpo Anti-Gliadina ..................................................................................................................... 28

    3.4.2.4 Doenas Autoimunes dos Vasos Sanguneos ................................................................... 31

    3.4.2.4.1 Anticorpos Anti Citoplasma dos Neutrfilos .............................................................. 31

    Capitulo IV: Hematologia ................................................................................................................ 34

    4.1 Amostras em Hematologia ................................................................................................ 35

    4.2 Hemograma .............................................................................................................................. 35

    4.2.1 Metodologia e fundamentao dos equipamentos Hematolgicos ............................... 36

    4.2.1.1Contador Hematolgico:Advia 2120 .................................................................................. 36

  • viii

    4.2.1.2 Contador Hematolgico: Sysmex XE-5000 ..................................................................... 39

    4.2.2 Hemograma: Eritrograma ........................................................................................................ 42

    4.2.2.2 ndices hematimtricos ......................................................................................................... 43

    4.2.2.3 Reticulcitos ........................................................................................................................... 45

    4.2.3 Hemograma: Plaquetas ............................................................................................................. 45

    4.2.4 Hemograma: Leucograma ....................................................................................................... 45

    4.2.5 Interpretao do Histograma ................................................................................................. 46

    4.2.6 Esfregao do Sangue Perifrico .............................................................................................. 47

    4.2.7 Morfologia do Sangue Perifrico............................................................................................ 48

    4.2.8 Algumas Patologias Associadas Linhagem Eritroide ....................................................... 48

    4.2.9 Algumas Patologias Associadas Linhagem Linfoide e Mieloide .................................... 50

    4.2.9.1 Leucemias Agudas e crnicas .............................................................................................. 53

    4.2.10 Outras patologias .................................................................................................................... 56

    4. 3 Velocidade de sedimentao globular ......................................................................... 57

    4.3.1 ndice de Katz ............................................................................................................................ 58

    4.4 Grupo Sanguneo Sistema ABO e Rhesus ............................................................... 58

    4.5 Hemoglobina Glicada e Estudo de Hemoglobinopatias ...................................... 59

    4.5.1 Hemoglobina Glicada (HbA1c) .............................................................................................. 59

    4.5.2 Estudo de Hemoglobinopatias ................................................................................................ 60

    Capitulo 5: Controlo qualidade..................................................................................................... 65

    Capitulo 6:Concluso ......................................................................................................................... 67

    Capitulo 7: Bibliografia ..................................................................................................................... 69

    Anexo ........................................................................................................................................................ 73

  • ix

    NDICE DE FIGURAS

    Figura 1: Esquema da reao, que ocorre em cada poo da tira da microplaca, na tcnica de

    ELISA indireto .............................................................................................................................................. 7

    Figura 2: Tcnica de IFI. .......................................................................................................................... 8

    Figura 3: Tcnica de Imunoblot .............................................................................................................. 9

    Figura 4: Padres de fluorescncia em clulas HEp2. .................................................................... 12

    Figura 5: Tira Euroline ANA Profile 3. .......................................................................................... 13

    Figura 6: Resultado da tira de Ana Profile 3. ............................................................................... 17

    Figura 7: Padres de fluorescncia no AMA em diferentes substratos ..................................... 21

    Figura 8: Padres de fluorescncia no ASMA em diferentes substratos ................................... 22

    Figura 9: Pares de fluorescncia caractersticos dos anticorpos anti-LKM1 .......................... 23

    Figura 10: Padro de fluorescencia dos Acs APCA em substrato estmago de rato. ........... 24

    Figura 11: Tira com os diversos Ags presentes no teste EUROLINE Profile Autoimmune

    Liver Diseases. ......................................................................................................................................... 25

    Figura 12: ALPHADIA Biermer - Atrophic Gastrites DOT ......................................................... 25

    Figura 13: Resultado da tira de Liver Profile incubada com a amostra. .................................... 26

    Figura 14: Deteo de Acs Anti-EmA e Acs Anti-AGA em lminas com substrato de fgado

    de primata e gliadina (GAF-3X) ............................................................................................................. 30

    Figura 15: Padres de fluorescncia (IFI) do ANCA em neutrfilos fixados em etanol ....... 32

    Figura 16: Citogramas e histogramas do Advia 2120: RBC e PLT.............................................. 37

    Figura 17: Citograma BASO com as diferentes populaes celulares ....................................... 38

    Figura 18: Citograma Perox.. .............................................................................................................. 38

    Figura 19: Citograma DIFF................................................................................................................... 40

    Figura 20: Citograma WBC/ BASO ................................................................................................... 40

    Figura 21: Citograma NRBC ............................................................................................................... 40

    Figura 22: Citograma: RET e PLT-O ................................................................................................. 41

    Figura 23: Citograma IMI...................................................................................................................... 41

    Figura 24: Histogramas PLT e RBC ................................................................................................... 42

    Figura 25: Modo correto de efetuar um esfregao do sangue perifrico ................................. 47

    Figura 26: Seco do esfregao para correta observao ............................................................ 47

    Figura 27: Histograma do eritrograma de um individuo com anemia ferropnica. ................ 49

    Figura 28: ESP de uma amostra de anemia ferropnica. ............................................................... 50

    Figura 29: Leucograma e citogramas Perox e Baso do analisador Advia 2120 ........................ 52

    file:///C:/Users/Silvia/Desktop/sara/trabalho%20completo%20final%202%20-%20at%20ao%20capitulo%203%20a%20ser%20corrigido%20(Guardado%20automaticamente).docx%23_Toc397450186file:///C:/Users/Silvia/Desktop/sara/trabalho%20completo%20final%202%20-%20at%20ao%20capitulo%203%20a%20ser%20corrigido%20(Guardado%20automaticamente).docx%23_Toc397450186file:///C:/Users/Silvia/Desktop/sara/trabalho%20completo%20final%202%20-%20at%20ao%20capitulo%203%20a%20ser%20corrigido%20(Guardado%20automaticamente).docx%23_Toc397450189file:///C:/Users/Silvia/Desktop/sara/trabalho%20completo%20final%202%20-%20at%20ao%20capitulo%203%20a%20ser%20corrigido%20(Guardado%20automaticamente).docx%23_Toc397450190file:///C:/Users/Silvia/Desktop/sara/trabalho%20completo%20final%202%20-%20at%20ao%20capitulo%203%20a%20ser%20corrigido%20(Guardado%20automaticamente).docx%23_Toc397450193file:///C:/Users/Silvia/Desktop/sara/trabalho%20completo%20final%202%20-%20at%20ao%20capitulo%203%20a%20ser%20corrigido%20(Guardado%20automaticamente).docx%23_Toc397450195file:///C:/Users/Silvia/Desktop/sara/trabalho%20completo%20final%202%20-%20at%20ao%20capitulo%203%20a%20ser%20corrigido%20(Guardado%20automaticamente).docx%23_Toc397450200

  • x

    Figura 30: Esfregao do sangue perifrico com mononucleares atpicos ................................. 52

    Figura 31: Leucograma e citogramas Perox, Baso e RBC do analisador Advia 2120. ............ 55

    Figura 32: ESP de uma Leucemia Linfoctica Crnica .................................................................... 56

    Figura 33: Card ScanGel Monoclonal A-B-D .................................................................................. 59

    Figura 34: Cromatograma do HA-8160.60

    Figura 35: Histograma do eritrograma de uma criana de 12 anos. .......................................... 62

    Figura 36: ESP de uma amostra com -Talassemia. ....................................................................... 63

    Figura 37: Cromatograma eletroforese da hemoglobina ............................................................. 63

    file:///C:/Users/Silvia/Desktop/sara/trabalho%20completo%20final%202%20-%20at%20ao%20capitulo%203%20a%20ser%20corrigido%20(Guardado%20automaticamente).docx%23_Toc397450203file:///C:/Users/Silvia/Desktop/sara/trabalho%20completo%20final%202%20-%20at%20ao%20capitulo%203%20a%20ser%20corrigido%20(Guardado%20automaticamente).docx%23_Toc397450205file:///C:/Users/Silvia/Desktop/sara/trabalho%20completo%20final%202%20-%20at%20ao%20capitulo%203%20a%20ser%20corrigido%20(Guardado%20automaticamente).docx%23_Toc397450208file:///C:/Users/Silvia/Desktop/sara/trabalho%20completo%20final%202%20-%20at%20ao%20capitulo%203%20a%20ser%20corrigido%20(Guardado%20automaticamente).docx%23_Toc397450209

  • xi

    NDICE DE TABELAS

    Tabela I: Doenas autoimunes cuja deteo dos autoanticorpos feita no Labeto. ............. 10

    Tabela II: Resultados das anlises clinicas a um doente com LES apurados intervalo de seis

    meses. .......................................................................................................................................................... 15

    Tabela III: Resultados das anlises prescritas pelo clnico. ........................................................... 16

    Tabela IV: Resultados das anlises, da mulher de 67 anos ........................................................... 19

    Tabela V: Resultados laboratoriais das anlises efetuadas a uma mulher de 23 anos. .......... 26

    Tabela VI: Resultados, ao longo do tempo, de um doente com um possvel diagnstico de

    HAI Tipo I. .................................................................................................................................................. 27

    Tabela VII: Resultados dos Acs, da classe IgA, anti-EmA, anti-tTG e anti-AGA..................... 30

    Tabela VIII: Caractersticas dos testes Granulocyte Mocaic 2 e Granulocyte Mocaic 22

    ...................................................................................................................................................................... 33

    Tabela IX: Valores de referncia do hemograma para adultos ................................................. 46

    Tabela X: Classificao genrica das anemias em trs grupos. ................................................... 49

    Tabela XI: Alguns exemplos das causas de alteraes quantitativas mais comuns associadas

    srie branca. ............................................................................................................................................ 51

    Tabela XII: Resultados de anlises da avaliao da funo heptica e respetivos valores de

    referncia. ................................................................................................................................................... 52

    Tabela XIII: Classificao das leucemias .......................................................................................... 53

    Tabela XIV: Classificao de LMA e LLA pela FAB. ...................................................................... 54

    Tabela XV: Classificao de Leucemias Mieloides Crnicas (LMC). ........................................ 54

    Tabela XVI: Classificao das Leucemias Linfoides Crnicas .................................................... 55

    Tabela XVII: Resultados do leucograma de um homem de 72 anos com LLC ...................... 55

    Tabela XVIII: Interpretao dos microtubos ABO1 (A), ABO2 (B) e RH1 (D) .................... 59

    Tabela XIX: Vrias unidades para HbA1c e glicemias .................................................................. 60

    Tabela XX: Tabela classificativa de -Talssemias ........................................................................... 62

    Tabela XXI: Resultados das anlises da cintica do ferro, da eletroforese da hemoglobina e

    respetivos valores de referncia. .......................................................................................................... 63

    Tabela XXII: Programa de avaliao da qualidade no setor da Hematologia ......................... 65

    Tabela XXIII: Programa de avaliao da qualidade no setor da Autoimunidade. .................. 66

  • xiii

    ABREVIATURAS

    AAcs - Autoanticorpos

    Acs - Anticorpos

    Ag - Antignio

    ALP - Fosfatase Alcalina

    AMA - Anticorpos Anti-Mitocndrias

    AMA-M2-3E - Anticorpos Anti-Subunidades E2 das -2 Oxocido Desidrogenases

    AMA-M2 - Anticorpos Anti-Complexo Piruvato Desidrogenase

    ANA - Anticorpos Anti-Nucleares

    ANCA - Anti-Neutrophil Cytoplasma Antibodies

    Anti-AGA - Anti- Gliadina Diaminada

    Anti- EmA - Anti- Endomsio

    Anti-LKM - Anti-Liver Kidney Microsomes

    Anti-LP - Anti-Liver Pancreas Antigen

    Anti-LC1 - Anti-Liver Citosol

    Anti-SLA - Anti-Soluble Liver Antigen

    Anti-tTG - Anti-Transglutaminase tecidular

    AP - Anemia Perniciosa

    APCA - Anti-Clulas Parietais Gstricas

    AR - Artrite Reumatoide

    ASMA - Anticorpos-Anti-Msculo Liso

    BASO - Basfilos

    BPI - Bacterial Permeability-Increasing protein

    c-ANCA - Padro citoplasmtico nos Anti-Neutrophil Cytoplasma Antibodies

    CBP - Cirrose Biliar Primria

    CCP - Peptdeo Citrulinado Cclico

    CD - Corrente Direta

    CSP - Colangite Esclerosante Primria

    DAI - Doena Autoimune

    DC - Doena Celaca

    DMTC - Doena Mista do Tecido Conjuntivo

    ds-DNA - Acido Desoxirribonucleico de cadeia duplas

  • xiv

    EBV - Vrus Epstein Barr

    ELISA - Enzime-Linked Immunosorbent Assay

    ESP - Esfregao do Sangue Perifrico

    FAB - Franco-Americano-Britnico

    FI - Fator Intrnseco

    FITC - Fluorescein-Labelled Anti-human Antibodies

    FR - Factor Reumatide

    FSC - Forward Scatter

    FTA-ABS - Fluorescent Treponemal Antibody Absorption

    GGT - Gama Glutamil Transpeptidase

    GI - Granulcitos Imaturos

    GME - Glicmia Mdia Estimada

    GOT - Transaminase Glutmico Oxalactica

    GPT - Transaminase Glutmico Pirvica

    HAI - Hepatite Autoimune

    HbA1c - Hemoglobina Glicada

    HbF - Hemoglobina Fetal

    HCM=MCH=HGM - Hemoglobina Corpuscular Mdia (Cell Hemoglobin Concentration

    Mean)

    HCT= Ht - Hematcrito

    HDF - Focagem Hidrodinmica

    HDW - Hemoglobin Distribution Wigth (Amplitude de Distribuio da Hemoglobina)

    HEp2 - Human Epithelioma Pharynx n2

    HFR - High Fluorescence Ratio

    HGB=Hb - Hemoglobina

    HFR - High Fluorescence Ratio

    HPLC - High-Performance Liquid Chromatography

    ICSH - Internacional Comitee for Standardization in Hematology

    IFCC - International Federation of Clinical Chemistry and Laboratory Medicine

    IFI - Imunofluorescncia Indireta

    IK - ndice de Katz

    IL - ndice de Lobularidade

    IMI - Immature Myeloid Information

    INSA - Instituto Nacional de Sade Doutor Ricardo Jorge

  • xv

    IRF - Frao de Reticulcitos Imaturos

    K3EDTA - Potassium (K3) Ethylene Diamine Tetraacetic Acid

    LES - Lpus Eritematoso Sistmico

    LFR - Low Fluorescence Ratio

    LLA - Leucemia Linfoblstica Aguda

    LLC - Leucemia Linfoctica Crnica

    LMA - Leucemia Mielide Aguda

    LMC - Leucemia Mielide Crnica

    LUC - Large Unstained Cells

    LYN - Linfcitos

    MCHC=CHCM - Mdia da Concentrao de Hemoglobina Corpuscular

    MCV=VCM - Volume Corpuscular Mdio

    MSP - Morfologia do Sangue Perifrico

    MFR - Middle Fluorescence Ratio

    MONO - Moncitos

    MPO - Mieloperoxidase

    NCCLS - National Committee for Clinical Laboratory Standards

    NGSP/DCCT - National Glycohemoglobin Standardization Program e Diabetes Control

    and Complications

    NRBC - Nucleated Red Blood Cells (Eritroblastos)

    NEU - Neutrfilos

    p-ANCA - Padro perinuclear nos Anti-Neutrophil Cytoplasma Antibodies

    PCR - Protena C Reativa

    PDW - Platelet Volume Distribution Wigth

    Ph - Filadlfia

    PLT - Plaquetas

    PR3 - Proteinase 3

    QC - Controlo de qualidade

    RBC - Red Blood Cells (Eritrcitos)

    RF- Corrente com Frequncia Radio

    Rh - Rhesus

    RIA - Imunoensaios Radioativos

    SFL - Side Fluorescence

    SLS-Hb - Surfactante Laurilsulfato de Sdio-Hemoglobina

  • xvi

    SI - Sistema Imunitrio

    SSC - Side Scatter

    RET - Reticulcitos

    RDW - Red Cells Distribution Wigth

    RNA - Ribonucleic Acid

    UK-NEQAS - United Kingdom National External Quality Assessment Service

    UV - Utra Violeta

    VCM=MCV=VGM - Volume Corpuscular Mdio

    V/HC - Volume/ Hemoglobin Concentration

    VPM= MPV - Volume Plaquetar Mdio

    VS - Velocidade de Sedimentao

    VSM47 - Vascular Smooth Muscle

    WBC - White Blood Cells (Leuccitos)

  • xvii

    RESUMO

    Foi no Labeto, Laboratrio de Anlises Bioqumicas, S.A. (Grupo Beatriz Godinho)

    que desenvolvi e consolidei os meus conhecimentos ao nvel das anlises clnicas.

    Selecionei as reas de Hematologia e Autoimunidade para uma descrio mais

    profunda e pormenorizada onde explico as metodologias utilizadas no laboratrio e os

    critrios utilizados na interpretao e validao dos resultados analticos. Descrevo ainda de

    uma forma sucinta, o processo de controlo de qualidade que permite ao Laboratrio

    garantir a qualidade dos resultados fornecidos aos utentes.

    Os procedimentos laboratoriais consistem fundamentalmente, na identificao,

    deteo e quantificao de: substncias qumicas, clulas sanguneas, microrganismos,

    anticorpos, entre outros elementos biolgicos, encontrados em amostras de produtos

    orgnicos.

    A partir de uma amostra biolgica, no laboratrio, podemos obter informaes

    valiosas para o prognstico, diagnstico e monitorizao teraputica do utente, que so

    decisivas na preveno e acompanhamento das mais variadas patologias.

    ABSTRACT

    Labeto, Laboratory of Biochemical Analysis, S.A. was the falicity where I developed

    and consolidated my knowledge in the area of clinical analysis. The topics of Hematology and

    Autoimmunity were selected for a more thorough and detailed description. In this work, we

    highlighted the methodologies used in the laboratory, as well as the criteria applied in the

    interpretation and validation of analytical results. Briefly, we also describe the process of

    quality control that allows the lab to ensure the reliability of the results obtained and

    delivered to users.

    The procedures consist essentially in identifying, detecting and quantifying chemical

    substances, blood cells, microorganisms, antibodies and other biological elements, performed

    on samples of organic products.

    We concluded that from a clinical sample worked on in the laboratory, we can gain

    valuable insight that facilitates the prognosis, diagnosis and monitoring of therapy. This

    information is crucial in the prevention of disease and monitoring of several pathologies.

  • Introduo Relatrio de Estgio

    1

    CAPITULO I: INTRODUO

    Este estgio surgiu no mbito do Mestrado em Anlises Clnicas e teve como principal

    objetivo a aplicao prtica dos conhecimentos adquiridos na formao curricular em

    diversas valncias que constituem um laboratrio.

    O estgio decorreu no Laboratrio Labeto Centro de Anlises Bioqumicas, S.A.,

    pertencente ao Grupo Beatriz Godinho, com sede em Leiria, no qual exero atividade

    profissional com a categoria de Tcnica Superior, desde 2002.

    O Labeto privilegia a polivalncia dos seus profissionais, pelo que, enquanto Tcnica

    Superior de Laboratrio, tenho a oportunidade de desenvolver a minha atividade em todos

    os setores do laboratrio, situao que se verificou tambm durante o estgio.

    Com o conhecimento de todas as valncias do laboratrio, optei por elaborar o

    relatrio de estgio nas reas de Hematologia e Autoimunidade, reas pelas quais me sinto

    atrada e, desta forma, posso aprofundar os temas que vou discutir.

    A Hematologia a rea que coloca a descoberto o mundo das clulas sanguneas

    prontas a serem observadas e analisadas. As inmeras informaes que se podem retirar de

    um hemograma, atravs da interpretao dos seus resultados, faz da hematologia um campo

    de trabalho extremamente interessante.

    No setor da Autoimunidade, utilizam-se tcnicas manuais e automatizadas para a

    pesquisa e doseamento de autoanticorpos e anticorpos em serologia. A avaliao dos

    resultados obtidos efetuada tendo em conta o histrico do doente, a sua condio

    fisiolgica e a funo de cada anticorpo no organismo; uma pequena mas clara demonstrao

    da complexidade do sistema imunitrio.

  • Caraterizao do Laboratrio de Estgio Relatrio de Estgio

    3

    CAPITULO II: CARATERIZAO DO LABORATRIO DE ESTGIO

    O grupo de Laboratrios Beatriz Godinho nasceu na localidade dos Pousos, em 1974,

    com a criao do Labeto- Centro de Anlises Bioqumicas, S.A. Com o crescimento da

    atividade baseado na confiana dos utentes, adquiriu novas instalaes em 1981, na cidade de

    Leiria.

    Numa poltica de desenvolvimento sustentado e de aproveitamento de sinergias, o

    grupo adquiriu outros laboratrios que funcionam sob a gide Beatriz Godinho. Com o

    mesmo objetivo, foram criadas as empresas Polidiagnstico, Polidiagnstico Empresas e

    Laboratrio Tomaz. Tambm faz parte do grupo uma rede de farmcias e a Clnica Lus

    Loureno.

    Com uma abrangncia geogrfica significativa no centro do pas, o Laboratrio Beatriz

    Godinho composto por mais de 120 unidades de colheita. Com um fluxo dirio de cerca

    de 1300 utentes, possui uma equipa de colaboradores altamente qualificada, e est equipado

    com aparelhos munidos de modernas tecnologias ao nvel das anlises clnicas. Tambm

    dispem de excelentes programas informticos, que se tem revelado preciosas ferramentas

    de trabalho, indispensveis para um desempenho com qualidade.

    O Labeto possui desde 2003, a dupla certificao do Sistema de Gesto da Qualidade,

    concedida pela APCER.

    Em termos analticos, a fiabilidade dos resultados suportada pelo uso sistemtico de

    controlos internos e externos, comprovada pelo bom desempenho obtido nos programas de

    avaliao externa da qualidade.

    A Diretora Tcnica - Dra. Beatriz Olinda de Oliveira Santos Godinho Tomaz e a Dra.

    Maria Beatriz Tomaz - Especialistas em Anlises Clnicas, assumem a responsabilidade

    mxima pelo laboratrio. Juntamente com a Dra. Isabel Bento destacam-se com funes de

    validao biopatolgica e cooperao extrema, em todas as situaes dbias que possam

    ocorrer. Tambm fazem parte da equipa de trabalho outros Especialistas em Anlises

    Clnicas, Tcnicos Superiores de Laboratrio, Tcnicos de Anlises Clnicas, Enfermeiros,

    Administrativos e Auxiliares.

    As amostras que chegam ao laboratrio so, na sua maioria, efetuadas nos postos de

    colheitas, onde so recebidos os utentes e registados os pedidos de anlises no sistema

    informtico. A cada paciente atribudo um nmero de processo e um nmero de utente.

    Estes nmeros so utilizados para gerar um cdigo de barras, nico para cada setor. No

    laboratrio, as amostras j identificadas so distribudas pelo setor adequado.

  • Relatrio de Estgio Caraterizao do Laboratrio de Estgio

    4

    No Labeto, as valncias do laboratrio esto divididas nos setores de: Bioqumica

    Clnica, Bioqumica Manual, Bioqumica de Urinria, Autoimunidade,

    Imunologia/Endocrinologia, Coagulao, Hematologia, Biologia Molecular e Bacteriologia/

    Microbiologia. Cada um destes setores tem um responsvel especialista em anlises clnicas.

  • Autoimunidade Relatrio de Estgio

    5

    CAPITULO III: AUTOIMUNIDADE

    No setor da autoimunidade faz-se o estudo serolgico de doenas autoimunes e de

    algumas doenas infeciosas. Aqui executei, manualmente e em diferentes aparelhos, as

    tcnicas utilizadas na pesquisa e doseamento de autoanticorpos (AAcs) e anticorpos (Acs)

    efetuados em amostras de soro de doentes. Os resultados obtidos so importantes para o

    prognstico e diagnstico serolgico e, em alguns casos, para o seguimento da doena

    autoimune (DAI). A avaliao destes resultados efetuada de acordo com o histrico do

    doente e com o doseamento de outros parmetros, quer hematolgicos quer bioqumicos.

    Nesta seco so processadas anlises como os Acs ANA, ANCA, AMA, ASMA, anti-

    dsDNA, FTA-ABS, Chlamydia trachomatis, entre outras.

    Neste captulo vou-me debruar nos testes laboratoriais executados pelas tcnicas de

    Enzime-Linked Immunosorbent Assay (ELISA), Imunofluorescncia Indireta (IFI) e

    Immunoblotting, relacionados com diagnstico das DAI. Apresento tambm alguns casos

    clnicos que surgiram durante o estgio e que tive a oportunidade de analisar.

    3.1 DOENAS AUTOIMUNES

    O sistema imunitrio (SI) semelhante a uma fora de defesa, a sua funo

    proteger o organismo de invasores externos, como por exemplo vrus, bactrias ou

    parasitas. No entanto, podem existir invasores internos estimuladores do sistema

    imunitrio ou clulas cancergenas, que conseguem fugir ao sistema de vigilncia comum. Se

    o SI no for capaz de distinguir devidamente os invasores internos, o individuo pode

    desenvolver uma DAI ou um cancro. (1)

    Se o SI deixar de funcionar normalmente, os invasores internos atacaro os rgos do

    individuo e podem ocorrer dois tipos de doenas DAIs:

    Um tipo ocorre devido a uma disfuno predominante da unidade celular

    (clula T). Neste caso, as clulas T atacam os tecidos do prprio, que acabam por ser

    destrudos.

    O outro tipo originado por alteraes especficas do sistema de clulas B e

    pela produo de AAcs. Os linfcitos B no reconhecem os tecidos do prprio e

    produzem Ac(s) dirigidos contra o prprio organismo. (1)

    A classificao das DAIs, mediadas por clulas T e B, essencial para a etiologia e

    diagnstico da patologia. A solicitao adequada de anlises laboratoriais imprescindvel

    porque cada doena tem o seu perfil especfico de AAcs. Em alguns casos, a presena de

  • Relatrio de Estgio Autoimunidade

    6

    determinado(s) AAc(s) pode representar uma especificidade de aproximadamente 100% para

    o diagnstico. Infelizmente, noutros casos, esta especificidade pode ser bastante reduzida, no

    entanto, a deteo de AAcs uma ferramenta de diagnstico muito til. (1)

    A classificao das DAIs pode ser feita de acordo com o mecanismo que est na

    origem das leses e em funo do rgo (especficas de rgo) ou rgos lesados

    (sistmica).

    Na DAI Especfica de rgo, os Acs produzidos tm afinidade para um antignio (Ag)

    alvo que s existe em determinados tipos de clulas, tecidos ou rgos e cuja destruio

    lenta ou disfuno induzida pela ligao Ag-Ac. As DAI Sistmicas ocorrem quando os Acs

    produzidos tm afinidade para um Ag comum a muitas clulas. Todas as clulas portadoras

    desse Ag vo ser afetadas devido acumulao de complexos Ag-Ac o que provoca o

    desenvolvimento de reaes inflamatrias e danos nos tecidos. (1)

    A presena de AAcs por si s, no sinnima de DAI. Estes devem estar associados a

    um quadro clnico compatvel e devem ser feitos estudos subsequentes assim como a sua

    monitorizao. De salientar que alguns AAcs, quando presentes, podem ser preditivos de

    certas patologias. (1)

    As causas das DAIs so multifatoriais, como a predisposio gentica, fatores

    imunolgicos, hormonais e ambientais, alguns dos quais influenciam a exacerbao ou

    remisso da doena. (1)

    3.2 AMOSTRAS NA SEROLOGIA AUTOIMUNE

    O soro a analisar deve ser processado no prprio dia, contudo, quando tal no

    possvel, as amostras podem ser conservadas por um perodo mximo de uma semana, entre

    os 2C e os 8C. Para se armazenarem durante mais tempo, as amostras devem ser

    acondicionadas a -20C. Neste caso, recomendada a adio de azida de sdio para

    estabilizar a atividade dos Acs, que eventualmente estejam presentes na amostra. Os ciclos

    de congelao e descongelao devem ser evitados, uma vez que diminuem a atividade dos

    Acs. (2)

    3.3 IMUNOENSAIOS NO DIAGNSTICO SEROLGICO DAS DOENAS

    AUTOIMUNES

    A especificidade da interao entre Ag e Ac leva ao desenvolvimento de vrios ensaios

    imunolgicos, que podem ser usados na deteo de ambos.

  • Autoimunidade Relatrio de Estgio

    7

    Atualmente, encontra-se disponvel no mercado uma grande variedade de

    imunoensaios baseados em diferentes princpios e cujas tcnicas variam desde reaes

    cruzadas, precipitao, aglutinao, imunoensaios radioativos (RIA), enzimticos (ELISA ou

    EIA), immunoblotting (Western Blotting), imunoprecipitao, imunofluorescncia, entre outros.

    (3)

    Neste ponto sero discutidos os imunoensaios executados no Labeto para o

    diagnstico/monitorizao de DAIs.

    3.3.1 IMUNOENSAIO ENZIMTICO

    ELISA - Enzime-Linked Immunosorbent Assay

    Existem inmeras variantes do ensaio imunoadsorvente ligado enzima (ELISA). A

    tcnica de ELISA pode ser indireta, em sanduche, competitiva ou por quimiluminescncia.

    Esta tcnica pode ser utilizada para detetar ou quantificar a presena de Acs ou de Ags. Para

    a quantificao o mtodo usa uma curva-padro com base em concentraes conhecidas de

    Acs ou Ags e, a partir desta, determinada a concentrao destes elementos na amostra. (3)

    Na tcnica de ELISA indireto, a amostra adicionada ao poo da microplaca revestido

    com o Ag, fase slida, e deixado a reagir. Aps a lavagem, que retira o Ac livre, a presena

    do Ac ligado ao Ag detetada pela adio de um Ac secundrio anti-isotipo conjugado

    enzima (peroxidase-labelled anti-human antibodies - POD) que se liga ao Ac primrio. Numa

    segunda lavagem, remove-se o anticorpo secundrio livre e adiciona-se um substrato

    cromogneo que se liga enzima e promove uma reo colorimtrica. A intensidade da cor

    proporcional concentrao de anticorpos na amostra de soro. O produto de reao

    colorido medido por espectrofotometria (Figura 1). (3)

    Figura 1: Esquema da reao, que ocorre em cada poo da tira da microplaca, na tcnica de ELISA indireto.

    http://www.google.pt/imgres?imgurl=http://www.euroimmun.us/euroimmunus/imgs/ELISA-Test-Principle-US1.jpg&imgrefurl=http://www.euroimmun.us/technology/elisa&h=1582&w=1500&tbnid=XyIcz_ETrV0eoM:&zoom=1&docid=ZJDbVAaz3SZlUM&ei=f8_UU5XHO4m70QXBmoCAAg&tbm=isch&ved=0CEIQMygaMBo&iact=rc&uact=3&dur=784&page=2&start=26&ndsp=24https://www.google.pt/imgres?imgurl=http://www.pla2r.com/uploads/pics/serologischernachweis_01.jpg&imgrefurl=http://www.pla2r.com/serologischer_nachweis.html&docid=qAjqKo67Kv3nZM&tbnid=0XPnEJq61156hM:&w=462&h=277&ei=Is3UU8OfKaLS0QW9w4HACA&ved=0CAIQxiAwAA&iact=c

  • Relatrio de Estgio Autoimunidade

    8

    No Labeto, as anlises processadas recorrendo tcnica de ELISA, so automatizadas

    e executadas no aparelho Analyser I-2P.

    3.3.2 IMUNOFLUORESCNCIA

    Os anticorpos podem ser marcados com molculas com propriedades fluorescentes.

    As molculas fluorescentes absorvem a luz de um determinado comprimento de onda e

    emitem-na em outro. Se a molcula de Ac estiver marcada com o corante fluorescente

    (fluorocromo), os imunocomplexos Ag-Ac podem ser detetados com um microscpio de

    fluorescncia (equipado com uma luz UV) pela emisso de uma luz colorida, quando

    excitados por uma luz com o comprimento de onda apropriado. Na tcnica de

    imunofluorescncia as substncias fluorescentes mais usadas so a fluorescena e a rodamina,

    e com menos frequncia, a ficoeritrina. No laboratrio usada a fluorescena que absorve a

    luz azul (490 nm) e emite uma luz fluorescente amarela-verde (517 nm). (3)

    Para a determinao de AAcs ou Acs so usadas, como substratos de Ag, clulas,

    sees de tecidos ou substncias caracterizadas bioquimicamente. (4)

    No mtodo de imunofluorescncia indireta, se a amostra for positiva, o Ac especfico

    presente numa amostra de soro diludo reage com o Ag fixado numa fase slida. Numa

    segunda fase, o complexo Ag-Ac corado com um conjugado de fluorescein-labelled anti-

    human antibodies (FITC) e visualizada a sua fluorescncia ao microscpio (Figura 2). As

    amostras positivas podem ser tituladas em vrios passos.

    Figura 2: Tcnica de IFI. a) Esquema da reao que ocorre na IFI; b) Exemplo de uma lmina, usada em IFI,

    com os diferentes tipos de substrato em mosaico; c) Padres de fluorescncia em tecidos, clulas e dots

    visualizados no microscpio de fluorescncia.

    a) b) c)

    https://www.google.pt/imgres?imgurl=http://www.euroimmun.us/euroimmunus/imgs/IFT-Test-Principle-US.jpg&imgrefurl=http://www.euroimmun.us/technology/immunofluorescence&docid=ZA7y14DTOb0utM&tbnid=hp_Zk3CxacZHeM:&w=1400&h=2031&ei=kA3VU_XOHvOR0QXRyYGoBw&ved=undefined&iact=chttp://www.google.pt/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&frm=1&source=images&cd=&cad=rja&uact=8&docid=Ef9QCDO5mr_p8M&tbnid=P50ZNVP-Ki5eeM:&ved=0CAUQjRw&url=http://www.immunfluoreszenz.de/index.php?id=1638&L=1&ei=ddjUU6uFCsnT0QWL14GgDg&bvm=bv.71778758,d.d2k&psig=AFQjCNEue1J8jTA_SK4-sjCQtvUHFQYwbg&ust=1406544257304368https://www.google.pt/imgres?imgurl=http://www.euroimmun.us/img/ANCA_sextett_EN_01.jpg&imgrefurl=http://www.euroimmun.us/recent-news/anca-diagnostics-at-a-glance&docid=xetjvLcYS99bkM&tbnid=ep3mKADimfYEoM:&w=320&h=364&ei=O9vUU46zIc2Y1AXU2YHgAw&ved=0CAIQxiAwAA&iact=c

  • Autoimunidade Relatrio de Estgio

    9

    O procedimento para executar as tcnicas de IFI pode ser feito manualmente ou

    em aparelhos automticos. No Labeto, quando processado um grande nmero de

    amostras, utiliza-se o analisador Mago Plus.

    3.3.3 IMMUNOBLOT

    EUROLINE: Tcnica de Identificao de um Extenso Perfil de Anticorpos

    Nesta tcnica, as tiras de membrana fixadas numa folha sinttica, so revestidas com

    finas linhas paralelas de vrios antignios purificados. Estes so geralmente obtidos por

    cromatografia de afinidade e so utilizados em fase slida. Se a amostra for positiva, os Acs

    especficos, presentes no soro diludo, ligam-se aos Ags acoplados fase slida. De seguida

    adicionado o conjugado que tem Acs humanos marcados com fosfatase alcalina (alkaline

    phosphatase-labelled anti-human antibodies- AP). Nesta segunda incubao, os anticorpos

    ligados reagem com um segundo Ac. Num terceiro passo, os Acs ligados so corados com

    uma soluo cromognica que capaz de promover uma reao colorimtrica, aparecendo

    uma intensa faixa escura na linha do respetivo Ag. De acordo com o espectro de Ags

    utilizados, possvel analisar vrios Acs simultaneamente, sob condies idnticas (Figura 3).

    (4)

    No Labeto, o protocolo para executar testes pela tcnica de Imunoblot processado

    no analisador Autolipa. Pode-se optar por um procedimento semiautomtico ou automtico,

    dependendo do nmero de amostras a analisar.

    A avaliao quantitativa das tiras de teste Euroline feita no programa EUROLineScan

    da Euroimmun. O EUROLineScan reconhece a posio das tiras, identifica as bandas e mede

    a sua intensidade (Figura 3). (4)

    Figura 3: Tecnica de Imunoblot. a) Esquema da reao que ocorre no Imunoblot; b) Exemplos de tiras de testes

    Euroline depois de encobadas com a mostra; c) Avaliao das tiras no programa EuroLineScan da Euroimmun.

    a) b) c)

    https://www.google.pt/imgres?imgurl=http://www.euroimmun.us/euroimmunus/imgs/Blot-Test-Principle-US1.jpg&imgrefurl=http://www.euroimmun.us/technology/blot-techniques&docid=p7JtkP2SEPAmQM&tbnid=X1_i8_JU5KSqXM:&w=1500&h=1658&ei=zQ3VU5vsLIWc0QXGlYDYCA&ved=undefined&iact=chttps://www.google.pt/imgres?imgurl=http://www.euroimmun.com/uploads/pics/EUROLINE_01.jpg&imgrefurl=http://www.euroimmun.com/index.php?id=euroline&L=1&docid=qYyKBJfhfvbLnM&tbnid=xxlsCpoGyvT64M:&w=240&h=564&ei=C8zUU7L9CYOc0QWcloHwAg&ved=0CAIQxiAwAA&iact=c

  • Relatrio de Estgio Autoimunidade

    10

    3.4 TESTES NO DIAGNSTICO DE DOENAS AUTOIMUNES SISTMICAS E

    ESPECIFICAS DE RGOS

    A colaborao entre a clnica e o laboratrio importante para se chegar rapidamente

    ao diagnstico correto. Envolve uma avaliao clnica do paciente em conjunto com testes

    especficos para o diagnstico.

    Os testes de rotina incluem o Hemograma, Velocidade de Sedimentao (VS), Protena

    -C-Reativa (PCR), Eletroforese das Protenas Sricas e as Fraes dos Complementos C3 e

    C4. A maioria dos doentes com DAI produz um perfil caracterstico de AAcs que pode

    ajudar o mdico a estabelecer um diagnstico e prognstico correto, facilitando o

    tratamento e monitorizao do doente (Tabela I). (1)

    Tabela I: Doenas autoimunes cuja deteo dos autoanticorpos feita no Labeto.

    Doena Autoimune Sistmica Autoanticorpos

    Lpus Eritematoso Sistmico (LES)

    ANA, dsDNA, Nucleossomas, Histonas,

    Sm, U1-RNP, SS-A (Ro, 60kDa), SS-B (La),

    Ribossomal P Protein, Ku, Ciclin I

    (PCNA), NuMA

    Lpus Eritematoso Medicamentoso ANA, Histonas

    Sndroma de Sjgren ANA, SS-A (Ro, 60kDa), SS-B (La)

    Doena Mista do Tecido Conjuntivo

    (DMTC) (Sharps Syndrome) ANA, U1-RNP

    Poliomiosite/Dermatomiosite

    ANA, PM-Scl, U1-RNP, Jo-1, Ku,

    Fibrilharina (U3-RNP), PL-7, PL-12, Mi-2

    Esclerodermia Sistmica Progressiva (F.

    Difusa)

    ANA, PM-Scl, Scl70, Fibrilharina (U3-

    RNP), RNA Polimerase I, NOR90, 7-2-

    RNP (To)

    Artrite Reumatoide CCP, FR

    Doenas Autoimunes Hepticas Autoanticorpos

    Cirrose Biliar Primria (CBP) ANA, Sp100, PML, gp210, AMA, AMA M2-

    3E (BPO)

    Hepatite Autoimune Tipo I ANA, ASMA, F-actina, LSA/LP

    Hepatite Autoimune Tipo II LKM 1 (CY450 IID6), LC1,

    Colangite Esclerosante Primria (CSP) pANCA (atpico)

    Doenas Autoimunes do

    Estomago Autoanticorpos

    Gastrite Autoimune/ Anemia Perniciosa Clulas Parietais (APCA), Fator Intrnseco

    (FI)

    Continua

  • Autoimunidade Relatrio de Estgio

    11

    Continuao

    Doenas Autoimunes do Intestino Autoanticorpos

    Doena Celaca Transglutaminase (tTG) (IgG/IgA),

    Endomisium (IgG/IgA), Gliadina (IgG/IgA),

    Colite Ulcerosa p-ANCA, Lactoferrina

    Vasculites Autoanticorpos

    Granulomatose de Wegener cANCA tipo Antiproteinase 3 (PR3)

    Sndrome de Churg-Strauss

    cANCA tipo Antiproteinase 3 (PR3),

    pANCA tipo Mieloperoxidase 3 (MPO),

    Elastase, Catepsina G, Lactoferrina e BPI

    Poliangeite Microscpica pANCA tipo Mieloperoxidase 3 (MPO),

    Elastase, Catepsina G, Lactoferrina

    De seguida vo ser referidos alguns testes, executados no Labeto, uteis no diagnstico

    das DAIs. Em alguns casos sero apresentados casos clnicos que acompanhei durante a

    realizao no meu estgio.

    3.4.1 DOENAS AUTOIMUNES SISTMICAS: TESTES

    3.4.1.1 ANTICORPOS ANTI NUCLEARES

    A pesquisa de Anticorpos Antinucleares (ANA) deve ser feita quando h suspeita de

    DAIs, e imprescindvel que os resultados obtidos sejam sempre interpretados no contexto

    dos dados clnicos do doente. O ANA tm interesse no auxlio ao diagnstico de DAIs

    como Lpus Eritematoso Sistmico (LES), na Doena Mista do Tecido Conjuntivo (DMTC),

    Artrite Reumatoide (AR), Esclerose Sistmica Progressiva, Poliomiosites /Dermatomiosites,

    Sndrome de Shgren e outras como a Cirrose Biliar Prmria (CBP) e a Hepatite

    Autoimune.

    ANA - IMUNOFLUORESCNCIA INDIRETA

    A tcnica de IFI em substrato de clulas HEp2 (Human Epithelioma Pharynx n2)

    excelente para o rastreio dos Acs dirigidos contra os Ags do ncleo e citoplasma das clulas,

    pelo que considerado o mtodo de referncia. Permite detetar ao mesmo tempo um

    grande nmero de AAcs com a vantagem se ser fcil de executar. uma tcnica bastante

    sensvel que contrasta com uma baixa especificidade: apenas alguns padres so especficos

  • Relatrio de Estgio Autoimunidade

    12

    de alguns antignios e muitas especificidades diferentes do origem a padres semelhantes.

    (2)

    Os AAcs pesquisados por IFI, em substrato HEp-2, esto associados a determinados

    padres de imunofluorescncia, que embora meramente indicativos, podem, tanto o ttulo

    (mais sugestivo quanto mais elevado) como o padro, ser muito informativos por serem

    caractersticos de determinado(s) Ac(s). O componente celular no qual se localiza o Ag

    que determina o padro visual que se observa na fluorescncia. J esto descritos mais de 30

    padres de imunofluorescncia sendo alguns deles muito raros. Na Figura 4 esto

    representados alguns dos padres de imunofluorescncia mais frequentes em clulas HEp2.

    (2)

    Figura 4: Padres de fluorescncia em clulas HEp2.

    Quando, ao laboratrio pedida a anlise ANA, o secreening feito pela tcnica IFI. A

    determinao dos Acs feita qualitativa e quantitativamente. So utilizadas lminas com um

    substrato combinado de HEp2/Fgado de primata com o qual a amostra diluda incubada.

    As amostras so testadas com uma diluio de 1/160. No caso da fluorescncia da

    amostra ser sugestiva de um ttulo a 1/640 so feitas diluies para aferir a intensidade da

    fluorescncia. Os resultados so dados como negativos ou positivos com ttulo de 1/160,

    1/320, 1/640 ou >1/640. Quando a amostra positiva reportado o padro de fluorescncia

    que pode ou no ser confirmado por mtodos com maior especificidade (ELISA ou

    Imunoblot).

    Ttulos positivos, ainda que baixos, podem ser detetados em idosos, grvidas, doentes

    com infees crnicas, neoplasias e em muitas outras patologias. (1)

    ANA - SCREENING POR ELISA

    O teste ANA por ELISA permite fazer uma determinao qualitativa da presena dos

    AAcs da classe IgG no soro do doente, contra uma pool de vrios Ags do ncleo e

  • Autoimunidade Relatrio de Estgio

    13

    citoplasma das clulas. No Labeto, o kit usado para fazer o screen dos ANA por ELISA

    permite determinar 11 Ags alvo diferentes:

    Sm - uma partcula complexa e consiste em diferentes protenas especificas (B,

    B`, D, E F e G) associadas ao RNA;

    nRNP/Sm nRNP - o Ag alvo so 3 polipeptdeos ligados ao U1-RNA (U1-RNA,

    U1-RNA-A e U1-RNA-C);

    SS-A (Ro) - o Ags alvo so protenas ligantes Y1-5RNA (52kDa, 60kDa);

    Ro-52 - Ag alvo apenas a ribonucleoprotena de 52kDa;

    SS-B - fosfoprotena com peso molecular de 48kDa;

    Scl-70 - uma enzima DNA Topoisomerase I;

    Jo-1- histidil-tRNA sintetase;

    PCNA-Proliferanting Cells Nuclear Antigen- protena de 36kD auxiliar da DNA

    polimerase;

    PM-Scl - complexo de 11 pptidos nucleolares, sendo os dois principais os PM-

    Scl75 e PM-Scl100;

    Protena P Ribossomal - Ags alvo so 3 fosfoprotenas da subunidade ribossomal

    60S (P0 (38kDa), P1 (19kD), e P2 (17kDa));

    Centrmero- Ags alvo so 4 protenas do centrmero (CENP-B (80kDa), CENP-

    A (17kDa), CENP-C (140kDa) e CENP-D (50kDa)).

    ANA IMUNOBLOT

    No caso do resultado do ANA screen ser positivo, faz-se a determinao quantitativa

    individual do(s) AAc(s) presentes na amostra de soro do doente utilizando a tcnica

    Imunoblot. O kit usado o Euroline ANA Prolile 3 da Euroimmun. Este kit permite fazer a

    identificao de AAcs humanos, da classe IgG, contra 14 Ags diferentes (Figura 5).

    Figura 5: Tira Euroline ANA Profile 3 revestida com 14 Ags.

    Sabendo o padro de imunofluorescncia, os AAcs presentes no soro do doente, o

    resultado dos testes hematolgicos e bioqumicos e conhecendo o quadro clinico do

    paciente, o mdico consegue orientar o diagnstico do individuo.

  • Relatrio de Estgio Autoimunidade

    14

    Em anexo, encontra-se uma descrio sinttica de alguns padres de fluorescncia

    correspondentes aos diferentes AAcs do ncleo e do citoplasma, e respetivas associaes

    clnicas.

    3.4.1.2 ANTICORPOS ANTI-DSDNA

    LPUS SISTMICO ERITEMATOSO

    O Lpus Sistmico Eritematoso (LES) uma DAI sistmica em que podem ser afetados

    vrios rgos, como por exemplo, pele, articulaes, rins e tecido sanguneo. uma doena

    predominante em mulheres jovens, com um pico de incidncia entres o 15 e os 40 anos. A

    etiologia desconhecida, no entanto, na base da doena est uma desregulao imunolgica

    que pode ter como causa fatores genticos, hormonais e ambientais. (1, 5)

    O termo anticorpo anti-dsDNA refere-se, habitualmente, aos Acs que se ligam

    especificamente ao DNA de dupla cadeia (dsDNA). So muito especficos para o LES e fazem

    parte dos critrios de diagnstico para o Lpus segundo a classificao do American College of

    Rheumatology. Cerca de 85% dos indivduos saudveis em que estes Acs foram detetados,

    desenvolveram LES nos 5 anos seguintes. (1)

    Durante a doena, imunocomplexos de dsDNA e AAcs correspondentes, depositam-

    se nos capilares subcutneos, rins, pulmes e outros rgos, causando leso. Existem

    evidncias que o primeiro Ag alvo, com relevncia patolgica, a ser atingido o complexo

    DNA/Nucleossomas. (6, 7)

    A determinao e doseamento dos Acs humanos da classe IgG contra o dsDNA, no

    Labeto, so feitos recorrendo tcnica de ELISA. A quantificao dos anti-dsDNA

    importante tanto para o prognstico do LES, como para o controlo da atividade da doena.

    (8)

    CASO CLNICOS DE LPUS

    LUPUS SISTMICO ERITEMATOSO (LES)

    Homem de 22 anos fez anlises no laboratrio, (Tabela II; Resultados 1), passados 6

    meses repetiu algumas das anlises (Tabela II; Resultados 2), a informao clnica do

    processo refere que toma medicamento para o Lpus.

  • Autoimunidade Relatrio de Estgio

    15

    Tabela II: Resultados das anlises clinicas a um doente com LES apurados intervalo de seis meses.

    Anlise Resultado 1 Resultado 2 Valor Ref.

    ANA - Anticorpos

    Antinucleares e Anti

    Citoplasmticos

    Positivo:

    Titulao:1/640

    Ncleo - Homogneo

    Nuclolos -Negativos

    Mitoses - Positivas

    Citoplasma: Negativo

    ------------

  • Relatrio de Estgio Autoimunidade

    16

    O valor dos Complementos C3 e C4 esto baixos, devido, muito provavelmente,

    ativao do sistema complemento provocada pela inflamao. So marcadores uteis na

    avaliao da atividade da doena. (3)

    Tambm frequente ocorrer hipergamaglobulinmia nas DAIs. No LES estes valores

    podem estar normais ou muito elevados dependendo da fase da doena. (5)

    O envolvimento renal frequente em doentes com LES, pelo que mais de 70% dos

    doentes desenvolvem doena renal, classificada pela World Health Organisation de Nefrite

    Lpica. (9)

    Este doente apresenta parmetros laboratoriais indicativos de doena renal:

    proteinograma com valores nas diferentes fraes caractersticos de Sndrome Nefrtico;

    Depurao da Creatinina e Proteinuria com resultados elevados; a anlise Tipo II revela a

    presena de protena e cilindros hialinos na urina.

    LPUS INDUZIDO POR FRMACOS

    Mulher de 46 anos fez anlises no laboratrio, refere estar a tomar medicamentos para

    a tiroide e Plaquinol (medicamento para o tratamento do Lpus).

    Entre as anlises prescritas pelo clnico esto o ANA, os Acs. anti-dsDNA, anti-

    SSA/Ro, anti-SSB/La, anti-RNP e anti-Sm (Tabela III).

    Tabela III: Resultados das anlises prescritas pelo clnico.

    Anlise Resultado Valor Referncia

    ANA Ac-Anti -

    Nucleares e

    Citoplasmticos

    Positivo:

    Titulao:1/640

    Ncleo -Fino granular denso

    Nuclolos -Negativos

    Mitoses - Positivas

    Citoplasma: Granular 1+

  • Autoimunidade Relatrio de Estgio

    17

    Em relao ao resultado do ANA de salientar: o ttulo da fluorescncia (1/640) que

    tanto mais sugestivo de DAI quanto mais elevado; as mitoses positivas remetem-nos para a

    existncia de Acs anti-dsDNA justificados pelo valor de 138,1 UI/mL dos Acs anti-dsDNA,

    detetados por ELISA.

    A deteo dos Acs anti-SS-A/Ro, anti-SSB/La, anti-RNP e Anti-Sm foi feita com o teste

    ANA Profile 3, pela tcnica Imunoblot (Figura 6).

    Figura 6: Resultado da tira de Ana Profile 3 incubada com a amostra de soro do doente.

    O resultado do teste revela a presena no soro de AAcs contra os Ag SSA/Ro-60 e

    Ro-52 os quais esto associados a vrias doenas autoimunes como Sndrome de Sjgren,

    LES, Lpus Neonatal e outras. A deteo de Ac. anti-Histonas orienta-nos para um Lpus

    Induzido por Frmacos, cuja prevalncia, nesta patologia, de >95%. No entanto, de

    referir que DAIs como LES, Artrite Reumatoide (AR) tambm podem ter Ac. anti-Histonas

    mas com uma menor prevalncia. (5)

    A mulher, em causa neste caso clnico, referiu estar a tomar medicamentos para a

    tiroide e alguns frmacos antitiroideanos pertencem ao grupo de medicamentos provveis

    indutores de Lpus. (10)

    Aquando do contacto com o clnico este confirmou trata-se de Lpus Induzido por

    Frmacos, uma vez que j havia descartado a possibilidade de outras DAIs pela realizao de

    testes complementares.

    O Lpus Induzido por Frmacos descrito como tendo um desenvolvimento dos

    sintomas semelhantes ao LES, mas est relacionado com a exposio a drogas ao longo do

    tempo. A resoluo do quadro clnico ocorre com a suspenso do medicamento

    desencadeante. O mecanismo considerado, de uma forma geral, para a induo de DAI

    mediada por frmacos, a ativao inapropriada do SI. (10)

  • Relatrio de Estgio Autoimunidade

    18

    3.4.1.3 ANTICORPOS ANTI-PEPTDEO CITRULINADO CCLICO

    ARTRITE REUMATOIDE

    A Artrite Reumatoide (AR) umas das DAIs mais comuns. Pode ocorrer em qualquer

    idade incidindo com maior frequncia entre os 25 e 45 anos e depois dos 60. caracterizada

    pela inflamao crnica da membrana sinovial que se propaga simetricamente das pequenas

    para as grandes articulaes.

    Os sintomas iniciais incluem inchao doloroso das articulaes dos dedos e rigidez

    matinal. Se a AR no for tratada, com o passar do tempo, h uma destruio progressiva das

    articulaes devido eroso das cartilagens e do osso, o que provoca deficincia e

    incapacidade do individuo. Com a evoluo da doena outros rgos como corao,

    plumes e olhos podem sofrer danos severos. (9)

    Um diagnstico precoce e o comeo imediato de terapia adequada necessrio para

    manter a doena sobre controlo e evitar leses mais graves que ocorrem com o passar do

    tempo. O diagnstico laboratorial pode ajudar a identificar casos de AR e a avaliar a

    atividade da doena. Para alm dos parmetros inflamatrios em geral, o teste serolgico

    mais comum, no caso de suspeita de AR era, at h pouco tempo, a determinao do Fator

    Reumatoide (FR). (5, 9)

    Os FR so AAcs, predominantemente da classe IgM, dirigidos contra as

    imunoglobulinas e ocorrem em 60-80 % dos pacientes com AR. um marcador sensvel mas

    no muito especfico para a AR, uma vez que est presente em vrias infees e em DAIs

    como o LES, Sndrome de Sjgren e Esclerodermia. (9)

    Presentemente, o marcador serolgico mais especfico para a AR so os Acs contra o

    Peptdeo Citrulinado Cclico (CCP). Acs anti-CCP so geralmente da classe IgG e tm uma

    especificidade de 98 % para a AR. Eles so um bom marcador preditivo, uma vez que podem

    ser encontrados no soro de doentes numa fase inicial da doena (79 %) e muitas vezes anos

    antes do aparecimento dos primeiros sintomas. O ttulo dos Acs anti-CCP, geralmente,

    correlaciona-se com a atividade da doena sendo um importante marcador de prognstico,

    diagnstico e evoluo da doena. (11, 12, 13)

    Os Acs anti-CCP tambm podem ser usados na diferenciao entre AR e outras

    doenas reumticas sistmicas. (11)

    Os testes de ELISA so muito usados para detetar a presena dos Acs anti-CCP. No

    Labeto, usado o kit anti-CCP IgG da Euroimmun, para a determinao quantitativa, in

    vitro, dos Acs anti-CCP da classe IgG.

  • Autoimunidade Relatrio de Estgio

    19

    CASO CLNICO DE ARTRITE REUMATOIDE

    Mulher de 67 anos fez no laboratrio as anlises prescritas pelo seu mdico

    assistente. Na anlise dos resultados verificou-se que os valores alterados esto relacionados

    com os marcadores de inflamao e com parmetros imunolgicos (Tabela IV).

    Tabela IV: Resultados das anlises, da mulher de 67 anos, com valores alterados.

    Anlise Resultado Valor de Referncia

    Plaquetas 453 453 140 - 440 x 109/L

    VS 90 90 0 - 30 mm

    Fibrinognio 526 526 180 - 350 mg/dL

    Protena C Reativa 6,81 6,81

  • Relatrio de Estgio Autoimunidade

    20

    Pelo que foi j foi referido acerca do FR e do Ac. anti-CCP e, tendo em conta os

    resultados elevados destes marcadores serolgicos, podemos dizer que a doente tem AR.

    Para reforar este diagnstico, na anlise ANCA, obteve-se um p-ANCA formol

    sensvel, cuja prevalncia na AR de 45% quando associado ao Ag lactoferrina (ver ponto

    3.4.2.4.1). O ANA positivo muito frequente em doentes com AR, no entanto, um teste

    pouco sensvel e especfico, pelo que no deve ser usado no diagnstico desta doena. (9)

    Como o ttulo dos Acs. anti-CCP est relacionado com a atividade da doena e os

    valores dos parmetros relacionados com processos inflamatrios esto elevados, levam-nos

    a prossupor a existncia de um processo inflamatrio em fase aguda.

    3.4.2 DOENAS AUTOIMUNES ESPECIFICAS DE RGO: TESTES

    3.4.2.1 DOENAS AUTOIMUNES HEPTICAS

    3.4.2.1.1 ANTICORPOS ANTI-MITOCNDRIA

    Cirrose Biliar Primria

    A Cirrose Biliar Primria (CBP) uma doena heptica autoimune caracterizada por

    uma colestase crnica. A leso morfolgica deve-se a uma inflamao e destruio dos

    ductos biliares intra-hepticos que condiciona a eliminao da blis. Inicialmente os sintomas

    so muitos gerais como fadiga e prurido que pode ser generalizado ou limitado palma das

    mos e ps. Depois de algum tempo aparece ictercia e hiperpigmentao da pele e

    posteriormente, aparecem sintomas que traduzem a existncia de colestase assim como a

    acumulao de lpidos. Por fim aparece ascite e hipertenso portal. A CBP afeta

    principalmente mulheres entre os 40 e os 50 anos. (5)

    Anticorpos anti- Mitocndria (AMA) so um grupo heterogneo de Acs, no

    especficos de rgo, que se dirigem contra diferentes componentes das mitocndrias.

    Pertencem fundamentalmente classe das imunoglobulinas IgG, ainda que se detetem

    tambm Acs das classes IgM e IgA. Estes AAcs so considerados os marcadores

    imunolgicos mais sensveis e especficos da CBP, fazendo a sua deteo praticamente

    diagnostico, mesmo na ausncia de sintomas e com Fosfatase Alcalina srica normal. Esto

    descritos at ao momento nove Ags mitocondriais (M1 a M9). Na CBP podem ocorrer Acs

    anti-M2, M4, M8 e M9, mas apenas os anti-M2 so especficos da doena. Os Acs AMA-M2-

    3E (anticorpos anti-subunidades E2 das -2 oxocido desidrogenases) e AMA-M2 (anticorpos

    anti complexo piruvato desidrogenase) esto presentes na maioria dos pacientes com CBP.

    (5, 9)

  • Autoimunidade Relatrio de Estgio

    21

    possvel identificar no ANA Ags alvo com elevada prevalncia na CBP. So eles: dois

    componentes do complexo poro nuclear (gp210 e p62), que esto associados ao padro

    perinuclear; os Ags PML e Sp100, que geram um padro de dots nucleares na IFI.

    A IFI permite observar um padro clssico de fluorescncia com a marcao intensa

    das mitocndrias no citoplasma das clulas. Classicamente utilizam-se como substrato cortes

    de rim, estmago e fgado de rato. Podem ainda ser utilizados outros substratos como as

    VSM47 (Vascular Smooth Muscle) e HEp-2 que ajudam na identificao dos AAcs. (16)

    Os padres de fluorescncia no AMA diferem em funo do substrato (Figura 7):

    AMA no fgado - fluorescncia granular no citoplasma dos hepatcitos;

    AMA nas clulas VSM47 - citoplasma com padro granular mdio disperso;

    AMA no estmago - padro citoplasmtico granular de distribuio uniforme;

    AMA no rim - fluorescncia granular no citoplasma das clulas dos tbulos renais,

    que mais intensa nos tbulos distais e que contrasta com a fraca fluorescncia dos

    glomrulos renais. (16)

    Figura 7: Padres de fluorescncia no AMA em diferentes substratos: a) Fgado de rato; b) Clulas VSM47; c)

    Estmago de rato; c) Rim de rato.

    3.4.2.1.2 ANTICORPOS ANTI - MSCULO LISO / ANTICORPOS ANTI - MICROSSOMAIS

    HEPTICOS E RENAIS

    HEPATITE AUTOIMUNE

    Hepatite Autoimune (HAI) uma doena inflamatria progressiva crnica que provoca

    a necrose do fgado. Afeta predominantemente as mulheres (75 % dos casos). (5)

    A HAI pode ser definida por uma infeo do fgado que se mantem por mais de seis

    meses e cuja etiologia desconhecida. caracterizada pela elevao das transaminases,

    hipergamaglobulinmia, elevados ttulos de Acs especficos no soro e alteraes histolgicas

    no fgado. A HAI tem evoluo para cirrose se no for tratada. considerada uma DAI

    devido associao a outras desordens hepticas autoimunes e eficcia da terapia

    imunossupressiva que inclui remisso clnica, bioqumica e histolgica na maioria dos casos.

    a) b) c) d)

  • Relatrio de Estgio Autoimunidade

    22

    A HAI pode ser classificada em HAI Tipo I, II de cordo com os AAcs associados. A

    HAI Tipo I caraterizada por apresentar Acs anti-Musculo Liso (ASMA), anti-SLA (Soluble

    Liver Antigen) e anti-LP (Liver Pancreas Antigen). Por sua vez, a HAI Tipo II tem como

    marcadores os Acs anti-Microssomais Hepticos e Renais (anti-LKM1) e os anti-LC1(Liver

    citosol). (9)

    Os vrios Acs circulantes detetados por IFI, e que ocorrem na maioria dos doentes

    com HAI, tm-se revelado muito importantes no diagnstico doena. (16)

    ANTICORPOS ANTI- MSCULO LISO

    Os Acs anti-Msculo Liso (ASMA) so Acs contra diferentes componentes do

    citoesqueleto, os principais dirigem-se contra a actina, e os menos frequentes contra a

    tubulina, tropomiosina e vimentina. (5)

    Os ASMA com especificidade anti-F-actina so considerados marcadores da HAI tipo I.

    A pesquisa destes Acs efetuada em cortes de tecidos de fgado, estmago e rim de rato, e

    opcionalmente nas clulas VSM47 e HEp-2. A F-actina quando presente origina padres de

    imunofluorescncia muito caractersticos (Figura 8):

    Rim - fluorescncia nos vasos sanguneos e nos glomrulos renais sendo muito

    caracterstica no espao peritubular (aspeto de espinhos);

    VSM47 - fluorescncia nos filamentos de F-actina que so longos e retilineos.

    Estendem-se de um extremo ao outro da clula e passando sobre o ncleo;

    Fgado - fluorescncia intensa nos vasos do espao porta (artria, canal e veia). A

    visualizao de fluorescncia na membrana dos hepatcitos depende do ttulo do

    anticorpo;

    Estmago - fluorescncia intensa na camada muscularis mucosae, nas projees

    muscularis da mucosa e na camada muscular. (16)

    Figura 8: Padres de fluorescncia no ASMA em diferentes substratos: a) Rim de rato; b) Clulas VSM47; c)

    Fgado de rato; d) Estmago de rato.

    a) b) c) d)

  • Autoimunidade Relatrio de Estgio

    23

    ANTICORPOS ANTI-LKM (LIVER KIDNEY MICROSOMES)

    Os Acs contra os Microssomas Hepticos e Renais (anti-LKM) so um grupo

    heterogneo de Acs que se ligam a estruturas do citoplasma dos hepatcitos e das clulas

    dos tbulos contornados principais. De acordo com a sua natureza so considerados,

    atualmente, quatro tipos de Acs anti-LKM: LKM1 (Ag alvo: citocromo P450 IID6 (CYP2

    D6)), LKM2 (Ag alvo: citocromo P450 IIC9 (CYP2 C9)), LKM3 (Ag alvo: citocromo P450

    IIA2 (CYP2 A2)) e um quarto tipo que tem como Ag alvo o CYP2 A2 e o CYP2 A6. (16)

    Os Acs anti-LKM1 so caractersticos da HAI tipo II, no existindo correlao entre a

    concentrao dos AAcs e o grau da doena. Estes AAcs esto presentes em cerca de 10%

    dos doentes com Hepatite C, aparecendo tambm em outras patologias como a doena

    Celaca, doena de Graves, Anemia Perniciosa e Anemia Hemoltica Autoimune. (16)

    Quando so utilizados substratos com cortes de fgado e rim de rato podem deteta-

    se os Acs anti-LKM1 que, quando revelados por IFI, apresentam diferentes padres de

    fluorescncia (Figura 9):

    Fgado - fluorescncia intensa do citoplasma dos hepatcitos. A ausncia de

    fluorescncia no tecido conjuntivo e nos ncleos origina o aspeto caracterstico de

    buraco negro;

    Rim - fluorescncia intensa granular e homognea do citoplasma das clulas dos

    tbulos contornados proximais. H ausncia de fluorescncia do citoplasma das

    clulas dos tbulos distais. Contudo, em 10% dos casos, os Acs anti-LKM1

    provenientes de doentes com HAI Tipo II ou com Hepatite C, podem revelar

    fluorescncia de fraca intensidade nos tbulos distais.

    Figura 9: Pares de fluorescncia caractersticos dos anticorpos anti-LKM1: a) Rim de rato; b) Fgado de rato.

    Em aproximadamente 25% dos soros dos doentes com HAI Tipo II existe uma

    associao dos Acs anti-Clulas Parietais Gstricas (APCA) com os Acs anti- LKM1, uma vez

    que a HAI Tipo II est associada s gastrites (ver ponto 3.4.2.2). (16)

    a) b)

  • Relatrio de Estgio Autoimunidade

    24

    3.4.2.2 DOENAS AUTOIMUNES DO ESTMAGO

    3.4.2.2.1 ANTICORPOS ANTI- CLULAS PARIETAIS GSTRICAS

    ANEMIA PERNICIOSA

    A Anemia Perniciosa (AP) caracterizada pela absoro deficiente da vitamina B12,

    secundria a uma leso autoimunitria das clulas parietais gstricas, com os sintomas de

    uma anemia megaloblstica. (5)

    Esta DAI desenvolve-se devida existncia de Acs anti-Fator Intrnseco (FI) e anti-

    Clulas Parietais Gstricas (APCA). O FI uma protena sintetizada nas clulas parietais da

    mucosa gstrica. Em condies fisiolgicas, liga-se vitamina B12, sendo fundamental para a

    absoro desta no lio terminal. A destruio da mucosa gstrica que ocorre na gastrite

    autoimune, origina uma diminuio da sntese de FI e, consequentemente, uma diminuio da

    absoro da vitamina B12. (9)

    A presena de APCA pode anteceder o aparecimento da AP e gastrite autoimune em

    vrios anos, a sua pesquisa e identificao til no rastreio pr clinico. No entanto, a

    presena destes Acs tambm frequente em indivduos saudveis e em outras patologias

    autoimunes. Os APCA tm uma elevada sensibilidade mas baixa especificidade no

    diagnstico da AP. (9)

    A pesquisa e identificao de APCA so realizadas por IFI utilizando como substrato

    cortes de estmago de rato. A fluorescncia granular densa, localizada exclusivamente no

    citoplasma das clulas parietais gstricas, mais intensa no polo apical da clula. As clulas da

    mucosa e submucosa no apresentam fluorescncia (Figura 10). (9)

    Figura 10: Padro de fluorescencia dos Acs APCA em substrato estmago de rato.

    Acs contra o FI so muito especficos para AP embora nem sempre estejam

    presentes no soro de todos os pacientes com esta patologia (prevalncia de 70 %). (5)

    De salientar que enquanto a prevalncia de APCA decrece no curso da doena,

    muitos doentes desenvolvem os Acs contra o FI mais tarde.

    No Labeto, quando pedida a deteo dos Acs AMA, ASMA, LKM1, e APCA

    executada a IFI. So utilizadas lminas Liver Mosaic 9 da Euroimmun com os substratos de

    fgado, rim e estmago de rato e as clulas VSM47.

  • Autoimunidade Relatrio de Estgio

    25

    Em caso de positividade so observados, para cada Ac, padres caractersticos na

    fluorescncia nos diferentes tecidos descritos anteriormente.

    A presena de cada um dos Acs confirmada no teste EUROLINE Profile

    Autoimmune Liver Diseases, pela tcnica de Imunoblot. Neste teste so detetados os Acs

    humanos da classe IgG para 9 diferentes Ags (AMA-M2, M2-3E, Sp100, PML, gp210, LKM1,

    LC-1, SLA/LP, Ro52) (Figura 11).

    Figura 11: Tira com os diversos Ags presentes no teste EUROLINE Profile Autoimmune Liver Diseases.

    Este teste tambm realizado quando so pedidos, por exemplo, os Acs anti-SLA/LP e

    anti-LC-1, que tambm esto associados s doenas do fgado.

    Quando pedida a deteo dos Acs da classe IgG contra o FI ou pretendemos

    confirmar a presena de Acs APCA visualizados na fluorescncia, faz-se o teste ALPHADIA

    Biermer- Atrophic Gastrites DOT (Figura 12).

    Figura 12: ALPHADIA Biermer - Atrophic Gastrites DOT.

    CASOS CLNICOS DE DOENA AUTOIMUNE HEPTICA

    PROVVEL CIRROSE BILIAR PRIMRIA

    Uma mulher de 23 anos fez anlises no laboratrio e referiu estar a tomar

    medicamento para as dores articulares. Das anlises prescritas pelo clnico apenas vou

    salientar as que podem ser importantes para fazer o prognstico clinico (Tabela V).

  • Relatrio de Estgio Autoimunidade

    26

    Tabela V: Resultados laboratoriais das anlises efetuadas mulher de 23 anos.

    Anlise Resultado 1 Resultados 2 Valor de Ref.

    VS 39 --------- 0 -25 mm

    Transaminase-GOT 18 ---------

  • Autoimunidade Relatrio de Estgio

    27

    O resultado do Liver Profile foi positivo para os Acs AMA-M2 AMA-M2-3E. Como foi

    j referido, estes Acs AMA-M2 so especficos da CBP e de elevado valor preditivo, sendo o

    resultado valorizvel no tratamento e/ou preveno da evoluo da doena.

    PROVVEL HEPATITE AUTOIMUNE TIPO I

    Um homem de 32 anos fez anlises no laboratrio (Tabela VI; Resultados 1). O seu

    mdico assistente, ao verificar a existncia de alteraes nas anlises da funo heptica,

    prescreve os mesmos exames e acrescenta anlises de carter imunolgico para alm dos

    marcadores da Hepatite A, B e C (Tabela VI; Resultados 2). Trs semanas depois, o utente

    fez novamente anlises e referiu estar a tomar medicamento para o fgado (Tabela VI;

    Resultados 3).

    Tabela VI: Resultados, ao longo do tempo, de um doente com um possvel diagnstico de HAI Tipo I.

    Anlise Resultado 1 Resultados 2 Resultados 3 Valor de Ref.

    Transaminase-GOT -------- 229 78

  • Relatrio de Estgio Autoimunidade

    28

    Os valores da Fosfatase Alcalina, GOT, GPT e GGT esto elevados o que indicia

    patologia heptica.

    A hepatite provoca uma elevao, embora no muito acentuada, dos valores da ALP. A

    GOT aumenta quando h leso das clulas de tecidos altamente metablicos como os

    hepatcitos. A GPT uma enzima predominante no fgado sendo libertada quando h leso

    hepatocelular. Grandes concentraes da GGT esto presentes no fgado e pode ser usada

    para detetar disfuno dos hepatcitos. (14)

    Os resultados obtidos para os marcadores da hepatite viral A, B e C deram resultados

    negativos o que leva a excluir uma hepatite viral, provocada por alguns destes vrus.

    O resultado, por IFI em substratos de clulas VSM47, tecidos de fgado, estmago e

    rim de rato, revelam um padro de fluorescncia caracterstico dos Acs anti-F-actina,

    considerados marcadores da HAI tipo I.

    De referir que trs semanas aps o diagnstico os resultados da funo heptica esto

    prximos dos valores normais, o que revela a remisso da doena, possivelmente, devido

    terapia imunossupressora.

    O resultado negativo do AMA juntamente com as Bilirrubinas normais exclui uma

    CBP.

    3.4.2.3 DOENAS AUTOIMUNES DO INTESTINO

    3.4.2.3.1 ANTICORPO ANTI-ENDOMSIO, ANTICORPO ANTI-TRANSGLUTAMINASE

    TECIDULAR E ANTICORPO ANTI-GLIADINA

    Doena Celaca

    Doena Delaca (DC) uma enteropatia autoimune induzida pela ingesto de glten

    estando subjacente uma forte predisposio gentica. Afeta, principalmente, indivduos

    portadores do Ag codificado pelo HLA-DQ2/DQ8 mas outros fatores como vrus e

    alteraes imunolgicas tambm podem estar envolvidas na etiopatogenia da doena. Esta

    patologia caraterizada pela inflamao e atrofia das vilosidades da mucosa do intestino

    delgado que prejudicam a absoro de nutrientes. As alteraes da mucosa revertem

    favoravelmente quando se elimina o glten da dieta. (5, 9)

    O glten um constituinte de vrios cereais como trigo, cevada e centeio. composto

    por uma mistura de protenas que podem se divididas em prolaminas e glutelinas, sendo a

    gliadina a prolamina mais frequente. A elevada concentrao destas protenas no glten leva

    sua digesto parcial. Os resduos parcialmente digeridos so reabsorvidos na mucosa

    intestinal sendo os de glutamina (presentes na gliadina) convertidos em cido glutmico pela

  • Autoimunidade Relatrio de Estgio

    29

    enzima tecidular transglutaminase (tTG), localizada no espao extracelular da mucosa

    intestinal, atravs do processo de desaminao.

    A converso dos resduos de glutamina em acido glutmico pela tTG facilita a ligao

    dos peptdeos de gliadina aos hapltipos de HLA-DQ2 e/ou HLA-DQ8, na superfcie das

    clulas de apresentao de Ags (clulas T helper). Nos indivduos com predisposio

    gentica, desencadeada uma resposta imunolgica que leva sntese de Acs especficos

    anti-Transglutaminase (anti-tTG), anti- Endomsio (anti-EmA) e anti- Gliadina (anti-AGA). (9,

    17)

    O diagnstico serolgico para a DC, de acordo com as novas guidelines da Europian

    Society of Pediatric Gastroenterology, Hepatology and Nutrition (ESPGHAN), baseado no

    doseamento da Imunoglobulina IgA, na deteo dos hapltipos HLA-DQ2/DQ8 e nos Acs da

    classe IgA anti-EmA, anti-tTG e anti-AGA. (18)

    Para fazer o diagnstico e monitorizao da DC, no Labeto, feita por rotina, a

    deteo dos seguintes Acs:

    Anti-tTG da classe IgA por ELISA;

    Anti-AGA (GAF-3X) da classe IgA por ELISA;

    Anti-AGA (GAF-3X) da classe IgA e IgG por IFI;

    Anti-EmA da classe IgA e IgG por IFI.

    Com cerca de 100% de sensibilidade e especificidade, os Acs anti-EmA e antitTG, da

    classe IgA, tm uma elevada relevncia no diagnstico da DC. Os Acs anti-tTG tambm so

    uteis para monitorizar a doena em pacientes que esto a fazer a dieta sem glten, nestes,

    podem baixar at desaparecer. Em pacientes com deficincia em IgA, so detetados os Acs

    da classe IgG. (9)

    Sabendo que o alvo dos AAcs contra o endomsio a enzima tTG, o seu doseamento

    por ELISA tem sido muito requisitado, dado que uma tima ferramenta, fcil de executar e

    pouco dependente do operador, para fazer o diagnstico e monitorizao da DC.

    Os Acs anti-AGA so importantes em situaes clnicas especficas, como no

    diagnstico da DC em idades peditricas, dado que os Acs anti-tTG podem s aparecer a

    entre os 2 e os 5 anos de idade. (9, 18)

    A pesquisa de Acs anti-EmA e anti-AGA da classe IgA e IgG por IFI feita em

    simultneo utilizando lminas que tm como substratos dots de Gliadina (GAF-3X) e cortes

    de fgado de primata:

    Os Acs Anti-EmA reagem com os filamentos das sinusoides intralobulares do fgado

    que ficam fluorescentes;

  • Relatrio de Estgio Autoimunidade

    30

    Os Acs Anti-AGA (GAF-3X), quando presentes no soro, ligam-se os Ags dos dots e

    so visualizados reas circulares fluorescentes que contratam com um fundo escuro

    (Figura 14).

    O resultado deste teste dado como positivo ou negativo. De notar que o ttulo de Acs

    anti-EmA, nos doentes submetidos a dieta sem glten, diminui ao longo do tempo, pelo que

    a serologia negativa no deve excluir a DC.

    CASO CLNICO DE PROVVEL DOENA CELACA__________________________________

    Homem de 41 anos fez anlises no laboratrio prescritas pelo seu mdico assistente, a

    prescrio mdica inclua o hemograma, parmetros da funo heptica e os Acs da classe

    IgA anti-EmA, anti-tTG e anti-AGA.

    Os parmetros bioqumicos relacionados com a funo heptica estavam dentro dos

    valores de referncia. O hemograma revelou a existncia de uma ligeira anemia hipocrmica

    e os valores dos Acs marcadores de DC deram resultados positivos (Tabela VII).

    Tabela VII: Resultados dos Acs, da classe IgA, anti-EmA, anti-tTG e anti-AGA.

    Anlise Resultado Valor de Referncia

    Ac.Anti- AGA IgA 3,8

  • Autoimunidade Relatrio de Estgio

    31

    especificidade dos Acs anti-EmA IgA e anti-tTG para a DC, podemos pressupor que o

    doente portador desta patologia, no entanto, o diagnstico definitivo s feito com a

    confirmao atravs de biopsia e/ou deteo dos hapltipos HLA-DQ2/DQ8.

    3.4.2.4 DOENAS AUTOIMUNES DOS VASOS SANGUNEOS

    3.4.2.4.1 ANTICORPOS ANTI CITOPLASMA DOS NEUTRFILOS

    VASCULITES

    Os ANCA (Anti-Neutrophil Cytoplasma Antibodies) so Acs dirigidos contra as enzimas

    (Ags) existentes nos grnulos dos neutrfilos e moncitos, capazes de ativar as clulas e

    induzir leses necrticas vasculares. So marcadores serolgicos importantes nas Vasculites

    dos pequenos vasos tendo tambm um valor de diagnstico importante em outras patologias

    como na Colite Ulcerosa e na Colangite Primria Esclerosante. (9)

    As Vasculites compem um grupo heterogneo de doenas que se caraterizam por

    uma inflamao da parede do vaso sanguneo e necrose da parede vascular. A inflamao

    ocorre devido ao depsito de Acs ou imunocomplexos. Como consequncia do processo

    inflamatrio h estreitamento do calibre vascular e isqumia. Podem afetar qualquer tipo de

    vaso, ter qualquer localizao e aparecer de forma isolada ou associadas a outras doenas.

    (16)

    Na conferncia de Consenso de Chapel Hill de 1994, passou a ser reconhecida a

    classificao das Vasculites em funo do tamanho dos vasos afetados: Vasculite dos

    pequenos, mdios e grandes vasos. (5)

    A razo mais frequente para a solicitao dos ANCA para o diagnstico das

    Vasculites dos pequenos vasos.

    Os ANCA so detetados de uma forma simples e rpida, pela tcnica de IFI utilizando

    como substrato neutrfilos fixados em etanol e formol.

    A tcnica de IFI, no caso de uma reao positiva nos granulcitos fixados com etanol,

    d-nos dois padres de ANCA:

    O padro citoplasmtico (c-ANCA) - caracterizado por uma fluorescncia

    granular regularmente distribuda pelo citoplasma dos granulcitos com um

    reforo entre os lbulos do ncleo que fica limpo. Este padro ocorre devido aos

    Acs dirigidos contra a Proteinase 3 (PR3), localizada nos grnulos azuroflicos dos

    neutrfilos (Figura 15 a)). (16)

    O padro perinuclear (p-ANCA) - define-se pela existncia de uma fina

    fluorescncia volta do ncleo do granulcito causada por vrios tipos de Acs.

  • Relatrio de Estgio Autoimunidade

    32

    Este padro ocorre porque durante a incubao, dos neutrfilos com os Acs do

    soro do paciente, os Ags difundem-se dos grnulos para a membrana nuclear com

    a qual tem grande afinidade (Figura 15 b)). (16)

    Nos granulcitos fixados com formaldedo ocorre uma fluorescncia granular

    regularmente distribuda pelo citoplasma dos granulcitos deixando o ncleo limpo. Esta

    fluorescncia causada pelos Acs contra a PR3 (c-ANCA) e pelos Acs contra a

    mieloperoxidase (MPO) (p-ANCA-MPO). Normalmente, os granulcitos fixados em

    formaldedo no reagem com os Acs contra a elastina, lactoferrina, lisozima, -glucoronidase

    e catepsina G e raramente existe reao contra os Acs nucleares. O interesse da fixao em

    formol distinguir um entre um p-ANCA clssico e um p-ANCA atpico.

    Podem ainda ser utilizados substratos MPO e PR3 que so revestidos por pequenas