Relatório do Grupo de Trabalho de elaboração do Programa ... · Relatório do Grupo de Trabalho...
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Relatório do Grupo de Trabalho de elaboração do
Programa de deteção precoce e intervenções breves
dirigido ao consumo excessivo de álcool e tabaco nos
Cuidados de Saúde Primários, a nível nacional
- Trabalho realizado no âmbito do Despacho n.º 3802/2015 - Diário da República n.º
74/2015, de 16 de abril, de Sua Excelência o Secretário de Estado Adjunto do Ministro
da Saúde,
Relatório do Subgrupo de Trabalho (álcool)
3
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O Grupo de Trabalho é composto pelos seguintes elementos :
a) Professora Dr.ª Cristina Ribeiro, em representação do Ministério da Saúde, que
coordena os trabalhos;
b) Professora Dr.ª Emília Nunes, em representação da Direção -Geral da Saúde;
c) Dr.ª Graça Vilar, em representação do Serviço de Intervenção nos Comportamento
Aditivos e nas Dependências;
d) Dr. Nuno Sousa, em representação da Administração Central do Sistema de
Saúde, I.P;
e) Em representação de cada Administração Regional de Saúde, I.P (ARS) na área do
álcool pertencente ao DICAD:
i. Dr. Adelino Vale Ferreira, da ARS Norte;
ii. Dr. José António da Rocha Almeida, da ARS Centro;
iii. Dr. Joaquim Fonseca, da ARS LVT;
iv. Dr. Dinis Cortes, da ARS Alentejo;
v. Enfermeiro Nuno Murcho, da ARS Algarve;
f) Em representação de cada ARS, pertencente à equipa regional do Programa
Nacional para a Prevenção e o Controlo do Tabagismo:
i. Dr. Sérgio Vinagre, da ARS Norte;
ii. Dr.ª Maria Manuel Marques Açafrão, da ARS Centro;
iii. Professor Dr. Luís Rebelo, da ARS LVT;
iv. Dr.ª Leonor Murjal, da ARS Alentejo;
v. Dr.ª Maria Clara Garcia, da ARS Algarve;
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g) Engenheiro Rui Gomes, em representação da SPMS — Serviços Partilhados do
Ministério da saúde, E.P.E
Constituição do Subgrupo de Trabalho (álcool )
Dr.ª Graça Vilar, em representação do Serviço de Intervenção nos Comportamento
Aditivos e nas Dependências;
Em representação de cada Administração Regional de Saúde, I.P (ARS) na área do
álcool pertencente ao DICAD:
i. Dr. Adelino Vale Ferreira, da ARS Norte;
ii. Dr. José António da Rocha Almeida, da ARS Centro;
iii. Dr. Joaquim Fonseca, da ARS LVT;
iv. Dr. Dinis Cortes, da ARS Alentejo;
v. Enfermeiro Nuno Murcho, da ARS Algarve;
Dr. Nuno Sousa, em representação da Administração Central do Sistema de Saúde,
I.P;
Engenheiro Rui Gomes, em representação da SPMS — Serviços Partilhados do
Ministério da saúde, E.P.E que se fez representar pela Dra. Manuela Rolim
Dr. Frederico do Rosário – Assistente de Medicina Geral e Familiar, UCSP Tomaz
Ribeiro; Doutorando da Faculdade de Medicina de Lisboa
Agradecimentos:
Para a concretização do presente relatório receberam-se contributos de alguns peritos
/ ou entidades a quem reiteramos o nosso agradecimento.
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Índice
I. Introdução e fundamentação
1.1. Racional para a Implementação de um Programa de Deteção
Precoce e Intervenções Breves do Consumo Excessivo de Álcool nos
Cuidados de Saúde Primários
1.2. Intervenção nos Cuidados de Saúde Primários: Deteção e
Intervenção Breve
1.3. Enquadramento legal e normativo
II. Nota metodológica
III. Diagnóstico de situação
3.1. Eixo Epidemiológico
3.2. Eixo das Respostas
3.2.1. Deteção Precoce e Intervenções Breves nos Cuidados de
Saúde Primários: caraterização do problema
3.2.2. Modelo de Intervenção de Modificação Comportamental
para a Implementação da Deteção Precoce e Intervenções Breves
nos Cuidados de Saúde Primários
3.2.3. Avaliação das Necessidades Sentidas pelos Médicos de
Família em Portugal para Implementar a Deteção Precoce e
Intervenções Breves: resultados dos projetos europeus ODHIN e
BISTAIRS
IV. Objectivos e Eixos Estratégicos
V. Medidas a promover e Processo de implementação
5.1. Iniciativas Estratégicas - Medidas a promover
5.1.1. Promoção de práticas de prevenção primária do
consumo excessivo de álcool, com particular atenção para
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grupos de risco
5.1.2. Divulgação da importância da deteção precoce e
intervenções breves
5.1.3. Formação dos profissionais no que respeita à deteção
precoce e intervenções breves
5.1.4. Investigação que vise a melhoria da implementação
destas práticas
5.1.5. Definição de um modelo de monitorização e suporte
da implementação da identificação precoce e intervenções
breves
VI. Governação e estrutura executiva para CSP
VII. Conclusão e Recomendações
VIII. Resumo das propostas do GT e plano de Ação com cronograma
IX. Reflexões finais
Anexos
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Índice de quadros, tabelas e figuras
Figuras
Figura 1. - Modelo causal de doença por consumo excessivo de álcool
Figura 2. - População Geral, Portugal – Total (15-64 anos) e População Jovem,
Adulta (15-34 anos)
Figura 3. - Modelo causal de doença por consumo excessivo de álcool
Figura 4. – Condições, necessárias, para a execução de uma prática clínica
Figura 5. - Resultados dos projetos europeus ODHIN e BISTAIRS: integração das
necessidades sentidas pelos Médicos de Família portugueses, agrupadas em áreas de
intervenção, no sistema de modificação da prática clínica.
Figura 6. - Modelo integrado do Programa de Identificação Precoce e Intervenção
Breve com indicação do tipo de indicadores de monitorização
Tabelas
Tabela I. - Cronograma de desenvolvimento do trabalho
Tabela II. – Tarefas a Realizar pela ACSS
Tabela III. - Critérios a considerar no processo de seleção
Tabela VIII. - Resumo das propostas e plano de ação sumário com cronograma
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Lista de Siglas
Sigla Designação
ACES Agrupamentos de Centros de Saúde
ACSS Administração Central do Sistema de Saúde
ARS,I.P. Administração(ões) Regional(ais) de Saúde, Instituto(s) Público(s)
ASSIST Alcohol, Smoking and Substance Involvement Screening Test
AUDIT Alcohol Use Disorder Identification Test
BI Bilhete de Identidade
BISTAIRS Brief Interventions in the Treatment of Alcohol Use Disorders in Relevant
Settings
CAD Comportamentos Aditivos e Dependências
CRI Centro(s) de Respostas Integradas
CSP Cuidados de Saúde Primários
DICAD Divisão de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências
GT Grupo de Trabalho
HOSP Hospital
ID Indicador no Documento “Bilhete de Identidade dos Indicadores utilizados
na contratualização “
OCDE Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico
ODHIN Optimizing Delivery of Health Care Interventions
OMS Organização Mundial de Saúde
PNRCAD Plano Nacional para a Redução dos Comportamentos Aditivos e das
Dependências
PDS - PP Plataforma de Dados da Saúde – Portal do Profissional
TAS Taxa de Álcool no Sangue
SICAD Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências
SIM Sistema de Informação Multidisciplinar
SNS Serviço Nacional de Saúde
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SPMS Serviços Partilhados do Ministério da Saúde
UF Unidade Funcional
ULS Unidade(s) Local(ais) de Saúde
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CAPÍTULO I
INTRODUÇÃO E FUNDAMENTAÇÃO
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I. Introdução e fundamentação
O presente relatório pretende apresentar o trabalho desenvolvido pelo Grupo de
Trabalho constituído através do Despacho n.º 3802/2015 - Diário da República n.º
74/2015, de 16 de abril, de Sua Excelência o Secretário de Estado Adjunto do Ministro
da Saúde, com o objetivo de proceder ao desenvolvimento de um conjunto de medidas
relativas à implementação nos Cuidados de Saúde Primários (CSP), de um
programa de deteção precoce e intervenções breves dirigido ao consumo excessivo
de álcool e ao consumo de tabaco, a nível nacional.
A estrutura do presente relatório está dividida em capítulos. Para além da presente
introdução e fundamentação, pode-se encontrar uma nota metodológica, os objetivos
e eixos estratégicos que estão de acordo com o definido no Despacho, a identificação
das medidas a propor, a conclusão e recomendações assim como um resumo do que
de essencial deverá ser previsto no programa com um Plano de Ação sumário com
cronograma.
A introdução e fundamentação no capítulo I pretende descrever de forma sucinta a
justificação deste programa à luz da evidência e do enquadramento legal e normativo
vigente.
No capítulo II relativo à nota metodológica, são descritas as principais etapas que
deverão ser desenvolvidas ao longo do trabalho e que permitiram contribuir para o
alcance dos objetivos definidos no Despacho n.º 3802/2015.
Por sua vez, no capítulo III descreve-se sumariamente a situação atual em Portugal,
sendo este composto por duas áreas complementares nomeadamente no que
concerne ao consumo do álcool e tabaco já que existem percursos diferentes em
termos de atuação e relativamente aos quais pretendemos também fazer rentabilizar
recursos e procedimentos em relação a esta matéria da deteção e intervenções breves
assim como suplantar alguns obstáculos na sua disseminação.
16
No capitulo IV definem –se os objetivos e eixos estratégicos que vão ao encontro dos
principais objetivos que foram definidos no despacho e das áreas a desenvolver e
implementar.
No capítulo V são apresentadas as medidas de promoção de deteção precoce e
intervenções breves no álcool e tabaco e integração de algumas vertentes da
prestação de cuidados de saúde nesta área. Estas encontram-se estruturadas em
resposta às necessidades neste âmbito identificadas pelo Grupo.
Nos capítulos VI, VII e VIII deste trabalho, apresentamos ainda o modo de governação
e estrutura de execução, o resumo das propostas com um plano de ação sumário com
cronograma de execução temporal até 2020.
O relatório termina com algumas reflexões finais e anexos que correspondem a
documentos chave necessários para a implementação desta proposta de Programa
agora apresentada pelo Grupo de Trabalho.
1.1. Racional para a Implementação de um Programa de Deteção Precoce e
Intervenções Breves do Consumo Excessivo de Álcool nos Cuidados de Saúde
Primários
O consumo de álcool representa uma ameaça para a saúde individual e pública e para
o equilíbrio económico e social das comunidades e das nações.1 O seu consumo
representa a segunda causa mais importante de problemas de saúde associados ao
consumo de substâncias aditivas, tendo subido, entre 1990 e 2010, de oitavo para
quinto no ranking de todos os fatores de risco modificáveis de doença.2 A ingestão e o
metabolismo desta substância desencadeiam processos fisiológicos e bioquímicos que
1 http://www.who.int/substance_abuse/facts/global_burd/en/en.
2 Lim SS, Vos T, Flaxman AD, et al. A comparative risk assessment of burden of disease and injury
attributable to 67 risk factors and risk factor clusters in 21 regions, 1990-2010: a systematic analysis for
the Global Burden of Disease Study 2010. Lancet 2012; 380:2224-60.
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se associam a mais de 200 problemas de saúde (doenças físicas, psicológicas, e
problemas sociais e familiares) (Figura 1).3
Em Portugal, de acordo com os dados mais recentes do Global Information System on
Alcohol and Health (GISAH) relativos a alguns indicadores-chave sobre os níveis de
consumo de bebidas alcoólicas, em 2010, os indivíduos com 15 ou mais anos bebiam
em média 12,9 litros de álcool puro por ano (18,7 l os homens e 7,6 l as mulheres),
correspondendo a um consumo diário de 28 gramas de puro álcool por pessoa.4
A dimensão do consumo de álcool e as suas consequências tornam evidente a
importância da definição de políticas e de intervenções que aumentem o acesso aos
cuidados de saúde. Estas consequências alertam para a necessidade do reforço,
alargamento e flexibilização das respostas, que em nível e grau de diferenciação
melhor atendam de forma precoce aos fenómenos dos consumos, que pelas suas
características de comportamentos aditivos constituem um risco de desenvolvimento
de trajetórias evolutivas que culminem na dependência.
Assim torna-se evidente que os Cuidados de Saúde Primários são o nível de
intervenção privilegiado para despoletar a implementação de um programa de deteção
precoce e intervenções breves que vise reduzir o consumo de álcool e tabaco e as
suas consequências, em articulação com a restante Rede de prestação de cuidados.
Subjacente a esta asserção, identificam-se três fatores: em primeiro lugar, os
Cuidados de Saúde Primários apresentam um elevado nível de contacto com
população em geral, uma vez que este nível de cuidados apresenta uma grande
3 OECD (2015), Tackling Harmful Alcohol Use: Economics and Public Health Policy, OECD Publishing.
http//dx.doi.org/10.1787/9789264181069-en 4 http://www.diretorioalcool.pt/investigacao/Relatrios/Relatorio_Anual_2013.pdf.
COMPORTAMENTO
Consumo excessivo
de álcool
Processos
fisiológicos e
bioquímicos
PROBLEMA DE
SAÚDE
Figura 1 – Modelo causal de doença por consumo excessivo de álcool
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cobertura da população, sendo onde mais se recorre para obtenção de cuidados de
saúde; em segundo lugar, entre 20% a 30% dos doentes que recorrem a uma consulta
são consumidores excessivos de álcool, sendo que este grupo apresenta o dobro da
taxa de utilização das consultas de um doente típico 5,6; em terceiro, porque existe
evidência robusta da elevada efetividade das intervenções breves na redução dos
consumos de álcool (Número Necessário para Tratar = 8) e seus problemas
associados quando estas intervenções são aplicadas neste nível de cuidados.7,8 Este
último ponto foi reforçado pelos resultados do projeto europeu ODHIN (Optimizing
Delivery of Health Care Interventions) que mostrou que a implementação de um
programa de identificação precoce e intervenções breves em Portugal se traduziria
não só em ganhos em saúde como também em ganhos económicos.9 Este aspeto é
igualmente reconhecido no recente relatório da OCDE (Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Económico) que recomenda uma ação concertada
dos ministérios da saúde de cada país, no sentido de incluir a identificação precoce e
as intervenções breves na resolução da enorme lacuna na abordagem a esta
problemática. Ainda de acordo com o relatório da OCDE, as intervenções breves,
disponibilizadas de forma sistemática nos Cuidados de Saúde Primários, têm o
potencial de gerar enormes ganhos em saúde (incluindo o aumento da expectativa de
vida).3
Atendendo ao anteriormente exposto, justifica-se tanto em termos de saúde como em
termos económicos a implementação de um Programa de Deteção Precoce e
Intervenções para o consumo de álcool e tabaco nos Cuidados de Saúde Primários, a
desenvolver em consonância e estreita articulação com o Plano Nacional para a
Redução dos Comportamentos Aditivos e Dependências e o Programa Nacional para
a Prevenção e Controlo do Tabagismo.
5 Wilson GB, Lock CA, Heather N, Cassidy P, Christie MM, Kaner EF. Intervention against excessive
alcohol consumption in primary health care: a survey of GPs' attitudes and practices in England 10 years
on. Alcohol Alcohol 2011;46:570-7.
6 Ribeiro C. [Family medicine approach to alcohol consumption: detection and brief interventions in primary
health care]. Acta Med Port 2011;24 Suppl 2:355-68. 7 Kaner EF, Beyer F, Dickinson HO, et al. Effectiveness of brief alcohol interventions in primary care
populations. Cochrane Database Syst Rev 2007;18:CD004148. 8 Anderson, P., Gual, A., Colom, J. (2005). Alcohol and Primary Health Care: Clinical Guidelines on
Identification and Brief Interventions. Department of Health of the Government of Catalonia: Barcelona.
9 Angus C, Scafato E, Ghirini S, et al. Optimizing Delivery of Health Care Interventions (ODHIN): Cost-
Effectiveness - Model Report, Deliverable D3.1, Work Package 3. 2013.
19
1.2. Intervenção nos Cuidados de Saúde Primários: Deteção e Intervenção Breve
Partindo da definição operacional emanada pelo National Institute for Health and
Clinical Excellence (NICE)10, aquando da redação das linhas orientadoras da
prevenção e deteção precoce de problemas ligados ao álcool em adultos e
adolescentes, a deteção é descrita enquanto um processo sistemático de identificação
de indivíduos cujo consumo de álcool os coloca em risco de problemas físicos,
psicológicos ou sociais e que beneficiariam de uma intervenção de cariz preventivo.
Por sua vez, as intervenções breves são um momento entre um técnico de saúde e
um indivíduo destinado a aumentar a consciencialização do risco associado ao seu
consumo de bebidas alcoólicas e a motivá-lo para a mudança.
A eficácia da deteção e da intervenção breve está sobejamente demonstrada e
fundamentada na evidência científica11 e o seu potencial prende-se, num primeira
instância, com a tentativa de ultrapassar lacunas ao nível dos relatos de consumos,
com eventuais deficiências de identificação destes problemas a nível dos cuidados de
saúde primários e também dificuldades sistémicas e estruturais que possam impedir
essa mesma deteção.
No âmbito do projeto BISTAIRS (Brief Interventions in the Treatment of Alcohol Use
Disorders in Relevant Settings) foi feita uma revisão sistemática de meta-análises12,
nas quais se constatou a efetividade da intervenção breve na abordagem do consumo
de risco e nocivo de álcool nos Cuidados de Saúde Primários. Podem ser enumeradas
três conclusões principais deste estudo: as intervenções breves podem ser realizadas
por uma vasta gama de técnicos de saúde; as intervenções breves reduzem os
consumos semanais de álcool puro entre 23g e 49g; as intervenções breves são tão
efetivas como as intervenções intensivas de duração mais prolongada.
10 http://www.nice.org.uk/guidance/ph24/resources/guidance-alcoholuse-disorders-preventing-harmful-
drinking-pdf.
11 http://www.bistairs.eu/material/ODonnell%202014%20From%20efficacy.pdf.
12 O'Donnell A, Anderson P, Newbury-Birch D, et al. The impact of brief alcohol interventions in primary
healthcare: a systematic review of reviews. Alcohol Alcohol 2014; 49:66-78.
20
Atendendo ao anteriormente exposto, e ao facto de não existir evidência da eficácia
das intervenções breves junto de indivíduos dependentes,13 compete ao profissional
de saúde dos Cuidados de Saúde Primários:
Identificar as pessoas com consumos de risco ou nocivo de álcool e intervir
com o objetivo de reduzir ou eliminar os riscos associados à continuação desse
consumo;
Identificar e encaminhar para serviços especializados as pessoas com
dependência de álcool e as pessoas que, apresentando consumo nocivo, não
respondem à intervenção breve.
1.3. Enquadramento legal e normativo
Passados 11 anos da publicação da anterior legislação - Decreto-Lei nº 9/2002, de 24
de Janeiro, a chamada “Lei do Álcool”, procedeu-se à sua revisão, sublinhando-se os
danos causados pelos consumos precoces.
Assim, a nível nacional, o Decreto-Lei n.º 50/2013, de 16 de abril, veio estabelecer um
novo regime jurídico de disponibilização, venda e consumo de bebidas alcoólicas em
locais públicos e em locais abertos ao público, alicerçado no dever constitucional de
proteção da saúde dos cidadãos.
Este Decreto-Lei previu que, até 1 de janeiro de 2015, o Serviço de Intervenção nos
Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD) elaborasse e apresentasse ao
membro do Governo responsável pela área da saúde um estudo sobre a aplicação do
regime previsto no referido decreto-lei. Esse estudo integrou a informação proveniente
de indicadores diretos e indiretos, recolhidos com o propósito de analisar a aplicação
do regime previsto, dando particular atenção aos padrões de consumo de álcool por
parte de jovens em geral e adolescentes em especial.14 Na sequência deste estudo, e
por se ter considerado necessária a implementação de melhores medidas de proteção
dos menores no que diz respeito ao acesso a bebidas alcoólicas, foi publicado o
Decreto-Lei n.º106/2015, de 16 de junho, que procedeu à primeira alteração ao
13 Saitz R. Alcohol screening and brief intervention in primary care: Absence of evidence for efficacy in
people with dependence or very heavy drinking. Drug Alcohol Rev 2010;29:631-40.
14http://www.sicad.pt/BK/EstatisticaInvestigacao/EstudosConcluidos/Documents/2015/Regime_LDVCBAE
CAPadroes_Consumo_Alcool_Jovens_SICAD.pdf.
21
Decreto-Lei n.º 50/2013, de 16 de abril, que estabelece o regime de disponibilização,
venda e consumo de bebidas alcoólicas em locais públicos e em locais abertos ao
público, proibindo a prática destas atividades relativamente a menores de idade.
Por outro lado, no que concerne à exposição de menores ao marketing de bebidas
alcoólicas, o Decreto-Lei n.º 330/90, de 23 de outubro, proíbe a publicidade de bebidas
alcoólicas, em meios audiovisuais, dirigida a menores de idade e a publicidade
audiovisual entre as 22:30 e as 7:30. Também ao nível da autorregulação se constata
nos últimos anos uma preocupação acrescida em matéria de comunicação comercial
(incluída a publicidade) de bebidas alcoólicas, destacando-se a produção pelo ICAP –
Instituto Civil da Autodisciplina da Comunicação Comercial – de Códigos de Conduta
sobre esta matéria.
Para além disso, a Portaria n.º 390/2002, de 11 de abril, estabelece as prescrições
mínimas de segurança e saúde em matéria de consumo, disponibilização e venda de
bebidas alcoólicas nos locais de trabalho da administração pública central e local,
prevê também que os problemas ligados ao álcool nos locais de trabalho da
Administração Pública sejam objeto de uma política global de prevenção e
reabilitação, tendo em vista prevenir acidentes e preservar a saúde dos trabalhadores.
Concretamente, o consumo, a disponibilização e a venda de bebidas alcoólicas, bem
como qualquer forma de publicidade, direta ou indireta, ao álcool, são interditos nos
locais de trabalho da administração Pública, com as exceções indicadas no artigo 5º.
Também nas recentes alterações ao Código da Estrada (Lei n.º 72/2013, de 3 de
setembro) destacam-se a redução do limite da taxa de álcool no sangue de 0,5g/l para
0,2g/l para os condutores profissionais e para os que se encontram em regime
probatório, bem como o agravamento das sanções, visando proteger a saúde dos
cidadãos.
As políticas públicas relacionadas com o álcool assentam no Plano Nacional para a
Redução dos Comportamentos Aditivos e das Dependências 2013-2020 (PNRCAD),
aprovado pela Resolução de Conselho de Ministros n.º 79/2014, de 29 de dezembro, e
na Coordenação Nacional para os Problemas da Droga, das Toxicodependências e do
uso Nocivo do Álcool, nos termos previstos no Decreto-Lei n.º 1/2003, de 6 de janeiro,
na versão do Decreto-Lei n.º 40/2010, de 28 de abril.
Se, por um lado, o PNRCAD acompanha, na sua filosofia e objetivos, alguns
documentos de importância primordial como o Plano Nacional de Saúde 2012 – 2016,
22
a Estratégia da União Europeia de Luta contra a Droga 2013-2020, a Estratégia da UE
para apoiar os Estados-Membros na redução dos problemas ligados ao álcool e a
Estratégia Global da OMS para reduzir o uso nocivo do álcool, por outro lado, a
Coordenação Nacional para os Problemas da Droga, das Toxicodependências e do
Uso Nocivo do Álcool tem como propósito garantir uma eficaz coordenação e
articulação entre os vários departamentos governamentais envolvidos nos problemas
relacionados com a droga, as toxicodependências e o uso nocivo do álcool.
A especial configuração institucional desta estrutura tem em conta o carácter
transversal desta problemática, sendo o nível de coordenação executiva, assegurado
pelo Coordenador Nacional que, por inerência de funções, é o Diretor-Geral do Serviço
de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD).
O Decreto‐Lei n.º 17/2012, de 26 de Janeiro, aprova a orgânica do SICAD, atribuindo-
lhe a missão de promover a redução do consumo de substâncias psicoativas, a
prevenção dos comportamentos aditivos e a diminuição das dependências.
O Decreto-Lei n.º 22/2012, de 30 de janeiro, reestrutura o modelo de funcionamento
das ARS, I.P. sendo-lhes atribuída a missão de garantir à população da respetiva área
geográfica de intervenção o acesso à prestação de cuidados de saúde, adequando os
recursos disponíveis às necessidades e cumprir e fazer cumprir políticas e programas
de saúde na sua área de intervenção.
No âmbito do Plano de Redução e Melhoria da Administração Central - PREMAC e
resultante da reorganização operada do Ministério da Saúde, a orgânica das ARS,I.P.
incorporou a componente de operacionalização das políticas de saúde / execução dos
programas de intervenção local em matéria de CAD. Neste sentido, foi criada em cada
ARS,I.P. a Divisão de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências
(DICAD).
O Decreto-Lei nº. 28/2008, de 22 de fevereiro, alterado e republicado pelo Decreto-lei
n.º 253/2012 de 27 de novembro, estabelece o regime de criação, estruturação e
funcionamento dos Agrupamentos de Centros de Saúde (ACES) do Serviço Nacional
de Saúde, que têm por missão garantir a prestação de cuidados de saúde primários à
população de uma determinada área geográfica.
23
Decorrente da referida reorganização e assunção de novas atribuições na intervenção
em Comportamentos Aditivos e Dependências (CAD) procedeu-se à revisão da Rede
de Referenciação / Articulação anteriormente aprovada para os Problemas Ligados ao
Álcool adequando-a, assim, a um âmbito mais lato de intervenção em CAD.15
Este modelo de referenciação e articulação representa uma importante mudança ao
prever a aplicação de instrumentos de rastreio e a intervenção integrada e ao criar
sinergias e complementaridade entre os diferentes serviços com atuação no âmbito
dos CAD. Por outro lado, para a sua implementação, preconiza a elaboração e
avaliação do diagnóstico de necessidades em formação, bem como a criação de
planos de formação, de caráter teórico-prático, para os profissionais das estruturas
territoriais envolvidas na Rede.
Assim, a presente Rede de Referenciação/Articulação assenta, essencialmente, em 3
pilares:
Definição, numa lógica de proximidade dos cuidados de saúde e de
acessibilidade dos cidadãos aos mesmos, de uma arquitetura dinâmica de
respostas diferenciadas, especializadas e adequadas ao nível de gravidade
dos seus problemas, apresentando fluxos de referenciação, de
encaminhamento e de intervenção;
Estruturação, por níveis diferenciados de intervenção, da articulação entre os
Cuidados de Saúde Primários, Especializados e Hospitalares, entre outros;
Interação / articulação entre os serviços que atendem cidadãos com
comportamentos aditivos e dependências, desde a deteção precoce, através
da aplicação de instrumentos de rastreio, passando pelas intervenções breves,
até à abordagem mais diferenciada e adequada à avaliação do risco da
situação em que a pessoa se encontra, que permita acompanhar as
manifestações evolutivas desta patologia.
O despacho n.º 3802/2015, de 25 de março, do Secretário de Estado Adjunto do
Ministro da Saúde, publicado no Diário da República, 2.a serie, n.º 74, de 16 de abril
15 Vilar, G. (coord.) et al. (2013). Rede de Referenciação/Articulação no âmbito dos Comportamentos
Aditivos e das Dependências. Lisboa: SICAD
24
de 2015, cria um Grupo de Trabalho para o desenvolvimento de um conjunto de
medidas relativas à implementação de um programa de deteção precoce e
intervenções breves dirigido ao consumo excessivo de álcool e ao consumo de tabaco,
nos Cuidados de Saúde Primários, a nível nacional.
Obedecendo este Programa ao mesmo racional da Rede de Referenciação /
Articulação no âmbito dos Comportamentos Aditivos e das Dependências16, são
ambos indissociáveis, constituindo-se o Programa como um fator impulsionador do
incremento da Rede.
16 Aprovada a 07.06.2013, por despacho de Sua Excelência o Secretário de Estado Adjunto do Ministro
da Saúde, e que envolve as Administrações Regionais de Saúde, I.P. (ARS,I.P.), particularmente as
Divisões de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (DICAD), e a Direção Geral
da Saúde (DGS), nomeadamente o Programa Nacional para a Saúde Mental e o Programa Nacional para
a Prevenção e Controlo do Tabagismo, sob coordenação do Serviço de Intervenção nos Comportamentos
Aditivos e nas Dependências (SICAD).
25
CAPÍTULO II
NOTA METODOLÓGICA
27
II. Nota Metodológica do GT
A metodologia de trabalho delineada pelo GT foi a seguinte:
a) Realização de duas reuniões mensais até final do tempo para elaboração do
relatório (meses de Maio e Junho)
b) Solicitar às Dra. Graça Vilar e Prof. Dra. Emilia Nunes que coordenam as
Redes de Referenciação Nacionais que conduzam as reuniões parcelares com
as entidades regionais responsáveis presentes no GT nomeadamente do
Álcool e Tabaco no sentido de verterem no documento /relatório os conteúdos
tidos como necessários para responder aos objetivos do Despacho n.º
3802/2015.
c) Reunião Geral de GT a marcar mensalmente para reavaliação por todos dos
conteúdos do relatório e das propostas a sistematizar.
d) Convite de alguns peritos e/ou entidades para darem contributos para o
relatório final neste âmbito.
e) Auscultação de personalidades de reconhecido mérito na área sempre que tal
for tido como necessário
Tabela I - Cronograma de desenvolvimento do trabalho
27 Abril 2015 11 Maio 2015 Maio 2015 Junho 2015 Junho 2015
1ª reunião(15h-
17h30m)
Reunião
Geral GT
2ª reunião
Reunião Parcelar
GT (A/T)
3ª reunião
Reunião
Geral GT
4ª reunião
Reunião Parcelar
GT (A/T)
Reunião
Geral GT
29
CAPÍTULO III
DIAGNÓSTICO DE SITUAÇÃO
31
III. Diagnóstico de Situação
3.1. Eixo Epidemiológico
De acordo com os dados mais recentes publicados no Relatório Anual referente à
Situação do país em Matéria de Álcool17 provenientes do Global Information System
on Alcohol and Health (GISAH)18 relativos a alguns indicadores-chave sobre os níveis
de consumo de bebidas alcoólicas em Portugal, em 2010, os indivíduos com 15 ou
mais anos bebiam em média 12,9 litros de álcool puro por ano (18,7 litros no homem e
7,6 litros na mulher), correspondendo a um consumo diário de 28 gramas de álcool
puro por pessoa.
O Relatório informa também sobre os resultados do III Inquérito Nacional ao Consumo
de Substâncias Psicoativas na População Geral, Portugal 201219 onde se verificaram,
por comparação a 2007 e 2001, proporções superiores de abstinentes e desistentes
na população total (26% e 12% em 2012) e na jovem adulta (28% e 11% em 2012), e
em contrapartida, proporções inferiores do conjunto de consumidores recentes e
correntes (61% em 2012, tanto na população total como na jovem adulta, a nível
nacional) (Figura 2).
17http://www.sicad.pt/BK/Publicacoes/Lists/SICAD_PUBLICACOES/Attachments/74/Relatorio_Anual_2013
_A%20Situacao_do_Pais_em_Materia_de_%C3%81lcool.pdf.
18 http://www.who.int/gho/alcohol/en/.
19http://www.sicad.pt/BK/EstatisticaInvestigacao/EstudosConcluidos/Lists/SICAD_ESTUDOS/Attachments/
135/III_InqueritoNacionalConsumo_deSPnaPG%202012.pdf.
Figura 2 – População Geral, Portugal – Total (15-64 anos) e População Jovem
Adulta (15-34 anos)
Tipologias das Experiências do Consumo (%): 2001 / 2007 / 2012
32
Em relação às tipologias de experiências de consumo, e como nos anos anteriores,
em 2012, as prevalências de consumo binge foram superiores na população jovem
adulta (18% do total e 30% dos consumidores recentes) por comparação à população
total (12% do total e 20% dos consumidores recentes). Também as prevalências de
embriaguez ligeira e severa foram mais elevadas nos jovens adultos (21% e 11% do
total e 29% e 15% dos consumidores recentes) do que na população total (13% e 6%
do total e 18% e 8% dos consumidores recentes). O grupo de 15-24 anos apresentou
as maiores prevalências de embriaguez ligeira e de embriaguez severa
(respetivamente 34% e 19% dos consumidores recentes), constatando-se uma
diminuição destas à medida que se avança no ciclo de vida.
Relativamente a padrões de consumo abusivo e dependência de álcool, de acordo
com resultados do AUDIT, em 2012, cerca de 3,0% da população de 15-64 anos
residente em Portugal tinha um consumo de álcool considerado de risco
elevado/nocivo e 0,3% de dependência, sendo as proporções correspondentes nos
jovens adultos, respetivamente de 2,1% e 0,4%. Cerca de 4,9% dos consumidores
recentes de álcool de 15-64 anos tinham um consumo considerado de risco
elevado/nocivo, e 0,5% de dependência, sendo as proporções correspondentes nos
consumidores jovens adultos, respetivamente de 3,5% e 0,6%.
No entanto, para além dos níveis e padrões de consumo, importa também refletir
sobre a relação destes e a ocorrência de danos na saúde individual e saúde pública
dos cidadãos.
Assim e no que respeita a problemas relacionados com o consumo de álcool, em 2013
os internamentos em hospitais nacionais, por causas 100% atribuíveis ao consumo de
álcool, corresponderam a 0,25% do total de internamentos. Do ponto de vista regional,
é no Centro e no Norte que se registam as percentagens mais elevadas de
internamentos nesse mesmo ano e também nos anteriores.
A taxa de mortalidade padronizada por doenças atribuíveis ao álcool para todas as
idades é de 17,2 óbitos por 100 000 habitantes, sendo inferior para as idades abaixo
dos 65 anos (12,3) e bastante superior para as idades de 65 e mais anos (57,9).
Segundo as estatísticas nacionais da mortalidade do Instituto Nacional de Estatística,
I.P., (INE, I.P.) constantes no Relatório Anual referente à Situação do país em Matéria
33
de Álcool16, em 2012 registaram-se em Portugal 2428 óbitos por doenças atribuíveis
ao álcool, representando 2,2% do total de óbitos e uma estabilidade em relação a
2011 (-2%). A maioria destes óbitos pertencia ao género masculino (79%).
Quanto à mortalidade atribuída a perturbações mentais e comportamentais devidas ao
uso de álcool, uma das categorias de doenças atribuíveis ao álcool, em 2012 foram
registados 99 óbitos em Portugal, representando 0,1% do total de óbitos e 4,1% dos
óbitos por doenças atribuíveis ao álcool. De acordo com os registos específicos de
mortalidade do Instituto Nacional de Medicina Legar e Ciências Forenses, I.P.,
indicadas no Relatório Anual referente à Situação do País em Matéria de Álcool16, em
2013 registaram-se 168 vítimas mortais de acidentes de viação que estavam sob a
influência do álcool (TAS ≥ 0,5g/l). Cerca de 74% eram condutores, 18% peões e 8%
passageiros. Nestas vítimas, 65% tinham uma TAS ≥ 1,2g/l, 22% entre 0,8-1,19g/l e
13% entre 0,5-0,79g/l.
Em 2012, o número médio de anos potenciais de vida perdidos por doenças atribuíveis
ao álcool foi de 13,7 anos, sendo que a taxa de anos potenciais de vida perdidos por
doenças atribuíveis ao álcool foi de 231,5%000 É na região da Madeira e na região
Norte que se verificam as taxas mais altas.
No que se refere à criminalidade potencialmente relacionada com o consumo de
álcool, em particular os delitos cometidos sob a influência do álcool, em 2013 foram
registadas pelas Forças de Segurança 27 318 participações de violência doméstica,
41% das quais com sinalizações de problemas relacionados com o consumo de álcool
por parte do/a denunciado/a. Esta proporção foi muito próxima à registada nos três
anos anteriores (cerca de 43%). Saliente-se no entanto que, em Portugal existe
apenas registo de informação sobre o consumo problemático de álcool por parte do/a
denunciado/a, a nível dos crimes de violência doméstica.
Existiram em 2013, 3 403 novos utentes inscritos com problemas relacionados com o
álcool e que recorreram pela primeira vez às estruturas de intervenção especializadas
(primeiros pedidos de tratamento – as Equipas de Tratamento dos Centros de
Respostas Integradas e Unidades de Alcoologia), sendo os concelhos do Porto (752) e
de Lisboa (647) onde se registaram mais novos utentes em tratamento a nível
nacional.
34
3.2. Eixo das Respostas
3.2.1. Deteção Precoce e Intervenções Breves nos Cuidados de Saúde Primários:
caraterização do problema
Não obstante a eficácia comprovada das intervenções breves, a maioria dos
profissionais dos Cuidados de Saúde Primários mantém-se relutante em implementá-
las de forma sistemática na sua prática clínica.12 A título de exemplo, um ensaio clínico
patrocinado pela Organização Mundial de Saúde mostrou uma mediana nas taxas de
identificação precoce de 7,5% e uma mediana nas taxas de intervenção breve de
2,8%.20 Isto significa que metade dos médicos aplicou um questionário de identificação
no máximo a 7,5% de todos os doentes consultados e que, dos que foram
identificados como tendo um consumo excessivo de álcool, apenas 2,8% receberam
uma intervenção breve.
São várias as razões que levam estes profissionais a não estarem disponíveis para
implementar as intervenções breves na prática clínica. Entre as mais frequentemente
referenciadas estão: a falta de tempo; a falta de treino; a falta de materiais para o
aconselhamento do doente; baixa motivação e satisfação na realização desta
atividade; e a crença que os doentes não vão seguir o conselho do profissional no
sentido de reduzir o consumo (baixa auto-estima e auto-eficácia).5, 12 A tendência atual
na investigação nesta área centra-se, não tanto em mostrar que as intervenções
breves são uma forma eficaz de reduzir o consumo de álcool, mas em encontrar as
formas mais adequadas para incentivar os profissionais de saúde a aplicá-las.12 Este é
também o objetivo proposto a este Grupo de Trabalho pelo Despacho n.º 3802/2015:
desenvolver “um conjunto de medidas relativas à implementação de um programa de
deteção precoce e intervenções breves dirigido ao consumo excessivo de álcool (...)
nos Cuidados de Saúde Primários, a nível nacional”.21
20 Anderson P, Kaner E, Wutzke S, et al. Attitudes and managing alcohol problems in general practice: an
interaction analysis based on findings from a WHO collaborative study. Alcohol Alcohol 2004;39:351-6.
21 Despacho nº 3802/2015, de 16 de Abril. Diário da República, nº 74 - 2ª Série. Ministério da Saúde.
Lisboa.
35
No entanto, para levar a cabo este objetivo é necessário, em primeiro lugar,
caracterizar a natureza do que se pretende alterar, ou seja, é preciso caracterizar de
forma pormenorizada:
a) Qual é a prática clínica que se pretende modificar: tendo em conta o
proposto no Despacho n.º 3802/2015, podemos definir a prática clínica a modificar
como o conjunto de ações que devem ser executadas no sentido de reduzir o
consumo de álcool. Este conjunto de ações pode ser decomposto nos seus vários
componentes:
Identificação precoce: realizada mediante aplicação de uma ferramenta de
rastreio validada que permita a deteção das pessoas com consumo excessivo
de álcool. Tendo em conta a Norma n.º 30/2012 da Direção-Geral da Saúde,
deve ser utilizado o questionário AUDIT – Alcohol Use Disorders Identification
Test;22
Intervenção breve: aplicada por recurso a um conjunto de técnicas de
modificação comportamental cujas bases teóricas assentam nos princípios da
entrevista motivacional. A sua aplicação está indicada nas pessoas
identificadas como tendo consumo de álcool em níveis de risco ou nocivo, mas
sem critérios de dependência;13, 23
Acompanhamento: programação do acompanhamento da pessoa com
consumos excessivos de álcool visando o reforço da motivação e autoeficácia
para reduzir ou parar o consumo excessivo de álcool. A duração e
periodicidade do acompanhamento estão dependentes da fase do ciclo de
mudança em que a pessoa se encontra; 13, 23
Referenciação: ato de encaminhar para consulta especializada a pessoa com
critérios de dependência ou a pessoa com consumo nocivo que, após a
aplicação da intervenção breve e acompanhamento, não reduza o consumo de
álcool.23
22 Norma nº 30/2012, de 28 de dezembro, Atualização 18/12/2014. Direção-Geral da Saúde. Lisboa
23 Henry-Edwards S, Humeniuk R, Ali R, Monteiro M, Poznyak M. Brief Intervention for Substance Use: A
Manual for Use in Primary Care. (Draft Version 1.1 for Field Testing). Geneva, World Health Organization,
2003.
36
b) Quem é que deve desempenhar a atividade: sendo a natureza da atividade
em causa de índole clínica, a sua execução deve ficar a cargo de profissionais com
formação adequada para o efeito. Neste sentido, existe apenas um profissional de
saúde que reúne condições para pôr em prática todas as componentes desta
atividade, o profissional médico. No entanto, isto não significa que todas as
componentes desta atividade sejam de execução exclusiva do profissional médico e
não possam ser partilhadas em equipa. Por exemplo, existe evidência que mostra que
o profissional de enfermagem pode realizar a identificação precoce e eventualmente a
intervenção breve.17-19 A única componente de índole médica exclusiva será a
referenciação, por um lado porque implica um diagnóstico, por outro porque apenas o
médico está habilitado a proceder à referenciação de um doente para os Cuidados de
Saúde Secundários;
c) Onde e quando deve a atividade ser desempenhada: a identificação precoce
e intervenção breve do consumo excessivo de álcool devem ser realizadas (tendo em
conta o objetivo delineado no Despacho n.º 3802/2015, assim como a efetividade das
intervenções breves ao nível dos Cuidados de Saúde Primários anteriormente
descrita) nas unidades de saúde integradas na rede de Cuidados de Saúde Primários,
ou seja, nas Unidades de Saúde Familiar e nas Unidades de Cuidados de Saúde
Personalizados. A sua execução tem lugar durante o horário de trabalho dos
profissionais, de forma oportunistica ou sistemática, aquando do contato do
profissional com o utente do serviço de saúde. Existem estudos publicados que
mostram que esta atividade tem potencial para ser realizada noutros contextos (por
exemplo, a nível hospitalar, nos serviços médicos em meio laboral, ou no âmbito dos
serviços sociais); no entanto a evidência é ainda pouco robusta nestes contextos24 e
está também fora do âmbito delineado no presente Despacho.21
Esta caracterização pormenorizada, em conjunto com a baixa aplicação das
intervenções breves, revela que se está perante um problema de modificação da
prática clínica dos profissionais de saúde nos Cuidados de Saúde Primários, prática
essa que, uma vez implementada, tem efeitos positivos na mudança do
comportamento da pessoa com consumos excessivos de álcool (Figura 3).
24 Schmidt C, Schulte B, O'Donnell A, et al. Project BISTAIRS: Report on WP4 - Effectiveness of Brief
Interventions in Primary Health Care, Emergency Care, Workplace Health Services and Social Services.
2013.
37
Identificada que foi a prática clínica a modificar, e que está na base da redação do
Despacho supra, pode-se a partir daqui desenhar o modelo de intervenção que dá
resposta ao objetivo principal do Despacho.
3.2.1. Modelo de Intervenção de Modificação da Prática Clínica para a Implementação
da Deteção Precoce e Intervenções Breves nos Cuidados de Saúde Primários
Para executar uma determinada prática clínica de forma voluntária e sistemática, é
necessário que estejam reunidas as condições que dão suporte a essa mesma prática.
Estas condições podem ser resumidas em três grandes áreas: Motivação, Capacidade
e Oportunidade (Figura 4).25
25 Michie S, van Stralen MM, West R. The behaviour change wheel: a new method for characterising and
designing behaviour change interventions. Implement Sci 2011;6:42.
Motivação
Figura 4 – Condições necessárias para a execução de uma prática clínica
Prática Clínica
Aptidão
Oportunidade
COMPORTAMENTO
Consumo excessivo
de álcool
Processos
fisiológicos e
bioquímicos
PROBLEMA
DE SAÚDE
PRÁTICA CLÍNICA
Identificação
Precoce e
Intervenção Breve
Figura 3 – Modelo causal de doença por consumo excessivo de álcool
modificado pela introdução da Identificação Precoce e Intervenção Breve
38
Motivação: define-se como todos os processos a nível cerebral que dão origem
ao comportamento e o direcionam (indo para além dos objetivos e da tomada
de decisão consciente). Inclui os processos de resposta emocional e de
decisão analítica;25
Aptidão: define-se como a capacidade física e psicológica do indivíduo para pôr
em prática o comportamento, o que inclui estar na posse do conhecimento e
das competências necessárias para esse efeito;25
Oportunidade: define-se como todos os fatores externos ao indivíduo e que
tornam o comportamento possível ou que incitam a que esse comportamento
seja posto em prática.25
A interação entre a prática clínica e as condições necessárias à sua implementação
mostra que o desenho de um programa que visa mudar uma determinada prática deve
ser precedido de uma avaliação para determinar quais as condições do sistema que
devem ser alvo de intervenção. Por exemplo, se os profissionais de saúde não
estiverem motivados para implementar a Identificação Precoce e as Intervenções
Breves, e simultaneamente não possuírem as aptidões necessárias para realizar essa
tarefa, uma intervenção focada apenas na aquisição de competências para o
desempenho desta atividade terá baixas probabilidades de sucesso. Torna-se assim
necessário avaliar as necessidades sentidas pelos profissionais no terreno, ou seja,
quais as barreiras que impedem, e quais os fatores que facilitam, a implementação da
Identificação Precoce e Intervenções Breves no sentido de determinar qual ou quais
das três condições anteriormente mencionadas (Aptidão, Motivação e Oportunidade)
será necessário alterar, para uma eficaz implementação do Programa.
39
3.2.3. Avaliação das Necessidades Sentidas pelos Médicos de Família em Portugal
para Implementar a Deteção Precoce e Intervenções Breves: resultados dos projetos
europeus ODHIN e BISTAIRS
Tal como foi referido anteriormente, as linhas de investigação atuais na área da
redução dos consumos de álcool centram-se, sobretudo, em encontrar as formas mais
adequadas para incentivar os profissionais de saúde a aplicar no terreno a
Identificação Precoce e as Intervenções Breves.12 Foi também nesta linha de
investigação que Portugal participou, sob coordenação do SICAD (Serviço de
Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências), em dois projetos de
investigação a nível europeu co-financiados pelo Programa de Saúde da União
Europeia: o projeto ODHIN (Optimizing Delivery of Health Care Interventions) e o
projeto BISTAIRS (Brief Interventions in the Treatment of Alcohol Use Disorders in
Relevant Settings). A análise dos resultados destes projetos, à luz do sistema de
modificação da prática clínica, explanado no ponto anterior, permite detalhar quais as
áreas que necessitam ser intervencionadas para implementar o Programa. A Figura 5
resume, para cada necessidade (Aptidão, Motivação e Oportunidade), a área de
intervenção a abordar26, 27 com base nos resultados nacionais destes projetos de
investigação.
26
Cane J, O'Connor D, Michie S. Validation of the theoretical domains framework for use in behaviour
change and implementation research. Implement Sci 2012;7:37. 27
Michie S, Johnston M, Abraham C, Lawton R, Parker D, Walker A. Making psychological theory useful
for implementing evidence based practice: a consensus approach. Qual Saf Health Care 2005;14:26-33.
40
Figura 5 – Resultados dos projetos europeus ODHIN e BISTAIRS: integração das necessidades sentidas pelos Médicos de
Família portugueses, agrupadas em áreas de intervenção, no sistema de modificação da prática clínica.
Identificação e
Intervenções
Breves
Aptidão
Oportunidade
Motivação
1. Conhecimentos
2. Competências
3. Memoria, Atenção e Processos de Decisão
4. Regulação do Comportamento
5. Identidade e Papel Profissional
6. Crenças sobre Capacidades
7. Crenças sobre Consequências
8. Otimismo/Pessimismo
9. Intenções
10. Objetivos
11. Reforço
12. Emoções
13. Influências Sociais
14. Contexto Ambiental e Recursos
41
Apresenta-se de seguida um resumo das necessidades sentidas pelos profissionais
em cada área de intervenção identificada. A metodologia do projeto ODHIN foi de
índole quantitativa pelo que nestes casos será apresentada essa quantificação. Já o
projeto BISTAIRS obedeceu a uma metodologia qualitativa, não se apresentando
neste caso qualquer quantificação do resultado:
Áreas 1 e 2 – Conhecimentos e Competências
A formação na área dos consumos de risco e nocivo de álcool foi considerada
deficitária, com mais de metade dos médicos de família a referir ter menos de
quatro horas de formação, 35,5% referindo mesmo não ter qualquer formação
nesta área;
Apenas cerca de 35% dos médicos de família mostrou conhecer os limites
diários e/ou semanais recomendados para o consumo de álcool;
73,5% consideraram que os médicos de família não conseguem identificar o
doente com consumos excessivos enquanto este não apresentar sintomas;
Os médicos de família têm dúvidas sobre a que doentes aplicar o AUDIT.
Área 3 – Memória, Atenção e Processos de Decisão
Dificuldade em se lembrar de aplicar o AUDIT;
Marcar uma consulta de específica para acompanhamento após realizar a
intervenção breve é facilitador da implementação.
Área 4 – Regulação do Comportamento
Participar em projetos de investigação relacionados com o álcool;
Aproveitar os sintomas dos doentes para introduzir a Identificação Precoce.
Área 5 – Identidade e Papel Profissional
48% consideraram que a prevenção é da responsabilidade do doente e não do
médico;
Os problemas ligados ao álcool não são uma prioridade para os profissionais
de saúde.
42
Áreas 6 e 7 – Crenças sobre Capacidades e Crenças sobre Consequências
67% concordam que os médicos de família são treinados num modelo centrado
na doença;
73,5% concordam que os médicos de família não conseguem identificar o
doente com consumos excessivos enquanto este não apresentar sintomas;
91% concordam que os médicos de família consideram difícil o
aconselhamento do doente com consumos excessivos de álcool;
81% dos médicos de família não acredita que o doente vá reduzir os
consumos;
97% dos acreditam que a implementação das intervenções breves aumentaria
se lhes fosse mostrada a eficácia destas práticas.
Área 8 – Otimismo/Pessimismo
24% consideram que otimismo é a atitude mais realista a adotar perante o
doente com consumo excessivo de álcool;
76% pensam questionar sempre ou quase sempre os seus doentes sobre o
consumo;
53% consideram ter aconselhado menos de 12 doentes com consumo
excessivo no último ano.
Áreas 9 e 10 – Intenções e Objetivos
25% querem trabalhar com doentes com consumo excessivo;
Os profissionais de saúde não têm vontade de abordar os problemas ligados
ao álcool;
Aumentar a motivação dos médicos nesta área seria um fator facilitador da
implementação;
Os problemas ligados ao álcool não são uma prioridade para os profissionais
de saúde;
43
Área 11 – Reforço
83% dos médicos de família considera que não existem incentivos;
80% concordam que a implementação aumentaria com a introdução de
incentivos;
A existência de indicadores para o álcool facilitaria a implementação;
São facilitadores da implementação a regular troca de experiências entre
profissionais e a obtenção de feedback sobre casos de sucesso.
Área 12 – Emoções
74% concordam que os médicos de família sentem-se desconfortáveis a
perguntar pelos consumos de álcool aos seus doentes;
13% referem gostar de trabalhar com doentes com consumos excessivos de
álcool;
A frustração com os insucessos atua com barreira à implementação.
Área 13 – Influências Sociais
97% consideram que a promoção de campanhas para aumentar a
preocupação da sociedade com o problema aumentaria as taxas de
intervenção;
98% referem que as taxas de intervenção aumentariam se os doentes
pedissem aconselhamento nesta área;
São facilitadores da implementação a regular troca de experiências entre
profissionais e a obtenção de feedback sobre casos de sucesso.
Área 14 – Contexto Ambiental e Recursos
83% consideram ter falta de tempo para implementar estas práticas;
79% consideram que os médicos de família não têm ao seu dispor uma
ferramenta de identificação dos doentes com consumos excessivos de álcool;
84% consideram não ter disponíveis materiais de aconselhamento;
98% consideram importante o acesso a serviços de apoio;
44
A presença do questionário AUDIT no software de registo clínico seria
facilitadora da implementação.
Em suma, de acordo com os resultados dos projetos ODHIN e BISTAIRS, o sucesso
da implementação deste Programa está dependente de se abordarem as três
necessidades que têm influência na modificação da prática clínica. Isto significa que
será necessário delinear estratégias que visem motivar os profissionais de saúde para
a área dos consumos de álcool, aumentar as suas aptidões para executar a
identificação e a intervenção breve, e criar oportunidades que facilitem a realização
desta atividade.
Feita a avaliação das necessidades sentidas pelos profissionais no terreno, estão
reunidas as condições para elencar os objetivos e eixos estratégicos do programa de
deteção precoce e intervenções breves dirigidos ao consumo de álcool nos Cuidados
de Saúde Primários.
45
CAPÍTULO IV
OBJECTIVOS E EIXOS
ESTRATÉGICOS
47
IV. Objetivos e Eixos estratégicos
A - Eixos Estratégicos
1. Promoção de práticas de prevenção primária do consumo excessivo de álcool,
com particular atenção para grupos de risco;
2. Divulgação da importância da deteção precoce e intervenções breves;
3. Formação dos profissionais no que respeita à deteção precoce e intervenções
breves;
4. Investigação que vise a melhoria da implementação destas práticas;
5. Definição de um modelo de monitorização e suporte da implementação da
identificação precoce e intervenções breves.
B. Objetivos gerais
1. Melhorar a abordagem ao utente com consumo excessivo de álcool pelos
profissionais dos Cuidados de Saúde Primários;
2. Reduzir o consumo excessivo de álcool dos utentes dos Cuidados de Saúde
Primários;
3. Reduzir as consequências físicas, psicológicas, sociais e familiares associadas
aos problemas ligados ao consumo do álcool nos utentes dos Cuidados de
Saúde Primários.
48
C. Objetivos específicos
1. Objetivos específicos relacionados com o Objetivo Geral 1
1.1. Aumentar as competências dos profissionais dos Cuidados de Saúde
Primários para realizar a identificação precoce do, e intervenção breve ao,
utente com consumos excessivos de álcool;
1.2. Motivar os profissionais dos Cuidados de Saúde Primários no sentido da
implementação da identificação precoce do, e intervenção breve no, consumo
excessivo de álcool;
1.3. Identificar as condições que são necessárias e possíveis de introduzir nos
Cuidados de Saúde Primários para aumentar as oportunidades dos
profissionais de saúde para efetuar a identificação precoce do, e intervenção
breve no, consumo excessivo de álcool;
1.4. Aumentar a taxa de aconselhamento nos jovens no que respeita ao consumo
de álcool;
1.5. Aumentar a taxa de aconselhamento nas grávidas no que respeita ao
consumo de álcool;
1.6. Aumentar a taxa de identificação precoce do consumo de álcool no doente
com diagnóstico de hipertensão;
1.7. Aumentar a taxa de intervenção breve no doente com diagnóstico de
hipertensão e com consumo excessivo de álcool;
1.8. Aumentar a taxa de identificação precoce do consumo de álcool no doente
com diagnóstico de diabetes;
1.9. Aumentar a taxa de intervenção breve no doente com diagnóstico de diabetes
e com consumo excessivo de álcool;
1.10. Aumentar a taxa de identificação precoce do consumo de álcool no
doente com diagnóstico de patologia ansiosa e/ou depressiva;
1.11. Aumentar a taxa de intervenção breve no doente com diagnóstico de
patologia ansiosa e/ou depressiva e com consumo excessivo de álcool;
49
1.12. Aumentar a taxa de identificação precoce do consumo excessivo de
álcool nos Cuidados de Saúde Primários;
1.13. Aumentar a taxa de intervenção breve dos utentes identificados como
tendo um consumo de risco ou nocivo de álcool;
1.14. Aumentar a taxa de referenciação dos utentes com suspeita ou
diagnóstico de dependência de álcool.
2. Objetivos específicos relacionados com o Objetivo Geral 2
2.1. Retardar a idade de primeiro consumo de bebidas alcoólicas nos jovens;
2.2. Diminuir a prevalência do consumo de álcool na mulher grávida;
2.3. Diminuir a prevalência do consumo de risco de álcool nos doentes com
diagnóstico de hipertensão;
2.4. Diminuir a prevalência do consumo nocivo de álcool nos doentes com
diagnóstico de hipertensão;
2.5. Diminuir a prevalência do consumo de risco de álcool nos doentes com
diagnóstico de diabetes;
2.6. Diminuir a prevalência do consumo nocivo de álcool nos doentes com
diagnóstico de diabetes;
2.7. Diminuir a prevalência do consumo de risco de álcool nos doentes com
diagnóstico de patologia ansiosa e/ou depressiva;
2.8. Diminuir a prevalência do consumo nocivo de álcool nos doentes com
diagnóstico de patologia ansiosa e/ou depressiva;
2.9. Aumentar a prevalência de utentes dos Cuidados de Saúde Primários
abstinentes ou com consumo de álcool de baixo risco acrescido;
2.10. Diminuir a prevalência de utentes dos Cuidados de Saúde Primários
com consumo de risco de álcool;
2.11. Diminuir a prevalência de utentes dos Cuidados de Saúde Primários
com consumo nocivo de álcool.
50
3. Objetivos específicos relacionados com o Objetivo Geral 3
3.1. Diminuir a incidência de doenças físicas diagnosticadas nos Cuidados de
Saúde Primárias relacionadas com o consumo excessivo de álcool;
3.2. Diminuir a incidência de diagnóstico de perturbações da ansiedade nos
Cuidados de Saúde Primárias relacionadas com o consumo excessivo de
álcool;
3.3. Diminuir a incidência de diagnóstico de depressão nos Cuidados de Saúde
Primárias relacionadas com o consumo excessivo de álcool;
3.4. Diminuir a incidência de casos de violência familiar relacionados com o
consumo de álcool;
3.5. Diminuir a prevalência de crianças que vivem com familiares com problemas
relacionados com o consumo de álcool.
51
CAPÍTULO V
MEDIDAS A PROMOVER e
PROCESSO DE
IMPLEMENTAÇÃO
53
V. Medidas e processo de implementação
São apresentadas em seguida as medidas consideradas como promotoras da
resposta de cuidados de saúde nesta área pelo GdT. Estas medidas são as
consideradas prioritárias e o processo de implementação obedece a percursos
complementares para o álcool e tabaco.
5.1. Iniciativas Estratégicas - Medidas a promover
As medidas consideradas promotoras da implementação da Identificação Precoce e
Intervenção Breve para os consumos excessivos de álcool nos Cuidados de Saúde
Primários são elencadas para cada um dos eixos estratégicos, visando responder às
necessidades sentidas pelos profissionais no terreno que foram analisadas no capítulo
III.
5.1.1. Promoção de práticas de prevenção primária do consumo excessivo de álcool,
com particular atenção para grupos de risco
5.1.1.1. No sentido de aumentar a motivação dos profissionais propõe-se a
realização de atividades que: demonstrem a importância da prevenção primária do
consumo de álcool em termos de ganhos em saúde; demonstrem o papel
fundamental dos Cuidados de Saúde Primários enquanto agentes de prevenção
primária nesta área.
5.1.1.2. No sentido de aumentar a aptidão dos profissionais propõe-se: a
realização de cursos de abordagem ao adolescente.
5.1.1.3. No sentido de aumentar as oportunidades para implementar a
Identificação Precoce e a Intervenção Breve propõe-se: realizar ações de
54
intervenção em escolas; estimulação da atividade preventiva aos jovens nas
consultas de saúde infanto-juvenil e vacinação; estimulação da atividade
preventiva a mulheres em idade fértil durante consultas de planeamento familiar e
pré-concecional, e de saúde materna.
5.1.2. Divulgação da importância da deteção precoce e intervenções breves
5.1.2.1. No sentido de aumentar a motivação dos profissionais propõe-se a
promoção de atividades que visem: demonstrar a eficácia da deteção precoce e
intervenção breve na redução do consumo e dos problemas associados;
demonstrar que a redução dos consumos de álcool é uma prioridade nacional;
evidenciar que os profissionais dos Cuidados de Saúde Primários podem com
facilidade e de forma eficaz identificar e aconselhar os seus doentes; divulgar a
Rede de Referenciação / Articulação no âmbito dos CAD.
5.1.2.2. No sentido de aumentar a aptidão dos profissionais propõe-se: a
realização de ações formação em que seja abordada a eficácia das intervenções
breves na redução do consumo de álcool e das consequências a ele associadas
assim como a forma de funcionamento da Rede de Referenciação / Articulação;
5.1.2.3. No sentido de aumentar as oportunidades para implementar a
Identificação Precoce e a Intervenção Breve propõe-se: a inclusão do questionário
AUDIT no programa de registo clínico; a realização de atividades de divulgação
loco-regional no sentido de aumentar a consciencialização da população para o
problema; a fomentação de eventos relacionados com o álcool em que os
profissionais de saúde possam partilhar experiências; a divulgação aos
profissionais de feedback sobre o processo de implementação do Programa; a
distribuição de materiais de aconselhamento; a abertura de canais de
comunicação com serviços de apoio à prática clínica.
55
5.1.3. Formação dos profissionais no que respeita à deteção precoce e intervenções
breves
A formação a ministrar aos profissionais deve ser desenhada tendo em conta os
fundamentos da Teoria de Aprendizagem do Adulto e ter em conta as necessidades
por estes sentidas no sentido de incluir técnicas de modificação da prática clínica
adaptadas às necessidades. A formação deve incidir sobre todos os componentes do
comportamento definido no Capítulo III, ou seja, a Identificação Precoce, a Intervenção
Breve, o Acompanhamento e a Referenciação, promovendo a ligação com a Rede de
Referenciação / Articulação no âmbito dos CAD.
Tendo em conta o anteriormente exposto, propõe-se: o desenho de um programa
formativo adaptado às necessidades dos profissionais; a realização de atividades
formativas aos profissionais de saúde dos Cuidados de Saúde Primários.
5.1.4. Investigação que vise a melhoria da implementação destas práticas
A investigação na área do álcool assume um papel fundamental na Implementação
das boas práticas. A estratégia de investigação deve procurar dar resposta às
necessidades sentidas pelos profissionais, melhorar as ferramentas ao dispor do
profissional de saúde, e ao mesmo tempo procurar novas e melhores formas de
identificar e aconselhar o doente com consumos excessivos de álcool. Devem assim
ser elaboradas linhas de investigação que visem, por exemplo: a simplificação do
processo de Identificação Precoce e Intervenção Breve; a identificação de barreiras e
facilitadores à implementação destas práticas; o aperfeiçoamento de programas
formativos pré e pós-graduados na área do consumo de álcool.
A realização das atividades de investigação devem sempre que possível envolver os
profissionais dos Cuidados de Saúde Primários no terreno. Por outro lado, devem ser
estabelecidas ligações a faculdades ligadas à área da saúde, não só para o
aperfeiçoamento dos já referidos programas pré-graduados, mas também para
estimular o aumento da investigação clínica na área do álcool. Por fim, na linha da
56
participação de Portugal nos projetos ODHIN e BISTAIRS, deve ser estimulada a
continuidade da participação neste tipo de projetos.
5.1.5. Definição de um modelo de monitorização e suporte da implementação da
identificação precoce e intervenções breves
5.1.5.1. Modelo de monitorização
A avaliação do progresso de implementação do Programa depende de uma eficiente
monitorização do mesmo. Para esse efeito, é necessário que a equipa responsável
pela implementação e monitorização do Programa tenha acesso, em tempo real, a
indicadores que meçam a eficácia das medidas elencadas. Tendo em conta o modelo
que serve de base a este relatório, podemos dividir os indicadores a monitorizar em
indicadores de processo e indicadores de resultado. Por sua vez, podemos ainda
dividir os indicadores de resultado em indicadores de curto, médio e longo prazo
(Figura 6).
Os indicadores de processo estão relacionados com as atividades desenvolvidas e
que visam o aumento da implementação da Identificação Precoce e Intervenção
COMPORTAMENTO
Consumo excessivo
de álcool
PROBLEMA
DE
SAÚDE
PRÁTICA CLÍNICA
Identificação
Precoce e
Intervenção Breve
Figura 6 – Modelo integrado do Programa de Identificação Precoce e Intervenção
Breve com indicação do tipo de indicadores de monitorização
APTIDÃO
MOTIVAÇÃO
OPORTUNIDADE
Indicadores de
Processo
Indicadores de Resultado
Curto Prazo
Médio Prazo
Longo Prazo
57
Breve. São exemplos deste tipo de indicadores: o número de formações realizadas
aos profissionais de saúde, o número de ações de divulgação realizadas ou o número
de artigos científicos publicados no âmbito das atividades de investigação.
Já os indicadores de resultado podem ser divididos em três tipos:
1) Indicadores de curto prazo: são indicadores que medem o resultado direto
das medidas implementadas e de que são exemplo a taxa de identificação precoce, a
taxa de intervenções breves ou a taxa de referenciação;
2) Indicadores de médio prazo: são indicadores que medem a modificação do
comportamento por parte dos doentes com consumos excessivos de álcool que foram
aconselhados por um profissional de saúde dos Cuidados de Saúde Primários a
reduzir esse consumo. São exemplos deste tipo de indicador a taxa de doentes que
reduziu o consumo para os valores recomendados ou a magnitude dessa redução
medida através da pontuação do AUDIT-C;
3) Indicadores de longo prazo: são indicadores que medem a influência da
redução do consumo de álcool nas consequências em saúde e de que são exemplos a
proporção de diagnósticos de cirrose hepática ou taxa de internamento hospitalar por
causas ligadas ao consumo de álcool.
Se, por um lado, a medição dos indicadores de processo pode ser realizada pelos
Grupos de Trabalho e Acompanhamento que irão dar suporte à implementação do
Programa, a medição dos indicadores de resultado estão dependentes da inclusão de
sistemas de registo informático que estejam acessíveis a estes Grupos. A título de
exemplo, se o questionário AUDIT não estiver incluído no sistema de registo clínico
será impossível medir a taxa de identificação precoce. A escolha dos indicadores está
assim dependente das ferramentas que vierem a ser incluídas nos sistemas de registo
clínico.
58
5.1.5.2. Processo de contratualização de indicadores
O processo de contratualização de indicadores implica uma estreita articulação entre
as diferentes entidades envolvidas neste processo. Para este efeito são fundamentais
os contributos:
da ACSS no que respeita à construção e monitorização de indicadores
da SPMS no que respeita ao desenvolvimento de um sistema de registo que
seja simultaneamente adequado à prática clínica e que permita a
monitorização da implementação do Programa.
Os contributos destas entidades devem ser informados por contributos dos
profissionais de saúde dos Cuidados de Saúde Primários no sentido de se produzirem
instrumentos de registo aplicáveis à prática clínica.
Elencam-se de seguida as tarefas a realizar por cada uma destas identidades.
Tabela II - Tarefas a realizar pela ACSS
ID Descrição Quando
1
Criação de especificações técnicas transversais aos
softwares dos CSP e hospitalares para normalização dos
registos relacionados com o álcool, designadamente:
a) Questionário AUDIT (CSP e HOSP)
b) Questionário ASSIST (CSP e HOSP)
c) Registo de hábitos alcoólicos (CSP e HOSP)
d) Registo de hábitos de consumo de drogas (CSP e
HOSP)
e) Registo de referenciações para a rede (CSP)
f) Informação enviada na referenciação para a consulta
de comportamentos aditivos (CSP)
g) Informação enviada para a PDS (CSP)
Automatismos e alertas (CSP)
Fase de análise descrita na
proposta da SPMS "álcool
e outras sustâncias aditivas
- desenvolvimento do
SClinico"
59
2 Revisão dos indicadores já implementados na plataforma
SIM@SNS, relacionados com "álcool". Até Setembro de 2015
3
Construção de bilhetes de identidade para 10 novos
indicadores relacionados com "consumos de álcool". Apoio
aos desenvolvimentos e construção desses indicadores,
junto da SPMS, em articulação com a equipa responsável
pela plataforma SIM@SNS.
O início desta tarefa
ocorrerá após conclusão da
tarefa descrita no ID 1. A
existência de resultados de
indicadores só será
possível depois de a SPMS
ter feito o rollout nacional
dos serviços e
desenvolvimentos descritos
na proposta da SPMS
"álcool e outras sustâncias
aditivas - desenvolvimento
do SClinico"
4
Construção de um grupo de indicadores sobre
"comportamentos aditivos" que permita disponibilizar no
SIM@SNS, SIARS e MIM@UF, aos respetivos utilizadores,
os indicadores relacionados com estes tema, em separado
dos restantes.
2015
Os dez indicadores a construir (conforme indicado em ID 3) devem ter como propósito
dar resposta aos objetivos e eixos estratégicos enunciados no Capítulo IV. Para este
fim, propõem-se a construção dos seguintes indicadores:
1) Percentagem da população com menos de 18 anos de idade que já iniciou
consumo de bebidas alcoólicas
a) Numerador: número de indivíduos com menos de 18 anos de idade com pelo
menos um consumo de bebidas alcoólicas.
b) Denominador: todos os indivíduos com menos de 18 anos de idade.
60
2) Idade média de início do consumo de bebidas alcoólicas
a) Numerador: Idade em anos completos em que o indivíduo consumiu pela primeira
vez uma bebida alcoólica.
b) Numerador: Número total de indivíduos avaliados.
3) Prevalência de utentes adultos rastreados
a) a) Numerador: número de utentes com 18 ou mais anos de idade, com pelo menos
uma consulta presencial nos Cuidados de Saúde Primários nos últimos quatro anos, a
quem foi efetuado o questionário AUDIT.
b) Denominador: número total de utentes com 18 ou mais anos de idade, com pelo
menos uma consulta presencial nos Cuidados de Saúde Primários nos últimos quatro
anos.
4) Prevalência de abstinência de consumo de álcool no adulto
a) Numerador: número de utentes com 18 ou mais anos de idade, com pelo menos
uma consulta presencial nos Cuidados de Saúde Primários nos últimos quatro anos, a
quem foi efetuado o questionário AUDIT e que obtiveram 0 pontos.
b) Denominador: número total de utentes com 18 ou mais anos de idade, com pelo
menos uma consulta presencial nos Cuidados de Saúde Primários nos últimos quatro
anos, a quem foi efetuado o questionário AUDIT.
5) Prevalência de consumo de álcool de baixo risco acrescido no adulto
a) Numerador: número de utentes com 18 ou mais anos de idade, com pelo menos
uma consulta presencial nos Cuidados de Saúde Primários nos últimos quatro anos, a
quem foi efetuado o questionário AUDIT e que obtiveram entre 1 e 7 pontos, inclusive.
b) Denominador: número total de utentes com 18 ou mais anos de idade, com pelo
menos uma consulta presencial nos Cuidados de Saúde Primários nos últimos quatro
anos, a quem foi efetuado o questionário AUDIT.
6) Prevalência de consumo de risco de álcool no adulto
61
a) Numerador: número de utentes com 18 ou mais anos de idade, com pelo menos
uma consulta presencial nos Cuidados de Saúde Primários nos últimos quatro anos, a
quem foi efetuado o questionário AUDIT e que obtiveram entre 8 e 15 pontos inclusive.
b) Denominador: número total de utentes com 18 ou mais anos de idade, com pelo
menos uma consulta presencial nos Cuidados de Saúde Primários nos últimos quatro
anos, a quem foi efetuado o questionário AUDIT.
7) Prevalência de consumo nocivo de álcool no adulto
a) Numerador: número de utentes com 18 ou mais anos de idade, com pelo menos
uma consulta presencial nos Cuidados de Saúde Primários nos últimos quatro anos, a
quem foi efetuado o questionário AUDIT e que obtiveram entre 16 e 19 pontos,
inclusive.
b) Denominador: número total de utentes com 18 ou mais anos de idade, com pelo
menos uma consulta presencial nos Cuidados de Saúde Primários nos últimos quatro
anos, a quem foi efetuado o questionário AUDIT.
8) Prevalência de realização de intervenções breves
a) Numerador: número de utentes com 18 ou mais anos de idade, com pelo menos
uma consulta presencial nos Cuidados de Saúde Primários nos últimos quatro anos, a
quem foi efetuado o questionário AUDIT e que obtiveram entre 8 e 19 pontos, a quem
foi realizada uma intervenção breve.
b) número de utentes com 18 ou mais anos de idade, com pelo menos uma consulta
presencial nos Cuidados de Saúde Primários nos últimos quatro anos, a quem foi
efetuado o questionário AUDIT e que obtiveram entre 8 e 19 pontos.
9) Prevalência de provável dependência de álcool no adulto
a) Numerador: número de utentes com 18 ou mais anos de idade, com pelo menos
uma consulta presencial nos Cuidados de Saúde Primários nos últimos quatro anos, a
quem foi efetuado o questionário AUDIT e que obtiveram 20 ou mais pontos.
62
b) Denominador: número total de utentes com 18 ou mais anos de idade, com pelo
menos uma consulta presencial nos Cuidados de Saúde Primários nos últimos quatro
anos, a quem foi efetuado o questionário AUDIT.
10) Prevalência de referenciação a consulta especializada
a) Numerador: número de utentes com 18 ou mais anos de idade, com pelo menos
uma consulta presencial nos Cuidados de Saúde Primários nos últimos quatro anos, a
quem foi efetuado o questionário AUDIT e que obtiveram 20 ou mais pontos, e que
foram referenciados a uma consulta especializada em alcoologia.
b) Denominador: número de utentes com 18 ou mais anos de idade, com pelo menos
uma consulta presencial nos Cuidados de Saúde Primários nos últimos quatro anos, a
quem foi efetuado o questionário AUDIT e que obtiveram 20 ou mais pontos.
Tarefas a realizar pela SPMS
Criação de dois formulários correspondente aos questionários AUDIT e
ASSIST;
Desenvolvimentos/ajustes no SClínico de forma a potenciar a realização da
Consulta Oportunista no âmbito da prevenção no consumo de álcool e outras
substâncias aditivas (possibilidade de saber quando foram questionados os
hábitos alcoólicos pela última vez; acesso aos questionários AUDIT e ASSIST;
incorporação dos campos de registos necessários à produção dos indicadores
previstos e que ainda não existam);
Possibilidade de o médico de família, /de internamento/de consulta externa, de
o enfermeiro ou outro profissional de saúde realizar uma Intervenção Breve ou
encaminhar o utente para cuidados de saúde especializados (Referenciação
Externa), de acordo com o resultado/pontuação do(s) questionário(s);
Integração bilateral do SClínico CSP e Hospitalar com o SIM - Sistema de
Informação Multidisciplinar (SICAD), de acordo com o resultado/pontuação do
63
questionário (referenciação externa semelhante à já existente para o CTH ou
SISO; retorno de informação aos CSP).
Partilha de informação entre profissionais no SClínico (e.g. médico e
enfermeiro) e acesso multiprofissional;
Possibilidade dos médicos, enfermeiros e psicólogos clínicos dos Centros de
Respostas Integradas acederem, através do SIM, à informação clínica da
consulta oportunista e fichas dos formulários AUDIT e ASSIST, através do PCE
do SClínico, via PDS-PP (Plataforma de Dados da Saúde – Portal do
Profissional;
Disponibilização de dez indicadores na plataforma SIM@SNS, em área a
definir (programa de saúde de comportamentos aditivos e dependências) e
relatórios de suporte a esses mesmos indicadores.
Os desenvolvimentos propostos pretendem dar resposta às necessidades de
intervenção, bem como colocar à disposição dos profissionais de saúde os
instrumentos e meio necessários ao sucesso da intervenção e o seu correto registo. A
jusante pretende-se obter indicadores que permitam às entidades reguladoras e ao
Ministério da Saúde conhecer a realidade nacional relacionada com esta problemática.
Em anexo neste documento podem ser consultadas as fases de planeamento e
execução das tarefas a realizar pela SPMS.
5.1.5.3. Processo de implementação
Seleção
Não obstante outras metodologias que possam ser utilizadas por cada Administração
Regional de Saúde, I.P (ARS,I.P.), considera-se que a seleção geo-institucional
poderá ser o ponto de partida para cada (ARS,I.P.) determinar quais as áreas
64
geográficas em que a intervenção é mais premente e, consequentemente, mobilizar os
respetivos Agrupamentos de Centros de Saúde (ACES) a implementar o Programa de
uma forma progressiva.
Neste âmbito, importa estabelecer critérios de seleção que, através da aplicação de
um algoritmo de cruzamento de diferentes variáveis, hierarquize as áreas geográficas.
Estes critérios são de natureza diversa e podem ser perspetivados em dois fatores:
quer pela Ocorrência de Problemas Ligados ao Álcool (PLA) - Fator1 (F1.), quer com a
Capacidade de Resposta - Fator 2 (F2.) das unidades existentes, que se estruturam a
dois níveis, sendo o cruzamento destes dois elementos que determinará a medida
pela qual estarão melhor garantidas as condições para apurar o grau de prioridade
para a implementação do Programa.
Concretamente, a operacionalização da priorização e da ponderação dos critérios é
determinada através de um processo de consenso do painel de peritos envolvidos, a
quem é solicitada a análise crítica dos mesmos, para depois atingir um consenso
sobre a sua ponderação.
Baseada na dicotomia destes dois Fatores (F1. e F2.) e das respetivas Dimensões,
elaborou-se uma tabela que procura sistematizar o conjunto de critérios a considerar
no processo de seleção das áreas geográficas onde implementar o Programa,
especificando a respetiva fundamentação e designando os valores de referência e as
fontes bibliográficas para o efeito.
Assim, a seleção basear-se-á nos dois Fatores referidos, sendo que cada um deles
contribuirá, na proporção a determinar por cada região, para o apuramento do valor
final, que permitirá a hierarquização dos ACES.
O F1. Ocorrência de PLA é composta por quatro Dimensões:
D1. Etapas do Ciclo de Vida
D2. Níveis/ Padrões de Consumo
D3. Impacto dos PLA
65
A ponderação do grau com que cada uma destas Dimensões representa e caracteriza
o F1 - Ocorrência de PLA deverá ser consensualizada do seguinte modo:
A Dimensão caracteriza/ representa o Fator 1 - Ocorrência de PLA Ponderação
De forma fraca 1
De forma média 2
De forma forte 3
Por sua vez, para cada um dos critérios que compõem as Dimensões, está definida
uma pontuação, segundo uma escala dicotómica, em que:
Verificação da Existência do Critério Pontuação
Não se verifica para a área geográfica em causa 0
Verifica -se para a área geográfica em causa 1
De igual modo, o grau pelo qual estes Critérios contribuem para a representação e
conhecimento do fenómeno subjacente à Dimensão em que se inserem, terá de ser
também consensualizado segundo as seguintes ponderações:
O Critério tem representação da Dimensão Ponderação
Fraca 1
Média 2
Forte 3
No âmbito do Fator 2 – Capacidade de Resposta podemos considerar também cinco
Dimensões como:
D4. Formação dos profissionais;
D5. Disponibilização de especialistas de apoio aos profissionais;
66
D6. Disponibilização de fundos;
D7. Capacidade instalada;
D8. Vigilância em Saúde Materna
Da mesma forma, deverá ser consensualizada a ponderação do grau com que cada
uma destas Dimensões representa e caracteriza F2 – Capacidade de Resposta:
A Dimensão caracteriza/ representa o Fator 2 – Capacidade de
Resposta Ponderação
De forma fraca 1
De forma média 2
De forma forte 3
Ao nível de F2 – Capacidade de Resposta só existem Dimensões a que está
associado um único Critério, igualmente a ser pontuado segundo uma escala
dicotómica em que:
Verificação da Existência do Critério Pontuação
Não se verifica para o ACES da Região em causa 0
Verifica -se para o ACES da Região em causa 1
No final terá que se somar o valor obtido em cada uma das Dimensões do qual
resultará uma nota final que permitirá hierarquizar os ACES de acordo com o objetivo
pretendido, da sua elegibilidade enquanto à sua seleção para a realização da
experiência piloto.
67
Tabela III: Critérios a considerar no processo de seleção
FATOR DIMENSÃO /
FUNDAMENTAÇÃO CRITÉRIO VALOR REFERÊNCIA / FONTE
[F1]
Ocorrência
de PLA
[D1] Etapa do ciclo
de vida28
[D1.C1] Estruturas que correspondam a territórios com
prevalência de consumo de alguma bebida alcoólica, nos
últimos 12 meses, igual ou acima da % nacional
% Nacional População total (15-64 anos): 61,1% [Relatório
Anual 2013 – A situação do país em matéria de álcool:
Balsa et al. (2014) / SICAD, Figura 3., p. 25]
Dados regionais no Anexo 1 Quadro 3. (Relatório, p.81)
[D1.C2] Estruturas que correspondam a territórios com
prevalência de consumos recentes, 15-64 anos, igual ou
acima da % nacional
% Nacional População total (15-64 anos): 10,8% [Relatório
Anual 2013 – A situação do país em matéria de álcool:
Balsa et al. (2014) /SICAD, Figura 4, p.26]
Dados regionais no Anexo 1 Quadro 4. (Relatório, p.82)
[D2] Níveis /
Padrão de
consumo
[D2.C3] Estruturas que correspondam a territórios com
prevalência de consumo binge nos últimos 12 meses igual
ou acima da prevalência nacional, segundo a Região
[D2.C4] Estruturas que correspondam a territórios com
prevalência de embriaguez nos últimos 12 meses igual ou
acima da prevalência nacional, segundo a Região
Prevalência de Consumo binge nos Últimos 12 Meses:
12,1%
Prevalência de Embriaguez nos Últimos 12 Meses,
segundo a Região: 13,4%
[Relatório Anual 2013 – A situação do país em matéria de
álcool: Balsa et al. (2014) / SICAD (dados não publicados)]
28 http://www.apmgf.pt/ficheiros/%C3%81lcool%20e%20Cuidados%20de%20Sa%C3%BAde%20Prim%C3%A1rios.pdf
68
FATOR DIMENSÃO /
FUNDAMENTAÇÃO CRITÉRIO VALOR REFERÊNCIA / FONTE
[D3] Impacto do
consumo29
[D3.C5] Estruturas que correspondam a territórios com % de
internamentos hospitalares por causas 100% atribuíveis ao
consumo de álcool, no total de internamentos, igual ou
acima da % nacional
% Nacional de internamentos hospitalares por causas
100% atribuíveis ao consumo de álcool no total de
internamentos: 0,25% [Relatório Anual 2013 – A situação
do país em matéria de álcool: DGS/ACSS, IP: População
Geral, Portugal Continental, Quadro 44., p. 113]
Dados regionais no Anexo 1 Quadro 44. (Relatório, p.113)
[D3.C6] Estruturas que correspondam a territórios com taxa
de mortalidade padronizada por doenças atribuíveis ao
álcool, igual ou acima da taxa nacional
Taxa de mortalidade padronizada, por 100 000 habitantes
para todas as idades, por doenças atribuíveis ao álcool:
17,2%000 [Relatório Anual 2013 – A situação do país em
matéria de álcool: INE, 2014, Quadro 4, p.55]
Dados regionais no Anexo 1 Quadro 55. (Relatório, p.119
[D3.C7] Estruturas que correspondam a territórios com taxa
de anos potenciais de vida perdidos por doenças atribuíveis
ao álcool, igual ou acima da taxa nacional
Taxa de anos potenciais de vida perdidos por doenças
atribuíveis ao álcool: 231,5%000 [Relatório Anual 2013 – A
situação do país em matéria de álcool; INE, 2012, Quadro
4, p.55]
Dados regionais no Anexo 1 Quadro 58. (Relatório, p.121)
29 http://www.apmgf.pt/ficheiros/%C3%81lcool%20e%20Cuidados%20de%20Sa%C3%BAde%20Prim%C3%A1rios.pdf e
http://www.who.int/violence_injury_prevention/violence/alcohol.pdf
69
FATOR DIMENSÃO /
FUNDAMENTAÇÃO CRITÉRIO VALOR REFERÊNCIA / FONTE
[D3.C8] Estruturas que correspondam a territórios com
maior proporção de novos utentes em tratamento, em
relação à população do território, prevista na respetiva
Portaria do ACES
N.º de novos utentes em tratamento a nível nacional:
3.403 [Relatório Anual 2013 – A situação do país em
matéria de álcool, SICAD, Quadro 34, p.100]
Dados concelhios no Anexo 1 Quadro 35. (Relatório, p.101
a 106)
[D3.C9] Estruturas que correspondam a territórios com
maior proporção de utentes ≥14anos, com quantificação dos
hábitos alcoólicos nos últimos 3 anos
[Código 5.27 - Metodologia de contratualização para os
cuidados de saúde primários no ano de 2015,
correspondente ao ID 53 no Bilhete de identidade dos
indicadores de monitorização dos CSP: ACSS]
[D3.C10] Estruturas que correspondam a territórios com
maior proporção de utentes com idade ≥ a 14 anos e com
hábitos alcoólicos a quem foi realizada consulta relacionada
com alcoolismo nos últimos 3 anos
[Código 6.29 - Metodologia de contratualização para os
cuidados de saúde primários no ano de 2015,
correspondente ao ID 54 no Bilhete de identidade dos
indicadores de monitorização dos CSP: ACSS]
[D3.C11] Estruturas que correspondam a territórios em que
se verifique uma % de PLA no total de casos de violência
doméstica, igual ou acima da média nacional
Média nacional de PLA relacionados com o álcool no total
de casos de violência doméstica: 41,2%
[Relatório Anual 2013 – A situação do país em matéria de
álcool: DGPJ/Estatísticas Oficiais da Justiça / SICAD,
Figura 43, p.65]
Dados distritais no Anexo 1 Quadro 69 (Relatório, p.130.)
70
FATOR DIMENSÃO /
FUNDAMENTAÇÃO CRITÉRIO VALOR REFERÊNCIA / FONTE
[F2]
Capacidade
de resposta
[D4] Formação e
preparação de
profissionais30
[D4.C12] Estruturas que correspondam a territórios em que
se verifique a capacitação dos profissionais
Levantamento dos profissionais com formação em deteção
precoce e intervenções breves em CSP
[D5]
Disponibilização de
especialistas de
apoio aos
profissionais31
[D.5.C.13] Estruturas que correspondam a territórios em que
se verifique a existência e/ou articulação com profissionais
da especialidade
Análise da existência de articulação com profissionais da
especialidade
[D6]
Disponibilização de
fundos32
[D6.C14] Estruturas que tenham realizado investimento
prévio na implementação de deteção precoce e
Intervenções Breves
Levantamento do investimento realizado
[D7] Capacidade
instalada
[D7.C15] Especificidades loco-regionais
A especificar posteriormente, de acordo com a informação
das ARS,I.P.
30 http://amphoraproject.net/w2box/data/e-book/AM_E-BOOK_2nd%20edition%20-%20final%20Sept%202013_c.pdf, http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4147417/ e
http://www.sicad.pt/BK/EstatisticaInvestigacao/EstudosConcluidos/Lists/SICAD_ESTUDOS/Attachments/139/Monografia.pdf
31 http://www.apmgf.pt/ficheiros/%C3%81lcool%20e%20Cuidados%20de%20Sa%C3%BAde%20Prim%C3%A1rios.pdf
32 http://amphoraproject.net/w2box/data/e-book/AM_E-BOOK_2nd%20edition%20-%20final%20Sept%202013_c.pdf
71
FATOR DIMENSÃO /
FUNDAMENTAÇÃO CRITÉRIO VALOR REFERÊNCIA / FONTE
[D8] Vigilância em
saúde materna
[D8.C16] Estruturas que correspondam a territórios com
maior proporção de grávidas com 1ª consulta médica de
vigilância da gravidez, realizada no 1º trimestre e,
concomitantemente, com maior proporção de grávidas com
6 ou mais consultas de enfermagem em saúde materna
[Códigos 6.09.01 e 6.26.01- Metodologia de
contratualização para os cuidados de saúde primários no
ano de 2015, correspondentes ao ID 11 e ID 12 no Bilhete
de identidade dos indicadores de monitorização dos CSP:
ACSS]
73
CAPÍTULO VI
GOVERNAÇÃO E ESTRUTURA
EXECUTIVA PARA CSP
75
VI. Governação e Estrutura Executiva para CSP
De acordo com os princípios subjacentes ao Despacho que lhe dá origem, o modelo e
estrutura de governação deverá orientar-se pela promoção dos ganhos em saúde em
matéria de álcool que o Programa visa desenvolver. Para esse efeito, no seu
delineamento são contempladas as ações das estruturas de coordenação, que aos
diferentes níveis, e de acordo com as competências que legalmente lhe estão
conferidas, poderão sustentar efetivamente a consecução dos objetivos assistenciais
propostos para esta iniciativa. É assim, no âmbito deste quadro estruturante da
planificação e execução das políticas e respostas em matéria de comportamentos
aditivos e dependências, que mais eficientemente poderão ser estabelecidas as
sinergias e as articulações entre as diferentes entidades participantes no Programa,
garantindo-se dessa forma a potenciação da eficácia e da qualidade das intervenções
nele preconizadas.
A implementação do presente Programa na área do álcool implica a execução de
várias atividades: fomento de atividades preventivas; divulgação da importância do
problema do consumo de álcool e da necessidade de efetuar intervenção nesta área;
formação dos profissionais no terreno; prestação de apoio continuado a esses
profissionais; desenho e execução de projetos de investigação; divulgação dos
resultados obtidos nestes projetos; e monitorização do processo de implementação do
programa. Assim, o cumprimento de todas as atividades exige necessariamente a
constituição de equipas de profissionais cujas competências permitam realizar as
tarefas inerentes a cada atividade.
Considerando que este Programa, na sua vertente relacionada com o consumo de
Álcool, se constitui como componente da Rede de Referenciação/Articulação para os
CAD (aprovada por Sua Excelência o Secretário de Estado Adjunto do Ministro da
Saúde), toda a sua atividade deverá alinhar-se com o previsto para a sua
implementação e acompanhamento (conforme documento Plano de Implementação e
Acompanhamento da Rede de Referenciação/Articulação no âmbito dos CAD, em
Anexo IV).
76
Neste sentido, propõem-se a seguinte estrutura de governação e execução do
programa de deteção e intervenções breves no consumo de álcool;
1. O programa de deteção precoce e intervenções breves no âmbito do
consumo excessivo de álcool desenvolver-se-á sob a égide do
Coordenador Nacional para os Problemas da Droga, das
Toxicodependências e do uso Nocivo do Álcool33, coadjuvado pela
Coordenação34 da Rede de Referenciação / Articulação no âmbito dos
Comportamentos Aditivos e das Dependências.
2. A nível Regional e no âmbito dos CSP, deve ser designado pelo
Presidente do Conselho Diretivo de cada Administração Regional de
Saúde, de entre os seus profissionais, um elemento de referência do
programa, a quem competirá articular com o Coordenador da DICAD, na
sua qualidade de responsável pela implementação da Rede de
Referenciação/Articulação no âmbito dos CAD, o desenvolvimento deste
programa.
3. De acordo com as especificidades loco-regionais deverá ser constituído
um Grupo de Trabalho e de Acompanhamento, o qual sob orientação do
elemento de referência do programa, garanta a sua implementação, no
âmbito regional, de forma integrada com o desenvolvimento da Rede de
Referenciação/Articulação no âmbito dos CAD.
A nível local, a governação do programa implica, ainda, o compromisso dos Diretores
Executivos dos ACES e a responsabilização dos Conselhos Clínicos e de Saúde pela
gestão do programa no respetivo ACES.
33
Que é, por inerência de funções, o Diretor-Geral do SICAD.
34 Diretor da Direção de Serviços de Planeamento e Intervenção do SICAD.
77
O Grupo de Trabalho e Acompanhamento deve executar o presente programa tendo
em conta os seus eixos estratégicos. Assim compete-lhe:
a) Promover, em consonância com o Plano de Atividades da ARS,I.P., práticas de
prevenção universal do consumo excessivo de álcool, ao nível dos Cuidados
de Saúde Primários;
b) Desenvolver, em consonância com o Plano de Atividades da ARS,I.P.,
iniciativas visando a promoção de práticas de prevenção indicada e seletiva
dirigidas a grupos de risco específicos, como é o caso dos jovens e das
grávidas;
c) Promover o estabelecimento de parcerias a nível regional, com entidades
governamentais e não-governamentais, no âmbito do programa;
d) Promover a realização de atividades que visem aumentar a consciencialização
dos profissionais dos Cuidados de Saúde Primários sobre a importância de
implementar a prática da deteção precoce e intervenções breves para o
consumo de álcool;
e) Desenhar, de acordo com o preconizado no Plano de Implementação e de
Acompanhamento da Rede de Referenciação, um programa de formação sobre
deteção precoce e intervenção breve no consumo do álcool, dirigido aos
profissionais dos Cuidados de Saúde Primários;
f) Promover a realização de ações de formação aos profissionais dos Cuidados
de Saúde Primários tendo por base o programa formativo desenhado;
g) Avaliar a qualidade do programa formativo, tendo em vista a melhoria contínua
do mesmo;
h) Desenhar, desenvolver e/ou integrar projetos de investigação na área do
álcool, ou em áreas com ele relacionadas, tanto a nível nacional como
internacional;
i) Promover a divulgação dos resultados dos projetos de investigação;
j) Promover a integração dos resultados dos projetos de investigação no
processo de implementação deste programa;
k) Dar apoio às equipas de saúde no terreno visando a implementação da
deteção precoce e intervenções breves para o consumo de álcool;
78
l) Acompanhar o processo de implementação do programa a nível regional
através da monitorização dos indicadores propostos para o efeito;
m) Propor à respetiva Administração Regional de Saúde as medidas consideradas
necessárias para o desenvolvimento do programa.
79
CAPÍTULO VII
CONCLUSÃO E
RECOMENDAÇÕES GERAIS
81
VII. Conclusão e Recomendações Gerais
1. O desenvolvimento do presente programa deverá acompanhar a
implementação da Rede de Referenciação/Articulação no âmbito dos
CAD, sendo parte integrante da mesma, assegurando-se, desta forma, a
sua exequibilidade e sucesso.
2. Por forma a garantir, quer a execução deste programa quer as inúmeras
atribuições que lhe estão acometidas no âmbito dos CAD, importa
adequar a natureza da estrutura das DICAD a Unidade Orgânica
correspondente a nível de Departamento / Direção de Serviço,
assegurando ainda, nos casos em que se revele necessário, a criação
de unidades orgânicas correspondente a nível de Divisão.
3. O início das atividades deste Programa deverá integrar a experiência
piloto da Rede de Referenciação/ Articulação no âmbito dos CAD,
prevista no Plano de Implementação e Acompanhamento da referida
Rede de Referenciação/Articulação.
Atendendo à relevância, premência e complexidade da implementação do
programa de deteção precoce do consumo excessivo de álcool, nos
Cuidados de Saúde Primários, a nível nacional, poderá justificar-se o apoio
técnico - científico sobre a forma de consultadoria.
83
CAPÍTULO VIII
RESUMO DAS PROPOSTAS E
PLANO DE AÇÃO SUMÁRIO COM
CRONOGRAMA
85
Tabela VIII. - Resumo das propostas e plano de ação sumário com cronograma
OBJETIVOS MEDIDAS PROPOSTAS ATIVIDADES/PROCEDIMENTOS ENTIDADE
RESPONSÁVEL CALENDARIZAÇÃO
[OG1] Melhorar a
abordagem ao utente com
consumo excessivo de
álcool pelos profissionais
dos CSP
[OG2] Reduzir o consumo
excessivo de álcool dos
utentes dos CSP
[OG3] Reduzir as
consequências físicas,
psicológicas, sociais e
familiares associadas aos
problemas ligados ao
consumo do álcool nos
utentes dos CSP
[1] Promoção de práticas de
prevenção do consumo
excessivo de álcool, com
particular atenção para
grupos de risco
[1.1.] Realização de atividades, no sentido de aumentar a motivação dos
profissionais que: demonstrem a importância da prevenção primária do
consumo de álcool em termos de ganhos em saúde; demonstrem o
papel fundamental dos CSP enquanto agentes de prevenção primária
nesta área.
ULS/ACES 2015-2020
[1.2.] Realização de cursos de abordagem ao adolescente, no sentido
de aumentar a aptidão dos profissionais SICAD/DICAD 2016 - 2017
[1.3.] Realização de ações de intervenção em escolas, no sentido de
aumentar as oportunidades para implementar a Identificação Precoce e
a Intervenção Breve; estimulação da atividade preventiva aos jovens
nas consultas de Saúde Infanto-Juvenil e vacinação; estimulação da
atividade preventiva a mulheres em idade fértil durante consultas de
planeamento familiar e pré-concecional, e de saúde materna
ULS/ACES 2015-2020
[2] Divulgação da
importância da deteção
precoce e intervenções
breves
[2.1.] Promoção de atividades que visem: demonstrar a eficácia da
deteção precoce e intervenção breve na redução do consumo e dos
problemas associados; demonstrar que a redução dos consumos de
álcool é uma prioridade nacional; evidenciar que os profissionais dos
CSP podem com facilidade e de forma eficaz identificar e aconselhar os
seus doentes; divulgar a Rede de Referenciação / Articulação no âmbito
dos CAD
SICAD/ARS –
DICAD/ACES 2015-2020
86
OBJETIVOS MEDIDAS PROPOSTAS ATIVIDADES/PROCEDIMENTOS ENTIDADE
RESPONSÁVEL CALENDARIZAÇÃO
[2.2.] Realização de ações formação em que sejam abordadas a eficácia
das intervenções breves na redução do consumo de álcool e das
consequências a ele associadas assim como a forma de funcionamento
da Rede de Referenciação / Articulação no âmbito dos CAD
SICAD/ARS – DICAD/
ACES 2015-2020
[2.3.] Inclusão do questionário AUDIT no programa de registo clínico; a
realização de atividades de divulgação loco-regional no sentido de
aumentar a consciencialização da população para o problema; a
fomentação de eventos relacionados com o álcool em que os
profissionais de saúde possam partilhar experiências; a divulgação aos
profissionais de feedback sobre o processo de implementação do
Programa; a distribuição de materiais de aconselhamento; a abertura de
canais de comunicação com serviços de apoio à prática clínica.
SICAD/SPMS/ARS –
DICAD/ACES 2015
[3] Formação dos
profissionais no que
respeita à deteção precoce
e intervenções breves
[3.1.] Desenho de um programa formativo adaptado às necessidades
dos profissionais e que contemple as ações já pré-determinadas em
[1.2.] e [2.2.].
SICAD/DICAD 2015-2016
[3.2.] Realização de atividades formativas aos profissionais de saúde
dos CSP SICAD/DICAD/ACES 2016-2017
[4] Investigação que vise a
melhoria da implementação
destas práticas
[4.1.] Elaboração de linhas de investigação que visem, por exemplo: a
simplificação do processo de Identificação Precoce e Intervenção Breve;
a identificação de barreiras e facilitadores à implementação destas
práticas; o aperfeiçoamento de programas formativos pré e pós-
graduados na área do consumo de álcool
SICAD/ARS –
DICAD/ACES/Outras
Entidades
(Universidades)
2016-2020
[5] Definição de um modelo [5.1.] Produção de Indicadores e respetivos BI ACSS/SPMS/SICAD/ 2015
87
OBJETIVOS MEDIDAS PROPOSTAS ATIVIDADES/PROCEDIMENTOS ENTIDADE
RESPONSÁVEL CALENDARIZAÇÃO
de monitorização e suporte
da implementação da
identificação precoce e
intervenções breves
[5.2.] Articulação das interfaces entre os Sistemas de Registo Clínico
SIM/SClinico
ARS – ACES/DICAD 2015
[5.3.] Recolha e análise de dados 2016-2020
[5.4.] Feedback da informação às entidades envolvidas no programa 2016-2020
[5.5.] Contratualização de indicadores ACSS/ARS – ACES 2016 - 2020
[6] Implementação do
Programa
[6.1.] Seleção geo-institucional ARS – DICAD/ACES 2015
[6.2.] Designação do elemento de referência do Programa (regional) ARS – DICAD/ACES 2015
[6.3.] Criação do Grupo de Trabalho e de Acompanhamento (regional) ARS – DICAD/ACES 2015
[6.4] Acompanhamento e Avaliação da Implementação SICAD/ARS - DICAD 2015-2020
[7] Adaptação dos Sistemas
de informação de Suporte
[7.1.] Definição dos requisitos a garantir nos Sistemas de informação SICAD/DGS/SPMS 2015
[7.2.] Adaptação dos Sistemas de informação
Fornecedores de
Software /
SICAD/DGS
2016
[7.3.] Implementação das alterações nas Instituições dos CSP Fornecedores de
Software / DGS
2016
88
89
CAPÍTULO IX
REFLEXÕES FINAIS
91
IX. Reflexões finais
O presente relatório apresenta o trabalho desenvolvido pelo Grupo de Trabalho
constituído através do Despacho n.º 3802/2015 - Diário da República n.º 74/2015 de
Sua Excelência o Secretário de Estado Adjunto do Ministro da Saúde, com o objetivo
de proceder ao desenvolvimento de um conjunto de medidas relativas à
implementação, nos Cuidados de Saúde Primários (CSP), de um programa de
deteção precoce e intervenções breves dirigido ao consumo excessivo de álcool e ao
consumo de tabaco, a nível nacional.
Os Cuidados de Saúde Primários surgem naturalmente como o local ideal para a
prevenção do consumo destas substâncias dada a sua elevada prevalência na
população, aliada ao elevado número de contactos com este serviço de saúde. Estes
pressupostos fazem deste nível de cuidados a pedra basilar na redução da
morbimortalidade associada a estas substâncias. A implementação deste programa ao
nível da prestação de cuidados de saúde e em particular dos Cuidados de Saúde
Primários é geradora de ganhos em saúde. O sucesso desta abordagem em Cuidados
de Saúde Primários será essencial para o desenvolvimento de uma Rede de
referenciação robusta e eficaz. Com efeito a importância desta matéria pode vir a
reforçar a necessidade da aplicação da deteção precoce e intervenções breves
noutros contextos como ao nível da Saúde Ocupacional, do Serviço Social, das Forças
Militares e de Segurança, do Sistema Judicial e do Sistema Educativo. A mudança de
comportamentos para estilos de vida saudáveis e a prevenção constituem uma
necessidade imperiosa em todos os Planos ligados à Saúde focado nos
92
Determinantes de Saúde Pública e onde a deteção precoce e intervenções breves
poderão ter um papel primordial no bem-estar e qualidade de vida das populações.
93
ANEXOS
95
Anexo I a) b) c) d) – Documentos da ACSS de suporte para a construção e
monitorização de indicadores.
Anexo II – Documentos da SPMS proposta para o desenvolvimento do módulo
de suporte à intervenção clínica de apoio à prevenção no consumo de álcool e
outras substâncias aditivas.
Anexo III – Documentos da SPMS proposta para o desenvolvimento do
módulo de suporte à intervenção clínica de apoio à Cessação Tabágica.
Anexo IV – Plano de Implementação e de Acompanhamento da Rede de
Referenciação/Articulação no âmbito dos comportamentos Aditivos e
das Dependências.
96