Relatório Final - TCC Rola Blog

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Universidade Federal de Minas Gerais Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas Curso de Graduação em Comunicação Social Série Especial para Blog: como o esporte gira em torno do mundo Breiller da Silva Pires Orientador: Profº. Dalmir Francisco Belo Horizonte 2009

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"Como o esporte gira em torno do mundo": série especial para blog, como projeto de conclusão do curso de Comunicação Social -UFMG.

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Universidade Federal de Minas Gerais Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas

Curso de Graduação em Comunicação Social

Sér ie Especial para Blog: como o esporte gira em torno do mundo

Breiller da Silva Pires Orientador: Profº. Dalmir Francisco

Belo Hor izonte 2009

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Breiller da Silva Pires

Sér ie Especial para Blog: como o esporte gira em torno do mundo

Relatório de projeto experimental de conclusão do Curso de Comunicação Social da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da

Universidade Federal de Minas Gerais, como requisito parcial à obtenção do título de

Bacharel em Comunicação Social

Orientador: Profº. Dalmir Francisco

Belo Hor izonte 2009

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Sumár io

1. Introdução................................................................................................................ 4 1.1. O blog........................................................................................................................ 4 1.2. O projeto.................................................................................................................... 5 1.3. Justificativa................................................................................................................ 8 1.4. Objetivos.................................................................................................................. 10 2. Fundamentação teór ica......................................................................................... 11 2.1. Esporte: um objeto em análise................................................................................. 11 2.2. Blogs e internet como suporte................................................................................. 12 2.3. A reconfiguração do jornalismo pelas redes sociais............................................... 16 3. Execução do projeto.............................................................................................. 19 3.1. Cronograma de trabalho.......................................................................................... 19 3.2. Recursos técnicos utilizados.................................................................................... 20 3.3. Reportagens e temáticas da série............................................................................. 20 3.4. Interrelação entre temáticas..................................................................................... 29 3.5. Veiculação em mídias sociais.................................................................................. 30 4. Considerações finais.............................................................................................. 38 5. Referências bibliográficas..................................................................................... 40 6. Anexos..................................................................................................................... 42 6.1. Logotipo e cabeçalho do Rola Blog........................................................................ 42 6.2. Banner de divulgação da série................................................................................. 42 6.3. Links úteis................................................................................................................ 42 6.4. Entrevista com Ana Maria Brambilla...................................................................... 43

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1. Introdução

Este relatório detalha todo o processo de produção de uma série especial de reportagens

que tem por objetivo contribuir para um novo modelo de jornalismo esportivo online,

mostrando como o esporte se relaciona com a sociedade em suas variadas

manifestações. A série está sendo publicada em um blog (www.rolablog.com.br), com

boa média de visitantes diários e um público que costuma interagir bastante através de

críticas e comentários.

1.1. O blog

O Rola Blog surgiu há pouco mais de três anos. Nele, o esporte é tratado de maneira

analítica e diferenciada, com destaque para questões de marketing esportivo e da

relevância do esporte na sociedade. Desde janeiro de 2006 no ar, o blog já contabiliza

aproximadamente 200 mil visitas, 2500 comentários dos leitores, conteúdos, coberturas

e séries especiais de postagens que repercutiram no meio virtual.

“Eles querem estádio”, por exemplo, foi uma série de 10 artigos que analisou a relação

dos clubes de futebol brasileiros com seus respectivos estádios, e como eles servem de

fonte de receitas extras para estas equipes. Mas a série que mais repercutiu no Rola Blog

foi a que tratava justamente dos próprios “blogs esportivos” . Ela se propôs a conhecer e

compreender, também, um pouco mais dessa mídia que vem potencializando as

discussões sobre esportes no país: o blog. Foram entrevistados mais de 20 blogueiros,

dentre eles, jornalistas renomados como Juca Kfouri e Mauro Beting, repórteres

internacionais, torcedores e meros anônimos que, a troco da paixão pelo esporte, apenas,

mantém suas páginas na rede. Além da série, divulgada em abril de 2008, aproveitei

para criar a comunidade “Blogs esportivos” no Orkut, que já conta com mais de 400

membros e se estabeleceu como via principal para troca de informações e ideias entre

blogueiros esportivos do país inteiro.

Hoje, o Rola Blog é uma referência entre os blogs de esportes na internet, com média

acima de 200 visitas diárias – o que, para um blog amador e tão específico, representa

um número considerável. Nada que se compare, entretanto, a páginas de jornalistas

hospedadas em grandes portais, como as de Juca Kfouri (UOL) e Lédio Carmona

(Globoesporte.com), que recebem uma média de 50 mil e 20 mil visitas diárias,

respectivamente. Todo o conceito das páginas do Rola Blog é pensado de acordo com a

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nova tendência estabelecida na rede, a Web 2.01, que se baseia em ferramentas capazes

de promover a troca de informações entre pessoas através do computador de forma

simples e, sobretudo, interativa. Nesse sentido, o blog amplia a vertente de seus temas

postados na página principal em direção a outras mídias sociais2, como Flickr, Orkut,

Twitter e Youtube3. Há espaço para publicação de conteúdo multimídia, um podcast4

mensal, comentários dos leitores, ferramentas para favorecer a leitura e o

compartilhamento dos posts5 (RSS6, bookmarks7, tradutor de idiomas etc.) e arquivo em

ordem cronológica e/ou temática, em que o leitor pode consultar, por exemplo, a

cobertura in-loco do Pan-americano 2007, no Rio de Janeiro, da Copa do Mundo 2006,

das Olimpíadas 2008, dentre outros conteúdos exclusivos.

1.1. O projeto

O objetivo principal da série, denominada “Como o esporte gira em torno do mundo”, é

mostrar como o jornalismo esportivo pode se beneficiar da web e seus recursos para se

aprofundar em outras questões relevantes do esporte, indo além da simples cobertura

diária de entidades, clubes e eventos esportivos. Para demonstrar que essa produção de

conteúdo diferenciado, direcionado e específico para a internet é possível, a série foi

planejada com vistas a apresentar e explicar as diversas formas pelas quais o esporte se

1 Web 2.0 é um termo criado em 2004, pela empresa norte-americana O'Reilly Media, para designar uma segunda geração de comunidades e serviços, tendo como conceito a web como plataforma, em que a ordem é desenvolver aplicativos que aproveitem os efeitos de rede para se tornarem melhores de acordo com a utilização pelas pessoas, aproveitando a inteligência coletiva. 2 Mídias sociais são ferramentas online projetadas para permitir a interação social a partir do compartilhamento e da criação colaborativa de informação nos mais diversos formatos. Elas abrangem várias atividades, formando redes sociais que integram tecnologia, interação e a construção coletiva de palavras, fotos, vídeos e áudios. 3 Flickr é um site de hospedagem e compartilhamento de fotografias e ilustrações, caracterizado também como rede social, pois permite a seus usuários criarem álbuns para armazenamento de suas fotografias e entrarem em contato com fotógrafos variados e de diferentes locais do mundo. Orkut é uma rede social com o objetivo de ajudar seus membros a criar novas amizades e estabelecer relacionamentos. Twitter é uma rede social que permite aos usuários enviarem e leem atualizações pessoais de outros contatos em textos de até 140 caracteres, através da própria web ou via celular. Youtube é um site que permite que seus usuários carreguem e compartilhem vídeos em formato digital. 4 Podcast é uma série de arquivos de mídia digital, geralmente de áudio, publicada na internet através de um agregador automático que permite aos usuários acompanharem sua atualização. 5 Posts ou postagens são entradas de texto efetuadas num blog, organizadas, na maioria das vezes, de forma cronologicamente inversa na página: as informações mais recentes aparecem primeiro. 6 RSS (Really Simple Syndication) é uma tecnologia amplamente utilizada por blogs e portais de notícia para compartilhar suas últimas novidades ou textos completos, e até mesmo arquivos multimídia, permitindo ao usuário permanecer informado de atualizações em diversos sites sem precisar visitá-los um a um. 7 Bookmarks são marcadores que funcionam como um índice, usados normalmente para gravar um site para o qual o usuário deseja retornar ou visitar regularmente.

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relaciona com alguns segmentos da sociedade, e como essas relações podem ser capazes

de promover mudanças na vida das pessoas e no próprio mundo. Foram explorados

exemplos locais e pontuais de manifestações do esporte pelo Brasil e, inclusive, por

outros países (Cuba e Estados Unidos), que incorporavam a ideia da série. Ao todo,

foram produzidas nove reportagens, com temáticas pré-definidas: 2 (duas) sobre esporte

e cultura; 1 (uma) sobre esporte e saúde; 1 (uma) sobre esporte e educação; 1 (uma)

sobre esporte e economia; 3 (três) sobre esporte e sociedade; e 1 (uma) sobre esporte e

política.

A partir daí, finalizada a produção das reportagens, iniciou-se a segunda fase do projeto,

que tem a ver com a publicação, a propagação e a repercussão da série na internet.

Como o blog já conta com um público cativo8, específico (a maioria dos leitores que

visitam o blog pelo menos uma vez por semana tem entre 18 e 35 anos, é solteira e

possui nível superior), bem informado (a maioria dos leitores que visitam o blog pelo

menos uma vez por semana lê ao menos um jornal impresso, assiste de um a dois

programas esportivos na TV todos os dias e acompanha, pela internet, notícias do seu

time e do esporte em geral diariamente) e envolvido com o esporte de alguma forma (a

maioria dos leitores que visitam o blog pelo menos uma vez por semana pratica algum

esporte regularmente, trabalha em determinado segmento esportivo ou pesquisa o

esporte com objetivos escolares e/ou acadêmicos), espera-se que o conteúdo das

reportagens gere discussão entre os leitores e repercuta pela internet através de outros

blogs e de mídias sociais, como Orkut, Twitter e Youtube.

O foco temático para a elaboração de cada postagem no blog é o esporte, que, ao longo

de sua história, sempre teve espaço reservado na mídia, independentemente do veículo

em questão. No Brasil, por exemplo, a popularização do futebol esteve diretamente

ligada à evolução dos meios de comunicação. Desde o início da década de 1930, quando

Nicolau Tuma transmitiu pela primeira vez uma partida de futebol ao vivo, até o final

dos anos 60, o rádio foi o maior responsável pela propagação dessa modalidade que,

hoje, é tida como uma “paixão nacional” . Foi a época em que emissoras como “Tupi

Rio” , “Rádio Globo” e a “Rádio Itatiaia” , fundada em 1952 pelo jornalista e radialista

Januário Laurindo Carneiro, em Minas Gerais, se consagraram nas transmissões de

jogos e campeonatos. Já em 1970, a TV começa a superar o rádio na preferência dos

8 As informações a respeito do perfil dos usuários do Rola Blog foram obtidas através de questionário enviado por e-mail e respondido por 154 leitores, entre 20/07/2008 e 12/08/2008.

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brasileiros, pelo menos no quesito esportivo. Incrementada com a transmissão a cores,

além de recursos técnicos que facilitavam a compreensão do jogo, como replays, tira-

teima e câmeras na linha de impedimento, a televisão foi se estabelecendo, aos poucos,

como o veículo de massa da informação esportiva.

O “Canal 100” , cine-jornal que era exibido semanalmente por todo o Brasil e realizava,

sobretudo, documentários cinematográficos de eventos importantes do país e da bola,

também contribuiu para a construção do imaginário brasileiro em torno do futebol. Com

uma abordagem diferente dos telejornais, o “Canal 100” captou o futebol sob uma ótica

muito peculiar, combinando músicas e canções populares das décadas de 70 e 80 às suas

produções de caráter documental, que valorizavam sempre a emoção da torcida nas

arquibancadas e dramatizavam o espetáculo dentro de campo. Foi o “Canal 100”, ainda,

que trouxe ao Brasil as primeiras imagens coloridas de uma Copa do Mundo, em 1970,

no México, onde a seleção canarinho sagrou-se tricampeã mundial.

Também nessa época, após a conquista brasileira no México, os veículos impressos

começaram a dedicar páginas mais generosas à cobertura esportiva, principalmente ao

futebol. A “Placar” , maior revista futebolística de circulação nacional, inclusive, foi

lançada em 1970, às vésperas da Copa do Mundo, e por mais de três décadas imperou

como única revista do gênero no país. Hoje, o Brasil já conta, pelo menos, com seis

revistas especializadas em futebol, além de um diário esportivo impresso que vende, em

média, cerca de 130 mil exemplares por dia, o “Lance!” – fundado pelo empresário

Walter de Mattos Júnior, em 1997. Além do espaço dedicado nos meios impressos,

radiofônico e televisivo, o esporte, na atualidade, vem abrindo terreno na internet, seja

através de portais especializados ou blogs de jornalistas esportivos e torcedores.

O próprio diário “Lance!” , desde o seu surgimento, conta com um portal online, o

“Lancenet!” , que recebe mais de um milhão de visitas semanais e disponibiliza em torno

de 200 notícias diárias, em diversos formatos (texto, vídeo, podcast, SMS9), para atender

à crescente demanda de público que consome conteúdo de esportes via web. Uma nova

configuração que permite a abordagem do esporte de maneira mais profunda e

abrangente pela mídia eletrônica, que não precisa mais se restringir à cobertura do

futebol, devido ao espaço e ao caráter multimídia que o meio virtual oferece. Porém,

9 SMS (Short Message Service) é um serviço disponível em telefones celulares digitais que permite o envio de mensagens curtas entre estes equipamentos, computadores, dentre outros dispositivos de mão.

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segundo Heródoto Barbeiro e Patrícia Rangel, a cobertura esportiva na internet ainda

não está madura o suficiente, nem mesmo consciente das próprias possibilidades

disponíveis na web, para retratar o esporte em suas mais variadas formas e

manifestações:

A velocidade da rede coloca a internet na mesma igualdade de condições da TV e do rádio para levar a informação ao público. No entanto, falta ainda maior profundidade jornalística na apuração dos fatos esportivos, das tendências e do investimento em reportagem fazendo uso das ferramentas da internet. (BARBEIRO;RANGEL, 2006, p. 99).

A série de reportagens proposta como projeto, portanto, explora as possibilidades

oferecidas pela internet para aprofundar questões relevantes no que diz respeito à

relação do esporte com a sociedade como um todo. Ao fim de sua publicação no blog,

prevista para o fim de julho de 2009, a ideia é avaliar o debate e as questões

desenvolvidas em torno da série, disponibilizando dados e informações adicionais para

que todo o conteúdo gerado se estabeleça como referência para estudos e pesquisas

sobre o esporte no país, que vai receber a Copa do Mundo de 2014 e pleiteia sediar os

Jogos Olímpicos de 2016.

1.3. Justificativa

Diante da escassez de estudos interdisciplinares sobre o esporte no Brasil, e da cobertura

jornalística pouco aprofundada, baseada no futebol e no calendário esportivo de

competições, a série especial “Como o esporte gira em torno do mundo” analisa o

esporte sob uma ótica mais ampla e pretende servir de estímulo e referência para

coberturas e estudos diferenciados sobre o tema.

A mídia esportiva brasileira centra suas abordagens na exploração de acontecimentos

factuais, como argumentam Heródoto Barbeiro e Patrícia Rangel:

A armadilha mais comum do jornalismo esportivo é pautar reportagens exclusivamente em cima da instantaneidade dos fatos, ou seja, treinos, jogos etc. Alguns veículos são tomados pela histeria de divulgar os fatos antes e afundam no pântano da falta de credibilidade. Um mal que atinge boa parte das emissoras do país. (BARBEIRO;RANGEL, 2006, p. 25).

“Como o esporte gira em torno do mundo” propõe uma abordagem do esporte

totalmente desvinculada da “ instantaneidade dos fatos” seguida pela mídia, tentando

compreendê-lo e discuti-lo em suas esferas mais profundas, que se relacionam

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diretamente com a sociedade, com a cultura, com a saúde, com a política e com a

economia.

Tal abordagem também não está centrada, somente, no futebol, esporte mais popular do

país e, consequentemente, privilegiado pela mídia em detrimento de outras modalidades

e manifestações esportivas. No entanto, algumas temáticas trazem o futebol como carro-

chefe, dada à referência bibliográfica um pouco mais diversificada que a modalidade já

possui para a fundamentação teórica da série, sua aplicabilidade em estudos sobre outras

modalidades, além do relevante papel que o “esporte nacional” desempenha na

sociedade brasileira. Para o sociólogo Roberto DaMatta, o futebol, no Brasil, extrapola

a noção de um simples jogo e serve como base, inclusive, para explicar diversos fatores

sociais que se relacionam com a identidade do povo brasileiro.

Foi, pois, o futebol que, além de nos fazer acreditar na possibilidade de uma ordem moral baseada na igualdade, forneceu o alicerce para uma drástica rearticulação de nossas identidades sociais (pessoais, de bairro, urbanas, regionais e nacionais), em bases positivas, regadas a esperança e otimismo. (DAMATTA, 2006, p. 144).

Nem por isso, a série pode ser considerada estritamente futebolística, tendo em vista o

pouco espaço que outras modalidades recebem na imprensa esportiva brasileira. Sendo

assim, mesmo com uma fundamentação teórica baseada na cultura do futebol, as

reportagens abrem espaço para outras modalidades, algumas pouco difundidas no

Brasil, como futebol americano, basquete de cadeira de rodas e rugby10, visando sempre

a relação que elas estabelecem com o mundo exterior à esfera esportiva.

A opção pelo blog como suporte levou em conta as ferramentas que ele oferece para a

interação por parte dos leitores - potencializando o debate sobre o esporte -, a

convergência de diversas mídias em uma só – possibilidade de combinar textos,

hyperlinks11, enquetes, vídeos, fotos, podcasts etc. – e a facilidade para arquivamento e

distribuição do conteúdo, que ficará disponível na página principal do blog e em

mecanismos de buscas para consultas e pesquisas sobre esportes. Mesmo com todas

essas possibilidades, a internet brasileira, e até mesmo a própria blogosfera

especializada, ainda não atentou para a oportunidade que o dispositivo oferece de se

10 O rugby é um esporte coletivo, de muito contato físico, originário da Inglaterra, sendo inicialmente concebido como uma variação do futebol. Hoje, é o segundo esporte coletivo mais popular no mundo, sendo superado apenas pelo futebol. 11 Hyperlinks são referências ou ligações numa página em hipertexto (texto em formato digital) a outras partes desta página ou a outra página da internet.

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abordar o esporte de uma forma mais ampla e analítica. A maioria dos blogs e sites

esportivos da rede centra seus conteúdos em abordagens factuais, como a cobertura do

futebol e de grandes eventos esportivos. O espaço para outras modalidades esportivas e

para grandes reportagens que envolvam o esporte continua restrito, ainda que a internet

disponha de ferramentas para simplificar e democratizar a produção e a publicação de

conteúdo.

A veiculação da série especial no blog valoriza, por conseguinte, a facilidade de

disseminação de dados e informações que o suporte e o meio (internet) oferecem para

produzir um conteúdo abrangente, diferenciado e, sobretudo, composto por várias vozes

e discursos - seja das fontes consultadas nas reportagens, seja dos leitores que queiram

contribuir com comentários e análises sobre a série -, com base no que defende J. B.

Pinho sobre a web:

Cada um dos aspectos críticos que diferenciam a rede mundial dos meios de comunicação tradicionais – não-linearidade, fisiologia, instantaneidade, dirigibilidade, qualificação, custos de produção e veiculação, interatividade, pessoalidade, acessibilidade e receptor ativo – deve ser mais bem conhecido e corretamente considerado para o uso adequado da internet com instrumento de informação. (PINHO, 2003, p. 49).

A necessidade de se compreender e discutir o esporte, no Brasil, sob uma perspectiva

sistêmica e analítica, é ainda mais latente devido à realização de grandes eventos

esportivos no país, como os Jogos Pan-americanos de 2007 e a Copa do Mundo-2014.

Tais eventos, sem contar a possibilidade de o Brasil sediar, também, as Olimpíadas-

2016, servem de base para o desenvolvimento do esporte nacional e, certamente,

incentivarão novos estudos na área esportiva. A série especial de reportagens, além de

contribuir para o debate acerca da importância do esporte e desses grandes eventos para

a sociedade brasileira, servirá como material de referência e consulta para pesquisas em

torno do esporte no país.

1.4. Objetivos

O objetivo geral deste projeto é contribuir para uma nova abordagem do esporte na

mídia brasileira, sobretudo nos veículos especializados de internet, através da produção

de uma série especial de reportagens para blog.

Com a execução do projeto e a publicação da série no blog, foi possível, ainda:

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- Relacionar sociedade e esporte em suas diversas manifestações, analisando-os sob uma

perspectiva mais analítica;

- Gerar discussão na internet sobre o esporte e sua relação com diversas áreas da

sociedade;

- Trabalhar conceitos e novas ferramentas da internet para prover uma experiência mais

interativa aos leitores da série;

- Analisar e criticar o modelo de jornalismo esportivo praticado na internet;

- Contribuir para o aprofundamento das discussões e pesquisas relacionadas ao esporte

no Brasil.

2. Fundamentação teór ica

2.1. Espor te: um objeto em análise

Desde a Grécia Antiga, o esporte teve sempre como premissa a congregação dos povos

e o culto ao corpo humano e suas formas. No entanto, fenômenos pós-modernos, como

o capitalismo e a globalização, promoveram uma ampliação no conceito de esporte. A

prática esportiva passou a estabelecer conexões não só com o campo de jogo, mas,

também, com diversas ramificações da sociedade e do mundo contemporâneo. O jogo

em si, muitas vezes, sai de cena e dá lugar a relações complexas e dinâmicas instituídas

através do esporte:

O jogo é invocado para explicar a dimensão concorrencial das relações sociais. Ele pode ser, assim, um instrumento analítico tomado da realidade social ou imaginado para as necessidades de análise. O jogo ou a competição caracterizam as relações de interdependência que ligam os indivíduos e que constituem os grupos sociais, quaisquer que sejam sua dimensão e sua posição social. (GARRIGOU, 2003, p. 2001).

À luz dessa observação sobre o papel do esporte na atualidade, a série especial “Como o

esporte gira em torno do mundo” pretende discutir e tentar explicar as diversas formas

pelas quais a prática esportiva se conecta ao mundo ao seu redor, seja em relação com a

própria sociedade, com a política, com a economia etc. De que forma, portanto, a partir

dessas relações, o esporte é visto na sociedade? Qual a sua relevância, além do

espetáculo propriamente dito, para o mundo e, sobretudo, para o Brasil? Como a prática

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esportiva pode transformar a vida das pessoas, agregar novos valores à esfera social?

Essas são algumas questões que a série especial visa responder ao longo de sua

produção e de sua publicação no blog, objetivando sempre explorar o lado esportivo não

visto pela mídia. Enxergar outros sentidos do esporte, buscar novas abordagens, ir das

práticas comuns do dia-a-dia aos bastidores, enfim, estabelecer um novo olhar sobre

como o esporte gira em torno do mundo, de acordo com as concepções de Heródoto

Barbeiro e Patrícia Rangel:

A política do esporte é um campo que precisa ser melhor coberto pelos jornalistas esportivos. Fugir do cotidiano, muitas vezes cansativamente repetitivo, e partir para os bastidores. O business é outro campo que precisa ser melhor explorado, principalmente no momento em que algumas agremiações tomam um contorno mais corporativo e há um processo de globalização em curso que atinge também o esporte. (BARBEIRO;RANGEL, 2006, p. 25).

2.2. Blogs e internet como supor te

Globalização, convergência das mídias, universo virtual e interatividade são algumas

das terminologias mais discutidas do século XXI. Apesar de incorporarem conceitos

diferentes, todas elas representam a consolidação de um novo mundo criado pela

tecnologia: a internet. O surgimento dela remonta ao final dos anos 60, em plena Guerra

Fria, quando o exército americano criou uma forma de comunicação alternativa, capaz

de estabelecer contato entre as bases militares caso as antenas de rádio convencionais

fossem destruídas pelos inimigos. Nascia, então, a rede mundial de computadores.

No entanto, foi só no início da década de 90 que o inglês Tim Bernes-Lee impulsionou

o invento de guerra. Ele criou a World Wide Web (WWW), interface que garantiria o

acesso simplificado às informações por meio de um computador. No Brasil, por

exemplo, a internet chegou rápido, em 1992, e se espalhou a uma velocidade ainda

maior. Para se ter ideia, em 2002, o país tinha 19 milhões de internautas. Hoje, segundo

o IBOPE/NetRatings, o número subiu para 63 milhões, contingente maior que a

população de muitos países, como França (62 milhões/hab.) e Reino Unido (61

milhões/hab.). Pelo mundo, as vendas de computadores já superam as de aparelhos de

TV. Depois de garantir um computador, o passo seguinte é o acesso à internet. Ninguém

quer perder a oportunidade de consumir e, ao mesmo tempo, produzir conteúdo no

universo virtual. Expressar-se pela internet, seja através de Orkut, Facebook12, Twitter

12 Facebook é um dos sites de relacionamento social – semelhante ao Orkut - mais populares do mundo, com mais de 200 milhões de usuários.

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ou Youtube, fica cada vez mais fácil, e uma das formas de expressão que mais ganha

força na rede são os blogs, definidos por Raquel Recuero como ferramentas de simples

utilização e veiculação de conteúdo:

Os blogs são veículos de publicação digital, comumente associados à ideia de diários virtuais, nos quais um ou mais autores publicam textos, geralmente sobre uma temática específica, em ordem cronológica inversa e de forma frequente. A simplicidade com que se pode publicar textos em um blog proporcionou à ferramenta uma relativa popularidade no mundo todo. (RECUERO, 2003, p. 59).

De acordo com o Technorati, monitor de conteúdo da blogosfera, existem atualmente

cerca de 112 milhões de blogs atualizados por todo o mundo, e mais de 150 mil são

criados a cada dia. Estima-se, ainda, que 40% dos internautas são leitores de pelo menos

um blog. A blogosfera surge como carro-chefe de uma nova era que os especialistas em

tecnologia e internet tratam como “Web 2.0” . Para Alex Primo, essa nova era já é uma

realidade e não há mais como ignorá-la: “A Web 2.0 tem repercussões sociais

importantes, que potencializam processos de trabalho coletivo, de troca afetiva, de

produção e circulação de informações, de construção social de conhecimento apoiada

pela informática” (PRIMO, 2007, p. 2).

Tendo em vista essa nova fase a qual atravessa a internet, além das ferramentas

multimídia e de interação oferecidas pelo blog, a publicação da série especial de

reportagens visa oferecer uma experiência interativa e de fácil assimilação aos leitores

do blog. Para isso, a linguagem utilizada na produção do conteúdo foi pensada de

acordo com as novas tendências da web e com o comportamento dos usuários diante de

tantas informações disponíveis na rede. Segundo argumenta J. B. Pinho, concisão do

texto e hierarquização de informações são qualidades obrigatórias em qualquer tipo de

conteúdo publicado na web: “Na web, a pirâmide invertida torna-se mesmo mais

importante desde que passamos a saber, por diversos estudos, que os usuários não

gostam de rolar as páginas e, assim, irão com maior freqüência ler apenas o topo de um

artigo” (PINHO, 2003, p. 208).

O blog em que a série será publicada já conta com layout otimizado para leitura de

textos, submetido, inclusive, a testes de usabilidade que indicam a melhor disposição

gráfica para texto, imagens e iconografia na tela do computador. Cabe, então, à precisão

do texto, e sua formatação na página, o papel de fornecer ao usuário uma experiência de

leitura e assimilação satisfatória, como explica J. B. Pinho: “A necessidade de concisão

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da informação tornou-se um verdadeiro fenômeno dos tempos modernos. Na web, as

frases devem ser curtas e os parágrafos devem ter no máximo cinco ou seis linhas para

uma leitura mais fácil e agradável” (PINHO, 2003, p. 212). A utilização de hyperlinks,

com base no que sustenta Francilaine Moraes, também serve de recurso para

descarregar o texto, além de agregar outros pontos de vista e informações relevantes ao

conteúdo da série:

O leitor [na web] tem mais independência, mas o guia é você [produtor do texto]. Ele pode chegar a lugares inimagináveis, mas quem vai guiá-lo é você [produtor do texto], através dos links, os melhores recursos. (MORAES, 2004, p.7).

Nem por isso o conteúdo das postagens se restringe a três, quatro parágrafos de texto,

somente. A base para construção das nove temáticas propostas pela série é a grande

reportagem, voltada, nesse caso, para o público de internet. É preciso romper um pouco

com o mito de que a web representa um espaço que não admite longos conjuntos de

texto e informação. O jornalismo esportivo, como um todo, devido a seu caráter

majoritariamente factual, carece de mais produções aprofundadas, analíticas, que

rompam um pouco com a instantaneidade dos fatos que envolvem o esporte e seus

atores, e promovam reflexão e debate sobre questões específicas não menos relevantes

da esfera esportiva.

Essa quebra de paradigma, que vai das notícias curtas e factuais para as reportagens

extensas e mais críticas, depende fundamentalmente de organização e disponibilização

de espaços para sua publicação. A internet, nesse contexto, pode se estabelecer como

principal canal de mudança para um modelo de jornalismo esportivo sistemático, pois

concentra, em sua essência, a ideia de conexões de dados e sentidos através do

hipertexto, um conjunto de informações divididas em bloco, o texto segmentado da

internet. Através dos hyperlinks, a base do hipertexto, é possível dar profundidade bem

maior ao material jornalístico do que numa cobertura de rádio ou jornal impresso, por

exemplo, justamente por não depender de determinada limitação de espaço específica

para encaixá-lo. Os hyperlinks exploram a possibilidade de agregar novos discursos à

produção jornalística, complementam informações sem a necessidade de estender o

texto em si e acabam formando sistematicamente, com base em suas ligações, uma

sequência lógica e reflexiva para o entendimento do leitor, como aponta Pierre Lévy:

Tecnicamente, um hipertexto é um conjunto de nós ligados por conexões. Os nós podem ser palavras, páginas, imagens, gráficos ou partes de gráficos, sequências sonoras, documentos complexos que

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podem eles mesmos ser hipertextos. Os itens de informação não são ligados linearmente, como uma corda com nós. Navegar em um hipertexto significa portanto desenhar um percurso em uma rede que pode ser tão complicada quanto possível. Porque cada nó pode, por sua vez, conter uma rede inteira (LÉVY, 2004, p.33).

Logo, o que se entende por linguagem sucinta da internet, e simplificação do texto para

sua apresentação na rede, não implica em conteúdos menos abrangentes nas reportagens

propostas neste projeto. Sob essa perspectiva, outro recurso para aliviar a carga de texto

e, consequentemente, de leitura em frente ao monitor, é o aproveitamento do caráter

multimídia da internet para o planejamento e a produção das reportagens e a

apresentação de informações em outros formatos, através de vídeos, podcasts,

infográficos, fotos e imagens, promovendo a convergência dessas mídias no blog. De

acordo com Pierre Lévy, a reação dos leitores diante de imagens e gráficos em sistemas

virtuais é muito mais positiva do que diante de ícones tipográficos e texto:

A imagem é percebida mais rapidamente que o texto. A memorização da imagem é em geral melhor que a das representações verbais. A maior parte dos raciocínios espontâneos utiliza a simulação de modelos mentais, frequentemente imagéticos, muito mais do que cálculos (lógicos) sobre cadeias de caracteres(...). Enfim, as representações icônicas são independentes das línguas (sem problemas de tradução). (LÉVY, 1998, p.162).

Já a disponibilização de conteúdos em formato de podcast se deve à facilidade de

produção e manipulação de informações em áudio, à simplicidade de distribuição do

formato pela internet e à familiaridade do usuário com a linguagem do rádio, sucinta,

direta e, no caso do podcast, ainda mais informal e intimista.

Uma linguagem mais leve, com alguma dose de opinião e análise, conferindo às

reportagens um caráter bem pessoal e aproximado do leitor, também serviu como

premissa para a produção da série, já que os blogs, em essência, são espaços para a

promoção do intercâmbio de ideias e visões de mundo aproximadas e/ou distintas entre

blogueiro e leitores. Nesse sentido, o conteúdo da série também visa abrir discussões em

mídias sociais, como Orkut, Youtube e Twitter, nas quais a possibilidade de interação é

ainda maior que no blog. Para isso, cada uma dessas mídias contará com uma

abordagem específica para a divulgação da série publicada no blog, seja através da

criação de tópicos em comunidades relativas aos temas das reportagens, no Orkut, seja

Page 16: Relatório Final - TCC Rola Blog

16

por mensagens virais em formato de vídeo, no Youtube, ou por micropostagens e

teasers13 sobre a série, no Twitter.

2.3. A reconfiguração do jornalismo pelas redes sociais

Conduzida pelas mídias sociais, a internet vem passando por um processo gradual de

democratização das informações. Hoje, a antiga hierarquia entre veículos de

comunicação e seus públicos, que havia antes do surgimento da rede mundial de

computadores, vem se dissipando dia após dia, tal qual a fórmula do modelo

informacional baseada num canal de mão única: do transmissor ao receptor. As

possibilidades e os recursos tecnológicos simples e gratuitos que a web oferece, aliados

à facilidade de formar redes sociais consistentes através de sites como Orkut, Facebook,

Flickr, Twitter e Youtube, inseridos dentro do conceito de Web 2.0, colocam qualquer

pessoa em condições de ser receptora e, ao mesmo tempo, (re)produtora de conteúdo e

informações pela internet. Produzir e publicar uma foto, um vídeo ou um texto sobre

determinado fato ou acontecimento é algo que, atualmente, está ao alcance de todos que

dispõem de um computador e uma conexão de internet. Uma configuração que inspira o

questionamento do especialista norte-americano em ciência e tecnologia, Steven

Johnson:

Qual sociedade lhe parece incluir mais participação cívica? Uma em que o noticiário é controlado por uma pequena minoria e onde as interações cívicas das pessoas acontecem como leitura feita a caminho da seção de esportes? Ou uma em que milhares de pessoas comuns participam ativamente na criação do próprio noticiário? (JOHNSON, 2009, p.5).

A série “Como o esporte gira em torno do mundo” parte da premissa proposta na última

pergunta de Johnson, acreditando que, nesse novo cenário da internet, é função do

jornalismo criar novos espaços para debate de questões de interesse público, oferecer

conteúdo e informação que possam ser aprofundados com uma gama distinta de

opiniões, além de direcionar todo o material jornalístico às mídias sociais mais

populares, que têm potencial para se estabelecer como grandes canais de reflexão

coletiva. Um modelo que realmente possa ser chamado de jornalismo de participação,

aberto a novos discursos e, sobretudo, a novos olhares acerca da realidade – no caso da

série, a realidade que envolve o esporte e seus desdobramentos na sociedade.

13 Teaser é uma técnica de marketing utilizada para chamar a atenção para uma campanha publicitária ou de lançamento, aumentando o interesse de um determinado público por intermédio do uso de informações enigmáticas no início da campanha.

Page 17: Relatório Final - TCC Rola Blog

17

Esse modelo de jornalismo esportivo online, voltado diretamente para as mídias sociais,

não depende apenas, portanto, de pautas factuais ou de grande interesse público,

capazes de atrair a atenção dos leitores em massa para sustentar a audiência do veículo

de informação envolvido. Tais pautas devem continuar fazendo parte da cobertura

jornalística diária, mas não precisam ser tratadas nem como prioridade nem com

exclusividade. Pois, de acordo com o que argumenta Jenkins (2008), a internet, que

abriga, hoje, redes sociais de variados interesses e naturezas, está dividida em diversos

nichos especializados. Há vários grupos de pessoas com necessidades e desejos

específicos espalhados pela rede virtual, que se associam de forma organizada através

de mídias sociais. De acordo com Anderson (2006), a internet, devido a sua grande

oferta de informação, e à velocidade de comunicação característica do meio, propiciou o

surgimento de micro-culturas, de diferentes especificidades. Por não dependerem de

proximidade geográfica para se relacionarem, os usuários da rede acabam se

estabelecendo em determinados nichos de acordo com os assuntos e temas que os

pautam, deslocando-se, de certa forma, da cultura de massa para a variedade de culturas

paralelas.

Logo, a partir dessa nova estrutura social criada na web, é possível perceber, também, a

demanda por informações muito específicas, que podem ir de encontro ao interesse de

milhares de pessoas ou até mesmo a um determinado grupo bem mais restrito. Enquanto

notícias de futebol, no Brasil, por exemplo, atendem a boa parte dos interesses de quem

busca informação sobre esportes, discussões sobre o futuro do rugby no país podem

interessar somente a uma pequena e bem específica camada da população. No entanto, a

internet, diferentemente de outras mídias tradicionais, como TV e rádio, não impede

que essas duas pautas dividam o mesmo espaço editorial. Sua capacidade em promover

a convergência de várias mídias numa só, e seu caráter sequencial e dinâmico, imposto

pelo hipertexto, permitem ao jornalismo pensar alternativas de publicação que possam

agregar interesses diversos, atraindo a atenção de nichos especializados – em rugby, por

exemplo -, como discorre Henry Jenkins:

A convergência de mídias refere-se ao fluxo de conteúdo através de suportes midiáticos diversos, à cooperação entre diferentes setores das mídias e o comportamento migratório dos públicos que irão a quase qualquer lugar em busca das experiências de entretenimento que desejam. (JENKINS, 2008, p.28).

Page 18: Relatório Final - TCC Rola Blog

18

Tomando-se como público principal do jornalismo esportivo, pessoas de diferentes

idades, sexos e classes sociais que se interessam por esporte, apenas, observa-se que

elas podem se dividir em grupos de interesse distintos: torcedores de clubes de futebol,

pesquisadores e profissionais da área de Educação Física, atletas de modalidades

olímpicas etc. O papel do webjornalismo14, então, levando-se em conta as condições

pré-estabelecidas pela Web 2.0, é fazer com que esses nichos específicos disponham de

informação relevante para debater e analisar em suas respectivas redes sociais,

independentemente de seus interesses atenderem somente aos anseios de um pequeno

grupo de pessoas. Daí a necessidade de o jornalismo estender suas atuações para as

mídias sociais, onde é possível trabalhar e conhecer melhor as particularidades de cada

grupo específico, com vistas a oferecer conteúdos customizados, capazes de gerar uma

comunicação direta entre veículos de imprensa e seus interlocutores.

Ao contrário de muitos jornais, inclusive de publicações especializadas em esportes, que

têm se apropriado das mídias sociais – Twitter e Youtube, principalmente - apenas para

divulgação de seus conteúdos, o modelo de jornalismo de participação proposto e

utilizado pela série “Como o esporte gira em torno do mundo” tem como base a

construção de debates e a troca de informações na esfera das redes sociais, atreladas à

produção de reportagens que servem de referência para essas discussões. Segundo

Raquel Recuero, o conceito de interatividade, na internet, só se aplica, no fim das

contas, às conversações que implicam em troca, já que a interação no meio virtual

representa sempre um processo comunicacional e essencialmente possível em diferentes

mídias:

Outro fator característico da interação mediada por computador é sua capacidade de migração. As interações entre atores sociais podem, assim, espalhar-se entre as diversas plataformas de comunicação, como, por exemplo, em uma rede de blogs e mesmo entre ferramentas, como, por exemplo, entre Orkut e blogs. Essa migração pode também auxiliar na percepção da multiplexidade das relações, um indicativo da presença dos laços fortes na rede. (RECUERO, 2009, p.36).

Antes consideradas páginas de caráter exclusivamente pessoal e de pouca credibilidade,

os blogs começam a se firmar como fontes de informação e principalmente de debates

na atualidade. Pegando o gancho dessa corrente, o Rola Blog pretende, ao longo da

14 Webjornalismo é a atividade jornalística voltada para a internet ou, simplesmente, jornalismo online.

Page 19: Relatório Final - TCC Rola Blog

19

publicação da série, se firmar cada vez mais como um social hub15 da blogosfera

esportiva, incentivando novos discursos e coberturas diferenciadas que envolvam o

esporte em outras páginas virtuais. “Como o esporte gira em torno do mundo”, em

síntese, é uma tentativa de refletir o amadurecimento do conteúdo publicado pelos

blogs, adaptado para bem utilizar os recursos da internet na discussão sobre diversos

temas, como enfatiza Steven Johnson:

As primeiras ondas de blogs eram focadas em tecnologia; mais tarde, se voltaram à política. Agora a mesma coisa está acontecendo com a cobertura de esportes, economia, cinema, livros, restaurantes e notícias locais - todos os temas padrões do velho formato dos jornais estão proliferando online. Há mais perspectivas e mais profundidade. E isso é apenas o crescimento mais recente. As notícias online estão apenas começando a amadurecer. (JOHNSON, 2009, p.4).

3. Execução do projeto

Para apresentar e tentar explicar as diversas formas pelas quais o esporte se relaciona

com alguns segmentos da sociedade, foram produzidas nove reportagens voltadas para a

ferramenta blog, com temáticas pré-definidas: 2 (duas) sobre esporte e cultura; 1 (uma)

sobre esporte e saúde; 1 (uma) sobre esporte e educação; 1 (uma) sobre esporte e

economia; 3 (três) sobre esporte e sociedade; e 1 (uma) sobre esporte e política. A

execução da série proposta como projeto se desdobrou basicamente em cinco fases:

definição de pautas, pesquisa e contato com as fontes, apuração jornalística,

edição/produção de conteúdo e publicação. Para dar conta de todos esses estágios, e

organizá-los de acordo com o tempo hábil disponível para o desenvolvimento da série,

foi traçado um planejamento que previa seis meses para sua execução.

3.1. Cronograma de trabalho

Janeiro a Março/2009: pesquisa e fechamento de pautas; contato com fontes e

agendamento de entrevistas; apuração jornalística e captação de imagens para as

reportagens.

15 Social hub é um termo utilizado para definir pessoas, sites ou blogs que mantêm um número muito alto de conexões com outros usuários da internet. Por transitarem em muitas redes, os social hubs são capazes de transmitir e reproduzir informações em larga escala, influenciando diretamente diversos outros usuários.

Page 20: Relatório Final - TCC Rola Blog

20

Abr il/2009: organização das informações apuradas e redação das matérias.

Maio/2009: edição de vídeos, fotos e podcasts; formatação da série para ser postada no

blog.

Junho a Julho/2009: publicação da série no blog; divulgação do conteúdo através de

mídias sociais; monitoramento e resposta dos comentários dos leitores sobre as

reportagens.

A publicação da série no Rola Blog começou no dia 22 de junho e tem seu

encerramento previsto para o dia 30 de julho de 2009.

3.2. Recursos técnicos utilizados

O objetivo de uma série jornalística publicada em blog e em mídias sociais não é

disponibilizar conteúdo de áudio e vídeo em alta definição, tampouco mobilizar

superproduções em relação a equipamento e recursos técnicos, pelo contrário. A

internet e as novas tecnologias portáteis possibilitam, hoje, a divulgação de um

acontecimento captado por um aparelho celular de forma instantânea, simples e barata,

por qualquer pessoa, em qualquer parte do mundo. Essa facilidade incentiva usuários a

colaborarem, cada vez mais, com materiais próprios na construção da rede noticiosa na

web, sobretudo nos blogs.

Portanto, para incorporar esse novo perfil de apropriação da internet, a produção da

série especial de reportagens utilizou apenas recursos tipicamente “caseiros” : uma

câmera digital portátil, um gravador MP3 e um headset16, para captação de áudio e

imagens. A edição de todo o conteúdo também foi de responsabilidade própria, feita, em

boa parte dos materiais, com a ajuda softwares livres17 e gratuitos, como o Audacity,

para edição de sonoras e podcasts. A hospedagem do blog e dos arquivos está a cargo

de um servidor gratuito, o “Zip.net” .

3.3. Repor tagens e temáticas da sér ie

Texto de aber tura e postagem coletiva – para abrir a série especial de reportagem no

blog, além de um post introdutório, explicando o conteúdo e a produção dessa nova

16 Headset é um conjunto de fone de ouvido com controle de volume e microfone acoplado para uso em microcomputadores multimídia e também para telemarketing. 17 Software livre, segundo a definição criada pela Free Software Foundation, é qualquer programa de computador que pode ser usado, copiado, estudado e redistribuído sem nenhuma restrição.

Page 21: Relatório Final - TCC Rola Blog

21

empreitada do Rola Blog, foi organizada uma postagem coletiva, que envolveu 22

outros blogs esportivos. Os editores de cada blog tiveram de postar um texto

respondendo à pergunta “o esporte é capaz de transformar o mundo e a sociedade em

que vivemos?” , como forma de marcar o Dia Universal Olímpico, comemorado no dia

23 de junho – data em que o Comitê Olímpico Internacional foi fundado pelo Barão de

Coubertin, em 1894. A recopilação dessas postagens foi publicada no Rola Blog no

próprio dia 23, um dia após o post introdutório, indicando, através de links, todos os

blogs e seus respectivos textos que participaram da ação coletiva entre blogueiros. A

ação serviu como ponto de partida para a publicação de “Como o esporte gira em torno

do mundo” no blog.

Figura 1: postagem coletiva para o Dia Universal Olímpico

Page 22: Relatório Final - TCC Rola Blog

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Figura 2: recopilação da postagem coletiva no Rola Blog com links para outros blogs

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Figura 3: comentários e discussão em torno da postagem coletiva

Repor tagem 1 (espor te e cultura) - o encontro de identidades regionais: torcedores de

clubes de outros estados que se reúnem para assistir a jogos em bares de Belo

Horizonte, celebrando com um hábito tipicamente mineiro o prazer de vibrar pelo time

do coração. Para a produção da reportagem, foram visitados quatro bares de torcida na

capital mineira: Botafogo, Corinthians, Flamengo e São Paulo. A ideia era mesclar o

fato de BH ser a capital mundial dos bares com a relação que torcedores mineiros e de

outros estados mantêm com esses locais, batizados e oficializados como redutos dessas

torcidas. Além dos torcedores entrevistados nos bares, um sociólogo e um historiador

do esporte também serviram como fonte para os quatro mini-documentários – um sobre

cada bar – produzidos ao final da apuração e veiculados no Youtube. O historiador do

futebol Hilário Franco Jr., da USP, contribuiu com informações sobre a relação

existente entre futebol, cultura e identidade, que encadearam o texto de abertura e a

chamada dos vídeos no blog. Fotos dos bares e dos torcedores foram produzidas para

serem postadas no Flickr e no Orkut do Rola Blog. Por fim, um mapa com a localização

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de 11 bares de torcida em Belo Horizonte foi disponibilizado para consulta através da

ferramenta Google Maps18.

Formatos utilizados: reportagem de texto, foto, mapa e mini vídeo-documentário.

Figura 4: mapa dos bares de torcida em Belo Horizonte, via Google Maps

Repor tagem 2 (espor te e cultura) – a contradição dos esportes de contato físico: tidos

como modalidades violentas, rugby, em Minas Gerais, e futebol americano, jogado nas

praias do Rio de Janeiro, provam o contrário ao promover confraternização e troca de

experiência entre seus praticantes. Nessa reportagem, o olhar sobre cultura segue o

conceito proposto pelo antropólogo norte-americano Clifford Geertz:

A cultura é melhor vista não como um complexo de padrões concretos de comportamento - costumes, usos, tradições, feixes de hábitos - como tem sido o caso até agora, mas como um conjunto de mecanismos de controle - planos, receitas, regras, instruções (o que os engenheiros de computação chamam de “programas”) - para governar o comportamento. A segunda ideia é que o homem é precisamente o animal mais desesperadamente dependente de tais mecanismos de controle, extragenéticos, fora da pele, de tais programas culturais, para ordenar seu comportamento. (GEERTZ, 1978, p.54).

18 Google Maps é um serviço de pesquisa e visualização de mapas e imagens de satélite da Terra gratuito na web, fornecido e desenvolvido pela empresa norte-americana Google.

Page 25: Relatório Final - TCC Rola Blog

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Esses mecanismos de controle descritos por Geertz, portanto, fazem um paralelo, como

foco da reportagem, com as regras do rugby e do futebol americano, que, mesmo sendo

esportes de muito contato físico, pregam valores distintos da violência e do que se passa

para outras pessoas que acompanham tais modalidades. A parte de texto trata do futebol

americano de praia, típico do Rio de Janeiro, enquanto a parte de foto e vídeo, para ser

postada no Flickr e no Youtube, respectivamente, mostra o rugby, através do

acompanhamento de uma equipe belo-horizontina.

Formatos utilizados: reportagem de texto, foto e vídeo-reportagem.

Repor tagem 3 (espor te e saúde) – relação bem-estar e corpo humano no esporte: até

que ponto a prática de atividade física pode oferecer qualidade de vida? Para debater a

questão, o Rola Blog foi atrás de médicos, fisiologistas e especialistas em medicina do

esporte e levantou dados sobre a prática de esporte no Brasil. Dois pontos de vista

diferentes foram expostos: quem defende o esporte como promotor de saúde e quem o

condena, principalmente no alto rendimento, por ser causador de inúmeras lesões aos

atletas. Uma enquete lançada no blog com um mês de antecedência da publicação da

série também serviu como dado para a reportagem, colocando os leitores como “atores

diretos” na narrativa jornalística.

Formatos utilizados: reportagem de texto, infográfico, enquete e entrevistas em

arquivo de áudio.

Figura 5: resultado da enquete e infográfico publicados com a reportagem

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Figura 6: entrevista em áudio com o médico do esporte Luiz Oswaldo Carneiro, disponibilizada no blog

Repor tagem 4 (espor te e educação) – como a combinação educação e esporte pode

render bons resultados tanto na esfera intelectual quanto no âmbito esportivo: uma

comparação entre modelos cubano e brasileiro de investimento em formação de jovens

estudantes e esportistas. Entrevistas com jornalistas e especialistas cubanos em esporte

revelam diferentes opiniões sobre a ascensão e a decadência do esporte em Cuba,

enquanto que, para relacionar esporte e educação no Brasil, políticas públicas foram

destrinchadas e comentadas por pessoas diretamente envolvidas na área, inclusive pelo

ministro do Esporte, Orlando Silva Jr.

Formatos utilizados: reportagem de texto, imagens, infográfico e tabelas.

Figura 7: tabela e infográfico elaborados para a reportagem

Repor tagem 5 (espor te e economia) – o Brasil está preparado para receber grandes

eventos esportivos, como Copa do Mundo e Olimpíada, sobretudo no aspecto

econômico? Qual o impacto desses eventos na economia de um país? Além de um

levantamento de custos e projeções sobre a Copa-2014, foi produzido um podcast, com

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27

a participação de outros blogueiros e especialistas em marketing esportivo a fim de

responder às perguntas que serviram como pauta para a reportagem.

Formatos utilizados: reportagem de texto, infográfico, tabelas e podcast.

Repor tagem 6 (espor te e sociedade) – a sobrevivência do futebol amador em diversas

comunidades: a várzea da bola representada tanto na capital quanto no interior de Minas

Gerais. Dentro dessa temática, foram produzidos dois mini vídeos-documentários, com

cerca de 10 minutos cada um – para serem postados no Youtube, já que o site não aceita

vídeos que extrapolem essa duração. Um retrata o futebol amador nas favelas,

aproveitando como gancho a final da Copa Itatiaia de Futebol Amador 2009, disputada

no aglomerado Alto Vera Cruz, em Belo Horizonte. O outro trata da importância do

futebol amador na Zona Rural da cidade mineira de Tocantins, a 280 quilômetros de

BH, onde os campos têm ficado cada vez mais vazios por conta da migração para a

Zona Urbana e para cidades maiores.

Formatos utilizados: foto e mini vídeo-documentário.

Figura 8: o futebol de várzea na capital e no interior, retratado nos mini-documentários da série

Repor tagem 7 (espor te e sociedade) – categorias de base: o dia-a-dia de um grupo de

garotos em busca do sonho de ser jogador de futebol. A cobertura da rotina de um time

de base, durante uma semana, foi o método encontrado para realização da pauta. O

clube escolhido foi o Santa Cruz, um dos times mais tradicionais do futebol amador de

Belo Horizonte. Mantendo há décadas todas as suas atividades no amadorismo, o Santa

Cruz também tem tradição na revelação de jovens talentos nas categorias infantil e

juvenil. Acompanhar a rotina de um clube amador foi a maneira encontrada para

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mostrar que, as categorias de base do futebol brasileiro, fora dos grandes clubes

profissionais, ainda é incapaz de oferecer estrutura suficiente para a formação de uma

criança ou de um adolescente, não respeitando nem mesmo direitos básicos desses

jovens garotos.

Formatos utilizados: reportagem de texto, vídeo-reportagem, foto e entrevistas em

arquivo de áudio.

Repor tagem 8 (espor te e sociedade) – inclusão social através do esporte: deficientes

que superam limitações através da prática de judô, tênis de mesa e basquete. Para

produzir a reportagem, foi feito acompanhamento ao longo de três semanas em duas

entidades que oferecem esporte e outros tipos de lazer a atletas portadores de algum tipo

de deficiência: a Associação Mineira de Paraplégicos e o Centro de Referência

Esportiva, em Belo Horizonte. A intenção é mostrar que, com a ajuda do esporte

adaptado, portadores de deficiência podem adquirir melhor qualidade de vida e que,

para que isso seja fomentado na sociedade, é preciso mais investimentos das iniciativas

pública e privada no esporte paraolímpico brasileiro.

Formatos utilizados: foto e vídeo-reportagem.

Figura 9: tênis de mesa adaptado para cadeirantes, uma das modalidades tratadas na reportagem

Repor tagem 9 (espor te e política) – racismo, desigualdade e superação: como a esfera

política contribuiu para instituir e disseminar preconceitos no esporte. O objetivo da

reportagem é revelar, através de entrevistas com sociólogos do esporte, militantes do

movimento negro e ex-atletas - além de exemplos históricos que se estabelecem como

tentativa de utilizar o esporte como ferramenta de manutenção ou de repudio ao

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preconceito racial -, como instituições esportivas avalizaram regras que promoveram

segregação e exclusão. E como atletas negros, ao longo da história, se apropriaram do

esporte para protestar contra o racismo.

Formatos utilizados: crônica, imagens e entrevistas em arquivo de áudio.

3.4. Inter relação entre temáticas

Retomando o conceito de hipertexto, e da internet como meio de difusão de informações

através da lógica de suas ligações e referências, as temáticas e as reportagens da série

foram pensadas de forma a se relacionarem, direta ou indiretamente, umas com as

outras, como mostra o diagrama a seguir:

Figura 10: relação entre os temas da série especial de reportagem

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Sem contar a relação direta entre o esporte em si e as diversas áreas da sociedade, como

cultura, economia, educação, política e saúde, existe ainda uma relação indireta, quase

que de causa e efeito, entre as reportagens da série: a migração que leva jovens atletas

do interior a tentar a sorte no futebol das grandes cidades; a incapacidade de absorção

desses garotos por parte dos grandes clubes, deixando a maioria à margem da educação

e dos próprios direitos da criança e do adolescente; a falta de informação, instrução e

bagagem cultural, que acarreta na constituição de grupos violentos de torcedores e

aficionados; o impacto da Copa-2014 na economia do Brasil e na modernização dos

estádios, que pode atrair mais torcedores ao campo e diminuir a dependência dos bares

como reduto de torcidas; instituições políticas e poder público que, ao invés de fomentar

o esporte para todos os cidadãos, inclusive deficientes, concentram investimentos em

atletas de alto nível e, logo, acentuam desigualdades e discriminações; o esporte que

pode melhorar a qualidade de vida de deficientes físicos, por exemplo, mas, ao mesmo

tempo, pode afetar negativamente a saúde de quem busca o alto nível. Essas são

algumas das relações que permeiam a série especial de reportagem, construindo, ao

final, uma proposta de abordagem do esporte analítica, reflexiva e sistêmica, como

determina o modelo de jornalismo esportivo online sugerido por este projeto.

3.5. Veiculação em mídias sociais

Para trabalhar com uma diversidade maior de públicos – além dos leitores do blog -, e

captar diferentes discursos e opiniões sobre o conteúdo da série, o Rola Blog focou suas

atenções em cinco mídias sociais específicas (Brasigo, Flickr, Orkut, Twitter e

Youtube), cada uma com particularidades e ferramentas distintas. Em todas elas, foi

possível estabelecer um relacionamento eficaz com as pessoas que participavam e

contribuíam com a série, seja através de novas informações, comentários, críticas ou

disseminação de conteúdos postados pelo perfil do Rola Blog nessas mídias. Resultado

que, apesar de significativo quantitativamente, é ainda mais relevante pelo aspecto

qualitativo das discussões geradas nas redes sociais.

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- Brasigo19

Perguntas que complementaram os posts da série no blog, e estenderam o debate -

inclusive sobre a questão sugerida aos blogueiros na postagem coletiva (“o esporte é

capaz de transformar o mundo e a sociedade em que vivemos?”) – a um público

diversificado, com participação mais ativa de mulheres, adolescentes e homens de meia

idade.

19 Brasigo é um serviço brasileiro em formato de rede social, ainda incipiente, com a finalidade de criar, compartilhar e descobrir conteúdo em língua portuguesa através de perguntas e respostas criadas pelos usuários.

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Figura 11: discussão no Brasigo sobre o tema da postagem coletiva

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- Flickr

Postagem de todas as fotos tiradas durante a produção da série, inclusive de bastidores

das reportagens, conferindo um caráter bem pessoal e não-confidencial à relação com o

público do blog.

Figura 12: álbuns de fotografia do Rola Blog no Flickr

- Orkut

Participação em tópicos relacionados à serie e ao esporte em geral, divulgação das

reportagens na comunidade oficial do Rola Blog e em comunidades específicas,

postagem de fotos e vídeos no perfil do blog no Orkut e criação de enquetes para

chamar a atenção de usuários para a publicação de “Como o esporte gira em torno do

mundo”. Dentro do site, o Rola Blog possui uma rede com mais de 780 amigos e uma

comunidade oficial com 185 membros, além de administrar e mediar a comunidade

Page 34: Relatório Final - TCC Rola Blog

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“Blogs esportivos” , que conta com mais de 400 membros e já contabiliza quase 3500

mensagens postadas.

Figura 13: enquete criada na comunidade “Copa do Mundo 2014 no Brasil”

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Figura 14: discussão na comunidade da torcida do Flamengo em BH sobre uma das reportagens da série

Figura 15: discussão na comunidade da torcida do São Paulo em BH sobre uma das reportagens da série

Page 36: Relatório Final - TCC Rola Blog

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- Twitter

Divulgação de teasers sobre a série através de fotos e mensagens curtas, publicação dos

links de todo o conteúdo produzido, incluindo as reportagens postadas no blog, vídeos

no Youtube, fotos no Flickr e perguntas no Brasigo. Para orientar os seguidores do

perfil do Rola Blog no Twitter, organizando a busca pelo conteúdo da série no site, foi

criada a hashtag20 “#esportemundo”. É só digitar a expressão no serviço de busca do

Twitter que todos os posts relacionados à série aparecerão dispostos em ordem

cronológica de publicação.

Figura 16: hashtag “#esportemundo” na busca do Twitter, com participação de diversos usuários da rede

20 Hashtag é uma espécie de palavra-chave ou termo associado a uma informação que o descreve, que serve de convenção para tratar de determinado assunto em redes sociais, como o Twitter.

Page 37: Relatório Final - TCC Rola Blog

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- Youtube

Postagem de vídeos no canal personalizado do Rola Blog e criação de listas de

reprodução temáticas, organizando os vídeos de cada reportagem numa só sessão. Dada

a liberdade que Youtube oferece para que vídeos sejam incorporados em outros sites por

qualquer pessoa, o conteúdo dos mini-documentários sobre bares de torcida em Belo

Horizonte, por exemplo, se espalhou rápido por outros blogs e sites de torcedores. O

mini-documentário da torcida do Flamengo, inclusive, foi postado no Urublog, editado

pelo publicitário Arthur Muhlenberg e hospedado num dos maiores portais de notícias

de esportes do país, o Globoesporte.com. Em menos de um dia, a postagem com o vídeo

rendeu quase 300 comentários dos flamenguistas que visitam o Urublog.

Figura 17: canal do Rola Blog no Youtube e comentários dos usuários sobre os vídeos da série

Figura 18: mini-documentário sobre a torcida do Flamengo incorporado no Urublog

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38

4. Considerações finais

A publicação da série especial de reportagem “Como o esporte gira em torno do

mundo”, no Rola Blog, acena para possibilidades e perspectivas. É possível, sim,

produzir conteúdo jornalístico relevante, exclusivo e analítico para a web,

independentemente de estar relacionado ou não à esfera esportiva. É possível e, antes de

tudo, viável, seja para blogueiros, jornalistas independentes ou grandes portais de

notícias. As pessoas têm cada vez mais interesse em se informar através da internet,

porém, o conteúdo de informação disponibilizado para elas é, em grande parte dos

casos, reprodução de velhos discursos ou mero reaproveitamento de material produzido

para outro tipo de mídia. Grandes portais, por exemplo, limitam-se a cobrir a rotina

factual e requentar, na web, conteúdos originalmente produzidos para o jornal impresso,

para a TV ou para o rádio. A mídia e – quando muito – algumas marcas de linguagem

no texto jornalístico mudam, mas não há nada pensado e planejado exclusivamente para

explorar a internet e suas inúmeras possibilidades, dentre elas, a constituição de

poderosas redes sociais.

O que falta ainda para o amadurecimento do jornalismo online é justamente o

investimento em grande reportagem, com abordagens diferenciadas e que proponham

mais discussões, levando-se em conta preciosas ferramentas disponíveis para a

execução dessa tarefa: novas tecnologias digitais portáteis, como celulares, gravadores

MP3 e câmeras, e, principalmente, as mídias sociais espalhadas pela rede mundial de

computadores. Provando que a internet, apesar de seu caráter imediatista e altamente

dinâmico, não abre espaço apenas para informações curtas e conteúdos enxutos, “Como

o esporte gira em torno do mundo” mostra que a grande reportagem – multimídia e

voltada para a repercussão em mídias sociais – é um caminho a ser percorrido e

redescoberto pelo jornalismo daqui para frente. A rede virtual é heterogênea e composta

por diversos interesses de pessoas que, de alguma forma, ainda não são contemplados

pela cobertura atual da mídia, ditada, principalmente na internet, pela ordem do hard

news e da notícia sem aprofundamento crítico-jornalístico.

Em apenas uma semana de publicação da série no blog, foi possível perceber que a

grande reportagem não afasta o usuário de internet, mas, sim, agrega novos leitores e

incita ainda mais a troca de informações, o debate qualificado de ideias.

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Figura 19: estatísticas do Rola Blog no período de uma semana. Fonte: Sitemeter

Durante o período de publicação das primeiras reportagens da série, entre 23 de junho e

01 de julho, o Rola Blog registrou um aumento de quase 100% em sua média de

visitantes diários. Os leitores, que antes gastavam, em média, 3 minutos e 45 segundos

navegando no blog, passaram a permanecer mais de 8 minutos diante do conteúdo da

página. A média de comentários por post subiu de 11,3 para 14,7. Isso em uma semana,

no começo da postagem da série. No Youtube, só os mini-documentários sobre os bares

de torcida em BH contabilizaram 6000 exibições.

Entretanto, os resultados quantitativos não são tão importantes quanto o retorno

qualitativo proporcionado pela série: as discussões e a mobilização gerada em torno do

esporte e de suas questões mais profundas - pouco retratadas na mídia, diga-se de

passagem, incluindo a internet -, que envolvem sua relação com a sociedade como um

todo. O objetivo final de “Como o esporte gira em torno do mundo” é incentivar novos

investimentos em reportagem e jornalismo esportivo aprofundado, voltados para a web

como um modelo que dê conta da nova configuração imposta pelo meio virtual ao

tratamento da informação. Pois o esporte, só como exemplo, não se resume à vida

pessoal do craque da Seleção ou a recordes e medalhas nas Olimpíadas. Trata-se de um

fenômeno moderno de nossa sociedade que ainda carece de muito debate e mais

profundidade em sua cobertura. Falta tratá-lo como ele verdadeiramente é em essência.

Esse universo paralelo que não deixa de girar em torno de nós.

Page 40: Relatório Final - TCC Rola Blog

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5. Referências bibliográficas

ANDERSON, Chris. A Cauda Longa: do Mercado de Massa para o Mercado de

Nicho. 1ª ed. São Paulo: Campus, 2006.

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COELHO, Paulo Vinícius. Jornalismo espor tivo. São Paulo: Contexto, 2003.

DAMATTA, Roberto. A bola cor re mais que os homens: duas Copas, treze crônicas e

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RIBEIRO, André. Os donos do espetáculo: histórias da imprensa esportiva no Brasil.

São Paulo: Terceiro Nome, 2007.

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6. Anexos

6.1. Logotipo e cabeçalho do Rola Blog

6.2. Banner de divulgação da sér ie

6.3. Links úteis

- Rola Blog: http://www.rolablog.com.br

- Rola Blog TV: http://www.youtube.com.br/rolablog

- Flickr: http://www.flickr.com/photos/rolablog

- Brasigo: http://brasigo.com.br/usuario/rolablog

- Twitter: http://twitter.com/rolablog

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- Orkut: www.orkut.com.br/Main#Profile.aspx?origin=is&uid=314592839048691060

- Blog do Arthur Muhlenberg: http://colunas.globoesporte.com/arthurmuhlenberg

6.4. Entrevista com Ana Maria Brambilla

Rola Blog: Você acredita que os blogs, dentro da tão propagada "Web 2.0", podem, de fato, constituir uma nova era na internet? Ana Brambilla: Essa nova era já é uma realidade, uma vez que o relacionamento das pessoas com a informação está totalmente modificado em função de dispositivos que se encaixam no conceito 2.0 de web. O blog é um desses dispositivos. Assim, eles contribuem largamente, é verdade, com a constituição dessa nova era. RB: Quais os pontos positivos e negativos dessa explosão de blogs, que se multiplicam dia após dia? AB: Como pontos positivos, destaco a pluralidade de visões de um fato que a blogosfera oferece ao público, a proximidade da informação com a fonte, do público com o autor, o contato - multiplique isso por 10! - entre quem produz e quem lê blogs (que, por sua vez, também pode produzir seus próprios blogs), a independência na produção, a segmentação de conteúdos. Isso sem contar aquelas peculiaridades da web, como multimidialidade e hipertextualidade. Pelo lado negativo, aponto a possibilidade do anonimato na veiculação de informações, a overdose de dados que dificulta a seleção e fruição de dados relevantes na rede, a auto-celebração instantânea e, em muitos casos, vazia (pessoas que se tornam - ou apenas se sentem - celebridades da noite para o dia pelo simples fato de terem blogs), a criação de guetos impermeáveis e radicais em conceitos próprios, além de um desejo visceral de alguns blogueiros em ganhar dinheiro com essa prática que, na maioria dos casos, prejudica a qualidade do conteúdo dos posts. RB: Pode-se dizer que os blogs ampliaram o conteúdo da internet ou, em sua maioria, apenas reproduzem os velhos discursos? AB: Tenho encontrado blogs realmente bons, que me trazem informações que não encontro na mídia tradicional tampouco reproduzem os velhos discursos. Não creio que isso seja uma minoria, mas certamente há blogueiros que se limitam a contar o que viram pela TV e, o que é ainda pior, aqueles que copiam conteúdo de outros sites. Diria que esse é um "mau uso" da ferramenta blog, mas que de forma alguma macula a existência dessa ferramenta em si e tampouco menospreza todos os benefícios que a blogagem trouxe ao mundo informacional. RB: Muitos blogs publicam textos de outros blogueiros numa falsa impressão de estarem praticando jornalismo colaborativo. A visão dessa prática jornalística anda meio deturpada ou ainda é desconhecida aqui no Brasil? AB: Blogagem em geral não é sinônimo de jornalismo colaborativo ou de participação. O que ainda parece de difícil compreensão para muita gente é a diferença entre

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conteúdo colaborativo e jornalismo colaborativo. Contar como foi meu dia na escola pode ser conteúdo, assim como copiar o texto de outro blogueiro - embora aí também seja plágio, mas em momento algum pode ser considerado um trabalho jornalístico. Jornalismo não é o ato de publicar, mas o conteúdo que se tem a publicar. O que os blogs nos permitem é publicar. O conteúdo fica por conta de quem produz. E mesmo o conteúdo original publicado em blogs próprios não pode, genericamente, ser classificado como jornalismo colaborativo. Isso apenas diferencia o blog de um noticiário colaborativo, que conta com redação, equipe de apuração, edição, é coletivo, tem filtros, hierarquias e linha editorial. RB: Muitos blogs contabilizam milhões de visitas, inúmeros comentários, e já tem gente até ganhando a vida com isso. Há uma fórmula de sucesso para os blogs? AB: Ter milhões de visitas, inúmeros comentários e ganhar dinheiro com isso é sucesso para blogs? Acho que esses são indicativos para sucesso em um negócio, em uma empresa. E, particularmente, não consigo enxergar blogs como negócios. Acho que eles ainda não atingiram um grau de maturidade para tanto. Além disso, esses indicativos são típicos de mídia de massa: quantidade de visitas, de comentários, de dinheiro. E onde fica a qualidade disso tudo, que é o grande propósito da segmentação tão característica da web? Me parece que estão querendo forçar a aplicação da fôrma da cultura de massa na cultura digital. Pode ser a perda da grande oportunidade que a humanidade está tendo de rever seus valores – comerciais, sociais e, sobretudo, humanos. RB: Especialistas em internet mais utópicos acreditam que, em breve, os blogs irão superar os meios de comunicação convencionais. Sonho ou projeção? AB: Para ser projeção, é preciso que muita coisa mude na blogosfera. E não creio que todas as mudanças necessárias realmente ocorrerão. Por exemplo: a identificação do blogueiro. Tem blogueiro que não abre mão do anonimato. E uma informação anônima jamais superará uma identificada - por um veículo convencional ou não. Agora é preciso que a gente diferencie meios de comunicação convencionais de marcas convencionais. Creio que jornais que se consagraram no papel possam ter longa vida no ambiente online, mesmo junto com os blogs. Isso porque a missão de um blog me parece muito diferente da missão de um veículo de marca tradicional ou mesmo de um jornal online exclusivo da web. Ou seja, não consigo pensar em substituição, superação, mas, sim, em coexistência, uma vez que ambos os suportes desenvolvem papéis diferentes para atender à demanda do público por informação. RB: Blogueiro como profissão: é possível? AB: Não. Blogar é um adendo - para não dizer um adereço - à vida profissional ou pessoal de qualquer pessoa. Ana Maria Brambilla é jornalista, mestre em Comunicação Social e editora de Internet e conteúdo colaborativo da Editora Abril.