Relatório do Grupo de Trabalho criado para a definição de proposta ...

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1 Relatório do Grupo de Trabalho criado para a definição de proposta de metodologia de integração dos níveis de cuidados de saúde para Portugal Continental - Trabalho realizado no âmbito do Despacho nº 9567/2013, de Sua Excelência o Secretário de Estado Adjunto do Ministro da Saúde, de 10 de Julho, publicado no Diário da República, 2ª série, nº 139, de 22 de Julho de 2013 - - Fevereiro de 2014 -

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Relatório do Grupo de Trabalho criado para a definição de

proposta de metodologia de integração dos níveis de

cuidados de saúde para Portugal Continental

- Trabalho realizado no âmbito do Despacho nº 9567/2013, de Sua Excelência o

Secretário de Estado Adjunto do Ministro da Saúde, de 10 de Julho, publicado no

Diário da República, 2ª série, nº 139, de 22 de Julho de 2013 -

- Fevereiro de 2014 -

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O Grupo de Trabalho:

Helena Lopes

João Sequeira Carlos

Miguel Rodrigues

Ricardo Mestre

Rui Santana

Teresa Matias

Vanessa Ribeiro

Secretariado

Marina Dias

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Agradecimentos:

Para a concretização do presente relatório receberam-se alguns contributos diretos e

indiretos, de várias pessoas às quais gostaríamos de agradecer a sua ajuda. Em

particular, o nosso agradecimento aos colegas: Dra. Adelaide Belo, Dra. Ana Jesus

Barba, Dra. Ana Patrícia Marques, Prof. Henrique Martins, Dr. João Sarmento, Prof.

Paulo Boto, Prof. Sílvia Lopes, Eng. Tiago Rua, Dra. Teresa Torres, Dr. Vítor Ramos,

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Índice

I. Introdução

9

II. Nota metodológica

13

III. Enquadramento teórico

17

IV. Situação em Portugal

77

4.1. Estudos anteriores

79

4.2. Boas práticas de integração

95

V. Medidas de promoção da integração

100

VI. Conclusão

152

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Índice de quadros, tabelas e figuras

Esquemas

Esquema 1. Dimensões da integração 29

Esquema 2. Integração horizontal 30

Esquema 3. Integração vertical 31

Esquema 4. Estrutura organizacional de unidades prestadoras de

cuidados de saúde

46

Esquema 5. Desenho matricial da organização de um Programa de

Gestão da Doença Psiquiátrica

47

Esquema 6. Exemplo da organização de Programas de Gestão da

Doença

48

Figuras

Figura 1. Possíveis configurações de ACOs norte-americanas 58

Figura 2. Sistema de classificação de ACO com base no seu grau de

evolução, partilha de risco financeiro e respetiva unidade de pagamento

preferencial adstrita

60

Figura 3. Distribuição geográfica das ACOs à data de Janeiro de 2013 63

Figura 4. Potencial impacto do FTI sob diversas dimensões de análise. 68

Gráficos

Gráfico 1. Evolução histórica das taxas de ICSA em Portugal de 2007 a

2011 de acordo com duas listas de CSCSP.

90

Gráfico 2. Distribuição dos ICSCSP por patologia. 91

Tabelas

Tabela 1. Consequências da fragmentação da estrutura de oferta de

cuidados de saúde

26

Tabela 2. Definição do conceito de integração de cuidados à luz de

perspetivas diferentes

29

Tabela 3. Mudança de paradigma 43

Tabela 4. Distribuição do número de indicadores por componente em

análise

61

Tabela 5. Proveniência das verbas financeiras alocadas à implementação

do FTI

92

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Lista de Siglas

ACES – Agrupamento de Centros de Saúde

ACOs – Accountable Care Organizations

ACSC – Ambulatory Care Sensitive Conditions

ACSS – Administração Central do Sistema de Saúde

ADASS – Association of Directors of Adult Services

API – Associação de Prestadores Independentes

ARS – Administração regional de Saúde

CA – Conselho de Administração

CC – Cuidados Continuados

CCG – Clinical Comissioning Groups

CCI – Cuidados Continuados Integrados

CSH – Cuidados de Saúde Hospitalares

CSP – Cuidados de Saúde Primários

CTH – Consulta a Tempo e Horas

DM – Demora Média

DPOC – Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica

ECCI – Equipa de Cuidados Continuados Integrados (equipa de cuidados domiciliários)

ECL – Equipa Coordenadora Local

ECR – Equipa Coordenadora Regional

EGA – Equipa de Gestão de Altas

EGIOS – Estudo sobre o Grau de Integração de Organizações de Saúde

ENSP – Escola Nacional de Saúde Pública

ERS – Entidade Reguladora da Saúde

EUA – Estados Unidos da América

FTI – Fundo destinado à Transformação dos processos de Integração

GdT – Grupo de Trabalho

GMCH - Grupos de Médicos de Cuidados Hospitalares

GMCP – Grupos de Médicos de Cuidados Primários

GMPM – Grupos de Médicos de Prática Multidisciplinar

HMOs – Health Maintenance Organizations

HTA – Hipertensão Arterial

ICEP – Insuficiência Cardíaca e Edema Agudo do Pulmão

ICSA – Internamento por Causa Sensível de Ambulatório

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ICSCSP - Internamento por Causa Sensível a Cuidados de Saúde Primários

ITU – Infeções do Trato Urinário

LGA – Local Government Association

LHWB – Local Health and Wellbeing Boards

MCDT – Meios Complementares de Diagnóstico

MCSP – Missão dos Cuidados de Saúde Primários

MdS – Ministério da Saúde

MGF – Medicina Geral e Familiar

NHS – National Health Service

NOC – Normas de Orientação Clínica

OMS – Organização Mundial de Saúde

PAI – Processo Assistencial Integrado

PDS – Plataforma de Dados da Saúde

PIB – Produto Interno Bruto

PPOs – Preferred Provider Organizations

RNCCI – Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados

SIDA – Síndrome de Imunodeficiência Adquirida

SNS – Serviço Nacional de Saúde

TMRG – Tempos Máximos de Resposta Garantidos

UC – Unidade de Convalescença (até 30 dias de internamento)

UCC – Unidade de Cuidados na Comunidade

UCP – Unidade de Cuidados Paliativos

UCSP – Unidade de Cuidados de Saúde Personalizados

UF – Unidade Funcional

ULDM – Unidade de Longa Duração e Manutenção

ULS – Unidade Local de Saúde

ULSAM - Unidade Local de Saúde do Alto Minho

ULSBA - Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo

ULSCB - Unidade Local de Saúde de Castelo Branco

ULSG - Unidade Local de Saúde da Guarda

ULSM – Unidade Local de Saúde de Matosinhos

ULSNA - Unidade Local de Saúde do Norte Alentejano

UMCCI – Unidade de Missão dos Cuidados Continuados Integrados

UMDR – Unidade de Média Duração e Reabilitação (até 90 dias de internamento)

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URAP – Unidade de Recursos Assistenciais Partilhados

USF – Unidade de Saúde Familiar

USP – Unidade de Saúde Pública

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CAPÍTULO I

INTRODUÇÃO

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I. Introdução

O presente relatório pretende apresentar o trabalho desenvolvido pelo Grupo de

Trabalho constituído através do Despacho nº 9567/2013, de Sua Excelência o

Secretário de Estado Adjunto do Ministro da Saúde, de 10 de Julho, publicado no

Diário da República, 2ª série, nº 139, de 22 de Julho de 2013, com o objetivo de

proceder à definição de proposta de metodologia de integração dos níveis de cuidados

de saúde para Portugal Continental.

A reflexão sobre esta matéria no seio do Ministério da Saúde (MdS), poderá identificar-

se através da referência ao tema por diferentes grupos de trabalho, refletindo a visão

dos seus autores sobre o assunto. Esta temática consta entre as oito iniciativas

estratégicas identificadas como necessárias para o sistema de saúde português, no

Relatório Final intitulado “Os cidadãos no centro do Sistema, os profissionais no centro

da mudança”, apresentado pelo Grupo Técnico para a Reforma Hospitalar em

novembro de 2011. Esta reflexão é também referida noutras iniciativas, como

comprovam os trabalhos do Grupo Técnico para o desenvolvimento dos Cuidados de

Saúde Primários “Interligação e Integração entre cuidados de saúde primários e

cuidados hospitalares” realizado em Setembro de 2012.

Estes trabalhos constituem sobretudo olhares sobre a integração na ótica dos agentes

que atuam em cada nível de cuidados de saúde. Pretende-se, que o presente relatório

não reflita uma visão dos diferentes níveis de cuidados sobre a sua forma de participar

em iniciativas de integração, mas que exista uma equidistância face a esses níveis de

cuidados de saúde. O posicionamento da ótica de análise despe-se de um

posicionamento centrado nas instituições e nos níveis de cuidados de saúde, para

pensar nas suas interligações, enquanto unidades pertencentes ao mesmo sistema de

saúde. A importância não reside nas unidades em si, mas na forma como estas

interagem, enquanto sistema com objetivos únicos.

O crescente interesse que diversos atores manifestam na “integração de cuidados de

saúde”, reside essencialmente no pressuposto de que uma prestação com melhores

níveis de integração de cuidados de saúde permitirão alcançar também melhores

níveis de desempenho nas organizações e nos sistemas de saúde. Ou não

antagonicamente, que se deteta a presença de problemas relevantes, com

consequências para os doentes, pela manifesta falta de integração de cuidados de

saúde. De outra forma, acredita-se também que as iniciativas de integração de

cuidados de saúde possam constituir uma resposta mais adequada aos novos

desafios colocados pela evolução prevista das características da oferta e procura do

mercado da saúde.

Este interesse, tendencialmente crescente, pode ser comprovado pela disposição para

a criação de iniciativas micro e macro, de diferente natureza, no âmbito da integração

de cuidados de saúde. Trata-se de um tema que está na moda. Neste sentido, a

criação de conhecimento, o debate informado e a discussão da presente temática é

plenamente justificável e oportuna.

A discussão sobre a integração de cuidados de saúde é intemporal. É relativamente

fácil encontrar reflexões e debates sobre o tema numa perspetiva histórica, mas

parece como uma problemática não resolvida, a julgar pela intensidade do seu

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tratamento recente nos mais diversos fóruns de interesse, sejam estes de natureza

politica, económica, social ou científica. A impossibilidade de alcance de realidades

plenamente integradas, torna o tema inesgotável, com interesse futuro na prossecução

dos grandes objetivos dos sistemas de saúde.

A amplitude relativamente alargada do objetivo proposto, deverá ser balizada nas

expectativas sobre a realidade passada, presente e previsível evolução futura do

contexto de prestação de cuidados de saúde no nosso país: o presente relatório não

tem como pretensão abordar todas as temáticas, nem as temáticas abordadas se

esgotam no presente relatório.

Independentemente da delimitação imposta, a realização de um trabalho sobre

integração de cuidados de saúde, tal como a natureza do tema em si, dificilmente se

esgotará apenas num relatório técnico. É particularmente importante que a política de

saúde futura mantenha este tema na sua agenda de prioridades. O caminho da

integração de cuidados de saúde apresenta uma natureza de médio e longo prazo,

não se coadunando com respostas reativas de curto prazo a problemas imediatos de

curto prazo.

O presente documento deve ser encarado como um documento de trabalho, que

poderá ser melhorado em função da discussão e debate que porventura possa

proporcionar. As medidas propostas não se esgotam nesta apresentação, pelo que a

análise crítica do documento é uma etapa que deverá ser cumprida, devendo este ser

melhorado através da introdução de novas iniciativas substitutivas ou alternativas às

propostas.

Não podemos também olvidar o contexto de exceção vivido no nosso país nos últimos

dois anos e meio. As consequências geradas pelo ajustamento financeiro realizado,

irão fazer-se sentir nos próximos anos/ décadas, pelo que as escolhas sobre os

caminhos a seguir, seja na área da integração de cuidados de saúde, seja noutra

qualquer área da nossa sociedade deverão ponderar os factos históricos e o contexto

vivido pela nossa sociedade.

A estrutura do presente relatório está dividida em seis capítulos. Para além da

presente introdução, pode-se encontrar uma nota metodológica, o enquadramento

teórico, a descrição da situação em Portugal, a identificação das medidas propostas e

a conclusão.

Após a introdução, no capítulo relativo ao enquadramento teórico pretende-se

descrever o estado de arte da temática que se encontra implícita ao relatório: a

integração de cuidados de saúde. Aqui podem-se encontrar as principais razões que

justificam a sua consideração, é abordada a sua vertente conceptual e descritas as

dimensões críticas de integração. São ainda tratadas as principais alterações

provocadas no sistema de produção, as suas potencialidades e as barreiras mais

relevantes do seu processo de implementação1.

1 Parte deste capítulo encontra-se publicada no artigo de Santana e Costa denominado “A integração

vertical de cuidados de saúde: aspectos conceptuais e organizacionais”, publicado na Revista Portuguesa de Saúde Pública, Volume Temático 7, 2008

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No capítulo relativo à nota metodológica, são descritas as principais etapas que foram

desenvolvidas ao longo do trabalho e que permitiram contribuir para o alcance do

objetivo central definido.

Por sua vez, no capítulo IV descreve-se sumariamente a situação atual em Portugal,

sendo este composto por duas abordagens distintas: na primeira, são resumidos

alguns dos trabalhos que foram realizados sobre o tema em causa no nosso contexto;

na segunda, são apresentadas experiências de integração de cuidados de saúde

identificadas pelas unidades prestadoras.

No capítulo V são apresentadas as medidas de promoção da integração de cuidados

de saúde Estas encontram-se estruturadas em função de cada uma das dimensões de

integração (clínica, informação, financeira, administrativa, normativa e sistémica).

No último capítulo deste trabalho, a conclusão, são sintetizadas as principais

motivações que conduziram à realização do estudo, seus objetivos, aspetos

metodológicos, resultados mais significativos e implicações.

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CAPÍTULO II

NOTA METODOLÓGICA

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II. Nota Metodológica

Após o enquadramento teórico, que consistiu na descrição do estado de arte através

da realização de uma revisão de literatura sobre a temática em estudo e no sentido de

se alcançar o objetivo definido, optou-se por utilizar uma metodologia que foi

concretizada em duas etapas principais:

A realização de um diagnóstico de situação;

A definição de medidas promotoras de integração de cuidados de saúde.

No que respeita ao diagnóstico de situação, centrado sobretudo na realidade

portuguesa, foram desenvolvidos duas tarefas complementares:

Uma breve descrição sobre os estudos anteriores realizados na área da

integração de cuidados de saúde no nosso país. Sobretudo foram selecionados

os estudos considerados mais relevantes que permitissem a realização de um

diagnóstico da atual situação portuguesa;

De forma a identificar boas experiências de integração que se encontrem em

prática e que todavia não tenham sido divulgados em documentação de acesso

público, foi solicitada a colaboração das unidades de saúde pertencentes ao

SNS (hospitais, ARS e ULS), no sentido de estas identificarem três boas

experiências de integração de cuidados de saúde em que a sua instituição

esteja envolvida. Para a seleção destas experiências consideraram-se três

características: inovação, impacto e implementação.

Por sua vez, a definição de medidas promotoras de integração desenvolveu-se tendo

em consideração:

As principais conclusões das etapas anteriores, enquadramento teórico e

diagnóstico de situação;

Um conjunto de pressupostos de partida;

O cumprimento de critérios de seleção;

Debate e discussão das medidas entre os membros do GdT e com outros

peritos de áreas consideradas relevantes para o efeito.

Como pressupostos de partida para a definição de medidas promotoras de integração

de cuidados de saúde, o GdT definiu o seguinte:

De entre as inúmeras definições utilizadas para definir integração de cuidados

de saúde, para a concretização do relatório, o GdT adotou a definição da

Organização Mundial da Saúde (OMS), estabelecida em 2008, a saber:

“Entende-se como integração, as formas de interligação e cooperação na

prestação e a garantia de continuidade assistencial dos utentes do SNS, tendo

em vista a maximização da eficiência nas respostas e os melhores resultados

em saúde.”;

Para a definição das medidas tendentes à integração de cuidados de saúde, foi

tido em consideração o atual contexto do sistema de saúde português,

tentando-se efetuar um balanço racional entre o que seria um cenário

desejável e o que é possível. Este balanço não impede, no entanto, que sejam

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efetuadas propostas ambiciosas e que contenham elementos de rutura e

mudança face à nossa realidade atual;

A(s) mesma(s) solução(ões) podem não se aplicar de uma forma generalizada

a todas as situações/ contextos, pois as necessidades de integração poderão

ser diferentes, os pontos de partida poderão ser distintos. São as realidades,

dinâmicas e atores locais os grandes promotores ou não da integração de

cuidados de saúde. Neste sentido, a definição de medidas teve em

consideração a ideia de que não é possível aplicar modelos únicos e genéricos

em todas as realidades do nosso sistema de saúde. Devem encontrar-se

disponíveis respostas organizacionais, instrumentais e técnicas gerais que por

um lado facilitem a geração de iniciativas de integração, tal como por outro

lado, permitam uma adoção ajustada e customizada em função das

características próprias de cada contexto;

Entende-se que a integração plena é inatingível, isto é, considera-se que

existirá sempre uma atividade adicional que promova a integração de cuidados

de saúde. A capacidade de fazer melhor e diferente será sempre o motor da

inovação e capacidade de criação de novas soluções para os novos desafios

colocados pela evolução das características da oferta e procura de cuidados de

saúde;

A perspetiva de integração de cuidados de saúde implica uma mudança de

paradigma na resposta face aos novos desafios colocados pelas diferentes

variáveis que influenciam a evolução dos utentes, das unidades de saúde e do

mercado. A capacidade de benefício deverá ter sempre um alcance de médio e

longo prazo;

Outro pressuposto de partida, prende-se com o entendimento de que o

processo de integração não deverá ser encarado como um resultado em si –

não se trata de um objetivo em si mesmo - mas como um processo facilitador

do alcance dos outcomes desejáveis para o sistema de saúde.

As medidas são propostas e descritas como corpos únicos, no entanto, não

deverão ser encaradas como variáveis binomiais (1 ou 0), é recomendável que

existam experiências piloto, possibilidade de implementação faseada e

avaliação de algumas das medidas propostas,

As medidas apresentadas podem apresentar ordem de prioridades de

implementação distintas, embora estas não sejam sinalizadas. Contudo, as

medidas definidas nas áreas clinica, informação e financeira possam assumir

particular relevância nesta seleção;

A abordagem preconizada tenta desvalorizar as instituições per se,

entendendo-se que estas são organismos vivos que fazem parte de um

sistema complexo onde a relevância é alcançada nas suas relações funcionais.

As organizações são importantes no contexto global do sistema, mas só

conseguem prosseguir a sua atividade de forma efetiva se relacionadas entre

si de forma coordenada. Assim, as atividades de integração de cuidados de

saúde deverão ser neutrais, equidistantes na sua relação face aos níveis de

cuidados de saúde que hoje se encontram estabelecidos no nosso sistema de

saúde;

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Apesar do seu cariz transversal, as propostas são individualizadas por

dimensão de integração, sendo para o efeito consideradas seis dimensões

principais: clínica, informação, financeira, normativa, administrativa e sistémica;

O conjunto relativamente vasto de medidas que poderão ser tomadas no âmbito da

integração de cuidados de saúde exigiu o recurso a critérios de seleção preferenciais

que permitam um equilíbrio adequado entre o seu número e a sua qualidade. Neste

sentido, foram definidos pelo GdT três critérios base:

O impacto previsível: entende-se neste contexto “impacto” pela capacidade de

alcance, ou seja, uma medida terá mais impacto quanto maior for o número de

intervenientes que serão abrangidos pela medida;

Capacidade de execução no nosso contexto: foi também tida em consideração

a capacidade operacional de colocar em prática a medida;

Sempre que possível, a escolha das medidas a adotar deverá basear-se em

estudos que demonstrem a evidência científica dos seus benefícios.

Após a definição das medidas, foi efetuado um processo de debate e discussão em

várias sessões sobre as vantagens e desvantagens de cada uma das medidas. Esta

consolidação e maturação das medidas, resulta não só da participação dos membros

do GdT como também de peritos convidados que contribuíram com o seu

conhecimento para melhorar o conjunto de ideias definido à partida

Por uma questão de facilidade e uniformização de apresentação das medidas

propostas, definiu-se uma estrutura semelhante entre estas, contemplando: a sua

designação, justificação (rationale), descrição, condições de aplicação e resultados

esperados. Sobre esta estrutura de apresentação, é relevante referir a importância

particular das condições de aplicação para a concretização de cada medida. Aqui são

identificadas algumas iniciativas que permitirão o desenvolvimento adequado da

medida em causa e pode servir como um guião para o alcance de cada uma das

medidas propostas.

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CAPÍTULO III

ENQUADRAMENTO TEÓRICO

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III. Enquadramento teórico

3.1. Os principais desafios dos sistemas de saúde

Os sistemas de saúde enquanto instrumentos sociais fundamentais na proteção à

doença das populações que servem, são entidades abertas e sujeitas à realidade

onde estão inseridas e sua dinâmica evolutiva. Estes, encontram-se inseridos num

mundo cada vez mais onde a mudança acontece de forma mais frequente e rápida

exigindo uma postura de pró-atividade e flexibilidade de adaptação a um ambiente

contingencial das formas organizacionais sejam elas de natureza política, social ou

económica. Neste contexto de complexidade global, os novos problemas inerentes ao

processo de mudança interferem decisivamente nos sistemas de saúde, colocando-lhe

novos desafios, moldando as suas características estruturantes.

Um conjunto de fenómenos são geralmente aceites. É expectável que as próximas

décadas fiquem marcadas por um conjunto de fenómenos cuja identificação é

amplamente consensual. Entre eles destacam-se os seguintes desafios major:

O envelhecimento da população: sobretudo nos países mais desenvolvidos, o

prolongamento da duração média da vida humana acarreta uma maior

necessidade de consumo de recursos em saúde. Surgirão também, com uma

tendência crescente, discussões éticas sobre o prolongamento da vida humana

(1);

Mudança epidemiológica: A quarta fase da transição epidemiológica encontra

fundamento em doenças crónicas, ligadas ao envelhecimento da população,

onde deverá existir uma atuação dirigida a “dar não só mais anos à vida, mas

também mais vida (qualidade) aos anos”. A previsível maior prevalência de

doenças crónicas, associadas a condições de multimorbilidade e de co-

morbilidades, exigirá uma resposta estrutural que contemple uma gestão

programada, definida em função dos níveis de risco de cada utente, e

sobretudo um melhor nível de coordenação entre os diferentes níveis de

cuidados (2). O sistema de prestação deve também apresentar capacidade de

resposta mais rápida a situações de doença inesperadas, como são exemplo

as doenças transmissíveis (SIDA);

Alteração do perfil dos consumidores: a crescente globalização poderá

potenciar uma multiplicidade de origens étnicas e culturas que carecerá de

uma maior abertura na perceção das necessidades de cada grupo específico

(1). Por outro lado, encontramo-nos num tempo onde as expectativas dos

consumidores traduzidas em procura de valor – preço e qualidade –

relativamente aos seus sistemas de saúde nunca foram tão elevadas (3). A

diminuição da assimetria de informação (mais disponível) entre consumidor e

prestador permite uma escolha mais racional, exigente e pró-activa dos

agentes de procura;

Avanços científicos no tratamento da doença: para além dos problemas éticos

habitualmente associados ao desenvolvimento da tecnologia clínica e

biológica, espera-se um crescimento dos custos inerentes a novas tecnologias.

De outra forma, também se colocarão desafios à gestão de organizações de

saúde na adaptação e resposta a novas técnicas e formas de tratamento da

doença (crescimento do ambulatório);

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As tecnologias de informação: têm apresentado um desenvolvimento muito

significativo nas últimas décadas e constituem um imperativo de suporte

funcional, quer estratégico, quer operacional das organizações prestadoras de

cuidados de saúde. A sua aplicação ao sector poderá deter impacto ao nível da

rapidez na disponibilização de informação e na partilha de conhecimento,

permitindo melhores e mais rápidas decisões, uma melhor coordenação entre

entidades e exigirá também, por outro lado, mais formação e capacidade para

tratar problemas relacionados com a confidencialidade de informação;

Alteração da definição de prestação de cuidados de saúde: o próprio conceito

básico de “prestação” terá tendência para mudar de uma atuação centrada no

antigo paradigma “tratamento da doença”, para um novo paradigma mais

focalizado no “bem-estar geral do doente”. A oferta de cuidados polarizada nas

estruturas hospitalares deverá dar lugar à promoção da saúde e prevenção da

doença, sendo necessária uma maior coordenação das atividades produtivas e

a criação de valor para o utente (1) (4). A reorientação da prestação de

cuidados de saúde para as fases primárias de doença encontra-se no conceito

de “P4 medicine” entendendo-se como preventiva, preditiva, personalizada e

participativa (5) (6);

Melhorar o nível de qualidade assistencial: atualmente os sistemas de saúde

padecem de uma alarmante taxa de erros e cuidados desnecessários (7). A

implementação de sistemas de qualidade permitirão utilizar protocolos e

guidelines clínicos, processos de referenciação inter e multidisciplinares

tendentes a minorar práticas erróneas, menos invasivas, indolores, onde as

fronteiras entre a organização e o individuo sejam minimizadas;

Reafectação de recursos: A opção estratégica de edificação de infra-estruturas

hospitalares durante as décadas de 60 e 70 criou problemas de rentabilização

da capacidade instalada numa perspetiva evolutiva do estado de arte

tecnológico. A minimização da duração de internamento, incidindo

preferencialmente em comportamentos produtivos tendentes a gerar um efeito

substituição entre o internamento e o ambulatório programado/ domicílio do

utente, parece garantir uma superior qualidade assistencial e um incremento da

eficiência técnica e económica;

O genoma humano e a medicina personalizada: os recentes avanços

científicos na investigação do genoma humano conduzem a uma evolução

tendente para alterar o atual paradigma da prestação de cuidados de saúde. A

possibilidade de centrar a prevenção, diagnóstico, tratamento e reabilitação em

função das características individuais de cada doente, abrirá todo um conjunto

de novos desafios na forma como a medicina é praticada e consequentemente

na organização e gestão da prestação de cuidados de saúde. Esta

epidemiologia genética (8), apesar de constituir uma área relativamente

recente, constitui na atualidade uma área com grande intensidade científica no

seu desenvolvimento e estudo, sendo de destacar o esforço na caracterização

dos efeitos genéticos e suas interações em contextos populacionais (6);

Sustentabilidade financeira e pressão de tesouraria. Num contexto global de

recursos escassos, onde existe uma significativa e crescente afetação de

recursos financeiros ao sector da saúde um pouco por todo o mundo, exige-se

cada vez mais um elevado nível de eficiência e efetividade na prestação de

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cuidados de saúde. Particularmente, o nosso país vive um contexto de ajuda

financeira externa, pelo que a necessidade de ajuste rápido de organizações

coletivas e individuais a níveis de endividamento suportáveis e índices de

desenvolvimento sustentáveis é uma premissa básica com a qual temos e

teremos de conviver nos próximos anos. A falta de liquidez dificulta a gestão

quotidiana e hipoteca a capacidade de gerar riqueza a partir de novos ciclos de

investimentos económicos. Para além da situação económico-financeira do

país, salienta-se igualmente que o atual estado financeiro das organizações de

saúde é extremamente preocupante, gerando défices operacionais

significativos e sistemáticos, tendo existido ao longo dos últimos anos uma

tendência de agravamento desta situação.

Os problemas supra mencionados, eminentemente de procura de cuidados, ubíquos e

concomitantes, partilham o predicado comum da sua emergente resolução, exigindo

uma réplica efetiva ao nível da governação dos sistemas de saúde em geral. As

organizações prestadoras de cuidados enquanto pilares estruturantes dos sistemas de

saúde, detêm também um papel central e fundamental na capacidade de resposta a

estes desafios, onde particularmente se salienta a necessidade da sua boa gestão

para garantir uma resposta flexível e adaptativa constante ao novo meio envolvente

emergente.

Entre estas respostas, salientam-se as iniciativas pragmáticas de reestruturação

organizacional da oferta de cuidados na qual se insere o movimento de integração de

cuidados de saúde. De entre as diversas estratégias utilizadas ao longo do processo

contínuo de reforma dos sistemas de saúde, destaca-se então a criação de

organizações integradas em saúde, assumindo-se mesmo como uma forma de

implementação dessa reforma (9), no intuito de combater o “conjunto de ilhas” onde

assenta a atual estrutura fragmentada de oferta de cuidados de saúde (10).

A integração de cuidados enquanto movimento de reforma dos sistemas de saúde tem

tido nas últimas décadas um interesse crescente por parte de prestadores, pagadores,

analistas, políticos (11) (12) e sofreu um desenvolvimento significativo um pouco por

todo o mundo. A crença generalizada das suas potencialidades enquanto resposta aos

grandes problemas dos sistemas de saúde (11), gerador de ganhos de qualidade

assistencial e melhores resultados em saúde (13), conduziu ao seu agendamento

político em muitos países europeus (14) (15). Neste sentido, os esforços dos gestores,

políticos e investigadores em saúde têm sido dirigidos cada vez mais para as

interligações das diferentes componentes do sistema, uma vez que a fraca integração

de cuidados primários, secundários e terciários resultam em ineficiência e falta de

qualidade, causando perturbações desnecessárias aos utentes (16).

A integração constitui hoje uma buzzword a nível internacional (17) e a sua

importância pode ser comprovada pela vasta literatura produzida sobre esta matéria

através de publicações de cariz académico e cientifico donde se destaca o

International Journal of Integrated Care. Também a Organização Mundial de Saúde

reconheceu a sua relevância no âmbito da reforma dos sistemas de saúde, traduzindo-

a na criação de um Observatório específico sobre a presente temática, na cidade de

Barcelona, em 2001. O objetivo principal deste Observatório consiste na identificação

das estratégias utilizadas em cuidados de saúde em diferentes países, de forma a

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facilitar e encorajar a coordenação entre os níveis de prestação de cuidados de saúde,

proporcionando uma melhoria dos resultados dos sistemas de saúde (16).

Porém, a importância do tema em questão nem sempre é acompanhada por uma

unanimidade de apoio, pois se a grande maioria dos autores concorda com a

integração vertical num plano meramente teórico – a integração tem uma conotação

positiva, é algo que ao se atingir é positivo (18), já muitos por outro lado, duvidam do

seu sucesso prático. Pela alteração profunda que provoca ao nível dos sistemas de

saúde, a argumentação favorável e desfavorável traduz normalmente uma forte carga

politica, institucional e técnica, tornando o tema controverso e eventualmente

polémico, gerador de conflituosidades e contraposições (19). A integração pode ser

vista de várias perspetivas e servir para atingir diversos fins, tratando-se de um tema

vasto que não se encontra de forma alguma esgotado nos seus objetivos (18).

De acordo com Grone e Garcia-Barbero (2001) (16), a integração de cuidados é um

desafio dos sistemas de saúde europeus e um pouco por todo o mundo, sendo de

registar o seu particular desenvolvimento ocorrido nas décadas de 70 e 80. O

movimento de integração atingiu o seu apogeu na década de 90, nos EUA, que

evoluiu para uma estrutura de oferta onde atualmente cerca de 92% dos americanos

abrangidos pelo sistema segurador pertencem a sistemas integrados de prestação.

Também em Portugal ocorreram movimentos de reforma tendentes a integrar

cuidados de saúde, conforme comprova a constituição de Centros Hospitalares ou de

Unidades Locais de Saúde um pouco por todo o território nacional. Atualmente, a

integração de cuidados de saúde constitui mesmo uma das estratégias de

reorganização da oferta de cuidados de saúde, conforme se pode comprovar pelas

intenções manifestadas em sede de programa de governo (XVII) (20), que prevê: “o

desenvolvimento de experiências de financiamento global, de base populacional, por

capitação ajustada, integrando cuidados primários e hospitalares, numa linha de

Unidades Integradas de Saúde, respeitando a autonomia e a cultura técnico-

profissional de cada instituição envolvida”.

De uma forma genérica, o objetivo principal que está subjacente ao presente trabalho

é contribuir para a discussão de matérias relacionadas com a integração de cuidados

de saúde e sua influência ao nível da gestão de organizações de saúde, através de

uma definição conceptual que todavia se encontra por concretizar no nosso país.

3.2. Porquê integrar?

Habitualmente, são reconhecidos no sector da saúde três níveis de prestação de

cuidados de saúde que estruturam a oferta, mas cuja designação poderá encontrar

diferentes aceções, consoante o objetivo e o contexto em causa:

Por nível de prestação: primária, secundária e terciária;

Por tipo de cuidados: gerais, especializados e continuados;

Por facilidades: Centros de Saúde, Hospitais e Unidades de Cuidados

Continuados;

Por natureza: pré-agudos, agudos e pós-agudos;

Por utilização: primeira linha e segunda linha.

Page 22: Relatório do Grupo de Trabalho criado para a definição de proposta ...

22

Em termos conceptuais2, a definição de Cuidados de Saúde Primários resultou da

conferência de Alma – Ata (1978), onde participaram cerca de 134 países, entre os

quais se encontrava Portugal. Os Cuidados Primários podem ser entendidos como “os

cuidados essenciais de saúde baseados em métodos e tecnologias práticas,

cientificamente bem fundamentadas e socialmente aceitáveis, colocadas ao alcance

universal de indivíduos e famílias da comunidade, mediante a sua plena participação e

a um custo que a comunidade e o país podem manter em cada fase de seu

desenvolvimento, no espírito de autoconfiança e autodeterminação. Representam o

primeiro nível de contacto dos indivíduos, da família e da comunidade com o sistema

nacional de saúde, pelo qual os cuidados de saúde são levados o mais proximamente

possível aos lugares onde pessoas vivem e trabalham, e constituem o primeiro

elemento de um continuado processo de assistência à saúde”.

Vuori (1983) (21) por seu turno, definiu os cuidados de saúde primários como um nível

de cuidados de primeiro nível, isto é, a sua característica fundamental reside no

primeiro contacto da população com os cuidados de saúde. A definição de Barbara

Starfield (1998) (22) para cuidados primários identifica, por outro lado, quatro

elementos estruturantes: são cuidados de primeiro contacto (gatekeepers);

longitudinais (ao longo da vida); compreensivos (globais, holísticos); devem garantir a

coordenação/ integração (com os restantes níveis de cuidados).

Por sua vez, os cuidados secundários podem ser definidos pela representação do

conjunto de ações de prevenção, diagnóstico e tratamento realizadas a doentes na

fase aguda de doença, cujos episódios se caracterizam pela necessidade de

intervenções especializadas, exigindo o recurso a meios/ recursos com tecnologia

diferenciada. Habitualmente são prestados em unidades hospitalares e resultam em

episódios de curta duração.

Recentemente, foi também introduzido em Portugal o conceito de Cuidados

Continuados Integrados, utilizado para designar o conjunto de intervenções

sequenciais de saúde e/ ou de apoio social, decorrente de avaliação conjunta,

centrado na recuperação global entendida como o processo terapêutico e de apoio

social, ativo e contínuo, que visa promover a autonomia melhorando a funcionalidade

da pessoa em situação de dependência, através da sua reabilitação, readaptação e

reinserção familiar e social (DR I Série-A nº109 DL nº101/2006 de 6 de Junho).

Em termos organizacionais, segundo a Lei de Bases da Saúde (1990) (23), na sua

Base XIII nº1, o sistema de saúde português assenta nos cuidados de saúde primários

que devem situar-se junto das comunidades. De acordo com Ramos (1994) (24), a

presente estrutura de oferta, ou seja, a plataforma organizacional onde assenta a

prestação de cuidados de saúde à população, encontra-se orientada em função de

bases epidemiológicas, em critérios de custo-efetividade bem como em princípios de

acessibilidade, adequação, aceitabilidade e continuidade de cuidados. Silva (1983)

(19) por seu turno, refere que a atual estrutura de oferta de cariz bipolar baseada

sobretudo em cuidados primários e secundários foi determinada mormente por

motivos de ordem técnica.

2 A este nível, importa salientar a ausência conceptual dos termos referidos no glossário oficial do

Ministério da Saúde (DGS) publicados no INE.

Page 23: Relatório do Grupo de Trabalho criado para a definição de proposta ...

23

Porém, esta estrutura organizacional da prestação de cuidados de saúde pode ser

equacionada à luz de variados argumentos que importam salientar:

Natureza económica: as especificidades intrínsecas identificadas em saúde, colocam

em causa a natureza da estrutura de mercado apresentada anteriormente no que

concerne à oferta de cuidados. De acordo com Evans (1981) (25), sub-mercados

como os cuidados hospitalares, prescrição de medicamentos ou consultas médicas,

tipificam uma forma de integração vertical incompleta que impedem a descrição de

uma simples relação bilateral direta entre consumidores e uma classe

aproximadamente homogénea de prestadores, ou seja, a conexão entre prestadores

de primeira linha e segunda linha resulta da relação direta entre prestador/ utente ou

produtor/ consumidor e não necessariamente da identidade da instituição ou da

natureza do serviço prestado. O mercado funciona entre prestador e consumidor e não

entre consumidor e cuidados primários ou entre consumidor e centro de saúde.

A estrutura de mercado do lado da oferta deve ser então encarada como um pilar

assente basicamente por prestadores de primeira e segunda linha. Salienta-se porém

a este nível, que a fundamentação argumentativa mais característica entre os

diferentes atores do sistema de saúde reside precisamente na sua separação técnica

por um lado e pela perceção visual causada pelas diferentes estruturas físicas das

unidades de saúde (centros de saúde e hospitais) por outro.

Ainda ao nível económico, importa salientar que o mercado é o local onde se

encontram as forças de oferta e procura com vista a encontrarem um equilíbrio que é

fornecido através dos preços (26). No sector da saúde, o mercado é imperfeito devido

a um conjunto de características intrínsecas, salientando-se no contexto da presente

problemática:

O facto de a procura ser derivada (27), isto é, procuram-se cuidados de saúde

para se obter saúde. A atual estrutura de oferta por níveis de cuidados reflete

esta limitação, uma vez que se encontra organizada de acordo com os níveis

de cuidados prestados e não com o estado de saúde desejado.

A falta de homogeneidade do bem e eventual interdependência no momento do

consumo (28). De facto, quando são prestados serviços tão díspares como

consultas, internamentos, consumo de medicamentos ou meios

complementares de diagnóstico, conseguimos identificar uma pletora

qualitativa geradora de vários mercados (não homogeneidade), mas também,

um conjunto de consumos interdependentes entre si que criam uma cadeia de

valor. A indivisibilidade do bem cuidados de saúde, resultado dessa

interdependência multidisciplinar, é uma das características mais significativas

do mercado para a abordagem à integração vertical de cuidados.

Percetividade por parte do utente: para o consumidor assimetricamente informado

face ao agente de oferta numa situação de doença, não existe a perceção e

consecutivamente a capacidade de decisão em optar por consumos de serviços de

saúde que oferecem diferentes níveis de cuidados. De acordo com Costa (1996) (29),

a divisão entre cuidados primários e secundários de saúde corresponde

essencialmente a uma preferência do prestador, uma vez que a perceção do

Page 24: Relatório do Grupo de Trabalho criado para a definição de proposta ...

24

consumidor se centra em cuidados de saúde, desconhecendo se padece de um

problema de natureza “primária” ou “secundária”.

Autonomia produtiva: Se a fundamentação técnica da medicina geral e familiar

enquanto disciplina científica onde se estrutura a prestação de primeira linha está bem

sustentada nas suas onze características fundadoras (30), já as suas fronteiras e

âmbito de atuação poderão ser questionáveis ao nível do pleno gozo de autonomia

organizacional e de gestão. Salienta-se esta preocupação porque:

A gestão comum de estruturas de produção (clínica, financeira e

administrativa) entre campos de conhecimento técnico tão díspares como a

oftalmologia, a pneumologia, neurologia, ortopedia, etc., deixando de fora a

base assistencial do doente é atualmente justificável e geralmente aceite. No

entanto, a título meramente exemplificativo, é facilmente percetível que a

medicina interna hospitalar se encontra tecnicamente mais próxima da

medicina geral e familiar do que da cirurgia cardio-torácica, não deixando estas

de ser disciplinas tecnicamente autónomas mas geridas conjuntamente;

A sua proximidade e consequente conhecimento das características dos

consumidores são fundamentais para o continuum do processo de produção,

nomeadamente para os prestadores de segunda linha com fortes implicações

ao nível da eficiência (técnica e económica) e qualidade assistencial.

Epidemiológicas: Dentro dos problemas levantados pela quarta fase de transição

epidemiológica, destacam-se as doenças crónicas relacionadas com o envelhecimento

da população. Estas doenças requerem uma resposta diferente da que atualmente

podemos encontrar, centrada mormente nos cuidados agudos (31). Assim, é requerido

um maior grau de integração entre os diferentes atores da estrutura de oferta de

cuidados de saúde de forma a permitir uma melhor gestão das doenças que provocam

maiores limitações aos utentes e gastos evitáveis à sociedade.

Custo-Efetividade: As consequências da fragmentação da estrutura de oferta de

cuidados de saúde em níveis conduz a uma possível duplicação de procedimentos e

de custos de transação que não permite a gestão e decisão conjunta sobre processos

clínicos ou de afetação de recursos. Se por um lado são reconhecidos os benefícios

ao nível do custo-efetividade da intervenção de especialistas, por outro, deverão

também ser tidas em consideração as vantagens da utilização do trabalho

desenvolvido pelos clínicos gerais, elementos mais conhecedores do estado de saúde

das populações que servem e que podem influenciar decisivamente o custo-

efetividade das intervenções em saúde.

Prestação Episódica: a atual resposta dos serviços prestadores de cuidados de

saúde caracteriza-se por ser episódica. A cada momento onde há manifestação de

necessidades de cuidados de saúde por parte dos consumidores, existe uma resposta

que corresponde a um episódio, ou seja, a resolução de determinado problema de

saúde pode originar diversos contactos isolados e consequentemente procedimentos

não integrados e não comunicantes entre si.

Financeira: a separação dos instrumentos financeiros de suporte à gestão das

organizações de saúde podem originar um desalinhamento estratégico entre estas: a

Page 25: Relatório do Grupo de Trabalho criado para a definição de proposta ...

25

possível utilização de unidades de pagamento pela produção nos cuidados

hospitalares gera (por exemplo) um conflito com os objetivos de promoção da saúde e

prevenção da doença praticados pelos cuidados de saúde primários, uma vez que

mais produção para o hospital significa também um maior volume de receita.

Em termos pragmáticos, o resultado da atual dupla polaridade da estrutura de oferta

resulta numa fragmentação entre as unidades prestadoras de cuidados de saúde (31).

De acordo com Ahgren (2003) (32), a fragmentação sucessiva da prestação de

cuidados de saúde, resulta de três causas principais:

A descentralização da prestação centrada nos prestadores de primeira linha

que agem de forma independente;

A subespecialização dos cuidados de saúde desenvolvida a partir das

preferências dos produtores (critérios de oferta), devido sobretudo ao avanço

da ciência médica, onde os profissionais adquirem cada vez mais

conhecimentos especializados em cada área e vêem diminuir o seu

conhecimento e prática multidisciplinar. Esta situação tem como consequência

lógica a falta de compreensão para o facto de a prestação de cuidados nem

sempre requerer melhores profissionais, mas um melhor funcionamento do

sistema (conjunto de elementos interligados entre si com o mesmo propósito);

Principio de organização profissional, onde os enfermeiros, médicos e outros

profissionais atuam no sentido de tratar o doente, assumindo a

responsabilidade individual pelos atos realizados. Neste tipo de cultura

organizacional, atingir objetivos globais comuns tem baixa prioridade;

Estes fatores individualmente e conjuntamente contribuíram para o funcionamento

autónomo da prestação de cuidados de saúde. A fragmentação é um obstáculo à

coordenação de atividades, uma vez que os cuidados de saúde são prestados por

diferentes funções e raramente um único elemento responde por todo o processo de

forma integral (32). As consequências desta situação para os agentes do mercado

poderão ser brevemente resumidas na seguinte tabela:

Tabela 1 - Consequências da fragmentação da estrutura de oferta de cuidados de

saúde

Agentes

Pagador

Prestador

Consumidor

Consequências

Perda de eficiência Promoção da doença Fraca coordenação

Apenas responsáveis pela sua intervenção Cultura própria Organização preferencial

Falta de acessibilidade Desorientação no sistema Perda qualidade assistencial Falta de percetividade

A fragmentação, por outro lado, contraria o princípio de que as organizações de saúde

não são concorrenciais entre si, devendo denotar, pelo contrário, preocupações de

articulação, de integração e de complementaridade (33).

Page 26: Relatório do Grupo de Trabalho criado para a definição de proposta ...

26

O Relatório do Institute National of Medicine dos EUA subordinado ao tema “Crossing

the quality Chasm: A new health system for 21st Century” (2001) (34) refere a

impossibilidade de continuar a prestar melhores cuidados de saúde baseados

exclusivamente no aumento de competências técnicas, procedimentos clínicos ou

inovação tecnológica. Para alcançar serviços seguros, eficientes, efetivos, oportunos,

com equidade e centrados no cidadão deverá existir um esforço na consolidação e

harmonização.

Também a OMS menciona a este nível, que existe a necessidade de combater a atual

fragmentação da prestação de cuidados de saúde de forma a orientar o sistema para

as necessidades dos utentes, definindo prioridades e gerindo os recursos. Destaca

igualmente, a importância de caminhar no sentido de uma integração dos sistemas de

saúde, onde a promoção da saúde, o diagnóstico, tratamento e reabilitação devam ser

etapas encaradas como uma interligação contínua de cuidados de forma a obter

ganhos em saúde (31).

A necessidade de reequacionar o modo de intervenção das organizações prestadoras

com o intuito de evitar descontinuidades na prestação, reduzir a sua fragmentação

atual e aumentar a eficiência (15) deverão constituir um desígnio estratégico.

Em Portugal, esta necessidade encontra-se presente desde há alguns anos conforme

se pode conferir no texto introdutório do estatuto do SNS (DL nº11/93 de 15 de

Janeiro) em 1993: “A tradicional dicotomia entre cuidados primários e cuidados

diferenciados revelou-se não só incorreta do ponto de vista médico mas também

geradora de disfunções sob o ponto de vista organizativo. Daí a criação de unidades

integradas de cuidados de saúde - unidades de saúde -, que hão-de viabilizar a

imprescindível articulação entre grupos personalizados de centros de saúde e

hospitais. A indivisibilidade da saúde, por um lado, e a criteriosa gestão de recursos,

por outro, impõem a consagração de tal modelo, em que radica um dos aspetos

essenciais da nova orgânica do Serviço Nacional de Saúde”.

3.3. A integração de cuidados de saúde

3.3.1. Definição de integração

Etimologicamente, o verbo integrar provém do latim “integer” (inteiro) e o seu

significado sugere uma ação ou movimento onde diferentes partes se fundem num

todo (35). Em termos genéricos, a integração é um processo que envolve a criação e a

manutenção ao longo do tempo de uma estrutura comum entre os parceiros (e

organizações) independentes com o propósito de coordenar3 a sua interdependência4

no sentido de permitir o funcionamento conjunto no âmbito de um projeto coletivo (15).

3 A Coordenação representa a mão visível que controla as relações entre os elementos do sistema. De

acordo com Alter e Hage (1993) (107) a coordenação deve garantir três pressupostos: todos os meios (recursos, serviços, competências) se encontram disponíveis; o acesso a todos os serviços e bens gerados pela organização está garantido; e os vários elementos interagem de forma harmoniosa ao longo do tempo. A coordenação implica a regulação dos intervenientes na produção no sentido de proporcionar uma melhor interligação funcional. Envolve a criação de planos terapêuticos comuns que integrem os diferentes inputs do processo, incluindo os profissionais médicos, enfermeiros, utentes, famílias para obtenção de um objectivo comum (77).

Page 27: Relatório do Grupo de Trabalho criado para a definição de proposta ...

27

De acordo com uma revisão de literatura realizada por autores canadianos, verificou-

se que o conceito de integração de cuidados de saúde é utilizado de 175 formas

diferentes em estudos publicados em revistas com validade científica (36). Também

pode ser abordado através de várias perspetivas, ou utilizado como meio para

alcançar objetivos diferentes (18). Neste sentido, não existe nem uma definição

standard de integração de cuidados (37) nem uma forma de operacionalização

perfeita. Vários autores definiram este conceito consoante a sua perspetiva.

Desta forma, quando se aborda o tema da integração de cuidados de saúde, torna-se

prudente considerar que existe um conjunto de outros conceitos que poderão estar

associados a esta definição, entre os quais se destacam particularmente: continuidade

de cuidados, coordenação de cuidados, colaboração de cuidados, gestão de cuidados,

gestão da doença, gestão de caso, cuidado centrado no doente, entre outros (18) (38),

dificultando a sua implementação.

Tal como o próprio conceito de integração de cuidados, que como vimos anteriormente

pode apresentar diversas aceções e limites conceptuais, também a denominação das

organizações prestadoras de cuidados de saúde integradas podem ser descritas

internacionalmente por várias designações, entre as quais se destacam “Integrated

Delivery Networks” (39), “Integrated Health Networks” (40) (41), “Integrated Health

Delivery Systems” (42), “Integrated Healthcare Delivery Systems” (43),“Integrated

Delivery Systems” (44) (45), “Integrated Health Care Systems” (46), “Organized

Delivery Systems” (47) (48) ou mais recentemente “Accountable Care Organizations”

(49).

Em 1967, Lawrence e Lorsch afirmaram que a integração de cuidados tinha origem na

teoria organizacional e definiram-na como o processo de unificar esforços entre os

vários subsistemas na realização dos objetivos da organização (50).

Overtveit (1998) (51) define a integração de cuidados pelos métodos e tipos de

organizações que oferecem os serviços preventivos com maior custo-efetividade e

asseguram a continuidade e coorganização entre os diferentes serviços, à população

necessitada.

Em 2000, a integração de cuidados foi definida como um conjunto de técnicas e

modelos organizacionais desenhados para criar colaboração, coordenação e

cooperação dentro e entre os prestadores, em termos curativos e de cuidado, tanto na

área financeira como administrativa (52).

Em 2001, Grõne e Garcia (16) definiram a integração de cuidados como o conceito de

agrupar inputs, oferta, gestão e organização de serviços relacionados com o

diagnóstico, tratamento, cuidados, reabilitação e promoção de saúde.

4 Diz-se que estamos perante uma relação de Interdependência quando nenhum elemento (individuais ou

organizacionais) domina todos os recursos e/ou técnicas para resolver determinado processo, existindo

uma necessária complementaridade entre os diferentes elementos.

Page 28: Relatório do Grupo de Trabalho criado para a definição de proposta ...

28

Para Kodner e Spreeuwenberg em 2002 (17) a integração é um conjunto coerente de

métodos e modelos ao nível clínico, financeiro, administrativo, organizacional e de

prestação de serviços desenhados para criar a conexão, alinhamento e colaboração

dentro e entre os setores de saúde.

Por outro lado, o conceito de desintegração também apresenta as mesmas

dificuldades, referindo-se a um conjunto de noções como: decomposição,

fragmentação, desregulamentação, falta de relações, falta de cooperação e

autonomia. Assim, é possível verificar que os conceitos de integração e de

desintegração estão associados a outros conceitos que não são nem exatos nem

fixos. Esta falta de precisão na sua delimitação e âmbito contribui naturalmente para

potenciar as divergências sobre objetivos, metas e meios de como alcançar a

integração de cuidados (18).

O conceito de integração de cuidados também varia consoante a perspetiva do

utilizador (37), nomeadamente, do consumidor, do prestador, dos gestores e

decisores, a nível organizacional e a nível profissional (tabela 2).

Tabela 2 - Definição do conceito de integração de cuidados à luz de perspetivas

diferentes

Perspetiva Definição do conceito de integração

Consumidores Envolve serviços de saúde transparentes, suaves e fáceis de navegar.

Prestadores de

saúde

Supõe trabalhar com profissionais de diferentes áreas, coordenar

tarefas e cuidados, ultrapassando as tradicionais tarefas dos

profissionais.

Gestores

Traduz uma supervisão de fluxos de financiamento combinados;

uma coordenação de metas de desempenho comuns, uma

supervisão de um grande conjunto de pessoas profissionalmente

diversificada, uma gestão de estruturas organizacionais complexas e

uma construção e manutenção de cultura compartilhada.

Decisores

políticos

Significa uma fusão de orçamentos e uma realização de avaliações

de políticas, tendo em conta que certas intervenções numa área

podem ter repercussões sobre outras devendo ser avaliadas de uma

forma global.

Fonte: adaptado de Lloyd e Wait (2006) (37)

O conceito de integração pode ainda ser encarado através de diferentes dimensões,

cuja lógica taxonómica não é consensual na literatura internacional. Propõe-se então

uma organização conceptual que considera a existência de quatro dimensões básicas:

estrutural, funcional, normativa e sistémica.

Page 29: Relatório do Grupo de Trabalho criado para a definição de proposta ...

29

Esquema 1 - Dimensões da integração

3.3.2. Dimensão estrutural

Diz-se que estamos na presença de um processo de integração estrutural quando os

elementos que constituem a estrutura organizacional do sistema sofrem alterações no

sentido da modificação dos organigramas individuais das entidades que constituem a

nova estrutura, sendo alteradas responsabilidades, relações de comando e controlo,

poder hierárquico (13) (54). A integração horizontal ou vertical no seu estado puro são

exemplos característicos desta dimensão.

Encontramo-nos perante um processo de integração horizontal, quando uma única

entidade é responsável pela gestão de organizações que prestam o mesmo nível de

cuidados de saúde (11) (16). Esta entidade resulta de uma fusão entre duas ou mais

instituições que produzem o(s) mesmo(s) serviço(s) que são substitutos próximos. Os

objetivos que norteiam este processo consubstanciam-se essencialmente pela

tentativa de conseguir gerar economias de escala e poder de mercado (ascendente-

fornecedores-melhores condições de abastecimento e descendente-clientes – melhor

serviço).

Esquema 2- Integração horizontal

Adaptado de Conrad e Shortell (1996a) (54)

Estrutural

Funcional

Sistémica

Normativa

Horizontal

Vertical

Clínica

Administrativa

Informação Dimensões

da Integração

Financeira

Hospital A Hospital B Hospital C

Page 30: Relatório do Grupo de Trabalho criado para a definição de proposta ...

30

Centro de

Saúde

Hospital

Unidade

Cuidados

Continuados

A integração horizontal dominou o mercado norte-americano durante a década de 70 e

voltou a conquistar popularidade na década de 90, alargando o seu escopo da

actividade, ganhando dimensão (18). No nosso país, a criação de centros hospitalares

ou de agrupamentos de centros de saúde um pouco por todo o território nacional são

exemplos típicos do movimento de integração horizontal em estruturas de oferta de

cuidados de saúde.

A evolução histórica diz-nos que em termos processuais a integração horizontal

precede a integração vertical, uma vez que permite criar as condições de mercado

(maior poder de mercado, efeito escala traduzido no domínio dos canais de

distribuição) para obter ganhos de eficiência.

Porém, a tipologia mais saliente e discutida no âmbito dos movimentos de integração

organizacional, por vezes mesmo confundida com o próprio conceito genérico é a

integração vertical, que pode ser definida à luz de várias ciências (15).

Assim, de entre os vários conhecimentos que utilizam e aplicam o conceito de

integração vertical, destaca-se para a presente problemática a definição económica do

termo: diz-se que estamos na presença de integração vertical quando uma

organização detém o controlo de pelo menos duas organizações sendo que pelo

menos uma delas utiliza como input o output da outra (26).

Esquema 3 - Integração vertical

Próxima, é também a sua definição no âmbito da estratégia

organizacional, que entende a integração vertical como a execução

de várias funções da cadeia operacional sob a égide de uma só

empresa, inversamente, a desintegração vertical ocorre quando

diferentes organizações são responsáveis pela execução de

atividades distintas (55).

Aplicado ao sector da saúde, o termo integração vertical é utilizado

para designar um conjunto relativamente lato de movimentos e

mudança (13). A integração vertical consiste na criação de uma

única entidade gestora (propriedade e controlo) de duas ou mais

entidades que prestam serviços em diferentes níveis de cuidados

no intuito de melhorar o estado de saúde geral de uma população

num determinado contexto regional geo-demográfico. (12) (54) (13)

(45).

Adaptado de Conrad e Shortell (1996a) (54)

Na prática, a integração vertical é um mecanismo onde uma entidade é responsável

por todos os elementos do continuum de cuidados (56) (57) ao longo dos diferentes

níveis de cuidados de saúde – primários, hospitalares e continuados (2) (58) (12) (16)

(59). No limite, diz-se que estamos na presença de uma integração completa quando

um sistema de prestação de cuidados de saúde é capaz de prestar todos os serviços a

todos os utentes que se apresentam a esse mesmo sistema (12).

Page 31: Relatório do Grupo de Trabalho criado para a definição de proposta ...

31

O conceito OMS de integração vertical (16) considera a agregação de inputs, a

prestação, e a gestão dos serviços relacionados com a prevenção, promoção,

diagnóstico, tratamento e reabilitação do estado de saúde. É um termo sinónimo dos

serviços relacionados com o acesso, a qualidade, a satisfação do utente e da

eficiência. Mais tarde, em 2008, a OMS define este conceito como "a gestão e

prestação de serviços de saúde para que os doentes recebam um contínuo de

serviços preventivos e curativos, de acordo com as suas necessidades ao longo do

tempo e em diferentes níveis do sistema de saúde." (60)

Existe também outra definição mais ampla para a integração vertical em cuidados de

saúde, que se refere à interligação entre as funções de produção e de vendas, como

acontece sobretudo no mercado norte americano, onde a estrutura de oferta de

cuidados contempla para além da produção integrada de serviços, a sua venda,

através da função seguradora (9) (61). Organizações como as Health Maintenance

Organizations (HMO), Independent Practitioner Associations ou Preferred Provider

Organizations (PPO) são exemplos da gestão conjunta entre o serviço prestado e

comercializado. A este respeito, Stahl (1995) (62) argumenta que a função seguradora

é a mais importante de uma organização integrada, derivando tal facto da colocação

de todo o sistema sob o desígnio de um risco contratual.

Sumariando, as condições concomitantes para podermos reconhecer a existência de

um contexto de integração vertical são as seguintes:

Quem: uma entidade única, responsável pelo estado de saúde;

Onde: num espaço geográfico (regional) delimitado (12);

Objeto: uma determinada população (15);

O quê: coordenar em rede os elementos que fazem parte do sistema;

Como: através da gestão dos vários níveis de prestação de cuidados;

Porquê (rationale): para garantir uma prestação de cuidados de saúde com

maior eficiência, qualidade e satisfação ao utente no sentido de acrescentar

valor ao processo de produção e gerar ganhos em saúde para a população.

Pode também encontrar-se, sobretudo nos países do Norte da Europa, a utilização do

conceito de integração vertical num sentido mais abrangente que ultrapassa as

fronteiras do sector da saúde stricto senso. Desta forma, a coordenação das

atividades desenvolvidas pelos diversos sectores sociais que de alguma forma

influenciam e podem determinar a condição de saúde das populações como é o caso

da educação ou das autoridades municipais também pode ser entendida como

sinónimo de integração, neste caso particular, dos serviços prestados à comunidade

(36). Em Portugal, o conceito de integração de cuidados no âmbito do programa de

Cuidados Continuados também contempla a conjugação das intervenções de saúde e

de apoio social, assente numa avaliação e planeamento de intervenção conjuntos (DR

I Série-A nº109 DL nº101/2006 de 6 de Junho).

Page 32: Relatório do Grupo de Trabalho criado para a definição de proposta ...

32

3.3.3. Integração funcional

A integração funcional consiste na coordenação, comunicação e cooperação efetiva

das funções e atividades básicas desenvolvidas nas unidades operacionais do sistema

de produção através da prestação de cuidados de saúde com valor para o utente (47)

(9) (18). Esta dimensão é a componente fundamental da integração vertical, uma vez

que sem a coordenação entre as diferentes unidades e prestadores dificilmente se

atingirão as potenciais vantagens, ganhos de eficiência ou se reduzirão custos (13).

Comparativamente com a dimensão estrutural da integração, esta realidade é mais

difícil de ser alcançada e de ser medida, nomeadamente “porque se torna mais fácil

juntar as peças do que fazer com que elas funcionem juntas”. Por outro lado, a

integração funcional não implica necessariamente uma integração estrutural, uma vez

que os elementos organizacionais ou individuais podem manter a sua independência

mas criar interligações funcionais tendentes a garantir maior consistência na gestão de

um episódio de doença, partilhando a responsabilidade por um problema coletivo (15).

Os mecanismos utilizados pela dimensão funcional no sentido de promover a

coordenação entre as atividades/ funções desenvolvidas pelas organizações em

saúde, poderão, entre outros, passar pela:

Criação de programas de gestão de doença;

Partilha de planos de atividades e de orçamento;

Partilha de procedimentos administrativos;

Integração dos dados clínicos;

Implementação de sistemas de comunicação;

Gestão de casos (case management);

Formação de equipas interdisciplinares;

Programas de formação envolvendo os diferentes profissionais médicos;

Criação de sistemas de referenciação dos doentes.

A integração funcional é constituída basicamente pela integração clínica (contribui

para a efetividade da prestação de cuidados de saúde), pela integração da

informação, pela integração financeira e pela integração ao nível administrativo.

Sobretudo as primeiras três dimensões são a verdadeira rede de suporte funcional de

uma organização (clínica, financeira, informação) que pretende caminhar para uma

realidade integrada, pois permitem a criação/ desenvolvimento de mecanismos

tendentes a suportar/ melhorar o funcionamento conjunto do sistema, com especial

enfoque nas suas interligações.

3.3.3.1. Integração clínica

A evolução do conhecimento científico e o consequente incremento da complexidade

ao nível do tratamento clínico, tornou impossível o processamento de toda a

informação por parte de um único profissional, resultando este avanço processual na

necessidade de recorrer à especialização e coordenação de procedimentos entre

médicos pertencentes a diferentes níveis de cuidados e/ ou dentro do mesmo nível de

Page 33: Relatório do Grupo de Trabalho criado para a definição de proposta ...

33

prestação, através de coordenação multidisciplinar (63). O carácter multiproduto da

prestação de cuidados de saúde alarga esta constatação também a outras atividades

desenvolvidas no âmbito do continuum produtivo, como os cuidados de enfermagem,

os meios complementares de diagnóstico e terapêutica ou mesmo dos cuidados

auxiliares e de apoio logístico e administrativo.

Neste sentido, uma das dimensões de um processo de integração na área da saúde é

necessariamente a integração de cuidados, que envolve a coordenação de práticas

clínicas em torno de problemas específicos de saúde de cada doente de uma forma

sustentável (15). Por outras palavras, devem ser garantidos os serviços prestados

pelos vários profissionais, em vários locais ou organizações ao longo do tempo, de

acordo com as necessidades específicas de cada utente segundo um determinado

nível de conhecimento e tecnologia disponível. Convém igualmente referir que cada

episódio de doença deve ser encarado separadamente, as etapas percorridas ao

longo da vida são consideradas outputs finais e não intermédios de uma cadeia de

produção ininterrupta (27).

Contrariamente ao que porventura seria primariamente admissível, segundo

Zuckerman, Kaluzny e Ricketts (1995) (64), as verdadeiras vantagens da integração

vertical (sobretudo ao nível da redução de custos) advêm fundamentalmente da sua

capacidade de integração clínica e não da dimensão funcional administrativa traduzida

em economias de escala ou escopo. Trata-se da dimensão mais importante de

integração, porque é através dela que se conseguem prestar cuidados mais custo-

efetivos com qualidade (11).

A integração clínica pode então ser entendida como o grau de coordenação da

prestação de cuidados de saúde no que respeita às funções, atividades e unidades

operativas de um sistema e é constituída por seis componentes base (11):

O desenvolvimento de protocolos clínicos;

A uniformidade e acessibilidade aos registos médicos;

A recolha e utilização de resultados clínicos;

O esforço de programação e a planificação clínica;

A partilha dos serviços clínicos de suporte;

A partilha das linhas de produção clínicas.

A integração clínica tem como objetivo o alcance de cuidados clínicos uniformes e

consistentes ao longo de diferentes níveis de cuidados (65). Neste contexto, esta

dimensão inclui o conceito de continuidade de cuidados, coordenação de cuidados,

gestão da doença, boa comunicação entre prestadores, transferência de informação e

registros médicos, resultando numa eliminação da duplicação de exames e de

procedimentos. Além disso, garante a ligação entre estes conceitos em caso de

lacunas dos sistemas de saúde (Shortell, 1993,1996 cit por (66)).

A necessidade de gestão clínica da diversidade dos produtos ou conjunto de produtos

homogéneos das unidades prestadoras de cuidados de saúde conduz a novas

soluções organizacionais baseadas em linhas de produção de serviços (44). As linhas

de produção de serviços clínicos podem ser definidas como uma família de

disposições organizacionais baseados no output em substituição do tradicional input

Page 34: Relatório do Grupo de Trabalho criado para a definição de proposta ...

34

(67), constituindo desta forma uma resposta genérica ao nível da organização

coerente e racional das tarefas e responsabilidades.

A forma de agrupamento de linhas de produção por significância clínica poderá ser

conceptualizada, segundo Parker et al. (2001) (44), de acordo com três critérios:

A gestão de doenças (por exemplo, o cancro ou doenças cardíacas);

Por segmentos populacionais específicos (por exemplo, idosos ou crianças);

Por procedimento ou intervenção (por exemplo, uma intervenção cirúrgica ou

um transplante de órgãos).

As linhas de produção por doença constituem um mecanismo que contribui para se

atingir a integração clínica entre as unidades operacionais do sistema de prestação

(9). A sua “formalização” deu origem ao conceito de disease management, que entre

nós ficou conhecido como “gestão da doença”. A gestão da doença consiste na gestão

e prestação de cuidados a uma população que se encontra em risco ou à qual já foi

diagnosticada uma determinada doença, através de um sistema integrado

compreensivo, que utiliza as melhores práticas clínicas, tecnologia de informação e

outros recursos (68). Trata-se de uma abordagem mais centrada no doente para a

provisão de todas as componentes de cuidados que este necessita, eliminando a

perspetiva fragmentada, autónoma e parcial da atual estrutura de oferta de cuidados

de saúde (69).

A gestão da doença detém um foco pró-ativo de longo prazo em segmentos

populacionais, substituindo a tradicional reatividade dos episódios de tratamento (70).

Os componentes da gestão da doença integram standards e protocolos específicos

por doença dirigidos sobretudo aos utentes com maior risco e maior potencial de gerar

resultados clínicos e financeiros adversos (70).

Algumas das mais importantes interligações verticais em cuidados de saúde não

envolvem a integração da organização completa mas de uma linha de produto ou mix

de serviços, através de programas integrados como é o caso da criação de um

programa para as doenças cardiovasculares que incorpore todos os cuidados

(primários, secundários e terciários) necessários ao tratamento deste tipo de doentes.

Esta alteração estrutural deverá provocar uma redefinição estratégica de uma gestão

centrada no ciclo de tratamento para fases anteriores como a promoção da saúde e a

prevenção da doença (71), pois dessa forma evitar-se-ão maiores consumos

posteriores permitindo simultaneamente controlar o acesso, os consumos e os custos

globais (2).

De entre os mecanismos de integração de cuidados mais reconhecidos, para além da

gestão da doença, destacam-se também a formação de equipas multidisciplinares, a

criação de um processo clínico único (permite a disponibilização da informação clínica

ao longo do tempo, a interpretação dos resultados dos tratamentos realizados e

captura os dados clínicos), a programação e planeamento das altas, a existência de

programas de referenciação, a necessária informação ao consumidor, implementação

de programas de qualidade e a formação médica continua e treino em serviço (9)

Page 35: Relatório do Grupo de Trabalho criado para a definição de proposta ...

35

Um dos mecanismos identificados por Shortell et al. (1993) (9), como crítico para o

sucesso da integração ao nível clínico, é o funcionamento de equipas

multidisciplinares (a complementaridade de atuação entre diferentes especialidades

profissionais) e interdisciplinares (a definição e assunção de objetivos comuns,

orientadores das atuações, entre os profissionais da equipa de prestação de cuidados)

podendo ser horizontal (profissionais do mesmo nível de prestação) ou vertical

(profissionais de diferentes níveis de prestação).

As equipas formadas pelos diferentes profissionais envolvidos no processo de

continuum de doença (médicos, enfermeiros, auxiliares, administrativos, etc.) têm o

propósito comum de produzir um conjunto compreensivo de serviços clínicos. A sua

performance desenvolve-se a partir da existência de mecanismos que auxiliam na

coordenação das competências e técnicas efetuadas por cada elemento de forma a

gerarem valor ao longo da cadeia de produção (15). Neste capítulo, o envolvimento

dos profissionais de saúde é fundamental, visto que os seus contributos individuais

não são encarados como mais-valias se não funcionarem numa lógica conjunta e

harmonizada (72) (71).

Por outro lado, tal como referem Katzenbach e Smith (1993) (73), a formação de

equipas multidisciplinares, funcionalmente cruzadas, permitem responder melhor aos

problemas de saúde de cada indivíduo e contribuem para elevar o grau de

conhecimento das organizações. Donohoe et al. (1999) (71), salientam a importância

do papel dos médicos especialistas na formação dos seus colegas de clínica geral e

no desenvolvimento do conhecimento (investigação). Também o envolvimento dos

médicos generalistas na prestação de cuidados especializados geram a prestação de

cuidados com mais custo-efetividade e melhor qualidade (72) (73) (74). Ambas as

situações fazem prever que no futuro, os profissionais de saúde tenham um espectro

de atuação mais amplo e muito provavelmente serão chamados a resolver um maior

número de situações diferentes (75).

Para que seja possível a criação de equipas dotadas de competências múltiplas, com

uma capacidade de resposta superior aos problemas de saúde, numa perspetiva de

integração clínica, pressupõe-se a existência de proximidade geográfica entre os

elementos de um sistema e dos serviços de prestação (2) (44). A viabilidade da

integração clínica depende igualmente dos instrumentos e facilidades proporcionadas

pela integração funcional da unidade (15).

Muito importante enquanto mecanismo de integração clínica é também o processo de

referenciação médica entre prestadores de primeira e segunda linha, uma vez que um

bom processo de referenciação melhora a qualidade e a eficiência dos cuidados

prestados (79). Uma vasta literatura é descrita por Harold, Field e Gurwitz (1999) (80)

que realizam um resumo dos padrões e resultados dos cuidados prestados entre

clínicos gerais e especialistas.

Referindo vários estudos anteriores, Donohoe et al., (1999) (74) aludem ao facto de as

taxas de referenciação individual variarem significativamente entre clínicos gerais,

situação que indica a incerteza relativamente ao nível adequado da prática de

referenciação. Segundo os mesmos autores, um processo de referenciação

Page 36: Relatório do Grupo de Trabalho criado para a definição de proposta ...

36

inadequada entre níveis de cuidados pode gerar uma perda de qualidade assistencial

em dois sentidos:

Sub-referenciação, significa que não foi realizado o procedimento de

referenciação quando a complexidade e/ ou severidade do doente assim o

exigiam, situação que pode originar indicações terapêuticas perigosas para o

utente e tratamentos custo-inefetivos;

Sobre-referenciação, que consiste na indicação inapropriada de referenciação

entre diferentes níveis de cuidados, quando a situação poderia ser resolvida

pelos prestadores de primeira linha. Os clínicos gerais podem não realizar

todos os esforços para evitar a referenciação, não ponderando as mais-valias

para o utente desse procedimento (81). Esta situação pode desaguar na

fragmentação dos cuidados prestados, na repetição desnecessária de meios

complementares de diagnóstico e terapêutica, numa perigosa poliprescrição

medicamentosa, na confusão e isolamento dos doentes e mesmo numa quebra

de motivação por parte dos clínicos gerais na atualização de conhecimento.

Uma má referenciação pode conduzir a redundância de consultas, exames e

testes de diagnóstico originando consequentemente um aumento evitável dos

custos globais (79).

Um estudo de Jenkins (1993) (81), menciona uma maior percentagem de erros na

referenciação de casos médicos do que cirúrgicos. Esta situação pode ser justificada

pela frequência de procedimentos definitivos que se podem encontrar nos casos

cirúrgicos por um lado, e pela necessidade de auxílio no diagnóstico nos casos

médicos por outro (significa que existe algum grau de incerteza associado).

Apesar de se reconhecer à priori que uma boa referenciação envolve a transferência

de informação clínica em ambas as direções (clínicos gerais para especialistas e vice-

versa), existindo um consenso generalizado entre profissionais sobre o conteúdo das

cartas de referência - a declaração do problema, a medicação utilizada e a razão da

referência (79) - a taxa ótima de referenciação continua a ser desconhecida, sobretudo

devido:

Ao facto dos mesmos médicos com taxas de referenciação similares poderem

variar a sua decisão de referenciação em diferentes situações (81);

À maior parte dos estudos existentes centrarem-se nas taxas de referenciação

e não nas razões da referenciação;

Aos clínicos gerais e especialistas frequentemente discordarem sobre quais as

situações de referenciação que poderão ser evitadas (74).

3.3.3.2. Integração da informação

A integração de cuidados de saúde pode não revestir um carácter exclusivamente

físico, antes pelo contrário, existe todo um suporte virtual que é fundamental para

garantir uma coordenação efetiva do trabalho realizado, sendo a informação entendida

neste contexto como um dos recursos mais importantes de qualquer organização. Esta

verdade é potenciada em sistemas complexos integrados como encontramos no

Page 37: Relatório do Grupo de Trabalho criado para a definição de proposta ...

37

sector da saúde. Shortell et al. (2000) (82) referem que a ausência de sistemas de

informação pode considerar-se mesmo uma barreira à integração, na medida em que

a sua preponderância para o processo é fundamental no seu sucesso.

A integração de informação desenvolve sistemas de informação clínicos e de gestão

para suportar uma prática de cuidados uniformes ao longo dos vários níveis de

cuidados. Assim, está relacionada com conceitos como comunicação entre as equipas

clínicas, medição de resultados e gestão da performance (65).

A falta de informação completa (registo médico histórico incluindo todos os serviços

que foram prestados) relativa ao utente, de acordo com Grone e Garcia-Barbero

(2001) (16), pode causar problemas em contextos de prestação de serviços

fragmentados, entre os quais se destacam o aumento das listas de espera e a

possível duplicação de procedimentos que originam gastos adicionais evitáveis. De

forma antagónica, as potencialidades habitualmente associadas aos sistemas de

informação tais como a criação de automatismos funcionais ou a conectividade entre

os diferentes elementos do sistema podem contribuir decisivamente para o processo

de integração vertical (78). Conforme se pode observar no estudo de Coile (1995) (83),

um sistema de informação integrado é a chave para uma gestão clínica eficiente.

A integração da dimensão informação pode ser definida pela interligação automatizada

de toda a atividade desenvolvida, traduzida em dados e informação, com recurso a

tecnologias de informação que possibilitem coligir, tratar e analisar dados e

informação, no sentido de garantir um processo de tomada de decisões estratégicas e

operacionais com o menor grau de risco associado e consequentemente potenciar a

criação de valor e conhecimento para a organização e seus clientes.

Um dos processos críticos referidos pela literatura no que concerne aos sistemas

integrados de prestação sector da saúde, prende-se com a necessidade de existência

de um processo clínico eletrónico por doente. Este gera a possibilidade de

centralização de todos os dados necessários numa única entidade - processo clínico -

que suportado em ferramentas de tecnologias de informação pode reproduzir o novo

conceito de cadeia de produção (e de valor) centrado no continuum e no

acompanhamento do doente ao longo do processo de produção. Esta realidade

representa uma evolução inevitável para a gestão mais eficiente e efetiva da

interligação e coordenação dos elementos organizacionais.

Para além de garantir um registo rigoroso (quantidade e qualidade) de toda a atividade

realizada, um sistema de informação em contextos integrados deve igualmente

atender às diferentes necessidades de informação dos seus utilizadores situados em

distintos níveis de decisão organizacionais (estratégico, intermédio e operacional).

Assim, a identificação das necessidades de informação é fundamental para o desenho

e implementação de um sistema de informação em contexto de integração (71).

A integração na dimensão de informação pode constituir um precioso auxílio na

coordenação entre elementos físicos, humanos, técnicos, sendo mesmo encarada por

alguns autores como uma condição fundamental para o processo de integração

vertical sem a qual não é possível garantir as restantes dimensões funcionais,

particularmente a clínica e a financeira. Trata-se do suporte tecnológico que conectado

com o doente, permite a incorporação dos dados clínicos (processo clínico),

Page 38: Relatório do Grupo de Trabalho criado para a definição de proposta ...

38

financeiros (custos e proveitos) e administrativos, garantindo que independentemente

do local onde seja realizada a prestação de cuidados de saúde a informação se

encontre disponível (70). As suas enormes potencialidades permitem mesmo

transformar os sistemas de informação em veículos da própria mudança

organizacional, podendo assumir-se como uma vantagem competitiva para as

unidades prestadoras (84).

3.3.3.3. Integração financeira

A realidade de um contexto integrado de prestação de cuidados de saúde conduz à

responsabilidade pela saúde global de uma determinada população. Neste sentido,

gerir um doente passa não só pela manutenção ou aumento do seu bem-estar geral,

mas também por garantir as intervenções mais custo-efetivas possíveis, isto porque

apesar dos objetivos not profit das nossas organizações de saúde, a verdade é que o

desenvolvimento estratégico e operacional, a capacidade de renovação ao nível dos

ciclos de exploração e investimento dependem da sua sustentabilidade económico-

financeira.

No âmbito da prestação integrada de cuidados de saúde, surge então também o

desafio de gerir financeiramente os diferentes elementos constituintes da organização

como um todo. Conjuntamente com a integração clínica e de informação, encerra a

trilogia essencial para garantir o sucesso e a coerência da integração funcional da

organização.

Em termos conceptuais, a integração financeira corresponde à coordenação das

atividades desenvolvidas na obtenção regular e oportuna de recursos financeiros

necessários ao funcionamento da organização, bem como à maximização de

rendibilidade (leia-se eficiência económica) desses mesmos recursos ao longo do

continuum de doença.

A visão global da organização traduzida financeiramente em instrumentos

(demonstrações financeiras) comuns de apoio, dá coerência a nível macro e tenta

eliminar as barreiras naturais da possível organização tradicional funcional baseada na

especialização do trabalho, ou seja, a gestão financeira é um poderoso instrumento

que pode promover o abandono da lógica fragmentada e individualizada de ganhos

parciais resultantes da interpretação exclusiva dos resultados de uma unidade. A título

meramente exemplificativo, pode-se referir que o efeito substituição entre um doente

atendido em ambulatório relativamente ao internamento representa em termos diretos

uma perda de receita, mas numa lógica de eficiência económica, em contexto de

financiamento por capitação, pode constituir um ganho substancial para a unidade

integrada (85) e para o doente.

Com a integração vertical deverá proceder-se a uma alteração de enfoque, que se

direcionará não sobre os recursos necessários para tratar um doente (variáveis de

oferta), mas nos recursos que um doente necessita para ser tratado (variável de

procura), ou seja, o elo de ligação a acompanhar e a gerir ao longo da produção

deverá ser em primeira instância o doente – os recursos existem porque existem

doentes.

Page 39: Relatório do Grupo de Trabalho criado para a definição de proposta ...

39

Da necessária interligação entre processo clínico como estrutura e sistemas de

informação como suporte/veículo, torna-se crucial proceder à valorização de cada

etapa do processo de produção de forma a se conseguir, em todo o momento,

conhecer os custos associados ao doente.

A mudança da atual filosofia de gestão financeira nas organizações de saúde

originada por um movimento de integração vertical acarretará também,

necessariamente, uma alteração ao nível das metodologias de apuramento de custos

atualmente implementadas em contextos de funcionamento organizacional não

integrado, onde predomina a informação financeira centrada em departamentos,

serviços ou natureza de custos.

A lógica de acompanhamento do doente ao longo de todo um continuum de doença,

exigirá que a determinação dos custos que lhe estão associados se centre nos

doentes e nas suas doenças. Se esta prática é dificultada pela complexa cadeia de

produção de cuidados de saúde, constituída por um conjunto relativamente vasto de

inputs, também é certo que no caso da sua concretização, permitirá:

Diminuir o risco, através desta dimensão acompanhamos os consumos

esperados ao longo do processo de produção, reduzindo a incerteza (e o risco)

presente na relação entre produtor e consumidor. Por outro lado, o maior

controlo sobre todo o processo de produção permite também disseminar o

risco financeiro entre as diversas etapas;

Uma decisão produtiva mais informada e racional entre linhas de produção que

permitam a utilização de bens substitutos, como por exemplo entre

internamento e o ambulatório. A condição de maximização (proveitos vs

custos) mantém-se numa perspetiva integrada, mas as variáveis implícitas

(fatores de produção) são mais alargadas quantitativa e qualitativamente;

Uma melhor gestão financeira, mais específica e próxima do doente,

possibilitando que os recursos sejam canalizados para outras finalidades como

a formação ou a investigação (custos de oportunidade de recursos

ineficientes).

Inicialmente, o processo de integração acarreta intrinsecamente alguns problemas ao

nível da sua dimensão financeira, entre os quais se destaca a predominância da

componente hospitalar enquanto geradora de receitas e de capacidade orçamental

(fator escala) no seio de uma organização integrada. A tentação de obter vantagens

financeiras a curto prazo pode potenciar a tendência natural para um enfoque erróneo

nos cuidados especializados, investindo em técnicas diferenciadas e geradoras de

lucro numa perspetiva de pagamento pela produção. Recorde-se que a condição de

maximização presente neste contexto integrado não é baseada no volume de

produção mas de acordo com a melhoria obtida no estado de saúde da população.

Page 40: Relatório do Grupo de Trabalho criado para a definição de proposta ...

40

3.3.3.4. Integração administrativa

A tarefa do gestor do doente não é exclusivamente clínica, outras dimensões

requeridas como contactos com entidades externas ou atividades de carácter

administrativo também são de necessário desenvolvimento, não poucas vezes

consumidoras de esforço efetivo recompensado por pouco valor acrescentado no

resultado final (63).

Apesar de constituir uma dimensão cujos resultados são habitualmente menos visíveis

quando comparados com as outras componentes da dimensão funcional da

integração, a uniformização de procedimentos administrativos entre as diferentes

unidades funcionais de um sistema integrado é um fator de referência que contribuí

para a solidificação de uma cultura organizacional vocacionada para o alcance de

metas comuns.

Inserem-se também nesta dimensão a centralização dos procedimentos logísticos: de

compras, aprovisionamento, transportes, farmácia, etc…que poderão, dependendo da

dimensão do sistema, gerar economias de escala e consecutivamente ganhos de

eficiência económica. Estes ganhos, apesar de serem obtidos no curto prazo, são

limitados no seu volume e numa perspetiva evolutiva.

3.3.4. Integração normativa

Quando a integração funcional é reduzida a um conjunto de procedimentos e normas

escritas conhecidas por todos os elementos que a constituem, estamos na presença

de um movimento de integração normativa. Esta dimensão permite a uniformidade de

procedimentos internos e o estabelecimento de um sistema de referência de valores

comuns (15).

Através da integração normativa, podem então ser criados complexos sistemas

organizacionais e inter-organizaconais onde as diferentes partes se dispõem a realizar

as várias tarefas, alcançadas não exclusivamente via a existência de um chapéu

organizacional, mas através de outras formas de interdependência inter-organizacional

como joint-ventures, contratos formais, parcerias ou acordos de afiliação (18). A forma

jurídica do acordo bem como a variedade de questões contratuais e legais no âmbito

da integração vertical assumem assim um papel muito importante na definição do

compromisso mútuo entre os elementos que integram a organização de saúde (86).

Dependendo da fórmula jurídica escolhida, poderão surgir organizações integradas

“virtualmente” onde é mantida a sua identidade jurídica através de um conjunto de

acordos e protocolos que formam uma rede funcional com interesses e alguns

objetivos comuns (61). Em termos conceptuais puros, esta forma de integração não

poderá, no entanto, ser considerada per si como integração de cuidados de saúde,

uma vez que pode existir sem se verificar uma gestão comum dos elementos

constituintes.

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41

3.3.5. Integração sistémica

O estado de arte da gestão de organizações de saúde conduz-nos a entender a sua

estrutura como um sistema, composto por vários elementos que através do seu

funcionamento conjunto harmonioso beneficiam de sinergias para alcançar um

determinado objetivo comum, num determinado contexto ambiental (87). Esta

definição baseia-se na Teoria Geral dos Sistemas, desenvolvida nas décadas de 40 e

50 por Ludwig von Bertallanfy que procurou perceber a organização sistémica do

mundo biológico.

Habitualmente aplicada às organizações hospitalares, a perspetiva sistémica das

organizações, suas características e propriedades predominantes são replicáveis e

potenciadas em contextos de integração vertical no sector da saúde:

a) As características fundamentais de qualquer sistema assentam na existência de

elementos, na sua relação, seu objetivo comum e envolvimento num determinado

contexto meio-ambiental: o processo de integração vertical baseia-se exatamente na

coordenação de vários elementos (prestadores de cuidados de saúde – numa aceção

mais ampla podem considerar-se também as entidades seguradoras ou outras

organizações não pertencentes ao sector da saúde) que fortalecem a sua interligação

através de um objetivo comum, a manutenção ou melhoria do estado de saúde das

populações. Também o meio-ambiental que partilham é semelhante, quer pelo sistema

onde se encontram integradas, quer pelo carácter eminentemente regional que

assumem;

b) Holismo, homeostase e retroação: entende-se holismo pela não interpretação do

resultado final como a soma das partes, isto é, devem existir sinergias resultantes da

interação entre os elementos do sistema que consigam garantir algo mais do que a

soma dos resultados individuais (2+2=5). O entendimento de cadeia de valor em

saúde e uma coordenação do continuum entre diferentes níveis de cuidados, contribui

efetivamente para eliminar a interpretação individual de resultados parcelares

promovendo a lógica holística do desempenho global enquanto conjunto integrado

gerador de sinergias (85).

A homeostase é a tendência que todos os organismos e organizações têm de

autorregular-se, isto é, de retornarem a um equilíbrio estável e dinâmico após alguma

perturbação ou influência externa. A maior flexibilidade resultante de uma gestão ao

longo de todo o continuum por parte de um sistema integrado, garante uma maior

capacidade de adaptação a novos contextos, fatores e desafios ambientais externos.

Por sua vez, a retroação é o mecanismo que fornece informações relativas ao

desempenho passado ou presente de uma organização. É através da retroação que

se obtêm as informações necessárias para fazer o ajustamento contínuo do sistema

(88). Só através de um sistema integrado de prestação, onde se controlam todas as

etapas do processo de produção, se consegue avaliar os resultados finais e proceder

de uma forma dinâmica às correções necessárias para garantir uma aplicação do ciclo

de qualidade nas organizações de saúde.

Page 42: Relatório do Grupo de Trabalho criado para a definição de proposta ...

42

Tabela 3 – Mudança de paradigma

Definição Antigo Paradigma Novo Paradigma

Subsistema técnico ou de

produção inclui o

conhecimento necessário

para a realização das

tarefas, incluindo também

as técnicas utilizadas na

transformação do inputs

em outputs.

Maximização da produção

eficiente

Especialização do trabalho

Outputs por nível de

cuidados

Atos médicos sem

continuidade

Maximização da eficiência

Especialização em

contexto de

multidisciplinariedade do

conhecimento

Cadeia de Valor

Interdependência de atos

Subsistema psicossocial,

incorpora a interação entre

indivíduos e grupos, seus

comportamentos,

motivações, relações,

dinâmica e influência para

o sistema.

Trabalho individual

Incentivos financeiros

distintos

Integração em equipas

multidisciplinares

Programa de incentivos

uniformes

Subsistema estrutural

contempla as formas e que

as tarefas organizacionais

se dividem (diferenciação)

e como se coordenam

(integração).

Baseado em

departamentos e serviços

Determinado pelas

preferências dos

produtores

Programas de doença

Organização Matricial

Determinado pelas

necessidades dos

consumidores

Subsistema de finalidades,

objetivos e valores: a

razão de ser das

organizações, é o interface

entre a organização e o

exterior.

Ênfase nos cuidados

agudos

Tratamento de doenças

Responsabilidade pelos

indivíduos.

Ênfase no continuum de

cuidados

Manutenção do bem-estar

Responsabilidade por uma

população

Subsistema de gestão:

responsável por todos os

subsistemas

organizacionais, dando-lhe

coerência e sentido

comum.

Enfoque nas organizações

Enfoque nos recursos

estruturais, produtividade

(taxa de ocupação) e

eficiência interna

Enfoque nas interligações,

na coordenação dos

elementos e na rede de

prestação para a adequar

às necessidades

Fonte: Adaptado de Shortell e Kaluzny (2006) (1)

Page 43: Relatório do Grupo de Trabalho criado para a definição de proposta ...

43

A partir deste enquadramento teórico, foi desenvolvida a abordagem contingencial das

organizações e da sua gestão, que se baseia no pressuposto de que a organização é

um sistema composto por vários subsistemas, sendo concomitantemente delimitada

por um supra sistema ambiental envolvente com o qual interage.

Shortell e Kaluzny (2006) (1) referem uma tendência evolutiva dos sistemas de saúde

à luz de um conjunto de novos paradigmas que importa salientar no âmbito dos 5

subsistemas organizacionais identificados por Katz e Kahn (1976) (89): dos objetivos,

finalidades e valores, o técnico, o psicossocial, o estrutural e o de gestão. Conforme se

verifica na tabela 3, abaixo disponibilizada, o processo de integração de cuidados de

saúde de saúde pode constituir uma poderosa solução para responder aos novos

desafios preconizados pelos autores em causa.

3.3.6. A integração do sistema de produção

O movimento de integração, sobretudo tipo vertical, provoca uma alteração da

estrutura de oferta que implica uma mudança significativa na forma de encarar a

gestão da prestação de cuidados de saúde a todos os níveis, mormente motivada por

alterações de carácter produtivo. A integração vertical pressupõe não fazer as coisas

de forma tradicional (90).

A integração vertical nos serviços de saúde é um instrumento, não um resultado (86),

cujo principal objetivo reside no aumento do grau das interligações (coordenação)

entre as diferentes etapas do processo de produção (2) (27). É na concentração da

gestão dessas interligações que poderão surgir os benefícios da integração vertical,

através do fortalecimento das conexões entre os parceiros inseridos no sistema

organizacional que funcionam conjuntamente num projeto coletivo.

Sabendo à partida que a produção de cuidados de saúde de cada nível de prestação

implica um sistema de produção altamente diverso e complexo – motivado por um

conjunto de características específicas do mercado da saúde (de oferta e procura) - o

grau de dificuldade de gestão de um processo de integração de cuidados cresce

significativamente. Resulta esta constatação não só pelo maior número de elementos

e de interligações a gerir, mas sobretudo pela alteração registada ao nível do processo

de produção: a integração vertical no sector da saúde pode ser entendida como uma

forma de estruturar todo o sistema de produção sob a responsabilidade de uma única

entidade organizacional que deverá contemplar todas as atividades necessárias à

melhoria do estado de saúde dos doentes (13).

A diferença entre o objeto e o objetivo subjacentes a este processo, consiste no facto

da integração vertical pretender contribuir para a melhoria do estado de saúde dos

utentes, utilizando para o efeito a gestão da interligação entre as suas diferentes

etapas para o conseguir.

A lógica de produção integrada pressupõe que os produtos ou serviços gerados

anteriormente por cada um dos níveis de cuidados passem a constituir um produto

intermédio do continum de doença, caso haja lugar a múltiplos contactos entre os

diferentes níveis de prestação no mesmo episódio. O produto final deixa de ser um

doente saído de internamento ou um episódio de consulta em ambulatório para um

pacote de serviços (mais amplo) que resulta da integração das etapas de produção.

Page 44: Relatório do Grupo de Trabalho criado para a definição de proposta ...

44

Num sistema integrado de serviços de saúde, os utentes podem movimentar-se entre

os diferentes níveis de cuidados, sem necessariamente seguir uma trajetória linear,

cuja entidade responsável pela sua saúde é a mesma (12) (27).

Nesta realidade, não podemos afirmar que as unidades prestadoras de cuidados de

saúde tem como produto final o bem “saúde”, uma vez que seria sinónimo de não

contemplar a significância crítica da não standardização do input e da incerteza (risco)

presente na prestação de cuidados. A hereditariedade, a prévia morbilidade, as co-

morbilidades são razões para justificar que os mesmos procedimentos produtivos

possam não gerar necessariamente os mesmos resultados (27), portanto deverão ser

geridos numa perspetiva de coordenação.

O fomento da interdependência entre os níveis de cuidados suscitado pela integração

da função produção encontra estritamente conectado com o conceito de cadeia de

valor, que pode ser definida como o conjunto de atividades desenvolvidas para

desenhar, produzir, promover, distribuir um determinado produto representando a

sequência relacional dos processos de produção de uma organização (91).

A necessidade de cada ato/ atividade acrescentar valor à sua cadeia de produção (ou

cadeia de produção de valor), permite, de acordo com Foreman e Roberts (1991) (92)

ser aplicada a um sector cujo serviço seja um continuum. Em saúde, a cadeia de valor

é sinónimo do continuum dos cuidados prestados e inclui não só os serviços de

prestação direta de cuidados mas também as atividades de suporte.

A aplicação prática deste conceito nas organizações de saúde, resulta da necessidade

dos serviços e bens incorporados na cadeia de produção de prestação de cuidados

deverem contribuir para a geração de valor global do output final. A realização de

determinada análise clínica, a prescrição de um medicamento ou a decisão de internar

ou não um doente são atos que apenas deverão ser executados se acrescentarem

valor (qualidade e eficiência) ao processo de produção.

A perspetiva interna da gestão da produção é apenas uma das suas componentes.

Mormente motivado por fatores associados ao financiamento, o “novo” sistema de

produção exige das organizações integradas uma maior atenção para a gestão da

procura (variáveis externas), no sentido do seu estudo casuístico, suas características

de severidade, seus determinantes de saúde, pois se em rigor, em esquemas de

pagamento pela produção, mais volume significa mais receitas, em modelos

capitacionais, mais volume significa menos lucro (9). O desenvolvimento de sistemas

de ajustamento pelo risco e de modelos de avaliação de desempenho das

organizações constituem duas peças fundamentais para a criação de valor em saúde

(4).

3.3.8. Aspectos organizacionais da integração de cuidados

Por motivos relacionados com a estrutura de mercado da saúde (oferta, procura e

bem), as suas organizações predicam particularidades e especificidades que lhe

conferem um elevado grau de complexidade na sua gestão face a outras organizações

ditas “convencionais” (93) (94). Se o grau de complexidade da gestão organizacional

individual é elevado, este parâmetro ainda se torna mais problemático quando

Page 45: Relatório do Grupo de Trabalho criado para a definição de proposta ...

45

Diferenciação por função

Desenho

Funcional

Desenho

Divisional

Desenho

Matricial

Desenho

Paralelo

Desenho por

Programa

Integração por programa

encaramos a função prestação como integrante de um sistema que deve gerir todo o

conjunto de organizações diferentes níveis de cuidados.

Um dos aspetos centrais na gestão de unidades que prestam cuidados de saúde é a

definição das suas funções, responsabilidades e incentivos ao nível interno (95). A

forma como estas atribuições se encontram dispostas na organização é habitualmente

traduzida num organigrama e vulgarmente conhecida como a sua estrutura

organizacional. Segundo Williams (1992) (78), um bom desenho da estrutura

organizacional não garante o sucesso mas um mau impede-o.

De acordo com Leatt, Shortell e Kimberly (2000) (96), a estrutura organizacional é uma

realidade dinâmica e evolutiva que pode sofrer influências, quando: a organização

atravessa problemas ao nível dos resultados obtidos; existe uma alteração do contexto

externo; são criados novas linhas de produtos ou serviços ou; há uma mudança na

liderança da organização.

Da aplicação da teoria da contingência às organizações, resulta a necessidade destas

lidarem simultaneamente com a diferenciação e integração do trabalho desenvolvido.

A diferenciação passa pela necessária divisão do trabalho em funções específicas e a

integração pela coordenação das diferentes unidades operacionais ou funções (67).

Para representação dos diferentes desenhos organizacionais utilizados pelas unidades

prestadoras na tradução do seu processo de produção - continuum de cuidados -,

Charns e Tewksbury (1993) (67), identificam a escala que pode ir de um desenho

funcional a um desenho por programa de doença.

Esquema 4 - Estrutura organizacional de unidades prestadoras de cuidados de saúde

Fonte: Adaptado de Shortell e Kaluzny (2006) (1) e Parker et al. (2001) (44)

O desenho divisional é a forma organizacional mais tradicional e próxima da que existe

atualmente nos hospitais portugueses, onde são formadas unidades de acordo com a

natureza das especialidades (eminentemente) médicas ou cirúrgicas. Com este

Page 46: Relatório do Grupo de Trabalho criado para a definição de proposta ...

46

desenho organizacional, consegue-se descentralizar a tomada de decisões e garantir

um elevado grau de autonomia clínica.

Por sua vez, o desenho matricial envolve a implementação de mecanismos de

coordenação lateral e fluência de informação na organização. Baseia-se num sistema

de autoridade duplo, por programa e por função. O esquema 5 reflete esta forma

organizacional, aplicado à doença psiquiátrica.

Esquema 5 - Desenho matricial da organização de um Programa de Gestão da

Doença Psiquiátrica

Fonte: Adaptado de Shortell e Kaluzny (2006) (1)

Diz-se que estamos na presença de um desenho por programa ou por linha de produto

quando existe um responsável pela gestão de um produto ou grupo de produtos. Na

prática trata-se de um centro de responsabilidades, com custos e proveitos

associados, onde devem ser considerados os recursos disponíveis e a sua

coordenação funcional em torno de determinado problema de saúde. É a forma

organizacional predominante em sistemas integrados como é o caso da Kaiser

Permanente.

Um dos aspetos fundamentais desta forma organizacional é a escolha dos produtos

que integram, de forma agrupada, determinado programa. Similaridades relacionadas

CEO

Doença de Alzheimer

Depressão

Esquizofrenia

Enfermagem

Psicologia

Terapia

Ocupacional

Gestão de

Programas

Gestão

Funcional

Page 47: Relatório do Grupo de Trabalho criado para a definição de proposta ...

47

com a sua natureza de produção, tecnológicas, de mercado, de distribuição ou de

utilização de recursos (sobretudo humanos) poderão constituir critérios que darão

coerência à lógica de formação dos programas oferecidos por uma unidade prestadora

de cuidados de saúde. Segundo Leatt, Shortell e Kimberly (2000) (96) os programas

mais comuns poderão ser: cardiologia, oncologia, reabilitação, promoção da saúde,

abuso de substâncias, cuidados da mulher e da criança e cuidados continuados.

Os fatores críticos de sucesso de uma estrutura organizacional assente em programas

de saúde são (96):

A gestão de um sistema de informação que interligue dados clínicos,

financeiros e de produção por doente;

Bom sistema de contabilidade que permita desagregar custos e proveitos de

forma a serem corretamente imputados às respetivas unidades;

Suporte em áreas como o planeamento, marketing e finanças;

Existência de sistemas de incentivos que encorajem a inovação e o risco;

Envolvimento dos profissionais no processo de produção dirigido ao

consumidor;

Alinhamento entre autoridade e responsabilidade;

Capacidade de comunicação entre diferentes unidades operacionais e

flexibilidade para o trabalho em equipas multidisciplinares;

Esquema 6 - Exemplo da organização de Programas de Gestão da Doença

Fonte: Adaptado de Piro e Doctor (1997) (97)

3.3.9. Grau de integração

Uma das questões frequentes no âmbito da integração vertical prende-se com o grau

de integração das organizações que prestam cuidados de saúde. Deste tema resultam

duas perguntas pragmáticas:

Cancro Diabetes Asma

Programas por Doença

Hotelaria

Farmácia

MCDT

Clínicos

Gestão e incentivos comuns

Serviços

Page 48: Relatório do Grupo de Trabalho criado para a definição de proposta ...

48

Qual o grau ótimo de integração para determinada realidade?

Qual o grau de integração atual de determinada organização?

No que respeita à primeira questão, pode afirmar-se que o movimento de integração

deve ser implementado até ao ponto onde não existam mais ganhos em saúde para a

população mediante um determinado nível de eficiência económica e técnica ou vice-

versa. A este respeito, Rocha (1997) (94) afirma que a integração deve realizar-se até

ao momento em que esta se possa fazer sem excessos, adiantando também que a

integração completa é uma dimensão não alcançável pelos esquemas densos,

impenetráveis e complexos que as soluções integradas acabam por gerar. De acordo

com Brown e McCool (1986) (12), dificilmente face à complexidade das organizações

prestadoras se atingirão plenos graus de integração. No mesmo sentido, Galvin (1995)

(71) considera que ainda nenhuma organização atingiu uma integração completa.

Se é possível saber até onde se pretende ir, porém, a decisão de integrar não é uma

simples decisão binomial de um ou zero, extrema, mas envolve um balanço entre os

níveis intermédios de integração (2). A assunção de que não existem soluções

perfeitas nem modelos puros, detém de forma inerente a necessidade de existência de

escala gradativa que permita classificar o grau de integração das organizações de

saúde.

Foram realizados diversos estudos, abordando várias perspetivas (estrutura,

processos e resultados) que tentaram estipular o grau de integração das organizações

prestadoras de cuidados de saúde (98) (82) (59) (99).

A este nível, destaca-se o modelo específico desenvolvido por Ahgren e Axelsson

(2005) (100) para medição da integração funcional, cujas fases são representadas

pelos seguintes graus:

Completa segregação: não existe nenhuma espécie de integração entre

unidades e serviços, o seu funcionamento é autónomo e independente;

Interligação: diz-se que estamos na presença desta fase de integração quando

existe uma boa comunicação entre profissionais e uma adequada

referenciação de doentes para as devidas unidades no tempo certo. As

diferentes unidades reconhecem quem é responsável por cada unidade. O

exemplo prático de presença de Interligação é a existência de guidelines que

descrevam quais os procedimentos a realizar e por quem;

Coordenação em rede: apesar de se tratar de um grau de integração mais

estruturado, continuamos nesta realidade a deter unidades autónomas,

habitualmente as que já existiam antes do movimento de integração. Neste

grau, pretende-se coordenar os diferentes serviços de saúde através da

partilha de informação e simultaneamente gerir o processo de transição entre

diferentes unidades de produção. Habitualmente não existem, no entanto,

gestores destas redes. As “cadeias de cuidados” são exemplos deste grau de

integração;

Cooperação: trata-se de um grau de integração semelhante à Coordenação em

Rede, mas difere deste no que respeita à alocação de gestores de cada uma

Page 49: Relatório do Grupo de Trabalho criado para a definição de proposta ...

49

das redes existentes. Consegue-se identificar em cada uma das redes quem é

o seu responsável, mantendo, no entanto, as diferentes unidades existentes;

Integração completa: significa que os recursos de diferentes unidades são

dispostos de forma a gerar apenas uma unidade responsável pela gestão dos

recursos no seu conjunto criando desta forma uma nova organização.

O grau de integração entre organizações pode, de acordo com os autores, variar entre

a completa segregação e a integração completa. O grau de integração atribuído pela

aplicação desta escala não é sinónimo do ótimo funcionamento do continuum, porque

na verdade uma interligação entre unidades pode obter melhores resultados do que

uma integração completa.

3.3.7. Potencialidades da integração vertical

O processo de integração vertical de cuidados de saúde traduz uma atuação que

intrinsecamente detém algumas potencialidades tendentes a justificarem a sua

utilização enquanto instrumento de gestão em organizações prestadoras de cuidados

de saúde. De uma forma não hierarquizada, resumem-se de seguida alguns dos

objetivos perseguidos/ potenciais ganhos proporcionados pela integração de cuidados

de saúde:

Poder de mercado: com o alargamento do escopo das atividades desenvolvidas

anteriormente, emerge de forma natural uma estrutura ampliada com maior poder de

intervenção no mercado, que se traduz numa vantagem negocial face aos parceiros

externos – sobretudo fornecedores -, seja no ciclo operacional de exploração, seja na

capacidade de recurso ao capital (condições mais vantajosas) (12) (92) (101) (45).

Esta capacidade permite também ao nível da gestão interna responder de uma forma

mais célere e flexível a alterações dos condicionalismos externos, visto que o domínio

de todo o processo de produção permite um impacto com efeitos mais profundos e

mais abrangentes das decisões tomadas.

Qualidade assistencial: ao existir uma organização vocacionada para os problemas de

saúde, tentando evitá-los e resolvê-los de uma forma coordenada, inter e

multidisciplinar, com facilidade de comunicação ascendente e descendente, fluidez na

disponibilização da informação e existência de protocolos e guidelines de atuação

técnica standardizada assiste-se a uma redução do risco de má prática clínica. Através

da integração consegue-se reduzir a variação clínica, os erros médicos e

consequentemente incrementar os padrões de qualidade assistencial (86) (63).

Para além de uma maior responsabilidade coletiva (trabalho em equipa), o

desenvolvimento do trabalho de uma forma multidisciplinar permite uma permanente

formação onde a troca e partilha de conhecimento interpares eleva o know-how

individual e necessariamente a sua capacidade de resolução dos problemas de saúde

dos utentes. Assim, conseguem-se organizações mais dotadas, mais preparadas e

mais evoluídas, parâmetros que permitem incrementar a qualidade assistencial aos

consumidores.

Page 50: Relatório do Grupo de Trabalho criado para a definição de proposta ...

50

Focalização no utente: com um sistema de prestação integrado, entende-se a

produção como um processo contínuo mais centrado nas necessidades dos

consumidores (suas doenças) do que nos prestadores (nas especialidades e serviços

de saúde). Esta mudança permite responder melhor às especificidades e

características individuais de cada utente através de processos de ajustamento pelo

risco (severidade da doença, a sua morbilidade e co-morbilidade).

Por outro lado, as características holísticas da organização permitem criar um

sentimento de unidade que transparece como um holograma para o utente, onde a

interligação e coordenação entre os diferentes níveis de prestação não deverá ser

percecionado pelos clientes. A facilidade de acesso a uma única entidade, sem

fronteiras identificáveis, reduz o sentimento de desorientação característico do

consumidor de cuidados de saúde. Desta forma, conseguir-se-á atingir um maior grau

de satisfação por parte dos utentes que pode, em larga escala, criar outputs sociais

altamente valorizados para a comunidade que serve (101), beneficiando a dicotomia

relacional entre organização prestadora e consumidores de cuidados de saúde.

Promoção do Bem-estar: as realidades integradas são conectadas com sistemas de

financiamento de base capitacional, situação que conduz a uma prioridade de atuação

ao nível das fases primárias de doença, onde são privilegiadas a atividades

relacionadas com a promoção da saúde e prevenção da doença.

A mudança de paradigma dos atuais sistemas de saúde centrados no tratamento da

doença é provocada por um novo core business centrado na manutenção do bem-

estar geral da população. Com uma nova realidade organizacional, deve-se caminhar

para uma visão integrada onde o objetivo não é resolver especificamente determinada

situação de doença, mas contribuir para um melhor estado de saúde global do

indivíduo (13).

Disseminação do risco de negócio: é alcançado pela “não colocação de todos os ovos

no mesmo cesto”, isto é, com o domínio do processo de produção pelos diferentes

níveis de cuidados de saúde poderemos utilizar a subsidiarização cruzada entre as

atividades desenvolvidas ao longo do continnum. Em termos práticos, significa que

poderemos sustentar uma linha não eficiente através de outras mais eficientes.

A redução dos custos de transação pode ser encarada a dois níveis: na vertente do

esforço despendido na comunicação e na contratualização externa de cada nível

produtivo ou; na vertente em que são evitadas ou eliminadas as transferências

(etapas) entre níveis de cuidados.

A redução dos atos e procedimentos desnecessários ao longo do processo de

produção é considerada uma das justificações mais salientes das estruturas

integradas. O carácter multiproduto do bem saúde e a complexidade inerente ao

processo produtivo (por razões de oferta e procura de cuidados) potencia

naturalmente a repetição de atos e procedimentos ao longo da cadeia de valor de

sistemas de prestação não integrados.

A consideração do processo de produção ao longo de todo o continuum permite,

antagonicamente, a realização de atividades que evitam a repetição de atos já

realizados anteriormente, isto porque existem registos históricos integrados que

Page 51: Relatório do Grupo de Trabalho criado para a definição de proposta ...

51

permitem a uma equipa multidisciplinar a planificação e programação conjunta de toda

a atividade a desenvolver (27) (72) (12) (102).

A disponibilidade de um processo clínico único integrado, onde coexista informação

financeira e clínica potencia os ganhos obtidos nesta realidade. Aqui, as decisões de

produção são ponderadas para que apenas sejam efetuados os atos ou

procedimentos que acrescentem valor para o consumidor. Por exemplo, a prescrição

de determinado fármaco ou a realização de um exame complementar de diagnóstico

diferenciado, são decisões que deverão ser ponderadas no contexto global do

processo de produção e na possível mais-valia gerada para o consumidor.

A redução das atividades mais dispendiosas pode ser conseguida através de duas

estratégias: ou pela aplicação de tecnologia substitutiva de ambulatório só possível

num contexto estrutural integrado de apoio robusto e coordenação das atividades ou;

pelo controlo do processo de produção centrado nos prestadores de primeira linha que

potenciará a racionalidade de utilização de cuidados através da incorporação de

critérios de custo-efetividade na abordagem a situações de doença.

Conrad e Dowling (1990) (2) referem que os ganhos de eficiência não se centram

tanto ao nível dos custos unitários, mas na relação de utilização de inputs entre as

diferentes etapas da prestação de cuidados, através da substituição do uso menos

dispendioso das modalidades de tratamento dos doentes agudos, através do aumento

de promoção e prevenção ou da utilização de cuidados ambulatórios.

Economias de escala: através da coordenação dos vários níveis de cuidados e um

aumento significativo de poder de penetração no mercado, poderão surgir economias

de escala (administrativas e/ou clínicas) resultantes do crescimento da produção em

termos quantitativos e qualitativos. Esta potencialidade permite melhorar os níveis de

eficiência económica via redução do custo da unidade de produção e simultaneamente

rentabilizar a capacidade tecnológica instalada. Tipicamente, conseguem-se atingir

economias de escala em fenómenos de integração horizontal de cuidados de saúde.

Minimização de conflitos: A gestão conjunta de dimensões tão significativas e críticas

para a gestão de organizações de saúde como a sua produção, financiamento e

avaliação de desempenho, potencia um alinhamento estratégico e operacional comum

das etapas do continuum que uma boa articulação entre diferentes níveis de cuidados

de saúde dificilmente conseguirá alcançar. A gestão autónoma das entidades

responsáveis pela prestação de serviços de saúde nas diferentes etapas de produção

pode proporcionar divergências estratégicas, competição por recursos comuns ou

perdas de qualidade assistencial (desresponsabilização pelo output produzido).

3.3.10. Barreiras à integração vertical de cuidados de saúde

Apesar das potencialidades inerentes ao processo de integração, a verdade é que de

uma forma geral os estudos apresentados sobre os resultados da integração de

cuidados, produzidos sobretudo nos EUA, não são conclusivos (103). Se encontramos

evidência que poderá aduzir algum ceticismo associado ao movimento de integração,

como são os casos dos estudos de Conrad e Dowling (1990) (2), Cody (1996) (102),

McCue e Lynch (1987) (104), Walston, Kimberly e Burns (1996) (105) ou Shortell

(1988) (106), também o estudo de Feachem, Sekhri e White (2002) (107) por outro

Page 52: Relatório do Grupo de Trabalho criado para a definição de proposta ...

52

lado, evidenciou as vantagens comparativas do exemplo mais proeminente de

prestação de cuidados integrados nos Estados Unidos, a Kaiser Permanente, face ao

NHS inglês: neste estudo concluiu-se que o sistema norte americano conseguiu atingir

uma melhor performance ao mesmo custo, utilizando-se como possíveis fatores

explicativos a real integração de cuidados, a tecnologia de informação utilizada, as

condições concorrenciais de mercado e um superior nível de custo-efetividade nos

tratamentos hospitalares.

Importa também salientar a este nível que muitos estudos sobre o impacto da

coordenação na prestação de cuidados limitaram a sua amostra a doentes onde é

evidente uma única doença, opção que limita a sua capacidade de demonstração da

coordenação na obtenção de outcomes em saúde com necessidades complexas (63).

O mesmo autor propõe a realização de estudos que incluam uma ou mais co-

morbilidades em doentes crónicos para deteção do valor da coordenação de cuidados.

As principais dificuldades sentidas nos processos de integração vertical de cuidados

que poderão ter influenciado alguns argumentos menos favoráveis foram identificadas

por Shortell et al. (2000) (82) e resumem-se:

Na falha de interpretação do novo core business originado pelas realidades

integradas. Durante a primeira metade da década de 90, a prioridade da

American Hospital Association residiu na mudança de paradigma nos serviços

prestados até então, devendo ser redirecionado para uma prestação de

cuidados centrada na rede de cuidados à comunidade (108). Sistemas

integrados de prestação como a Kaiser Permanente, Mayo, Geisinger,

Lovelace ou Scott & White consideram a sua expansão da rede de cuidados

primários como uma das estratégias mais importantes da última década (86).

O novo enfoque estratégico, sobretudo direcionado para os cuidados de

primeira linha em detrimento da utilização de cuidados diferenciados que

exigem mais consumos e técnicas diferenciadas, não foi compreendido nem

executado por muitas HMOs que consequentemente não se conseguiram

afirmar neste novo contexto. A alteração da prioridade estratégica, agora

centrada nos cuidados de saúde primários é um aspeto extremamente difícil de

concretizar, uma vez que o hospital continua a ser encarado pelos diferentes

atores do sistema como uma “cash cow” (85).

Por outro lado, algumas HMO concentraram esforços estratégicos,

erradamente, sobretudo nas dimensões administrativas que permitiram obter

ganhos imediatos oriundos da geração de economias de escala e de uma

maior capacidade negocial, mas que foram limitados no tempo. As verdadeiras

dimensões de integração, aquelas que se prendem com as dimensões

funcionais, foram também as mais difíceis de colocar em prática.

Na resistência provocada pelas diferentes culturas organizacionais das

unidades que integraram a nova organização. As unidades integradas surgiram

historicamente da agregação de diferentes organizações prestadoras de

cuidados de saúde, não tiveram origem em novas realidades sem histórico.

Neste contexto, a realidade integrada contempla todo o conjunto de culturas e

valores provenientes das anteriores formas organizacionais, que naturalmente

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53

devem ser adaptadas a uma nova situação. Os aspetos culturais são os mais

difíceis de transformar e alterar, pelo que as diferenças existentes nem sempre

conviveram de forma pacífica e conciliadora.

Ao foco nas “cash-cows”. Outra das dificuldades identificadas ao nível do

processo de implementação de realidades integradas, prende-se com o facto

de serem concentrados esforços estratégicos nas “cash-cows”, ou seja, nas

organizações que detém o maior orçamento e consequente capacidade para

gerar o maior volume de lucro financeiro – habitualmente os grandes hospitais.

Se anteriormente, mais produção significava mais lucro, em ambientes

integrados com pagamento capitacional, mais produção significa mais recursos

e mais custos empregues.

À proximidade polar existente entre as organizações. Naturalmente, a

integração vertical de cuidados de saúde ocorre numa perspetiva geográfica de

proximidade. As organizações que constituíram novas realidades integradas,

formaram-se a partir de outras instituições que anteriormente se situavam

geograficamente próximas e que se habituaram a concorrer entre si por

recursos humanos, técnicos ou mesmo orçamentais.

Esta situação, aliada a um grau de desconfiança inicial, conduziu a posturas

que enveredaram por uma competição pelos recursos disponíveis em

detrimento de estratégias de partilha e concertação. Também a posse de

informação privilegiada sobre cada realidade individual foi utilizada em

benefício próprio, não permitindo uma cooperação mútua.

À desigualdade relativa existente entre instituições. Outra das barreiras

identificadas ao nível da integração vertical, deveu-se aos problemas criados

com a agregação de organizações com diferentes dimensões estruturais. Os

processos de integração em termos históricos partiram da iniciativa hospitalar

(82). Uma das consequências decorrentes desta situação foi a “guerrilha”

constante habitualmente proporcionada pelas entidades com menor dimensão,

reivindicando a perda do controlo dos processos de gestão e produção ou a

discriminação não preferencial ao nível orçamental. Esta postura, para além de

contrariar o prosseguimento dos objetivos genéricos da instituição dificulta a

operacionalização das estratégias definidas no sentido da obtenção de ganhos

comuns.

3.4. Integração de cuidados: reformas em curso nos EUA e Inglaterra

Após o enquadramento conceptual sobre a integração de cuidados de saúde, importa

também rever qual o estado de arte do seu desenvolvimento aplicacional. Para o efeito

são tratadas sobretudo duas realidades: a americana (Estados Unidos da América) e a

inglesa.

3.4.1. Estados Unidos da América (EUA)

Os EUA apresentam uma elevada despesa em saúde, cifrada - em 2011 - em 17,9%

do Produto Interno Bruto (PIB) (109). Em adição, o sistema de saúde norte-americano

tem apresentado elevadas - ainda que tendencialmente decrescentes - taxas de

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54

crescimento da despesa. Assim, no contexto de um sistema de saúde dominado por

uma matriz competitiva com pagadores e prestadores de natureza privada, um dos

principais objetivos das principais reformas elencadas ao longo das últimas décadas

visou aumentar os níveis de eficiência e conter a despesa de saúde.

Entre estas reformas, destacam-se transformações de índole organizacional,

designadamente as HMOs (Health Maintenance Organization), PPOS (Preferred

Provider Organizations), e mais recentemente, as ACOs (Accoutanble Care

Organizations). De seguida detalha-se a reforma consubstanciada pelas ACOs,

incluindo uma breve descrição do processo evolutivo histórico corporizado pelas

HMOs e PPOs.

As HMOs - criadas em 1973 - visaram potenciar a integração vertical de cuidados de

saúde (com um pacote de serviços fixo variável) para um determinado número de

utentes. Primariamente, as HMOs visaram colmatar o crescimento da despesa em

saúde, mediante um maior controlo dos níveis de utilização de cuidados de saúde. No

entanto, as restrições de acessibilidade exercidas sobretudo através do ponto de

contacto entre o utente e o sistema – i.e. o médico de cuidados primários – promoveu

uma crescente insatisfação do utente e dos prestadores face ao sistema de saúde

protagonizado pelo HMOs. Pelo referido, e segundo Miller e Luft (2002) (110), no

cômputo geral e apesar da controvérsia verificada, os HMOs parecem não ter

atingindo os objetivos a que se propuseram.

Como consequência da insatisfação crescente, os utentes dos seguros norte-

americanos abandonaram progressivamente o modelo organizacional corporizado nas

HMOs em prol de sistemas com menor controlo do nível de utilização,

designadamente as PPOs. As PPOs eram semelhantes ao modelo presente nos

HMOs, com duas diferenças fundamentais: (1) o utente detinha uma maior liberdade

de decisão, podendo recorrer com maior liberdade aos prestadores sem o controlo

exercido pelo médico de cuidados primários (presente no modelo HMOs) e a rede

prestadora previamente definida; e (2) os prestadores eram remunerados

maioritariamente pela produção realizada, numa lógica de pagamento por ato.

A análise retrospetiva da despesa total de saúde permite concluir que a redução

histórica das taxas de crescimento da despesa se deveu mais à evolução favorável

dos custos (por via do preço) do que propriamente a uma superior gestão dos

cuidados de saúde. De facto, as reformas organizacionais, seja as HMOs ou as PPOs,

foram incapazes de reverter a espiral de crescimento da despesa, devido à incipiente

integração de cuidados sobre a dimensão clínica. De facto, a manutenção de

reduzidos níveis de integração, a par do crescimento da despesa em contexto de

insuficiência financeira, agudizou a necessidade de mudanças estruturais no

fragmentado sistema de saúde norte-americano. Para melhor ilustrar esta necessidade

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55

de reformas, basta referir que a manutenção das taxas históricas de crescimento de

despesa levaria à bancarrota da Medicare Trust Fund no ano de 2017 (111).

No topo destas reformas, situa-se as ACO, corporizadas num diploma legal de 2010

(comummente designado de ObamaCare, em referência ao atual presidente dos

EUA). De seguida procede-se a uma análise descritiva da(o)s: (i) descrição e objetivos

da reforma; (ii) estrutura organizacional das ACOs; (iii) respetivo modelo de

financiamento, a nível organizacional e individual; e (iv) impacto esperado e observado

sob diversas dimensões de análise. A presente metodologia de análise baseou-se

numa revisão de literatura, procurando transmitir uma perceção holística da realidade

das organizações ACO e não a especificidade relativa a uma determinada área

assistencial ou grupo profissional.

i. Descrição do conceito e objetivos da reforma

A ACO compreende a agregação legal voluntária de um conjunto de prestadores, dos

cuidados primários aos hospitalares, responsáveis pelo contínuo de cuidados de

saúde para uma população não inferior a cinco mil habitantes (112). As ACOs visam

dar resposta a beneficiários do programa Medicare e/ou sistemas de seguro privados.

Por seu lado, na perspetiva dos utentes, verifica-se que a atribuição dos beneficiários

a uma ACO específica é realizada tendo por base os cuidados primários de saúde. Por

conseguinte, o papel dos cuidados primários no contexto dos ACOs é nuclear (113)

(114). No entanto, ao contrário das HMOs, os utentes detêm total liberdade de escolha

do seu prestador independentemente da ACO a que se encontram adstritos (conceito

de alinhamento e não consignação obrigatória) (115)

A ACO corporiza uma componente chave da iniciativa “Value-based purchasing”

levada a cabo pela Medicare que visa uma maior criação de valor por unidade

monetária despendida. As ACOs apresentam como objetivos potenciar – em

simultâneo - o aumento dos índices de qualidade e eficiência (111). No que respeita à

eficiência importa referir o claro enfoque na redução dos custos totais (111).

Para atingir estes objetivos, e ao contrário de reformas anteriores, concebeu-se a

criação de um modelo de incentivos financeiros em prol da integração e coordenação

clínica, promovendo a accountability de todo e qualquer prestador integrante de uma

ACO. Tanto na perspetiva dos pagadores como dos prestadores, as ACOs

representam uma solução intermédia entre as HMOs, com um elevado controlo dos

níveis de utilização, e as PPOs, com maior liberdade de escolha, menor controlo de

utilização e, por conseguinte, um maior custo adstrito. No entanto, por oposição às

HMOs, nas ACOs salientam-se importantes divergências como a existência de

liberdade de escolha sem rede de prestadores pré-definidas e de um modelo de

financiamento baseado em medidas de desempenho. Esta última novidade estrutural

visa assegurar a efetiva accountability, isto é, a responsabilização das ACOs,

complementando potenciais unidades de pagamento pré-existentes.

Page 56: Relatório do Grupo de Trabalho criado para a definição de proposta ...

56

Em jeito de síntese, o modelo das ACOs baseia-se em três princípios basilares: (1)

organizações constituídas por diferentes tipologias de entidades prestadoras e

coletivamente responsáveis pelos níveis de eficiência e qualidade ao longo do

contínuo de cuidados de uma determinada população; (2) reforma do modelo de

financiamento, tanto ao nível das instituições como dos indivíduos, que premeie a

melhoria contínua de qualidade e redução do crescimento da despesa de saúde em

contexto de partilha de risco financeiro; e (3) a implementação de modelos de

avaliação de desempenho fiáveis que suportem as ACOs (111) (116).

ii. Estrutura organizacional

Conforme referido, as ACOs são estruturas legais que compreendem a integração –

real ou virtual - de hospitais, unidades de cuidados primários e/ou conjunto de médicos

hospitalares para a prestação de cuidados integrados de saúde. De salientar ainda

que as entidades integrantes da ACO tem de assinar um contrato válido por uma

duração de três anos com a Medicare, sem possibilidade prévia de opting-out (117).

Os requisitos supracitados são obrigatórios para assegurar a accountability, ou seja, a

responsabilização pelos resultados obtidos. Tal apenas é possível se a nova

organização detiver a capacidade legal para, em primeiro lugar, deter incentivos

próprios e, em segundo, distribuir incentivos financeiros ao nível individual.

Diferentes tipologias de entidades prestadoras podem – de forma isolada ou coletiva -

constituir uma ACO. De acordo com Shortell e Casalino (2008) (118) e Shortell,

Casalino e Fisher (2010) (111) existem diversos tipos de organizações que podem

incorporar um ACO, a saber:

1. Diferentes tipos de grupos de médicos ou organizações sob a tutela de

médicos prestadores. Nesta chancela inclui-se Grupos Médicos de Prática

Multidisciplinar (GMPM) e Associações de Prestadores Independentes (API);

2. Organizações de saúde centradas numa unidade hospitalar. De referir a

importância do hospital deter médicos com vínculo laboral com a unidade e não

em regime de prestação de serviços. Esta situação decorre da necessidade

previamente referida da liderança e capacidade de decisão da ACO residir em

entidades diretamente envolvidas (e responsabilizáveis) pelo processo de

prestação de cuidados;

3. Organizações integradas de planeamento e prestação de cuidados de saúde,

compreendendo unidades hospitalares, médicos adstritos à unidade e outro

tipo de prestadores.

A Figura 1 apresenta quatro potenciais combinações de prestadores que podem

constituir um ACO. Apesar de ser esperado que as ACOS se baseiem nas quatro

estruturas previamente listadas, poderá verificar-se o agrupamento diverso de

entidades em função da realidade específica de cada região.

Page 57: Relatório do Grupo de Trabalho criado para a definição de proposta ...

57

Figura 5. Possíveis configurações de ACOs norte-americanas (112) (115).

De acordo com Devers e Berenson (2009) (112) – e independentemente da estrutura

organizacional - existem três caraterísticas essenciais para o adequado funcionamento

de uma organização ACO, a saber: (1) a capacidade de proceder a uma gestão

integral de cuidados ao longo de diversas instituições de saúde; (2) a gestão

prospetiva de recursos financeiros; e (3) a utilização de indicadores de desempenho

holísticos, robustos e exequíveis. No entanto, ainda segundo os mesmos autores,

diversas estruturas organizacionais norte-americanas têm potencial para deter estas

caraterísticas. Por conseguinte, diversas estruturas existentes podem ser

consideradas adequadas para constituir uma ACO.

Traçando um paralelismo com a realidade nacional, as Unidades Locais de Saúde

(ULS) compreendem – em teoria - o equivalente ao estabelecido no modelo 4, ou seja,

são responsáveis não só pelo planeamento como pela própria prestação de cuidados

de saúde à sua população adstrita. No entanto, na prática, a integração vertical

corporizada pelas ULS, ainda carece de um verdadeira integração sob diferentes

dimensões e insuficiente autonomia no planeamento de cuidados. Assim, as diferentes

ULS nacionais, atualmente em distintos estadios de evolução, podem ser equiparadas

aos modelos 3 e 4 ilustrados na região.

Apesar das diferentes possibilidades organizacionais de ACOs, a presente reforma foi

concebida de forma a garantir que apenas prestadores possam criar estas

organizações. Assim, visou-se garantir que o controlo e liderança efetiva da ACO

permaneça na esfera de entidades prestadoras. Por outras palavras, visou-se impedir

que entidades pagadoras, designadamente seguradoras, possam ter um controlo

efetivo da nova sociedade criada (i.e. o novo ACO). O supracitado não significa que as

entidades seguradoras devam ser excluídas da reforma. Pelo contrário, considerou-se

relevante o seu papel potencial enquanto parceiro sinérgico da reforma (sobretudo em

ACOs de menor dimensão) sempre e quando a sua participação societária não seja

maioritária.

Por outro lado, a dimensão da ACO é comummente apontada como um fator

competitivo devido a economias de escala diversas, designadamente ao nível da

implementação de plataformas informáticas ou programas de integração (119). No

Page 58: Relatório do Grupo de Trabalho criado para a definição de proposta ...

58

entanto, o inverso, ou seja, deseconomias de escala também devem ser salientadas.

ACOs de elevada dimensão tendem a apresentar uma menor coesão cultural e um

sentimento de menor pertença e dedicação por parte dos médicos prestadores (119).

Assim, também no que respeita à dimensão, parece não haver uma solução ótima

para todo e qualquer tipo de prestador e ACO.

Em suma, considera-se a existência de uma variedade de tipologias de organizações

que apresentam potencial para prestar cuidados de forma custo-efetiva sobre a égide

de uma ACO (119). Para além do tipo de estrutura, outras variáveis como a sua

evolução e cultura enquanto organização ou o devido alinhamento dos objetivos da

própria ACO e os seus profissionais, em particular os médicos, são igualmente

importantes (119).

iii. Modelo de financiamento

a) Institucional

Conforme referido, diversas ACOs apresentam uma elevada diversidade na sua

estrutura organizacional. Por este motivo, a par da realidade variável no que respeita

ao modelo de financiamento pré-existente (e.g. pagamento por ato, produto ou capita),

considera-se que diferentes ACOs devem apresentar modelos de financiamento (e

unidades de pagamento) diversos. Shortell, Casalino e Fisher (2010) (111) propõem

um sistema de classificação baseado em três níveis: ACO de nível 1, 2 ou 3 (ver

Figura 6). A classificação atribuída varia em função do: (1) risco financeiro assumido

pela ACO; e (2) nível de partilha dos resultados entre o pagador e a ACO.

Figura 6. Sistema de classificação de ACO com base no seu grau de evolução, partilha de risco

financeiro e respetiva unidade de pagamento preferencial adstrita (111) (117).

Page 59: Relatório do Grupo de Trabalho criado para a definição de proposta ...

59

Em simultâneo, e de acordo com o estadio evolutivo de cada ACO, a unidade de

pagamento preferencial do modelo de financiamento adstrito aos diversos tipos de

ACOs é também variável. Assim, conforme ilustrado na

Figura 6, as ACOs de nível 1, 2 e 3 devem ser financiados através de modelos cuja

unidade de pagamento preferencial é, respetivamente, o pagamento por ato,

pagamento por episódio e capitação total ou parcial (111). O grau de flexibilidade do

modelo de financiamento, a par da estrutura organizacional das ACO, decorre da

manifesta variação do mercado de saúde no espetro norte-americano, permitindo – em

teoria – um processo gradual de ajustamento do mercado (115).

Paralelamente, quanto maior o risco financeiro transferido do pagador para a ACO,

maior será também a potencial recompensa financeira. Todas as ACOs com acordo de

beneficiários da Medicare participam num esquema de partilha das poupanças

geradas (programa Shared Savings, que sucedeu ao programa ACO Pioneer, a

experiência piloto que durante três anos abrangeu 32 ACOs) (120). Esta

(re)distribuição de verbas financeiras decorre de um mecanismo de pagamento por

desempenho onde o pagador e a ACO partilham uma proporção das poupanças

decorrentes de uma despesa total inferior à estimativa estabelecida como meta.

A referida proporção de poupanças a distribuir baseia-se em duas variáveis: (1) a

estratégia de partilha de risco financeiro inicialmente adotada (estipulando-se como

percentagem máxima de partilha 50% ou 60% do valor total de poupanças geradas)

(114); e (2) um sistema de classificação de pontos por indicador em análise. Este

sistema, conforme ilustrado na Tabela 4, encontra-se corporizado por 33 indicadores

distribuídos por quatro componentes (121) (122) (123).

Tabela 4. Distribuição do número de indicadores por componente em análise (123)

Componente em análise Número de indicadores

Satisfação do utente com os cuidados prestados

7

Coordenação de cuidados 6

Medicina preventiva 8

População em risco 12

Total 33

Caso o nível de despesa total tenha decrescido face ao estabelecido como meta, a

ACO encontra-se elegível para ser ressarcida numa proporção do valor absoluto de

poupança gerado. No entanto, se esta poupança tiver sido obtida em detrimento de

determinados indicadores de qualidade, a ACO receberá apenas uma percentagem do

nível máximo elegível, na direta proporção da sua pontuação com base no sistema de

pontos expresso em (2). A título exemplificativo, se uma ACO apenas obtiver uma

proporção dos pontos possíveis, apenas terá lugar ao pagamento parcial do valor

máximo elegível (50% ou 60%) de poupanças geradas (115) (124). No entanto, há

Page 60: Relatório do Grupo de Trabalho criado para a definição de proposta ...

60

exceções ao referido, visto que o nível total de incentivos (positivos ou negativos) de

cada ACO não pode superar entre 7,5% a 10% do seu orçamento (120).

b) Individual

Para o sucesso desta reforma é igualmente nuclear que a (re)definição do modelo de

financiamento não se esgote na organização, i.e. na ACO, repercutindo-se igualmente

no interior da mesma, ou seja a nível individual, dos diversos colaboradores das

ACOs. O racional implícito reside numa relação de compromisso entre: (1) a

responsabilidade multidisciplinar pelo contínuo de cuidados; e (2) a responsabilização

individual com base em indicadores de desempenho e produtividade individual (112)

(113). Enquanto a opção (1) potencia o trabalho multidisciplinar, esta também

apresenta como desvantagem a exposição de cada indivíduo ao risco de não

desempenho coletivo e a consequente menor adesão a este tipo de incentivos. Por

outro lado, a opção (2) reforça comportamentos individualistas e não de trabalho em

equipa, como seria desejável no contexto holístico de prestação de cuidados (115).

Assim, as ACOs tendem a apresentar modelos híbridos, com incentivos de: (a) grupo

com base em indicadores de desempenho do ACO; e (b) individuais por via do

desempenho individual (112).

iv. Impacto esperado e observado

A evidência empírica relativa às ACOs é, devido ao breve período temporal decorrido

após a sua introdução, naturalmente reduzida. Em adição, qualquer reforma

compreende um processo evolutivo de aprendizagem, pelo que seria redutor basear o

retorno de uma reforma estrutural unicamente no seu impacto de curto-prazo.

a) Impacto teórico esperado

As ACOs visam obter um impacto positivo sobretudo ao nível de duas dimensões de

análise: eficiência e qualidade de cuidados.

Por qualidade subentende-se duas componentes interrelacionadas, a qualidade dos

cuidados de saúde prestados e a qualidade de vida da população. O referido significa

que os ACOs visam promover a saúde e cuidados preventivos dos seus beneficiários

e não apenas – como sucedia anteriormente – prestar cuidados de saúde de elevada

qualidade em caso de doença.

Por outro lado, no que respeita à eficiência, visou-se, com a transferência de risco

financeiro do pagador para o prestador, incutir um incentivo com vista a reduzir o nível

de despesa total do sistema de saúde e, consequentemente melhorar os níveis de

eficiência. De acordo com Berenson e Burton (2012) (120), as estimativas de

poupanças geradas pelos programas de ACO da Medicare, o ACO Pioneers e ACO

Shared Savings, ascendem a um total superior a $2 mil milhões durante os primeiros

cinco anos de implementação.

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61

No que respeita a outra dimensão de análise, a acessibilidade, foi considerado a

existência de um impacto neutro (ver tabela 2-6 em Medicare Payment Advisory

Commission, 2009) (115). Tal resulta do facto das ACOs, ao contrário de reformas

anteriores (como os HMOs), não apresentarem limitações de acesso a uma rede de

prestadores pré-definida.

Por último, apesar de não referido como foco principal da reforma, é expectável que a

reforma apresente impacto positivo ao nível da satisfação do utente (115).

b) Impacto observado

O Centers for Medicare & Medicaid Services, agência federal norte-americana

responsável pelo programa Medicare, anunciou, em comunicado de imprensa a 16 de

Julho de 2013, os resultados positivos do primeiro ano do programa ACO Pioneers -

reforma piloto que antecedeu o atual programa de ACO Shared Savings (125). De

referir o alinhamento global positivo entre o impacto teórico e o observado ao nível das

dimensões eficiência e qualidade.

No que respeita à dimensão qualidade verificou-se que todas as 32 (100,0%) ACO

pioneiras obtiveram níveis de qualidade superiores para os 15 indicadores com

informação de comparação disponível.

No que respeita a dimensão eficiência, e de forma alinhada com o impacto esperado,

verificou-se uma redução das despesas totais na perspetiva do pagador, ou seja, da

Medicare. Em termos relativos, verificou-se que as ACOs pioneiras apresentaram um

crescimento de 0,3% da despesa total por beneficiário (para um universo de 669 mil

beneficiários), por oposição aos 0,8% observados ao nível de beneficiários

equivalentes adstritos a outro tipo de entidades (125). Em termos absolutos, os níveis

de poupança brutos gerados pelos ACOs estimam-se na ordem dos $87,8 milhões,

dos quais $33 milhões permaneceram na esfera da Medicare. A redução proporcional

da despesa por beneficiário resultou maioritariamente da redução das: (1) taxas de

utilização de internamento; e (2) readmissões hospitalares.

No entanto, os resultados supracitados para a dimensão eficiência encerram em si

uma importante variabilidade individual. De um universo de 32 ACOs pioneiras, 13

(40,6%) receberam incentivos financeiros adicionais resultantes da partilha das

poupanças geradas para a Medicare. No extremo oposto, apenas 2 (6,3%)

apresentaram um aumento da despesa superior à meta estabelecida, tendo por

conseguinte, recebido incentivos negativos decorrentes da partilha dos prejuízos

gerados (125). Para um maior detalhe individual, aconselha-se a leitura de Patel e

Lieberman (2013) (126).

Um total de 30 das 32 (93,8%) ACOs pioneiras pretendem continuar a participar na

reforma. Esta situação, amplamente publicitada pelo Centers for Medicare & Medicaid

Services, é fundamental para garantir a evolução e maturação da reforma. Conforme

se ilustra na

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62

Figura 7, referente à distribuição geográfica das ACOs norte-americanas à data de

Janeiro de 2013, verifica-se uma importante assimetria nacional no ritmo de formação

de ACOs, permanecendo uma vasta área territorial por cobrir. Estados com uma maior

proporção de modelos integrados de prestação de saúde, como a Califórnia e a

Flórida, apresentaram uma maior adesão inicial à reforma, por oposição a outros

Estados, nos quais são dominantes entidades individuais, sem integração vertical de

cuidados. Para o supracitado convergem diversas limitações e barreiras à mudança

que importa elencar.

Figura 7. Distribuição geográfica das ACOs à data de Janeiro de 2013 (RUPRI Center for Rural

Health Policy Analysis 2013).

Entre as principais limitações e barreiras à implementação de um superior número de

ACOs e, não menos importante, a uma maior disseminação territorial, destaca-se a(o):

Desconhecimento e utilização do conceito ACO em contextos diversos (114);

Utilização histórica da unidade de pagamento de pagamento por ato. As ACOs

consubstanciam uma nova estrutura organizacional e um novo modelo de

negócio implícito que deverá resultar de um ajustamento temporal progressivo;

Dimensão mínima da ACO em termos de número de beneficiários necessária

com vista a garantir a sua viabilidade financeira (115). Apesar do critério de

elegibilidade contemplar um mínimo de apenas cinco mil beneficiários, evidência

financeira apontam para uma dimensão mínima crítica superior a este número

(115);

Importantes assimetrias e limitações de infraestruturas físicas. Esta situação, a

par do papel dominante do hospital na prestação de cuidados, dificulta a

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63

constituição de ACOs que não sejam centralizados em torno de uma unidade

hospitalar (127);

Existência de problemas do foro legal, em particular ao nível da obtenção do

consentimento dos diversos beneficiários para partilha dos seus dados (128);

Falta de liderança e envolvimento em particular ao nível dos prestadores de

menor dimensão. Esta situação pode colocar entraves ao desenvolvimento de

novas iniciativas de ACOs, em particular numa fase inicial da reforma;

Dificuldade de integração, em particular ao nível da informação. Por motivos

similares aos supracitados, organizações de menor dimensão e, por

conseguinte, menor capacidade financeira tendem a deter menor capacidade de

economias de escala e capacidade de investimento inicial para o

desenvolvimento de diversas iniciativas, como registo clínico eletrónico ou

plataformas únicas de partilha de informação (clínica e não clínica).

Em suma, a literatura analisada, bem como os resultados das ACOs pioneiras e –

ainda que de forma não sistemática - das ACOs recentemente cobertos pelo programa

da Medicare Shared Savings, converge no sentido de apontar potenciais mais-valias

às ACOs. O referido decorre do impacto positivo ao nível da qualidade de cuidados e

respetivos níveis de eficiência. No entanto, importa ressalvar-se importantes níveis de

variabilidade individual, decorrentes de diversas variáveis específicas à estrutura

organizacional de cada ACO. Por fim, e apesar de consubstanciarem uma reforma

nuclear, as ACOs não devem ser entendidas como a resposta única e definitiva para o

controlo das taxas de crescimento da despesa em saúde.

3.4.2. Inglaterra

O serviço nacional de saúde em Inglaterra (designado de NHS - National Health

Service) apresenta, à semelhança dos demais sistemas de saúde de países

designados por desenvolvidos, importantes limitações e desafios. Em particular,

destaca-se a insuficiente integração de cuidados de saúde, não só entre os cuidados

primários e hospitalares, mas também entre estes e o setor social. É precisamente

neste contexto que têm surgido diversas reformas, de entre as quais se realça o

Fundo destinado à Transformação dos processos de Integração (doravante designado

de FTI).

Em Junho de 2013, o governo inglês criou o FTI, cujo principal objetivo passa por

potenciar a integração entre o setor social e o da saúde (129). Neste sentido, o FTI

deve ser encarado como um meio para um fim há muito definido. Na prática, o FTI

consubstancia o esforço financeiro para operacionalizar a integração entre setores

transversais no tratamento e/ou apoio a utentes e/ou cidadãos, particularmente os

mais desfavorecidos. No contexto da presente reforma, por integração entende-se a

disposição de um conjunto de cuidados e/ou serviços ao dispor do doente, respetivo

cuidador e/ou residente que se adapte às suas necessidades específicas e maximize o

seu nível de independência (130).

O FTI visa primariamente potenciar a qualidade dos cuidados prestados, no âmbito

social e de saúde, aos diferentes residentes, utentes e respetivos cuidadores. No

entanto, o FTI não se esgota na dimensão qualidade. De facto, a crescente pressão

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64

demográfica coloca uma ênfase acrescida na dimensão eficiência e consequente

utilização de recursos com base em critérios de custo-efetividade. Assim, o FTI visa

contribuir para o aumento dos índices de eficiência ao potenciar o alinhamento entre

interesses complementares dos setores social e da saúde.

Previamente à atribuição de qualquer verba financeira, as entidades interessadas

devem apresentar - até Março de 2014 - um plano detalhado de implementação.

Este plano deverá decorrer sob a égide de regulação de conselhos diretivos locais, os

Local Health and Wellbeing Boards (LHWB), e compreender o envolvimento de

diversos responsáveis, designadamente do:

1. Setor da Saúde, em particular os Clinical Comissioning Groups (CCG). Estes

atuam como estruturas intermédias, responsáveis pelo fluxo financeiro de

incentivos do orçamento do NHS England para as diversas entidades

prestadoras;

2. Setor Social, como a Local Government Association (LGA) e a Association of

Directors of Adult Services (ADASS).

Ainda no que respeita ao plano de implementação, o FTI compreende duas fases: (1)

um período de transição, até 2014/15; e (2) o roll-out ou implementação do programa,

em vigor a partir do ano financeiro de 2015/16 (129).

Tabela 5. Proveniência das verbas financeiras alocadas à implementação do FTI (129)

(131).

£1,9 mil milhões de fundo pré-existente em 2014/15, composto por:

£130 milhões, previamente adstritos ao setor social, destinados a promover o

descanso temporário aos cuidadores;

£300 milhões oriundos do fundo de reabilitação previamente alocado ao setor

da saúde, por via da contratualização entre o NHS England e os diversos

prestadores, negociação essa mediada pelos CCGs;

£350 milhões realocados a partir projetos específicos com dotação financeira

própria, incluindo £220 milhões destinados à adaptação de instalações para

pessoas com deficiências;

£1,1 mil milhões provenientes da transferência de verbas do NHS England

(£200 milhões atualmente realocados e os remanescentes £900 milhões

durante o período de transição em 2014/15).

£1,9 mil milhões de realocação adicional de verbas financeiras procedentes do NHS

England.

£ 1,0 mil milhões destinados ao pagamento, em duas fases, de incentivos com

base no desempenho. Apesar das métricas e indicadores específicos ainda se

encontrarem por definir, as áreas em análise decorrem de: (1) atrasos na

transferência de cuidados; (2) admissões urgentes; (3) efetividade cuidados de

reabilitação; (4) admissões em unidades de cuidados de enfermagem e

residências assistidas; e (5) satisfação do utilizador do serviço (131).

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65

O presente período de transição destina-se a suportar o processo de transformação,

com a articulação entre as diversas entidades intervenientes supracitada (129). Como

este processo envolve o consumo de recursos, o FTI compreende a atribuição de

incentivos anuais na ordem dos £200 milhões, incentivos esses retirados do

orçamento do NHS England (129). Atualmente, o programa encontra-se em fase de

desenvolvimento junto de 14 unidades piloto que abrangem todo o território inglês

(130).

Posteriormente, após a fase de implementação, o FTI irá compreender uma dotação

financeira anual adstrita na ordem dos £3,8 mil milhões (ver Erro! A origem da referência

não foi encontrada.) (129). No entanto, à semelhança do disposto para o cenário de

transição, as verbas financeiras disponibilizadas derivam da (re)utilização de verbas

financeiras pré-existentes. Conforme expresso na Erro! A origem da referência não foi

encontrada.5, cerca de 80% do total, ou seja, cerca de £3 mil milhões decorrem de

verbas previamente adstritas ao NHS England. Deste valor, cerca de 37% (£1,1 mil

milhões) foi previamente realocado do setor da saúde para o setor social, sendo que

os remanescentes 63% (£1,9 mil milhões) correspondem a uma nova realocação de

verbas do NHS England para o FTI (129). Ainda que em menor magnitude, importa

ainda salientar a alocação de verbas financeiras num total de 21% (£800 milhões)

decorrentes primordialmente de diversos fundos previamente adstritos ao setor social

(ver Erro! A origem da referência não foi encontrada.5).

Ainda no que respeita à estrutura, designadamente à distribuição das verbas

financeiras do FTI – ainda em fase de desenvolvimento - deverá compreender

diversas variáveis, designadamente: (1) de índole demográfica; (2) de indicadores de

desempenho; e (3) da avaliação qualitativa pelo LHWB da proposta de integração

apresentada pelos diversos intervenientes (131). Dada a magnitude global fixa do FTI

e as variáveis previamente listadas, depreende-se a existência de mecanismos

competitivos de alocação de verbas, onde as melhores propostas de integração

tenderão a apresentar um superior nível relativo de financiamento.

Para potenciar o seu objetivo chave, o FTI apresenta como uma das principais

novidades estruturais a distribuição das verbas financeiras mediante um pool

partilhado de recursos entre os cuidados de saúde e o setor social, ou seja, uma

utilização comum por parte das entidades pertencentes aos setores social e da saúde

(129). Esta decisão estratégica encerra em si a capacidade de potenciar a articulação

e integração entre as entidades de ambos os setores. Embora a definição da estrutura

e componente legal adstrita ao referido pool não se encontre – no momento da escrita

do presente texto - definida na íntegra, verifica-se uma eminente tendência de partilha

do risco financeiro entre diversas entidades de ambos os setores. O referido significa

que as organizações envolvidas devem efetivamente articular-se entre si com vista a

aceder às verbas financeiras contempladas no FTI. Esta situação é tão mais

importante visto que a dotação orçamental do FTI foi obtida mediante o desvio de

verbas previamente consignadas ao setor social e, sobretudo, da saúde (ver Erro! A

origem da referência não foi encontrada. para maior detalhe). Por isso mesmo, os

diversos intervenientes não podem ficar imunes ao custo de oportunidade decorrente

da não transposição do consubstanciado no FTI.

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66

Conforme referido, o governo inglês transfere implicitamente risco financeiro do NHS

England, ou seja, do orçamento total adstrito ao NHS England para as diversas

entidades intermédias responsáveis pela contratualização de cuidados ao nível dos

cuidados hospitalares, no caso os CCG. No entanto, é previsível que esta reforma não

se esgote apenas nos CCGs. De facto, é expectável que estes procurem partilhar o

risco financeiro com outros parceiros, no caso os próprios prestadores de cuidados de

saúde e/ou sociais. Assim, a reforma consubstanciada pelo FTI deverá, num regime

de cascata vertical, afetar todos os intervenientes, incluindo as entidades prestadoras

de cuidados.

Por último, importa referir que 26% das verbas totais do FTI decorre de atribuição de

incentivos de pagamento por desempenho. Apesar de se conhecer a magnitude dos

incentivos, desconhece-se, de momento, as métricas ou indicadores de desempenho a

avaliar. No entanto, dada a brevidade do período de transição, é expectável que, num

primeiro momento, os indicadores de desempenho se baseiem exclusivamente em

informação pré-existente, isto é, atualmente em vigor (131).

Em síntese, a reforma corporizada pelo FTI visa – de uma forma transparente, objetiva

e adaptada à realidade de cada local – conceder às entidades do setor social e de

saúde uma dotação orçamental que potencie um maior nível de integração efetiva

entre os diferentes stakeholders. O racional implícito nesta opção estratégica é o de

que um nível superior de integração potenciará, em última instância, a transformação e

melhoria dos cuidados prestados na perspetiva dos residentes, utentes e/ou

cuidadores sob diversas dimensões. Entre essas dimensões destaca-se, conforme

ilustrado na satisfação do utente.

Figura 8. Potencial impacto do FTI sob diversas dimensões de análise.

Em termos de critérios de elegibilidade – e ainda que apenas concretizado de forma

genérica (o detalhe da reforma apenas será divulgado no início de 2014) – o FTI

apenas estará disponível para quem enderece determinadas condições nacionais

como a(o) NHS England e Local Government Association, 2013a (129):

• Melhoria da qualidade de vida dos seus residentes, utentes e/ou cuidadores, mediante o (re)alinhamento da resposta às respetivas necessidades específicas (no âmbito do setor da saúde e social);

• Reforço da partilha de conhecimento a diversos níveis, em particular ao nível da informação.

Qualidade

•Aumento dos níveis de eficiência em função da maior integração entre setores de atividade transversais e complementares. O FTI deverá atuar como um catalisador para potenciar o value for money;

•Redução dos custos totais por utilizador, mediante o reforço de uma resposta holística (a título de exemplo, a abertura de serviços sociais e/ou de saúde sete dias por semana permite agilizar o processo de alta do doente dos cuidados agudos durante o fim-de-semana).

Eficiência

• Reforço do sentimento de satisfação mediante a utilização de uma resposta efetiva e resolutiva em função das suas necessidades específicas e/ou da comunidade.

Satisfação do utente

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67

Desenvolvimento e acordo conjunto por parte das entidades envolvidas do

futuro dos serviços a prestar e um plano de ações específicas a implementar;

Definição de planos locais que visem a criação de respostas no setor da saúde

e/ou social durante 7 dias por semana;

Melhoria da partilha de recursos entre os setores da saúde e social,

designadamente ao nível da informação;

Definição de princípios de partilha de risco e planos de contingência em função

de não obtenção de acordo entre as entidades envolvidas;

Estimativa do impacto das mudanças planeadas, em particular nos cuidados

agudos.

Não obstante, como qualquer reforma estrutural, o FTI apresenta potenciais

desvantagens e/ou ameaças à sua implementação que importa atentar.

Em primeiro lugar, salienta-se a atual incerteza e opacidade que rodeia a estrutura e o

detalhe da reforma corporizada pelo FTI. De facto, a menos de quatro meses do prazo

estabelecido para a entrega de propostas de integração, desconhece-se o número ou

tipo de indicadores incluídos ou a fórmula de cálculo inerente ao modelo de incentivos

com base no desempenho. Embora esta situação deva ser obviada no curto prazo (no

início de 2014), importa atentar: (1) o elevado nível de entropia introduzido durante

este período de transição; e, não menos importante, (2) o reduzido espaço temporal

para os diversos intervenientes produzirem um programa de integração adequado às

expectativas das entidades governamentais.

Por outro lado, a própria composição da dotação financeira do FTI potencia a criação

de clivagens entre entidades, cenário diametralmente oposto ao estabelecido como

objetivo chave da reforma. De facto, a criação do FTI com recurso a verbas pré-

existentes, sobretudo provenientes do setor da saúde pode – ainda que inapropriado –

originar cisões entre as entidades responsáveis pela integração. No entanto, o risco

financeiro resultante da não cooperação entre as entidades envolvidas afigura-se

como um incentivo negativo que deverá funcionar como um motor indutor de

mudança, obviando por conseguinte a limitação referida.

Como corolário, o FTI corporiza uma reforma estrutural que visa transformar os

processos de integração - a diversos níveis (inclusivamente financeiro) – entre os

setores sociais e de saúde para o benefício do individuo e da comunidade. Para tal, a

estrutura do FTI compreende a (re)alocação financeira competitiva de fundos

financeiros num pool partilhado a partir de verbas financeiras previamente adstritos –

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77

CAPÍTULO IV

SITUAÇÃO EM PORTUGAL

Page 78: Relatório do Grupo de Trabalho criado para a definição de proposta ...

78

Uma das respostas que traduz operacionalmente a política de saúde em matéria de

reorganização da estrutura de oferta de cuidados de saúde, como tentativa de

resposta a problemas sistémicos cada vez mais prementes, profundos e céleres, é a

integração de cuidados de saúde. O nosso país não escapa a esta tendência global,

sendo possível observar nos últimos anos, movimentos de integração quer horizontal,

quer vertical. Os exemplos típicos destas realidades podem ser encontrados na

criação de Centros Hospitalares ou Agrupamentos de Centros de Saúde no caso da

integração horizontal e na criação de Unidades Locais de Saúde no caso da

integração vertical.

A necessidade de integração de cuidados de saúde no nosso país é uma preocupação

presente desde há alguns anos, conforme se pode conferir no texto introdutório do

estatuto do SNS (DL nº11/93 de 15 de Janeiro) em 1993: “A tradicional dicotomia entre

cuidados primários e cuidados diferenciados revelou-se não só incorrecta do ponto de

vista médico mas também geradora de disfunções sob o ponto de vista organizativo.

Daí a criação de unidades integradas de cuidados de saúde - unidades de saúde -,

que hão-de viabilizar a imprescindível articulação entre grupos personalizados de

centros de saúde e hospitais. A indivisibilidade da saúde, por um lado, e a criteriosa

gestão de recursos, por outro, impõem a consagração de tal modelo, em que radica

um dos aspectos essenciais da nova orgânica do Serviço Nacional de Saúde”.

A integração de cuidados de saúde constitui uma das estratégias de reorganização da

oferta de cuidados de saúde em Portugal, conforme se podia comprovar pelas

intenções manifestadas em sede de programa de governo (XVII), que prevê: “o

desenvolvimento de experiências de financiamento global, de base populacional, por

capitação ajustada, integrando cuidados primários e hospitalares, numa linha de

Unidades Integradas de Saúde, respeitando a autonomia e a cultura técnico-

profissional de cada instituição envolvida”.

No que respeita ao enquadramento do presente tema no nosso país, importa ainda

referir que de forma antagónica ao que sucedeu anteriormente em cada um dos níveis

de cuidados de saúde reconhecidos no nosso país, não existiu nenhuma estrutura de

suporte específica para o desenvolvimento das unidades integradas de prestação de

cuidados de saúde. Estruturas que apoiaram as reformas do sistema de saúde

português, como são os casos das Unidades de Missão dos Hospitais SA e EPE

(2002), Missão dos Cuidados de Saúde Primários (MCSP) (2006) ou Unidade de

Missão dos Cuidados Continuados Integrados (UMCCI) (2006), fundamentais para o

desenvolvimento de todo um conjunto de conhecimento associado às novas

realidades que entretanto surgiram, não obtiveram paralelo no que respeita por

exemplo às ULS.

Até ao momento, a evidência empírica relativa aos resultados alcançados pelos

modelos de organização vertical ou horizontalmente desenvolvidos no nosso país é

bastante incipiente. Aliás, tal como sucede com a generalidade dos resultados

alcançados pelas reformas preconizadas nos últimos anos.

Page 79: Relatório do Grupo de Trabalho criado para a definição de proposta ...

79

4.1. Estudos anteriores

No nosso país, e apesar do interesse manifesto em diferentes fóruns de natureza

distinta (política, prestadores de cuidados, associação, grupos técnicos, etc) a

evidência científica sobre integração de cuidados de saúde todavia não reúne uma

robustez significativa que permita inferir conclusões significativas nas mais diversas

temáticas e sub-temáticas da integração de cuidados.

Adiante são referidos alguns trabalhos que de alguma forma se encontram

relacionados com a integração de cuidados de saúde e que foram desenvolvidos nos

últimos anos, importando rever nas suas principais características e conclusões.

Selecionaram-se

Grupos técnicos reforma hospitalar e desenvolvimento dos cuidados de saúde

primários;

Transferência de Cuidados de Saúde Prestados em meio hospitalar para as

redes de cuidados primários e continuados;

Estudo sobre a organização e desempenho das Unidades Locais de Saúde;

Estudo sobre o grau de integração de cuidados de saúde;

Estimativa dos internamentos evitáveis em Portugal.

4.1.1. Grupos Técnicos

A primeira referência tida em consideração baseia-se no relatório publicado em 2011,

denominado de “Os cidadãos no centro do sistema Os profissionais no centro da

mudança”. Este relatório foi realizado pelo Grupo Técnico para a Reforma Hospitalar,

tendo-se identificado sete iniciativas que tendencialmente poderão contribuir para a

integração de cuidados de saúde, a saber:

Definição de critérios de referenciação entre a rede de cuidados primários e a

rede hospitalar;

Promover a consulta de especialidades hospitalares nos centros de saúde;

Promover protocolos de atuação entre os ACES e os hospitais e eventual

criação das Unidades Coordenadoras Funcionais;

Promover consultas com recurso às novas tecnologias em situações

específicas;

Atender os doentes triados como não urgentes fora das urgências hospitalares;

Agilizar a referenciação de utentes para a RNCCI;

Adequar a contratualização de consultas e de cirurgias à respetiva procura.

Por sua vez, e o Grupo Técnico para o Desenvolvimento dos Cuidados de Saúde

Primários, nomeado pelo Despacho n.º 13312/2011, de 4 de outubro, no seu relatório

Interligação e integração entre cuidados de saúde primários e cuidados hospitalares”

em Setembro de 2012, definiu como premissas-chave que:

a) a integração de cuidados não significa nem pressupõe integração

organizacional e esta não assegura a primeira, pelo que devem ser claramente

distinguidas;

Page 80: Relatório do Grupo de Trabalho criado para a definição de proposta ...

80

b) ambas as estruturas (cuidados de saúde primários e hospitalares) têm culturas

organizacionais e missões distintas.

Assim, as medidas propostas assentam na condição prévia de que não há

necessidade de existir uma integração organizacional, para que seja possível atingir

os fins propostos. Tendo por base este enquadramento, são apontadas como medidas

que podem contribuir para a integração de cuidados de saúde:

O acesso a informação essencial disponível: avaliação clínica e problemas

ativos, resultados de exames, incluindo os de imagem, terapêuticas, riscos e

alertas específicos entre outros;

Garantir uma gestão eficiente de “altas”, é o doente que deve se encontrar no

centro do processo de continuidade de cuidados;

Desenvolvimento de contactos privilegiados entre cada especialidade ou

unidade autónoma de estão, a nível hospitalar, e a equipa de saúde familiar de

cada doente;

Desenvolvimento de um mecanismo de referenciação numa lógica de ciclo

completo da referenciação. Isto é, um ciclo de “partida-avaliação‐resposta-

chegada‐avaliação” e conclusão do episódio pelos CSP;

Partilha de recursos e aumento do intercâmbio de internos de especialidade

(pediatria, obstetrícia, medicina interna e medicina geral e familiar), com o

objetivo de melhorar o processo de referenciação, a resolução imediata de

alguns problemas e o apoio de consultoria;

Reforço da presença de médicos generalistas (medicina interna e pediatria

geral) que atuem como “gestores de caso” e elementos primordiais do

contacto, comunicação e continuidade de cuidados com os CSP e os cuidados

continuados, em especial nas situações mais complexas;

Partilha de recursos de MCDT entre hospitais e os CSP, nomeadamente

através da realização de alguns MCD nos CSP e na utilização dos laboratórios

dos hospitais de referência dos ACES;

Planos de ação conjunta e processos assistenciais integrados, através da

articulação entre o Conselho Clínico dos ACES e a Direção Clínica dos

Hospitais, param alguns tipos de patologias;

Identificação conjunta das necessidades de serviços e de recursos, isto é, das

necessidades de cuidados de saúde das populações abrangidas, com previsão

de necessidades anuais em cuidados secundários, terciários e continuados,

para uma vigilância e resposta epidemiológica mais efetiva;

Definição de indicadores partilhados entre os CSP e hospitais e o

desenvolvimento de mecanismos de contratualização inter-institucional, de

forma clara;

Expansão e aplicação do conceito das Unidades Coordenadoras Funcionais

para áreas chave, com a incumbência de desenvolverem normas clínicas e de

enfermagem, processos assistenciais integrados, esquemas de referenciação

prioritários;

Desenvolvimento de mecanismos de auditoria, num claro reforço da cultura de

avaliação e de qualidade, bem como na elaboração de planos de formação e

de desenvolvimento entre as direções clínicas dos ACES e hospitais, com claro

ênfase nos processos de interface entre os níveis de cuidados;

Page 81: Relatório do Grupo de Trabalho criado para a definição de proposta ...

81

Afinação geodemográfica de alguns ACES e hospitais de referência, com a

correção da constituição de alguns ACES e a redefinição das suas relações

interinstitucionais preferenciais;

Promoção da telemedicina, com a rentabilização dos equipamentos existentes.

4.1.2. Estudo sobre o grau de integração de cuidados de saúde

http://gos.ensp.unl.pt/sites/gos.ensp.unl.pt/files/36_Projecto_ULS.pdf

No âmbito de um estudo realizado pela Escola Nacional de Saúde Pública para a

Administração Central do Sistema de Saúde, durante o ano de 2010, pretendeu-se

determinar o grau de integração das ULS no nosso país. Os seus objetivos específicos

foram: i) descrever e caracterizar as metodologias existentes para determinar o grau

de integração de organizações prestadoras de cuidados de saúde; ii) propor e validar

uma metodologia para a obtenção do grau de integração adequada à nossa realidade;

iii) obter de forma quantitativa o nível de integração das ULS e; iv) discutir os

resultados obtidos no contexto da gestão de organizações de saúde.

Para concretizar os objetivos supra descritos, foi necessário desenvolver e aplicar um

instrumento que permitisse obter o nível de integração percebida dos colaboradores

das ULS no nosso país. Por razões relacionadas com a sua aplicabilidade e

experiência anterior durante a na revisão de literatura, foi utilizado um inquérito

estruturalmente adaptado do Health System Integration Study (Devers et al., 1994)

tendo sido consideradas 6 dimensões de integração (clínica, informação, normativa,

administrativa, financeira e sistémica) e 53 itens no total. Utilizou-se tal como na

metodologia original deste estudo, uma escala de Likert composta por 5 opções.

O EGIOS foi dirigido aos órgãos de gestão e profissionais médicos das ULS a

funcionar no nosso país. O inquérito foi aplicado durante os meses de Abril a Julho em

colaboração com cada ULS, tendo-se obtido um N = 544 e uma taxa de resposta

global na ordem dos 51%. A validação de conteúdo efectuada para cada um dos 53

itens, bem como os valores alcançados de Alpha de Cronbach, Split-Half, validade

convergente-discriminante e pré-teste efetuado, permitem afirmar que se trata de uma

metodologia válida para determinar o nível de integração de cuidados de saúde em

realidades que estruturam a sua oferta numa perspetiva vertical.

Os resultados mais significativos foram os seguintes:

Segundo as respostas obtidas, de uma forma geral existe uma perepção de

integração reduzida nas ULS a nível nacional;

Apesar de existir uma maior percentagem de concentração de respostas nas

opções relativas a uma moderada ou baixa integração, não se deverá ignorar

também as respostas inversas. Ou seja, cerca de 70% das respostas

concentram-se nos extremos e as restantes inquéritos não permitem ser

conclusivos quanto ao nível de integração existente.

As dimensões que apresentam uma menor integração percebida por parte dos

profissionais da ULS são a informação e a clínica. Por outro lado, foi reportado

um maior nível de integração na dimensão normativa;

Page 82: Relatório do Grupo de Trabalho criado para a definição de proposta ...

82

Os resultados são distintos entre ULS, o que prenuncia diferentes níveis de

integração em termos totais e em cada dimensão analisada. A ULS onde existe

uma maior integração percebida é a ULSM, cujos resultados são bastante

diferentes das restantes unidade. Poderá daqui inferir-se que a integração é

um processo tipicamente de médio e longo prazo, não concretizável a curto

prazo. No futuro, os resultados em saúde obtidos nestes contextos deverão ter

em consideração esta conclusão;

Os CA apresentam uma maior perceção de integração do que os seus

colaboradores. Também os profissionais hospitalares reportam maiores níveis

de integração face aos colegas dos cuidados de saúde primários (esta

realidade só é contrariada na ULSBA);

A partilha de experiências sobre o processo de integração de cuidados é uma

condição importante no desenvolvimento dos processo individuais. Esta

constatação é reforçada pela existência de uma ULS a nível nacional que

apresenta resultados diferentes (tendencialmente mais desejáveis) face às

restantes ULS, devendo as suas boas práticas ser identificadas e

eventualmente replicadas noutros contextos. Para que seja possível este

benchmarking sugere-se a criação de estruturas/ mecanismos encarregues por

este “laboratório “de partilha de experiências.

No processo de gestão da integração em cada ULS, destaca-se

particularmente a necessidade de se proceder ao ciclo de planeamento,

execução, monitorização e avaliação. Segundo os objetivos intrínsecos do

presente projeto, o desenvolvimento de metodologias e instrumentos que

auxiliem na monitorização e acompanhamento das atividades relacionadas

com a integração parece fundamental.

A consensualização de protocolos e guidelines clínicas, a implementação de

planos de coordenação entre unidades funcionais, a existência de equipas inter

e multidisciplinares ou a estruturação da oferta de cuidados em programas de

gestão de doença são atividades que se mostraram particularmente deficitárias

no âmbito da dimensão de integração clínica. Também o recurso a gestores de

caso se mostrou um procedimento inexistente no nosso contexto.

Dois itens relativos à dimensão informação merecem particular relevo por se

encontrarem em extremos opostos relativos às respostas obtidas: ao mesmo

tempo que parecem existir infra-estruturas informáticas que garantem a

existência de redes de informação comum (intranets), não foi contemplada a

informação relativa aos utentes (processo clínico único eletrónico);

Como recomendações deste estudo destacam-se fundamentalmente:

A criação de uma equipa de gestão do projeto de integração em cada ULS que

dinamize e coordene as atividades a desenvolver no âmbito deste processo

pode contribuir para encarar a integração como um processo fundamental e

não paralelo ao funcionamento ordinal das ULS. Implicitamente a esta

recomendação encontra-se a necessidade de implementar um processo de

monitorização e acompanhamento específico do processo de integração que

seja aplicado de forma sistemática;

A existência de mecanismos estruturados a nível nacional que permitam a

partilha de processos e/ou atividades que foram aplicados em realidades

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83

integradas nacionais ou internacionais com sucesso. O reporte de um maior

nível de integração por parte de uma ULS deverá ser devidamente considerado

e partilhado com as restantes ULS. As boas práticas de integração poderão ser

um motor de desenvolvimento de boas práticas;

Em termos estratégicos, a concentração de esforços das ULS deverá

direcionar-se para as dimensões clínica e informação, onde foram alcançados

os menores níveis de integração. Estas são efetivamente as dimensões onde a

literatura identifica maiores ganhos potenciais ao nível do processo de

integração;

Há margem para no curto prazo, ser melhorado o nível de integração nas

dimensões financeira, administrativa e sistémica. É nestas dimensões que

poderão ser obtidas as quick wins;

A criação de sistemas de incentivos internos focalizados na coordenação entre

as unidades orgânicas é uma potencialidade que continua por explorar nas

ULS;

Uma melhor política de comunicação e envolvimento dos profissionais no

processo de integração. Parece existir um distanciamento significativo entre a

realidade reportada pelos CA e seus colaboradores, que sinalizaram um

desconhecimento generalizado pelos instrumentos de planeamento estratégico

e operacional das ULS. A criação de uma cultura de integração nos

profissionais é crítica para a interligação e coordenação das unidades

funcionais;

Sendo a dimensão informação aquela onde foi obtido um menor nível de

integração, a aposta particularmente na aplicação de um processo clínico único

eletrónico é crítica para garantir o continuum de cuidados prestados aos

utentes;

Desenvolvimento desta linha de investigação como suporte ao conhecimento

criado sobre integração vertical de cuidados de saúde;

Por último, salienta-se que o presente estudo deve constituir apenas o ponto

de partida para a problemática da gestão do processo de integração vertical de

cuidados de saúde em Portugal. Outras linhas de investigação poderão no

futuro prosseguir o estudo agora realizado. Nomeadamente a aplicação do

EGIOS em realidades articuladas, em contexto internacional, a atribuição de

valorização às dimensões e itens utilizados ou mesmo a comparação dos

níveis de integração obtidos com os resultados em saúde alcançados.

4.1.3. Transferência de Cuidados de Saúde Prestados em meio hospitalar para as

redes de cuidados primários e continuados

http://www.aped-dor.com/up/ficheiros-bin2_ficheiro_pt_0541251001357131431-58.pdf.

Outro dos estudos mais recentes que foram desenvolvidos no nosso contexto e que

poderá ser enquadrável no âmbito do processo de integração de cuidados de saúde é

o trabalho realizado no Centro de Estudos aplicados da Católica Lisboa School of

Business and Economics, Centro de Estudos de Medicina Baseada na Evidência da

Faculdade de Medicina de Lisboa, em Novembro de 2012, pela equipa de

investigadores, composta por Prof. Miguel Gouveia, Dra. Margarida Borges, Dra.

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84

Margarida Augusto e Dra. Raquel Ascensão. Este estudo teve como objetivo estimar o

impacto orçamental para o Estado português da transferência de cuidados de saúde

de entidades prestadoras hospitalares para os CSP e RNCCI.

Para a concretização do objetivo definido, foram identificados e quantificados os

episódios de urgência, as consultas externas, os casos sociais, e os episódios que

incluem uma demora excessiva na referenciação para a RNCCI. A sua valorização

monetária traduzida em custos unitários e totais permitiu alcançar uma estimativa

sobre o impacto orçamental da transferência de cuidados. De acordo com este estudo,

estima-se que perante o atual contexto do SNS português, poderá representar uma

poupança de 148 milhões de euros no curto prazo e cerca de 372 milhões de euros no

médio e longo prazo. De acordo com os autores o alcance desta estimativa no médio e

longo prazo implicaria um ajustamento da capacidade de oferta dos diferentes níveis

de cuidados de saúde, bem como realçam a necessidade de melhorar a sua

comunicação e alterar a abordagem segundo a qual os doentes são transferidos.

4.1.4. Estudo sobre a organização e desempenho das Unidades Locais de Saúde

– Relatório Preliminar

https://www.ers.pt/pages/18?news_id=15

Este estudo, realizado pela Entidade Reguladora da Saúde em 2011, incide sobre a

análise da estrutura organizacional das Unidades Locais de Saúde (ULS),

nomeadamente ao nível da sua descrição estrutural, do seu enquadramento legislativo

e do seu potencial impacto no acesso dos utentes.

Este modelo foi lançado com a criação da Unidade Local de Saúde de Matosinhos,

EPE (ULSM) há 11 anos (1999), e pretende otimizar a resposta dos serviços através

de uma gestão integrada das várias unidades de saúde de uma região. Em 2007, foi

criada a Unidade Local de Saúde do Norte Alentejano, EPE (ULSNA), no ano

seguinte, foram criadas a Unidade Local de Saúde do Alto Minho, EPE (ULSAM), a

Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo (ULSBA) e a Unidade Local de Saúde da

Guarda, EPE (ULSG). Em 2009, foi criada a Unidade Local de Saúde de Castelo

Branco, EPE (ULSCB).

Revela-se de primordial importância analisar o modelo ULS, em especial a sua

característica intrínseca, que consiste na integração da prestação dos cuidados de

saúde, e verificar se a mesma é suscetível de ser potenciadora de impactos positivos

no acesso dos utentes residentes na área de influência de uma ULS, até quando

comparados com os demais utentes do Serviço Nacional de Saúde (SNS), ou seja, se

o objetivo de criação das ULS tem potenciado a melhoria do acesso dos cuidados de

saúde dos utentes abrangidos por este sistema de gestão.

Efetivamente, na génese das ULS esteve o objetivo de criar, através de uma

prestação e gestão integrada de todos os serviços, uma via para melhorar a

interligação dos Centros de Saúde com os Hospitais e, eventualmente, com outras

Page 85: Relatório do Grupo de Trabalho criado para a definição de proposta ...

85

entidades, designadamente, com unidades de cuidados continuados, por intermédio

de um processo de integração vertical desses diferentes níveis de cuidados.

A integração de cuidados de saúde no âmbito das ULS tem tido a sua principal

expressão em matéria de MCDT, designadamente mediante a internalização da

realização dos mesmos, e consequente melhoria do aproveitamento da respetiva

capacidade instalada, sendo uma medida que surge como inovadora, já que a opção

política, desde os primórdios da criação do SNS, foi no sentido da contratualização

com o sector privado, através de convenções, da realização dos MCDT.

A possibilidade de integração de serviços pelas ULS é um resultado direto e imediato

da sua criação, e representa uma opção de política de saúde que, nos termos do n.º 1

do artigo 4.º do Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de Maio, a ERS deve respeitar, sendo

nessa estrita medida que eventuais limitações à liberdade de escolha decorrentes do

próprio conceito de ULS devem ser compatibilizadas com outros valores que compete

à ERS defender.

Nessa medida, deve ser acompanhada com especial cuidado por tais procedimentos

serem suscetíveis de prejudicar os utentes quando coloquem em crise o direito de

acesso universal e em tempo útil dos utentes das ULS, revelando-se fundamental

assegurar que tais cuidados de saúde sejam prestados pelas ULS nas melhores

condições de acesso, isto é, não inferiores àquelas que se verificavam antes da

criação das ULS.

Embora fosse expectável que da integração vertical através de ULS resultasse uma

melhor articulação entre os diferentes níveis de cuidados de saúde, e

consequentemente maiores benefícios, em termos de acesso aos cuidados de saúde

dos utentes residentes na área de influência de ULS, o que se verificou foi que no

acesso aos cuidados de saúde primários e hospitalares não existem, em termos legais

(na legislação sobre acesso), e em termos práticos, diferenças nos procedimentos

adotados no seio das ULS face aos demais estabelecimentos do SNS.

A metodologia de avaliação de acesso que serviu de base ao presente estudo tem em

consideração a análise dos indicadores de proximidade, de capacidade e da análise

temporal.

O indicador de proximidade analisado corresponde ao número de pontos de oferta em

cada ULS, por quilómetro quadrado, da área geográfica abrangida. Pretende-se assim

caracterizar a densidade da rede de pontos de oferta de cuidados de saúde

pertencentes a cada ULS. Considera-se um maior número de prestadores por

quilómetro quadrado como indicador de maior proximidade da oferta de cuidados de

saúde aos utentes.

Posto isto, e analisados todos os pontos de oferta de cuidados de saúde, é constatado

que a ULSM apresenta o índice de proximidade mais elevado e a ULSBA, por sua vez,

tem o índice mais baixo. Torna-se importante referir que a ULSM, embora apresente

um número baixo de prestadores, é a que apresenta uma superfície menor,

resultando, assim, um índice de proximidade elevado. Por sua vez, a ULSBA é a ULS

com uma maior superfície, mas por outro lado, tem uma menor densidade

Page 86: Relatório do Grupo de Trabalho criado para a definição de proposta ...

86

populacional, o que poderá não pôr em causa a proximidade da população, se esta,

em termos médios, se encontrar próxima de um prestador de cuidados de saúde.

Outra realidade observada na ULSAM é um baixo índice de proximidade, que é

justificado pelo número reduzido de prestadores.

Para avaliar a dimensão capacidade, foram construídos dois indicadores: (i) o rácio

entre o número de médicos e a densidade populacional (Capacidade I); e (ii) o rácio

entre o número de médicos pela população com mais de 65 anos de idade

(Capacidade II). Estes indicadores permitem avaliar a dimensão da estrutura das ULS

face às necessidades dos utentes aí residentes, traduzindo a capacidade de resposta

do sistema integrado das ULS às necessidades da população.

É observado que as ULS que apresentam os índices de Capacidade I mais elevados

são a ULSAM e a ULSBA, mas as razões deste resultado não são idênticas. O índice

da ULSAM é justificado pelo elevado número de médicos que possui em relação à

densidade populacional, e o índice de Capacidade I da ULSBA justifica-se pela

densidade populacional mais baixa de todas as ULS. A ULSM tem um índice baixo

porque embora apresentando um número de médicos elevado, possui a maior

densidade populacional da sua área de abrangência. No índice capacidade II, a ULSM

apresenta o melhor indicador, por possuir o maior número de médicos (599) conjugado

com um número baixo (comparativamente às outras ULS) da população com mais de

65 anos.

Verifica-se, assim, que em relação aos rácios que avaliam as dimensões espaciais, a

realidade entre as ULS é muito heterogénea. A ULSM apresenta, globalmente, os

melhores indicadores de proximidade e de capacidade.

Por seu turno, a análise econométrica dos Tempos Máximos de Resposta Garantidos

(TMRG), teve como objetivo principal analisar a equidade de acesso entre os utentes

que fazem parte de uma ULS e os que não estão incluídos, para se retirarem

conclusões práticas, numa perspetiva temporal, sobre a aplicação deste modelo de

organização.

Para ser possível comparar os hospitais que pertencem às ULS com hospitais que não

pertencem a este modelo de organização, foi criado um grupo de controlo para o qual

se tiveram em consideração os seguintes critérios: a proximidade geográfica e o

número de especialidades de cada prestador.

Da análise econométrica efetuada retiram-se as seguintes conclusões:

(i) as consultas realizadas fora dos TMRG aumentam (consultas out) em 4,7 pontos

percentuais se os hospitais pertencerem a uma ULS em relação aos hospitais do

grupo de controlo (i.e. em relação aos hospitais que não estão incluídos numa ULS).

Se o número de pedidos aumentar fora dos TMRG (pedidos out) as consultas

realizadas fora dos TMRG (consultas out) também aumentam em 11,7 pontos

percentuais. Também se constata que se o número de especialidades

(especialidades) aumentar, as consultas realizadas fora dos TMRG (consultas out)

também aumentam em 1,01 pontos percentuais; (ii) o tempo médio entre o pedido de

consulta até à data do seu agendamento aumenta em sete (7) dias, se os hospitais

pertencerem a uma ULS e quando comparado com o grupo de controlo. Se o número

Page 87: Relatório do Grupo de Trabalho criado para a definição de proposta ...

87

de pedidos aumentar fora dos TMRG (pedidos out), as consultas realizadas fora dos

TMRG também aumentam em 0,12 dias. Também se constata que se o número de

especialidades (especialidades) aumentar, as consultas realizadas fora dos TMRG

também aumentam em 0,86 dias; (iii) o tempo máximo entre o pedido de consulta até

à data do seu agendamento aumenta em 5,9 pontos percentuais, se os hospitais

pertencerem a uma ULS e quando comparado com o grupo de controlo. Se o número

de pedidos aumentar fora dos TMRG (pedidos out), o tempo máximo até à data de

agendamento aumenta em 1,5 pontos percentuais. Também se constata que se o

número de especialidades (especialidades) aumentar, o tempo máximo até à data de

agendamento aumenta em 2 pontos percentuais.

Verifica-se, então, que se o hospital pertencer a uma ULS, o número de consultas

realizadas fora do TMRG aumenta, o tempo médio e o tempo máximo entre o pedido

de consulta até à data do seu agendamento, também aumentam, quando comparados

com os hospitais que não pertencem a este modelo de gestão integrado.

Este resultado pode revelar um problema de acesso dentro das ULS, podendo este

sistema integrado não estar a dar a resposta mais eficiente no que diz respeito às

primeiras consultas por especialidade. No entanto, este resultado pode ficar a dever-

se não tanto ao modelo em si mesmo, mas à sua incompleta ou lenta concretização,

aliás conforme também corroborado pelo estudo EGIOS.

Torna-se importante referir que o horizonte temporal (um ano e três meses) é pequeno

para se poderem retirar conclusões mais robustas (embora estas revelem um nível de

significância estatístico elevado), sendo, assim, pertinente realizar relatórios futuros de

acompanhamento, com horizontes temporais mais alargado, para se aferir do

desempenho das ULS.

4.1.4. Internamentos evitáveis

Por último, é também apresentado um trabalho de investigação relativo ao estudo de

um importante indicador que poderá ser utilizado para diferentes propósitos no âmbito

da integração de cuidados de saúde: os internamentos por causas sensíveis a

cuidados de ambulatório. Este trabalho foi desenvolvido por João Sarmento, Rui

Santana, Conceição Alves, Paula Oliveira e Rita Sebastião, e trata-se de um estudo

todavia não publicado.

As Ambulatory Care Sensitive Conditions (ACSC) ou os internamentos por causas

sensíveis a cuidados de ambulatório (ICSA) são definidas como um conjunto de

patologias que podem e devem ser prevenidas e/ou tratadas ao nível dos cuidados de

primeira linha (1). Assim sendo, a falta de acesso a estes cuidados, ou a sua falta de

efetividade, resultam em internamentos evitáveis (2). As diferentes patologias serão

sensíveis a diferentes atividades, sendo as principais: a prevenção primária (p.ex.

vacinação), o diagnóstico e tratamento precoce e bom controlo e gestão da doença

crónica.

Os ICSA são influenciados por vários fatores relacionados com o contexto onde são

medidos, sendo ampla a evidência neste campo. Sistematicamente é possível

Page 88: Relatório do Grupo de Trabalho criado para a definição de proposta ...

88

organizar estes fatores em quatro grandes grupos: características ligadas aos

prestadores; características socioeconómicas e demográficas; características

geográficas e; características epidemiológicas.

A estrutura e processos dos prestadores de cuidados de saúde influenciam os ICSA,

tanto ao nível dos CSP, hospitais e cuidados continuados, bem como na relação entre

estes. Ao nível dos CSP existe uma relação inversa entre o número de ICSA e o

número de médicos de família por 100.000 hab. (8,9), bem como o número de visitas

ao médico de família (8–10). Outro aspeto fundamental ligado aos CSP é a

continuidade de cuidados pelo médico de família. Verificou-se que os utentes com

mais de 75% das suas consultas com o mesmo médico de família tinham uma menor

probabilidade de serem internados, quando comparados com utentes que tiveram

menos de 75% de consultas com o mesmo médico (11) .

As características socioeconómicas e demográficas da população utilizadora dos

cuidados de Saúde têm influência nos ICSA. Estes são mais frequentes nos elementos

do sexo masculino, com dois picos de incidência, nomeadamente nas faixas etárias

superiores aos 65 anos e inferiores aos 15 anos (5,9). Recentemente a associação

entre o número de ICSA e os indicadores socioeconómicos tem sido alvo de vários

estudos por todo o mundo (8,12–15). Todos eles têm evidenciado uma relação

inversa. Níveis mais baixos de escolaridade também parecem relacionar-se com taxas

de ICSA mais elevadas (8), assim como níveis mais elevados de desemprego (5).

As características geográficas das regiões onde se inserem os prestadores também

influenciam os ICSA. A distância ao hospital parece influenciar os internamentos,

nomeadamente, aumentando o seu número quanto mais próximo se estiver deste

(5,16). Segundo Ansari(8), analisando áreas rurais, a menor densidade populacional e

o maior isolamento parecem ser preditores de maiores taxas de ICSA.

Finalmente, as características epidemiológicas das patologias em determinada área

geográfica estão inegavelmente relacionadas com as taxas de ICSA, nomeadamente

prevalência e severidade das doenças(8).

Na literatura estão disponíveis várias listas de ICSA criadas para diferentes realidades

(3,5,7,17–22). Este facto cria uma dificuldade de comparação internacional dos

resultados, no entanto, ganha-se especificidade pela maior adequação da lista às

responsabilidades e ações dos CSP de cada país. Em Portugal, o Alto Comissariado

da Saúde propôs a utilização da metodologia desenvolvida pelo Canadian Institute for

Health Information. Contudo, não é do conhecimento dos autores qualquer trabalho de

validação de uma lista de ICSA adaptada à realidade portuguesa.

Assim, através do presente estudo pretendeu-se:

Determinar e caracterizar os Internamentos por Causas Sensíveis a Cuidados

de Saúde Primários (ICSA) em Portugal

Caracterizar a evolução histórica da taxa ICSA

Avaliar o impacto da utilização de diferentes listas de ICSA

Page 89: Relatório do Grupo de Trabalho criado para a definição de proposta ...

89

Para a sua concretização foi realizado um estudo observacional, descritivo e analítico

utilizando os dados relativos a 4.754.560 internamentos de cidadãos residentes no

território continental português, entre o ano de 2007 e 2011. Os dados foram cedidos

pela Administração Central dos Serviços de Saúde (ACSS), sendo provenientes das

bases de dados de resumos de altas. Os ICSA foram determinados de acordo com

duas listas internacionais, nomeadamente a do Canadian Institute for Health

Information (23) e a validada por Caminal et al. (5)em Espanha. Para cálculo das taxas

ICSA foram utilizados os dados do Instituto Nacional de Estatística referentes às

estimativas populacionais anuais, com detalhe por concelho.

Os resultados diferem de acordo com a lista de ICSA utilizada. De acordo com a lista

canadiana, que inclui apenas doenças crónicas, existiu um decréscimo constante da

taxa de ICSA desde 2007, de 244,2 para 218,5 int./100.000 hab. (Gráfico 3). No

entanto, segundo a lista espanhola, que inclui patologias agudas e imunizáveis, houve

um crescimento da taxa de internamentos de 2007 (1539,6 int./100.000 hab.) a 2009

(1608,3 int./100.000 hab.), seguindo-se uma ligeira redução nos dois anos

subsequentes, determinando-se em 2011 1577,5 int./100.000 hab.

Gráfico 3: Evolução histórica das taxas de ICSA em Portugal de 2007 a 2011 de acordo com duas listas de CSA.

Observando o ano de 2011 com mais detalhe, pode constatar-se que os ICSA

representaram 4,4% e 31,8% dos internamentos por causas médicas segundo a lista

canadiana e espanhola respetivamente. Os internamentos foram mais frequentes no

sexo masculino 58,1% (lista canadiana) e 52,8% (lista espanhola). A distribuição dos

ICSA pelas classes etárias revela o padrão descrito na literatura, com dois picos de

maior frequência, o primeiro em idade pediátrica e o segundo a partir da quinta década

de vida. O primeiro deve-se essencialmente aos internamentos causados por asma,

sendo o segundo pico determinado pelo surgimento de internamentos por doenças

cardiovasculares. As patologias que mais frequentemente motivaram internamentos

são, naturalmente, diferentes consoante a lista utilizada. Segundo a metodologia

Canadiana a insuficiência cardíaca e edema agudo do pulmão foram responsáveis por

205

210

215

220

225

230

235

240

245

250

1.500,00

1.520,00

1.540,00

1.560,00

1.580,00

1.600,00

1.620,00

2007 2008 2009 2010 2011Int./100.000 hab.

Lista Espanhola

Lista Canadiana

Page 90: Relatório do Grupo de Trabalho criado para a definição de proposta ...

90

23,3% dos ICSA, seguindo-se a DPOC e a diabetes (Gráfico 4). Segundo a lista

espanhola, a pneumonia (24%) e a cardiopatia hipertensiva (21,2%) antecedem a

insuficiência cardíaca (11,7%) e a DPOC (10,8%) como causas mais frequentes de

internamento.

A análise das taxas de internamento por município permite outro detalhe na

observação. Utilizando a lista Canadiana as taxas (brutas) de internamento variam

entre 51,5 e 732,5 int./100.000 hab. (x=225,5 dp=92,9). Após realizar uma

estratificação em cinco percentis, é percetível que existem aglomerados regionais de

boa e má performance. Pela positiva destacam-se os distritos de Évora, Beja, Porto e

Braga, bem como a região do Algarve com resultados inferiores à média nacional.

Pela negativa destacam-se os distritos de Portalegre, Castelo Branco, Leira e a

Região de Trás-Os-Montes e Alto Douro. Segundo a lista Espanhola o panorama é

ligeiramente diferente, apesar de algumas tendências se manterem, nomeadamente

os bons resultados em alguns municípios do Alentejo, Algarve, Porto e Braga, bem

como a tendência para resultados abaixo da média nacional na região de Trás-Os-

Montes e Alto Douro bem como na Beira Baixa e Litoral. Os valores da taxa de

internamento variaram entre 720 e 3.705,6 int./100.000 hab. (x=1733,5 dp=488,1).

Gráfico 4: Distribuição dos ICSA por patologia.

(ITU- Infeções do Trato Urinário; DPOC- doença pulmonar obstrutiva crónica; HTA-

Hipertensão arterial; ICEP- insurdíaca e edema agudo do pulmão)

Page 91: Relatório do Grupo de Trabalho criado para a definição de proposta ...

91

Foram calculados dois cenários de melhoria (24). O cenário “up the ladder” pressupõe

que é possível que cada concelho melhore até ao nível médio do percentil seguinte. O

cenário “all the best” calcula uma melhoria de todos os conselhos até à média do

percentil mais baixo. Assim, estima-se uma melhoria possível de acordo com a lista

canadiana, entre 20% e 45% e de 13% a 27% segundo a lista espanhola. Isto significa

uma redução entre 4.443 e 43.656 internamentos. Um estudo anterior estabeleceu

uma estimativa grosseira do custo médio dos ICSA (segundo o preço estabelecido

pela portaria 839-A/2009) em 2.445€ (25). Com base nessa estimativa, a poupança

financeira potencial para o SNS oscilará entre 10,8M€ e 106,7M€.

Ao nível dos argumentos utilizados para a discussão, constata-se desde logo que a

primeira questão do presente estudo prende-se com aspetos metodológicos: a

definição dos ICSA é determinante dos resultados finais e dessa forma é urgente

realizar em Portugal a discussão sobre quais os internamentos evitáveis pela ação dos

CSP. As listas utilizadas neste estudo têm diferenças conceptuais profundas, em

primeiro lugar pelas dimensões avaliadas. Enquanto a lista Canadiana avalia apenas a

capacidade de gestão e controle das doenças crónicas por parte dos CSP, a lista

Espanhola reflete também a capacidade de diagnóstico precoce de situações clínicas

bem como a capacidade de prevenção primária dos CSP. Além disso, as listas diferem

Lista Canadiana Lista Espanhola

ICSA no território continental Português

Figura 9: Distribuição dos ICSCSP no território continental português de acordo com o percentil da taxa de internamento (bruta).

(O percentil 1 corresponde às taxas de internamentos mais baixas)

Page 92: Relatório do Grupo de Trabalho criado para a definição de proposta ...

92

nos códigos específicos da ICD9-CM dentro da mesma patologia. Existe também uma

diferença substancial na especificidade das metodologias. Por exemplo, na lista

canadiana, os casos de internamento por doença cardiovascular (hipertensão, angina

e insuficiência cardíaca) em que ocorreu um procedimento cardíaco (p.ex. um

procedimento valvular) são excluídos da análise, por corresponderem à realização de

um procedimento “não-evitável”.

Analisadas as questões metodológicas, importa discutir as tendências apuradas. Em

primeiro lugar parece haver uma evolução favorável no controlo das doenças crónicas,

uma vez que as taxas de ICSA segundo a lista Canadiana revelaram uma diminuição

constante no período da análise. Importa também realçar a importância do impacto

das doenças crónicas, mesmo quando analisadas no conjunto mais alargado de ICSA

representam cerca de metade destes. Por outro lado, no cenário de avaliação mais

alargado (lista Espanhola), a tendência é oposta, parecendo haver um aumento dos

ICSA até 2009 com uma subsequente diminuição, o que pode significar uma

diminuição na efetividade ou no acesso aos CSP durante o período analisado. A

análise da distribuição regional dos internamentos permite tirar conclusões

interessantes, uma vez que se conseguem identificar agregados de melhor e pior

performance. Estes resultados também variam conforme a metodologia aplicada, no

entanto parece haver concordância na identificação dos distritos de Évora, Beja, Porto

e Braga como regiões de performance acima da média e pelo contrário os distritos de

Portalegre, Castelo Branco e Leira, bem como a região de Trás-Os-Montes e Alto

Douro, como locais de performance abaixo da média. Estes resultados merecem

aprofundamento.

Finalmente, os cenários de melhoria estimam reduções potencialmente significativas,

quer em resultados de saúde quer em termos financeiros.

Em termos resumidos, este trabalho permitiu concluir o seguinte:

É fundamental discutir e validar a lista de ICSA em Portugal;

Existiu um decréscimo na taxa de ICSA no nosso país para o período em

análise, segundo a lista Canadiana;

Existiu um aumento da taxa de ICSA, segundo a lista Espanhola, até 2009 com

um subsequente decréscimo;

Existem resultados regionais que indiciam diferenças na sua distribuição

geográfica;

Existe um potencial de redução dos ICSA entre 13% e 45%;

Existe um potencial estimado de poupança entre 10,8M€ e 106,7M€.

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Page 95: Relatório do Grupo de Trabalho criado para a definição de proposta ...

95

4.2. Boas práticas de integração

Tal como foi mencionado anteriormente, na nota metodológica do presente relatório,

foi solicitado às unidades prestadoras de cuidados de saúde - ULS, Hospitais e ARS

(ACES) - que identificassem boas experiências de integração de cuidados de saúde e

que estas apresentassem características de reprodutividade noutros contextos. A

informação reportada, deveria obedecer às seguintes dimensões de análise:

pertinência da experiência, objetivos, metodologia de implementação e resultados

esperados/alcançados.

Desde logo, a necessidade de desenvolver esta tarefa é consequência da ausência de

mecanismos de identificação e partilha de boas práticas realizadas nos mais diversos

contextos, pelo que a sua divulgação, partilha e aprendizagem deverão fazer parte de

um processo de melhoria contínua das organizações.

Do conjunto de 20 respostas obtidas (cerca de 40 medidas), foram selecionadas pelos

membros do GdT, as que tendo como critérios de seleção a inovação, seu impacto e

capacidade de implementação, mais se destacaram.

De uma forma genérica e transversal, as experiências reportadas podem tipificar-se

por um conjunto de características comuns, entre as quais se salientam

particularmente:

Ausência generalizada de planeamento e programação das atividades de

integração de cuidados de saúde, numa perspetiva macro (sistema de saúde) e

micro (unidades e prestadores de cuidados de saúde);

De entre as experiências reportadas, verifica-se que na sua maioria se tratam

de iniciativas cuja origem são os cuidados hospitalares, importando, igualmente

assinalar o facto de poucos projetos relativos aos cuidados de saúde primários

terem sido remetidos ao presente GdT;

Pontuais, não generalizáveis;

Projetos de iniciativa individual, não sistémica;

Ausência de identificação da necessidade que existe em gerir o processo de

integração de cuidados de saúde.

Da análise realizada a todas as iniciativas de integração, foram selecionadas quatro,

que no parecer do GdT, eram as que melhor incorporavam o sentido de integração,

numa ou em várias das suas dimensões (Clínica, Informação, Financeira,

Administrativa e Normativa).

A breve descrição das iniciativas a seguir identificadas não segue qualquer critério de

valorização.

a) Centro Hospitalar Tâmega Sousa, EPE – Comissão de Gestão de Interface

do Centro Hospitalar Tâmega Sousa, EPE/Cuidados Primários

A iniciativa enviada e desenvolvida pelo Centro Hospitalar Tâmega Sousa, EPE,

procura o aprofundamento de uma cultura de governação clínica entre o Centro

Hospitalar e os Agrupamentos de Centros de Saúde da área de influência, garantindo

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96

um sistema de intercomunicação comum, uma articulação estreita entre direções

clínicas (cuidados primários e hospitalares), uma resposta mais adequada à população

e o desenvolvimento de estratégias comuns.

Esta iniciativa passa pela concretização e implementação de guidelines práticas

baseadas na evidência e incorporadas nos sistemas de informação, na educação do

doente para a autogestão, e na medição de medição de indicadores de processo e de

resultados. Os profissionais envolvidos, beneficiam de formação e reforça-se a

integração dos diferentes serviços intervenientes.

No terreno encontram-se já implementados os protocolos de referenciação e alta com

a respetiva divulgação no hospital e nos cuidados de saúde primários. Foi também

disponibilizada teleconsulta para as especialidades de Medicina Física e de

Reabilitação, Cardiologia, Cardiologia Pediátrica e Diabetes. Esta, igualmente,

implementada a ligação com os Cuidados Respiratórios Domiciliários e os Protocolos

de Articulação e Referenciação para a Consulta de Hipocoagulação.

Salienta-se particularmente nesta experiência, o facto de existir uma agenda

programada, tendo sido definida e partilhada por uma equipa de trabalho conjunta

entre os diferentes agentes com responsabilidades executivas de diferentes níveis de

cuidados de saúde. A existência de uma estrutura formal que permita evidenciar a

necessidade de deter um espaço comum de atuação, parece ser crucial para a

dinâmica de trabalho da iniciativa apresentada.

b) Centro Hospitalar do Oeste – Programa de notícia de nascimento

A iniciativa enviada e desenvolvida pelo Centro Hospitalar do Oeste, permite a

notificação do nascimento de todos os recém-nascidos, no dia em que ocorre a alta do

Serviço de Obstetrícia, para a respetiva Unidade de Saúde Familiar ou Unidade de

Cuidados de Saúde Personalizados, onde a parturiente está inscrita.

Este projeto permite a notificação automática de todos os nascimentos ocorridos

naquela unidade hospitalar, garantindo que a unidade de cuidados de saúde primários

onde a mãe está registada, obtém, em tempo útil, a informação relativa a um recém-

nascido que passará a integrar aquela unidade. Naturalmente, que existem óbvios

benefícios para a programação da tipologia de cuidados necessários para estas

situações, assegurando um contínuo de cuidados na transição entre o ambiente

hospitalar e os cuidados de saúde primários e o reporte de toda a informação

considerada essencial. Esta medida é especialmente importante, pois permite que

sejam sinalizados todas as situações que envolvam uma eventual falta de

comparência na unidade de saúde, sendo despoletado um alerta para a avaliação da

situação e contactados os pais.

c) Centro Hospitalar de Setúbal, EPE – Consulta Aberta/Consultadoria aos

Médicos de Medicina Geral e Familiar (MGF) dos Cuidados de Saúde

Primários (CSP)

O Centro Hospitalar de Setúbal, EPE, enviou, como iniciativa de integração já

implementada a Consulta Aberta/Consultadoria aos Médicos de Medicina Geral e

Familiar (MGF) dos Cuidados de Saúde Primários (CSP). Este projeto visa responder

Page 97: Relatório do Grupo de Trabalho criado para a definição de proposta ...

97

à necessidade de melhorar o nível da informação de referenciação de doentes dos

cuidados de saúde primários para a especialidade de Cardiologia, garantindo que é

atribuído o correto nível de prioridade aos doentes ou que é definida a sua

manutenção no nível dos cuidados de saúde primários.

Esta iniciativa procura garantir que os doentes com patologias mais severas têm

acesso ao serviço de Cardiologia, independentemente do nível de cuidados onde se

encontram. Foi criada uma consulta aberta e disponibilizado um contacto telefónico

com o médico do serviço de Cardiologia, que serve quer para a referenciação urgente,

quer para a consultadoria junto dos médicos de Medicina Geral e Familiar. Em casos

de referenciação urgente, o doente poderá ser visto no próprio dia da consulta aberta.

Desta forma, procura-se assegurar uma maior acessibilidade dos doentes aos

cuidados hospitalares, tendo por base critérios de referenciação bem definidos e uma

articulação estreita entre profissionais dos diferentes níveis de prestação de cuidados.

d) Unidade Local de Saúde do Norte Alentejano, EPE – Maternidade mais

próxima da Comunidade

A Unidade Local de Saúde do Norte Alentejano, EPE enviou a iniciativa Maternidade

mais próxima da Comunidade, que procura disponibilizar à população da área de

influência da Unidade Local de Saúde um aumento da qualidade dos cuidados de

saúde no âmbito da saúde materna, através da disponibilização de mais e melhor

informação, de ensino de técnicas para a participação/colaboração no trabalho de

parto, na aquisição de competências pelo casal, dotando-o, igualmente, de maior

autonomia no processo de tomada de decisão em saúde.

Esta intervenção passa pela deslocalização de profissionais hospitalares, que se

deslocam às unidades de cuidados de saúde primários, procurando, desta forma,

promover a transmissão de informação e conhecimento mais próximo da comunidade

e procurando aumentar o nível de conforto do casal, evitando a deslocação à unidade

hospitalar e assegurando a realização de diferentes ações de forma compatível com

as necessidades da população abrangida.

Esta iniciativa encontra-se implementada nos ACES da Unidade Local de Saúde do

Norte Alentejano e procura contribuir para o reforço de importância da ligação entre as

estruturas dos cuidados de saúde primários e a maternidade, garantindo o contínuo de

informação e cuidados.

e) Telemedicina na região Alentejo

A Região de Saúde do Alentejo foi uma das regiões pioneiras na implementação da

telemedicina no nosso país, iniciando em 1998 uma série de investimentos em

sistemas de telemedicina que permanecem ativos até aos dias de hoje. Esta região

apresenta especificidades sócio demográficas que potenciam a utilização da

telemedicina tal como, uma grande dispersão geográfica da população, uma baixa

densidade populacional, um elevado índice de envelhecimento, um reduzido número

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98

de médicos por 1.000 habitantes e a significativa distância geográfica entre

prestadores de cuidados de saúde.

Desde 2000 que a Rede de Telemedicina no Alentejo está a funcionar de forma

sistemática realizando teleconsultas em diversas especialidades médicas bem como

telediagnóstico e mais especificamente teleradiologia e telepatologia.

A rede de Telemedicina desta região foi implementada em 6 etapas que decorreram

entre 1998-2011. O investimento destas infraestruturas foi suportado, nomeadamente,

através de co-financiamento comunitário do Programa Operacional da Sociedade do

Conhecimento (POS_C) e INAlentejo/ QREN.

Em 2011 existiam 27 plataformas de Telemedicina em funcionamento espalhadas

pelos diferentes prestadores, Unidades Locais de Saúde, Agrupamentos de Centros

de Saúde e Hospitais situados em 24 concelhos e abrangendo um total de cerca de

350 mil habitantes.

As plataformas existentes permitem a realização de diversas atividades de

telemedicina, ligando diferentes tipos de prestadores e diferentes níveis de cuidados.

São realizadas atividades entre hospitais (atividades de âmbito horizontal) e entre

hospitais e centros de saúde (atividades de âmbito vertical).

As atividades de telemedicina/teleconsulta em 2011 abrangeram as seguintes

especialidades: Cardiologia, Cirurgia Geral, Dermatologia, Fisiatria, Gastroentrologia,

Imunoalergologia, Neurologia, Psiquiatria, Ortopedia e Tiróide.

O número de atos de telemedicina realizados na região apresenta um crescimento

sustentado no período 1998 a 2011 perfazendo um total acumulado de 168.427 atos.

A utilização da telemedicina na região permitiu uma melhoria da informação sobre os

doentes, um aumento significativo da acessibilidade às consultas de especialidades

médicas, uma drástica diminuição do tempo de espera, uma redução do tempo de

consulta, uma agilização do seguimento dos doentes, uma atualização da formação

específica dos médicos de família, uma redução dos custos de transporte, uma

redução das despesas associadas às consultas hospitalares, uma diminuição dos

custos sociais associados aos doentes (custos de acompanhamento, alojamento e

alimentação) e um aumento significativo do grau de satisfação dos doentes.

Esta experiência demonstra uma importante dimensão de integração, através de

tecnologias de informação e comunicação. Para além de constituir uma realidade

concretizada, com uma ligação ampla entre cuidados de saúde primários e cuidados

hospitalares, esta área tem um potencial de desenvolvimento bastante significativo,

sendo crucial para o processo de integração de cuidados de saúde.

Da análise das experiências reportadas pelas Instituições, verifica-se que todas são

meritórias quanto aos objetivos definidos e aos resultados expectáveis. São, na sua

maioria, projetos bem estruturados e com claros benefícios para a população e para a

articulação entre os níveis de cuidados.

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99

Contudo, e considerando o propósito deste Grupo, importa referir que as iniciativas

pecam por não se enquadrarem num âmbito mais abrangente, de carácter regional ou

nacional. São, em muitos casos, implementadas como projetos individuais, fruto de

vontades de alguns profissionais, sem qualquer ligação a necessidades de atuação

claramente definidas (Plano Nacional de Saúde).

Correspondem, em muitas situações à premência de supressão de necessidades

locais, que, fazendo sentido naquela esfera de atuação, por vezes se podem revelar

incoerentes com a restante realidade não só da região onde se inserem, mas também,

da própria unidade de saúde.

Seria útil promover a partilha destas experiências ou definir um guião para a inovação

em saúde, que permitisse o enquadramento destas iniciativas, garantindo, por um

lado, a correta identificação de objetivos, recursos necessários, entidades envolvidas e

resultados esperados e por outro a avaliação destas iniciativas.

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100

CAPÍTULO V

MEDIDAS DE INTEGRAÇÃO

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101

5. Medidas

Em função da metodologia descrita no capítulo II, são apresentadas em seguida as

medidas consideradas como promotoras de integração de cuidados de saúde pelo

GdT. Estas medidas são as consideradas prioritárias no largo espectro de iniciativas

que poderão ser propostas tendo por base um melhor nível de integração de cuidados

de saúde.

As medidas que adiante são detalhadas, deverão ser encaradas como ideias base que

necessitam de ser posteriormente desenvolvidas, caso obtenham o reconhecimento

do seu mérito, no sentido da sua operacionalização. Não poderão ser encaradas como

um produto final acabado, pelo contrário, deverão constituir apenas o princípio para o

seu debate e discussão.

Nem todas as dimensões referidas anteriormente se encontram contempladas na

apresentação das medidas. Especificamente, as medidas relacionadas com as

dimensões normativas e de informação não se encontram detalhadas na presente

proposta.

A razão pela qual se optou por esta formulação, prende-se com a transversalidade da

presença das iniciativas destas dimensões em praticamente todas as medidas

sugeridas. A sua não individualização centra-se não na sua falta de importância, antes

pelo contrário, mas na sua natureza indissociável face às restantes medidas, pelo que

a sua presença deve ser ubíqua, sendo fundamental para a concretização das

medidas propostas e do seu sucesso esperado.

Tal como referido anteriormente, as medidas são apresentadas segundo uma

estrutura uniforme, onde se detalha a sua denominação, o seu rationale, a descrição,

as condições de aplicação e o impacto previsto. De uma forma resumida, o quadro

seguinte enuncia as medidas em cada uma das dimensões consideradas.

Dimensão Clínica

Introdução do conceito de gestor do doente.

Criação de sistema nacional de gestão de referenciações em saúde.

Aplicação de normas, guidelines e protocolos clínicos.

Dimensão Financeira

Incentivos conjuntos: aplicação da unidade de pagamento capitação.

Desenvolvimento e aplicação de um sistema de custeio por utente.

Dimensão Administrativa

Formação específica em integração de cuidados.

Uniformização e centralização de procedimentos administrativos.

Incentivar a criação de conhecimento sobre integração de cuidados de saúde

(investigação).

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102

Dimensão Sistémica

Criação de estruturas de integração.

Reforço de uma cultura organizacional integrada.

Planeamento estratégico comum.

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103

5.1. Dimensão Clínica

5.1.1. Introdução do conceito de gestor do doente

Medida

Introdução do conceito de gestor do doente.

Rationale

A transição epidemiológica que vivemos, onde se observa uma mudança de

paradigma entre a centralidade na doença aguda para a doença crónica e

simultaneamente o crescimento da prevalência de multimorbilidade nas populações,

obriga a uma visão integral do doente em detrimento da visão fragmentada por

patologia. Estes novos problemas, globais e cada vez mais complexos, constituem

novos desafios aos sistemas de saúde um pouco por todo o mundo (1).

O estudo de Anderson (2007) (2), que pretendeu caracterizar os cuidados de saúde

prestados a doentes nos EUA, revela-nos alguma informação relevante para

identificação dos problemas inerentes a este fenómeno, nomeadamente:

As doenças crónicas assumirem-se como as grandes responsáveis pela

mortalidade e morbilidade existente. Em 2005, cerca de 133 milhões de

americanos apresentavam pelo menos uma condição crónica, prevendo-se

que este número suba para os 157 milhões em 2020. Em 2004, 26% dos

americanos apresentavam duas ou mais condições crónicas;

Utentes com mais do que cinco condições crónicas apresentam uma

probabilidade dez vezes superior de serem hospitalizados relativamente ao

conjunto de utentes sem patologia crónica;

Os custos médios per capita dos doentes que apresentam uma ou mais

doenças crónicas são cinco vezes superiores aos restantes doentes.

A evolução prevista destas condições, apresenta uma tendência crescente ao nível

da sua prevalência, com consumos e custos diretos e indiretos superiores à média

das restantes. Estas requerem uma resposta diferente da que atualmente podemos

encontrar, centrada mormente nos cuidados agudos (3).

No nosso país, a prevalência auto-declarada de doenças crónicas pode ser

encontrada no estudo de Branco, Nogueira e Contreiras (2005) (4), onde se

estimaram as seguintes taxas:

Condição crónica Taxa

Hipertensão arterial 18%.

Diabetes 5%.

Asma/bronquite asmática 9%.

Doenças reumáticas 24%.

Alguns trabalhos posteriores – em cada patologia – revelaram o seu crescimento. De

facto, o crescimento da prevalência e incidência das doenças crónicas e da

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104

multimorbilidade é uma realidade evidente: o relatório do observatório nacional da

diabetes de 2012 revela o aumento de um ponto percentual na prevalência da

diabetes entre 2009 e 2011 e estima um aumento da incidência em 80% entre 2000 e

2011 (5). No que respeita à hipertensão arterial, verifica-se que entre 1999 e 2006, a

população que reportou a presença desta condição crónica, aumentou cerca de 34%

(6).

Em Portugal, num estudo de caso que recorre a dados de 2010 de uma USF modelo

B, verificou-se uma concentração relativa da produção e dos custos na lista de

inscritos: 93% da produção (contactos diretos e indiretos) e 97% dos custos

(medicamentos, MCDT e recursos humanos) concentram-se em 50% dos cerca de

15.000 inscritos da USF. Por outras palavras, cerca de metade dos utentes apenas

consomem 7% da produção e 3% dos custos totais desta unidade. Estes valores

indiciam uma poole de riscos diferenciada entre a lista de utentes, exigindo respostas

organizacionais diferentes das atuais e que permitam direcionar o serviço prestado de

forma adequada ao perfil das necessidades dos utentes que servem (7).

Face a esta realidade, a necessidade de um acompanhamento mais próximo e

personalizado de doentes com elevado nível de risco pode contribuir para reduzir a

fragmentação de cuidados, garantir a continuidade ao longo de todos os níveis de

cuidados (clínicos e não clínicos) e locais de prestação. O recurso a uma resposta

organizacional que passe pela presença de gestores de doentes com elevado risco,

clínico e financeiro, de acordo com alguns estudos, permite alcançar uma redução da

utilização dos cuidados hospitalares, nomeadamente redução do número de

internamentos desnecessários, redução da demora média, redução da recorrência à

urgência e até da necessidade de cuidados continuados (8).

Descrição

A gestão de caso pode definir-se como um processo colaborativo que avalia, planeia,

implementa, coordena, monitoriza e avalia opções e serviços para satisfazer

necessidades de saúde individuais através da comunicação e recursos disponíveis

para promover resultados de qualidade e custo-efetivos (adaptado de CMSA, 1994)

(9).É importante referir que a gestão de caso se trata de um conceito distinto de

gestão da doença, na medida em que o primeiro tem seguido uma abordagem dirigida

ao individuo com múltiplas condições crónicas e necessidades complexas, enquanto

a gestão da doença é baseada na população ficando-se em grupos específicos de

indivíduos com uma determinada patologia.

O conceito de gestor do doente que se propõe nesta medida engloba a definição de

CMSA e consiste numa figura que acompanha personalizadamente o doente com

condições clínicas e socioeconómicas complexas ao longo de um continuum de

cuidados.

A literatura descreve algumas das funções do gestor do doente e que se elencam em

seguida (8) (10). Naturalmente que, tendo o sistema de saúde português as suas

particularidades, estas funções requerem alguma discussão no sentido da sua

adaptação à realidade nacional.

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105

Assumir todo o processo de referenciação: a partir do momento em que o

doente tem indicação para ser referenciado, cabe ao gestor do doente

assegurar todo o processo;

Coordenar cuidados, garantindo a continuidade: o gestor do doente tem a

responsabilidade, de coordenar os vários cuidados, facilitando a ligação

entre os elementos das equipas de saúde. Cabe ainda ao gestor do

doente conhecer os recursos da comunidade e saber tirar o melhor partido

em benefício do doente;

Promover o empowerment/educação do doente: o papel do gestor do

doente passa também por promover o autocuidado, capacitando o doente

para a gestão autónoma da sua doença;

Garantir a adesão terapêutica: a adesão terapêutica, fator de sucesso para

o controlo da doença crónica, é assegurada através de contacto telefónico

periódico e visitas ao domicílio, entre outros;

Acompanhamento desde a admissão ao internamento hospitalar e

colaboração no planeamento da alta. O prolongamento dos internamentos

além do tempo clinicamente necessário é uma realidade que pode ser

otimizada com o planeamento da alta o mais precocemente possível. O

gestor do doente, conhecendo os seus recursos, da família e da

comunidade, poderá providenciar os meios necessários após a alta,

evitando que a mesma seja prolongada além da duração apropriada;

Gerir a utilização adequada dos serviços e recursos, em função das

noemas e processos assistenciais;

Assegurar a qualidade de cuidados de acordo com os standards e garantir

a prestação dos melhores cuidados ao mais baixo custo, tendo também

em conta as escolhas do doente;

Sempre que se justifique, possibilidade de proceder à renovação do

receituário crónico dos doente e revisão dos resultados de parâmetros de

análises clínicas (supervisão clínica e farmacêutica no âmbito da equipa

de saúde);

Reportar a evolução dos outcomes;

Condições de aplicação

Uma vez que não existe em Portugal a figura do gestor do doente tal como proposta

nesta medida, a sua implementação requer algumas adaptações, desde a

reorganização de cuidados até ao seu enquadramento legal. No entanto, e recorrendo

à experiência internacional sugere-se que:

1. O gestor do doente se encontre “sediado” nos cuidados de saúde primários e faça

parte da equipa de saúde nos cuidados de primeira linha;

2. Estes profissionais disponham de uma formação específica, dirigida à sua futura

prática profissional (8), pois o gestor do doente requer um conjunto de

competências técnicas, comportamentais e científicas para o adequado

desempenho das suas funções, que transcendem a formação especializada em

saúde. Entre as competências descritas na literatura, podem salientar-se como

exemplos um bom nível de conhecimento do sistema de saúde, a capacidade de

Page 106: Relatório do Grupo de Trabalho criado para a definição de proposta ...

106

selecionar as intervenções mais custo-efetivas e de coordenar os vários cuidados.

Também competências como a comunicação inter-pessoal, assertividade e

capacidade de negociação são referidas (10);

3. Sejam definidos critérios para acompanhamento dos doentes por um gestor. Estes

devem consubstanciar-se em perfis específicos de doença crónica, comorbilidades

e propensão elevada para a utilização de recursos. Neste sentido, apresentam-se

alguns critérios a considerar para a elegibilidade dos doentes, conforme descritos

na literatura internacional (8) (10):

Número de comorbilidades;

Consumo de recursos;

Utilizadores frequentes do serviço de urgência;

Readmissões hospitalares frequentes;

Demora média dos internamentos hospitalares;

Necessidades complexas após a alta, nível de independência funcional e

severidade da doença;

Condições sociais complexas (por exemplo, pessoas que vivam sozinhas e

sem suporte familiar ou social);

Comportamento colaborante do doente;

4. Tendo em conta o conhecimento que a equipa de saúde sediada nos cuidados de

saúde primários tem dos seus doentes, esta parece ser a estrutura responsável

pela referenciação para o gestor do doente. Não obstante, sempre que identificada

a necessidade de um doente ser acompanhado por gestor do doente, quer no

contexto hospitalar ou nos cuidados continuados, a mesma deve ser comunicada

aos cuidados primários que melhor avaliarão a situação;

5. Sejam criadas as condições necessárias para a existência desta função. As

recomendações internacionais indicam que um gestor do doente pode

acompanhar entre 50 a 80 doentes (11). Considerando que um gestor do doente

acompanha 80 casos, e aplicando o gestor do doente apenas ao grupo de pessoas

com mais de 5 doenças crónicas (6% da população (10)), seriam necessários

aproximadamente 7.500 gestores de caso a nível nacional. A intervenção destes

profissionais visa o acompanhamento dos doentes mais consumidores de

recursos, permitindo assim a prazo controlar o desperdício de recursos através de

um melhor controlo do estado do doente.

Face à elevada variação da complexidade dos doentes, e no sentido de garantir

um serviço de qualidade e equilibrar o esforço exigido por cada gestor de doente, a

distribuição dos doentes por cada gestor do doente requerem a inclusão de uma

componente de ajustamento pelo risco;

6. A implementação do gestor do doente decorra através de um processo gradual,

tendo no seu início, uma componente de formação e prosseguindo através de

experiências piloto. A avaliação das experiências piloto e a determinação do seu

custo-efetividade permitirão assim determinar o modelo mais adequado à realidade

portuguesa. O processo de adaptação e avaliação destas experiências é crucial,

uma vez que também é possível encontrar contextos onde a implementação

destes programas não gerou os resultados esperados (12).

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107

Impacto previsto

Prevê-se que a gestão do doente adequada contribua essencialmente para a

prestação de cuidados com mais qualidade e mais eficiência, através de (10) (12):

Acompanhamento personalizado num sistema de saúde complexo e

impessoal;

Definição de um plano de cuidados personalizado;

Potencial otimização da qualidade de vida e autonomia;

Educação sobre o processo de doença de acordo com as necessidades

individuais;

Educação para o autocuidado, promovendo o retorno à máxima funcionalidade

apoiando a família na obtenção de cuidados de suporte;

Melhor adesão terapêutica, reduzindo episódios de agudização;

Melhores outcomes clínicos;

Redução da fragmentação, da duplicação de cuidados e consequente

desperdício de recursos;

Utilização menos intensiva dos contactos com a medicina geral e familiar,

sendo apenas justificadas as consultas de agudização e renovação;

Incremento da colaboração e coordenação e comunicação entre membros da

equipa de saúde;

Eficiência nos cuidados através do posicionamento do doente no nível de

cuidados que necessita. Neste âmbito, um estudo de Okin, 2000 (13) revela

um decréscimo de custos médios hospitalares de $21,022 para $14,910;

A gestão otimizada em ambulatório, através da identificação de alterações no

estado de saúde, permite um atuação precoce evitando ou reduzindo

recorrência/readmissões ao hospital. Peikes, 2009 refere no seu estudo que a

taxa de hospitalização per capita é superior no grupo de controlo (0,98) face

ao grupo da gestão de caso (0,82) (14). Num outro estudo, o grupo da gestão

de caso passou em média menos 36% do tempo no hospital por todas as

causas (15);

Melhor planeamento das altas, o que permite reduzir a demora média

hospitalar destes casos. A título de exemplo, no estudo de Poole, 2001

verifica-se uma redução da demora média de 5,6 dias para 3,5 dias (15) nos

doentes em programa de gestão de caso;

Utilização mais adequada das urgências. Wetta-Hall, 2007 (16) reporta uma

redução de 48% na recorrência à urgência;

Page 108: Relatório do Grupo de Trabalho criado para a definição de proposta ...

108

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188-94.

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109

5.1.2. Criação de sistema nacional de gestão de referenciações em saúde

Medida

Criação de sistema nacional de gestão de referenciações em saúde

Rationale

O processo de referenciação garante a transição de um doente entre diferentes

serviços e níveis de cuidados de saúde. O processo ocorre comummente entre CSP,

os CSH e a RNCCI. Este pode também ocorrer entre diferentes serviços do mesmo

nível assistencial.

Anualmente, registam-se milhões de contactos diretos e indiretos, formais e informais,

clínicos e não clínicos, entre doentes e prestadores de cuidados de saúde no nosso

SNS. De entre estes, uma percentagem significativa necessita de intervenções

complementares de outros prestadores, sendo necessário assegurar a continuidade

dos cuidados prestados. As reais necessidades de referenciação de doentes é um

fenómeno difícil de mensurar em termos exatos, mesmo porque nem todas se

encontram efetivamente registadas.

O fenómeno da maior necessidade de complementaridade das respostas

proporcionadas é ainda potenciado, por um lado pelo aumento da especialização

clínica e por outro pela crescente presença de multimorbilidade nas populações. A

evolução das características das necessidades dos utentes e da reposta oferecida

tende a aumentar o hiato já existente, exigindo uma resposta diferente, mais

direcionada para a continuidade de cuidados em função dos perfis de risco dos

utentes.

Estão descritos na literatura internacional diversos tipos e modelos de referenciação,

e o tema tem sido objeto de estudos de investigação e relatórios de consenso (1) (2)

(3). A multiplicidade de mecanismos de transição do doente na rede de cuidados de

saúde explica-se pelo facto do processo estar intimamente relacionado com a

organização do sistema de saúde em cada país. Apesar desta diversidade, os

objetivos da referenciação estão bem identificados e são universais. Um doente é

referenciado entre serviços e profissionais de saúde para uma ação ou procedimento

complementar de tratamento, diagnóstico ou reabilitação. As transições são efetuadas

habitualmente entre médicos mas também podem ser estabelecidas por outros

profissionais de saúde - enfermeiros, farmacêuticos, fisioterapeutas, psicólogos,

nutricionistas, médicos dentistas, entre outros.

Estas transições são momentos sensíveis de grande impacto nos doentes e nas suas

famílias. Na atual complexidade dos sistemas de saúde o processo de referenciação

é frequentemente prejudicado pela deficiente comunicação entre profissionais

envolvidos e pela fragmentação de cuidados existente (1) (2). É neste contexto que

surgem interferências claras na eficiência e na qualidade dos cuidados prestados com

duplicação de esforços, riscos para a segurança do doente e desperdício de recursos

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110

(1). O fenómeno está descrito à escala global com características dependentes da

organização de cada sistema de saúde.

A otimização do processo de referenciação deve ser pensada no sentido de contrariar

estes factos promovendo o continuum de cuidados ao doente no sistema de saúde.

De facto, existe alguma literatura que comprova cientificamente que a continuidade de

cuidados aumenta a efetividade dos cuidados (4). A definição deste processo assenta

num suporte tecnológico adequado e numa reorganização e reafectação de recursos

já existentes, com uma estratégia sistémica centrada no doente e não nas

instituições. É ainda necessário o desenvolvimento de uma nova cultura

interprofissional indissociável da evolução da cultura organizacional transversal aos

diferentes serviços e níveis de cuidados de saúde.

Contudo, a garantia de continuidade de cuidados de saúde no nosso país não se

poderá considerar uma prioridade, uma vez que a medição da produção, o seu

pagamento ou a sua avaliação de desempenho centram mormente as suas atenções

nos eventos em si mais do que na existência e sucesso do processo de

referenciação, seja este horizontal ou vertical. A referenciação não é assegurada em

todo o espectro possível nem da mesma forma, utilizando-se sistemas (sobretudo de

natureza informática) que funcionam em paralelo, sendo distintos e por vezes não

interoperáveis.

A necessidade de criar um sistema de âmbito nacional que permita gerir os processos

de referenciação de doentes entre unidades prestadoras, independentemente do nível

de cuidados onde se situem ou da tipologia de cuidados que se esteja a considerar

parece então uma iniciativa que tenderá a melhorar os níveis de integração de

cuidados com todas as vantagens associadas ao nível da oferta e procura de

cuidados de saúde.

Há evidência robusta de que no atual contexto organizacional dos sistemas de saúde

as tecnologias de informação e comunicação são o elemento fulcral para que o

processo de referenciação seja eficiente, melhore a qualidade dos cuidados

prestados e promova a segurança do doente (1) (2). Os resultados da revisão da

literatura são menos claros no que concerne aos aspetos organizativos e financeiros

(1).

Descrição

Sugere-se a criação de um sistema nacional de gestão de referenciações em saúde.

Este sistema consiste num conjunto de recursos humanos, técnicos, informáticos ou

outros, que suportam o processo de referenciação entre prestadores de cuidados de

saúde, garantindo a continuidade de cuidados prestados aos utentes no intuito de

melhorar os níveis de acesso, eficiência e efetividade dos cuidados prestados. Com a

criação deste sistema, deverão ser uniformizados os sistemas que atualmente

existem no contexto do nosso SNS, devendo dar origem apenas a um único sistema

consolidado.

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111

Este sistema deverá ver reconhecida a importância da referenciação na continuidade

de cuidados e consecutivamente na qualidade dos serviços prestados. O

entendimento deverá passar pelo princípio de que a referenciação é tão relevante

como o ato de prestação de cuidados de saúde em si.

A estrutura de funcionamento deste sistema deveria contemplar um nível nacional,

outro regional e ainda outro local, com as suas atribuições e responsabilidades

devidamente definidas em função da sua área de atuação.

Um sistema que seja responsável pela gestão das referenciações entre prestadores

implica também a relação direta com os utentes e seus familiares, na tentativa de

fornecer um apoio em presença física (balcão) para os esclarecimentos devidos,

evitando-se a desorientação do doente na rede de prestação de cuidados existente e

contribuindo para a transparência do processo de produção.

O processo de referenciação pode ter diversos objetivos ao garantir uma adequada

continuação de cuidados a um doente durante as transições no sistema de saúde e

nas seguintes tipologias:

Consulta programada nos CSP ou CSH;

Consulta de urgência;

Consultadoria;

Reuniões de decisão terapêutica;

Realização de exames complementares de diagnósticos;

Realização de procedimentos terapêuticos;

Internamento em unidades hospitalares;

Intervenções e procedimentos de reabilitação;

Admissão em unidades da RNCCI;

“Regresso” ao médico e à equipa que coordena e integra a informação e os

cuidados ao doente;

Como pressupostos que possa contribuir para a otimização do processo de

referenciação, sugere-se particularmente:

Definição de áreas geodemográficas de prestação preferencial de cuidados,

com atualização das redes constituídas pelos ACES, hospitais de referência e

unidades da RNCCI;

Delineamento de princípios e de regras práticas de referenciação para fora

dessas áreas, com monitorização dos efeitos dessa possibilidade;

Atualização das redes de referenciação;

Reforço do papel da equipa dos CSP – médico de família e enfermeiro de

família atribuído. Função de coordenação sistémica dos processos

assistenciais à população;

Definição do papel do gestor do doente (case manager) na coordenação de

cuidados com ação direta na promoção de um processo de referenciação em

ciclo completo;

Protocolos de referenciação com critérios clínicos e administrativos

estabelecidos em acordos de consenso entre profissionais de saúde dos

Page 112: Relatório do Grupo de Trabalho criado para a definição de proposta ...

112

diferentes serviços envolvidos;

Sistemas de informação com garantia de interoperabilidade entre os níveis de

cuidados envolvidos no processo de referenciação;

Sem prejuízo dos pontos anteriores devem ser proporcionadas oportunidades

de comunicação presencial entre os agentes envolvidos no processo de

referenciação (reuniões e contactos telefónicos) para promoção de redes

colaborativas ágeis e eficazes entre os profissionais;

Identificação de interlocutores nos CSH e CSP para criação de canais de

comunicação privilegiada em cada especialidade ou área funcional;

Especificidades:

CSP CSH – fluxo pelo qual é desencadeado habitualmente o processo de

referenciação. O doente deve ser informado sobre o circuito de referenciação

e acerca dos resultados esperados. No futuro, o doente deve poder consultar

(usando a sua password pessoal confidencial SNS) qual a situação das suas

referenciações. A comunicação através da plataforma de partilha de dados

não deve subtrair o interesse de outros mecanismos de contacto,

nomeadamente a interação presencial ou por telefone. A receção da

informação nos CSH deverá desencadear a ação conducente à prestação de

cuidados em contexto hospitalar. Os CSP devem ser informados (alerta no

sistema de informação) acerca da situação do doente referenciado (consulta,

serviço de urgência, cirurgia, internamento).

CSH CSP – o processo de referenciação é bidirecional e como tal a contra-

referenciação é parte integrante do ciclo completo. A sua ausência deve ter

consequências, quer na contabilização como ato assistencial incompleto, quer

retributivas. Na sequência de cuidados é exigido a transmissão de dados para

a origem da referenciação idealmente através da plataforma de comunicação.

A informação transmitida deve conter os dados referentes ao internamento

(nota de alta), à consulta (programada/urgente), ao episódio de urgência ou a

procedimentos e terapêuticas efetuadas. A informação é recebida nos CSP,

devendo ser desencadeada ação referente ao plano de cuidados a observar

de acordo com as orientações emanadas dos CSH. Por princípio, deve ser

agendada avaliação com a equipa dos CSP no prazo máximo de 1 semana

(tempo definido de acordo com a situação clínica e contexto biopsicossocial do

doente). Sistema de alertas/notificações em modo real time – admissões no

serviço de urgência, internamentos e altas.

CSP/CSH RNCCI – a referenciação para a RNCCI pode ser efetuada pelos

CSP ou pelos CSH. A sequência pela qual ocorre o ciclo de referenciação

pode assumir características distintas de acordo com o critério clínico e

objetivos assistenciais. Independentemente da sequência deve estar

assegurado um mecanismo de comunicação sobreponível ao que está

descrito para o processo de referenciação entre os CSP e os CSH.

Page 113: Relatório do Grupo de Trabalho criado para a definição de proposta ...

113

Deve ainda ser considerada como especificidade do processo de referenciação a

transição de doentes entre serviços e profissionais de saúde no mesmo nível de

cuidados – CSP, CSH e RNCCI. Não é despicienda, no contexto sociodemográfico

atual, a utilização de serviços de saúde no sector privado pelo que será de considerar

essa especificidade adicional para não excluir qualquer prestador ou utilizador do

sistema de saúde.

Condições de aplicação

A abrangência transversal da medida requer um esforço significativo em várias áreas.

Assim, uma das atividades necessárias para garantir o funcionamento do sistema de

referenciação, é a definição e aplicação de critérios de referenciação e prioridades em

cada área de prestação de serviços de saúde que façam parte da rede SNS ou por si

convencionada.

A abrangência transversal da medida requer um esforço significativo em várias áreas,

sendo por isso recomendável, numa tentativa de melhor gestão dos circuitos, a

consideração primária das sete especialidades básicas: Medicina Geral e Familiar,

Medicina Interna, Cirurgia Geral, Pediatria, Ginecologia e Obstetrícia e Psiquiatria,

Podemos associar ainda a especialidade de Saúde Pública como especialidade

médica num âmbito mais vasto de Saúde. Estas especialidades, independentemente

do local físico ou da organização onde estão inseridas, são especialidades médicas

com competências distintas, que não se sobrepõem mas que se complementam.

Sugere-se assim a simplificação do sistema de referenciação, tendo por base nos

adultos as três especialidades básicas - que seriam as especialidades integradores e

essas sim referenciadoras para cuidados “superespecializados” observada a

necessidade de cuidados diferenciados, mas mantendo a necessidade de integração

e envolvimento das especialidades referenciadoras. Uma organização da prestação

alinhada com estes princípios facilitaria a sua aplicação.

Em termos operacionais, a estrutura de recursos humanos de suporte ao

funcionamento deste sistema torna-se fundamental, sendo necessário dispor de

equipas nos diferentes níveis referidos (nacional, regional e local) de forma a poder

cobrir-se todo o espectro vertical do sistema.

Outro dos recursos sem o qual não será possível conceber um sistema desta

dimensão são as tecnologias de informação e comunicação. Todo o suporte funcional

do sistema deverá ser garantido pela fluidez de informação entre prestadores, pelo

que a disponibilidade de recursos nesta área é crucial para criar as ligações que hoje

não existem ou não funcionam como desejaríamos.

Os conceitos que hoje utilizamos em termos de produção, financiamento e avaliação

de desempenho deverão ser questionados à luz de um sistema de referenciação de

doentes cujos elos de ligação deverão ter associados uma responsabilização efetiva.

A garantia de continuidade de cuidados sempre que tal se justifique deverá constituir

Page 114: Relatório do Grupo de Trabalho criado para a definição de proposta ...

114

uma boa prática da produção de um episódio (consulta, internamento, urgência, etc),

o seu financiamento e a avaliação de desempenho também deverão incorporar nos

seus instrumentos, esta mesma filosofia.

Um dos aspetos considerados cruciais pelo GdT para garantir o sucesso da medida é

a associação do processo de referenciação a uma valorização financeira do mesmo.

Através do entendimento de que os episódios deverão garantir a continuidade de

cuidados, sempre que esta for necessária, poderá existir uma afetação financeira

quer à adequação do procedimento, quer ao pagamento do episódio em si. Da

mesma forma, a monitorização ou avaliação e os prémios associados deverão

igualmente refletir esta importância (a utilização por exemplo do indicador ICOC –

Index of Continuity of Care poderá contribuir para este processo).

Impacto previsto

É expectável que o impacto seja bastante significativo em espectro e profundidade,

nas diferentes dimensões de análise e avaliação de um sistema de saúde.

O primeiro impacto esperado com o desenvolvimento desta medida será a integração

de um maior espectro de prestadores e serviços de saúde numa rede gerida de forma

integrada, com regras de funcionamento uniformes e comuns. Para além dos

benefícios diretos decorrentes desta integração, as externalidades positivas geradas

por esta gestão comum poderão suceder em diferentes áreas.

É expectável que o maior impacto seja sentido na amenização das consequências

geradas pelos lapsos de referenciação e falta de continuidade administrativa, técnica e

clínica das prestações de saúde para os utentes. Neste sentido, as dimensões de

acesso, eficiência e efetividade dos cuidados prestados poderão beneficiar deste

processo.

Outro impacto esperado, é a valorização do processo de referenciação: pretende-se

que através da implementação de um sistema nacional de referenciação seja

valorizado o próprio ato de referenciação, suas características, arquitetura e

funcionalidades.

Espera-se também obter uma resposta mais adequada ao nível de prioridade de cada

doente: a uniformização de critérios de acompanhamento em cada situação e a

definição dos momentos adequados de referenciação entre prestadores, poderá trazer

uma resposta mais “calibrada” a cada doente. Este sistema deve ser “mais inteligente”,

sensível às diferenças entre doentes, identificando prioridades e necessidades de

resposta.

De uma forma genérica, os benefícios de um processo de referenciação adequado e

funcional encontram-se estão bem descritos na literatura internacional e a evidência

disponível é robusta, sendo expectável alcançar:

Aumento da qualidade e eficiência da prestação de cuidados de saúde;

Maior segurança dos doentes;

Page 115: Relatório do Grupo de Trabalho criado para a definição de proposta ...

115

Aumento da satisfação dos doentes e dos profissionais de saúde;

Reforço da capacidade assistencial em todos os pontos do sistema;

Promove a cooperação entre CSP, CSH e RNCCI;

Diminuição das readmissões hospitalares;

Gestão racional dos recursos;

Bibliografia

1. Ramos, V. A interface entre cuidados de saúde primários e o hospital. [autor do livro] L

Campos e M Borges. Governação dos hospitais. Alfragide : Casa das Letras/Oficina do

Livro-Sociedade Editorial, Lda, 2009.

2. The European study of referrals from primary to secindary care. Concerned Action Comittee

of Health Services research for the European Community. Occas Pap R Coll Gen Pract.

Vol. Apr:56, pp. 1-75.

3. Ministério da Saúde. Relatório do Grupo Técnico para o desenvolvimento dos Cuidados de

Saúde Primários. 2012.

4. Starfield, B et al.. Continuity and coordination in primary care: Their achievement and utility.

Medical Care 1976, Vol. 14:7, pp.625-36.

Page 116: Relatório do Grupo de Trabalho criado para a definição de proposta ...

116

5.1.3. Aplicação de normas, guidelines e protocolos clínicos

Medida

Aplicação de normas, guidelines e protocolos clínicos

Rationale

A implementação de normas clínicas, como um método de apoio à decisão clínica,

constitui um instrumento de qualidade de prestação de serviços pelos profissionais de

saúde, contribuindo, igualmente, para a melhoria dos sistemas de saúde.

A elaboração de normas clinicas, baseada na melhor evidência científica disponível,

respeita o princípio do uso racional de tecnologias da saúde e orientam a adoção de

atuações terapêuticas custo-efetivas, ao mesmo tempo que se garante ao cidadão a

qualidade clínica que é consagrada como um dos seus principais direitos. Estes

instrumentos normativos para além de garantirem a segurança ao prescritor, sobre o

seu ato, permitem ainda a obtenção de ganhos de saúde, equidade no tratamento e a

racionalização na utilização de recursos do sistema de saúde.

As Normas Clínicas, deverão, sempre que possível, constituir-se como componente

indissociável de um processo assistencial integrado (PAI), onde o cidadão é colocado,

de acordo com as suas necessidades e expectativas, no centro do sistema. A

continuidade assistencial e a coordenação entre os diferentes níveis de cuidados, são

reconhecidos como elementos essenciais para garantir que o doente recebe os

melhores cuidados de saúde, atempados e efetivos.

Considerando-se a publicação de regulamentação desta natureza como essencial, a

sua implementação efetiva terá de ser suportada em mecanismos de monitorização e

avaliação do seu impacto no sistema de saúde, através da incorporação dos seus

elementos em mecanismos de financiamento, bem como através da realização de

auditorias clínicas, como uma atividade de auxílio à implementação das Normas na

prática médica e potenciadoras da governação clínica no sistema de saúde

português.

Descrição

A prática clínica tem sido apontada como uma das principais componentes da

estrutura da prestação de cuidados de saúde. Esta tem sido, igualmente, uma área

onde a ausência de protocolos, ou de elementos reguladores, é constantemente

invocada para demonstrar diferenças na forma da prestação de cuidados e justificar

práticas distintas.

Igualmente, a prescrição deve ser, cada vez mais, enquadrada uma prática clínica

baseada em normas e protocolos que tendam a uniformizar práticas, salvaguardando-

se, as especificidades, desde que, devidamente fundamentadas clinica e

Page 117: Relatório do Grupo de Trabalho criado para a definição de proposta ...

117

cientificamente.

As normas clínicas possuem o potencial de melhorar os resultados, aumentar a

eficiência clínica e minimizar os riscos através da diminuição de intervenções

desnecessárias, ineficazes ou mesmo prejudiciais. Sendo elaboradas, tendo em

atenção princípios fundamentais de ética universal, e considerando o contexto para o

qual se destinam, deverão, igualmente, acautelar, as possíveis consequências para a

sociedade e para o indivíduo, das alterações, em intervenções de cuidados de saúde,

que venham a introduzir.

A produção de normas numa perspetiva integradora, é uma abordagem

multidisciplinar que pressupõe a reanálise de todas as atuações de que o doente é

alvo em qualquer ponto do Serviço Nacional de Saúde, do início ao fim do processo

assistencial.

Estes documentos normativos deverão constituir-se como:

Uma base da mudança organizacional, com o envolvimento de todos os

profissionais implicados na prestação de cuidados, acreditando na sua

capacidade e vontade de melhorar continuamente a qualidade e de centrar os

seus esforços nas pessoas.

Uma ferramenta que permitirá analisar as diferentes componentes que

intervêm na prestação de cuidados de saúde e ordenar os diferentes fluxos de

trabalho, integrando o conhecimento atualizado, homogeneizando as atuações

e colocando ênfase nos resultados, a fim de dar resposta às expectativas quer

dos cidadãos quer dos profissionais de saúde.

Um suporte clínico indissociável de mecanismos de contratualização, com a

indexação de indicadores a valores de referência, condicionantes de linhas de

financiamento.

Um elemento chave para a realização de auditorias clínicas a todo o sistema

de saúde.

As auditorias clínicas apresentam-se como uma ferramenta indispensável à melhoria

contínua da qualidade dos cuidados de saúde prestados, através da avaliação do

desempenho dos serviços e profissionais, nesse processo, e permitem a realização

de análises comparativas do desempenho, de acordo com referenciais pré-definidos,

conducentes à melhoria da qualidade do serviço disponibilizado, a uma atualização

permanente da prática face à evidência e boa prática definida.

Os níveis de conformidade da prática clínica face ao preconizado pelas entidades

competentes, através da aferição da taxa de conformidade, poderão constituir-se

como elementos diferenciadores das unidades prestadoras.

Condições de aplicação

Os documentos regulamentadores dos PAI deverão apresentar um enquadramento

normativo adequado, por forma a que a sua aplicação, gradual e faseada, seja de

caracter obrigatório para todos os níveis do sistema de saúde português.

Page 118: Relatório do Grupo de Trabalho criado para a definição de proposta ...

118

Igualmente, a sua definição deverá estar ligada aos mecanismos de contratualização,

dado que pressupõe uma estreita ligação entre níveis de cuidados, no seguimento

adequado do doente.

A implementação destes fluxos nos sistemas de informação existentes, facilitariam o

processo de referenciação e seguimento dos doentes entre níveis de cuidados e

permitiriam a existência de informação relativa aos cuidados prestados em cada nível,

bem como a referenciação que é dada ao doente em cada fase.

Recursos

A elaboração de Normas Clínicas, de forma sustentada, deverá ser uma das

diretrizes do Ministério da Saúde, devendo dotar os serviços competentes dos

recursos necessários à prossecução deste fim;

A definição de áreas prioritárias de atuação, quer pela sua incidência ou

prevalência, quer pelo volume de recursos associados;

O processo de elaboração de Normas Clínicas criará a necessidade de

garantir um mecanismo que assegure a permanente atualização das Normas;

A constituição de um grupo de auditores, com recurso a profissionais já

formados, de preferência pelos corpos reguladores e em parceria, sempre que

adequada, com a respetiva Ordem Profissional, se possível.

Modo de implementação

A implementação, deverá estar sempre sujeita à concretização de projetos-

piloto que permitam a avaliação dos ganhos introduzidos, das dificuldades

identificadas e das correções necessárias;

As normas clínicas deverão ser integradas nos sistemas informáticos da

Saúde, como suporte à decisão clínica;

A contratualização deverá incorporar componentes de processo e de resultado

previstos nas normas;

Será necessário parametrizar adequadamente os indicadores de avaliação da

implementação das Normas;

Será necessário preparar auditores e mecanismos de auditoria.

Impacto previsto

As normas clínicas estando em permanente evolução, de acordo com a leges artis e

com a evidência científica, devem ser entendidas como um mecanismo de facilitação

científica e uma forma de representar uma gestão rigorosa dos recursos em saúde.

A par da elaboração de Normas, a sua efetiva aplicação, através da

incorporação dos seus princípios nos mecanismos de contratualização e,

sobretudo, com a efetivação de um sistema de auditorias clínicas, poderá

esperar-se:

Uniformização da prática clínica em todo o sistema de saúde;

Definição dos mecanismos de circulação do doente por todo o sistema de

saúde;

Page 119: Relatório do Grupo de Trabalho criado para a definição de proposta ...

119

Identificação das áreas de atuação de cada nível do sistema de saúde.

Utilização racional dos recursos em saúde;

Garantia de salvaguarda da decisão clínica, fundamentada nos princípios das

normas e/ou protocolos;

Prescrição de medicamentos e meios complementares de diagnóstico e

terapêutica realizada de acordo com a evidência científica;

Desenvolvimento de indicadores, a incluir na contratualização com as

unidades de saúde, que incorporem os critérios normalizados naqueles

referenciais normativos, como mecanismo de incentivo ao correto registo da

informação clínica e à prática de acordo com a Norma;

Benchmarking entre entidades;

Auto-avaliação do profissional de saúde, integrado em equipa multidisciplinar;

Garantia ao cidadão da prestação de cuidados de saúde de qualidade;

Identificação de níveis de conformidade da prática clínica face ao preconizado

pelas entidades competentes do MdS, através da realização de auditorias

clínicas;

Promoção dos serviços/departamentos que evidenciem taxas de conformidade

elevadas e penalização dos respetivos dirigentes quando se verificar a prática

reiterada de princípios não conformes com as Normas, sem fundamentação

clínica para tal;

Garantia que o órgão dirigente assegura a implementação de medidas

corretivas às não conformidades.

Alguns destes resultados esperados, podem encontrar-se em estudos científicos que

demonstram essa evidência. Entre os quais destacam-se as revisões realizadas:

Para a OMS, por Haddadsm (2010) (1), num trabalho intitulado de “Clinical

pathways: effects on professional practice, patient outcomes, length of stay and

hospital costs”, que abrangeu sobretudo países em vias de desenvolvimento,

ficou demonstrado que a utilização de processos assistenciais integrados

permitem obter melhores resultados de saúde para os doentes, nomeadamente

na diminuição da demora de internamento, nos custos inerentes a esse

internamento e na ausência de quaisquer eventos adversos resultantes da sua

utilização. Contudo, os autores referem a necessidade de adaptações à

realidade local, face à escassez de recursos materiais e humanos, como uma

limitação na utilização destes processos assistenciais integrados;

Por Browne GJ et al. (2001) (2), onde os autores referem que a utilização de

.processos assistenciais integrados (no caso específico para patologias agudas

comuns em idade pediátrica, com recurso a serviços de urgência – asma,

gastroenterites), possibilita a obtenção de melhores resultados em saúde,

nomeadamente, ao nível da mais rápida estabilização dos doentes, numa

redução das taxas de admissão, numa diminuição da duração do internamento,

numa redução das readmissões e numa maior satisfação dos pais.

Page 120: Relatório do Grupo de Trabalho criado para a definição de proposta ...

120

Bibliografia

1. Haddadsm. Clinical pathways: effects on professional practice, patient outcomes, lenght of

stay and hospital costs. Rhl comentary. [ed.] WHO. The WHO reproductive Health

Library. 2010.

2. Browne, G e et al. The benefits of using clinical pathways for managing acute paediatric

illness in a emergency department. Journal of Quality Practice. 2001, Vol. 21:3, pp. 50-

5.

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121

5.2. Dimensão Financeira

5.2.1. Incentivos comuns: aplicação da unidade de pagamento capitação

Medida

Incentivos conjuntos: aplicação da unidade de pagamento capitação

Rationale

O sistema de financiamento de organizações de saúde é um dos instrumentos com

capacidade para criar um conjunto de incentivos tendentes ao alcance dos objetivos

principais dos sistemas de saúde (1).

Particularmente no que respeita a um dos seus elementos estruturantes, a unidade de

pagamento, verifica-se que aquela que parece melhor responder a uma realidade

organizacional integrada é a capitação (2) (3) (4) (5), ou não antagonicamente, a

forma organizacional que melhor responde aos incentivos do risco pela prestação –

característica típica da capitação - são os sistemas integrados (6).

A autonomia produtiva de cada nível de cuidados pode gerar excesso de produção

não necessária numa lógica de consideração do output final por nível de cuidados.

Caso não exista um financiamento baseado no output final, debatemo-nos com a

situação indesejável da existência de financiamento autónomo por nível de cuidados,

podendo esta realidade ser agravada por esses níveis serem remunerados através de

unidades de pagamento diferentes. O sistema de pagamento através do fee-for-

service, tendente a gerar faturação acrescida, investimento em tecnologia,

complexidade, sendo indutor da existência de doença e intrinsecamente desalinhado

com os objetivos de coordenação de cuidados de saúde, constitui uma barreira real

ao fenómeno de integração vertical.

O atual modelo de financiamento de organizações de saúde no nosso país, recorre à

utilização de diferentes unidades de pagamento para os diferentes níveis de

cuidados, nem sempre criando os incentivos adequados tendentes à integração de

cuidados de saúde. De facto, para além do afastamento físico e cultural entre

profissionais que desenvolvem a sua atividade nas unidades prestadoras de cuidados

de saúde, os instrumentos de gestão que foram criados e são utilizados atualmente,

no domínio da gestão da produção, financiamento e avaliação de desempenho

replicam e promovem esta clara separação existente entre “níveis de cuidados”.

A alteração do sistema de pagamento baseado na produção para capitação obriga as

instituições a mudarem o seu paradigma de funcionamento, libertando-se do enfoque

na resposta à doença para uma visão centrada no estado geral de saúde da

população.

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122

Descrição

Através desta medida pretende-se que se recorra a uma unidade de pagamento per

capita, que agregue a remuneração às unidades prestadoras de cuidados de saúde e

seja criado um conjunto de incentivos comuns e partilhados entre si.

A capitação é um sistema de remuneração onde o médico ou unidade de saúde

recebem um pagamento fixo por utente inscrito na sua lista, independentemente da

quantidade de serviços a prestar (7). Trata-se de uma unidade predominantemente

centrada na procura, sendo o financiamento estabelecido em função da dimensão da

população previamente definida ou que o prestador escolheu. Na prática, trata-se de

uma forma de transferência de risco para níveis mais próximos dos prestadores,

aumentando as responsabilidades financeiras das entidades prestadoras de cuidados

de saúde (8).

A unidade de pagamento capitação deverá ser ajustada pelo risco, isto é, deve

incorporar uma ponderação relativa face ao risco previsto associado a cada utente ou

conjunto de utentes.

O recurso à capitação ajustada pelo risco, deverá de forma complementar, incorporar

uma componente baseada no desempenho institucional. O conjunto de objetivos

colocados neste âmbito deverá ser partilhado e comum entre os produtores de

cuidados de saúde, independentemente do nível de cuidados em que estejam

categorizados.

Condições de aplicação

Para que seja possível a aplicação da medida proposta torna-se fundamental que

sejam garantidas algumas condições, entre as quais se destacam particularmente:

Previamente à aplicação de um modelo de financiamento per capita, é

fundamental garantir a estabilização e validação da informação utilizada para

se proceder à quantificação populacional e suas respetivas características

influenciadoras dos consumos de recursos nomeadamente as variáveis

género, idade, diagnósticos, perfil de consumo de medicamentos e perfil de

resultados de análises clínicas. As imprecisões verificadas nestas variáveis

poderão provocar diferenças futuras na afetação orçamental – situação não

desejável;

Após a disponibilidade de informação, a aplicação desta medida deverá

também ser precedida de um estudo comparativo entre os diferentes modelos

de ajustamento pelo risco existentes, de forma a ser possível identificar os

seus valores preditivos e adequação à nossa realidade;

Tal como sucede com outras unidades de pagamento, a combinação com o

pagamento pelos resultados alcançados poderá auxiliar na amenização ou

eliminação de alguns dos efeitos adversos que poderão resultar da aplicação

da capitação. A aplicação de objetivos, indicadores e metas de forma conjunta

e partilhada entre prestadores poderá favorecer o alcance de um interesse

Page 123: Relatório do Grupo de Trabalho criado para a definição de proposta ...

123

comum;

Outra das condições necessárias para a implementação de um sistema

capitacional é a disponibilização de informação acerca dos fluxos de utentes

entre unidades prestadoras de cuidados de saúde, de forma a ser possível

quantificar este movimento e realizar os acertos necessários sob o ponto de

vista orçamental e financeiro;

Os efeitos esperados e descritos na literatura sobre a capitação só serão

efetivamente alcançados se outras regras de natureza administrativa não se

sobreponham à sua aplicação, mitigando esses mesmos efeitos desejados;

A discussão e argumentação sobre a aplicação da capitação em contextos de

integração vertical no nosso país, nem sempre são suportadas em evidência

científica criada nas mais diversas publicações existentes sobre esta temática.

A evolução para um modelo capitacional requer formação e difusão de

conhecimento, sobre quais as suas características típicas, suas vantagens,

desvantagens e sobretudo quais os incentivos proporcionados;

Para além destas áreas, também outros instrumentos relevantes, como o

próprio planeamento estratégico e operacional (definição, monitorização e

avaliação), os sistemas de informação utilizados ou o próprio processo

negocial desenvolvido entre financiadores, negociadores e prestadores

também se apresentam distintos. A gestão conjunta prevista num cenário de

integração vertical associada à capitação ajustada pelo risco, deverá

igualmente prever uma uniformização das linhas de produção e o

desenvolvimento de procedimentos de avaliação de desempenho únicos;

O recurso à capitação ajustada pelo risco é favorecido em contextos

organizacionais e funcionais verticalmente integrados, pelo que a existência

destas realidades, favorece o alcance conjunto dos incentivos pretendidos;

Impacto previsto

Com a introdução de um modelo capitacional, é expectável que se favoreça o alcance

de um conjunto de objetivos desejáveis, entre as quais se destacam:

O alinhamento e partilha dos incentivos entre prestadores, tornando a sua

atuação dirigida a propósitos comuns. O incentivo criado através de um

pagamento integral do estado de saúde do utente, conduz necessariamente a

uma reorganização estrutural onde a estratégia é dirigida a uma concentração

de esforços nas fases primárias da doença (prevenção da doença e promoção

da saúde). Na prática, quanto mais atividades (e mais dispendiosas) forem

necessárias executar, mais complexo e oneroso se torna o processo de

produção;

A utilização da capitação incentiva a eliminação da produção redundante

desnecessária: quanto mais reduzidos forem os inputs incorridos no processo

de produção, menor será o nível de risco decorrente da maximização da razão

entre financiamento e custos do processo, ou seja, existe uma sinalização que

potencia a eficiência técnica e económica (Byrne e Ashton, 1999) (9). São

também esperados ganhos de eficiência resultantes de uma coordenação do

processo de produção e da redução dos custos de transação associados aos

movimentos dos doentes entre etapas de produção;

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124

Sendo o processo de produção considerado como um continuum indivisível,

não são atribuídas diferentes valorizações monetárias às diferentes etapas do

processo, seja através de uma diferenciação relativa ou através da aplicação

de distintas unidades de pagamento aos elos da cadeia de produção.

Eliminam-se assim diferentes formas de sinalização produtiva ao longo do

processo, sendo o risco transferido para o produtor, induzindo a eficiência não

só em etapas específicas do processo mas em todo o sistema de produção

(nos seus elementos constituintes e nas suas interligações);

A capitação pode surgir como catalisador de uma minimização de conflitos

entre níveis de cuidados na cadeia de valor, consequência de uma maior

explicitação e eliminação das diferenças existentes – leia-se privilégios

comparativos - entre prestadores diretos de cuidados. A contratualização

implícita atual, autónoma para cada um dos diferentes níveis assistenciais,

esbate-se, passa a ser explícita, clara e tendencialmente uniforme para todos

os intervenientes, que trabalham conjuntamente para um objetivo comum.

Esta assunção permite obter referências de gestão com menor grau de

incerteza, e pode constituir o elo de ligação entre objetivos e ações de

organizações e profissionais, na criação de incentivos para trabalharem de

forma comum.

Bibliografia

1. Berki, S. The design of case-based hospital paymentsystems. Medical Care. 1983, Vol.

21:1, pp. 1-13.

2. Ackerman, K III. The movement toward vertically integrated regional systems. Health Care

Mangement Review. 1992, Vol. 17:3, pp. 81-88.

3. Devers, K e et al. Implementing organized delivery systems: an integration scorecard.

Health Care Management Review. 1994, Vol. 19:3, pp. 7-20.

4. Shortell, S e et al. INtegrating health care delivery. Health Care Forum Journal. 2000, Vol.

43:6, pp. 35-39.

5. Sobczak, A. Oportunities for and constraints to integration of health services in Poland.

International Journal of Integrated Care. 2002, Vol. 2:1, pp. 1-10.

6. Coddington, D, Moore, K e Fischer, E. Vertical integration: is the bloom off the rose?

Healthcare Forum Journal. 1996, Vol. 39:5, pp. 42-47.

7. Pereira, J. Economia da saúde: um glossario de termos e conceitos. [ed.] Documento de

trabalho 1/93 - versão revista e atualizada. Lisboa : Associação Portuguesa de

Economia da Saúde, 2004.

8. Schokkaert, E, Dhaene, G e Van de Voorde, C. Risk adjustment and the trade-off between

efficiency and risk selection: an application of the theory of fair compensation. Health

Economics. 1998, Vol. 7:5, pp. 465-480.

9. Byrne, M e Ashton, C. Incentives for vertical integration in healthcare: the effect of

reimbursement systems. Journal of Health Care Management. 1999, Vol. 44:1, pp. 34-

46.

5.2.2. Desenvolvimento e aplicação de um sistema de custeio por utente

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125

Medida

Desenvolvimento e aplicação de um sistema de custeio por utente

Rationale

Em Setembro de 2011, Michael Porter (1) refere na HBR que um dos problemas

cruciais dos sistemas de saúde atuais prende-se com o facto de todavia não estarmos

a medir os custos da forma adequada, pelo que as escolhas nos diferentes níveis de

decisão também apresentarão lacunas quando incorporarem informação desta

natureza.

Se poderá existir uma focalização inadequada sobre os objetos e métodos de custeio,

também em termos práticos, a utilização de informação proveniente da contabilidade

de custos nas organizações de saúde do nosso país poderá considerar-se incipiente.

Tipifica-se mais por constituir um processo administrativo, diferido no tempo,

considerado pouco rigoroso no que se refere à capacidade de ilustrar os custos reais

ou aproximados dessa realidade.

O esforço em determinar, conhecer e gerir os custos é um pressuposto fundamental

para o processo decisional, operacional e estratégico, isto porque apesar de as

unidades prestadoras em contexto de SNS prosseguirem objetivos não lucrativos, a

renovação dos seus ciclos de exploração e investimento dependem de um equilíbrio

económico e financeiro sustentado.

De entre a utilização relativamente ampla que o conhecimento do nível de custos de

determinada organização prestadora de cuidados de saúde pode proporcionar para o

processo de tomada de decisões, segundo Hawkins e Baker (2004) (2) destacam-se

particularmente no que respeita às necessidades de informação rotineiras: o

apuramento de custos por produtos ou linhas de produtos, programas, centros

organizacionais (departamentos, serviços), pagadores específicos, clínicos individuais

que têm capacidade para gerar consumo de bens, atividades ou serviços e utentes

e/ou populações.

Descrição

Através desta medida, sugere-se o desenvolvimento e aplicação de um sistema de

custeio por utente. Esta opção é justificada de entre as alternativas metodológicas

existentes para se proceder ao apuramento de custos em organizações de saúde, isto

é, parece não existirem dúvidas substanciais ao facto do nível de detalhe desejado se

situar no custo por utente (3) (4).

A sua operacionalização poderá ser efetuada em função da aplicação de dois

métodos: um indireto, de natureza top-down, que permitirá através da alocação de

custos a obtenção de estimativas de custos por utente através do recurso a bases de

dados informáticas (grandes números) e; um método direto, de natureza bottom-up,

Page 126: Relatório do Grupo de Trabalho criado para a definição de proposta ...

126

através do qual se identificariam unidades de observação piloto onde seriam

recolhidos dados e informação dos consumos de recursos por utente (a apresentação

de um resumo de consumo de recursos deveria acompanhar a atual folha de

admissão e alta). Em qualquer um destes métodos, a filosofia deste sistema deverá

basear-se na centralização de informação por utente, independentemente das

unidades onde ocorra o consumo de recursos.

Condições de aplicação

Algumas condições poderão contribuir para a implementação dos métodos que são

sugeridos. Por facilidade de abordagem, categorizam-se em condições de natureza

filosófica, estrutural e técnica.

A primeira condição que será necessária reunir consubstancia-se na exigível

alteração de paradigma face ao estado de arte atual. As metodologias de custeio

deverão ser colocadas num patamar de prioridade de gestão, em que é necessário

coligir, estruturar e analisar informação sobre diferentes unidades de prestação de

cuidados de saúde (as funções de uniformização e consolidação de informação do

acionista é fulcral a este nível).

A segunda condição de aplicação, estrutural, assenta no desenvolvimento dos

sistemas de informação existentes nas unidades prestadoras de cuidados de saúde,

sobretudo ao nível da capacidade que estes apresentam de automatização,

interoperabilidade e sua fiabilidade. De facto, o nível de precisão no apuramento de

custos depende em grande medida da qualidade dos sistemas de informação que são

utilizados. Ao nível estrutural, a existência de uma equipa interna profissional

especialmente alocada ao sistema de custeio pode favorecer a implementação das

medidas sugeridas.

A terceira condição, de natureza técnica, deverá passar pela criação de um plano de

contabilidade analítica comum para unidades prestadoras de cuidados de saúde

(independentemente do nível de prestação), o que implicaria a revisão dos objetos de

custeio, dos centros de custos, dos critérios de imputação, no sentido da sua

utilização flexível individual e globalmente uniforme em unidades que prestam

cuidados de saúde no âmbito do nosso SNS.

Impacto previsto

A centralização da informação de custos no utente permitirá todo um conjunto de

melhorias qualitativas face à atual situação, entre as quais se destacam:

A prática de processos de tomada de decisão com menor grau de risco

associado;

Permitir desenvolver metodologias de definição de preços e de financiamento

dos serviços de saúde com maior rigor e fiabilidade;

Melhor informação para o desenvolvimento de processos de avaliação

económica (custo da doença, custo-benefício, custo-utilidade, custo-

Page 127: Relatório do Grupo de Trabalho criado para a definição de proposta ...

127

efetividade);

A informação sobre os custos por utente permitirá um melhor conhecimento

quando cruzados com dados de outra natureza (qualidade, produção,

avaliação de desempenho);

A possibilidade de realizar análises de eficiência (custos observados versus

custos esperados) para níveis semelhantes de resultados e de recursos

utilizados;

A possibilidade de realizar análises de sustentabilidade económico-financeira

(custos versus proveitos).

A consolidação da informação de custos por utente apresenta um potencial

significativo na identificação da estratific ação do risco numa base populacional. Neste

sentido, esta informação deverá encontrar-se devidamente acautelada no seu acesso.

Por último, importa referir que um esforço dirigido exclusivamente à análise de custos

poderá não dar prioridade ao processo de criação de valor em saúde. Focus on value

not just in costs é uma expressão utilizada por Porter e Teisberg (2007) (1), que

referem a necessidade de ponderar a relação entre os resultados alcançados e os

custos obtidos pelas organizações de saúde.

Bibliografia

1. Porter, M e Teisberg, E. How physicians can change the future of health care. Journal of

American Medical Association. 2007, Vol. 297:10, pp. 1103-1111.

2. Hawkins,R e Baker, J. Management accounting for health care organizations : tools and

techniques for decision support. 1st ed. Sudbury, MA : Jones and Bartlett Publishers,

2004.

3. Phelan, P e et al. DRG cost weights: getting it right. Medical Journal of Australia. [Online]

1998. [Citação: 24 de 02 de 2002.]

www.mja.com.au/public/issues/oct19/casemix/casemix/phelan/phelan.html.

4. Vertrees, J. El uso de los grupos de diagnostico relacionados como instrumento de

fnanciación. [autor do livro] Ministerio de Sanidad y Consumo. Analisis y desarrollo de

los GDR en el Sistema Nacional de Salud. Madrid : Centro de publicaciones del

Ministerio de Sanidad y Consumo, 1998.

Page 128: Relatório do Grupo de Trabalho criado para a definição de proposta ...

128

5.3. Dimensão Administrativa

5.3.1. Uniformização e centralização de procedimentos administrativos

Medida

Uniformização e centralização de procedimentos

Rationale

O crescimento das despesas em saúde, em particular no sector hospitalar, mas

também ao nível dos cuidados de saúde primários, tem levado à realização de

diferente estudos nacionais e internacionais, no sentido de identificar, analisar e

avaliar as causas inerentes àquela tendência.

Perante o atual contexto de contenção de gastos no sector da saúde, como descreve

Azevedo H. (2011) (1), e a consequente preocupação com a eficiência do sistema,

tem-se assistido a algumas mudanças no modelo de gestão e organizacional do

sistema de saúde.

Com o objetivo de melhorar a prestação de cuidados de saúde prestados aos

cidadãos, os diferentes governos têm apostado na criação de centros hospitalares, a

agregação de centros de saúde e a criação das unidades locais de saúde. Estas

políticas tendentes à racionalização de recursos internos, têm promovido as fusões de

unidades (em centros hospitalares ou em ACES), conduziram a uma redução

significativa do número de unidades hospitalares e de CSP, tendo os primeiros

passado de 90 para cerca de 50 unidades e os segundos de cerca de 70 para 50.

Importa, contudo referir que as fusões ocorridas nem sempre produziram quaisquer

alterações no número de estruturas físicas existentes.

De acordo com Azevedo H. (2011) (1), Portugal apresenta como um dos seus

grandes problemas a ineficiência do sistema, na medida em que gasta mal os

recursos disponíveis (2), nomeadamente quando existem unidades demasiado

pequenas para gozar de economias de escala e outras exageradamente grandes que

levam à subutilização de recursos (3). Surge assim a necessidade de ajustar a escala

de produção de forma a haver ganhos de eficiência (4).

A alteração do volume de produção pode ser obtida através do investimento de

recursos necessários à construção, de forma a obter a capacidade suficiente para se

criarem economias de escala, ou pela fusão entre dois ou mais hospitais, havendo

concentração dos meios de produção e oportunidade de especialização.

Porém, a formação destas entidades não garante por si só o seu funcionamento

.integrado, pelo que há que fomentar a criação de condições que possibilitem a

melhor gestão e articulação das várias instituições que as constituem (com cultura e

estrutura organizacional próprias) e a melhor articulação dessas instituições com

outras instituições que prestam cuidados de saúde ou desenvolvem atividades

conexas, designadamente do sector social, na mesma área geográfica.

Page 129: Relatório do Grupo de Trabalho criado para a definição de proposta ...

129

Descrição

Como refere Campos (2008) (5), uma das medidas mais importantes passa pela

concentração de unidades dispersas, de forma a obter uma estratégia e uma

hierarquia de grupo conducente à poupança de recursos e à implementação de

instrumentos de gestão subutilizados, em combinações destituídas de qualidade e

eficácia em cada unidade.

Neste contexto, a melhoria e a promoção da integração de cuidados, deverá passar

por uma identificação conjunta de necessidades e dos recursos existentes (humanos

e materiais). Realizada esta avaliação, deverá avançar-se para a emissão de

documentos reguladores ao nível dos procedimentos administrativos e para a

centralização de áreas chave (não clínicas e de enfermagem), nos diferentes níveis,

no sentido de aumentar o potencial de economias de escala, através da

rentabilização dos recursos humanos e materiais existentes. Contudo, a centralização

de procedimentos deverá ter sempre em consideração os custos variáveis, pois,

mesmo verificando-se a diminuição dos custos fixos/unitários, em algumas situações,

o acréscimo decorrente dos custos variáveis, poderão comprometer o sucesso de

uma integração.

Condições de aplicação

Considerando que as áreas não clínicas são aquelas que se encontram mais

propensas à mudança, são também aquelas em que a gestão, habitualmente tende a

concentrar-se numa primeira fase de um processo de integração.

Nestas áreas, considerando que existem regulamentos transversais e replicáveis aos

diferentes níveis, a uniformização de procedimentos e a centralização de processos,

embora complexas, tornam-se exequíveis num curto espaço de tempo, em

comparação com as áreas clínicas.

Estes processos, para além dos recursos humanos envolvidos, obriga igualmente, a

um acompanhamento da área informática, no sentido da compatibilização de

sistemas, conducente à implementação/criação de um sistema único, uniformizado e

transversal a toda a entidade.

Assim, esta medida concretizar-se-á através de:

Elaboração de normas de uniformização de procedimentos administrativos nas

unidades de saúde que integram o SNS, nomeadamente ao nível dos Recursos

Humanos, Serviços Financeiros e Aprovisionamento;

Criação de centros de gestão únicos (à semelhança do que se verifica em alguns

Centros Hospitalares e ULS), extensíveis a todas as entidades do SNS, com

recurso ao estabelecimento de acordos ou parcerias, nomeadamente para as

seguintes áreas:

Gestão de materiais (compras centralizadas, controlo de stocks,

armazenamento único, distribuição partilhada e eliminação conjunta);

Gestão de transportes (central de marcações, parque de viaturas único);

Gestão de farmácia (uma farmácia central e pontos de distribuição,

Page 130: Relatório do Grupo de Trabalho criado para a definição de proposta ...

130

abastecidos pela farmácia central, de acordo com uma calendarização de

necessidades e salvaguardando as necessidades emergentes e não

programadas);

Gestão de recursos humanos (para o processamento de férias,

vencimentos e demais questões processuais, permitindo igualmente, uma

otimização na gestão de recursos, onde estes são mais necessários,

atendendo aos pedidos;

Gestão hoteleira (existência de um único contrato de prestação de

serviços, para cada uma das áreas – alimentação, limpeza, segurança –

sendo possível ajustar o fornecimento às necessidades variáveis de cada

unidade);

Gestão financeira e contabilidade (a possibilidade de realizar uma gestão

financeira mais efetiva, com um controlo centralizado da realização de

despesa e de apuramento de receitas)

Gestão da esterilização (criação de uma central de esterilização única,

com a disponibilização de pontos de recolha de sujos e de distribuição de

material esterilizado, eliminando as centrais existentes localmente);

Gestão de instalações e equipamentos (otimização dos recursos humanos

e materiais, nomeadamente das oficinas existentes, e na criação de

verdadeiras equipas de prevenção para todos as unidades integradas).

Desenvolvimento de experiências piloto de aplicação destas medidas em

hospitais/centros hospitalares, cuidados primários e continuados de uma

determinada área geográfica (por exemplo: área de influência direta das unidades

hospitalares).

Impacto previsto

A uniformização dos procedimentos administrativos e a centralização dos

procedimentos logísticos são descritas como potenciadoras de economias de escala

nas unidades de saúde e poderão contribuir para:

Reforçar a capacidade negocial das novas entidades com os parceiros

externos;

Eliminar serviços redundantes;

Obter ganhos de eficiência económica;

Rentabilizar os recursos humanos e técnicos;

Promover a cultura organizacional;

Facilitar a troca de informação;

Contudo, como refere a Dranove (1998) (6), para que uma fusão produza eficiência, a

entidade tem de funcionar como se fosse uma única unidade, dado que os resultados

esperados só serão alcançados se houver integração das funções clínicas e/ou

administrativas.

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131

Apesar dos diferentes argumentos apresentados por vários autores, defendendo a

fusão de unidades, há ainda uma insuficiente avaliação da obtenção dos objetivos

implícitos à racionalização de recursos, às sinergias entre instituições e serviços

integrados, aos aumentos de eficiência, à melhoria do acesso aos cuidados, à

melhoria da qualidade e à integração dos cuidados.

Porém Azevedo H., Mateus C. (2013) (1), referem que as fusões e as decorrentes

centralizações de serviços poderão dar origem a um aumento de custos, na casa dos

8%, dado que se criam entidades grandes demais ao ponto de não ser possível

explorar as economias de escalas expectáveis no início. As autoras sugerem que a

dimensão ideal para a criação de centros está situada por volta das 230 camas.

Bibliografia

1. Azevedo, H. Economias de escala em centros hospitalares. V Curso de Mestrado em

Gestão da Saúde. [ed.] Escola Nacional de Saúde Pública - Universidade Nova de

Lisboa.

2. Barros, P. Economia da Saúde - conceitos e comportamentos. Coimbra : Almedina.

3. Sinay, U. Pre and Post merger investigation of hospital mergers. Eastern Economic journal.

1998, Vol. 24, pp. 83-97.

4. Aletras, V. A comparison of hospital scale effects in short run and long run cost functions.

Health Economics. Vol. 8, pp. 521-530.

5. Campos, A. Reformas da Saúde - o fio condutor. s.l. : Almedina, 2008.

6. Dranove, D. Economies of scale in non-revenue producing cost centres: implications for

hospital mergers. Journal of Healt Economics. Vol. 17, pp. 68-83.

Page 132: Relatório do Grupo de Trabalho criado para a definição de proposta ...

132

5.3.2. Formação específica em integração de cuidados de saúde

Medida

Formação específica em integração de cuidados de saúde

Rationale

As necessidades da população têm vindo a evoluir ao longo do tempo, assumindo

hoje particularidades diferentes. Tais necessidades exigem assim, atualmente, novos

modelos de prestação de cuidados que consigam dar respostas adequadas aos

problemas existentes e futuros. A integração de cuidados surge pois como um modelo

de prestação que visa responder adequadamente aos desafios decorrentes das

tendências epidemiológicas e sociodemográficas.

O desempenho global do sector da saúde é fortemente dependente dos recursos

humanos, pelo que a implementação de novos modelos de prestação de cuidados

requer profissionais dotados de conhecimentos, aptidões e atitudes conducentes ao

exercício adequado das suas funções e consequente satisfação das necessidades

dos doentes (1) (2)

Deste modo, a integração de cuidados deve estar incluída na formação de

profissionais de saúde, permitindo o desenvolvimento de competências nos domínios

pessoal, comportamental e organizacional. O tema deve assumir um carácter

obrigatório, constituindo-se como área curricular específica na formação pré-graduada

na área da saúde e social.

Na sequência do ciclo de formação ao longo da vida, é importante proporcionar aos

profissionais em exercício, programas de formação pós-graduada específica que vise

ajustar as competências aos novos modelos de prestação de cuidados (2). Os

conteúdos formativos devem promover a visão integral do doente e o papel central do

cidadão no sistema de saúde, promovendo a mudança e estimulando a disseminação

de uma cultura organizacional adequada à integração de cuidados.

Descrição

A formação assume-se como fator de sucesso na integração de cuidados (1) não

podendo estar dissociada da medida referente à criação de um espaço de gestão do

conhecimento sobre o tema. Por um lado, o repositório pode fornecer conteúdos para

a formação, por outro lado, os profissionais vão implementando experiências

progressivamente mais baseadas em evidência e melhorando a qualidade da

informação disponível.

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133

Relativamente à formação superior em saúde e serviços sociais, quer elementar quer

pós graduada, defende-se a inclusão de conteúdos sistematizados relacionados com

a integração de cuidados, como, por exemplo, a formação abrangente sobre a

organização do sistema de saúde e seus circuitos, desmistificando a hierarquia entre

níveis de cuidados, noções sobre gestão dos recursos em saúde e prestação de

cuidados custo-efetivos, sem compromisso da qualidade.

Não menos importante, em qualquer dos moldes de formação, é o treino das

competências para a integração de cuidados, sendo que a literatura identifica um

conjunto de competências indispensáveis (1) (3):

- Comunicação eficaz entre grupos de profissionais e capacidade de trabalhar de

forma colaborativa interprofissional;

- Importância do trabalho em parceria com outros serviços de saúde e social;

- Gestão da mudança contínua, através do reforço de parcerias entre instituições de

ensino superior e organizações de saúde e de assistência social

- Capacidade de envolver doentes, cuidadores e prestadores;

Não será objetivo desta medida elencar as técnicas pedagógicas que devem ser

usadas, no entanto, necessitam de ser exploradas formas inovadoras de ensino e

aprendizagem, nomeadamente as que promovam o trabalho inter-profissional (1)

(3).Algumas técnicas podem ser encontradas no estudo de Elisabeth e Samia, 2013

(3).

Condições de aplicação

As condições de aplicação passam pela garantia dos recursos essenciais para a

concretização deste processo formativo, entre os quais se destacam: a existência de

um corpo docente qualificado, de currículos académicos com rigor científico, de

condições logísticas genéricas e naturalmente de alunos interessados na presente

temática.

A própria formação, tal como a prestação, deve ser integrada, incluindo profissionais

das várias áreas, especializados nas competências acima referidas.

Os locais onde estejam implementadas experiências organizativas com resultados

positivos podem ser laboratórios de formação nos quais seja possível a realização de

estágios para contacto direto com modelos de Integração de Cuidados. Este contato

cria em cada formando o potencial de transmitir boas práticas a outros profissionais

promovendo a disseminação do conhecimento com efeito amplificador da formação.

O período de formação dos diferentes profissionais de saúde deve ser realizado em

ambiente multidisciplinar e em diferentes unidades prestadoras de cuidados de saúde

independentemente do nível de cuidados onde estejam inseridas. O período de

formação deverá ser adequado, no sentido de garantir um conhecimento suficiente

das especificidades de cada realidade.

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134

Associado ao processo de formação, é crucial garantir o incentivo á investigação sobre

a presente temática. A criação de iniciativas tendentes à produção de conhecimento

científico e investigação, deverão ser devidamente apoiados no sentido do aumento do

seu volume, qualidade e difusão.

Impacto previsto

Como impacto previsto desta medida, é expectável que exista:

O aumento da massa crítica sobre integração de cuidados de saúde;

O incremento e disseminação do conhecimento entre policy-makers, gestores,

prestadores, profissionais e todos os intervenientes no sistema de saúde;

Sensibilização para a necessidade de mudança da cultura de prestação de

cuidados, para um trabalho mais multidisciplinar em equipa, colaborativo,

centrado nas necessidades específicas dos utilizadores dos serviços de saúde

(4);

Uma resposta mais eficiente às necessidades, contribuindo para a eficiência do

sistema;

O incremento da satisfação dos doentes devido a uma resposta mais

adequada às suas necessidades;

O incremento da qualidade dos cuidados prestados (4);

Bibliografia

1. Howarth, M, Holland, K e Grant, MJ. Education needs for integrated care: a literature

review. Journal of Advanced Nursing. 56, oct de 2006, Vol. 2, pp. 144-56.

2. NHS. Integrated care and support: our shared commitment. s.l. : National Collaboration for

Integrated Care and Support , 2013.

3. Elisabeth, P e Samia, Hasan. Educating for integrated care. London Journal of Primary

Care. 2013, Vol. 5, pp. 41-4.

4. Frenk e al, et. Health professionals for a new century - transforming education to strengthen

health systems in an interdependent world. The Lancet. 2010, Vol. 10:61, pp. 854-5.

Page 135: Relatório do Grupo de Trabalho criado para a definição de proposta ...

135

5.3.3. Criação de um espaço de gestão de conhecimento sobre integração de

cuidados de saúde

Medida

Criação de um espaço de gestão de conhecimento sobre integração de cuidados de

saúde

Rationale

A nível internacional, é vasta a evidência sobre a integração de cuidados de saúde,

encontrando-se descritas diversas experiências de unidades que funcionam com

sucesso (1). Também ao nível nacional, existem algumas experiências em contextos

específicos, tal como referido no capítulo 4.2..

Como se trata de um tema transversal a várias áreas do conhecimento e aos

diferentes pontos da rede prestadora de cuidados, a informação está dispersa e não

se encontra organizada e sistematizada sob a designação única de integração de

cuidados de saúde.

Sendo a integração de cuidados de saúde um meio reconhecido como fundamental

para atingir objetivos de qualidade e eficiência do sistema de saúde (2), afigura-se

pertinente agregar informação sobre o tema num espaço de gestão do conhecimento,

acessível numa plataforma digital, mas também com ações presenciais associadas.

A “Estratégia Europa 0 0 – Estratégia para um crescimento inteligente, sustentável e

inclusivo” (3) fundamenta a necessidade de partilha de experiências, boas práticas e

conhecimentos especializados para compreender e dar resposta adequada às

necessidades crescentes e mutáveis no domínio da saúde. Neste sentido, a criação

de um espaço de informação sobre a integração de cuidados com informação

sistematizada, incluindo estudos, exemplos de boas práticas, benchmarking de

experiências, entre outros, iria contribuir para a disseminação do conceito e das

formas de o operacionalizar.

Sabendo que ao nível da organização da formação existe também uma lacuna

relacionada com a dispersão do tema por várias áreas, este espaço de informação

sobre a integração de cuidados seria complementar à medida da formação específica.

Descrição

Sugere-se assim a criação de um espaço de informação especializado na integração

de cuidados de saúde que conduza à disseminação do conhecimento e à

implementação mais célere da integração em contexto prático. Propõe-se que este

espaço inclua duas componentes complementares entre si:

1. Uma componente virtual na internet, que pode assumir, por exemplo, um

formato semelhante à plataforma da International Foundation for Integrated

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136

Care (4). Esta plataforma congrega diversas ferramentas como uma página de

notícias sobre integração de cuidados, a divulgação de conferências e

eventos, repositório de publicações científicas, cursos e tem ainda a função de

observatório. É de salientar o carácter interativo desta plataforma digital, facto

que expande a função de repositório de informação e que permite criar redes

de comunicação em tempo real entre os utilizadores. Deste modo é promovida

a partilha de experiências e conhecimento sob a forma de fórum de discussão,

blog, e-learning e webcasts.

2. Uma componente física presencial, com a realização de eventos dedicados

exclusivamente à Integração de Cuidados:

Fórum anual sobre Integração de cuidados de saúde;

Ações de formação das equipas prestadoras de cuidados integrados;

Workshops e sessões em eventos científicos (congressos, jornadas,

seminários, simpósios, Think Thanks) das áreas profissionais envolvidas.

Condições de aplicação

Para a implementação da primeira componente é necessário identificar o suporte

informático adequado bem como garantir a sua manutenção e atualização

permanentes. Dado que estas tecnologias implicam um elevado investimento e

considerando a atual situação económica do país, poderia ponderar-se inclusive o

recurso a fundos comunitários, nomeadamente no âmbito do Horizonte 2020 –

Programa-Quadro de Investigação e Inovação (2014-2020) (5) e do Programa Saúde

para o Crescimento, terceiro programa plurianual de acção da UE no domínio da

saúde para o período 2014-2020 (6).

Um prémio de boas práticas para a integração de cuidados pode constituir-se como

um incentivo à partilha de experiências e conhecimento. Neste sentido, propõe-se que

seja criado um prémio de boas práticas específico ou, em alternativa, que sejam

incorporados critérios que valorizem experiências sobre integração de cuidados nos

prémios de boas práticas já existentes.

Impacto previsto

Sistematização da informação sobre integração de cuidados (4) e exemplos de

boas práticas a seguir.

Incremento e disseminação do conhecimento entre policy-makers, gestores,

prestadores, profissionais e todos os intervenientes no sistema de saúde (4).

Empowerment dos doentes para tomar decisões informadas (3). Os doentes

passam a dispor de informação, por exemplo sobre a circulação dentro do

sistema de saúde, sobre o nível de cuidados ao qual se devem dirigir em cada

situação, entre outros relevantes. Como consequência, o acesso à informação

pode ainda contribuir para a melhoria da experiência enquanto utilizador.

Page 137: Relatório do Grupo de Trabalho criado para a definição de proposta ...

137

Bibliografia

1. Feachem, R, Sekhri, N e White, K. Getting more for their dollar: a comparison of the NHS

with California´s Keiser Permanent. BMJ. 2002, Vol. 324:7353, pp. 135-143.

2. Santana, R e Costa, C. A integração vertical de cuidados de saúde: aspetos concetuais e

organizacionais . Revista Portuguesa de Saúde Pública. 2008, Vol. 7.

3. Comissão Eurpeia. Europa 2020: estratégias para um crescimento inteligente, sustentável e

inclusivo. Comissão Europeia. [Online] [Citação: 10 de 02 de 20147.]

http://ec.europa.eu/europe2020/europe-2020-in-a-nutshell/flagship-

initiatives/index_pt.htm.

4. International Foundation for Integrated Care. [Online] [Citação: 15 de 02 de 2014.]

http://www.integratedcarefoundation.org/.

5. Comissão Europeia. Regulamento (ue) n. 1291/2013 do Parlamento Europeu e do

Conselho de 11 de dezembro de 2013 que cria o Horizonte 2020 – Programa-Quadro

de Investigação e Inovação (2014-2020) e que revoga a Decisão n. o 1982/2006/CE.

Comissão Europeia. [Online] [Citação: 15 de 02 de 2014.]

https://infoeuropa.eurocid.pt/registo/000055834/documento/0001/

6. Comissão Europeia. Regulamento do Parlamento Europeu e do Conselho que institui o

programa Saúde para o Crescimento, o terceiro programa plurianual de acção da UE

no domínio da saúde para o período 2014-2020. Comissão Europeia 9.11.2011.

[Online] [Citação: 15 de 02 de 2014.]

http://www.eurocid.pt/pls/wsd/docs/F30633/programa_saude.pdf

Page 138: Relatório do Grupo de Trabalho criado para a definição de proposta ...

138

5.4. Dimensão Sistémica

5.4.1. Implementação de estruturas organizacionais integradas

Medida

Implementação de estruturas organizacionais integradas.

Rationale

Os constrangimentos da atual estrutura de oferta de cuidados de saúde e os novos

desafios colocados aos sistemas de saúde, provocados pela evolução constante e

cada vez mais rápida do seu ambiente externo, exigem uma resposta efetiva por

parte dos responsáveis pela gestão desses mesmos sistemas. A integração de

cuidados de saúde pode constituir uma resposta organizacional aos novos

paradigmas. As suas potencialidades são amplamente reconhecidas, sobretudo na

sua dimensão estrutural vertical, que permite uma focalização na criação de valor

para o utente e necessariamente na concentração do desenvolvimento das atividades

nas fases primárias da doença.

A integração de cuidados tem o principal objetivo de criar coerência e sinergias entre

as várias partes das organizações de saúde de forma a alcançar eficiência, qualidade

assistencial, qualidade de vida e satisfação, especialmente num contexto de

complexidade e multipatologia dos doentes.

A possível criação de equipas responsáveis pela gestão do processo de integração em

cada contexto populacional e geográfico, que dinamize e coordene as atividades a

desenvolver, pode contribuir para encarar a integração como um processo

fundamental e não paralelo ao funcionamento regular das unidades. Implicitamente a

esta recomendação, encontra-se a necessidade de implementar um processo de

monitorização e acompanhamento específico do processo de integração que seja

aplicado de forma sistemática.

Descrição

Através desta medida, sugere-se o desenvolvimento e aplicação de estruturas de

integração vertical de cuidados de saúde que incorporem os cuidados de saúde

primários, os cuidados hospitalares e os cuidados continuados. Estas poderão

assumir diferentes composições (complementares):

No que respeita à sua gestão (formação de equipas):

A integração vertical pressupõe a gestão conjunta dos diferentes níveis de

cuidados de saúde. O processo de tomada de decisão pode assumir um

cenário onde a equipa de gestão tem capacidade de gerir conjuntamente

diferentes níveis de cuidados de saúde, existindo poder executivo com

autonomia financeira e administrativa numa só unidade. Neste cenário os

instrumentos de apoio ao processo de tomada de decisão são semelhantes;

ou poderemos encontrar-nos perante situações onde existem equipas de

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139

gestão separadas com autonomia individual por nível de cuidados, mas que

participam conjuntamente no processo de tomada de decisões;

No que respeita ao nível de decisão:

As equipas de integração poderão situar-se em qualquer um dos níveis que

habitualmente se consideram em formações organizacionais: estratégica

(gestão de topo); tático (gestão intermédia) e; operacional (unidades

funcionais);

No que respeita às suas dimensões:

A formação de equipas poderá situar-se em qualquer uma das dimensões

tratadas ao longo do presente relatório: clínica, informação, financeira,

administrativa, normativa ou sistémica;

No que respeita à sua constituição:

A constituição de equipas de integração poderá assumir um carácter formal ou

informal. O reconhecimento formal implica a identificação destas equipas no

organograma das unidades com reconhecimento normativo no regulamento de

funcionamento das unidades. As equipas poderão constituir-se também

informalmente, existindo um acordo tácito entre unidades para a sua

existência mas sem a transposição efetiva para as suas estruturas

organizacionais internas;

No que respeita ao seu âmbito:

As equipas de integração poderão constituir-se em função de um espectro

restrito para realização de determinados procedimentos, produtos, serviços ou

áreas específicas de interesse comum, até à prestação integral de cuidados

num determinado contexto populacional. Quando a integração abrange todos

os serviços prestados diz-se que estamos na presença de integração

completa. A integração incompleta reflete a incompletude dos serviços

prestados;

Em qualquer uma destas opções, poderemos também ter soluções parciais ou totais,

ou seja, que considerem apenas dois ou os três níveis de cuidados que identificamos

no nosso SNS.

Não existem modelos ótimos nem aplicáveis a todas as realidades, sendo o menu de

soluções organizacionais relativamente vasto. Existe evidência que comprova as

vantagens e simultaneamente as desvantagens de cada uma das configurações

possíveis. O GdT considera que a criação de estruturas de integração poderá

constituir um elemento facilitador do processo, sendo fundamental para garantir a

identificação da necessidade de gerir o processo de integração.

Condições de aplicação

Algumas condições serão necessárias para a implementação de estruturas de

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integração de cuidados de saúde, em que a coordenação entre os níveis de cuidados

configura-se essencial para a melhoria de todos os processos de assistência e

acompanhamento dos utentes.

A primeira condição que será necessária reunir consubstancia-se na exigível

alteração de paradigma face ao estado de arte da atual organização de todos os

intervenientes no processo de cuidados. A desintegração dos vários níveis de

cuidados está vincada não só ao nível clínico, mas também nos modelos de gestão,

organização e de financiamento.

O sucesso da alteração de uma componente do sistema só é possível se for

integrada na mudança ou adaptação dos restantes elementos que compõem esse

mesmo sistema.

Qualquer estrutura que pretenda ser integrada, assenta no desenvolvimento dos

sistemas de informação existentes nas unidades prestadoras de cuidados de saúde,

dos cuidados primários aos cuidados continuados e sociais. Passa pela utilização das

mesmas nomenclaturas e classificações, planos de ação, objetivos, metas, método de

avaliação de desempenho e sistema de financiamento. Qualquer um destes

parâmetros obriga a um sistema de comunicação em rede único.

Uma estrutura integrada deverá passar pela criação de uma equipa de integração

com representantes que intervêm em cada um dos níveis de cuidados. As Unidades

Integradas de Saúde têm de ser funcionais, constituídas por elementos operacionais

no exercício da prestação de cuidados, com capacidade para identificar e resolver os

novos desafios que se colocam em cada área geográfica.

Por último, importa salientar a necessidade de criar condições para que as diferentes

formas organizacionais possíveis possam surgir: através da revisão do

enquadramento legal existente, particularmente no que respeita às unidades

prestadoras de cuidados de saúde existentes, na revisão das metodologias de

contratualização, no sentido de permitirem a partilha de objetivos, indicadores e metas

ou na criação de incentivos específicos que promovam o surgimento de estruturas de

integração.

Impacto previsto

A integração vertical de cuidados permite todo um conjunto de melhorias qualitativas

face à atual situação, entre as quais se destacam:

O conhecimento da dimensão real do nível de cuidados de saúde necessário,

variável em cada região que permita processos de tomada de decisão com

menor grau de risco associado.

A utilização do nível de cuidados ajustado a cada utente em cada fase da vida

e da doença, diminuindo a sobre utilização de cuidados diferenciados com

internamentos evitáveis e dias de internamento inapropriados.

A promoção da interligação entre os cuidados de saúde primários e os

cuidados hospitalares e continuados com o intuito de melhorar o acesso e a

qualidade e o desenvolvimento de metodologias de trabalho e saber desde a

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definição da adequação e integração dos cuidados de saúde, ao

financiamento dos serviços de saúde num processo de crescimento e melhoria

contínua;

Melhor informação para o desenvolvimento de processos de avaliação

económica (custo da doença, custo-benefício, custo-utilidade, custo-

efetividade).

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5.4.2. Planeamento Estratégico numa perspetiva de integração

Medida

Planeamento Estratégico numa perspetiva de integração

Rationale

Apesar da evidência sobre o aumento do desempenho associado ao planeamento

estratégico ser escassa, este continua a ser considerado um importante instrumento

de gestão vastamente utilizado (1). A sua importância assenta sobretudo no

incremento da capacidade de adaptação das organizações em contexto de incerteza,

caraterizado por condições de mercado e circunstâncias económicas instáveis e

constantes inovações tecnológicas.

No atual contexto nacional, se por um lado não se perspetivam incremento de

recursos, nomeadamente na área da saúde, por outro verificam-se alterações

demográficas e epidemiológicas que conduzem ao aumento da procura de cuidados.

Simultaneamente existe uma pressão constante para a incorporação de novas

tecnologias que são habitualmente dispendiosas. Esta situação confronta

inevitavelmente as instituições de saúde com a necessidade de criar mais valor num

cenário de poucos recursos e necessidades crescentes.

A integração de cuidados tem sido uma estratégia seguida por outros países no

sentido de responder mais eficientemente a estas circunstâncias. O planeamento é

hoje efetuado para cada nível de cuidados, permanecendo esquecida a ligação entre

esses níveis de cuidados de modo a garantir a continuidade dos cuidados e a ligação

entre eles, razão pela qual a sua inclusão no planeamento estratégico se torna

iminente.

Assim, considera-se que o planeamento estratégico deva ser pensado integrando

todos os níveis de cuidados no sentido de delinear estratégias mais eficazes para

obter melhores resultados com os recursos existentes, centralizados no utente

/doente. Neste sentido, parece pertinente considerar não só os cuidados primários,

hospitalares e continuados, mas ainda a saúde pública e outros setores como o setor

social ou autarquias, uma vez conhecida a influência de fatores externos na saúde e

bem-estar (2).

Se não se pensar estrategicamente, a integração de cuidados acaba por ter uma

evolução muito lenta ou não evoluir.

Descrição

Evashwick and Evashwick (1988) (3) define planeamento estratégico como “o

processo para avaliar um ambiente em mudança no sentido de criar uma visão do

futuro; determinando como a organização se encaixa no ambiente antecipado

baseado na missão institucional, forças e fraquezas; e põe em curso um plano de

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ação para posicionar a organização em concordância”.

É tão importante a avaliação sistemática das atividades operacionais, que sustentam

hoje o SNS, como pensar no que se pode e deve fazer para alterar e melhorar os

resultados do desempenho e estabelecer uma estratégica de integração de cuidados

na perspetiva de melhoria contínua da qualidade, eficiência, organização e satisfação

dos utentes.

Quanto à sua operacionalização, entende-se que o planeamento estratégico inclua

todos os níveis de cuidados:

Medicina Geral e Familiar – garantir a cobertura a toda a população e dotar

com RH suficientes para uma cobertura efetiva dos cuidados de ambulatório e

domiciliários. Garantir a formação, diferenciação e especialização de equipas.

Implementar a referenciação para a RNCCI.

Cuidados Hospitalares – garantir o acesso e definir uma “porta de entrada”

restrita para um processo de referenciação mais eficaz com garantia de um

circuito integrado;

Cuidados continuados de curta, média ou longa duração e paliativos – garantir

a referenciação e aproximar as equipas multiprofissionais intervenientes no

terreno.

Saúde pública - definir as necessidades de cada zona geográfica com base

nas características epidemiológicas e socio demográficas, que servem de

base à determinação dos serviços necessários para aquela população. É

também a este nível, em conjunto com os recursos locais e os cuidados

primários que podem ser definidas as estratégias de promoção da saúde.

Para que seja possível a existência de um alinhamento entre as opções estratégicas

de cada unidade prestadora de cuidados de saúde no âmbito do nosso SNS, parece

existir espaço para a criação de um Programa Nacional de Integração de Cuidados de

Saúde, onde se encontrem detalhadas as atividades estratégicas numa perspetiva de

médio e longo prazo que serão desenvolvidas pelos elementos que constituem o

sistema de saúde português, tendo como base a tentativa de criar um sistema mais

integrado, entre os seus órgãos internos e externos com os quais interagem.

Associado à esta possibilidade, e tal como se pode identificar noutros países como

por exemplo o NHS inglês, poderemos

Considerando, por exemplo, os internamentos evitáveis e as readmissões ao nível

dos cuidados hospitalares, o planeamento pode ser efetuado, explorando uma melhor

sinergia entre os recursos dos cuidados primários, dos cuidados hospitalares e dos

cuidados continuados.

Condições de aplicação

No sentido de implementar o planeamento estratégico considerando a integração de

cuidados, sugere-se que a elaboração dos planos estratégicos seja efetuada de forma

conjunta entre os ACES, hospitais e cuidados continuados da mesma área

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geográfica, bem como devem ser incluídas a saúde pública, nomeadamente através

dos observatórios locais de saúde, e os recursos da comunidade desde o setor social

às autarquias ou outras entidades que possam contribuir para uma resposta mais

adequada às necessidades.

Um dos problemas que limita a efetividade do planeamento estratégico para a

integração de cuidados é o desenvolvimento dum planeamento independente:

- do plano de formação que deve ser integrado na formação pré e pós graduada de

cada uma das classes profissionais intervenientes na prestação de cuidados de

saúde

- da construção de uma rede de referenciação única para qualquer tipo de cuidados,

desde as necessidades identificadas pela saúde escolar, aos cuidados básicos e

sociais inerentes ao isolamento e à pobreza

- da constituição de uma estrutura formal central e equipas informais locais para uma

permanente avaliação de necessidades e resolução de problemas concretos, que

permitam implementar, motivar e agilizar todos os processos

- da construção de uma rede de informação com a mesma linguagem e com acesso a

todos os intervenientes na prevenção, diagnóstico ou tratamento

- do plano financeiro (3), pelo que este processo carece da adequação simultânea

dos processos de contratualização que devem assim ser alinhados de acordo com os

objetivos da integração.

Impacto previsto

Embora o impacto não seja quantificável a curto prazo, a médio/ longo prazo um

processo de planeamento integrado terá impacto na sustentabilidade do sistema de

saúde, nomeadamente através de:

Consistência na tomada de decisão (3);

Eficiência na gestão dos recursos;

Resposta mais adequada às necessidades;

Aumento da qualidade de cuidados;

Melhoria na integração de cuidados;

Redução da prescrição duplicada de MCDT;

Ganhos em saúde;

Redução de custos;

Melhoria da performance financeira (3);

Satisfação dos doentes;

Potencial redução de atos desnecessários, como por exemplo redução dos

tempos de espera para consulta e MCDTs;

Utilização menos intensiva de recursos e consequentemente mais eficiente.

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Bibliografia

1. Begun, J e Kaissi, A. An exploratory study of healthcare strategic planning in two

mwtropolitan areas. Jurnal of healthcare management. 2005, Vol. 50 (4), pp. 264-75.

2. Whitehead, M, Dahlgren, G e Gilson, L. Developing the policy response to inequalities in

health: a global perspective. Challenging inequities in health care: from ethics to

action. New York : Oxford University Press, 2001, pp. 309-322.

3. Zuckerman, A.Healthcare Strategic Planning (Ache Management). third. USA : Health

Adminsitration Press: Foundation of the American college of Healthcare Executives ,

2012.

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146

5.4.3.Reforço da cultura organizacional

Medida

Reforço da cultural organizacional

Rationale

As organizações entendidas como organismos vivos, têm na sua base fatores que

lhes conferem vantagem competitiva e que lhes permitem ter historial de sucesso.

Fatores como o sentido de Visão, Missão e Valores, partilhados e interiorizados pelas

pessoas que integram a organização, são identificados como os mais determinantes

para o seu sucesso.

Os valores promovidos pelas organizações, tais como as crenças e princípios, a

Visão Estratégica, constituem-se como mais preponderantes do que o

posicionamento das mesmas no mercado ou mesmo que eventuais vantagens

decorrentes de recursos disponíveis (1).

O conjunto de fatores descritos, formam o que se designa por cultura de uma

organização e, integra o conjunto de pressupostos – inventados, descobertos ou

desenvolvidos por um determinado grupo à medida que aprende a lidar com os

problemas de adaptação externa e de integração, que, funcionando bem, são

considerados válidos e transmitidos a novos membros do grupo, como um

ensinamento e como a forma correta de perceber, pensar, sentir e agir (2).

Numa organização, os comportamentos dos indivíduos são determinados pelas

normas de conduta que foram apreendidas e interiorizadas, sendo por isso essencial

analisar a cultura de uma organização em todos os seus níveis.

Desta forma, encontraremos em qualquer organização um conjunto de características

que constituem a camada visível da manifestação da sua cultura, nomeadamente o

modo como as pessoas comunicam entre si (grau de formalidade/informalidade), o

modo como gerem as relações de poder e distância hierárquica, o modo como

trabalham (numa lógica individual/grupal), entre outras (3).

A cultura organizacional é referida por Cameron e Quinn (2006) (1), como um

elemento importante a medir, sendo proposto pelos autores um dos modelos mais

consensuais para o estudo da cultura organizacional, o modelo dos valores

contrastantes (4) (5). O modelo dos valores contrastantes integra quatro quadrantes,

em que cada quadrante representa um tipo de cultura: cultura de clã, cultura

hierárquica, cultura de adocracia e cultura de mercado.

Considerando as mudanças, decorrentes de diferentes movimentos de reforma, que o

sistema de saúde português tem sofrido, e os resultados esperados, importa analisar

a variável organizacional, como um elemento que pode ditar o sucesso de

determinada mudança/reforma, e conhecer a cultura organizacional que predomina

nas instituições de saúde, de forma a que quem as gere, principalmente perante

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processos de mudança, como seja a implementação de novos modelos de gestão,

esteja consciente dos resultados expectáveis.

Descrição

A medição da cultura organizacional realizada pelo modelo dos valores contrastantes

(1), considerado atualmente um dos modelos mais consensuais no estudo da cultura

organizacional (4) (5), aborda a cultura organizacional em quatro quadrantes, em que

cada um representa um tipo de cultura: cultura de clã, cultura hierárquica, cultura de

adocracia e cultura de mercado.

1. A cultura de clã é característica de organizações que constituem locais muito

familiares para trabalhar, onde as pessoas partilham muito de si. Nestas

organizações, os líderes são considerados mentores ou mesmo figuras

parentais, sendo exemplos de apoio, aconselhamento e treino, e o

compromisso para com a organização é elevado, mantendo-se a tradição da

lealdade e confiança mútua.

O desenvolvimento dos recursos humanos, a coesão e a moral são focos de

especial atenção e o sucesso, é definido em termos de sensibilidade e

preocupação para com as pessoas. A organização premeia o trabalho de

equipa, a participação e o consenso.

2. A cultura hierárquica é predominante em organizações muito controladas e

estruturadas, onde as pessoas são orientadas por procedimentos, sendo os

líderes considerados bons organizadores, coordenadores e potenciadores da

eficiência. A permanência e estabilidade constituem aspetos importantes,

sendo a coesão organizacional mantida graças às políticas e regras formais. A

eficiência determina o grau de sucesso da organização, sendo o planeamento

e o controlo de custos essenciais neste estilo de gestão, bem como a

segurança de emprego, conformidade, previsibilidade e estabilidade das

relações.

3. A cultura de adocracia caracteriza um local de trabalho dinâmico,

empreendedor e criativo, onde as pessoas se expõem e arriscam. Nestas

organizações estar na vanguarda é fundamental para a liderança de um

produto ou serviço e os líderes são vistos como pessoas inovadoras,

dispostas a correr riscos, sendo encorajada a iniciativa e defendida a

liberdade. O sucesso da organização define-se com base na novidade e

singularidade dos seus produtos e serviços.

4. A cultura de mercado é característica de organizações orientadas para os

resultados, em que a principal preocupação consiste na concretização do

trabalho. As pessoas e os líderes, são competitivos e produtivos. A reputação

e o sucesso são preocupações comuns. A coesão organizacional é mantida

face à ênfase nos ganhos e o sucesso mede-se em termos de quota e

penetração de mercado.

As características inerentes a cada um destes perfis culturais vão repercutir-se na

maior ou menor flexibilidade e permeabilidade da organização à mudança.

As organizações de saúde necessitam de fazer face às exigências de uma sociedade

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em constante mudança, o que implica adaptações quase que permanentes para

manterem a competitividade. As reformas dos sistemas de saúde, em diferentes

países, têm vindo a ser conduzidas por pressão do controlo das despesas dos

serviços de saúde, face ao rápido aumento dos custos, e pela necessidade de uma

maior responsabilização perante os utilizadores.

Na sequência destes movimentos, diferentes modelos de gestão têm vindo a ser

adotados (6), bem como novos formatos de organização da prestação de cuidados. A

necessidade de adoção de novos modelos de gestão ao nível da organização do

sistema de saúde e das instituições prestadoras de cuidados de saúde, acaba por se

tornar essencial atendendo a um aparente esgotamento do sistema, podendo por em

causa alguns princípios fundamentais, nomeadamente a equidade no acesso aos

cuidados de saúde e a universalidade da cobertura (7). Segundo Frederico (2005) (6)

esta necessidade decorre, no fundo, da tomada de consciência, que é imperativo

controlar a forma como os recursos, que são escassos, são utilizados na produção e

distribuição de cuidados de saúde.

Dos vários modelos e das várias experiências entretanto adotadas foi a

empresarialização hospitalar que se generalizou, sendo percetível o peso das

entidades empresariais no sistema de saúde português (8).

A empresarialização dos hospitais consistiu na criação de um modelo organizativo,

económico-financeiro e cultural centrado no utente e assente na eficiência da gestão.

A gestão por objetivos passou a dominar a cultura da organização, sendo valorizada a

performance baseada na otimização da gestão (9).

Na área dos cuidados de saúde primários foi também encetada uma importante

reforma, do que é considerado o pilar central do sistema de saúde. As unidades

prestadoras de cuidados de saúde primários passaram a integrar-se, de acordo com

as alterações implementadas gradualmente, em ACES e em ULS.

O ACES, dotado de autonomia administrativa, é um serviço desconcentrado das ARS

ou integrado em ULS e, neste sentido, o processo de contratualização inicia-se com a

definição de prioridades assistenciais pelos Conselhos Diretivos das ARS.

Os ACES são serviços públicos de saúde com autonomia administrativa que têm por

missão garantir a prestação de CSP à população de determinada área geográfica.

São constituídos pelos seguintes tipos de unidades funcionais: USF; UCSP; UCC;

USP; URAP. Cada UF assenta numa equipa multiprofissional, com autonomia

organizativa e técnica.

As ULS são entidades públicas empresariais que têm por objeto principal a prestação

de cuidados de saúde primários, hospitalares e continuados à população residente na

área geográfica por ela abrangida, e ainda assegurar as atividades de saúde pública

e os meios necessários ao exercício das competências da autoridade de saúde.

Importa referir, que nem todas as USF estão no mesmo plano de desenvolvimento

organizacional. A diferenciação entre os vários modelos de USF (A, B e C) é

resultante do grau de autonomia organizacional, da diferenciação do modelo

retributivo, dos incentivos dos profissionais e do modelo de financiamento, bem como

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do respetivo estatuto jurídico.

Condições de aplicação

O reforço da cultura organizacional, numa perspetiva de integração de diferentes

níveis de cuidados, obriga a conjugar diferentes modelos organizativos e portanto

culturas distintas, num ambiente único de partilha que poderá concorrer para um ou

vários objetivos comuns.

A conjugação de realidades distintas (cuidados de saúde primários, hospitalares e

continuados), com modelos organizacionais diferentes entre e intra si, produz uma

enorme quantidade de combinações possíveis, pelo que se torna fundamental definir

um elemento agregador/homogeneizador de culturas pré-existentes, permitindo a

criação de uma nova cultura, herdando moldes das já existentes.

1. Ao nível dos recursos humanos, a mobilidade de profissionais com a sua

deslocalização nos diferentes pontos de prestação de cuidados, entre os

níveis, potencia a absorção de elementos integradores da nova cultura e

permitem que sejam identificadas as melhores práticas na cultura de origem e

a possibilidade, ou não de implementação das mesmas no novo contexto.

2. A concentração de estruturas de apoio não clínicas, nomeadamente as

administrativas (aprovisionamento, gestão de recursos humanos, financeiros,

serviço de instalações e equipamentos), para além das economias de escala

que possam ser geradas, a organização absorve (por decreto), as diferentes

realidades organizacionais e procede à sua harmonização, gerando-se um

novo contexto de cultura organizativa.

3. No caso específico das ULS, onde se verifica a existência de uma dualidade

ao nível da prática clínica (Diretor Clínico da área hospitalar e Diretor Clínico

dos Cuidados de Saúde Primários), deverá ser implementada apenas uma

única direção clínica.

A definição e implementação de incentivos — institucionais e financeiros — criando

condições para o desenvolvimento de ambientes de motivação dos profissionais, ao

atribuir às equipas melhores condições de trabalho e de equipamento, no reforço de

competências decorrente da facilitação na acessibilidade a ações de formação e ao

atribuir aos profissionais recompensas associadas ao desempenho.

Impacto previsto

O reforço da cultura organizacional, num sentido lato, conduzirá ao sucesso da

organização, independentemente do tipo de cultura vigente. Num sentido mais estrito,

o reforço da cultura organizacional num ambiente de integração de cuidados de

saúde, potenciará o sucesso dos modelos de gestão que se encontrem em vigor.

A medição e reforço da cultura organizacional permitirá:

1. A identificação da pessoa com a organização e o facto de nela se sentir

reconhecido e recompensado, conduz a que as suas satisfações pessoais

sejam maiores que os seus esforços pessoais;

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2. .A organização obterá da contribuição de cada pessoa, mais do que o custo

dessa pessoa na organização, ou seja, os seus lucros serão sempre iguais ou

maiores do que os custos com pessoal;

3. A maior disponibilidade das pessoas para absorverem novos modelos, uma

nova visão estratégica;

4. O reforço do sentimento de partilha;

A identificação da organização como um elemento integrador e não aglutinador..

Bibliografia

1. Cameron, K e Quinn, R. Diagnosing and changing organizational culture. New York :

Addison-Wesley Series on Organizational Development, 1999.

2. Shein, E. The corporate culture survival guide: sense and nonsense about culture change. S.

Francisco : Jossey-Bass.

3. Hofstede, G. Cultures and organizations; software of the mind. UK : McGraw-Hill

International, 1991.

4. Ferreira, A. Instrumentos para a avaliação da cultura em instituições de ensino superior.

Psicologia, Educação e Cultura. 2006, Vol. 10:2, pp. 477-487.

5. Ferreira, A e Hill, M. Diferença de cultura entre instituições de ensino superior público e

privado-um estudo de caso. Psicologia. 2007, Vol. 21:1, pp. 7-26.

6. Frederico, M. Empenhamento organizacional de enfermeiros em hospitais com diferentes

modelos de gestão: papeç de variáveis de contexto. 2005, Vol. 2:1, pp. 53-62.

7. Rego, G. Gestão empresarial dos serviços públicos: uma aplicação ao sector da saúde.

Porto: Vida Económica. 2008

8. Stoleroff, A; Correia, T. Sindicalismos no contexto de reforma dos serviços públicos em

Portugal: o sector hospitalar [Online]. (2008) [Citação. 28 Janeiro

2014].http://www.aps.pt/vicongresso/pdfs/604.pdf

9. Portugal. Ministério da Saúde. Perguntas frequentes sobre os hospitais EPE [Online].

(2009) [Citação 28 Janeiro 2014].

www.hospitaisepe.minsaude.pt/Hospitais_EPE/Perguntas_Frequentes/default.htm#htmf

aq_1.

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151

CAPÍTULO VI

CONCLUSÃO

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152

VI. Conclusão

Através do presente documento pretendeu-se propor um conjunto de medidas que

possam contribuir para a integração de cuidados de saúde no nosso país. Este

objetivo insere-se no âmbito do GdT criado para o efeito, através do Despacho nº

9567/2013, de Sua Excelência o Secretário de Estado Adjunto do Ministro da Saúde,

de 10 de Julho, publicado no Diário da República, 2ª série, nº 139, de 22 de Julho de

2013.

Este relatório poderá eventualmente sofrer ligeiras alterações, fruto do debate e

discussão que se pretende manter com todos os intervenientes interessados na

temática da “integração de cuidados de saúde”, pelo que deverá ser encarado como

um documento de trabalho.

Para o cumprimento deste objetivo, foram desenvolvidos vários trabalhos, que se

consubstanciaram essencialmente: i) na elaboração de um enquadramento teórico que

permitisse descrever o estado de arte através de uma revisão de literatura sobre a

temática em causa; ii) na descrição da situação no nosso país, etapa concretizada a

partir da identificação de estudos anteriores realizados nesta área e da identificação

de boas experiências de integração de cuidados de saúde por parte das unidades

prestadoras; iii) na definição de um conjunto de pressupostos e critérios de seleção

das medidas e por último; iv) na discussão e debate das medidas propostas.

Após a realização do enquadramento teórico, salientam-se sobretudo três aspetos que

ficaram evidentes:

A importância do estudo do tema, perante a evolução futura que perspetivamos

sobre as características de oferta e procura de cuidados de saúde, e sabendo-

se que o rationale da integração se baseia no facto de uma melhor

coordenação e interligação entre as diferentes unidades funcionais permitirem

obter melhores resultados em saúde para as populações num determinado

contexto geo-demográfico;

O âmbito relativamente amplo que podemos encontrar no debate sobre esta

temática, sendo que neste trabalho utilizou-se a definição da OMS,

estabelecida em 008: “Entende-se como integração, as formas de interligação

e cooperação na prestação e a garantia de continuidade assistencial dos

utentes do SNS, tendo em vista a maximização da eficiência nas respostas e

os melhores resultados em saúde.”;

A abordagem da integração de cuidados de saúde através de dimensões

facilita a ordem taxonómica do tema, permitindo identificar os processos chave

em cada uma das dimensões. As principais poderão considerar-se: a clínica,

de informação, financeira, administrativa, normativa e sistémica.

Após o enquadramento teórico do tema, tentou-se descrever a situação portuguesa.

Em termos genéricos, verificou-se que o tratamento do tema não tem merecido uma

importância significativa, sendo a evidência existente não abundante. As experiências

de integração de cuidados de saúde identificadas pelas unidades prestadoras de

cuidados de saúde também apresentam características mais baseadas em iniciativas

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individuais, pontuais, sem enquadramento face ao planeamento nacional, regional ou

local das atividades desenvolvidas.

As medidas propostas pelo GdT basearam-se no diagnóstico, real e teórico da

situação atual, e sobretudo na discussão, sempre que possível baseada em evidência,

sobre as temáticas em causa. É entendimento do GdT que estas medidas podem vir a

constituir um referencial sobre as iniciativas a desenvolver em cada dimensão de

integração. Devido à sua natureza transversal, necessitam de um trabalho adicional

para a sua definição, desenvolvimento e aplicação, sendo expectável que apenas

sejam concretizadas com sucesso no médio e longo prazo.