Relatório de Estágio Profissionalizante · conhecimentos adquiridos ao longo dos cinco anos de...
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Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto
Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas
Relatório de Estágio Profissionalizante
Farmácia Oudinot
setembro de 2017 a fevereiro de 2018
Maria Inês Azevedo Oliveira
Orientador: Dra. Carolina Pinheiro
Tutor FFUP: Prof. Doutora Susana Casal
Junho de 2018
Relatório de Estágio Profissionalizante
i
Declaração de Integridade
Declaro que o presente relatório é de minha autoria e não foi utilizado previamente noutro
curso ou unidade curricular, desta ou de outra instituição. As referências a outros autores
(afirmações, ideias, pensamentos) respeitam escrupulosamente as regras da atribuição, e
encontram-se devidamente indicadas no texto e nas referências bibliográficas, de acordo com as
normas de referenciação. Tenho consciência de que a prática de plágio e auto-plágio constitui um
ilícito académico.
Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, 25 de junho de 2018
Maria Inês Azevedo Oliveira
Relatório de Estágio Profissionalizante
ii
Agradecimentos
Em primeiro lugar, quero agradecer à Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto por
me permitir realizar o meu curso, por todo o acompanhamento e excelente qualidade nos seus
profissionais.
Quero agradecer também à prof. Doutora Susana Casal, por todo o tempo dispensado ao
longo da laboração deste relatório.
Desejo também exprimir o meu forte agradecimento à Dra. Mariana Pinho, Diretora Técnica
da Farmácia Oudinot, à Dra. Carolina Pinheiro e a todos os colegas farmacêuticos, por me terem
recebido de braços abertos e por tudo o que me ensinaram ao longo do estágio.
Quero também agradecer a todos os colegas e amigos que me acompanharam ao longo de
todo o meu percurso académico, com um especial agradecimento à Sara Teixeira por ter estado
incansavelmente ao meu lado nos últimos anos do curso.
Por fim, e o maior agradecimento que devo é à minha família por me darem a oportunidade
de prosseguir para a vida académica, por nunca me terem deixado desistir e por me ajudarem a
acreditar sempre que há dias melhores. Sem eles, nada seria possível. Estar-lhes-ei eternamente
grata!
Relatório de Estágio Profissionalizante
iii
Resumo
O presente relatório tem como principal objetivo descrever o meu estágio curricular na
Farmácia Oudinot. É constituído por duas partes: a primeira contém uma descrição de todo o
funcionamento normal de uma farmácia e todos os processos desde a chegada de um determinado
produto farmacêutico até à sua venda; a segunda parte é composta por três projetos realizados por
mim no âmbito do estágio, com o objetivo de melhorar o meu atendimento e estabelecer uma melhor
relação com todos os utentes que nos visitavam diariamente. Todos os trabalhos realizados por mim
tiveram impacto para a farmácia e sobretudo para mim, na medida em que me ajudaram a
demonstrar aos utentes que o papel do farmacêutico vai muito além da simples venda de
medicamentos.
Este estágio foi o início da minha formação profissional, em que melhorei não só as minhas
capacidades de comunicação e trabalho em equipa, mas também aprofundei e consolidei todos os
conhecimentos adquiridos ao longo dos cinco anos de curso.
Tenho consciência de que muito ainda tenho para aprender e descobrir, mas foi a melhor
oportunidade para crescer tanto a nível pessoal como a nível profissional, ansiando cada vez mais
por um futuro nesta área.
Relatório de Estágio Profissionalizante
iv
Lista de abreviaturas
ANF – Associação Nacional de Farmácias
CESDA – Centro Social do Distrito de Aveiro
c-HDL – Colesterol correspondente às Lipoproteínas de Alta Densidade
c-LDL – Colesterol correspondente às Lipoproteínas de Baixa Densidade
CNP – Código Nacional do Produto
CT – Colesterol Total
CV – Cardiovascular
DA – Dermatite Atópica
DCI – Denominação Comum Internacional
DCV – Doenças Cardiovasculares
DEXA – “Dual-Energy X-ray Absorptiometry”
DGS – Direção-Geral de Saúde
DM – Dispositivos Médicos
DMO – Densidade Mineral Óssea
DVC – Doença Venosa Crónica
FEFO – “First Expire, First Out”
FO – Farmácia Oudinot
FPS – Fator de Proteção Solar
FRAX – “Frature Risk Assessment Tool”
HbA1c – Hemoglobina glicada
IOM – Instituto de Medicina
IU - Unidades Internacionais
IV – Intravenosa
MICF – Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas
MM – Medicamento Manipulado
MNSRM – Medicamento Não Sujeito a Receita Médica
MSRM – Medicamento Sujeito a Receita Médica
OMS – Organização Mundial de Daúde
OTC – “Over The Counter”
PIC – Preço de venda Inscrito na Cartonagem
PVF – Preço de Venda à Farmácia
PVP - Preço de Venda ao Público
SI – Sifarma2000®
TGs – Triglicerídeos
VLDL – Lipoprotreínas de muito Baixa Densidade
VVZ – Vírus Varicela-Zoster
Relatório de Estágio Profissionalizante
v
Índice
Declaração de Integridade ............................................................................................................ i
Agradecimentos ........................................................................................................................... ii
Resumo ........................................................................................................................................ iii
Lista de abreviaturas .................................................................................................................. iv
Índice ............................................................................................................................................. v
Índice de tabelas ........................................................................................................................ vii
Índice de figuras ......................................................................................................................... vii
Parte 1 – Descrição das atividades desenvolvidas durante o estágio ................................... 1
1. Introdução ................................................................................................................................. 1
2. Descrição da farmácia ............................................................................................................. 1
2.1. Espaço físico .................................................................................................................... 1
2.2. Sistema informático .......................................................................................................... 2
3. Gestão da farmácia e aprovisionamento ............................................................................... 2
3.1. Gestão de stocks .............................................................................................................. 2
3.2. Encomendas..................................................................................................................... 3
3.2.1. Realização de encomendas ............................................................................. 3
3.2.2. Receção de encomendas ................................................................................. 3
3.2.3. Armazenamento ............................................................................................... 3
3.3. Reservas .......................................................................................................................... 4
3.4. Devoluções ....................................................................................................................... 4
3.5. Receituário e conferência de receituário .......................................................................... 4
3.6. Controlo de prazos de validade........................................................................................ 5
4. Classificação de medicamentos e produtos farmacêuticos ............................................. 5
4.1. Medicamentos sujeitos a receita médica ......................................................................... 5
4.2. Medidas não sujeitos a receita médica ............................................................................ 6
4.3. Medicamentos de uso veterinário .................................................................................... 6
4.4. Medicamentos manipulados ............................................................................................. 6
4.5. Dipositivos médicos .......................................................................................................... 7
4.6. Outros produtos farmacêuticos ........................................................................................ 7
5. Dispensa de medicamentos .................................................................................................... 8
Relatório de Estágio Profissionalizante
vi
5.1. Prescrição eletrónica e validação..................................................................................... 8
5.1.1. Dispensa de medicamentos estupefacientes e psicotrópicos ......................... 9
5.1.2. Comparticipação de medicamentos ............................................................... 10
6. Prestação de cuidados de saúde e outros serviços na farmácia ..................................... 10
7. Marketing na farmácia ........................................................................................................... 11
8. Formações .............................................................................................................................. 11
Parte 2 – Temas desenvolvidos ................................................................................................ 12
Projeto 1 – Osteoporose ............................................................................................................ 12
1. Enquadramento do projeto ................................................................................................... 12
2. Epidemiologia e fisiopatologia ............................................................................................. 12
2.1. Fatores de risco .............................................................................................................. 13
2.2. Diagnóstico ..................................................................................................................... 13
3. Tratamento .............................................................................................................................. 14
3.1. Tratamento não farmacológico ....................................................................................... 14
3.2. Tratamento farmacológico .............................................................................................. 16
4. Descrição e métodos ............................................................................................................. 18
5. Resultados e conclusões ...................................................................................................... 19
Projeto 2 – Semana da Saúde ................................................................................................... 21
1. Enquadramento do projeto ................................................................................................... 21
1.1. Introdução ....................................................................................................................... 21
2. Perfil lipídico ........................................................................................................................... 22
3. Glicémia .................................................................................................................................. 23
4. Descrição e métodos ............................................................................................................. 24
4.1. Princípios dos métodos .................................................................................................. 24
4.2. Descrição dos métodos .................................................................................................. 25
5. Resultados, aconselhamento e conclusões ....................................................................... 25
Projeto 3 – casos clínicos ......................................................................................................... 27
1. Enquadramento do projeto ................................................................................................... 27
2. Caso clínico I – “Boa tarde, o meu bebé tem pele atópica!” ............................................. 27
2.1. Contextualização ............................................................................................................ 27
2.2. Aconselhamento ............................................................................................................. 27
Relatório de Estágio Profissionalizante
vii
3. Caso clínico II – “Bom dia, a minha filha está com varicela, o que devo fazer?” ........... 28
3.1. Contextualização ............................................................................................................ 28
3.2. Aconselhamento ............................................................................................................. 29
4. Caso clínico III – “Bom dia! Venho levantar esta receita por causa da acne:
isotretinoína.” ............................................................................................................................. 29
4.1. Contextualização ............................................................................................................ 29
4.2. Aconselhamento ............................................................................................................. 30
5. Caso clínico IV - “Boa tarde! Tenho pequenos derrames nas pernas!” .......................... 30
5.1. Contextualização ............................................................................................................ 30
5.2. Aconselhamento ............................................................................................................. 31
6. Conclusões ............................................................................................................................. 31
Bibliografia .................................................................................................................................. 33
Anexos ......................................................................................................................................... 36
Índice de tabelas
Tabela 1 - Resultados obtidos no rastreio ............................................................................. 19
Índice de figuras
Figura 1 - T-score em função da idade .................................................................................. 20
Relatório de Estágio Profissionalizante
1
Parte 1 – Descrição das atividades desenvolvidas durante o estágio
1. Introdução
Desde 1449 que existem farmacêuticos em Portugal, na altura conhecidos como boticários.
Tinham como principal função preparar medicamentos e substâncias medicamentosas. Por esta
razão, até há cerca de uma década, as farmácias eram denominadas Farmácias de Oficina.
Progressivamente, a atividade do farmacêutico começou a centrar-se no cidadão, desenvolvendo
serviços de apoio essenciais à comunidade, passando assim a denominar-se Farmácia Comunitária.
[1].
O farmacêutico tem, nos dias de hoje, um papel fundamental na área da saúde. O seu papel vai
muito além de dispensar os medicamentos indicados pelo médico: zelar pela saúde e bem-estar dos
pacientes, aconselhar e promover o uso correto e racional dos medicamentos, são os principais
objetivos de um farmacêutico. É, por isso, que a farmácia é o primeiro local de escolha quando se
trata de um “problema de saúde menor”, sendo que o farmacêutico tem capacidade para poder
aconselhar o melhor tratamento aos pacientes que tentam automedicar-se. É de extrema
importância que o farmacêutico garanta que o paciente não usa e abusa de todos os medicamentos
que tem em casa, e por isso, é na farmácia que deve ser feito o alerta para a saúde de cada um.
O estágio curricular, incluído no Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas (MICF), é o
último passo do curso e que antecede a vida profissional. O meu estágio começou a 1 de setembro
de 2017, na farmácia Oudinot, com a duração de 6 meses e sob orientação da Dra. Carolina
Pinheiro. Inicialmente, tomei conhecimento do espaço, do funcionamento e dinâmica da farmácia e
tentei sempre acompanhar o trabalho de todos os farmacêuticos, de forma a aprender todos os dias
e a aprofundar os meus conhecimentos. O cronograma das atividades realizadas durante o estágio
encontra-se no anexo I.
2. Descrição da farmácia
A farmácia Oudinot nasceu na cidade de Aveiro, em 1958, na Rua Engenheiro Oudinot. Em
2016, mudou as suas instalações para a Avenida Dr. Lourenço Peixinho. Localiza-se no centro da
cidade, tendo por isso a oportunidade de atender variadíssimos utentes, desde locais a turistas. O
seu horário de funcionamento é de segunda a sexta das 8:30h às 20h e ao sábado das 9h às 19h.
A equipa, gerida pela diretora técnica, Dra. Mariana Lopes Pinho, é constituída por quatro
farmacêuticos, dois técnicos de farmácia e uma auxiliar.
A farmácia conta com clientes fiéis desde a sua antiga localização, que têm um
acompanhamento especial e personalizado, sendo que a grande maioria dos clientes são de meia-
-idade ou idosos.
2.1. Espaço físico
A farmácia é caracterizada pelas cores verde e azul, num espaço amplo e simpático. Este
espaço contém cinco balcões para o atendimento, uma balança, gôndolas e expositores de
cosméticos (produtos de higiene e limpeza corporal), produtos de higiene oral, de puericultura, de
Relatório de Estágio Profissionalizante
2
uso veterinário, ajudas respiratórias, óticas e otológicas, suplementos alimentares, alguns
medicamentos não sujeitos a receita médica (MNSRM), produtos de primeiros socorros e outros
acessórios vários. Encontramos ainda dois gabinetes para a realização de testes bioquímicos e
medição da pressão arterial. Um destes gabinetes é usado também, uma vez por semana, para
consultas de nutrição e para formações ocasionais. A gestão do atendimento é feita com senhas e,
por isso, inclui também uma máquina de senhas e um ecrã onde se visionam os números.
Na parte interna, encontra-se o gabinete da diretora técnica, uma área para a gestão de
encomendas, outra para refeições, um WC e um laboratório. Inclui gavetas com os medicamentos
sujeitos a receita médica (MSRM) e estantes de acondicionamento de excedentes, que incluem
MSRM e MNSRM, denominados de OTCs (“over the counter”), e outros produtos farmacêuticos.
2.2. Sistema informático
O sistema informático utilizado na FO é o Sifarma2000® (SI), criado pela Glintt (Global Intelligent
Technologies) e é o mais usado pelas farmácias portuguesas. Permite auxiliar na gestão de
encomendas e stocks, controlando todos os movimentos dos produtos que entram e saem da
farmácia, evitando assim a geração de erros. No atendimento, é fundamental para confirmar a
dispensa correta do medicamento, verificar interações medicamentosas e informação científica,
assim como a criação de reservas. Permite também verificar a ficha do utente e o histórico dos
medicamentos vendidos, permitindo assim um acompanhamento mais fiável.
3. Gestão da farmácia e aprovisionamento
3.1. Gestão de stocks
A gestão de stocks é uma atividade fundamental na farmácia. A boa gestão de stocks é o que
garante o equilíbrio entre os produtos encomendados e os dispensados, assegurando assim a
eficiência na dispensa de medicamentos e a estabilidade da farmácia. Contudo, é um processo
complexo devido à grande variedade de produtos existentes no mercado e é também aqui que o SI
tem um papel imprescindível. No SI é possível definir o stock mínimo e máximo para cada produto
de forma a evitar ruturas ou excessos. O stock mínimo pretende responder à procura dos utentes,
ou seja, não poderá ser demasiado baixo. O stock máximo é estabelecido de acordo com o espaço
físico, gestão e financiamento da farmácia, não podendo ser muito elevado. Por vezes, o stock de
determinado produto poderá ser elevado e tal acontece quando a farmácia recebe encomendas em
grande quantidade, quando compensa a nível financeiro e comercial. Deve-se procurar
primordialmente garantir as necessidades de cada utente, procurando a sua satisfação e fidelização.
Para que haja uma boa gestão de stocks é necessário ter em consideração vários aspetos,
tais como: o perfil dos utentes habituais, bem como as suas preferências; rotatividade dos produtos;
marketing nos meios de comunicação; prazos de validade dos produtos; variações sazonais; hábitos
de prescrição mais recorrentes e contagens físicas periódicas, permitindo a atualização dos stocks.
No entanto, erros de stocks podem acontecer devido a falhas na receção de encomendas,
devoluções ou registo de vendas. Estes erros podem comprometer o atendimento e boa gestão da
farmácia, condicionando a sua logística e equilíbrio económico.
Relatório de Estágio Profissionalizante
3
Durante o estágio, foram várias as vezes em que fiz contagem física, um processo
extremamente complexo, moroso, pois os produtos são muitos e variados, e que deve ser realizado
atentamente. Quando realizado corretamente, ajuda na confirmação e acerto dos stocks pelo SI.
3.2. Encomendas
3.2.1. Realização de encomendas
Os principais armazenistas nas FO são a Cooprofar, Empifarma e Alliance Healthcare. São
feitas três encomendas diárias para a Cooprofar (armazenista principal), duas para a Empifarma e
uma de esgotados para um dos armazenistas. As diárias, previamente aprovadas antes do envio ao
armazenista, são geradas automaticamente pelo SI e visam repor o stock mínimo e máximo de cada
produto. É também feito, diariamente, por contacto telefónico o pedido dos medicamentos rateados.
Estes têm esta designação uma vez que a sua distribuição está limitada a determinadas quantidades
por farmácia por serem medicamentos de difícil acesso.
3.2.2. Receção de encomendas
As encomendas diárias do armazenista principal chegam à farmácia às 10h, 15h e 18h. Cada
encomenda traz associada a respetiva fatura (original e duplicado). As encomendas são efetuadas
pelo SI e estarão criadas na secção de “receção de encomendas”. É então selecionada a
encomenda correta, inserido o número de fatura e valor da mesma. De seguida, procede-se à
entrada dos produtos, conferindo o PVP (preço de venda ao público), o PVF (preço de venda à
farmácia) e a validade dos mesmos. O PVP dos medicamentos é decidido pelo INFARMED. Nos
produtos sem PIC (preço de venda inscrito na cartonagem), é necessária a atribuição de uma
margem, definida pela farmácia, de acordo com a legislação do Infarmed. [2] Quando a encomenda
for efetuada por telefone ou pela internet, é necessária a sua criação em “gestão de encomendas”,
a sua aprovação e envio em papel.
É importante também prestar, primariamente, atenção aos produtos de frio e armazená-los
de imediato no frigorífico, numa gaveta denominada “temporários”, até à sua receção. Quando se
tratam de encomendas volumosas, as encomendas diretas, é necessária a confirmação com a nota
de encomenda para garantir que está conforme foi encomendado.
Durante o estágio, a receção de encomendas e o armazenamento dos produtos foi algo que
tive a oportunidade de fazer diariamente. Ajudou-me a tomar conhecimento dos produtos existentes
e dos seus movimentos na farmácia.
3.2.3. Armazenamento
Após a receção das encomendas, procede-se ao armazenamento dos produtos. Os MSRM
estão dispostos em gavetas, por ordem alfabética, dosagem e número de comprimidos. Nestas
gavetas, são separados por medicamentos originais (estes ordenados pelo nome comercial),
medicamentos genéricos (ordenados por substância ativa), pomadas/cremes, soluções cutâneas,
pós, xaropes, pílulas e hormonais, auriculares, nasais, inaladores, injetáveis, transdérmicos, colírios
e oftálmicos. Os produtos de frio são também organizados por ordem alfabética e as insulinas têm
uma gaveta própria. Os MNSRM e todos os outros produtos têm também um local próprio, seja no
Relatório de Estágio Profissionalizante
4
interior ou no exterior da farmácia. Todos os produtos nesta farmácia são dispostos segundo a
política FEFO, “first expire, first out”, ou seja, os primeiros a expirar, são os primeiros a sair, para
garantir que os produtos com validade inferior são vendidos em primeiro lugar. É muito importante
todos os produtos estarem bem organizados para garantir que não há erros na dispensa.
É feito também um controlo da temperatura ambiente e da humidade, para a conservação de
todos os produtos existentes na farmácia. A temperatura deverá ser inferior a 25ºC e a humidade
relativa inferior a 60%. Relativamente aos valores do frigorífico, a temperatura deverá rondar os 2ºC
e os 8ºC, e a humidade é variável.
3.3. Reservas
As reservas podem ser criadas no SI, durante o atendimento, quando o produto não existe
momentaneamente na farmácia. É, previamente, confirmada a existência do produto no fornecedor
e depois efetuado o seu pedido. Aquando da receção do produto, aparece a indicação de que é uma
reserva e, no final da receção, é emitido um talão. O utente deverá trazer o talão para o levantamento
e, simultaneamente, é feita a “entrega do produto” no SI.
3.4. Devoluções
Procede-se a uma devolução de um determinado produto sempre que se verifica uma não
conformidade (troca de produto, produto não faturado, prazo de validade muito curto, embalagem
danificada) ou quando há um erro no pedido. No SI, cria-se a nota de devolução, destinada ao
fornecedor do produto, confirmando sempre o PVP, preço de custo e número da fatura de origem.
O SI gera três documentos iguais (original, duplicado e triplicado), que são devidamente rubricados,
carimbados e anexados ao produto que se pretende devolver, posteriormente recolhido pelo
armazenista. O triplicado é rubricado pelo armazenista e arquivado na farmácia. Quando se trata de
uma não conformidade, previamente deverá ser feita a reclamação por telefone.
As devoluções podem não ser aceites, e o produto regressa à farmácia. Sendo aceites, é
emitida uma nota de crédito, que é depois regularizada no sistema informático.
Durante o estágio, realizei várias devoluções assim como a regularização das mesmas,
incluindo notas de crédito.
3.5. Receituário e conferência de receituário
Todos os dias, na FO, é realizada a conferência de receituário, ou seja, a verificação e
organização de todas as receitas. É de extrema importância que todas as receitas cumpram todos
os requisitos para que a farmácia receba posteriormente o valor das comparticipações. Assim, de
forma a garantir a inexistência de erros, as receitas manuais são revistas várias vezes e por
diferentes pessoas. Aquando da dispensa de medicamentos de uma receita manual, o farmacêutico
carimba no verso da receita, que é posteriormente rubricada e datada por outro farmacêutico após
a primeira revisão. É sempre necessário verificar se os medicamentos prescritos e dispensados pela
farmácia são concordantes e se a receita está assinada pelo utente.
É necessário conferir sempre nas receitas manuais os seguintes aspetos: não podem estar
rasuradas nem ser escritas a lápis ou com canetas diferentes; nome e número de utente e, se
aplicável, o número de beneficiário; assinatura do médico prescritor e data de prescrição;
Relatório de Estágio Profissionalizante
5
identificação da exceção; identificação do local de prescrição ou respetiva vinheta; vinheta
identificativa do médico prescritor, identificação da especialidade médica, se aplicável, e contacto
telefónico do prescritor; entidade financeira responsável (entidade responsável pelo pagamento ou
comparticipação dos medicamentos); regime especial de comparticipação de medicamentos;
identificação do despacho que estabelece o regime especial de comparticipação; número de
embalagens prescritas que deve constar em cardinal e por extenso.
Após a conferência e validação das receitas, estas são organizadas por lotes (lotes de 30) e
separadas por planos de comparticipação. A cada lote de receitas, associa-se o respetivo verbete,
que contém o nome e código da farmácia, plano de comparticipação, número do lote com respetivo
número de receitas. No final de cada mês, é emitida a relação do resumo de cada lote e a fatura
mensal final dos medicamentos para cada uma das entidades. Os lotes correspondentes ao SNS
são recolhidos na farmácia até ao dia 8 de cada mês e enviados para o Centro de Conferência de
Faturas. Relativamente aos outros organismos de comparticipação, são enviados para a Associação
Nacional de Farmácias (ANF). Caso as receitas contenham erros, são devolvidas à farmácia e a
entidade responsável não suporta o valor da comparticipação.
Durante o estágio, tive a oportunidade de organizar as receitas por lotes e organismos, várias
vezes, e de assistir ao fecho do mês.
3.6. Controlo de prazos de validade
Para garantir a segurança dos utentes e a qualidade de todos os medicamentos e produtos
vendidos, é necessário um controlo apertado dos prazos de validade. Todos os meses deve ser
emitida uma listagem de todos os produtos cujo prazo de validade está a acabar. Este processo é
de extrema importância para garantir que nenhum produto é vendido tendo prazo de validade curto.
Assim, é feita uma verificação do prazo de validade desses produtos e quando se confirma, são
retirados e devolvidos aos respetivos fornecedores.
4. Classificação de medicamentos e produtos farmacêuticos
Medicamentos são classificados pelo Infarmed, como substâncias que detêm de
propriedades curativas ou preventivas de determinada doença, bem como dos sintomas associados.
Têm como finalidade melhorar, restabelecer ou colmatar as funções fisiológicas do organismo a
nível imunológico e farmacológico.
4.1. Medicamentos sujeitos a receita médica
Os MSRM são todos os medicamentos que possam constituir um risco para a saúde do
doente, direta ou indiretamente, mesmo quando usados para o fim a que se destinam; que possam
desencadear risco, direto ou indireto, para a saúde, quando utilizados com outras finalidades que
não aquelas a que se destinam; que contenham substâncias ou semelhante, cuja atividade ou
reações adversas seja indispensável aprofundar; que se destinem a ser administrados por via
parentérica. [3]
Relatório de Estágio Profissionalizante
6
4.2. Medicamentos não sujeitos a receita médica
Os MNSRM são todos os medicamentos que não reúnem as condições para serem
considerados como sujeitos a receita médica. São medicamentos que não são albergados por
regimes de comparticipação, exceto em casos previstos pela legislação. Podem ser vendidos fora
das farmácias, sendo que tal só pode ser executado por um farmacêutico ou técnico de farmácia e
em locais que cumpram os requisitos legais e regulamentares. [4]
4.3. Medicamentos de uso veterinário
Os medicamentos de uso veterinário são um bem público fundamental para a defesa da
saúde e bem-estar dos animais. Permitem salvaguardar as produções animais e têm extrema
importância na economia das explorações agropecuárias e alimentares.
Podem ser sujeitos a receita médica, de uso exclusivo por médicos veterinários e não sujeitos
a receita médica. Os mais frequentemente vendidos na farmácia são antiparasitários, internos e
externos, e contracetivos, para animais domésticos.
O decreto-lei nº148-2008 estabelece o regime jurídico a que obedece a autorização de
introdução no mercado e as suas alterações, bem como o fabrico, comercialização,
farmacovigilância e utilização dos medicamentos veterinários. [5]
4.4. Medicamentos manipulados
Um medicamento manipulado (MM) é qualquer fórmula magistral ou preparado oficial
preparado e dispensado sob a responsabilidade total de um farmacêutico. Este deve assegurar-se
da qualidade da preparação, assim como da sua segurança e existência de interações que ponham
em causa a ação do medicamento ou a segurança do utente. [6]
A preparação deve ser sempre acompanhada de uma ficha de preparação onde deve constar
o nome do medicamento, o lote a que pertence (definido pela farmácia), procedimento, data de
preparação e todas as matérias-primas utilizadas, bem como as respetivas quantidades. A ficha é
rubricada pelo operador e diretor técnico, e arquivada juntamente com uma cópia do rótulo e da
prescrição. O rótulo deve conter o nome do medicamento, a quantidade, a data de preparação, o
utente a que se destina, o nome do médico prescritor, a forma farmacêutica, prazo de validade,
posologia, condições de conservação e número de lote. Devem constar também todas as
informações necessárias ao bom uso do medicamento, como por exemplo “manter em locar fresco”
ou “agitar antes de usar”.
Segundo o Decreto-Lei nº95/2004, só podem ser usadas matérias-primas que constem na
Farmacopeia Portuguesa, nas farmacopeias de outros Estados Partes na Convenção Relativa à
Elaboração de Uma Farmacopeia Europeia, na Farmacopeia Europeia ou na documentação
científica. É o Infarmed que define o conjunto de sustâncias que não são permitidas na preparação
e prescrição de medicamentos manipulados. [7]
Durante o estágio, tive oportunidade de fazer alguns manipulados: álcool a 60º ou a 70º
saturado com ácido bórico, vaselina salicilada e suspensão oral de trimetoprim a 1%, cujas
fotografias de alguns se encontram em anexo (anexo II).
Relatório de Estágio Profissionalizante
7
4.5. Dipositivos médicos
Segundo o Infarmed, dispositivos médicos (DM) são destinados a serem utilizados para
prevenir, diagnosticar ou tratar uma doença humana, e podem ser qualquer instrumento, aparelho,
equipamento, software ou material, com o objetivo de: diagnóstico, prevenção, controlo ou
tratamento de uma doença; diagnóstico, controlo, atenuação ou tratamento de uma lesão ou
deficiência; estudo da anatomia ou de um processo fisiológico; controlo da conceção. No entanto,
não exercem qualquer ação farmacológica, metabólica ou imunológica, distinguindo-se assim dos
medicamentos.
Existem seis tipos de DM, que passo a citar: ativos (dependem de uma fonte de energia),
implantáveis (totalmente introduzidos no corpo humano), implantáveis ativos (total ou parcialmente
introduzidos do corpo humano), feitos por medida (fabricados especificamente de acordo com a
prescrição médica), de uso único (usados uma única vez) ou para investigação clínica. Podem ser
divididos em quatro classes de risco: classe I – baixo risco, classe IIa e IIb – risco médio e classe
III- alto risco. O risco depende da duração do contacto com o corpo humano, se é invasivo ou não
invasivo, da anatomia afetada pela sua utilização e dos potenciais riscos decorrentes do fabrico e
conceção técnica. [8]
Durante o estágio, os DM com que tive mais contacto foram aparelhos para medição da
tensão e glicémia, testes de gravidez, materiais de penso, meias de descanso e compressão e
dispositivos para apoio a doentes ostomizados.
4.6. Outros produtos farmacêuticos
Além dos referidos anteriormente, existem ainda muitos outros produtos disponíveis nas
farmácias como suplementos alimentares, produtos dermocosméticos e de higiene corporal e oral,
de puericultura, entre outros.
Os suplementos alimentares destinam-se a complementar um regime alimentar normal,
constituídos por fontes concentradas de nutrientes ou outras substâncias com efeito nutricional ou
fisiológico. Apresentam um efeito benéfico, mas não são medicamentos e não devem ser substitutos
de uma dieta variada. Existem três grandes categorias de suplementos: vitaminas e minerais
(vitamina A, D, cálcio), plantas e extratos botânicos (Ginko Biloba, Panax Ginseng) e outras
substâncias como fibras, ácidos gordos, aminoácidos e enzimas. Há ainda outra categoria, os
produtos fronteira, compostos que podem estar simultaneamente definidos como medicamentos e
suplementos, como por exemplo: glucosamina, melatonina, valeriana, entre outros. [9]
Os produtos com que tive mais contacto durante o estágio foram produtos para melhoria de
perturbações do sono, do desempenho cerebral, perda de peso, para redução do cansaço e para
problemas musculares ou articulares.
Relativamente aos produtos cosméticos e de higiene corporal e oral, existe uma vasta gama
para todos os clientes que se preocupam com a sua imagem e o seu corpo. Na FO podem ter acesso
a produtos de variadas marcas, com aconselhamento personalizado e específico para cada produto,
uma vez que todos os profissionais na FO participam recorrentemente em formações. As marcas
mais vendidas são Caudalie, Bioderma, Elgydium, entre outras.
Relatório de Estágio Profissionalizante
8
Esta foi uma das áreas em que me senti menos à vontade, tendo em conta a grande variedade
de marcas e produtos existentes, mas com o tempo e com as formações a que tive oportunidade de
assistir, tornou-se mais fácil a sua distinção e o aconselhamento dos mesmos.
5. Dispensa de medicamentos
5.1. Prescrição eletrónica e validação
A prescrição de medicamentos tem de ser efetuada por meios eletrónicos, de forma a
aumentar a segurança no processo de prescrição e dispensa, facilitando o contacto entre os
diversos profissionais de saúde.
Existem três formas de prescrição: a prescrição eletrónica desmaterializada (sem papel), a
prescrição eletrónica materializada e a prescrição manual. A prescrição de um medicamento inclui
obrigatoriamente a respetiva denominação comum internacional da substância ativa (DCI), a forma
farmacêutica, a dosagem, a apresentação e a posologia.
A farmácia deve ter disponíveis para venda, no mínimo, três medicamentos com a mesma
substância ativa, forma farmacêutica e dosagem, de entre os que correspondam aos cinco preços
mais baixos de cada grupo homogéneo e o farmacêutico deverá dispensar o medicamento de menor
preço, a menos que não seja essa a opção do utente. Para a dispensa de medicamentos prescritos
por nome comercial, o farmacêutico deverá assegurar-se de que não existe medicamento genérico
comparticipado ou que só existe original de marca, sendo que o mesmo sucede para medicamentos
não comparticipados. Pode ainda existir uma justificação técnica pelo prescritor, que passo a citar:
exceção a) - prescrição de medicamento com margem ou índice terapêutico estreito; exceção b) -
intolerância ou reação adversa prévia; exceção c) – continuidade do tratamento com duração
superior a 28 dias. Nesta última, o utente pode optar por medicamentos genéricos, desde que seja
de preço inferior. [10,12]
A prescrição eletrónica desmaterializada é acessível e decifrável por equipamentos
eletrónicos. No momento da prescrição, a receita é validada pelos softwares e registada no sistema
central de medicamentos. O utente recebe a guia de tratamento e os dados da receita são enviados
para o seu telemóvel ou e-mail. O número da receita e o código de acesso e dispensa são essenciais
para o farmacêutico aceder à receita. Caso o utente opte por um medicamento mais caro, é
necessário o código de direito de opção que é enviado juntamente com os outros códigos. Neste
tipo de prescrição podem estar inclusos medicamentos comparticipados e não comparticipados,
estupefacientes e psicotrópicos uma vez que cada linha de prescrição é independente. Assim, cada
linha de prescrição pode conter duas embalagens do mesmo medicamento em tratamentos de curta
ou média duração, com validade de 30 dias, a contar a partir da data de emissão da receita; pode
conter seis embalagens do mesmo medicamento no caso de tratamentos continuados, com validade
de seis meses. [11]
A prescrição manual é permitida apenas nas situações descritas na legislação em vigor,
cuja exceção deverá estar assinalada na própria receita: a) falência informática, b) inadaptação do
prescritor, c) prescrição no domicílio e d) até 40 receitas por mês. Estas receitas têm apenas
validade de 30 dias. Aquando da dispensa, o farmacêutico deverá assegurar-se de que a receita
Relatório de Estágio Profissionalizante
9
está conforme (tal como referi no ponto 3.5), de modo a que seja objeto de comparticipação. Por
vezes, a caligrafia dos médicos pode ser menos percetível e deverá ser sempre confirmada para
que não haja erros na prescrição e para que o utente não seja prejudicado. Este problema é
colmatado pelas receitas materializadas. A prescrição eletrónica materializada é feita via
informática e cada linha de prescrição corresponde a um código de barras que é referente ao Código
Nacional do Produto (CNP), de modo a que a dispensa do medicamento prescrito seja a correta.
Estas receitas têm validade de 30 dias em medicação considerada pontual ou aguda e de 6 meses
para medicação crónica ou de tratamento de longa duração, sendo que, neste último caso, cada
receita poderá conter até três vias. Na mesma receita, podem estar os dois tipos de medicação e,
portanto, validades diferentes para medicamentos diferentes. Em cada receita, só podem ser
prescritos 4 medicamentos distintos, num total de 4 embalagens por receita ou 2 embalagens por
medicamento (o mesmo é válido para as receitas manuais). Caso se trate de medicamentos
psicotrópicos, estupefacientes e produtos destinados ao autocontrolo da Diabetes, devem ser
prescritos isoladamente sendo que, para o primeiro caso, deverá estar identificado como sendo do
tipo “RE – prescrição de psicotrópicos e estupefacientes sujeitos a controlo” e, no segundo, “LMDB
– linha de prescrição de produtos para autocontrolo da diabetes mellitus.” [11]
Na dispensa de receitas manuais e materializadas, o verso da receita deverá conter impressa
a seguinte informação: identificação da farmácia, o número de registo dos medicamentos, a
quantidade fornecida, o preço total de cada medicamento, o valor total da receita, o encargo do
utente em valor por medicamento e respetivo total, o valor da comparticipação do Estado por
medicamento e respetivo total e a data de dispensa. O verso é assinado pelo utente, de forma
legível, para confirmar que lhe foram dispensados os medicamentos. O farmacêutico responsável
pela dispensa, assina e carimba, posteriormente. [12]
Quando fui para o balcão, as maiores dificuldades que encontrei foi nas receitas manuais,
sendo que muitas vezes a caligrafia dos médicos é difícil de decifrar pelo que procurei confirmar
sempre com os outros farmacêuticos.
5.1.1. Dispensa de medicamentos estupefacientes e psicotrópicos
O farmacêutico tem de registar no sistema informático, obrigatoriamente e
independentemente do tipo de prescrição, as seguintes informações: nome, data de nascimento,
número e data do bilhete de identidade, carta de condução ou cartão de cidadão; número da
prescrição; nome da farmácia e o número de conferência de faturas; número de registo do
medicamento e quantidade dispensada; nome do médico prescritor e data da dispensa. O utente
deverá assinar no verso da receita, no caso de prescrições manuais ou materializadas, e no
documento de dispensa de psicotrópicos e estupefacientes, no caso de prescrições
desmaterializadas. O arquivo dos documentos relativamente a este tipo de medicamentos deverá
ser mantido na farmácia num período de 3 anos. Aquando da dispensa, os dados registados pela
farmácia são comunicados à Base de Dados Nacional de Prescrições, sendo que o controlo é feito
informaticamente. [11]
Relatório de Estágio Profissionalizante
10
5.1.2. Comparticipação de medicamentos
Uma das prioridades na área da saúde é tomar medidas para ter “um sistema nacional de
saúde sustentável e bem gerido”. O sistema de comparticipação de medicamentos deve evoluir no
sentido de obter uma maior igualdade para todos os cidadãos.
O Decreto-Lei nº106-A/2010 de 1 de outubro tem como objetivos adotar medidas mais justas
no acesso aos medicamentos, combate à fraude e ao abuso na comparticipação de medicamentos
e na racionalização da política do medicamento no âmbito do SNS. Assim, a atual legislação prevê
a possibilidade de comparticipação de medicamentos em regime geral ou especial. No regime geral,
a comparticipação do Estado no PVP dos medicamentos é fixada de acordo com os seguintes
escalões: A – 90%, B – 69%, C – 37% e D – 15%. [13] Estes escalões variam de acordo com as
indicações terapêuticas do medicamento, a sua utilização, as entidades que o prescrevem e ainda
com o consumo acrescido para doentes que sofram de determinadas patologias. O regime especial
de comparticipação prevê dois tipos de comparticipação: em função dos beneficiários e em função
das patologias ou de grupos especiais de utentes. No primeiro, a comparticipação no escalão A é
acrescida de 5% e nos restantes escalões é acrescida de 15%, para os pensionistas cujo
“rendimento total anual não exceda 14 vezes a retribuição mínima mensal garantida em vigor no
ano civil transato ou 14 vezes o valor do indexante dos apoios sociais em vigor, quando este
ultrapassar aquele montante”. [14] No segundo caso, a comparticipação é definida por despacho do
Governo e diferentemente graduada em função das entidades que o prescreveram ou dispensam.
[12]
Existem outros protocolos específicos, como no caso de produtos destinados ao autocontrolo
da diabetes mellitus, cuja comparticipação é de 85% do PVP das tiras-testes e 100% das agulhas,
seringas e lancetas. No caso de produtos dietéticos com carácter terapêutico, são dispensados com
comparticipação de 100% se forem prescritos no Instituto de Genética Médica Dr. Jacinto
Magalhães ou nos centros de tratamento dos hospitais protocolados com o referido instituto. [12]
6. Prestação de cuidados de saúde e outros serviços na farmácia
6.1. Realização de testes bioquímicos, avaliação do perfil lipídico e controlo da pressão
arterial
Segundo Decreto-Lei nº307/2007 de 31 de agosto, as farmácias “podem prestar serviços
farmacêuticos de promoção da saúde e do bem-estar dos utentes”. [17] Assim, são monitorizados
diariamente testes bioquímicos como: colesterol total, triglicerídeos, ácido úrico, hemoglobina,
colesterol HDL e glicémia. É também prática recorrente a medição e controlo da pressão arterial.
Todos os testes bioquímicos são monitorizados num equipamento específico (anexo IIIA),
associados a um protocolo, e no fim de cada medição, é fornecido um cartão (anexo IIIB) aos utentes
com todos os valores para auto-monitorização ou para mostrar ao médico.
Durante o meu estágio, tive a oportunidade de realizar todos os testes referidos
anteriormente, sendo que os mais frequentes e realizados todos os dias foram o do colesterol total,
glicémia e a medição da pressão arterial. Ainda assim, a FO conta com utentes que realizam
mensalmente todos os testes.
Relatório de Estágio Profissionalizante
11
6.2. Valormed
A Valormed é uma entidade responsável pela recolha e gestão de resíduos de embalagens e
medicamentos sem uso ou fora de prazo. As pessoas entregam esses resíduos na farmácia e são
colocados nos respetivos contentores. Uma vez cheios, o fecho do contentor é feito no SI,
identificado por um código que está impresso no contentor e dirigido a um dos armazenistas.
Posteriormente, é recolhido pelo armazenista. São depois transportados para um Centro de Triagem
por um operador de gestão de resíduos. [15]
A recolha destes resíduos, medicamentosos ou não, é de extrema importância e tem uma
grande adesão, fruto das campanhas da sensibilização da Valormed e das farmácias que alertam
frequentemente para a necessidade de preservação e conservação do ambiente.
7. Marketing na farmácia
Ao longo dos seis meses de estágio, tive a oportunidade de ver e ajudar na preparação de
várias iniciativas que a FO realizou. Todos os meses, em parceria com diversas marcas de
cosméticos, são realizados mini faciais, com avaliação do tipo de pele e teste de vários produtos.
Realizámos também um rastreio de glicemia durante uma semana, a semana da saúde, e um
rastreio de osteoporose durante um dia inteiro.
Tive a oportunidade de participar e contribuir para o banco farmacêutico que tem como missão
ajudar os mais carenciados (com o apoio de associações) através do fornecimento de
medicamentos e produtos de saúde. É uma iniciativa da Associação para a Assistência
Farmacêutica, associação essa que intervém socialmente na área da saúde e do medicamento e à
qual nos juntámos. [16] Neste dia, reunimos esforços para apelar à generosidade dos clientes,
propondo a sua contribuição com algum MNSRM ou outro produto farmacêutico. A associação que
ajudámos foi a Fundação CESDA (centro social do distrito de Aveiro), que nos enviou previamente
uma lista de todos os produtos e medicamentos que mais carecem, de modo a respondermos às
suas necessidades.
Foram também alguns os dias em que a FO fez promoções em dermocosméticos e outros
produtos, bem como a oferta de alguns presentes aos clientes, dias esses que passo a citar: semana
que antecedeu o Natal, com um cabaz de natal; carnaval, dia dos namorados e “Black Friday”. São
iniciativas que conquistam a simpatia e fidelidade de clientes, levando a uma maior proximidade
entre o cliente com os farmacêuticos.
8. Formações
Várias foram as formações que tive a oportunidade de frequentar durante o meu percurso
neste estágio (anexo IV). Assisti a formações rápidas da Ecophane, Novalac e Nuk, Vichy e La
Roche-Posay, Medela e Curaprox. Fiz também formação geral Uriáge e Caudalie e ainda “Ser
cabeleireiro por um dia”, da René Furterer. Todas estas formações foram fundamentais para a
melhoria dos meus conhecimentos na área de dermocosmética, bem como no atendimento e
aconselhamento correto para cada situação específica.
Relatório de Estágio Profissionalizante
12
Parte 2 – Temas desenvolvidos
Projeto 1 – Osteoporose
1. Enquadramento do projeto
A FO decidiu realizar um rastreio de osteoporose para todos os utentes que estivessem
interessados. O rastreio mostrou-se pertinente, porque uma grande maioria dos utentes que
frequentam a farmácia são de meia-idade ou idosos, o que poderia garantir uma grande adesão.
Fui, então, convidada a participar ativamente nesta iniciativa, participando na preparação de um
cartaz e um panfleto informativos e apelativos, que constam em anexo (anexo V), nos contactos
com uma empresa que se disponibilizasse a acompanhar a iniciativa e na divulgação aos utentes
da farmácia.
Assim, surgiu-me a ideia de desenvolver o tema, descrever a doença e seus tratamentos
possíveis, assim como dar a conhecer os resultados obtidos no rastreio ao próprio utente,
juntamente com algumas recomendações personalizadas.
2. Epidemiologia e fisiopatologia
A osteoporose é um dos principais problemas de saúde pública devido à sua elevada prevalência
a nível mundial. É uma doença que condiciona em muito a qualidade de vida e está associada a um
aumento da taxa de mortalidade. [20]
A osteoporose é uma doença caracterizada por uma diminuição da densidade mineral óssea
(DMO), deterioração do tecido ósseo e disrupção da microarquitetura do osso, que podem originar
uma diminuição da resistência óssea e aumento do risco de fraturas. [18,19]
É uma doença de elevada prevalência nos países ocidentais, incluindo Portugal, sendo a doença
mais comum dos humanos, sobretudo caucasianos, mulheres e idosos. Afeta um elevado número
de pessoas, de ambos os sexos e de todas as raças. [18,19] Estima-se que, a nível mundial, ocorra
uma fratura a cada 3 segundos e que uma, em cada três mulheres, e um, em cada cinco homens
com idade superior a 50 anos, desenvolva fraturas osteoporóticas. [20] No nosso país, existe mais
de meio milhão de pessoas, sobretudo mulheres, com osteoporose e, segundo os dados mais
recentes do EpiReumaPt, 10,2% da população portuguesa é osteoporótica, sendo maioritariamente
população feminina. [21]
A remodelação óssea é um processo que ocorre em várias fases: ativação, reabsorção, reversão
e formação. Na fase de ativação, os osteoclastos são recrutados para a superfície do osso. Estas
células, responsáveis pela fase de reabsorção, vão gerar um microambiente ácido entre a célula e
a superfície do osso e vão reabsorver o conteúdo mineral do osso. De seguida, na fase de reversão,
os osteoclastos sofrem apoptose e surgem os osteoblastos na superfície do osso. Por fim, os
osteoblastos, na fase de formação, depositam o colagénio, que é mineralizado. Forma-se, então,
novo osso. [23]
A perda óssea ocorre quando a reabsorção é superior à formação. Ocorre a partir da puberdade
e é determinada por determinados fatores: estilo de vida, nutrição, género, atividade física, fatores
endócrinos e genéticos. Por exemplo, na menopausa, a carência de estrogénio prejudica o ciclo
Relatório de Estágio Profissionalizante
13
normal do osso ao aumentar a atividade de reabsorção pelos osteoclastos sem aumento da
atividade osteoblástica, levando a que a quantidade de osso reabsorvido seja maior. [18,23]
É uma doença silenciosa e o sintoma mais comum é a dor resultante de fraturas, deformações
do esqueleto e tensão muscular. As fraturas ao nível das vértebras e da anca são as principais
fraturas osteoporóticas que ocorrem. Podem desencadear deformidades como cifose, défice de
equilíbrio e desvio anterior do centro de gravidade, com consequente aumento do risco de queda e
de novas fraturas. [20,22]
A osteoporose também pode ser descrita como uma “doença pediátrica com consequências
geriátricas”. Uma má nutrição (baixa ingestão cálcio, por exemplo) na infância pode repercutir-se na
idade adulta, com o aumento significativo do risco de fraturas. Por outro lado, uma ingestão alimentar
adequada na infância, pode até maximizar o pico de massa óssea. Na idade adulta, uma boa
nutrição pode desacelerar a remodelação óssea, retardando a perda de osso. [20]
2.1. Fatores de risco
Há vários fatores de risco que podem levar ao desenvolvimento de osteoporose. Uns podem ser
modificáveis, os relacionados com o estilo de vida, podendo ser evitáveis (por exemplo, hábitos
tabágicos, sedentarismo, entre outros), enquanto que outros não poderão ser nem modificados nem
evitados. Segundo a Direção-Geral de Saúde (DGS), pode-se dividir os fatores de risco em major e
minor. Os fatores de risco major incluem: idade superior a 65 anos, fratura vertebral prévia e fratura
de fragilidade após os 40 anos, história de fratura da anca num dos progenitores, menopausa
precoce (idade inferior a 40 anos), terapia prolongada com corticóides (provocam diminuição da
absorção de cálcio e alteração no metabolismo da vitamina D), hipogonadismo e
hiperparatiroidismo. Dos fatores de risco minor, dou principal destaque aos seguintes: artrite
reumatóide, baixo aporte de cálcio na dieta, tabagismo e alcoolismo, consumo excessivo de cafeína,
terapêutica crónica com anti-epiléticos e anti-depressivos e falta de exercício. Dentro dos fatores
de risco inclui-se também o sexo: as mulheres têm mais propensão a ter a doença do que os
homens, especificamente após o aparecimento da menopausa, já referido anteriormente. [19, 23]
2.2. Diagnóstico
A osteoporose é diagnosticada pela medida da DMO por densitometria óssea ou pela ocorrência
de uma fratura. A absorciometria radiológica de dupla energia ou DEXA (Dual-Energy X-ray
Absorptiometry) é, de entre todas as técnicas para avaliar a DMO, considerada o método padrão
para o diagnóstico e acompanhamento da evolução dos doentes com osteoporose. Deve ser
realizada no fémur proximal e na coluna lombar. Segundo a definição de osteoporose da
Organização Mundial de Saúde (OMS), a classificação é conforme o índice T (T-score), sendo que
é o número de desvios padrão acima ou abaixo da média da DMO do adulto jovem [18, 19]:
• Normal: T ≥ -1,0
• Osteopenia (baixa massa óssea): -1,0 < T > -2,5
• Osteoporose: T ≤ -2,5
• Osteoporose severa: T ≤ -2,5, com uma ou mais fraturas
Relatório de Estágio Profissionalizante
14
É recomendada a realização de DEXA, pela DGS, às mulheres com idade superior a 60 anos e
homens com idade superior a 70; mulheres pós-menopáusicas, com idade inferior a 65 anos, e
homens, com idade superior a 50 e que apresentem um fator de risco major ou 2 minor; mulheres
pós-menopáusicas e homens, com idade inferior a 50 anos, apenas se existirem causas de
osteoporose secundária ou fatores de risco major. [19]
Ainda assim, podem estar presentes algumas limitações técnicas na avaliação por DEXA. A
presença de osteomalácia, uma complicação da má nutrição em idosos (sobretudo, falta de vitamina
D), pode menosprezar a densidade óssea devido a uma deficiência da mineralização óssea. Outra
doença como osteoartrose é também comum e contribui para a medição da densidade, mas não
necessariamente para a força do esqueleto. A alteração da densidade devido a estas doenças pode
levar a falsos positivos, mas também pode ser detetada e excluída da análise aquando da presença
de profissionais técnicos adequados e rigorosamente preparados para todas estas situações. [24]
Sem descurar a importância da densitometria óssea, a avaliação do risco de fratura é também
de extrema importância, visto que a existência de fratura prévia é um dos fatores de risco major.
Foram, então, desenvolvidas ferramentas para avaliar o risco de fratura, nomeadamente o FRAX. É
uma ferramenta disponível on-line (https://www.sheffield.ac.uk/FRAX/tool.aspx?country=53) e que
permite saber qual a probabilidade de ocorrência de uma fratura nos próximos 10 anos (risco de
fratura da anca ou fratura osteoporótica major). É um questionário simples que tem em conta os
principais fatores de risco e a que qualquer pessoa pode aceder. [25]
A DMO pode ser facilmente medida para detetar a densidade óssea, mas a deterioração do
tecido ósseo não pode ser detetada desta forma, mas sim através dos biomarcadores ósseos. [18]
3. Tratamento
O tratamento e prevenção da osteoporose passa, primordialmente, por alteração do estilo de
vida. Uma alimentação correta, com aporte nutricional adequado, juntamente com a realização de
exercício físico devem ser os primeiros pontos a ser implementados. Caso não resulte, recorre-se
então ao tratamento farmacológico.
3.1. Tratamento não farmacológico
Uma ingestão adequada de cálcio e vitamina D, associados à prática de exercícios regulares
de sustentação de peso e musculação, a cessação do tabaco e do consumo do álcool são as
principais intervenções para uma melhoria da qualidade de vida, prevenção e tratamento da
osteoporose.
Cálcio
É fundamental manter o nível sérico de cálcio constante, com uma ingestão adequada, uma
vez que baixos níveis séricos de cálcio no organismo promovem a reabsorção óssea, numa tentativa
de repor os níveis normais. A necessidade de cálcio aumenta com a idade, havendo, por isso, uma
maior deficiência de cálcio em pessoas idosas. O Instituto de Medicina (IOM) recomenda uma
ingestão diária de cálcio de 1000mg/dia para homens entre os 50 e 70 anos de idade e 1200 mg/dia
Relatório de Estágio Profissionalizante
15
para mulheres com idade superior a 50 anos e homens com mais de 70 anos. Na adolescência, é
recomendada a ingestão diária de 1300 mg/dia. [19, 26]
As principais fontes de cálcio são os lacticínios (como leite, queijo, iogurte) que apresentam
maior biodisponibilidade deste nutriente, e alguns legumes de folha verde escura como brócolos,
espinafres e couve portuguesa. Hoje em dia, a variedade de produtos existentes no mercado é
enorme e podemos encontrar produtos ditos “magros”, com baixo aporte calórico, ou sem lactose
para indivíduos que apresentem intolerância à mesma. [20] É sempre preferível a ingestão de cálcio
pela alimentação em vez da suplementação, uma vez que o excesso de suplementação poderá
causar formação de pedras no rim e enfarte do miocárdio. Ainda assim, o uso de suplementos de
cálcio pode ser necessário, sob a forma de citrato ou carbonato. Como podem causar obstipação
ou desconforto gastrointestinal, todos esses efeitos colaterais devem ser sempre discutidos com os
pacientes, antes do início do tratamento. É importante referir também que os suplementos de cálcio
são melhor absorvidos quando ingeridos juntamente com alimentos. [23]
Vitamina D
A vitamina D, para além de ser necessária para a absorção do cálcio, é também fundamental
para a saúde do osso, equilíbrio e funcionamento normal dos músculos. O IOM recomenda uma
ingestão diária de 600IU (unidades internacionais) até aos 70 anos de idade e 800IU acima dos 70.
[27]
A melhor forma do nosso organismo sintetizar a vitamina D é através da exposição solar, e é
recomendado uma exposição de 5 - 15 minutos, duas a três vezes por semana. Está também
presente em alimentos fortificados, cereais, sumos, peixes gordos (atum, sardinha e salmão) e no
óleo de fígado de bacalhau, não fortificado. É, então, muitas vezes necessário recorrer à sua
suplementação, contudo o seu consumo exagerado poderá provocar toxicidade: diminuição da
função renal, elevação dos níveis de cálcio no sangue, problemas cardíacos e calcificação dos
tecidos moles. [18, 20]
Exercício físico
Alguns minutos de exercício físico, todos os dias, devem ser aplicados durante toda a vida,
por exemplo, uma caminhada de 30 a 40 minutos por dia, bem como exercícios de costas e postura.
As crianças e os adultos jovens que são ativos conseguem atingir um pico de massa óssea maior
do que os que não o são. Melhoria da força muscular, da coordenação, do equilíbrio e redução da
dor crónica são algumas das vantagens da prática de exercício físico em doentes osteoporóticos.
Já foi demonstrado que a prática do Yoga tem um efeito positivo na dor, tal como exercícios de
Pilates que podem ajudar a melhorar a DMO. O exercício físico conduz também a melhorias na
circulação, bem-estar geral e vida social, contribuindo em muito para uma melhoria da qualidade de
vida e indiretamente para uma redução do risco de quedas e fraturas. [18, 22]
Relatório de Estágio Profissionalizante
16
Outras recomendações
É muito importante a cessação dos hábitos tabágicos e do álcool. O excesso da ingestão de
álcool poderá aumentar a predisposição para quedas, deficiência de cálcio e poderá originar doença
crónica do fígado, que resulta numa deficiência de vitamina D. Os pacientes deverão também reduzir
a quantidade de cafeína ingerida ao longo do dia, porque a sua ingestão excessiva poderá levar a
uma diminuição da DMO. [20]
Devem ser tomadas algumas medidas em casa e no dia-a-dia, como por exemplo: retirar ou
aderir os tapetes ao chão, ter sempre a casa bem iluminada, usar os corrimões, usar calçado
adequado, evitar pavimentos molhados ou derrapantes, melhorar a audição e visão e evitar a toma
de antipsicóticos e benzodiazepinas porque causam sonolência.
3.2. Tratamento farmacológico
Aplicadas as medidas não farmacológicas, é então colocada a questão: “Quem deve realizar
tratamento farmacológico?” As mulheres pós-menopáusicas e os homens com idade superior a 50
anos, que já tenham tido fratura da anca ou da coluna, baixa densidade óssea e com probabilidade
de ocorrência de fratura da anca, nos próximos 10 anos, superior ou igual a 20%. O objetivo é
prevenir fraturas, aumentar a força do osso, aliviar os sintomas das fraturas e deformidades do
esqueleto, preservando o funcionamento físico normal. [18]
A terapia farmacológica pode ser dividida em dois grupos: fármacos antireabsortivos e
fármacos anabolizantes. No primeiro grupo, incluem-se os que previnem a reabsorção óssea:
bifosfonatos, terapia hormonal de substituição, modificadores seletivos do recetor dos estrogénios
e denosumab. No segundo grupo, estão aqueles que são capazes de ajudar na formação de novo
osso, neste caso, a teriparatida.
Fármacos antireabsortivos
Os bifosfonatos são os mais usados no tratamento da osteoporose. São responsáveis pela
supressão da renovação óssea, prevenção da perda óssea e preservação da arquitetura óssea. O
seu mecanismo de ação consiste em aderirem às superfícies ósseas, inibindo a enzina farnesil-
pirofosfato sintase, fundamental para a formação do citoesqueleto nos osteoclastos, inibindo
consequentemente a reabsorção óssea. Dentro deste grupo de fármacos, inclui-se: alendronato,
risedronato, ibandronato e ácido zolendrónico.
O alendronato é usado para prevenção e tratamento em mulheres pós-menopáusicas, em
osteoporose induzida por glucocorticoides e em homens osteoporóticos. Tem eficácia na diminuição
do risco de fratura da anca, fraturas vertebrais e não-vertebrais. É administrado por via oral,
diariamente ou semanalmente.
O risedronato é usado em homens e mulheres para a prevenção e tratamento da doença e
quando é induzida por glucocorticoides. Também foi demonstrada eficácia na prevenção de fraturas
da anca, fraturas vertebrais e não-vertebrais. A administração é semelhante ao anterior.
O ibandronato é usado em mulheres pós-menopáusicas e está provada a sua eficácia na
prevenção de fraturas vertebrais, no entanto, não está demonstrada a eficácia em fraturas da anca
Relatório de Estágio Profissionalizante
17
e em fraturas não-vertebrais. A administração pode ser oral ou intravenosa (IV), mensalmente ou
trimestralmente.
Por último, o ácido zoledrónico é usado também na prevenção e tratamento em mulheres
pós-menopáusicas, em osteoporose induzida por glucocorticoides e em homens. Foi demonstrada
a sua eficácia tanto em fraturas vertebrais como não-vertebrais e em fraturas da anca. É
administrado intravenosamente, uma vez por ano.
Existem algumas limitações e contraindicações associadas à terapia com bifosfonatos. Têm
uma baixa absorção oral (inferior a 1%), por isso a sua toma deverá ser feita em jejum e a
administração de outros medicamentos só poderá ser feita após 2 horas. Não devem ser usados
em pacientes com doenças gastrointestinais, anormalidades esofágicas anatómicas ou funcionais
que possam perturbar a passagem do comprimido, deficiência de vitamina D, hipocalcemia e/ou
creatinina sérica inferior a 30ml/min. Devido à agressão da mucosa esofágica provocada pelo
medicamento, deverá ser mantida uma posição ortostática após a administração durante 30-60 min.
A administração IV, quer do ibandronato, quer do ácido zoledrónico, poderá provocar reações
de fase aguda aquando da primeira toma que poderá prolongar-se por alguns dias em alguns casos,
não obstante pode ser prevenido com a administração de paracetamol. [18, 23]
O raloxifeno, modulador seletivo do recetor dos estrogénios, é capaz de manter a DMO e
baixos níveis de colesterol-LDL. É usado apenas em mulheres pós-menopáusicas, com eficácia
apenas na redução de fraturas vertebrais e a sua administração é diária, via oral. Está
contraindicado em mulheres férteis, em pacientes com história de tromboembolismo e síndroma
vasomotora (“calores faciais”, “fogachos”). [18, 23]
A terapia de substituição hormonal, é usada na prevenção de osteoporose pós-
menopáusica quando o risco é elevado e quando a medicação não-estrogénica não é considerada
apropriada. Foi demonstrada eficácia na redução de todo o tipo de fraturas já referidas
anteriormente. [18, 23]
O denosumab é um anticorpo monoclonal anti-RANKL. Liga-se ao RANKL, bloqueia a
ligação deste ao RANK, reduzindo a reabsorção óssea e aumentado a densidade do osso. É usado
no tratamento de osteoporose em mulheres pós-menopáusicas, com risco elevado de ocorrência de
fraturas; em pacientes com história de fraturas osteoporóticas ou em pacientes cuja terapia com
outros fármacos não teve sucesso ou quando é identificada intolerância. É também eficaz na
redução de fraturas da anca, vertebrais e não-vertebrais. É administrado por injeção cutânea de seis
em seis meses. Em caso de hipocalcemia, esta deverá ser corrigida antes do início da terapêutica
com uma administração adequada de cálcio e vitamina D. Podem ainda ocorrer infeções cutâneas
como dermatites, erupções cutâneas e eczemas. [18, 23]
Relatório de Estágio Profissionalizante
18
Fármacos anabolizantes
A teriparatida, rhPTH (1-34) é hormona paratiroide recombinante humana, idêntica à
sequência do terminal 34 N-aminoácido da hormona paratiroide endógena humana. Estimula a
formação e remodelação óssea, aumentado a DMO e melhorando a microarquitetura óssea.
É usada no tratamento de osteoporose pós-menopáusica com risco elevado de ocorrência de
fraturas, em que o tratamento com outras terapias não foi eficaz. É usada também para aumentar a
massa óssea em homens com osteoporose idiopática (em crianças e jovens) ou provocada por
hipogonadismo. Também foi aprovada para homens e mulheres em casos de osteoporose induzida
por glucocorticoides. É capaz de diminuir o risco de fraturas vertebrais e não-vertebrais.
O tratamento com teriparatida está associado ao risco de osteossarcoma, pelo que não
deverá ser usada por um período superior a 18 meses nem em pacientes com risco elevado de
desenvolver osteossarcoma. Alguns efeitos secundários mais frequentes são hipercalcemia,
hipercalciúria, náuseas e dores de cabeça. [18, 23]
Uma das principais barreiras que se pretende ultrapassar no tratamento da osteoporose é a
baixa adesão à terapêutica. Efeitos adversos indesejados, a complexidade de algumas posologias,
os custos elevados da medicação, a falta de perceção da necessidade do tratamento, uma má
relação do profissional de saúde com o doente, o não envolvimento do doente nas decisões
terapêuticas e a falta de um acompanhamento rigoroso podem ser alguns dos fatores que levam à
não adesão ao tratamento e, consequentemente, a todas as complicações associadas à doença.
Contudo, estas barreiras podem ser quebradas se existir uma boa comunicação do
médico/farmacêutico com o doente, um seguimento correto e atencioso da terapêutica, com a
avaliação conjunta dos efeitos indesejáveis e dificuldades nos regimes posológicos, de forma a
melhorar a adesão à terapêutica.
4. Descrição e métodos
A avaliação da DMO no rastreio da FO foi realizada por um profissional da Iniciative Plus, uma
empresa que tem, como um dos principais serviços, a realização de workshops de saúde, rastreios
e ações de educação para a saúde, prestados por profissionais tecnicamente habilitados, sendo
responsáveis também por uma maior proximidade entre os utentes e o espaço de saúde. O rastreio
não teve quaisquer custos para a farmácia, sendo que foi apoiado por um laboratório.
Depois de assegurados todos os pormenores e de garantida a presença do profissional de saúde,
realizei então o cartaz. Este foi exposto na porta da farmácia e em todos os balcões. Foi da minha
competência e dos colegas, a divulgação do rastreio em cada atendimento realizado bem como
inscrição dos utentes interessados.
O rastreio foi realizado por densitometria, no calcâneo, através de um densitómetro “Sahara
Clinic Bone Sonometer”. O calcâneo é uma das zonas periféricas preferidas para avaliação da DMO
uma vez que é constituído em grande parte por osso trabecular, é facilmente acessível e tem pouco
tecido mole. Consiste em 75% a 90% do osso trabecular do nosso corpo, sendo um osso esponjoso
e mais sensível à idade. [28] O utente coloca um dos pés, descalço, no local específico do
densitómetro, e é, então, revelado o valor da DMO, num compasso de espera de 10 segundos. A
Relatório de Estágio Profissionalizante
19
anamnese e o aconselhamento foram realizados pela técnica responsável pelo rastreio, assim como
a entrega dos panfletos por mim realizados. Cada rastreio demorou cerca de 15 minutos.
5. Resultados e conclusões
Numa amostra de 30 pessoas, 29 do sexo feminino e 1 do sexo masculino, com idades
compreendidas entre os 23 e os 84, os resultados com a avaliação do T-score (tabela 1) foram os
seguintes: 3 utentes apresentavam osteoporose (verde); 19, osteopenia (azul) e 8, T-score dentro
dos valores normais (castanho).
Tabela 1 - Resultados obtidos no rastreio
Como a amostra é pequena, não é passível de tirar conclusões reveladoras, mas 10%
(percentagem correspondente aos utentes com osteoporose) é uma percentagem bastante
significativa, semelhante à obtida no estudo realizado pela EpiReumaPt, referido anteriormente.
Ainda assim, a grande percentagem de 63%, correspondente a pacientes com osteopenia, é
alarmante, uma vez que poderão desenvolver a doença a curto/médio prazo se não forem tomadas
as devidas precauções. A percentagem de pacientes com valores dentro dos normais é de 27%.
Normal Osteopenia Osteoporose
Sexo Idade T-score Sexo Idade T-score Sexo Idade T-score
F 74 -1,9 F 69 -0,9 F 93 -2,5
F 60 -1,3 F 52 0,7 F 57 -2,5
F 58 -1,1 F 72 -0,9 F 83 -2,6
F 30 -1,4 M 79 1,0
F 53 -1,3 F 31 3,4
F 60 -2,0 F 37 0,5
F 56 -1,5 F 23 -0,4
F 57 -2,1 F 28 1,2
F 55 -1,7
F 58 -1,6
F 81 -1,5
F 74 -1,6
F 82 -2,3
F 84 -1,1
F 59 -1,4
F 50 -1,2
F 59 -1,8
F 23 -1,4
F 67 -1,9
Relatório de Estágio Profissionalizante
20
Na figura 1 observa-se o T-score obtido na DEXA em função da idade, que me permitiu
concluir que, a partir dos 50 anos de idade, se observa uma redução da densidade óssea (a amarelo)
na maioria dos utentes, como o expectável. Apenas três utentes obtiveram um resultado que indica
a presença da doença, todas mulheres e pós-menopáusicas (a vermelho). Ainda assim, quatro
utentes, de idade superior a 40 anos, não apresentam redução da densidade óssea (a verde), o que
provavelmente provém de um estilo de vida saudável e/ou um correto acompanhamento médico.
Relativamente à maior incidência em mulheres do que em homens, não pude retirar qualquer
conclusão dado que só um utente do sexo masculino realizou o rastreio.
A osteoporose é uma doença comum e silenciosa, agravada pela ocorrência de fraturas. É
estimado que 50% das mulheres e 20% dos homens acima dos 50 anos de idade tenham a doença
e já tenham sofrido alguma fratura. As fraturas são responsáveis por um comprometimento da
qualidade de vida, uma incapacidade duradoura e, consequentemente, aumento da mortalidade,
com grande impacto na medicina e economia. É importante realçar que a osteoporose pode ser
diagnosticada e prevenida antes do aparecimento de fraturas. [18] As limitações funcionais e a
diminuição da qualidade de vida são consequências que se associam à diminuição da autoestima,
devido à alteração da imagem corporal, a uma possível depressão e à dependência de fármacos
para diminuição da dor. É este um dos principais motivos pelo qual se impõe uma intervenção
atempada, prevenindo as potenciais complicações médicas que advêm da doença. A prevenção,
deteção e tratamento da doença deve ser a prioridade dos profissionais de saúde.
Foi do meu interesse mencionar no panfleto algumas medidas educativas e não
farmacológicas que pudessem ajudar a prevenir as quedas, incentivar à prática de exercício físico
e a um estilo de vida saudável, de forma a aumentar a qualidade de vida de todos os que padecem
da doença. Na minha opinião, o rastreio foi uma mais valia para a farmácia e os utentes reagiram
positivamente. Para além de gratuito, ajudou a conquistar a confiança dos utentes, demonstrando
preocupação por cada um individualmente. Penso que, num futuro próximo, poderá ser possível a
criação de mais iniciativas deste género, de forma a acompanhar a progressão da doença em cada
caso.
Figura 1 - T-score em função da idade
Relatório de Estágio Profissionalizante
21
Projeto 2 – Semana da Saúde
1. Enquadramento do projeto
No âmbito da “Semana da Saúde”, de 22 a 26 de janeiro de 2018, a FO decidiu realizar um
rastreio de glicémia gratuito, bem como a medição gratuita do colesterol total na realização dos
testes para caracterização do perfil lipídico (colesterol LDL e triglicerídeos). Os utentes interessados
inscreveram-se, sendo que os testes eram realizados de 15 em 15 minutos.
Nos dias de hoje, é com mais frequência que os pacientes recorrem à farmácia para a
realização destes testes. Têm a possibilidade de o fazer sem marcação e em qualquer dia ou hora,
evitando os tempos de espera nos centros de saúde e têm direito a uma maior atenção por parte
dos farmacêuticos. O facto de ser gratuito é também um fator chave para a adesão aos rastreios.
O meu papel neste projeto foi de extrema importância, uma vez que fui a responsável pela
realização dos testes, a par com outra colega estagiária. Decidi, então, desenvolver sucintamente
os temas de dislipidemias e diabetes, dar a conhecer como foram realizados os rastreios e uma
visão geral dos resultados.
1.1. Introdução
As doenças cardiovasculares (DCV), nomeadamente a doença coronária e o acidente
vascular cerebral, são as principais causas de morbilidade e mortalidade a nível mundial. A
incidência destas doenças tem vindo a aumentar como resultado da alteração do estilo de vida e do
aumento da prevalência de fatores de risco cardiovascular (CV). A dislipidemia, a hipertensão
arterial, a diabetes, o sedentarismo, excesso de peso, uma dieta inadequada e o tabagismo, são
alguns fatores de risco modificáveis que podem ser corrigidos a fim de evitar o aparecimento de
DCV. Em contrapartida, fatores de risco não modificáveis, como fatores genéticos, também podem
estar associados, não obstante podem ser detetados precocemente, minimizando assim o risco.
[39]
Em Portugal, as DVC são reconhecidas como a principal causa de morte e internamento
hospitalar no país. Foi, por esta razão, criado o Programa Nacional de Prevenção e Controlo das
Doenças Cardiovasculares, em 2003, pelo Ministério da Saúde, visando a redução dos fatores
determinantes das DCV e a adequação do seu tratamento, através da melhoria das práticas
profissionais nesta área, recomendando estratégias de intervenção e de melhoria dos sistemas de
informação. [40]
O risco CV é o resultado de vários fatores de risco associados, sendo esta a abordagem para
a prevenção. Segundo as European Guidelines on Cardiovascular Disease Prevention, o SCORE
corresponde ao risco absoluto de desenvolver DCV fatal em 10 anos. É constituído por duas tabelas,
uma para cada sexo, subdivididas em outras duas – para fumadores e não fumadores. É
recomendado para a avaliação do risco e pode auxiliar na tomada de decisões, ajudando a evitar
tratamento farmacológico, privilegiando as alterações no estilo de vida. [29]
Relatório de Estágio Profissionalizante
22
2. Perfil lipídico
O perfil lipídico é um conjunto de testes realizados para determinar o risco de DCV. Incluem
o colesterol total (CT), o colesterol HDL (c-HDL), o colesterol LDL (c-LDL) e triglicerídeos (TGs).
O colesterol é uma gordura fundamental, existente no nosso organismo e que tem duas
origens: uma parte é obtida pela alimentação (sobretudo, pela ingestão de produtos de origem
animal) e outra parte é produzida pelo próprio organismo. O c-HDL corresponde às lipoproteínas de
alta densidade com o importante papel de limpar as artérias, portanto, quanto maior a sua
quantidade, menos o risco de doença cardiovascular. O c-LDL, por sua vez, corresponde às
lipoproteínas de baixa densidade e, quando em excesso, depositam-se nas paredes das artérias,
provocando aterosclerose. Por fim, as VLDL (lipoproteínas de muito baixa densidade) são
semelhantes às LDL, mas contêm mais gordura e menos proteínas. Os TGs são outro tipo de
gordura e circulam no sangue ligados às VLDL. [30]
Dislipidemias
As dislipidemias são alterações metabólicas decorrentes de perturbações funcionais em
qualquer fase do metabolismo lipídico e que levam a alterações nos níveis séricos das lipoproteínas.
Abrangem um amplo espetro de anormalidades, incluindo níveis elevados de CT, de c-LDL e TGs
e baixos níveis de c-HDL, associados a um risco aumentado de desenvolvimento de DCV. [31]
Poderão ter origem em causas primárias (genéticas) e secundárias. As primárias incluem
mutações genéticas únicas ou múltiplas que resultam em sobreprodução ou eliminação deficiente
de TGs e c-LDL ou baixa produção e eliminação exagerada de c-HDL. Um exemplo de uma
dislipidemia primária pode ser a hipercolesterolemia familiar, em que o defeito genético está
relacionado com o recetor de c-LDL e com uma diminuição na sua eliminação. Relativamente às
causas secundárias, a mais importante está relacionada com o estilo de vida: sedentarismo e
ingestão excessiva de gorduras saturadas e ácidos gordos trans. A presença de diabetes,
alcoolismo, doença renal crónica, hipotiroidismo, cirrose e fármacos como tiazidas, retinoides,
glucocorticóides e estrogénios, poderão ser também causas associadas a dislipidemia. [32]
Segundo a Norma nº019/2011, da DGS, numa pessoa com risco cardiovascular baixo
(SCORE <1%) a moderado (SCORE ≥ 1% a < 5%), o valor de CT deverá ser inferior a 190mg/dl e
o c-LDL, inferior a 115 mg/dl; numa pessoa assintomática e com risco CV alto (SCORE ≥ 5% a <
10%), um valor de c-LDL inferior a 100 mg/dl. Por fim, numa pessoa com risco CV muito alto
(SCORE ≥ 10% ou presença doença CV, diabetes tipo 2 ou 1 com um ou mais fatores de risco e/ou
lesão de órgão-alvo ou doença renal crónica, deverá ser objetivo atingir um valor de c-LDL inferior
a 70 mg/dl. Neste último caso, se não for possível atingir o valor pretendido, é desejável que haja
uma redução igual ou superior a 50% do valor de c-LDL. Relativamente aos valores de c-HDL, os
valores no homem deverão ser superiores a 40mg/dl e a 45 mg/dl nas mulheres. Valores inferiores
aos indicados são considerados marcadores de risco CV. O valor de TGs deverá ser inferior a 150
mg/dl. [33]
Na abordagem terapêutica das dislipidemias, deve-se intervir primariamente no estilo de vida,
adequando caso a caso (alterações referenciadas no ponto 6). Quando estas intervenções não são
Relatório de Estágio Profissionalizante
23
suficientes para atingir o objetivo terapêutico, recorre-se a tratamento farmacológico (estatinas). A
dose utilizada é definida de acordo com o risco CV e conforme o sucesso ou insucesso da
terapêutica. [33]
No que diz respeito aos TGs, em casos de risco CV alto, os fármacos de primeira escolha são
as estatinas, quer para reduzir o risco CV, quer para a hipertrigliceridemia. Na ausência de risco CV
alto, a redução dos TGs poderá ser com fibratos e niacina, quando as intervenções no estilo de vida
não forem suficientes. [33]
3. Glicémia
Diabetes mellitus
A diabetes é definida como um estado de hiperglicemia crónica em estado de jejum ou pós-
-prandial e está associada a disfunções e insuficiência de órgãos e tecidos.
Vários processos imunopatológicos podem estar envolvidos no desenvolvimento da doença.
Pode resultar da destruição autoimune das células β dos ilhéus de Langerhans do pâncreas, com
consequente deficiência de insulina e anormalidades que resultam da resistência à ação da insulina,
sendo que esta resistência provoca anormalidades no metabolismo dos hidratos de carbono,
gorduras e proteínas. Pode ainda resultar de uma secreção inadequada de insulina e/ou respostas
teciduais diminuídas. [34]
Os sintomas relacionados com a doença incluem poliúria, polidipsia, perda de peso, polifagia
e visão turva, sendo que, anomalias no crescimento e maior suscetibilidade a outras infeções
também poderão estar presentes.
Pode ser classificada em quatro tipos, segundo a DGS [35]:
• I – Diabetes Tipo 1: destruição das células β, insulinopenia absoluta, sendo necessário
recorrer a insulinoterapia. Dentro deste grupo, poderá ser distinguida a Diabetes tipo 1
Auto-imune, quando a destruição das células se deve a um mecanismo auto-imune ou
a Diabetes tipo 1 Idiopática, quando não é possível documentar a existência de um
processo imune. Corresponde a 5-10% dos casos e é mais comum na infância e
adolescência.
• II – Diabetes Tipo 2: é a forma mais comum de Diabetes, resultando de uma
insulinopenia relativa, aquando da presença de insulinorresistência (com maior ou
menor grau). Corresponde a 90% dos casos e está associada a obesidade, dislipidemia
e hipertensão arterial.
• III – Diabetes Gestacional: quando há ocorrência de intolerância à glucose, pela
primeira vez, durante a gravidez.
• IV – Outros tipos específicos de Diabetes: quando a Diabetes é consequência de um
efeito etiopatogénico (por exemplo, doenças do pâncreas, endocrinopatias, defeitos
genéticos das células β pancreáticas, entre outros).
O diagnóstico é feito com base nos seguintes parâmetros, estabelecidos pela OMS, sendo
que os parâmetros considerados no rastreio efetuado são os dois primeiros [35,36]:
Relatório de Estágio Profissionalizante
24
a) Glicemia em jejum ≥ 126 mg/dl (ou ≥ 7,0 mmol/l; ou
b) Sintomas clássicos + glicemia ocasional ≥ 200 mg/dl (ou ≥ 11,1 mmol/l); ou
c) Glicemia ≥ 200 mg/dl (ou ≥ 11,1 mmol/l) às 2 horas, na prova de tolerância à glicose
com 75g de glicose; ou
d) Hemoglobina glicada A1c (HbA1c) ≥ 6,5%.
4. Descrição e métodos
Os testes para análise do CT, C-HDL e TGs foram realizados no equipamento Callegari
CR3000, que se fundamenta em métodos espetrofotométricos, realizando leituras de absorvência e
cujos protocolos são dispensados pelo mesmo. A absorvência é convertida automaticamente em
concentrações, baseadas em curvas padrão de calibração armazenadas no microprocessador do
instrumento. [41]
4.1. Princípios dos métodos
Todos os testes são baseados em métodos enzimáticos. Para a determinação do colesterol,
o reagente contém 4-aminoantipirina (4-AP), fenol (FeOH) e três enzimas, a colesterol esterase, a
colesterol oxidase e a peroxidase. Os ésteres de colesterol são enzimaticamente clivados, pela
colesterol esterase, em colesterol livre e ácidos gordos. Depois, dá-se uma oxidação pela colesterol
oxidase, originando colestenona e peróxido de hidrogénio (H2O2). Este, vai reagir com o fenol e 4-
aminoantipirina numa reação catalisada pela peroxidase, formando-se quinonaimina, um composto
corado. A intensidade da cor é diretamente proporcional à concentração de colesterol. Na
determinação do c-HDL, as frações VLDL e LDL são precipitadas por centrifugação. As enzimas
vão então reagir com apenas a fração HDL, presente no sobrenadante. As reações envolvidas são
as seguintes [41]:
Na determinação dos TGs, o reagente contém 4-aminoantipirina, fenol e quatro enzimas,
lipoproteína lipase, glicerol quinase (GK), glicerol oxidase e peroxidase. Os TGs são convertidos
pela lipoproteína lipase em ácidos gordos e glicerol. De seguida, este último sofre uma fosforilação,
por ação da glicerol quinase e na presença de ATP, passando a glicerol-3-fosfato. Este é depois
oxidado, pela glicerol oxidase (GPO), formando H2O2 e fosfato de di-hidroxiacetona (DHAP). O H2O2,
na presença de 4-AP e FeOH, produz quinonaimina, por ação da peroxidase. Novamente, a
intensidade da cor da substância é diretamente proporcional à concentração de TGs na amostra.
As reações envolvidas são as seguintes [41]:
Ésteres de colesterol Colesterol esterase
Colesterol livre + Ácidos gordos
Colesterol + O2
Colesterol oxidase Colestenona + H2O2
H2O2 + FeOH + 4-AP Peroxidase
Quinonaimina + H2O
Triglicerídeos Lipoproteína lipase
Glicerol + Ácidos gordos
Glicerol + GK
Glicerol-3-fostato + ADP
Glicerol-3-fosfato + O2 + H2O GPO
DHAP + H2O2
2H2O2 + FeOH + 4-AP Peroxidase
Quinonaimina + H2O
Relatório de Estágio Profissionalizante
25
4.2. Descrição dos métodos
Inicialmente, e para qualquer teste, é necessário aquecer as mãos do utente e friccionar o
dedo, para posteriormente ser picado com a ajuda de lancetas. É também necessário desinfetar o
dedo com álcool antes de picar e esperar que este seque para não influenciar os resultados. A
análise do CT e dos TGs, é realizada da mesma forma para ambos, diferenciando apenas no
reagente usado. São necessários 10µL de sangue, recolhidos com um capilar. Posteriormente, é
colocado numa cuvete destinada a cada caso. Deve-se agitar suavemente a cuvete até esvaziar o
capilar por completo. Insere-se a cuvete na célula de leitura para realizar o branco. Posto isto,
adicionam-se duas gotas do reagente (conservado no frigorífico) e agita-se suavemente. Insere-se,
novamente, a cuvete na célula de leitura e espera-se o resultado. Para a análise do c-HDL, são
necessários 50µL, recolhidos com o capilar e coloca-se na respetiva cuvete. Agita-se suavemente
e centrifuga-se por dois minutos. Recolhe-se 100µL do sobrenadante com uma pipeta e coloca-se
noutra cuvete. Depois de agitar, insere-se a cuvete na célula de leitura para realização do branco.
Adiciona-se duas gotas do respetivo reagente e agita-se novamente. Coloca-se, por fim, a cuvete
na célula de leitura e espera-se pelo resultado. O c-LDL, é obtido automaticamente, após o cálculo
do CT, c-HDL e TGs, utilizando a fórmula de Friedewald. [37]
O teste da glicémia é realizado com um medidor de glicémia, coloca-se a tira de teste no
equipamento, pica-se o dedo com uma lanceta e encosta-se suavemente a tira de teste à gota de
sangue. O resultado é dado num espaço de segundos.
É muito importante que o utente esteja em jejum para ser possível considerar e analisar os
resultados, evitando a existência de possíveis falsos positivos.
5. Resultados, aconselhamento e conclusões
Relativamente aos resultados, a análise global após o rastreio foi positiva. Apenas um utente
realizou os testes todos para avaliação do perfil lipídico e todos os valores estavam dentro dos
valores de referência para a normalidade. Os outros utentes realizaram apenas a determinação da
glicémia e a maioria dos utentes tinha os valores dentro do normal. Ainda assim, alguns utentes
apresentaram valores de glicémia ligeiramente acima do recomendado, sendo que esses valores
podem dever-se ao facto de o utente não estar em jejum.
A grande maioria dos utentes era de meia-idade ou idosos e não eram diabéticos. Os que
eram diabéticos, sabiam-no e os valores estavam conforme os valores de referência. Caso não
acontecesse, muito provavelmente o utente não estaria a realizar a medicação conforme
recomendado. É aqui, muito importante o papel do farmacêutico.
O farmacêutico assume um papel de apoio, proporcionando educação ao paciente,
recomendações de terapia medicamentosa, avaliação de interações, efeitos adversos e
monitorização da adesão aos tratamentos.
Em casos de altos níveis de TGs e CT, recomendei uma alteração do estilo de vida,
incentivando o utente a comprometer-se numa mudança na alimentação e na prática de exercício.
Algumas recomendações são fundamentais e extremamente úteis, como as seguintes [38]:
Relatório de Estágio Profissionalizante
26
• Reduzir o consumo de alimentos ricos em gorduras saturadas (reduzir nas carnes
vermelhas e nos produtos lácteos);
• Consumir mais frequentemente peixe, legumes, nozes e frutas;
• Praticar regularmente exercício físico, uma vez que a atividade física poderá aumentar
os níveis sanguíneos de c-HDL, controlar o peso, a diabetes e a pressão arterial;
• Abstinência tabágica e evitar o consumo excessivo de álcool;
• Manter um peso saudável;
• Aderir à terapêutica, caso se aplique, tal como prescrito.
É recomendável aconselhar o utente, caso o valor obtido não esteja dentro do recomendado,
a realizar o teste com alguma periodicidade.
A prevenção das DCV poderá ser realizada a nível da população geral, promovendo um
comportamento saudável no estilo de vida e a nível individual, em indivíduos com DCV estabelecida
com risco moderado a alto, implementado mudanças nos erros frequentes do dia a dia de cada um.
A prevenção é o primeiro ponto de partida e poderá ser eficaz: a eliminação de comportamentos de
risco poderia evitar pelo menos 80% das DCV e até 40% dos cancros. [29]
Penso que o rastreio foi uma mais valia para a farmácia e verificou-se uma boa adesão para
o rastreio da glicemia. O rastreio para o perfil lipídico não teve tanta adesão, apenas um utente o
realizou. Provavelmente, tal deveu-se ao facto de não ser totalmente gratuito e mais moroso. Ainda
assim, foi uma oportunidade para os utentes estabelecerem uma ligação utente-farmacêutico mais
próxima. É também uma forma de os utentes receberem um alerta para o risco de doenças
associadas e algumas recomendações para uma melhoria da qualidade da vida.
Relatório de Estágio Profissionalizante
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Projeto 3 – casos clínicos
1. Enquadramento do projeto
No penúltimo mês de estágio e após ter estado ao balcão e ter contactado com diversos casos,
foi-me lançado o desafio pela equipa técnica de discutir uma série de casos clínicos, descrevendo
quais as perguntas a fazer ao utente em cada situação e quais as medidas não farmacológicas a
aconselhar. Simultaneamente, tinha como objetivo realizar tabelas (em anexo VI) para
posteriormente serem afixadas, passíveis de consulta sempre que necessário, quer por mim, quer
por outros farmacêuticos ou colegas estagiários. Decidi escolher alguns desses casos, aqueles que
considerei mais interessantes e que trariam maiores desafios, pela maior dificuldade na sua
realização. O principal objetivo foi estabelecer os pontos cruciais de cada caso e encontrar medidas
não farmacológicas que possam ajudar na melhoria e alívio dos sintomas, sendo que, em alguns
casos, o farmacêutico poderá sugerir algum MNSRM como terapia farmacológica.
2. Caso clínico I – “Boa tarde, o meu bebé tem pele atópica!”
2.1. Contextualização
A dermatite atópica (DA) é uma doença inflamatória crónica da pele, também designada por
eczema, caracterizada por uma reação de hipersensibilidade da pele, acompanhada de inflamação,
prurido e descamação. Afeta principalmente crianças, entre o primeiro e o quinto ano de idade e
estima-se que afete entre 10% a 20% da população pediátrica. [42]
O diagnóstico é, normalmente, realizado pelo pediatra ou dermatologista. A principal
característica é uma dermatite eczematosa e pruriginosa (erupção de pequenas vesículas,
geralmente aglomeradas), com uma distribuição típica. Nas crianças, afeta sobretudo as bochechas,
o couro cabeludo e as extremidades, podendo atingir toda a superfície corporal na primeira infância.
[43]
A patogenicidade da DA é complexa e multifatorial, no entanto, fatores como a disfunção da
barreira cutânea, fatores ambientes, predisposição genética e disfunção imune têm um papel
importante no desenvolvimento da doença.
Relativamente ao tratamento, a manutenção da barreira cutânea é o principal foco. Assim, o
tratamento pode ter quatro componentes: cuidados com a pele de forma a restaurar e manter a
barreira cutânea saudável, anti-inflamatórios tópicos (corticoterapia tópica) para suprimir a resposta
inflamatória, controlo do prurido (anti-histamínicos) e prevenção/tratamento de crises relacionadas
com a infeção (antibioterapia ou antivíricos). A educação dos pais/educadores é fundamental para
uma boa adesão à terapêutica por parte das crianças e melhoria dos sintomas com sucesso. [42]
2.2. Aconselhamento
O farmacêutico pode, sobretudo, interferir nos cuidados da pele e ajudar com alguns conselhos
para o dia-a-dia, uma vez que o tratamento farmacológico deverá sempre ser aconselhado pelo
pediatra ou por um dermatologista tendo em conta a faixa etária que a DA abrange mais
recorrentemente. E, portanto, a primeira abordagem a ser feita pelo farmacêutico deve ser com o
intuito de perceber se o paciente já contactou o pediatra e, caso não o tenha feito, é extremamente
Relatório de Estágio Profissionalizante
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importante que o faça, visto que que a DA pode tomar outras proporções que não consigam ser
solucionadas sem MSRM. Depois, o farmacêutico deverá tentar perceber em que fase está a DA e,
sobretudo, mencionar que é imprescindível hidratar e higienizar a pele. Para isso, a farmácia dispõe
de uma vasta gama de produtos (loções, cremes, entre outros) destinados a pele atópica em bebés
e de várias marcas. São produtos sem fragâncias ou aditivos e gordurosos, de modo a compensar
o déficit de lípidos de que a pele sofre e a restaurar a barreira cutânea. Vários são os aspetos que
o farmacêutico deverá aconselhar e que passo a citar [43]:
• Os banhos deverão ser com água morna e emolientes (com óleos de banho), de forma
a suavizar a pele, acalmar a irritação e hidratando. Se possível, deverá evitar o uso de
sabão e optar por produtos de limpezas suaves. Após os banhos, a pele deve ser seca
suavemente e deverá aplicar sempre um creme hidrante gorduroso, pelo menos, duas
vezes por dia;
• Deverá optar por roupas de algodão hipoalergénicas e deverá usar detergentes de roupa
delicados;
• Caso tenha prescrição de corticosteroides tópicos, deverá aplicá-los exatamente
conforme prescrito e antes da aplicação do hidratante;
• Deverá cortar as unhas e mantê-las limpas, para evitar lesões por arranhões;
• Deverá evitar ambientes com ar condicionado e com acumulação de pó (deve remover
tapetes, alcatifas, peluches ou similares);
• O excesso de calor pode agravar a DA e, por isso, deve evitar agasalhos excessivos.
O farmacêutico deverá ainda mencionar que, caso a DA agrave, deverá contactar o pediatra
de imediato.
3. Caso clínico II – “Bom dia, a minha filha está com varicela, o que devo
fazer?”
3.1. Contextualização
A varicela é uma doença aguda, grandemente infeciosa, causada pelo vírus varicela-zoster
(VVZ), da família Herpesviridae A infeção primária começa com a replicação nas células epiteliais
da mucosa respiratória superior seguida de erupção vesicular na pele, após um período de
incubação de 10 a 21 dias. Após a infeção primária, o VVZ permanece no organismo como uma
infeção latente, desenvolvendo-se imunidade. É uma doença altamente contagiosa e o vírus pode
ser transmitido de pessoa para pessoa por contacto direito e inalação de aerossóis, através de tosse
ou espirros. [44,45]
O primeiro sinal de varicela em crianças é o aparecimento de erupção cutânea, com poucos
sintomas associados. Posteriormente, aparecem as primeiras manchas vermelhas, altamente
pruriginosas, que se espalham pela face, orelhas, couro cabeludo, abdómen, tórax, costas, braços
e pernas. Essas manchas desenvolvem-se, então, em vesículas com fluido, que secam
gradualmente. Frequentemente, surge o aparecimento de febre, mal-estar geral e perda de apetite.
O diagnóstico é feito de acordo com a apresentação clínica, especialmente através da erupção
cutânea característica. [46]
Relatório de Estágio Profissionalizante
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3.2. Aconselhamento
Inicialmente, é fundamental perguntar se já foi ao pediatra, a idade da criança e há quantos dias
apareceram os primeiros sintomas. Questionar também em que fase está a varicela e quais os
sintomas que tem.
O papel do farmacêutico é crucial. Deve lembrar que é muito importante não deixar coçar as
vesículas, de forma a evitar cicatrizes. Se necessário, deve cortar as unhas à criança, dar banhos
com frequência para alívio do prurido, usar roupas de algodão e frescas e deixar a criança brincar
para a manter distraída dos sintomas. A criança não pode, de todo, ir à escola e deve evitar o
contacto com outras crianças e mulheres grávidas, sobretudo de pessoas não-imunes ou com risco
de complicações sérias. O farmacêutico pode recomendar a toma de paracetamol como antipirético,
caso haja febre e de um anti-histamínico (maleato de dimentideno, presente no Fenistil® gotas) para
o tratamento e alívio do prurido. Pode recomendar também bebidas frescas ou gelados à base de
sumo de fruta, para reduzir o desconforto associado a úlceras na boca. Deve sempre salientar que
é muito importante a ida ao pediatra para a confirmação da doença e caso as vesículas criem
inflamação ou se a criança desenvolver sintomas respiratórios, como tosse produtiva, porque poderá
ser necessária outra terapia.
4. Caso clínico III – “Bom dia! Venho levantar esta receita por causa da
acne: isotretinoína.”
4.1. Contextualização
A acne, conhecida também como acne vulgaris, é uma doença caracterizada por um processo
inflamatório crónico e reincidente. Afeta certa de 85% da população, com idades compreendidas
entre os 12 e os 25 anos. Contudo, a acne pode aparecer antes dos 12 anos, acompanhando o
início da puberdade e pode reincidir/persistir na terceira e quarta década de vida. [47]
A patogenicidade da acne não está totalmente esclarecida. No entanto, vários fatores podem
estar relacionados com o aparecimento da doença: fatores hormonais e ambientais, fatores
genéticos, a microflora cutânea e as células residentes da pele. Hiperplasia sebácea mediada por
androgénios, alteração na queratinização folicular, colonização por Propionibacterium acnes e
libertação de mediadores inflamatórios, são mecanismos fisiopatológicos que podem estar na
origem da acne. [48,49]
A qualidade de vida pode ser gravemente afetada e estados mais avançados da doença
(moderados a severos) podem estar associados a distúrbios psicossomáticos, como a depressão.
A isotretinoína oral é o tratamento mais eficaz, quando administrada por cerca de 20 semanas,
e geralmente receitada apenas em casos mais graves ou quando a acne é resistente a outras
terapias (antibioterapia oral ou terapia tópica). Como todos os medicamentos, pode provocar efeitos
adversos e os mais frequentes são:
• Fissuras labiais ou nos cantos da boca (queilite): um dos efeitos mais comuns durante a
terapêutica;
• Secura da pele (xerose): sobretudo na face, braços e mãos;
Relatório de Estágio Profissionalizante
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• Hemorragias nasais (epistaxis): poderá ocorrer devido à secura das membranas das
mucosas nasais;
• Fotossensibilidade: há um aumento da sensibilidade ao sol na maioria dos casos;
• Hiperlipidemia: aumento dos níveis séricos de triglicerídeos e colesterol, sobretudo em
pacientes com diabetes mellitus, excesso de peso ou história de níveis triglicerídeos e
colesterol aumentados na família;
• Agravamento temporário das lesões;
• Outras infeções secundárias.
Estes efeitos adversos raramente são suficientemente graves para levar à suspensão do
tratamento e diminuem de gravidade com o mesmo. As mulheres grávidas não devem realizar o
tratamento, as que desejam engravidar não o devem tentar durante o tratamento. A isotretinoína
poderá causar efeitos congénitos graves no feto e deve, por isso, ser reforçado o método
contracetivo. [49,50]
4.2. Aconselhamento
O farmacêutico deverá explicar que o tratamento com isotretinoína diminui a gravidade da acne
e, por isso, apesar dos efeitos adversos, não deve interromper o tratamento. É muito importante
hidratar muito bem a pele, lábios e boca, uma vez que, como já referido, a secura da pele é uma
das consequências. Para as fissuras labiais, poderá ajudar a aplicação de panos quentes e húmidos,
seguida de protetor solar labial ou vaselina. Para um possível sangramento do nariz, poderá também
hidratar com vaselina ou lavar com água do mar. O farmacêutico deverá ainda lembrar que não
deve tomar banho mais do uma vez por dia e deverá fazê-lo com sabonetes ou loções de limpeza
suaves. Após o banho, recomenda-se a aplicação de uma boa loção hidratante e creme para as
mãos. Deverá evitar a exposição solar nas horas de maior radiação e deverá usar sempre protetor
solar com fator de proteção solar (FPS) de 30 ou superior. Para o controlo da hiperlipidemia, terá
que realizar análises com alguma periocidade e poderá fazer o controlo dos triglicerídeos e
colesterol na farmácia. A depilação a cera e a laser não é aconselhada durante o tratamento e
durante os seis meses seguintes, pois poderá agravar as cicatrizes. Adicionalmente, deverá manter
uma alimentação e estilo de vida saudáveis.
Por último, é muito importante que o farmacêutico recorde que se houver algum agravamento ou
caso se mantenham os sintomas, é imprescindível consultar o médico/dermatologista.
5. Caso clínico IV - “Boa tarde! Tenho pequenos derrames nas pernas!”
5.1. Contextualização
As varizes são veias dilatadas e tortuosas, facilmente identificáveis por se localizarem debaixo
da pele. As veias têm válvulas unidirecionais que abrem e fecham para ajudar o retorno do sangue
ao coração. Quando as válvulas ficam danificadas ou frágeis, o sangue pode voltar e fazer com que
as veias dilatem, levando assim à formação das varizes. Geralmente, podem causar dor,
desconforto ou problemas mais sérios como coágulos sanguíneos ou úlceras. [51]
Relatório de Estágio Profissionalizante
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Fazem parte do espetro da doença venosa crónica (DVC) e incluem telangiectasias (derrames
“em aranha”), veias reticulares (microvarizes) e varicosidades (pequenas varizes e derrames com
impacto essencialmente estético). Estima-se que 20% da população portuguesa adulta apresente a
doença e, geralmente, ocorre mais em mulheres do que em homens, devido à vertente hormonal e
ao elevado nível de estrogénios, sendo um dos fatores de risco associados. Outros fatores de risco
poderão ser: idade (entre os 40 e os 60), história familiar, sedentarismo, ortostatismo prolongado,
fumar, excesso de peso, gravidez, estatura alta, excesso de calor e presença de alterações
congénitas da composição estrutural das paredes das veias. Hipertensão venosa, incapacidade
valvular venosa, alterações estruturais na parede venosa e alterações na velocidade de fluxo do
sangue são os principais mecanismos fisiopatológicos que poderão dar origem a varizes. [52]
O tratamento deve ter em conta os sintomas, a localização, a gravidade e a causa das varizes.
Passa primariamente por alterações no estilo de vida e que podem ser suficientes. Dependendo de
caso para caso, o médico poderá recomentar terapia com meias de compressão, farmacoterapia
flebotómica e terapêuticas mais invasivas como cirurgia clássica e cirurgia de ablação endovenosa,
para casos mais graves. [51, 52]
5.2. Aconselhamento
Quando confrontado com esta situação, o farmacêutico deverá, inicialmente, tentar perceber a
gravidade da situação: se se tratam de pequenos derrames ou se já tem varizes formadas. Deve
perguntar se toma a pílula, se passa muito tempo na mesma posição, se é fator genético, quais os
hábitos tabágicos e quais os sintomas que sente: cansaço, sobretudo ao final do dia; sensação de
pernas pesadas; dor; prurido ao redor das veias, entre outros. Após esta primeira abordagem, o
farmacêutico recomendará alterações no estilo de vida: manter um peso saudável, cessar o tabaco
e as bebidas alcoólicas, evitar estar muito tempo na mesma posição, fazer exercício regularmente,
evitar roupa muito justa, hidratar o corpo diariamente, elevar as pernas e evitar o calor. O
farmacêutico poderá também recomendar um gel para o alívio dos sintomas, uma vez que os géis
são facilmente absorvidos:
• Thrombocid®: ação anticoagulante, anti-inflamatória, analgésica e fibrinolítica;
• Antistax®: efeito reconfortante, refrescante, calmante e estimulante da microcirculação;
• Venex®: ação flebotómica, venoprotetora e adstringente.
Por último, o farmacêutico aconselhará mudanças no estilo de vida que poderão ser eficazes no
alívio dos sintomas e a consulta do médico especialista, caso se verifique um agravamento dos
sintomas, bem como abordá-lo à cerca do uso das meias de compressão.
6. Conclusões
O atendimento deverá sempre salvaguardar o bem-estar do utente, a todos os níveis. Vender
por vender não deverá ser nunca a tese procurada por um farmacêutico. Muitas são as vezes em
que os pacientes se automedicam porque “tinha este medicamento lá em casa que o médico
receitou ao meu marido” ou porque “a minha amiga disse que era muito bom”, e cabe ao
farmacêutico lutar contra a automedicação inconsciente.
Relatório de Estágio Profissionalizante
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Ao realizar estes casos clínicos, penso que consegui melhorar em muito o meu aconselhamento
ao balcão. Ajudou-me a pôr em prática tudo o que aprendi ao longo dos cinco anos de curso e
durante os primeiros meses de estágio. É muito importante ter uma conversa clara e concisa com o
utente, perceber quais os sintomas, se já se automedicou ou se já foi ao médico. Por norma, os
utentes procuram a “solução eficaz” e acreditam que se não for farmacológica, não terá efeito e, por
conseguinte, foi do meu interesse procurar medidas não farmacológicas
Penso que este projeto foi uma mais valia para mim e para a farmácia, na medida em que, na
dúvida, podemos rapidamente consultar as tabelas com as medidas não farmacológicas que
podemos aconselhar, melhorando o atendimento.
Relatório de Estágio Profissionalizante
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Relatório de Estágio Profissionalizante
37
Anexo I – cronograma das atividades realizadas durante o estágio
Tarefas Setembro Outubro Novembro Dezembro Janeiro Fevereiro
Back-office*
Atendimento
Serviços farmacêuticos
Manipulados
Formações
Projeto 1
Projeto 2
Projeto 3
*Back-office: Receção de encomendas, armazenamento de produtos, reposição de stocks, regularização de
notas de crédito, devolução de produtos e contagens físicas
Relatório de Estágio Profissionalizante
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Anexo II – Preparação de medicamentos manipulados
Álcool a 60º saturado com ácido bórico
Vaselina
salicilada
Preparação de álcool a 60º saturado com ácido bórico
Vaselina salicilada
Relatório de Estágio Profissionalizante
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Anexo IIIA – Equipamento utilizado nos testes bioquímicos: Callegari
CR3000
Anexo IIIB – Cartões distribuídos para anotação dos resultados dos
testes bioquímicos
Relatório de Estágio Profissionalizante
40
Anexo IV – Formações realizadas ao longo do estágio
Formação Local Data Nº horas Entidade responsável
Uriáge® Hotel “As
Américas”, Aveiro 19/10/2017 3h Uriáge®
Caudalie® Hotel “The
Yeatman”, Porto 30/01/2018 4h Caudalie® Portugal
“Ser cabeleireiro por um dia”
ANC*, Porto 22/11/2017 6h René Furterer®
Novalac® e Nuk® Farmácia 12/10/2017 30 min Novalac® e Nuk®
Ecophane® Farmácia 14/09/2017 30 min Ecophane Biorga®
Vichy® Farmácia 30 min L’ Óreal Paris®
La Roche Posay® Farmácia 30 min L’ Óreal Paris®
Curaprox® Farmácia 30 min Curaprox ®
*ANC: Associação Nacional de Cabeleireiros
Relatório de Estágio Profissionalizante
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Anexo V – Cartaz e panfleto usados para o rastreio de osteoporose
Relatório de Estágio Profissionalizante
43
Anexo VI – Casos clínicos
“Quero qualquer coisa para a gripe!”
Perguntas a fazer “Já tomou alguma coisa?”; “Quais os
sintomas?”; “Tem febre?”; “É asmático?”; “Tem algum problema de saúde”?
Medidas não farmacológicas
Descansar e beber muitos líquidos; tomar banho em água morna e usar roupas ligeiras, caso tenha febre; ter uma alimentação particularmente
nutritiva
“Quero qualquer coisa para a tosse! É seca!”
Perguntas a fazer
“Tem a certeza que é mesmo seca? Não sente nenhuma expetoração? Sente que é aquela tosse
alérgica?”; “Tem asma?”; “É hipertenso?”; “É fumador?”
Medidas não farmacológicas Beber muita água; evitar ambientes
demasiado secos; rebuçados de mentol para acalmar a tosse; pomadas para o peito (ex. Vicks®)
“Ando com o nariz entupido”
Perguntas a fazer
“Tem alergia a algo com que tenha estado em contacto recentemente?”; “Tem mais algum
sintoma?”; “Tem algum problema de saúde?” (descongestionantes nasais não são aconselhados a
hipertensos ou a quem toma anti-hipertensores!)
Medidas não farmacológicas
Beber muitos liquídos; evitar bebidas alcoólicas; evitar fumar; descansar muito; inalações com água salgada; evitar assoar com demasiada
pressão para que a infeção não se propague para o ouvido
“Estou com diarreia!”
Perguntas a fazer
“Viajou recentemente?”; “Há quantos dias está com diarreia?”; “Quantas evacuações +/-, por dia?”;
“Há mais alguém, na sua casa, na mesma situação?”; “Tem febre?”; “Comeu alguma coisa
diferente do normal?”
Medidas não farmacológicas
Beber muitos líquidos; evitar álcool e produtos lácteos; evitar refeições pesadas, molhos e
condimentos; diminuir na quantidade de sal; reforçar medidas de higiene; pode fazer probióticos e sais de
reidratação oral
“Torci um pé!”
Perguntas a fazer “Consegue mexer o pé?”; “Já tomou alguma
coisa?”; “Qual o grau da dor?”; “Está inchado?”
Relatório de Estágio Profissionalizante
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Medidas não farmacológicas
Colocar gelo nas primeiras 72h, 20 em 20 minutos, com descanso; ir ao médico caso a dor continue; repouso; pé elástico; pomadas como:
thrombocid®, voltaren®
“Tenho pequenos derrames nas pernas!”
Perguntas a fazer “Toma a pílula?”; “Está muito tempo na mesma
posição?”; “O cansaço é mais ao final do dia?”; “É fator genético?”
Medidas não farmacológicas
Poderá usar meias de compressão; elevar as pernas; evitar estar muito tempo de pé ou na mesma posição; evitar roupa justa; evitar cruzar as pernas;
fazer exercício físico
“Dores nas articulações!”
Perguntas a fazer “Faz algum suplemento?”; “Tem artroses?”; “É
alérgico ao marisco?”
Medidas não farmacológicas Fazer exercício físico (caminhadas); fazer
exame ao ácido úrico; manter peso saudável
“Comi demais no Natal!”
Perguntas a fazer “O que é que sente?”; “Sente-se inchado?”;
“Tem azia?”; “Tem vómitos ou náuseas?”
Medidas não farmacológicas
Manter estilo de vida saudável: não fumar, evitar bebidas alcoólicas, fazer exercício físico, evitar
alimentos ácidos, fazer refeições ligeiras; evitar roupas apertadas
“Micose na unha!”
Perguntas a fazer
“Já tratou de alguma forma?”; “Há quanto tempo apareceram os primeiros sinais?”; “Está
“farinhenta”?”; “Sente dor e prurido?”; “Está inflamado?”
Medidas não farmacológicas Lavar diariamente a área infetada; secar muito
bem (usar pó); cortas as unhas envolvidas; trocar de meias diariamente (caso seja no pé); evitar manicure
“Pele atópica/muito seca em bebé!”
Perguntas a fazer “Tem greta ou pus?”; “Já falou com o
pediatra?”
Medidas não farmacológicas
Hidratar e higienizar muito bem a pele com produtos apropriados; roupa de algodão
hipoalergénica; lavar a roupa com detergente delicado; dieta equilibrada
Relatório de Estágio Profissionalizante
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“Queda de cabelo!”
Perguntas a fazer “É sazonal ou reativa?”
Medidas não farmacológicas
Evitar lavar o cabelo todos os dias; evitar andar com o cabelo preso; usar ampolas e champôs
específicos para o caso; evitar stress; evitar tratamentos agressivos no cabeleireiro
“Dor de garganta!”
Perguntas a fazer “Sente dor ou irritação?”; “Tem febre?”; “Já
tomou alguma coisa?”; “Dói a engolir?”; “É hipertenso ou asmático?”
Medidas não farmacológicas Rebuçados de mentol para amaciar a
garganta; hidratação (água, chás, mel); evitar o frio
Tratamento oral para a acne.
Cuidados a ter
Explicar que o tratamento diminui a gravidade acne. Explicar que o tratamento seca a pele e as
mucosas e, por isso, deve-se hidratar muito bem a pele, os lábios e a boca. Não deve interromper o
tratamento! Evitar a exposição solar e usar protetor. Ter uma alimentação saudável.
“Quero a pílula do dia seguinte!”
Perguntas a fazer
“Que idade tem?”; “Toma a pílula?”; “Já tomou alguma vez a pílula do dia seguinte?”; “Quantas horas passaram desde a relação
desprotegida?”
Medidas não farmacológicas
Usar preservativo/método de barreira nas próximas relações; falar com o médico sobre o
método contracetivo mais adequado; tomar a pílula normalmente
“Dores de cabeça!”
Perguntas a fazer “Qual a intensidade da dor?”; “Costumam ser
dores frequentes?”; “Já tomou alguma coisa?”;“É uma dor localizada ou geral?”; “Tem tonturas?”
Medidas não farmacológicas
Exercício físico regular; deixar de fumar; aplicação local de frio; banhos de água quente; descansar; evitar stress; alguns chás poderão
ajudar (gengibre, hortelã)
“Obstipação!”
Perguntas a fazer “Há quantos dias não vai à casa de banho?”;
“sente desconforto abdominal?”; “Comeu alguma coisa diferente nos últimos dias?”
Relatório de Estágio Profissionalizante
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Medidas não farmacológicas Beber muitos líquidos; dieta rica em fibras;
praticar exercício físico; massagem abdominal
“Dores menstruais”
Perguntas a fazer “Que idade tem?”; “É habitual?”; “Está
menstruada?”; “Onde sente a dor?”
Medidas não farmacológicas Banhos de água quente; calor local na região
da dor; exercícios de relaxamento abdominal; exercício físico regular; repouso
“Herpes labial!”
Perguntas a fazer “É recorrente?”; “Sente dor ou prurido?”;
“Já tem vesículas formadas?”
Medidas não farmacológicas Evitar tocar nas lesões com as mãos
sem luvas; evitar partilhar copos; não romper as vesículas para evitar a propagação do vírus
“Úlceras de pressão!”
Perguntas a fazer “Tem infeção (pus)?”; “Está em feridas?”;
“Tem estado muito tempo na mesma posição?”
Medidas não farmacológicas Hidratar e higienizar muito bem a zona
afetada; evitar estar sempre na mesma posição; fazer uma dieta equilibrada
“Escaldões!”
Perguntas a fazer “A pele está a escamar?”; “Tem dor?”;
“Tem febre, vómitos ou diarreia (sintomas de insolação)?”
Medidas não farmacológicas Evitar a exposição solar na zona afetada;
hidratar a pele com cremes pós-solares; beber muitos líquidos; banhos de água fria
“Varicela (crianças)!”
Perguntas a fazer
“Há quantos dias apareceu?”; “Já foi ao pediatra?”; “Que idade tem?”; “Tem febre?”;
“Está numa fase inicial (pontos vermelhos) ou já tem vesículas?”
Medidas não farmacológicas
Evitar coçar e cortar as unhas à criança; evitar o contacto com outras crianças; banhos
recorrentes e aplicação de creme para acalmar o prurido; deixar a criança brincar para a
distrair
“Produtos para emagrecer!”
Perguntas a fazer
“É hipertensa?”; “Está grávida ou a amamentar?”; “Qual a alimentação que faz?”; “Já recorreu a algum suplemento?”; “Toma a
pílula?”; “Já consultou um nutricionista?”
Relatório de Estágio Profissionalizante
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Medidas não farmacológicas
Fazer exercício físico; reduzir a quantidade de açúcar e hidratos de carbono;
aconselhar o aconselhamento por um nutricionista
“Dores de dentes!”
Perguntas a fazer “Há quantos dias tem dor?”; “Fez alguma
extração?”; “Tem febre?”
Medidas não farmacológicas Aplicar gelo com compressas frias;
higiene oral; aconselhar a ida ao médico dentista caso a dor persista