Relatório Final - xix eneb · XIX Encontro Nacional de Estudantes de Biologia, que realizou-se em...

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1 Relatório Final - xix eneb XIX ENCONTRO NACIONAL DOS ESTUDANTES DE BIOLOGIA ENEB 10 a 18 de Outubro de 1998 Porto Alegre RS Realização: Diretório Acadêmico do Instituto de Biociências DAIB Movimento Coletivo da Biologia MOCOBIO Fone: (051) 316-3078 E-mail: [email protected] Apoio: Superintendência de Assuntos Comunitários ASSUCOM/UFRGS

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Relatório Final - xix eneb

XIX ENCONTRO NACIONAL DOS ESTUDANTES DE BIOLOGIA – ENEB

10 a 18 de Outubro de 1998 – Porto Alegre – RS

Realização: Diretório Acadêmico do Instituto de Biociências – DAIB

Movimento Coletivo da Biologia – MOCOBIO

Fone: (051) 316-3078 E-mail: [email protected]

Apoio: Superintendência de Assuntos Comunitários – ASSUCOM/UFRGS

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EDITORIALMENTE FALANDO

““AA RReevvoolluuççããoo éé uummaa ffoorrççaa qquuee nneennhhuumm ppooddeerr ccoonnsseegguuee vveenncceerr,, sseejjaa eellee ddiivviinnoo oouu hhuummaannoo;; ssuuaa tteennddêênncciiaa éé

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ddiiffeerreennççaa qquuee tteennhhaa ssiiddoo ppeerrsseegguuiiddaa,, aattoorrmmeennttaaddaa ee ccoommbbaattiiddaa ddeessddee oo iinníícciioo oouu qquuee tteennhhaa ssuurrggiiddoo ee ssee

ddeesseennvvoollvviiddoo sseemm eennccoonnttrraarr oobbssttááccuullooss..””

PPiieerrrree –– JJoosseepphh PPrroouuddhhoonn

Então, mostrando que é possível vencer a

inércia, temos o orgulho de apresentar o relatório do

XIX Encontro Nacional de Estudantes de Biologia, que

realizou-se em Porto Alegre, sediado pela malucada da

BIO/UFRGS, este povo que vos fala.

Claro que esperamos não precisar dizer (porém,

já dizendo) que este relatório traz em suas páginas

momentos, acontecimentos, reflexões em torno

daquilo que acabou sendo este XIX ENEB, mas que

sabemos ser apenas uma parte de toda a história.

Como traduzir os sentimentos de 400 pessoas.

Sabemos que muita coisa nos escapou da memória, que

não foi possível estarmos em todos os lugares, com

todas as pessoas, que muito se perde na percepção

orientada e induzida que temos dos fatos, e não que

isto não possa ser modificado. Afinal, era isso que

tentávamos o tempo todo: mostrar diferentes pontos

da realidade complexa na qual vivemos, para assim

termos olhos e mente aberta para entender e corpos e

forças para realizar.

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SUMÁRIO

ONDE MORA O ESPÍRITO página 3

DINÂMICA DO ENCONTRO página 5

OFICINAS página 7

GRUPOS ESPECÍFICOS página 8

GRUPOS TEMÁTICOS: Organização e Movimentos Sociais página 8

Ambiente e Conservação página 9

Cidade e Sociedade página 11

Repensando a Universidade página 12

OCUPAÇÃO VERDE página 14

PENSANDO CONTRA A CORRENTE página 15

BOLICHÃO E FEIRA página 16

SEMPRE LEMBRANDO NUNCA ESQUECENDO: O LIXO página 17

ASSEMBLÉIA NACIONAL DOS ESTUDANTES DE BIOLOGIA página 17

PLENÁRIA FINAL DO ENCONTRO página 18

CONCLUSÃO página 20

ONDE MORA O ESPÍRITO

Estamos próximos de completar 500 anos de exploração e dominação, que marcam a

chegada dos europeus as terras brasileiras até os dias de hoje. Tempo este em que se fez do

empobrecimento dos povos e da terra colonizada, o excedente que enriqueceu os colonizadores.

Em 1530 a exploração do pau-brasil abria a cadeia de sucessivos ciclos de destruição que

causaram grande impacto e transformação nos ambientes das regiões ocupadas e pré-definiram

o tipo de estrutura e relações de nossa sociedade. Hoje podemos ver, a evolução de um

intrincado aparato de dominação dos meios de produção e de comunicação social.

Essa exploração pode ser entendida numa perspectiva mais ampla. Além da

supervalorização do homem em detrimento da natureza, convivemos com a exploração do homem

pelo próprio homem. Necessidades individuais acima de necessidades coletivas. Se desenvolve a

riqueza de minorias na medida em que se desenvolve o subdesenvolvimento de um numero muito

maior de pessoas. As sucessivas crises econômicas estão longe de serem passageiras e casuais,

tendo como origem, as mesmas causas da crise ambiental que já se faz nítida. No início eram os

negros e os índios escravizados, hoje são a massa de trabalhadores mal remunerados e sem

emprego fixo o principal combustível que gera, na mesma proporção, a escalada industrial e a

deterioração do ambiente.

É claro, esta realidade não é exclusividade do Brasil. São frutos que os ares carregam,

assim como as caravelas que navegaram pelos oceanos, e que sopram desde muito tempo sobre

este planeta. É a chamada Globalização, que de recente não tem nada, e pode ser muito mais

convenientemente chamada de massificação e monopolização. Vemos a diversidade cultural, o

conhecimento popular assim como outros saberes das mais variadas partes do mundo, sendo

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substituídos por uma cultura enlatada, homogeneizada e plastificada, com a mesma velocidade e

proporção em que se reduz a diversidade biológica. A educação também sofre destes mesmos

males. O conhecimento que deveria ser socializado, cada vez mais tende a ser mercantilizado,

seguindo as tendências e demandas do mercado de trabalho, a educação tem deixado de ser um

meio para a libertação, quando esta a serviço da reprodução da ordem já existente nas relações

sociais.

O que é mais espantoso atualmente, é que a maior parte das coisas ditas até aqui, para

muitas pessoas, já não é nenhuma novidade. Será isto fruto da banalizarão dos fatos e pura

indiferença a tudo que a acontece? Ainda é difícil responder. Da mesma forma, também não é

nenhuma novidade dizer que os meios de comunicação influenciam decisivamente no pensamento

e no comportamento da nossa sociedade. Criando uma aparente situação de imobilismo e

descrença, simbolizando o fim das alternativas de mudança e que dissimulam a capacidade de

reação e organização social. A maquinaria da mídia e propaganda condicionam as pessoas a falsas

demandas e necessidades, que mexem fortemente com valores e desejos internos e

inconscientes. Um estímulo necessário para que muitas pessoas permaneçam, ainda, passivas

sobre o cômodo acento do consumismo e individualismo. Sim, admita, nos somos manipulados.

O cotidiano exaustivo e fragmentador em que nossa sociedade está submetida e o

bloqueio e distorção de informações por parte da imprensa tem colocado pessoas e organizações

sociais, a uma condição de isolamento. A forma como são tomadas as decisões políticas, e a

manipulação de informações são muito bem utilizadas para tirar proveito desta condição de

isolamento. Já há um bom tempo que se tem registrado casos em que movimentos e organizações

populares entraram em conflito. Muitos exemplos disto deram-se entre o Movimento

Ambientalista e comunidades em áreas de conservação e continuam ocorrendo.

Há uma forte tendência de levar as novas idéias e alternativas comprovadas, a serem

apropriadas pela lógica de exploração. Grande grupos e governos defendem o desenvolvimento

sustentável, quando na verdade estão tratando de sustentar a expansão industrial e o consumo.

Países do primeiro mundo adeptos da qualidade total, exportam tecnologia suja para o terceiro

mundo. A reciclagem está cada vez mais distante de ser uma solução para os problemas da

geração de lixo e vem se transformando em uma forma de sustentar as engrenagens da

industrialização como se fosse ilimitada. É o ciclo de exploração capitalista que vem sendo

reciclado, não os ciclos naturais do ambiente.

A compreensão de que ambiente, homem, biologia e sociedade são elementos indissociáveis

e integrados em um todo, constitui um passo importante para se refletir mais a fundo o

momento que vivemos. Só há algumas décadas é que o novo paradigma que constitui a Evolução e

a Ecologia começa a ganhar uma dimensão prática no campo social, político e econômico. Um

processo que é lento e se considerarmos o tempo e a luta que demanda a aceitação de uma nova

forma de compreendermos este momento que passamos, face aos interesses vigentes, veremos

que é necessário um trabalho de resistência.

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DINÂMICA DO ENCONTRO

10 SÁB 11 DOM 12 SEG 13 TER 14 QUA 15 QUI 16 SEX 17 SÁB 18

DOM

CAFÉ CAFÉ CAFÉ CAFÉ CAFÉ CAFÉ CAFÉ CAFÉ

Plenária

Inicial

Oficinas

Oficinas

Grupos

Específic

os

(saída à

campo)

Grupos

Específi

cos

(volta

do

campo)

Grupo

Temático

Grupo

Temático

ALMOÇO ALMOÇO ALMOÇO ALMOÇO

ALMOÇO ALMOÇO

Recepção

Conhecen

do o

Ambient

e

PRÓPOLI

S

Grupo

Temático

Grupos

Específic

os

Grupos

Específic

os

(vivência

em

campo)

Oficinas

Grupo

Temático

Ocupação

Verde

Churras

Canha-

Vinho

Bota

Fora

JANTA JANTA JANTA JANTA JANTA JANTA JANTA JANTA

Sarau do

Bolicho:

Monólogo

“Amabilis

-

Tractus”

Capoeira

Rabo de

Arraia

Gauderia

da

Mesa

Redonda

Rock´n

Roll

Mesa

Redonda

Shows

Pensando

Contra a

Corrente

Cultural

no

Bolicho

Cultural

no

Bolicho

Mesa

Redonda

Cultural

no

Bolicho

Assembléia

Nacional

Dos

Estudantes

Cultural no

Bolicho:

Show do

Giba-Giba

Plenária

Final

Cultural

no

Bolicho:

A Arte do

Sol

Carlos

Hahn

Vai Leva

A realização deste Encontro Nacional de Estudantes de Biologia (vulgo ENEB) foi o

fechamento de um ciclo de idéias e ações que começou há alguns bons anos atrás na Biologia da

UFRGS. Para ser coerente com seus princípios, este encontro não poderia ficar somente ao nível

das idéias. Elas deveriam ser concretizadas. A dinâmica do encontro tentou proporcionar esta

possibilidade de organização. Além de pensar o que fazer tivemos a preocupação de saber

quando fazer, de maneira que houvesse uma construção gradual de mobilização.

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Concebemos o tema central como Biologia Social, por onde todos os trabalhos

permeariam. Cada atividade deveria ter seu propósito específico, sempre mantendo-se

relacionada com o tema central. Com isto na mente, entre outras coisas, chegamos até uma

visualização sistêmica concreta unidimensional do encontro (Nossa!). Ele é como três grandes

círculos colocados um dentro do outro, onde o círculo central é o tema geral, o segundo círculo é

o dos Grupos Temáticos com uma discussão ampla sobre áreas por nós consideradas relevantes e

o último círculo e mais externo é o dos Grupos Temáticos e das Oficinas, que fizeram nossa

ligação com o mundo exterior. Todos os três círculos giram em todas as direções, de modo que

em algum momento, qualquer ponto de qualquer círculo se encontra com qualquer outro ponto de

qualquer outro círculo.

Dando sustento ao funcionamento de oficinas, GEs, GTs, plenárias, mesas redondas,

ocupação verde, havia uma estrutura baseada no bom descanso, boa alimentação, boa bebida e

boa diversão. A distribuição dos trabalhos seguiu uma lógica de construção, partindo de um

conhecimento amplo, muito da vivência pessoal, para uma ação específica, que serviu como

referência em um determinado contexto. Voltando a discutir onde essas formas de atuar

específicas interferiam no Ambiente em que vivemos, propor uma ação local imediata, mas que

possibilitasse uma continuidade.

A leitura dos “manuscritos” a seguir certamente esclarecerá um pouco mais sobre a

tentativa que foi feita e o que realmente aconteceu.

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OFICINAS

Paciência e atenção, começaremos com os títulos e os ministrantes das oficinas que

aconteceram nas tardes de 12, 13 e 15 de outubro durante o XIX Encontro Nacional dos

Estudantes de Biologia de 1998.

O Jogo Teatral – Márcia Motta e Rejane

Flores

Danças Gaúchas - Valquíria Judaber e

Vinícius Costa Coelho;

Roupas Orgânicas - Telmo Evangelista;

Confeitaria Voltada à Alimentação Natural -

Ma Bodhi Hiya (Sonia Antoniazzi);

Desinibiçaõ e Integração através do Canto

Popular - Zé da Terreira,

Floralterapia Vivencial - Vanderlei NIRMAN;

Informação para Além da Ecodemagogia. O

Jornal do ENEB - Simone Moro;

Maculelê, Samba de Roda, Capoeira Angola –

Prof. Anselmo Accurso (Ratinho), Grupo de

Capoeira Angola Rabo de Arraia

Pão e Chimarrão - André Geitens;

Reflexologia e Massoterapia - Amâncio

Romanelli Ferreira;

Dança contemporânea e Afro-Brasileira –

Buraco Relações de Dança;

Iniciação a Dança Moderna - Robson Duarte;

Trançado Indígena – Caxú;

Corpo e Fogo (Malabares e Shivaísmo) -

Alex, Comunidade do Vale do Ligeiro;

Yoga; Caetanya,;

Expressão Corporal - Ricardo Leon (Cokito);

A Dança das Máscara. Criatividade com

pintura, dança, poesia e escultura - André Di

Simoni;

Capoeira Angola e Cacuriá-Dança folclórica

Maranhense - Elma Maranhão;

Vida para além da Selva de Pedra. Visita ao

Morro Santana - Maurício Vieira de Souza e

Ricardo Mello;

Renascimento - Adir Aliatti e Paula F.

Chapmam;

Papel artesanal com fibras vegetais - Celina

Cabrales, Usina do Papel;

Cestaria em Jornal - André Luiz Couto;

Arte em Reciclagem - Dirce Terezinha Boff;

Yoga Científico e Psicossomatologia - Odila

Zamella;

Yoga e Harmonização - Andar (Liane

Maliante);

Pinturas do Inconsciente - Di Fanti;

Bioarquitetura; Casa Lilás – Bioarquitetura;

Iniciação ao desenho científico - Paulo de

Tarso Aragão (UFRPE);

Apicultura, Apiterapia e Polinização -

Marcelo S. Biffhorn;

A Vida na Forma Inanimada-criação e

manipulação de bonecos - Paulo Fontes;

Roda de Poesia-Oficina de Linguagem - Mario

Pirata e Pedro Marodin.

Pode-se imaginar, ou relembrar, quantas coisas belas, sensíveis, originais, criativas, vivas e

coloridas surgiram destes encontros. Muitas histórias brotam das lembranças daqueles que

“colocaram a mão na massa” e provaram do pão, o fruto do seu suor.

Também colhemos frutos, Própolis, a cidade a favor, performance de alerta produzida

nas oficinas de teatro livre da Terreira da Tribo; Obrigado Giba-Giba! Autor da peça e show

inspirador.

Muitas vivências e experiências prá abrir a porta e deixar sair o que tiver dentro,

tínhamos a intenção de agir, agimos!! Criamos!! Colher e novamente plantar, e colher e plantar,

sem esquecer de regar e amar...!! Luz para além da ecodemagogia.

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GRUPOS ESPECÍFICOS

Muito era esperado desses grupos de trabalho. Desde um entrosamento e troca de

experiências entre os participantes, passando pela compreensão da proposta do encontro, até

um exemplo, fatual mas concreto, da realização do que era proposto para discussão. A afinação

entre os profissionais que conduziram os GEs e o espírito do encontro deveria ter sido pre´-

requisito. Na maioria dos casos isto foi realidade, em alguns infelizmente não.

Para tanta importância depositada nos GEs faltou ao coletivo organizador do encontro uma

atenção maior com a estrutura destes, principalmente no fator alimentação, sendo que alguns

grupos tiveram dificuldades nesse sentido, tendo que apelar para uma colaboração coletiva dos

participantes (que ao final das contas, mesmo tendo que estar prevista quando da inscrição, não

deixou de ser autogestão do grupo).

Eis os grupos que tiveram condições de trabalhar:

Práticas de Ecoturismo e Educação Ambiental - Dilton de Castro. Município de Riozinho.

Rincão Gaia: Sítio Ecológico Numa Área em Recuperação - Kátia Zannini, Beatriz e Alexandre.

Município de Pântano Grande

Maquiné: Em Busca de um Trabalho Multidisciplinar - Ação Nascente Maquiné – ANAMA.

Harmonia Com o Mato: Uma Vivência Permacultural - Marcel e Comunidade Tribal do Vale

Encantado. Vale do Rio Ligeiro – Maquiné.

Educação Ambiental e Resgate da Cultura: A Prática na Prática - Marcelo Maisonette Duarte.

Cambará do Sul - Aparados da Serra.

A Evolução no Passado e no Presente - Manuel Alfredo Araújo Medeiros – UFMA. Porto Alegre.

Áreas Protegidas e Função do Biólogo - Carlos Porto da Silva. Porto Alegre.

Ocupação Verde - Maurício de Souza e Ana Elisa Freitas. Porto Alegre.

Plano de Manejo do Parque da Serra Geral - Leandro Ulmann (Lobão). Cambará do Sul –

Aparados...

Introdução à Biologia de Conservação - Rodrigo Cambará e Gérson Buss (Projetos Macacos

Urbanos). Morros de Porto Alegre.

Gaia: Uma Abordagem de Reintegração das Ciências Biológicas - Ricardo Ribeiro. Porto Alegre

GRUPOS TEMÁTICOS

I.. ORGANIZAÇÃO E MOVIMENTOS SOCIAIS

Uma característica marcante do encontro, sem dúvida, foi ter rompido com o caráter

exclusivamente teórico, buscando sempre o envolvimento com a comunidade e realizando

experiências num contexto mais de ação do que a pura discussão. Assim podemos citar: a

Ocupação Verde, saídas de campo (GEs), oficinas, projeto do lixo, e feira livre e agroecológica,

que possibilitaram a concretização da idéia de um ENEB como laboratório para testar e produzir

formas de ação. Por o movimento em movimento.

Partindo de tudo isto que foi citado e também da experiência e da realidade de vida de

cada participante é que foram baseados os trabalhos do grupo. Durante os três encontros

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realizados foram relatadas diversas atividades e projetos de extensão de caráter social que

vem sendo realizados, sendo que na maioria dos casos foram feitas reclamações da falta de

incentivo e apoio institucional. Ficou muito nítido a necessidade que há de se organizar

principalmente através dos ENEBs e em redes de comunicação. Muito enfatizada nas discussões

foi a questão de princípios, a iniciativa espontânea dos indivíduos e a autogestão do trabalho

coletivo, ao invés da delegação de poderes e transferência de responsabilidade.

Este grupo recebeu o enriquecimento do debate com a presença de convidados para a

Mesa Redonda, Claudir, agricultor representante de um assentamento cooperativado do MST

com 73 famílias em Eldorado do Sul e Maria de Fátima Maciel dos Santos representante da

Comissão de Luta Pela Efetivação do Parque Estadual de Itapuã –CLEPEI-, entidade

ambientalista que tem explícita em seu nome seus principais objetivos e atua de forma direta na

relação com a comunidade local.

Sintetizando as discussões sobre: as formas de como se organizar, de estabelecer

objetivos comuns para o trabalho conjunto, os movimentos sociais que servem como referência, e

o contexto social e ambiental que estamos inseridos; foi feito um documento.

Este registro foi elaborado a partir das discussões do grupo de trabalho, tendo como

objetivo dar continuidade ao processo de construção e realização coletiva pelos estudantes. A

proposta tomada como compromisso inclui:

- Dar continuidade à construção de uma forma alternativa de organização

estudantil, diferenciada dos formatos atuais político-partidários;

- Buscar conscientização, como processo educativo, acerca da estrutura e

funcionamento da autogestão, considerando-a como base para organização do

movimento estudantil, ENEB e outros eventos e entidades;

- Essa conscientização deve partir de um processo de auto-reflexão sobre

individualidade e participação em grupo; estimular e favorecer fluxos de informação e

discussão sobre a autogestão e a aplicação em formato adequado para organização de

diversos movimentos sociais;

- Para tanto, valer-se de diversos meios de comunicação para divulgação,

esclarecimentos e trocas de informações, sendo necessária a elaboração e manutenção

de listas de discussões (INTERNET);

- Estimular a organização de movimentos sociais que abranjam, de maneira

aplicada, os princípios propostos até aqui, com ênfase na educação;

- Buscar articulação à outros movimentos.”

II. AMBIENTE & CONSERVAÇÃO

A proposta de inclusão do tema Conservação neste grupo temático, é de caráter inédito e

sem dúvida, por demais oportuno. O entendimento, por nós futuros biólogos, das questões, ações

e conseqüências, que a conservação da natureza está assumindo hoje, no âmbito de diversas

ciências, é essencial à formação de qualquer pessoa que aspira a profissão de biólogo.

O Grupo Temático Ambiente & Conservação contou com três encontros durante a semana

de realização do XIX ENEB. Na terça-feira os interessados neste tema, se encontraram atrás

do Restaurante Universitário (RU), num dia de sol sentados na grama. O ecólogo Dilton de Castro

participou neste primeiro momento com relatos sobre sua atuação em atividades de Educação

Ambiental e Ecoturismo, e sua experiência na área de Consultoria Ambiental. Houve a

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participação de pouco mais de 30 pessoas, e muitas destas relataram suas vivências em

Entidades Ambientais e preocupações com fatos de degradação do ambiente.

O segundo encontro aconteceu após os GEs, vivenciados e sentidos no campo e na cidade.

Em uma sala de aula do Prédio da história, esperavam três profissionais da conservação no

estado (Mesa Redonda), cuja proposta era instigar nos participantes, conceitos, considerações e

preocupações que assombram o ambiente na nossa cultura ocidental.

O botânico Luis Rios de Moura Babtista, professor da UFRGS, contribuiu ao grupo com

noções de história natural do RS, com sua vivência na construção do movimento ecológico gaúcho

e nacional e com sua percepção e experiência em ações de conservação do ambiente. Ricardo

Mello, professor de ecologia, informou aos participantes, índices de biodiversidade do Brasil,

trazendo à discussão, os problemas e preocupações que a destruição da diversidade pode causar.

O doutor em ecologia, Marcelo Maisonete Duarte, abordou historicamente as formulações e

importância que diferentes conceitos de natureza assumiram ao longo dos tempos, e a

necessidade atual de uma troca de paradigma, de uma visão mais sistêmica, integrada e

abrangente da natureza.

O último encontro previsto do Grupo, onde seriam anotadas as deliberações e conclusões,

não ocorreu como no cronograma. As pessoas conversaram em momentos oportunos e foram

reunidas as anotações de alguns participantes, as quais foram lidas e discutidas na Plenária Final

e estão descritas abaixo.

Reunindo realidades diferentes, os participantes do GT Ambiente & Conservação,

avaliaram e consideraram relevantes os seguinte pontos:

- A postura ética do profissional biólogo que trate de assuntos concernentes ao

ambiente, como EIAs (Estudos de Impacto Ambiental) e RIMAs (Relatórios de

Impacto Ambiental). Nas discussões sobre saneamento e nos Comitês diversos como o

de bacias hidrográficas;

- Unidades de conservação e seu entorno, na procura de um envolvimento da

comunidade com seu saber local;

- Áreas de conservação dentro de grandes metrópoles, seus usos e conflitos de

bens-comuns, que invariavelmente ocasionam degradação do ambiente. (Implementação

das áreas de preservação ambiental do Morro Santana, do Morro da Polícia e do Morro

São Pedro em Porto Alegre);

- Que a Educação Ambiental não seja somente aulas de Ecologia, mas busque

também a sensibilização e percepção ambiental aplicada.

- Acompanhar a formação de instâncias do executivo (Secretárias Estaduais,

Municipais de Meio Ambiente, Conselhos de Biossegurança e outros)e no legislativo

(leis ambientais)

- Busca efetiva de uma interdisciplinariedade, envolvendo diferentes saberes

(sócio-político-biológico) em prol da conservação e uso racional dos recursos ainda

disponíveis no ambiente;

- Participação mais incisiva e deliberativa nos fóruns de decisão governamental,

buscando uma maior sensibilização dos políticos e afins para com a gestão ambiental.

- Proporcionar a descentralização das decisões e o engajamento efetivo das

comunidades nas preocupações com o ambiente em fóruns organizados(Comitê de

bacias hidrográficas; Orçamento Participativo);

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- Buscar uma melhor estrutura e instrumentalização para o encaminhamento de

denúncias de degradação ao ambiente, (Ministério Público Estadual e Federal,

Secretarias de Meio Ambiente e Polícias Florestais);

- Participação e vivência em Entidades Ambientalistas;

- Promoção de plantios em massa de árvores nativas da região (Ocupações Verde).

III. CIDADE & SOCIEDADE

Quando pensamos nos temas que reuniriam os GEs, observamos a necessidade de tratar

sobre a atuação do cidadão, estudante de biologia ou biólogo, no meio onde vive. Sua cidade é o

primeiro contato que realiza fora da Universidade. O quanto podemos participar na construção

de uma sociedade saudável, tanto ecológica quanto ética, era uma das preocupações que

rondavam nossas discussões, antes e durante os GTs. Então os interessados no GT Cidade e

Sociedade iniciaram os trabalhos com uma reunião ao ar livre, com a participação de 13 pessoas.

Após as tradicionais apresentações e explicações da “milagrosa fórmula de trabalho do ENEB”,

conversamos sobre o que entendíamos por Cidade e Sociedade entremeando relatos de nossas

diferentes experiências pessoais. Este primeiro encontro realizou-se antes dos GEs, quando o

“povo” ainda estava engrenando no clima do ENEB.

O segundo encontro estava programado para a manhã subsequente à noite da chegada dos

GEs e por motivos diversos, não foi possível sua realização. Acordamos então na tarde deste dia,

para conversarmos com o convidado para o debate, Renato Ferreira, coordenador do Projeto

Guaíba Vive. Este projeto é a tentativa da Prefeitura Municipal de despoluir o (rio ou lago)

Guaíba, e que já obteve condições de banho em uma das praias da zona sul de Porto Alegre, no

Lami. O projeto envolve o trabalho com todas as microbacias hidrográficas formadoras do

Guaíba no Município de Porto Alegre. Certamente será uma grande conquista da comunidade se

as diferenças político/partidárias forem superadas em favor de um bem comum. O assunto girou

entre este projeto e o desastre com o ácido sulfúrico, derramado por um navio estrangeiro, no

porto de Rio Grande na Lagoa dos Patos.

Após a pausa para a água, iniciaram os relatos dos GEs. Juntando tudo isto percebeu-se o

consenso que as discussões filosóficas no assunto estavam um tanto avançadas se comparadas

com as experiências práticas. O caminho natural era como agir. Assim a conversa tomou o rumo

de como viabilizar ações verdadeiramente necessárias e próximas da realidade da comunidade

local. Pela clara falta de objetividade dos relatórios de grupos de trabalho dos ENEBs

anteriores primou-se então pela organização das sugestões em tópicos, que foram assim

relacionados:

- Conhecer a legislação ambiental vigente para o município e manter contato

próximo aos órgãos responsáveis, tanto pela formulação e regulamentação das leis,

quanto pela fiscalização destas.

- Cobrar dos órgãos responsáveis a execução da Agenda 21, acordo firmado na

ECO 92.

- Valorizar o trabalho de ONG´s e de projetos de extensão existentes em suas

regiões através de divulgação e participação nestes. Esta forma de organização em

ONG´s foi apontada por permitir um estreito contato com a comunidade supostamente

beneficiada pelos projetos.

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- Sensibilizar as pessoas envolvidas no trabalho para os verdadeiros valores que o

permeiam. A relação com diferentes realidades pode exigir uma linguagem diferente

para um bom entendimento. A linguagem científica é necessária no meio científico, ao

ser colocada para uma comunidade tradicional soa como “falar aos próprios ouvidos.”

Somente com palavras uma relação torna-se difícil, o uso de outras formas de

comunicação pode facilitar o trabalho.

- Estimular a inter, multi ou transdisciplinariedade na formação de um grupo.

Somente com uma visão ampla e não viciada em certas áreas do conhecimento pode-se

perceber certos detalhes fundamentais para um bom andamento de relações e

atividades.

- Conhecer o local de ação antes de planejar o trabalho. As dificuldades

enfrentadas na região devem ser do conhecimento de todos e consideradas desde o

começo de projeto, evitando que tornem-se problemas posteriores.

- Formar grupos de discussão abertos a todos os setores envolvidos (comunidade,

Universidades e órgãos públicos). Com todas as partes expressando suas concepções

sobre a situação tornam-se mais claros os problemas e as formas de enfrentá-lo.

- Trocar experiências, propostas de trabalho e resultados com a comunidade.

Somente havendo interesse e envolvimento desta, um trabalho pode ter continuidade,

e não ser apenas um trabalho assistencial, momentâneo ou afastado da realidade.

IV. REPENSANDO A UNIVERSIDADE

Nota: Logicamente que existe o lado bom da Universidade que nenhum de nós, estudantes,

pode ou deve negar (é feio cuspir no prato em que se come), mas também, logicamente,

precisamos refletir os inúmeros problemas que verificamos na busca do algo melhor que atenda

nossas necessidades e buscando, também, prever as necessidades futuras do Mundo que

queremos. Sabido isto, a palavra segue...

Claro que era preciso parar e discutir a Universidade. Afinal estávamos aqui reunidos por

que estamos, por um motivo ou outro, cursando uma Universidade, ou será que é só uma

Faculdade? Pois bem, contrários a fragmentação como somos, era preciso discutir a

universalidade da Universidade. Era preciso entender o maldito indissociável ENSINO-

PESQUISA-EXTENSÃO, a burra burocracia organizacional de nossas Universidades, em que

lógica de atuação ela se encontra, seu momento histórico (portanto, papel político, social e

ambiental) e, logicamente, a nossa inserção neste processo.

Em meio a um certo caos gerado pelo descontentamento de muitos, a desinformação e a

ânsia de fazermos algo, transformamos nossa realidade cotidiana de diferentes regiões em

palavras e voz, para que todos pudessem saber o que estava acontecendo nos diferentes cantos

deste imenso país. E o desabafo veio.

Universidades que parecem perder seu sentido e seus objetivos, desvinculadas da

realidade social, econômica e ambiental. Universidades que privilegiam o lucro e não a qualidade

da educação e formação. Universidades que não respeitam os direitos conquistados pelos

estudantes, agredindo-nos moral e fisicamente. Obstáculos, adversidades e falta de cooperação,

bem como muitas idéias medíocres e entraves àqueles que buscam mudanças. Retratos comuns

nos Campus de nossas Universidades.

13

Depois de lamúrias, questionamentos, comparações e especulações em torno do que vinha

ocorrendo pelas Universidades Brasil afora, denotamos idéias, que surgiram em torno destas

discussões, que seriam indispensáveis na formulação de uma nova mentalidade para construção,

uma nova proposta de Universidade:

- Trabalhar no sentido de buscar conscientização, junto as diferentes instâncias da

comunidade universitária e da sociedade em geral, dos problemas pelos quais passamos, e

a necessidade da reformulação nos diferentes setores com a criação de estratégias que

visem a resolução destes problemas.

- Em todas as atividades desenvolvidas pela Universidade deveriam ser buscadas atitudes

em direção a integração de áreas do conhecimento, nossa utopia de interdisciplinariedade.

- Procurar um maior entrosamento entre a área administrativa e a comunidade

universitária.

- Revisão da proposta de ENSINO e EXTENSÃO, adequada à cada Universidade.

- Interação maior com diferentes setores organizados da sociedade como associações de

bairro e comunidades rurais, prefeituras, ONG's, Movimento Ambientalista. etc..

- Através de instrumentos de avaliação, buscar a qualificação do trabalho docente.

- Buscar discussão e esclarecimento em torno da questão de financiamentos da pesquisa,

seja ela básica ou aplicada, procurando através da representação discente e da

organização individual e coletiva fiscalizar os possíveis convênios da Universidade com

empresas privadas.

- Criação de redes de comunicação (correios postal e eletrônico) entre as diferentes

Universidades, pelos movimentos estudantis, para troca de informação e estratégias de

atuação.

- Lutar para que sejam tornadas transparentes para sociedade em geral, a situação em

que se encontra cada Universidade.

E sendo assim cremos que o GT cumpriu seu papel, ampliando a visão e poder de

transformação daqueles que participaram, e não subestimem a capacidade de multiplicação deste

conhecimento.

Agradecemos aos professores Jorge Quiefeldt, Sandra Hartz e Alfredo Veiga Neto e o

amigo, funcionário administrativo (diretor dos Assuntos Comunitários e padrinho deste ENEB)

Sílvio Ramos Corrêa, todos da UFRGS, pessoas que confiamos e sabemos que compartilham de

nossa visão, e que nos trouxeram um pouco do conhecimento que possuem sobre o trabalho junto

à Universidade, para que pudéssemos discutir e crescer juntos.

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OCUPAÇÃO VERDE

A Ocupação Verde foi pensada para ser um dos desfechos práticos do XIX ENEB,

envolvendo a comunidade local, Secretaria Municipal do Meio Ambiente (SMAM) e a todas as

pessoas que tivessem interesse em participar. Plantar árvores nativas foi uma experiência nova

no ENEB e certamente muito diferente. Realizar ações locais, pode ser mais um dos objetivos

dos ENEBs, não precisando ser apenas plantios de árvores mas formas de ação direta, que

envolvam a toda comunidade e orgãos públicos (dependendo da disposição deles).

O Local escolhido para este plantio foi a face sudoeste do Morro das Antenas (Morro da

Polícia), conhecido por presentear o visitante com uma das vistas mais bonitas do Guaíba, do

Parque do Delta do Jacuí e da cidade. Por suas características, morro de formação granítica com

razoável extensão e continuidade de mata subtropical com componentes da mata atlântica;

possui ainda campos pedregosos e campos advindos da intensa degradação dos últimos anos. hoje

este morro está protegido por lei como Área de Preservação.

O Grupo Específico Ocupação Verde,

coordenado pelo biólogo Maurício de Souza,

tratou de organizar os detalhes do evento, a

convocação das pessoas por meio de cartazes e

avisos e a dinâmica no local. Os estudantes que

participaram deste grupo específico tiveram a

oportunidade de receber noções sobre:

Arborização Urbana, fragmentação de

ambientes, recuperação de áreas degradadas

além do subsídio técnico para realização do

evento.

As mudas, em número de 1000 foram

doadas por um viveiro de Montenegro, e pelo

viveiro da SMAM. As ferramentas utilizadas

foram emprestadas pelo Assentamento do MST

em Eldorado do Sul (Grupo Pôr-do-sol) e da Sub-

prefeitura do Campus Vale da UFRGS. Foram

selecionadas espécies com preferência à luz

intensa, para serem plantadas na borda do mato.

“Guajuviras, cocão, aroeira, mais aroeira. Araçá, pitanga, calliandra cedro e camboatá. Canjerana já dá! Cocão tem mais?”. No segundo sábado do Encontro, com um tempo a princípio encoberto e que depois abriu

em sol, os ocupantes deslocaram-se com ônibus locados junto à companhia CARRIS até o morro

da Polícia, onde já os esperavam os técnicos da SMAM, para apresentação da área e do programa

realizado alí, assim como noções gerais para o plantio, as mudas e o composto orgânico.

“Muda!!! Composto, composto!! ÁGUA! Mais muda... Passa o balde!!! Pára a muda... Manda a muda... Composto!! Composto!! OLHA A CORRENTE!!!” O resultado foram mais de oitocentas (800) mudas transplantadas para a borda do mato,

de maneira que atingimos o objetivo de perpetuar no tempo o registro de uma atividade prática

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de um Encontro de Estudantes de Biologia, além de contribuir com o incremento das espécies e o

auxílio da recuperação de uma área da reserva do morro da Polícia.

Uma semana após o Encontro - portanto em tempo de ser incluído neste documento-

aconteceu, simultaneamente em Porto Alegre e Belo Horizonte, outras Ocupações Verdes,

realizadas como forma de recepção aos calouros das respectivas Universidades. Em Belo

Horizonte, na Estação Ecológica da UFMG e em Porto Alegre, novamente no morro da Polícia.

PENSANDO CONTRA A CORRENTE

A grande maioria das pessoas hoje (ao menos desejamos que seja a grande maioria)

percebe a imensa influência da mídia comercial em nossas vidas. Rádios, jornais e principalmente

a TV nos bombardeiam diariamente com milhares de informações totalmente inúteis à nossa

vida. Poderíamos até dizer prejudiciais. São desastres, crimes, futebol ou notícias políticas um

tanto tendenciosas (no caso específico do Rio Grande do Sul, “comerciais” até mesmo uma

descarada manipulação de pesquisas eleitorais, via IBOPE), que ganham lugar nas principais

manchetes do país. No entanto, apesar desta constatação ser cada vez mais clara, ainda nos

submetemos a este tipo de pressão.

Como não poderíamos deixar passar em branco este assunto durante o ENEB, organizou-se

a segunda edição do curso Pensando Contra Corrente, ministrado pelo professor Jorge

Quiefeldt, do departamento de Biofísica da UFRGS. Inicialmente este curso teve duração de

cinco dias, mas por motivos óbvios foi reduzido a duas noites para o encontro. A proposta destes

encontros era discutir a influência da mídia em nossas vidas, utilizando como referencial um

vídeo produzido por Noam Chomsky, importante estudioso sobre educação e comunicação,

intitulado “O Consenso Fabricado”.

Quem teve a oportunidade de participar deste momento de discussão, sabe o quanto é

difícil resumir tudo que o professor Jorge comentou (tanto pela quantidade de informação,

quanto pela velocidade), mas basicamente debatemos sobre as influências e as causas de uma

mídia servindo a interesses particulares, com o claro propósito de controle popular, desde o que

comer até quem escolher como parceiro(a). Também conversamos sobre a necessidade de criar-

se uma mídia alternativa à que nos é apresentada e a busca de informações fora dos meios

tradicionais (por isso pensar contra a corrente).

Após esta discussão (que foi quase um monólogo do nosso amigo Jorge) assistimos a 1a

parte do vídeo, que tinha um total de cinco horas. Infelizmente a exibição do vídeo ficou

incompleto por motivos alheios à nossa vontade, mas serviu para termos ao menos uma noção do

que era proposto.

Como tema de casa ficou a reflexão sobre o assunto e a tentativa de se encontrar este

vídeo em outras partes do Brasil, além de exercitar sempre que possível a saída desta corrente

de informações convencionais a que somos submetidos. Coragem, paciência e boa sorte aos que

tentarem.

BOLICHÃO e FEIRA

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De baixo de madeira cortada a machado e

facão, chimarrão e fogueira aqueciam as noites

do ENEB. Música de todos os tipos, sem que

faltasse uma boa gauderiada (de reggae também

fumo embora). Na roda fumaça, vinho, ceva,

cachaça e muitos já se amando. Precisou de mais

alguma coisa? Mas tu sabes que o bolicho não foi

coisa fácil, num é tchê! Ainda faltavam seis

meses para o tal do encontro e já tinha nêgo

afiando o machado. Começou com a escolha dos

eucaliptos, mas virou uma baita burocracia.

Faltavam só vinte dias quando veio a liberação. E

não é que um vendaval fez a metade do serviço

pro povo, depois foi só desgalhar os troncos e

mãos à obra. Aí todo mundo era um pouco

arquitetomestredeobraschapadomarcineiromarciano; e o projeto (que só virtualmente existia),

foi modificado um cem número de vezes; repensado e rediscutido a cada momento, a cada vez

que os “construtores” não se entendiam. E só recomeçava quando todos concordavam.

Pois só quando a pipa, aquela magrinha de duzentos litros, estava em cima do cavalete e o

vinho enchendo o povo de sorrisos é que percebemos que o ENEB estava realmente começando, e

o bolicho, aquele misto de secos & molhados, barracão e galpão de pau a pique, tava de pé e

muito bem servido, obrigado.

A princípio a concepção do bolicho foi no intuito de proporcionar aos participantes um

lugar tradicional, ambiente de integração e descontração, sendo ao mesmo tempo ponto de

encontro e central de informaçõesinspiraçõespaqueras, onde idéias e emoções tanto

convergiram, como divergiam. O coração do ENEB! (Embora muitos ainda digam que coração

mesmo era a pipa de vinho). O saldo não foi lá dos melhores, talvez uma centena de copos

quebrados e outras tantas garrafas perdidas, mas em compensação teve pinga de Luís Alves e de

arroz...

O bolicho teve outros propósitos, entre eles a intenção de colocar na roda espaços

alternativos de consumo, em resposta a todos “Mac´s” espalhados por aí, onde a utilização de

descartáveis fosse reduzida ao mínimo possível (a reciclagem existe, mas por enquanto é mais

barato comprar novo que fazê-la). Por fim, o bolichão trouxe a idéia da Feira Agroecológica, que

foi um espaço aberto a pequenos agricultores assentados pelo Movimento dos Trabalhadores

Sem Terra (MST), e que mais tarde também contou com a participação da comunidade local e

da galera que trouxe comidas e bebidas típicas de seus estados.

Uma de nossas preocupações foi não transformar a UFRGS, durante o encontro, em uma

grande lata de lixo, e ao mesmo tempo criar um ambiente informal de discussão sobre a

agricultura e conservação ambiental; a relação da saúde de nossa sociedade com a alimentação,

principalmente devido ao sistema de produção agrícola.

Então como todo cientista, não poderíamos sair desta conversa sem uma boa estatística,

que deve “ajudar” a entender nossa proposta. Utilizaremos como exemplo o consumo de bebidas

em nosso bolicho:

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Em onze dias de encontro foram vendidos 2196 litros de cerveja em garrafas de vidro não

descartáveis. Se isto fosse transformado em latas de cerveja seriam aproximadamente 6185

latas de alumínio (cada lata possui 355ml). Ao mesmo tempo o vinho foi vendido nas canecas que

os participantes deveriam ter trazido e em copos de vidro do bolichão. Foram 118 copos grandes

com gasto aproximado de 35 reais. Somando-se mais os 10 “martelinhos” para a canha, o gasto

total com copos foi de aproximados 50 reais. De todos estes copos sobraram 26 grandes e 5

martelinhos, e foram gastos em torno de 50 reais em cascos quebrados e desaparecidos (todos

os arredondamentos foram feitos para cima).

Cem reais em contraposição a 6000 latas de alumínio, mais a quantidade de copos

descartáveis para 250 litros de vinho e 100 litros de cachaça (aproximadamente 1000 copos de

300 ml) ou 8486 copos de plástico se apenas esses fossem utilizados. Eis aí os dados, e a

validade da iniciativa fica a cargo da análise de vocês.

ASSEMBLÉIA NACIONAL DOS ESTUDANTES DE BIOLOGIA

A Assembléia Nacional dos Estudantes de Biologia (nova denominação do Conselho

Nacional de Estudantes de Biologia que ocorre nos ENEBs) realizou-se no dia 16 de outubro de

1998, às 21h. O único (e monstruoso) ponto de pauta foi a Executiva Nacional dos Estudantes de

Biologia (ENEBIO). O início da assembléia constou de um relato sobre a situação da ENEBIO, que

ficou prejudicado devido a ausência dos representantes que foram eleitos no ENEB de Salvador

em 97, presidida pelo nosso colega Joílson Sousa Santos da UCSal, e pela falta das informações

que ficaram retidas pelo ex-coordenador da gestão de 96, Marcos Augusto Marques da Costa,

do Piauí. Também foi relatado o último CONEBIO em Goiânia, principalmente a questão da retirada

dos delegados votada no ENEB de Salvador, cuja a então executiva, tentou anular, depois dela

própria ter dado sumisso na ata e nos documentos do ENEB de Salvador.

SEMPRE LEMBRANDO NUNCA ESQUECENDO: O LIXO

Pensando em não repetir os problemas como alta produção e o acúmulo de lixo que ocorreram nos

últimos ENEBs, que assim como tudo, refletem e definem claramente o que produzimos culturalmente,

planejamos e viabilizamos infra-estrutura para o manejo do lixo, o tal “projeto do lixo.” A idéia em si era

de que produzíssemos experiências que pudessem vir a desencadear novas atitudes e hábitos, em relação

ao consumo e o destino dos resíduos gerados. Para reforçar isto, como já dissemos, pensamos também no

bolichão e a feira agroecológica como opção, que estiveram quase 100% isentos de produtos descartáveis

e ainda várias oficinas programadas, que integravam-se a esta proposta.

Ao contrário do que esperávamos esta questão, mais uma vez, ficou limitada ao verbo. Não que o

ENEB tenha ficado uma lixeira,. porém, houve um desinteresse geral em fazer da prática, conseqüência

das discussões e daquilo que estudamos. Ciclagem de matéria, recursos energéticos, educação ambiental,

degradação x conservação,...Teorias e uma montanha de conhecimento que entopem nossos currículos e

que acumulamos e inutilizamos enquanto comodamente esperamos por soluções para estes problemas.

Esta constatação não é para que fiquemos desmotivados dando razão àqueles que dizem que

não há solução para estes problemas. Bem pelo contrário, este é um motivo muito forte para que nos

próximos ENEBs discussões e principalmente ações a este respeito sejam intensificadas, encarando isto

como um exercício e experiência para a autogestão.

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Após estes relatos foi proposto aos colegas presentes a seguinte questão: qual o papel da

Executiva??? A principal função levantada foi a de informação (conexão entre as diferentes

regiões); em seguida a de organizar ENEBs, EREBs e os EEEBs (Encontro Estadual dos

Estudantes de Biologia). Em seguida foram apontados problemas relacionados à incompetência da

executiva nos últimos anos, destacando principalmente a não prestação de contas da entidade e

o não repasse de material de extrema relevância ao movimento estudantil. Além disso foi

levantado o ponto do registro no CGC, em nome da executiva, e a existência ou não de uma conta

bancária vinculada a este CGC. Também foi apontada uma questão pertinente à legitimidade do

encontro, uma vez que não haviam os delegados e o estatuto ainda em vigor previa-os (sem

considerar a votação feita em Salvador). Tendo em vista esta situação surgiram inúmeras

propostas de como encaminhar estas questões, algumas complementares e outras totalmente

opostas, sendo todas muito discutidas e os encaminhamentos finais transferidos para a Plenária

Final no dia seguinte. A Assembléia Geral dos Estudantes de Biologia terminou quase meia-noite

e na seqüência a galera foi ver um showzinho massa do Giba-Giba.

PLENÁRIA FINAL DO XIX ENEB

Teve início aos dezessete dias do mês de outubro, as quinze para dez da noite a Plenária

Final do XIX Encontro Nacional dos Estudantes de Biologia. O número de participantes que

assinou a lista de presenças até o final da plenária foi de cento e vinte oito (128) estudantes.

Fica registrado o não comparecimento de nenhum membro da Executiva Nacional nesta plenária.

Logo após os relatos da Comissão Organizadora, foram anotados os pontos de pauta para a noite.

A saber: Relato das conclusões dos Grupos de Trabalho Temático (GT); 2. Avaliação do XIX

ENEB; 3. Nova sede do CONEBIO, 1999; 4. Nova sede do XX ENEB, 1999; 5. Executiva

Nacional; 6. Informes Gerais; 7. Rede de Informações.; 8. Moções. Houve uma semibreve

votação para ordem da pauta e também foi decidido em plenária que a 2a parte da assembléia a

realizar-se no Domingo pela manhã não necessitaria acontecer.

Anotações dos pontos de pauta:

1. Relato das conclusões dos Grupos de Trabalho Temático (GT); foram relatadas à

plenária, as conclusões dos trabalhos dos Grupos Temáticos: Cidade & Sociedade, Repensando a

Universidade, Movimentos Sociais & Organização e Ambiente & Conservação, pelos alunos Carlos

da UFRGS, Pedro da UNICAMP, Fábio Vanini, da mesma escola e Marcos Perotto da UFRGS,

respectivamente. Entre cada relato, a discussão era livre à plenária, e outras considerações

eram anotadas. (O teor deste documento encontra-se na íntegra no corpo deste relatório final.)

2. Avaliação do XIX ENEB; foi aberto o momento dos participantes avaliarem o

Encontro. Antes da avaliação propriamente dita, houveram considerações da plenária sobre os

problemas de participação dos estudantes nos Encontros. Foi apontada a falta de seriedade e

organização destes encontros, somente com festas e gandaia como sendo o principal

desmobilizador. Foi saudada a mudança neste encontro, sendo apontados muitos bons momentos,

como a Ocupação Verde, Feira Livre e saídas a campo. Também foi falado que com a realização

deste Encontro pôde-se construir uma base, “ter algo para mostrar.” Salientou-se também o

enriquecimento das discussões com o convite de profissionais e entendidos de cada área. Foram

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apontados problemas na divulgação das informações e lugares onde estariam sendo realizadas as

atividades da programação (cartazes, avisos, etc.), consideradas confusas. No mais tudo bem.

3. Nova sede do CONEBIO, 1999; aberto o momento das escolas se manifestarem no

intuito de levar o CONEBIO 1999, a Universidade Federal de Pernambuco foi a única

interessada e sediará o CONEBIO, realizando este em Recife, com data prevista para 10 a 12 de

fevereiro; Leonardo é o contato.

4. Nova sede do XX ENEB, 1999; após a escolha da nova sede do CONEBIO, seguiu-se

a escolha da escola sede do XX ENEB, 1999. A delegação da UNICAMP levantou-se em peso,

manifestando sua intenção, que foi agraciada por todos presentes. O ENEB será em Campinas

sem data prevista neste momento.

5. Executiva Nacional; ponto continuação da Assembléia Nacional do Estudantes de

Biologia. Após breve discussão com esclarecimentos e síntese das propostas de

encaminhamentos, ficou decidido: a) a Executiva Nacional, a partir desta data, será constituída

pela união da escola que realizou o encontro e a que se propôs em levar o próximo ENEB; esta

Executiva teria as funções de repasse de informações e arquivo. A Executiva Nacional durante o

ano de 1999 ficará a cargo da UNICAMP e da UFRGS. A delegação da UFMG ficou encarregada

de investigar qual a situação do CGC da Executiva, já que o estatuto está registrado nesta

cidade, saber em nome de quem ele se encontra e se existe alguma conta de banco vinculada à

este CGC. Ficou decidido que o próximo CONEBIO terá como pontos principais, Repensar a

Executiva e Criar um novo estatuto da Executiva. O ex-presidente da Executiva, Marcos

Augusto Marques da Costa, estudante da UESPI, deverá ser encontrado no Piauí para prestar

esclarecimentos sobre a não prestação pública de contas e repasse de material relevante ao

movimento estudantil da Biologia.

6. Informes Gerais; 1) os Encontros Regionais de Estudantes de Biologia serão: EREB

Nordeste, em Fortaleza, Ceará; EREB Norte, em Belém do Pará; EREB sudeste, Belo-Horizonte,

nas Minas Gerais; ficou decidido que é importante o restabelecimento do contato com as escolas

do centro-oeste, sobre a realização do EREB desta região; 2) Encontro Interno de Biologia

(EIBIO), deu um impulso às discussões do pessoal em Recife; a proposta é ativar a galera que

está dentro dos Diretórios e Centros Acadêmicos e revitalizá-los; Semana da Biologia da UFMG,

com o tema “Biologia prá quem”, acontecerá de 26 a 30 de outubro em Belo Horizonte.

7. Rede de Informações; o Pedro (UNICAMP) enfatizou a necessidade de

incrementarmos a circulação da informação entre as escolas, a sugestão é que seja montado uma

“lista de discussões” pela internet e contatos diretos por mail.

8. Moções; foram aceitas pela plenária a proposta de encaminhamento de duas Moções de

Repúdio. Assuntos: Despejo do àcido-sulfúrico no canal de Rio Grande, RS e Evento de

desocupação forçada dos moradores da casa Borges da Costa em Belo Horizonte. Foi aprovada o

reenvio da Moção de Repúdio da Executiva Nacional eleita no ENEB 96 em Recife, representada

por Marcus Augusto Marques da Costa, de Piauí. Estando esgotados os pontos de pauta, foi

encerrada a plenária passados uma hora da meia noite e todos foram para o Show.

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CONCLUSÃO

“Barbaridade! Mas e não é que aquela malucada lá de Porto Alegre conseguiu terminar o tal

do relatório final do ENEB.” Demorou mas saiu. Nós temos certeza que todos entendem os

motivos da demora.

Ao final das contas percebemos que durante o encontro tudo saiu melhor que o imaginado,

sem é claro termos o controle da situação em momento algum. As coisas fluíram da única maneira

que poderiam ter ocorrido naquele exato momento. Qualquer atitude na tentativa de direcionar

o desenvolvimento do encontro esbarrou na energia natural das coisas. Com isto não queremos

dizer que não houveram problemas, mas sim que até os problemas que surgiram tinham que ter

surgido, ou então não veríamos onde o encontro pode ser melhorado. Como os problemas, coisas

maravilhosas também aconteceram. Coisas que surpreenderam até o mais sonhador dos

participantes do encontro (incluindo de sobremaneira neste grupo os organizadores). O bolichão,

a roda de poesia, os GEs, a ocupação verde, o bicho-faz-sete-cabeças (Jhaia fumegando), as

oficinas, entre algumas das coisas que podemos lembrar agora, mais tudo aquilo que vocês já

pensarão a seguir.

O XIX ENEB contou com a participação de aproximadamente 350 pessoas, desde

estudantes inscritos até oficineiros, fora os “convidados de última hora.” Um número muito

menor do que o esperado, mas que felizmente foi o número suficiente para o desenrolar do

encontro. Se por acaso o número de participantes fosse algo como o dobro, teríamos com

certeza uma sobrecarga nos “diferentes setores do ENEB.” Mas o que realmente fez a

diferença foi a qualidade e não a quantidade. Só para citar um exemplo lembramos do mutirão

para desocupar as salas de aula ao final do encontro, quando já não havia quase vontade para

nada além de uma boa rede para o descanso merecido. Realmente algo especial aconteceu

nestes dias.

Acreditamos sinceramente em ter proporcionado um ENCONTRO entre os estudantes,

não somente de lazer, mas que justamente através dele, de troca de vivências e aspirações.

Tudo é claro no ritmo que os gaúchos e as gaúchas conseguiram propor. Pode até ser um tanto

devagar para alguns, mas foi o que é.

Muita energia foi mobilizada para a realização deste ENEB, muita energia circulou

durante o encontro e muita, mas muita mesmo foi canalizada para o próximo encontro. Não

queremos fazer muita pressão (mas já fazendo), desejamos que o XX ENEB, que será no ano de

1999 em Campinas-SP, nos traga a continuidade de uma nova visão sobre organização e luta

estudantil. Depois do que aconteceu e o que foi discutido neste encontro, aceitar uma atitude

arcaica de mobilização é no mínimo incoerente. Tudo o que realmente acreditamos foi colocado

para vocês, e ao mesmo tempo à prova. Se o que aceitamos como ideal não sobrevivesse a uma

dimensão de 400 pessoas é porque haveria algo de incorreto.

Sobreviveu e agora todos esperam a seqüência da ação. Errado! Esperar é o que

comumente se faz. Espera-se pelo político bonzinho, espera-se pelo grande líder que nos

conduzirá a um futuro melhor, espera-se que a vida seja melhor. O que deve ser feito (uma das

coisas) é colocar em prática o que foi discutido durante o encontro e levantar sugestões para

que o próximo não cometa os mesmos erros deste. Se for para errar pelo menos que se erre em

coisas diferentes das do passado. O medo de experimentar uma nova alternativa é a

desculpa para a acomodação. Devemos ter por iniciativa a mobilização individual para um

trabalho coletivo.

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Agradecemos profundamente a todos aqueles que auxiliaram com idéias e ações, cérebros

e músculos para a realização deste encontro, e aos que tiveram paciência para ouvir e mente

aberta de entender (e concordar ou não) com o que foi apresentado. Nos desculpamos pelas

falhas óbvias (como a água de beber por exemplo) e conclamamos todos os participantes do XIX

ENEB a participarem do XX, a divulgarem o que ocorreu em Porto Alegre e a “arrastarem” mais

estudantes para o movimento coletivo da biologia.

Agradecemos de maneira especial à ASSUCOM/UFRGS (Superintendência de Assuntos Comunitários), aos funcionários da Sub prefeitura do Campus do vale/UFRGS, do

Restaurante Universitário), da Carris (Transporte Coletivo Municipal), Usina do Papel (Usina do Gasômetro), Viveiro da SMAM e aos técnicos da SPJ (Supervisão de Parque e

Jardins).

SÓ PARA LEMBRAR:

A “lenda do estatuto” já rendeu muitas discussões nos ENEBs e está prestes a se concluir

no CONEBIO (ou pré-ENEB?), que organizará o documento final, e finalmente no ENEB99 em

Campinas. Será um avanço para todos, conseguir se livrar da estrutura burocratizada e

desmobilizadora que predomina na organização estudantil, herança do movimento político-

partidário encabeçado hoje em dia pela UNE (reduzida a aparelho político disputado por

partidos, na qual a participação do estudante é impraticável). O ENEB realmente tende a ser um

encontro, não uma disputa política.

Houveram inúmeras tentativas de documentar os relatos das deliberações dos ENEBs

anteriores, entretanto, estes documentos, ou nunca chegaram a ser lidos nos Encontros

precedentes ou não eram nem lembrados, acarretando que os trabalhos tornavam-se repetitivos

e sem continuidade. Esperamos que este relatório possa servir como base e referência (Se

positiva ou negativa, fica a seu critério.) para a construção de próximos encontros.

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ANEXOS

TEXTO DA ANA –QUAL É O NOME DO LIXO

ENEB EM MOVIMENTO

MOÇÕES DE REPÚDIO