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Relatório Final de Estágio
Profissionalizante Mestrado Integrado em Medicina
Faculdade de Ciências Médicas Universidade Nova de Lisboa
Rita Liliana Claro dos Santos
FCM-UNL 2013-2014 Aluna nº 2007040
Índice
Introduçao………………………………………………………………………………………………..3
Actividades desenvolvidas
Estágio parcelar de Medicina Geral e Familiar……………………………………………..3
Estágio parcelar de Pediatria………………………………………………………………….4
Estágio parcelar de Ginecologia e Obstetrícia………………………………………………5
Estágio de Saúde Mental………………………………………………………………………5
Estágio de Medicina Interna……………………………………………………………………6
Estágio de Cirurgia Geral………………………………………………………………………6
Outras actividades………………………………………………………………………………6
Reflexão crítica final…………………………………………………………………………………….7
Anexos………………………………………………………………………………………………….11
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INTRODUÇÃO
“Now this is not the end. It is not even the beginning of the end. But it is, perhaps, the end of
the beginning.” Winston Churchill
O presente relatório tem como intuito caracterizar o Estágio Profissionalizante em termos
da sua estrutura, objectivos gerais, especificidades dos estágios parcelares e, em último lugar,
efectuar uma reflexão crítica sobre estes tópicos.
Tendo como objectivo global a formação do médico pluripotencial, o EP é organizado
numa sequência de estágios clínicos parcelares. Os objectivos gerais consistem em:
1. Integração de conhecimentos, adquiridos ao longo da formação pré-graduada, num
raciocínio coeso e completo com vista à Saúde.
2. Aquisição progressiva de autonomia através da prática supervisionada.
3. Confronto do futuro médico com situações práticas potencialmente difíceis de gerir,
num ambiente protegido, e pesquisa de bibliografia baseada na evidência que
proponha soluções.
Concluirei o relatório com uma reflexão sobre o EP. Em anexo, clarifico as siglas utilizadas
e nomeio a bibliografia consultada.
Estágio de Medicina Geral e Familiar
O estágio de MGF decorreu durante 4 semanas: de 16 a 27 de Setembro de 2013,
estagiei na USF Marginal, em S. João do Estoril – estágio urbano – com o Dr. João Ramires;
de 30 de Setembro a 11 de Outubro de 2013 estagiei na USF Rosinha, na Amora – estágio
rural – com a Dra. Muriel Vieira. Participei nas consultas dos meus tutores, tendo
acompanhado o papel do médico especialista em MGF como um gestor de cuidados de
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saúde: acompanha de forma acessível os seus utentes, em diversas fases da vida, cuida da
doença já estabelecida, previne patologias e promove a saúde. Destaco, de entre os
objectivos pessoais e da UC: identificação de situações passíveis de desencadear conflito na
relação médico-doente e a abordagem sistémica baseada na pessoa.
Estágio de Pediatria
O estágio de Pediatria decorreu entre 14 de Outubro e 8 de Novembro de 2013, sob
regência do Professor Dr. Luís Varandas e orientação do Dr. João Neves, na Unidade de
Cuidados Intensivos Pediátricos do HDE. Caracterizou-se por um componente
essencialmente observacional na UCIP, Consulta de Imunodeficiências Primárias, SU, Serviço
de Pediatria Médica Geral, Reuniões de Serviço, Sessões Clínicas e apresentação de
Seminários pelos alunos de 6º ano.
Em termos dos objectivos estabelecidos, considerei que era fulcral uma consolidação
de conhecimentos e competências adquiridos previamente, no sentido de preparar o IAC,
objectivo este que ia de encontro aos objectivos apresentados pela UC. Outro dos meus
objectivos era contactar com a Medicina Intensiva, área com a qual existe pouco contacto
durante a formação pré-graduada, tendo sido um privilégio assistir ao nível de cuidados
altamente diferenciados.
Estágio de Ginecologia e Obstetrícia
O meu estágio profissionalizante de Obstetrícia e Ginecologia teve lugar na MAC,
durante o período de 4 semanas que decorreu entre 11 de Novembro e 6 de Dezembro.
Integrei equitativamente os serviços de Ginecologia (sob orientação da Dra. Sara Rocha) e de
Obstetrícia (sob orientação da Dra. Luísa Martins e da Dra. Vanessa Rosado). Participei na
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Consulta de Alto Risco, DPN, Enfermaria Materno-Fetal, Consulta de Diabetes Gestacional,
Serviço de Senologia, BO, Consulta de Ginecologia Geral, Internamento de Ginecologia, SU -
um dia por semana em turnos de 12 horas -, Sessões Clínicas e Seminários apresentados
pelos alunos. As actividades realizadas tiveram tanto um componente observacional como um
componente semi-autónomo supervisionado, indo de encontro aos objectivos globais do
Estágio Profissionalizante.
Estágio de Saúde Mental
O meu estágio profissionalizante de Saúde Mental teve lugar no Serviço de Psiquiatria
da Infância e Adolescência do HSFX, sob orientação da Dra. Georgina Maia, e regência do
Professor Dr. Miguel Xavier. Decorreu durante um período de 4 semanas que decorreu entre
9 de Dezembro de 2013 e 17 de Janeiro de 2014, tendo a avaliação final tido lugar no último
dia. O estágio teve início com uma formação teórico-prática dada pelo Professor Dr. Miguel
Xavier na Faculdade de Ciências Médicas. Durante o restante período, acompanhei a minha
tutora nas actividades de consulta e reuniões semanais com a equipa do HSFX e Hospital de
Cascais. Os principais objectivos propostos pela UC consistiam em: 1) aquisição, maturação e
integração de conhecimentos e aptidões de diagnóstico e intervenção clínica em Psiquiatria,
2) contacto com actividades de investigação, 3) experiência de trabalho integrado numa
equipa multidisciplinar e 4) sensibilização para aspectos de Saúde Pública e organização de
Cuidados no âmbito da Saúde Mental.
Estágio de Medicina Interna
O estágio de Medicina Interna foi realizado entre os dias 27/01/2014 e 21/03/2014, no
total de 8 semanas, no serviço de Medicina 1 do HSAC. Fui tutorada pela Dra. Helena Nunes
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(assistente graduada), com o apoio da restante equipa. A regência da UC pertence ao
Professor Dr. Fernando Nolasco. Participei nas actividades de enfermaria, SU, consulta
externa, aulas teórico-práticas e seminários. O objectivo do estágio foi, em suma, a resposta à
seguinte questão:
“Queres ser médico hoje? (…) Já pensaste bem no que há-de ser a tua vida?”
Estágio de Cirurgia Geral
Este estágio teve a duração de oito semanas, decorridas entre 24 de Março e 23 de Maio de
2014, sob regência do Professor Dr. Rui Maio e sob orientação do Dr. Gonçalo Luz, no Hospital
Beatriz Ângelo. As principais actividades consistiram em Enfermaria, acompanhando o doente
cirúrgico no pré e pós-operatório, BO, Consulta Externa, SU, Sessões de Formação Teórica e
teórico-práticas, estágio opcional de Anestesiologia e o inovador Mini-Congresso, apresentado
pelos alunos.
A UC estabelece como objectivo generalista integrar os alunos nos diversos aspectos da
prática clínica diária; de forma completa, oferece desde ensinos muito específicos (como suturas e
entubações) até formação em competências transversais a toda a Medicina, como a Gestão e
Comunicação nos Cuidados de Saúde.
Outras actividades
“[O Ensino Médico] Requer cultura, sem o que a compreensão do indivíduo doente será
sempre limitada.”
Durante o estágio profissionalizante, continuei a praticar actividades iniciadas durante o curso
com o intuito de estimular esta cultura – Grupo de Teatro Miguel Torga e Tuna Médica de Lisboa.
Estas actividades acabaram por me proporcionar aplicação prática de determinadas competências,
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estimuladas durante a formação pré-graduado, em contextos menos previsíveis que a sala de aula:
comunicação, gestão de conflitos, resolução de problemas e trabalho de equipa direccionado a um
objectivo comum.
Em conclusão: “O médico que só sabe de Medicina, nem de Medicina sabe.”
Reflexão crítica final
Com a presente reflexão, pretendo avaliar os diversos aspectos do EP, propondo-me a
analisar o cumprimento dos desafios lançados e pôr algumas hipóteses de justificação no caso dos
objectivos não alcançados.
Em relação ao 1º objectivo estabelecido na introdução, creio que seria utópico esperar um
raciocínio clínico completamente desenvolvido no final do 6º ano: parece-me que, ao invés de uma
meta final, este objectivo é uma força motriz, que impele o médico na sua formação ao longo da
vida. Todavia, a componente de integração de conhecimentos e competências foi atingida, sendo
que se verifica uma inovação face a anos anteriores: o abandono de um “recurso quase exclusivo à
memorização”, estimulando a capacidade de resolver problemas – que é, em suma, a actividade
profissional do clínico.
Em relação à aquisição gradual de autonomia, esta dificilmente será conseguida enquanto o
rácio aluno:tutor não for de 1:1, conforme está estabelecido em várias directrizes reguladoras do
EP. Na maioria dos estágios, são raros os momentos nos quais existe um verdadeiro momento de
prática supervisionada. Apesar de tudo, houve tutores que se esforçaram para além do que seria
expectável no sentido de colmatarem esta falha. Por outro lado, verifiquei a importância da auto-
crítica construtiva, efectuada em cada relatório de estágio parcelar, para esta aquisição de
autonomia.
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Em relação ao último objectivo estabelecido na Introdução, foram múltiplas as ocasiões em
que me deparei com situações complexas, como doentes que recorriam ao “Dr. Google”, não
acreditando no parecer que lhes era comunicado pelos seus médicos, ou situações de cooperação
deficiente entre vários especialistas médicas, consubstanciada, por exemplo, em referenciações
sem justificação. Considero que o objectivo de aprender a resolver estas situações foi pouco
conseguido. No âmago desta questão está o pouco tempo que consegui dedicar a esta pesquisa de
artigos que explorem estes temas, num 6º ano repleto de desafios e exigências de gestão de
tempo. É, contudo, fulcral colmatar esta falha, pois as consequências trágicas do Positivismo
mostraram-nos, no século passado, que a Ciência precisa de se reger por mais do que aquilo que é
mensurável.
Analiso, agora, o cumprimento dos objectivos específicos de cada estágio parcelar.
Na sociedade científica actual, multiplicam-se as preocupações éticas e o modelo
biopsicossocial é ensinado como uma abordagem completa, científica e humanamente consciente.
Paradoxalmente, as instituições-palco da Medicina coetânea, pressionadas no sentido dos
resultados numéricos, fomentam um ambiente em que expressões como abordagem sistémica ou
relação médico-doente ecoam desprovidas de significado. Neste contexto, a MGF estabelece um
novo paradigma, no qual esta abordagem é custo-efectiva e tem repercussões positivas no
seguimento clínico dos utentes. Assim, não só concretizei os objectivos propostos, como apreendi
um conjunto de mecanismos de consulta e comunicação aplicáveis, no meu ver, a qualquer
especialidade.
No que toca aos objectivos específicos do estágio parcelar de Pediatria, creio que os
objectivos estabelecidos foram cumpridos, tendo ainda verificado, ao acompanhar o meu tutor na
Consulta de Imunodeficiências Primárias, que, ao invés de uma ultraespecialização numa área
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única na Medicina, a combinação de duas formações complementares específicas improváveis cria
um clínico com um currículo muito relevante no actual contexto económico.
Tendo em conta o objectivo de aquisição gradual de autonomia, o estágio parcelar de
Ginecologia e Obstetrícia foi um dos estágios em que tal escalada foi mais fomentada; esta
supervisão com espaço para praticar e corrigir torna-se um passo fundamental na transição dos
anos em que observamos para os anos em que somos clínicos sozinhos numa sala.
Em relação ao estágio parcelar de Saúde Mental, considero que os objectivos foram
concretizados. Deu-se a desmistificação da Psiquiatria da Infância e Adolescência como
especialidade que apenas trata crianças hiperactivas ou vítimas de negligência física ou emocional;
constatei ainda o potencial terapêutico da vinculação na relação médico-doente. O trabalho que
apresentei, “Análise dos motivos de 1ª consulta de 2013”, pôs-me em contacto com um tipo
específico de investigação. Em relação ao objectivo de integração e valorização do trabalho numa
equipa multidisciplinar, importa dizer que este foi o estágio em que este desafio atingiu o seu
apogeu: o grupo de pessoas em que fui integrada desenvolve um verdadeiro trabalho em equipa,
no qual se constata que o bem-estar de todos e cada um dos doentes é o vector propulsor.
Tal como os Conselhos de Esculápio, as 8 semanas de Medicina Interna demonstraram a
face menos contida e mais escatológica da Medicina. Confrontada com a repulsa que pode causar
o cheiro, a imagem, em suma, a fragilidade humana, a necessidade de cuidar da pessoa com que
me deparava, fornecendo o que de melhor a Ciência Moderna tem para oferecer, ao mesmo tempo
que não descurava a dignidade humana num hospital, fui obrigada a crescer; nasceu, assim, a
verdadeira empatia. Só com esta presente consegui sublimar anamnese, exame objectivo e
métodos complementares de diagnóstico em verdadeira Medicina.
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Esta aquisição de competências relacionais e de humanização dos cuidados de saúde não
significa, contudo, a desvalorização do rigor científico. Em cada dia de internamento, era-me
exigido tudo conhecer sobre os meus doentes e saber fundamentar cada atitude diagnóstica e
terapêutica aplicada, bem como raciocinar sobre qual o passo seguinte. Esta exigência era
acompanhada de um nível apertado de vigilância e crítica construtiva, criando, numa das primeiras
vezes no decorrer da formação pré-graduada, um acto de avaliação contínua revestido de feedback
diário, permitindo-me a percepção das minhas fragilidades e dando-me a confiança necessária para
nelas trabalhar.
Analisando o estágio parcelar de Cirurgia Geral, considero que a integração dos alunos nos
diversos aspectos da prática clínica diária foi bem conseguida, sendo que o propósito de abordar as
questões transversais a toda a prática médica supracitadas deixou algo mais importante que
respostas: espaços em branco, com questões sobre as quais viremos a reflectir e tentar responder
no desenrolar da nossa actividade profissional.
Em último lugar, quero agradecer a todas as pessoas que me iluminaram o percurso quando
foi mais difícil dar o próximo passo. Importa ainda relembrar que hoje, neste expoente da Medicina
em que nos encontramos, não estamos sozinhos, mas sim apoiados nos ombros dos brilhantes
médicos do passado, que desenvolveram e nos ofereceram esta Medicina que tive a honra de
aprender e, a partir de agora, praticar.
Concluo este relatório com uma citação do Professor Dr. J. A. Esperança Pina, que resume a
minha opinião neste fim do início do meu percurso em Medicina.
“Em suma: o médico deve viver a sua profissão em atitude de autêntica missão ao serviço da
saúde e da vida, em dedicação plena e com uma profunda solidariedade humana.”
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Anexo 1
Siglas
BO – Bloco Operatório
DPN – Diagnóstico Pré-Natal
EP – Estágio Profissionalizante
HDE – Hospital Dona Estefânia
HSAC – Hospital Santo António dos Capuchos
HSFX – Hospital São Francisco Xavier
IAC – Internato do Ano Comum
MAC – Maternidade Alfredo da Costa
MGF – Medicina Geral e Familiar
SU – Serviço de Urgência
UC – Unidade Curricular
UCIP – Unidade de Cuidados Intensivos Pediátricos
USF – Unidade de Saúde Familiar
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Anexo 2
Bibliografia
“Campo de Sant’Ana Uma das 7 Colinas de Lisboa” Universidade Nova de Lisboa –
Faculdade de Ciências Médicas – Lisboa 19 Janeiro – 2 de Fevereiro 1995
PINA, J.A. Esperança “A Responsabilidade dos Médicos” 3ª edição Lidel Setembro
2003
The Tuning Project (Medicine): Learning Outcomes/Competences for Undergraduate
Medical Education in Europe
O Licenciado Médico em Portugal: Core Graduates Learning Outcomes Project