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Relatório Life Rupis Ação A1: Recenseamento de aves e Estudo de Avaliação de vulnerabilidade à perturba- ção Census of nests and evaluation of their vul- nerability to disturbance Odivelas, Março 2017

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Relatório Life Rupis Ação A1: Recenseamento de aves e Estudo de Avaliação de vulnerabilidade à perturba-ção Census of nests and evaluation of their vul-nerability to disturbance

Odivelas, Março 2017

2| Relatório da Ação A1. Recenseamento de aves e Estudo de Avaliação de vulnerabilidade à perturbação Action A1. Census of nests and evaluation of their vulnerability to disturbance

Relatório da Ação A1 do Projeto Rupis LIFE

Entidade responsável: Bioinsight

Coordenação: Miguel Mascarenhas, Helena Coelho, Nuno Salgueiro, Sílvia Mesquita

Elaboração do Relatório: Joana Santos, Catarina Ferreira, Gustavo Palminha, Francisco Peral-

ta, Joana Marques, Paulo Cardoso

Trabalhos de campo: Emanuel Ribeiro, Rita Ferreira, Rui Pedroso;

ICNF – Parque Natural do Douro Internacional

Coordenação: António Monteiro

Trabalhos de campo: António Monteiro, Carlos Pedro Santos; João Tiago Nunes, Sílvia Mou-

rão, Jorge Amaral

Junta de Castilla y León - Parque Natural de Arribes del Duero

Coordenação: Mariano Rodríguez Alonso, Francisco Bolaños y Ana Martínez Fernández

Trabalhos de campo: Mariano Rodríguez Alonso, José Luis Gutiérrez García, Francisco Bo-

laños López de Lerma, José Manuel Cabezas González, Roberto García Sierra, Francisco Ja-

vier Calvo Gutiérrez, Juan Pedro Cruz Sagredo García, Obdulio Cabezas Pascual, Lorenzo

Ferrero Garrote, Manuel Tuda Hernández, José Manuel Formariz Coria, Jose Angel Fidalgo de

Prado, Jorge de Dios Aizpuru, Francisco Manías Pérez

Agradecimentos: Naturisnor

Citação: Bioinsight. 2017. Relatório da Ação A1: Recenseamento de aves e Estudo de Avalia-

ção de vulnerabilidade à perturbação. Projeto Rupis LIFE14 NAT/PT/000855.

Fotografias: Rita Ferreira

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Índice

RESUMO/SUMMARY 4

1. INTRODUÇÃO 5 1.1 Identificação e justificação do projeto 5 1.2 Enquadramento geográfico 6

2. A1.I CENSO E SEGUIMENTO DA REPRODUÇÃO DE BRITANGO 8

2.1 Metodologia de amostragem e recolha de dados 8 2.2 Resultados e discussão 12

3. A1.II CONSTRUÇÃO DE UMA BASE DE DADOS SO-BRE A POPULAÇÃO DE BRITANGO (1995-2016) 21

3.1 Metodologia de amostragem, recolha e análise de dados 21 3.2 Resultados 21

4. A1.III ESTUDO DE AVALIAÇÃO DE AMEAÇAS SOBRE A POPULAÇÃO DE BRITANGO 27

4.1 Metodologia de amostragem, recolha e análise de dados 27 4.2 Apresentação e discussão dos resultados obtidos 31 4.3 Implicações para a conservação da espécie-alvo 47

5. DESCRIÇÃO DE PROTOCOLO METODOLÓGICO PA-RA MONITORIZAÇÃO DA POPULAÇÃO DE BRITANGO 48

5.1 Âmbito e objetivos 48 5.2 Parâmetros a monitorizar 48 5.3 Locais e frequência de amostragem 49 5.4 Técnicas e métodos de recolha de dados 51 5.5 Métodos de tratamento de dados 53

6. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES 55

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 57

ANEXOS 60

4| Relatório da Ação A1. Recenseamento de aves e Estudo de Avaliação de vulnerabilidade à perturbação Action A1. Census of nests and evaluation of their vulnerability to disturbance

Resumo

Foi estabelecida uma situação de referência para a população

nidificante de britango em 2016, bem como uma avaliação dos

fatores ambientais que influenciam o favorecimento na ocupação

de territórios e o sucesso reprodutor da espécie, na área do

Projeto. Foi feito um esforço de prospeção de casais em toda área

de estudo, por várias equipas de campo de Portugal e Espanha.

Foram confirmados 121 casais, aos quais se adicionam 14

possíveis. De entre estes, 69 exibiram comportamento que sugeriu

potencial nidificação (casais controlados), tendo-se aferido um

êxito reprodutor de 68%, uma produtividade de 0,72 crias voadoras

por casal controlado e uma taxa de voo de 1,06 crias por casal com

sucesso. No que respeita às variáveis ambientais que influenciam

a população nidificante, foram realizadas análises de modelação

que permitiram confirmar que a disponibilidade alimentar constitui

um dos principais fatores que condicionam a seleção de locais a

ocupar por britango. Assim, ações de conservação que visem o

fomento do pastoreio extensivo (ovino e caprino), tal como o

aumento da rede de campos de alimentação de aves necrófagas,

deverão ser equacionadas como prioritárias, as quais deverão ser

implementadas em áreas onde a densidade populacional humana

seja baixa. Por fim, para a futura monitorização da tendência

demográfica da espécie, recomenda-se um esquema de

subamostragem em 60 locais de nidificação, o que permitirá retirar

elações futuras, com uma margem de erro aceitável (<10%).

Summary

This study aimed the establishment of a baseline situation for the

Egyptian vulture population in 2016. Also, an evaluation of the

environmental factors influencing the species favouring of locations

for territory occupancy and its reproductive success within the

Project area, was performed. Surveys were conducted across all

the study area, for a complete census of the population. In 2016,

121 pairs were confirmed, adding more 14 possible pairs. From

these, 69 pairs exhibited behaviour suggesting potential

reproduction (“controlled pairs”). Reproductive parameters were

estimated in 68% of the pairs having reproductive success, with an

overall productivity of 0,72 fledglings per pair and a flight rate of

1,06 fledglings per successful pair. Analysing the environmental

factors influencing the breeding population of Egyptian vultures,

modelling estimates were performed. The results lead to the

confirmation that trophic availability (feeding conditions) is one of

the main factors influencing territory - nesting sites – selection.

Future conservation actions aiming traditional pasture by sheep and

goat, as well as investing in expanding the network of vulture

restaurants (artificial feeding points), should be the priority for the

Egyptian vulture in the study area. Finally, for future monitoring of

the demographic tendencies of the species, an experimental design

aiming the sampling of at least 60 nests is recommendable, to

ensure results with an acceptable error margin (<10%).

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6| Relatório da Ação A1. Recenseamento de aves e Estudo de Avaliação de vulnerabilidade à perturbação Action A1. Census of nests and evaluation of their vulnerability to disturbance

1| Introdução

O presente Relatório descreve as atividades realizadas no âmbito da “Ação A1: Recenseamento de

aves e Estudo de Avaliação de vulnerabilidade à perturbação”, a qual englobou os censos e estudo

da reprodução de britango (Neophron percnopterus), associados ao Projeto Rupis LIFE – Egyptian

Vulture and Bonelli’s Eagle Conservation in Douro/Duero Canyon (LIFE14 NAT/PT/000855), no ano

de 2016.

1.1 Identificação e justificação do projeto

A região nordeste do país engloba uma rede de áreas relevantes para as aves bem como áreas do

Sistema Nacional de Áreas Classificadas (SNAC), onde se inclui a área do Parque Natural do Douro

Internacional. Esta área protegida estende-se para território espanhol, no Parque Natural de Arribes

del Duero. Ambos os parques naturais constituem áreas de extrema relevância para a nidificação de

diversas espécies de aves rupícolas com estatuto de conservação, uma vez que a paisagem fronteiri-

ça é dominada por zonas rochosas e bastante escarpadas, que constituem ótimos biótopos rupícolas

para a flora e também para a fauna.

De entre as espécies de aves com elevado valor de conservação que nidificam nesta zona transfron-

teiriça, refere-se o britango (Neophron percnopterus), uma das espécies-alvo do Projeto Rupis LIFE e

a espécie-alvo do presente estudo em concreto. A região nordeste de Portugal representa a área

mais importante para a população nidificante de britango em território nacional, ocorrendo aqui mais

de 50% dos casais que nidificam no país (Equipa Atlas, 2008). Situação semelhante é verificada em

Espanha, onde grande parte da população nidificante se concentra na zona norte/noroeste deste país

(Martí & Del Moral, 2004). A região abrangida pelo Projeto Rupis LIFE constitui, assim, uma área de

elevado interesse para a conservação desta espécie.

Esta ave necrófaga encontra-se classificada com estatuto “Em Perigo” de extinção no contexto nacio-

nal, segundo Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal (Cabral et al., 2006), bem como internacio-

nal, conforme a Lista Vermelha de Espécies da IUCN (Birdlife International, 2015). Esta classificação

resulta da tendência de decréscimo que tem vindo a ser verificada nos últimos anos para os efetivos

das populações de britango (Birdlife International, 2016), não apenas na Península Ibérica (Cortés-

Avizanda et al., 2009; Mateo-Tomas et al., 2010; Monteiro, 2013), mas noutros países onde a espécie

ocorre regularmente e as suas populações têm vindo a ser estudadas (e.g. Grubac et al., 2014;

Milchev & Georgiev, 2014). Desta forma, um dos principais objetivos das ações do Projeto Rupis LIFE

é contribuir para reforço da população de britango, através da redução da mortalidade e aumento do

sucesso reprodutor.

O Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) adjudicou à empresa Bioinsight, con-

forme formalizado no Contrato Nº22/2016/ICNF - Aquisição de serviços para recenseamento de aves

e estudo de avaliação de vulnerabilidade à perturbação – projeto LIFE NAT/PT/000855_AÇAO A1,

para desenvolvimento das seguintes tarefas:

• A1.I – Censo e seguimento da reprodução de casais de Britango

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o Realização de trabalhos de campo para recenseamento de britango em área parcial

o Realização do relatório completo de censo e reprodução de britango para toda a área

de estudo

• A1.II – Construção de uma base de dados sobre a população de Britango 1995-2016

• A1.III – Estudo de Avaliação de ameaças sobre a população nidificante de Britango – 2016

• A1.IV – Descrição de protocolo metodológico para monitorização da população de britango

Os resultados finais para cada uma das tarefas suprarreferidas serão expostos em Capítulos específi-

cos (Capítulos 2 a 5).

1.2 Enquadramento geográfico

A área considerada para o Projeto Rupis LIFE localiza-se na região Norte do país, concretamente na

região de Trás-os-Montes e Alto Douro (distritos de Bragança e Guarda), em Portugal, e a Comunida-

de Autónima de Castela e Leão (províncias de Zamora e Salamanca), em Espanha, e abrange áreas

importantes em termos conservacionistas em ambos os países (Figura 1). Em termos do Sistema

Nacional de Áreas Classificadas (SNAC), a área interceta o Parque Natural do Douro Internacional

(PNDI), A Zona de Proteção Especial (ZPE) Douro Nacional e Vale do Águeda (PTZPE0038) e o Sítio

de Interesse Comunitário (SIC) Douro Nacional (PTCON0022). Em Espanha são abrangidas as zonas

de proteção equivalentes, nomeadamente o Parque Natural de Arribes del Duero (PNAD), a Zona de

Especial Protección para las Aves (ZEPA) Arribes del Duero (ES0000118) e o Lugar de Importância

Comunitária (LIC) Arribes del Duero (ES4150096).

Tendo em conta a extensão da área considerada, esta foi artificialmente dividida em 14 setores, que

acompanham genericamente as principais linhas de água, dos quais 8 setores transfronteiriços e na-

cionais e 6 setores exclusivamente espanhóis (Figura 1), por forma a facilitar a análise de dados e

melhor representar a distribuição da espécie.

8| Relatório da Ação A1. Recenseamento de aves e Estudo de Avaliação de vulnerabilidade à perturbação Action A1. Census of nests and evaluation of their vulnerability to disturbance

Figura 1 | Representação geográfica dos 14 setores considerados para estratificação da área de estudo - Douro

Internacional (PN-SIC-ZPE) e Arribes del Duero (PN-LIC-ZEPA).

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2| A1.I - Censo e seguimento da reprodução de casais de Britango

A presente tarefa teve como objetivo a realização do recenseamento da população nidificante de bri-

tango na área de atuação do projeto LIFE RUPIS, durante a época de reprodução de 2016. Nos sub-

capítulos seguintes é descrito o procedimento metodológico adotado para consecução dos objetivos

propostos, assim como os resultados obtidos (incluindo a sua discussão).

2.1 Metodologia de amostragem e recolha de dados

2.1.1 Locais e frequência de amostragem

A prospeção de casais e estudo da reprodução de britango em 2016 decorreu nos 14 sectores defini-

dos para amostragem na área de estudo considerada, designados Villalcampo, Castro, Miranda, Pico-

te, Bemposta, Tormes, Aldeadávila, Uces, Saucelhe, Huebra, Poiares, Douro Nacional, Águeda Inter-

nacional e Águeda Nacional.

Em temos dos trabalhos de campo, foi adjudicada especificamente à Bioinsight a amostragem de

britango em 4 sectores transfronteiriços, nomeadamente: Picote, Bemposta, Aldeadávila e Sauce-

lhe. A amostragem em campo nos restantes 10 sectores da área de estudo foi da responsabilidade

dos técnicos do ICNF-PNDI e IP/JCYL-PNAD.

Os locais de amostragem tiveram por base a rede de territórios de britango constantes em base de

dados fornecida pelo ICNF, distribuídos pelas fragas existentes na área de estudo. A estratégia de

realização de prospeções em territórios/ninhos conhecidos de anos anteriores (recentes ou históricos)

deve-se ao facto desta espécie-alvo reutilizar os seus ninhos em anos sucessivos (BWPi, 2004). Para

os sectores Picote, Bemposta, Aldeadávila e Saucelhe foram, para a época de reprodução de 2016,

prospetados cerca de 160 territórios/ninhos potenciais distribuídos ao longo do rio Douro Internacio-

nal.

Para a prospeção em campo dos territórios/ninhos potenciais conhecidos nos 4 setores em estudo

foram realizados 41 “pontos fixos” de observação, pré-selecionados pelo ICNF. Estes locais de amos-

tragem foram definidos de forma a proporcionar uma boa amplitude de visão para as fragas e, como

tal, para os territórios/ninhos que ali ocorrem. A localização dos pontos correspondeu, em geral, a

locais estratégicos no topo das arribas, distribuídos ao longo das principais linhas de água. Para além

da observação em pontos fixos, procedeu-se ainda à prospeção das restantes zonas de fraga não

visíveis a partir dos mesmos, de modo a detetar novos ninhos ou a amostrar melhor ninhos já conhe-

cidos. Para facilitar esta prospeção, foram definidos pontos de observação “complementares”, num

total de 76. Todos os pontos de observação foram definidos de forma a situarem-se a uma distância

suficiente dos ninhos de modo a não perturbar as aves e possibilitarem a observação do ninho e,

sempre que possível, o respetivo conteúdo. A listagem e localização dos pontos de amostragem

apresenta-se no Anexo A.

Adicionalmente, e uma vez que alguns dos territórios/ninhos a prospetar não tinham visibilidade a

partir de locais acessíveis nas encostas, foram ainda realizadas visitas de barco ao longo do rio Douro

10| Relatório da Ação A1. Recenseamento de aves e Estudo de Avaliação de vulnerabilidade à perturbação Action A1. Census of nests and evaluation of their vulnerability to disturbance

de forma a complementar a amostragem através de pontos de observação. Estes percursos de barco

foram realizados de forma conjunta com técnicos do ICNF-PNDI e/ou mediante a incursão nos per-

cursos de barco turísticos que operam no rio Douro internacional, de forma a garantir a amostragem

de barco nos sectores de Picote, Bemposta, Aldeadávila e Saucelhe.

A amostragem para censo e estudo da reprodução de britango em cada sector foi concretizada medi-

ante a realização de, pelo menos, 3 visitas, uma vez que realização de visitas com alguma frequência

permite a obtenção de dados mais fidedignos (Tavares et al., 2007). A amostragem foi realizada

acordo com a fenologia estival desta espécie e durante a época de reprodução de britango de 2016,

genericamente a partir de meados de março até agosto (Catry et al., 2010). Especificamente para a

Bioinsight, tendo em conta a data de arranque do projeto, os trabalhos de campo foram assegurados

maioritariamente nos meses de julho e agosto de 2016, com a realização de 3 amostragens em cam-

po no decorrer dos dois meses.

2.1.1 Métodos de recolha de dados

Cada ponto fixo de observação foi amostrado em períodos contínuos de, pelo menos, 1 hora para

concretização de Sessões Intensivas em Pontos Fixos – SIPFix. Cada ponto foi amostrado por um

observador recorrendo à utilização de binóculos e telescópio (Bibby et al., 2000), tendo sido realizado

em condições favoráveis de observação em termos meteorológicos. No caso dos pontos de observa-

ção complementares, estes foram realizados sem uma frequência ou duração pré-definida, dado o

objetivo para o qual foram definidos. A sua duração e visitas correspondeu ao tempo considerado

necessário para que fosse possível confirmar a situação de ocupação em cada território/ninho poten-

cial prospetado (presença ou ausência de casal). No caso dos percursos de barco, o esforço se

amostragem não foi mensurável.

A realização de 3 visitas a cada um dos setores de amostragem foi realizada com o objetivo de reco-

lher a seguinte informação:

• Visita 1 – prospeção de ninhos e identificação do seu estado de ocupação, incluído a contabi-

lização de casais presentes nos seus territórios, mesmo que não tiveram êxito reprodutor;

• Visita 2 – contabilização de casais em defesa de território, ou ocupação de ninhos, bem como

avaliar o estado da reprodução traduzido no número e estado de desenvolvimento de crias

em fase pré-voadora – determinação de casais que criou com sucesso;

• Visita 3 – continuação do inventário de casais em ocupação de território ou de ninho; deteção

e contabilização do número de crias voadoras, sempre que tal foi possível, ou seja, as crias

que saíram do ninho e iniciaram a emancipação

Para todas as amostragens em campo, a metodologia de deteção concreta dos territórios/ninhos dos

casais em estudo envolveu o seguimento de indivíduos até possíveis locais de nidificação e/ou a pro-

cura de indícios nas paredes rochosas (aglomerados de ramos e marcas de dejetos), recorrendo à

utilização de binóculos e telescópio por um observador. Após a determinação da localização exata

dos ninhos, foi efetuada uma caracterização dos mesmos e foram contabilizados os ovos e/ou crias

existentes, se visíveis.

Em termos da caracterização dos ninhos, para cada local confirmado foram recolhidos parâmetros

como: (i) localização; (ii) tipo de ninho (cavidade, fenda, plataforma, etc.); (iii) posição na encosta; (iv)

orientação predominante; (v) substrato onde o ninho se encontra sobreposto; (vi) registo fotográfico.

11

No caso dos dados recolhidos para os casais e seus parâmetros reprodutores, foram sempre que

possível registados os seguintes dados em campo: (i) idade dos indivíduos do casal; (ii) comporta-

mento dos progenitores; (iii) número de crias no ninho; (iv) estado de desenvolvimento da cria.

Estes parâmetros foram utilizados para construir fichas de registo de ninhos, por território/ninho pros-

petado. Cada ficha produzida para cada território/ninho englobou parâmetros como: a descrição de

resultados/observações registadas por casal e por ninho, a sua representação em cartografia à escala

1/25000 sobre carta militar, bem como via Google Earth (https://www.google.com/earth/) e respetivo

registo fotográfico do local.

2.1.3 Métodos de tratamento de dados

Mediante o processamento da informação recolhida durante o trabalho de campo pela Bioinsight foi

criada uma ficha de registo para caracterização para cada território/ninho de britango, amostrado na

época reprodutiva de 2016. Para cada território/ninho prospetado (conhecido ou novo) foi sumarizada

a descrição das principais observações registadas, se o casal foi ou não encontrado na área de estu-

do e, em caso afirmativo, qual o ninho ocupado pelo mesmo, se possível. Para cada casal confirmado

foi igualmente preenchida na ficha de registo a sua situação reprodutiva na época de 2016.

No âmbito do estudo da reprodução de britango em 2016, para os sectores amostrados em campo

pela Bioinsight, foi também feito o balanço do estado de conservação de ninhos da espécie, conforme

as categorias expostas no Quadro 1.

Quadro 1 | Critérios para avaliação do estado dos ninhos prospetados nos sectores Picote, Bemposta, Aldeadá-

vila e Saucelhe.

Estado de ocupação Descrição

Normal (NO) Formato e estrutura normal, ou seja, está intacto com ou sem

ocupação

Degradado (DE) Observa-se perfeitamente que é um ninho, mas já não tem a sua

estrutura e forma normais, os materiais estão em degradação

Incipiente (IN) Observáveis vestígios do ninho ou indícios de que está a ser

iniciada a sua construção

Não detetado (ND) Não são observados quais materiais ou indícios de um ninho

conhecido anteriormente

Por outro lado, a análise dos dados recolhidos durante a prospeção de territórios/ninhos na área em

estudo resultou avaliação da situação reprodutiva dos casais nestes locais, tendo-se classificado cada

casal de acordo com os critérios apresentados no Quadro 2.

Quadro 2 | Critérios para avaliação da situação reprodutiva dos casais de britango nos territórios/ninhos prospe-

tados na área de estudo.

Situação reprodutiva

Descrição Parâmetros reprodutivos

Casal con-firmado

Casal observado a ocupar o território

Casal controlado

Casais que por ob-servação de indiví-duos e/ou ninhos apresentaram indí-cios de nidificação, nomeadamente:

- observação de

Casal com Sucesso

Reprodutivo

Casal controlado onde foi compro-vada a produção de pelo menos uma cria com uma idade inferior à fase pré-voadora (pluma-

12| Relatório da Ação A1. Recenseamento de aves e Estudo de Avaliação de vulnerabilidade à perturbação Action A1. Census of nests and evaluation of their vulnerability to disturbance

Situação reprodutiva

Descrição Parâmetros reprodutivos

ninho com ovos ou com juvenis;

- observação de ave em posição de incu-bação;

- juvenis do ano, no interior ou proximida-de de ninho;

- casal em cópula próximo do ninho;

- indivíduo (s) em atividade de constru-ção de ninho;

- observação de um adulto ou um casal com um jovem recém voador numa área favorável à nidifica-ção ou perto de um ninho conhecido,

- ninho vazio mas com evidentes sinais de ocupação recente (excrementos, mate-rial vegetal fresco).

gem completa)

Casal sem Sucesso

Reprodutivo

Casal controlado para o qual foi comprovado que não obteve su-cesso reproduti-vo, com ou sem informação acer-ca do início da nidificação

Casal que fracassou na nidifica-

ção

Casal controlado para o qual foi comprovado o fracasso reprodu-tivo numa das etapas da nidifi-cação (incubação, desenvolvimento de crias no ninho)

Casal sem nidificação confirmada

Casal, para o qual, não foram observa-dos quaisquer indí-cios de nidificação

Casal possí-vel

Casal ou indivíduo observado em biótopo adequado para a nidificação, mas que não foi possível de-terminar se corres-ponderia a um casal distinto dos já conhe-cidos, ou se tratariam de indivíduos adultos não reprodutores

(Local vazio/ sem obser-

vações)

Ausência de observa-ções de aves num determinado território ou ninho, anteriormen-te conhecidos como ocupados

Trio confir-mado

Em casos raros, os britangos podem for-mar trios (em geral poliândricos, ou seja, 1 fêmea e 2 machos), que em conjunto de-senvolvem a nidifica-ção

Indivíduos não reprodu-

Indivíduos que fre-quentam a área e não

13

Situação reprodutiva

Descrição Parâmetros reprodutivos

tores fazem parte de casais nidificantes

Com recurso à informação obtida para a época de reprodução de 2016 na área de estudo abrangida

pelo LIFE RUPIS, foi feita uma análise conjunta dos dados recolhidos pela equipa da Bioinsight, bem

como do ICNF-PNDI e IP/JCYL-PNAD. Foram estimados três parâmetros reprodutores que permitem

expressar o sucesso do processo reprodutivo da população de britango em 2016, nomeadamente:

• Produtividade: determinada pela razão entre o número de juvenis pré-voadores ou voadores e

o número de casais controlados (Postupalsky, 1974);

o Parâmetro que reflete a quantidade de juvenis produzidos pela totalidade da popula-

ção potencialmente reprodutora;

• Taxa de voo: determinada pela razão entre o número de juvenis pré-voadores ou voadores e

o número de casais com crias voadoras (Cheylan, 1981);

o Parâmetro que quantifica a proporção de juvenis voadores produzidos pelos casais

que terminaram com êxito o todo o processo nidificante;

• Êxito reprodutor: expresso pela percentagem de casais com sucesso reprodutor dentro do

grupo dos casais controlados.

o Parâmetro que descreve a proporção de sucesso/insucesso dos casais.

Os parâmetros reprodutivos acima descritos foram determinados de forma descriminada para cada

um dos 14 sectores amostrados na área em estudo, incluído os troços situados em Portugal, Espanha

e transfronteiriços. Foram ainda estimados os mesmos parâmetros para o total da área em estudo,

como reflexo global da população nidificante de britango em 2016 nesta região.

2.2 Resultados e discussão

2.2.1. Classificação de casais nos territórios/ninhos prospetados

No âmbito dos trabalhos de campo realizados pela Bioinsight foram prospetados um total de 162 terri-

tórios/ninhos de britango, distribuídos pelos sectores transfronteiriços de Picote, Bemposta, Aldeadá-

vila e Saucelhe, ao longo do canhão do rio Douro (Quadro 3). A caraterização detalhada de cada um

dos locais prospetadas em 2016 nos referidos sectores encontra-se em ficha de registo de territó-

rios/ninhos, no Anexo B. O registo fotográfico encontra-se também em formato digital (JPEG) no Ane-

xo C.

No conjunto da área estudada para o Projeto Rupis LIFE foram prospetados um total de 337 territó-

rios/ninhos, conforme se verifica pela análise do Quadro 3, correspondentes a locais históricos co-

nhecidos e que seriam potenciais para uso em 2016. A quantificação de locais não é equitativa entre

sectores, o que estará relacionado com a extensão dos mesmos ao longo das linhas de água, assim

como das condições de habitat encontradas. Desta forma, os sectores do Douro Nacional, Uces, Cas-

tro e Miranda constituem aqueles com menor número de territórios/ninhos prospetados e, no lado

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oposto, salientam-se os sectores de Saucelhe, Picote, Aldeadávila e Huebra com maior número de

locais prospetados. No Anexo D encontra-se, em formato vetorial (shapefile), a localização de todos

os territórios/ninhos, bem como os principais resultados obtidos em 2016, ao nível da identificação

dos locais que foram ocupados, bem como dos locais onde se confirmou sucesso reprodutor.

Quadro 3 | Número total de territórios/ninhos de britango (Neophron percnopterus) prospetados na área em es-

tudo (conhecidos e novos) – Douro Internacional (PN-SIC-ZPE) e Arribes del Duero (PN-LIC-ZEPA).

Localização Sector Locais prospetados

Sectores transfronteiriços

(Portugal/Espanha)

Miranda 13

Picote 42

Bemposta 34

Aldeadávila 41

Saucelhe 45

Poiares 20

Águeda Internacional 34

Exclusivamente português Douro Nacional 2

Exclusivamente espanhol

Castro 10

Villalcampo 14

Tormes 16

Uces 10

Huebra 41

Águeda Nacional 15

Total geral 337

Da totalidade de locais prospetados no censo de 2016, foi possível confirmar a ocupação de 121 terri-

tórios por casais de britango, aos quais acrescem 14 casais dados como possíveis na área em estu-

do. Desta forma, no cômputo geral, estima-se a ocorrência potencial de 135 casais de britango na

zona abrangida pelo Douro Internacional (PN-SIC-ZPE) e Arribes del Duero (PN-LIC-ZEPA).

Quadro 4 | Classificação dos casais (número de casais por local prospetado, por categoria) na área em estudo

(territórios/ninhos conhecidos e novos) – Douro Internacional (PN-SIC-ZPE) e Arribes del Duero (PN-LIC-ZEPA): valores totais para o conjunto dos sectores amostrados.

Parâmetro Total

Casal confirmado 121

Casal possível 14

Local vazio/ sem observações 202

Total geral 337

Analisando os resultados obtidos por sector (Figura 2), é possível verificar que os sectores Saucelhe

e Aldeadávila correspondem aqueles com maior número absoluto de casais confirmados (21 e 16,

respetivamente). Os resultados obtidos para o conjunto de sectores situados exclusivamente em Por-

15

tugal e transfronteiriços são diretamente comparáveis com um estudo elaborado pelo ICNF em anos

anteriores (Monteiro, 2013). No conjunto composto pelos 8 sectores que compõem as zonas descritas

foram, no referido estudo, inventariados 83 casais confirmados e 11 casais possíveis. Estes resulta-

dos são semelhantes aos obtidos em 2016, onde, o somatório do número de casais em Miranda, Pi-

cote, Bemposta, Aldeadávila, Saucelhe, Poiares, Águeda Internacional e Douro Nacional, perfaz um

total de 84 casais confirmados e 12 casais possíveis – representando um aumento potencial de 2

casais nesta área.

Em termos espaciais, verifica-se que a maior proporção de casais confirmados parece concentrar-se

nos sectores fronteiriços, situados ao longo do rio Douro internacional (Figura 3) e, pelo contrário, os

sectores Huebra e Uces surgem como aqueles com maior proporção de territórios/ninhos vazios face

aos locais prospetados.

Figura 2 | Classificação dos casais por categoria (número de casais por local prospetado), para cada um dos

sectores amostrados na área em estudo (territórios/ninhos conhecidos e novos) – Douro Internacional (PN-SIC-ZPE) e Arribes del Duero (PN-LIC-ZEPA).

16| Relatório da Ação A1. Recenseamento de aves e Estudo de Avaliação de vulnerabilidade à perturbação Action A1. Census of nests and evaluation of their vulnerability to disturbance

Figura 3 | Distribuição espacial dos casais nos locais prospetados, classificados por categoria, nos sectores

amostrados na área em estudo (territórios/ninhos conhecidos e novos) – Douro Internacional (PN-SIC-ZPE) e Arribes del Duero (PN-LIC-ZEPA).

2.2.2. Estudo do sucesso reprodutor dos casais

Estado de ocupação dos ninhos

O levantamento do estado de conservação dos ninhos prospetados foi realizado ao longo das saídas

de campo da época reprodutiva de 2016. Para os sectores amostrados pela Bioinsight – Picote, Bem-

posta, Aldeadávila e Saucelhe – os resultados encontram-se no quadro seguinte (Quadro 5). Grande

parte dos ninhos encontrados encontrava-se em bom estado de conservação, independentemente do

seu estado de ocupação na época reprodutiva em análise. Não obstante, foi ainda listado um elevado

número territórios onde os locais de nidificação não foram detetados, correspondendo a cerca de 40%

dos locais prospetados. Observaram-se ainda duas situações no sector de Picote em que o ninho se

encontrava ocupado por grifo (Gyps fulvus) e três situações em Bemposta onde, apesar de ter sido

encontrado o ninho associado ao local prospetado, as condições de visibilidade não permitiram ob-

servar em concreto as condições em que o ninho se encontrava.

17

Quadro 5 | Estado de ocupação de ninhos para os locais prospetados nos sectores de Picote, Bemposta, Aldea-dávila e Saucelhe – época de reprodução de 2016. Legenda: NO – Normal; DE – Degradado; IN – Incipiente; ND

– Não detetado; s.d. – sem dados; GRIFO – ocupado por grifo (Gyps fulvus).

Sector Estado de ocupação dos ninhos

NO DE IN ND s.d. GRIFO

Picote 14 4 3 19 - 2

Bemposta 15 4 1 11 3 -

Aldeadávila 24 2 2 13 - -

Saucelhe 20 - 3 22 - -

Parâmetros reprodutivos dos casais estudados

A avaliação da situação reprodutiva foi feita com base nos casais confirmados na área de estudo em

2016, num total de 121 casais de britango presentes nos 14 sectores amostrados nas zonas do Douro

Internacional (PN-SIC-ZPE) e arribes del Duero (PN-LIC-ZEPA).

Na área em estudo, face à totalidade de casais confirmados (n=121) foram controlados 69 casais, ou

seja, casais que durante a amostragem exibiram indícios de nidificação, conforme os critérios apre-

sentados anteriormente na metodologia (Quadro 6), dos quais 47 tiveram sucesso reprodutor (i.e.

produção confirmada de pelo menos uma cria com uma idade inferior à fase pré-voadora). No total,

foram produzidas 50 crias/juvenis de britango na época de reprodução de 2016. Assim, verifica-se

que a maioria dos casais com sucesso reprodutor produziram apenas 1 cria, sendo que apenas nos

sectores Saucelhe e Villalcampo o número de crias produzidas foi superior ao número de casais com

sucesso reprodutor: os casais que nidificaram nos locais designados NP-SA-245 e NP-SA-250 (Sau-

celhe) e NP-VI-65 (Villalcampo) produziram 2 crias cada.

Em termos da distribuição espacial dos casais confirmados na área em estudo (Figura 4), observa-se

que a maior parte dos casais controlados com sucesso reprodutor se concentraram ao longo dos sec-

tores que intercetam o rio Douro internacional, bem como os sectores Águeda Internacional e Huebra,

na metade sul da área de estudo. Refere-se ainda que em vários territórios/ninhos com ocupação

confirmada em 2016 na zona mais a norte da área em estudo (e.g. sectores Miranda e Castro), não

se registou informação que mostrasse indícios nidificação para os casais presentes.

Quadro 6 | Resultados obtidos para a situação reprodutiva dos casais confirmados para cada um dos sectores

amostrados na área em estudo (territórios/ninhos conhecidos e novos) – Douro Internacional (PN-SIC-ZPE) e Arribes del Duero (PN-LIC-ZEPA).

Localização Sector Casais con-

firmados

Situação reprodutiva - 2016

Casais controla-

dos

Casais com su-cesso reprodutor

Nº de crias produzi-

das

Sectores Trans-fronteiriços (Por-tugal/Espanha)

Miranda 7 0 0 0

Picote 11 8 4 4

Bemposta 9 6 4 4

Aldeadávila 16 12 5 5

Saucelhe 21 17 10 12

18| Relatório da Ação A1. Recenseamento de aves e Estudo de Avaliação de vulnerabilidade à perturbação Action A1. Census of nests and evaluation of their vulnerability to disturbance

Localização Sector Casais con-

firmados

Situação reprodutiva - 2016

Casais controla-

dos

Casais com su-cesso reprodutor

Nº de crias produzi-

das

Poiares 6 2 1 1

Águeda Internacional 12 9 8 8

Exclusivamente português

Douro Nacional 2 0 0 0

Exclusivamente espanhol

Castro 8 1 1 1

Villalcampo 8 2 2 3

Tormes 5 1 1 1

Uces 1 0 0 0

Huebra 12 11 11 11

Águeda Nacional 3 0 0 0

Total geral 121 69 47 50

19

Figura 4 | Distribuição espacial da situação reprodutiva para os casais confirmados em 2016, por categoria, nos

sectores amostrados na área em estudo (territórios/ninhos conhecidos e novos) – Douro Internacional (PN-SIC-ZPE) e Arribes del Duero (PN-LIC-ZEPA).

A análise dos dados para avaliação da situação reprodutiva permitiu ainda aferir que o parâmetro

êxito reprodutor para a totalidade da área estudada foi de 68,1%. Discriminando este parâmetro para

cada sector amostrado (Figura 5), observa-se que para vários dos sectores amostrados exclusiva-

mente em Espanha (PN-LIC-ZEPA Arribes del Duero) – o êxito reprodutor foi de 100%, pelo facto do

número de casais controlados nestes locais ter correspondido ao número de casais com sucesso

reprodutor. É o caso dos sectores designados Castro (n=1), Villalcampo (n=2), Tormes (n=1), e Hue-

bra (n=11).

De notar que para os sectores Miranda, Douro Nacional, Uces e Águeda Nacional, os parâmetros

reprodutivos são nulos, ou não aplicáveis, uma vez que, apesar de se ter confirmado a ocupação de

territórios por casais de britango nestes locais em 2016, em nenhum dos mesmos de recolheram da-

dos que indicassem a existência de, pelo menos, tentativa de nidificação. Nos restantes sectores

amostrados foi determinado um êxito reprodutor de 42% para Aldeadávila (n=12), de 50% para os

20| Relatório da Ação A1. Recenseamento de aves e Estudo de Avaliação de vulnerabilidade à perturbação Action A1. Census of nests and evaluation of their vulnerability to disturbance

sectores Picote (n=8) e Poiares (n=2), de 59% para Saucelhe (n=17), 67% para Bemposta (n=6) e de

89% para o Águeda Internacional (n=9).

Figura 5 | Resultados para o parâmetro Êxito reprodutor (expresso em percentagem) dos casais de britango em 2016, determinado para cada um dos sectores amostrados na área em estudo. Legenda: MI – Miranda; PI –

Picote; BE – Bemposta; AL – Aldeadávila; SA – Saucelhe; PO – Poiares; AG-I – Águeda Internacional; DO – Douro Nacional; CA – Castro; VI – Villalcampo; TO – Tormes; UC – Uces; HU – Huebra; AG-N – Águeda Nacio-

nal.

No que respeita aos parâmetros reprodutivos de produtividade e taxa de voo, os resultados obtidos,

por sector e para o total da área em estudo encontram-se no Quadro 7. Em termos globais, a produti-

vidade da população em estudo no âmbito do projeto LIFE RUPIS foi de 0,72 crias voadoras por casal

controlado e a taxa de voo foi de 1,06 crias voadoras por casal com sucesso. Comparando estes re-

sultados com os obtidos por Monteiro (2013) na zona do PNDI verifica-se a avaliação da situação

reprodutiva de britango em 2016 registou resultados intermédios aos dos dois últimos anos abrangi-

dos pelo referido estudo (2013: 0,71 crias voadoras/casal controlado e 1,19 crias voadoras por casal

com sucesso; 2014: 0,86 crias voadoras por casal controlado e 1,19 crias voadoras por casal com

sucesso). Estas inferências diretas devem ser feitas com algumas ressalvas, uma vez que a área de

estudo (número de sectores de amostragem) não foi equivalente entre o presente estudo (n=14) e o

estudo apresentado por Monteiro (2013) (n=8).

Quadro 7 | Resultados para os parâmetros reprodutivos Produtividade e Taxa de voo para a população de bri-

tango em 2016, determinados para cada um dos sectores amostrados na área em estudo – Douro Internacional (PN-SIC-ZPE) e Arribes del Duero (PN-LIC-ZEPA).

Localização Sector Produtividade Taxa de voo

Sectores Trans-fronteiriços (Por-tugal/Espanha)

Miranda - -

Picote 0,50 1,00

Bemposta 0,67 1,00

Aldeadávila 0,42 1,00

Saucelhe 0,71 1,20

Poiares 0,50 1,00

21

Localização Sector Produtividade Taxa de voo

Águeda Internacional 0,89 1,00

Exclusivamente português

Douro Nacional - -

Exclusivamente espanhol

Castro 1,00 1,00

Villalcampo 1,50 1,50

Tormes 1,00 1,00

Uces - -

Huebra 1,00 1,00

Águeda Nacional 0,00 -

Total geral 0,72 1,06

Comparativamente com outras zonas da Península Ibérica, os resultados obtidos para o estabeleci-

mento da situação populacional no presente estudo parecem ser semelhantes ou ligeiramente inferio-

res aos parâmetros estimados noutros estudos. Por exemplo, na zona de Valencia (zona este de Es-

panha) foi aferida uma produtividade média de 0,91 juvenis voadores/casal e uma taxa de voo de 1,20

crias/por casal com sucesso, enquanto o êxito reprodutor foi de 76% de casais com sucesso reprodu-

tivo face aos casais confirmados (García-Ripollés & López-López, 2006). Também na zona es-

te/nordeste de Espanha (Catalunha) foi estimada uma taxa de voo de 1,17, sendo também superior

ao presente estudo, assim como uma percentagem de êxito reprodutor (casais com juvenis voadores)

de cerca de 78% (Tauler et al., 2015). Mais para o sul de Espanha, a tendência verificada em três

áreas amostradas na região de Andaluzia resultou em estimativas de produtividade média de 0,61;

0,88 e 0,92 crias voadoras/casal, em cada uma das áreas amostradas (Margalida et al., 2012), sendo

que os autores concluíram que as diferenças encontradas nos locais que amostraram não eram signi-

ficativas.

Desta forma, face à avaliação da situação reprodutiva de britango em 2016, apesar de ligeiras dife-

renças, conclui-se que os resultados obtidos em 2016 para a população de britango que nidifica na

zona do Douro Internacional/Arribes del Duero (zona de atuação do Rupis LIFE) parecem estar dentro

dos valores normais em termos ecológicos para a espécie.

22| Relatório da Ação A1. Recenseamento de aves e Estudo de Avaliação de vulnerabilidade à perturbação Action A1. Census of nests and evaluation of their vulnerability to disturbance

3| A1.II Construção de uma base de dados sobre a população de Britango (1995 – 2016)

A Ação A1.II visou o desenvolvimento de uma Base de Dados sobre a população reprodutora de bri-

tango que ocorre na área de atuação do projeto LIFE RUPIS, com base em informação recolhida para

o período de 1995-2016. Nos subcapítulos seguintes é descrito o procedimento metodológico adotado

para consecução dos objetivos propostos, assim como os resultados obtidos (incluindo a sua discus-

são).

3.1 Metodologia de amostragem, recolha e análise de dados

Esta tarefa não envolveu a recolha de dados para a produção da base de dados, mas sim uma trans-

formação e normalização de dados já existentes.

Os dados que serviram de input para esta ação foram obtidos na Ação A.I, ou seja, no censo e se-

guimento de casais de Britango em 2016. Da mesma forma, foi incluído na construção da base de

dados o histórico dos dados recolhidos e resultados obtidos para os censos de britango entre desde

1995 até ao presente, cuja informação foi fornecida em suporte digital (formato Excel) pelo Instituto da

Conservação da Natureza e Florestas (ICNF).

Os dados contidos no Excel foram transformados e normalizados para importação na base de dados.

Este processo de transformação e normalização é vulgarmente designado de Extract Transform Load

- ETL (Kaufeld 2003). Este processo de ETL, requer que a estrutura da base de dados seja definida

previamente, para que a transformação e normalização da informação produza um output compatível

com a estrutura da base de dados (Kaufeld 2003).

Desta forma, o output não constitui informação nova, mas sim, informação estruturada de forma dife-

rente.

3.2 Resultados

3.2.1 Modelo de dados: definição de tabelas

Com base na estrutura do Excel, obtido por intermédio do censo e seguimento da população do Bri-

tango, foi criada uma base de dados em Microsoft Office Access conforme modelo apresentado na

Figura 6. Este modelo de base de dados contempla 3 tabelas (designadas de entidades): Ninho, Cen-

so e Sector. É nestas que a informação fica registada.

A base de dados produzida no âmbito da presente tarefa apresenta-se em anexo digital (Anexo V

deste relatório), expondo-se nos parágrafos seguintes algumas das especificações, bem como reco-

mendações para utilização futura da mesma.

23

Figura 6 | Representação e construção do modelo de base de dados (designado Entity Relationship Model -

ERM).

Para obter mais informação sobre a informação contida numa “coluna” por tabela inclusive o seu tipo,

basta abrir a mesma em “vista de estrutura” e consultar as células: Nome do campo, Tipo de dados e

em especial Descrição (Figura 7). Adicionalmente, para obter uma visão geral do modelo da base de

dados, basta ativar a “vista relacional” da base de dados, a qual é útil para que se possa perceber

qual o papel que cada tabela assume no modelo de dados.

Figura 7 | Exemplo de vista de estrutura da tabela (designada geralmente como entidade) Ninho.

24| Relatório da Ação A1. Recenseamento de aves e Estudo de Avaliação de vulnerabilidade à perturbação Action A1. Census of nests and evaluation of their vulnerability to disturbance

Ao analisar o modelo da base de dados, em especial as colunas contidas nas tabelas, em conjunto

com o descritivo respetivo, verificam-se que estas são, de grosso modo, as mesmas que constam do

Excel, uma vez que este modelo de base de dados considera, em especial, quanto ao registo de cen-

sos o seguinte:

• Um censo para um dado ninho / ano (amostrado), pode ter ou não dados para algumas das

colunas (0, 1, etc…), cabendo ao utilizador registar o que fará sentido;

• Se por um lado, houve amostragem em determinado código ninho-território, mas o resultado

do censo é 0 (casal ausente), o utilizador, tem a opção de preencher o campo ano (apenas)

deixando todos os outros campos nulos;

• Se, por outro lado, um dado ninho-território não foi visitado durante esse ano, não havendo

nenhum censo, não pode ser registado nada para esse ninho (não preencher sequer o campo

ano). Assim, por exemplo, ao obter um reporte de censos por ninho, nesse ano, não irá apa-

recer na tabela.

Em suma, os campos referentes ao censo, podem ser preenchidos com dados, geralmente 0 ou 1 ou,

no caso das crias, de 0 a N, mas podem conter nulos (dados deixados em branco) sendo que todos

esses valores têm um significado específico.

Salienta-se que o modelo da base de dados Access criado não é estático, ou seja, pode ser modifica-

do e criados novos objetos (colunas de tabelas, formulários, etc.) consoante a necessidade. Para o

efeito devem ser seguidas as recomendações de boas práticas, devendo ser documentada essa alte-

ração usando o menu de vista de estrutura, Figura 7 (Kaufeld, 2003).

3.2.2 Reporting e edição da informação: Consultas e Formulários

A base de dados encontrada no Anexo V contempla também outros dois tipos de objetos: Consultas e

Formulários.

As Consultas geram “tabelas” derivadas do que foi inserido e podem ser exportadas para formato

Excel. Existe uma delas denominada “Matriz Geral” e tem toda a informação essencial visível (que

consiste numa tabela que relaciona/ cruza todas as três tabelas anteriores).

Quanto às Consultas criadas, qualquer uma pode ser editada e visualizado o resultado final, conforme

exemplo na Figura 8. Recorrendo às diversas ferramentas do Access, é possível saber, por exemplo,

quais os censos em cada ano associados a cada ninho e se falta algum para um ano respetivo. Atu-

almente, esta questão pode ser identificada ao usar a Consulta com o nome “Matriz Geral”.

25

Figura 8 | Acesso ao menu de Consultas e menu de edição da Consulta Matriz Geral da base de dados.

Os Formulários permitem, de uma forma mais amigável, editar as tabelas. Sem eles, a sua edição é

mais difícil, mas possível abrindo uma tabela e digitando os dados manualmente, não sendo, contudo,

recomendado este procedimento. Essencialmente, existem 3 Formulários, um para cada tabela, como

apresentado na Figura 9. Cada um dos Formulários permite editar a informação existente, adicionar e

apagar (linhas).

Refere-se que, no caso da tabela “Sector”, apesar desta já possuir os sectores pré-registados (os 14

sectores amostrados até à data no âmbito do Projeto), é possível adicionar mais, caso se verifique

necessário.

Por outro lado, para preenchimento de um “Censo”, usando o formulário com esse nome, é necessá-

rio que o ninho respetivo já se encontre na base de dados. Caso não se encontre, em primeiro lugar

tem de se registar um novo ninho incluindo a informação necessária (pelo menos o Código de territó-

rio/casal e Sector de amostragem). Após este procedimento, será depois possível registar o dado do

Censo associado ao referido local.

26| Relatório da Ação A1. Recenseamento de aves e Estudo de Avaliação de vulnerabilidade à perturbação Action A1. Census of nests and evaluation of their vulnerability to disturbance

Figura 9 | Acesso ao menu de Formulários para edição da informação.

3.2.3 Georreferenciação de ninhos (opcional)

A maior diferença entre a base de dados Access e o ficheiro Excel, é a possibilidade de ser mais fácil

georreferenciar o território/ninho, pelo facto de a base de dados conter duas colunas, opcionais, com

o nome latitude e longitude que aceitam valores decimais de coordenadas geográficas.

Para obtenção de coordenadas geográficas, existem diversas formas podendo, por exemplo, execu-

tar-se um dos dois próximos métodos. Uma destas é usando o QGIS, seguindo o tutorial constante

em http://gis.stackexchange.com/questions/8844/getting-list-of-coordinates-for-points-in-layer-using-

qgis ou usando a ferramenta Google Maps.

Para obter coordenadas geográficas usando o Google Maps (Figura 10), basta premir no mapa com o

botão direito do rato e escolher a opção “O que é isto?”. Esta ação cria um pequeno circulo no mapa e

mostra as coordenadas ao centro na parte inferior do mapa no formato latitude, longitude que podem

ser copiadas.

Para os ninhos/territórios já conhecidos, estas colunas foram preenchidas, assim, ao exportar a infor-

mação referente aos ninhos/territórios para um ficheiro Excel ou até noutro formato, estes dados po-

dem depois ser importados diretamente para um software SIG, usando o sistema de coordenadas

geográfico Latitude / Longitude WGS 84 ou EPSG:4326 (ver http://spatialreference.org/ref/epsg/wgs-

84/).

Para colocar esta informação associada ao ninho/território, basta usar o Formulário com o nome Ni-

nho (Figura 9).

27

Figura 10 | Obtendo coordenadas geográficas (formato: latitude, longitude) usando o Google Maps.

28| Relatório da Ação A1. Recenseamento de aves e Estudo de Avaliação de vulnerabilidade à perturbação Action A1. Census of nests and evaluation of their vulnerability to disturbance

4| A1.III – Estudo de avaliação de ameaças so-bre a população de Britango

A Ação A1.III visou a realização de um estudo, através da adoção de análises estatísticas multivaria-

das, que relacionasse o sucesso da população nidificante de britango na área de atuação do Projeto

Rupis LIFE – Douro Internacional (PN-SIC-ZPE) e Arribes del Duero (PN-LIC-ZEPA), em função de

condições ambientais e ecológicas existentes nesta mesma área.

Os procedimentos metodológicos e de resultados que se descrevem em seguida consistem numa

versão simplificada da sua componente mais técnica, com o intuito de facilitar a leitura e a interpreta-

ção dos resultados. Uma versão mais detalhada do processo estatístico, incluindo metodologias de

análise, descritivo das variáveis consideradas e outputs obtidos para os resultados pode ser consulta-

da em suplemento técnico, no Anexo F.

4.1 Metodologia de amostragem, recolha e análise de dados

Esta tarefa não envolveu a recolha de dados em campo, mas sim uma transformação, processamento

e análise com base em dados já existentes. Os dados referentes à população de britango na área em

estudo nos anos anteriores a 2016, bem como as variáveis ambientais estudadas na análise de mo-

delação estatística foram disponibilizados pelo ICNF-PNDI e IP/JCYL-PNAD e/ou obtidos mediante

pesquisa bibliográfica.

O objetivo das análises realizadas foi estudar quais as variáveis ambientais que influenciam o britan-

go (Neophron percnoterus) na área de estudo, pelo menos, ao nível dos elementos que poderão con-

dicionar, em última instância, a sua população nidificante. Desta forma, as análises decorreram a dois

níveis:

• estudo para a ocupação de territórios/ninhos – o objetivo principal foi estudar quais os territó-

rios mais frequentemente selecionados para ocupação pela espécie, ou seja, os locais mais

frequentemente favorecidos, e quais as variáveis ambientais que poderão condicionar essa

seleção na área de estudo;

• estudo para o sucesso reprodutivo da espécie – o objetivo principal foi estudar quais os locais

onde mais frequentemente ocorre sucesso reprodutivo (i.e. confirmação da produção de pelo

menos 1 cria voadora; Hardey et al., 2006), tendo por base o leque amostral de territó-

rios/ninhos que foram ocupados, e quais as variáveis ambientais que poderão condicionar es-

se sucesso na área de estudo;

A ocupação de territórios/ninhos e o sucesso reprodutivo do britango foram estudados tendo por base

a rede de territórios/ninhos amostrados na atual área afeta ao Projeto Rupis LIFE. Para construção da

matriz de dados de britango para as análises, recorreu-se à informação disponibilizada na base de

dados pelo ICNF (listagem de todos os locais históricos e atuais conhecidos), tendo-se considerado

como potenciais de base para ocupação pela espécie para este estudo todos os territórios/ninhos

para os quais se tenha confirmado a ocupação, pelo menos, uma vez nos últimos 10 anos. Esta ope-

ração foi efetuada de forma a despistar eventuais locais muito antigos, que atualmente possam já não

ter potencial para o uso ou que tenham sido amostrados de forma não sistemática, uma vez que a

base de dados disponibilizada incluía territórios/ninhos conhecidos desde há cerca de 25 anos. Deste

29

filtro, resultou um total de 279 territórios/ninhos, tendo estes locais constituído a unidade de amostra-

gem para o estudo (Olea & Mateo-Tomas, 2011; Margalida et al., 2012).

Como variáveis resposta, foram utilizados os dados recolhidos para a ocupação de territórios e su-

cesso reprodutor da espécie-alvo, não apenas na época reprodutiva de 2016, mas considerando o

período de 2012-2016 (5 anos), de forma a obter um volume de dados mais robusto para as análises

estatísticas. Estas variáveis resposta foram estudadas de acordo com um modelo de distribuição bi-

nomial:

• Ocupação: número de anos em que o território/ninho foi ocupado, num total de cinco anos;

• Sucesso reprodutivo: número de anos em que se confirmou o sucesso reprodutor, condicio-

nado pelo número de anos em que o território/ninho foi ocupado.

Foi considerado um conjunto original de 32 variáveis explicativas (Quadro 8) para modelar a probabi-

lidade de ocupação po e a probabilidade de reprodução bem-sucedida pb, em escala logit, utilizando

modelos lineares generalizados (MLG) binomiais (Guisan et al., 2002).

Esta listagem foi definida tendo por base recomendações do ICNF e consiste em variáveis ambientais

para as quais se levanta a hipótese de terem influência sobre a população nidificante de britango –

nomeadamente ao nível da ocupação do território/ninho e do sucesso reprodutor da espécie. Confor-

me se pode verificar no Quadro 8 incluem-se variáveis relacionadas com a caracterização dos ninhos

e/ou centros de território (orografia do terreno), disponibilidade alimentar, rede de infraestruturas e

ocupação humana e perturbação humana (turismo), uso do solo/coberto vegetal, presença de outras

espécies rupícolas, entre outros. De forma geral, para associação de cada variável a cada unidade de

amostragem (território) foram feitas medições com base na distância (e.g. distância ao território/ninho

mais próximo ocupado por outras espécies), associadas ao próprio local (e.g. altitude do ninho) ou

com base em quantificações de área (e.g. densidade de cabeças de gado) tendo-se, neste último

caso, efetuado todos os cálculos tendo por base um buffer de 2,5km em torno de cada território/ninho

(Mateo-Tomas & Olea, 2009; 2010; Olea & Mateo-Tomas, 2011).

Para além do estudo da influência de cada variável explicativa, por si, sobre as variáveis resposta,

foram foi considerada a hipótese de ocorrência de interações entre variáveis: para a variável “CAAN”

foi testada a hipótese de esta pudesse interagir com a influência de todas as restantes variáveis rela-

cionadas com a disponibilidade alimentar para o britango; para a variável “FOGO”, considerou-se a

hipótese de que poderia haver uma interação entre esta e o efeito das variáveis relacionadas com o

uso do solo (coberto vegetal) sobre o britango.

Apesar de ter sido feito um esforço para que as variáveis explicativas consideradas no estudo fossem

uniformes para toda a área estudada, incluindo territórios/ninhos transfronteiriços, bem como exclusi-

vamente em Portugal e em Espanha, nem sempre foi possível garantir este parâmetro, o que se rela-

ciona com a falta de alguns dados para território exclusivamente espanhol. Foram detetados dados

em falta para 90 ninhos/territórios em 10 variáveis, sendo que estes casos foram deixados de fora da

análise.

As variáveis explicativas utilizadas neste estudo foram transformadas previamente à analise de mode-

lação, de forma a melhorar as relações lineares entre as mesmas. Foram também padronizadas (mé-

dia centrada em 0 e desvio-padrão em 1). Assim, as variáveis de densidades/abundâncias (densida-

des Kernel e densidades/abundâncias absolutas) e de disponibilidade de presas foram transformadas

30| Relatório da Ação A1. Recenseamento de aves e Estudo de Avaliação de vulnerabilidade à perturbação Action A1. Census of nests and evaluation of their vulnerability to disturbance

pela aplicação da raiz quadrada (sqt) e, para a densidade populacional humana, procedeu-se à sua

transformação logarítmica (log).

Quadro 8 | Listagem das variáveis explicativas estudadas na presente análise. O descritivo detalhado das mes-

mas pode ser consultado em suplemento técnico (Anexo F).

TIPO NOME (VARIAVEL EXPLICATIVA)

DESCRITIVO (SIMPLIFICADO)

Caracterização da unidade de amostragem/

Orografia

ALTITUDE Altitude (metros) da localização de cada território/ninho potencial (metros)

EXPO_GRAUS Exposição (graus) da localização de cada território/ninho potencial

EXPO_NS Exposição Norte-Sul da localização de cada território/ninho potencial (transfor-mação trigonométrica de cosseno da variável EXPO_GRAUS)

EXPO_EW Exposição Este-Oeste da localização de cada território/ninho potencial (trans-formação trigonométrica de cosseno da variável EXPO_GRAUS)

DECLIVE Declive (graus) da localização de cada território/ninho potencial

Infraestruturas e outros fato-res humanos (ocupação e perturbação)

LISUP0 Linhas elétricas com potência superior a 60kv (densidade de linhas; expresso em comprimento (metros) total de linhas/km2)

LINF60 Linhas elétricas com potência inferior a 60kv (densidade de linhas; expresso em comprimento (metros) total de linhas/km2)

ESTRADA Estradas principais, secundárias e terciárias - rede de estradas asfaltadas (den-sidade de estradas; expresso em comprimento (metros) total de linhas/km2)

CAMINHO Caminhos agrícolas e outros não asfaltados (densidade de caminhos; expresso em comprimento (metros) total de linhas/km2)

POP_HUMA Densidade populacional humana (expresso em habitantes/km2)

LOCALID Distância a presença humana (povoações) - distância mínima (metros) de cada território potencial à povoação (área urbana) mais próxima

TFGFLUVIAL Tráfego fluvial (perturbação fluvial) – expresso num índice de determinado com base na intensidade diária de percursos de barcos (turísticos) no rio Douro

(valores do índice: 0; 0,5; 1; 2; 3).

PERTURISMO Perturbação humana (outros): turismo – expresso num índice de perturbação humana potencialmente causada pelo turismo na área em estudo. (valores do

índice: 0; 0,5; 1; 2; 3)

Atividade cinegética

COEL Abates de coelho-bravo (Oryctolagus cuniculus) por Zona de Caça – densidade de animais abatidos (abates/km2)

JAVA Abates de javali (Sus scrofa) por Zona de Caça – densidade de animais abati-dos (abates/km2)

PERD Abates de perdiz (Alectoris rufa) por Zona de Caça – densidade de animais abatidos (abates/km2)

LEBR Abates de lebre (Lepus granatensis) por Zona de Caça – densidade de animais abatidos (abates/km2)

POMB Abates de pombos (Columba sp.) por Zona de Caça – densidade de animais abatidos (abates/km2)

Atividade agropastoril

OVICA Densidade de pequenos ruminantes (somatório de cabeças de gado ovino e caprino) – expresso em cabeças de gado/km2

BOVI Densidade de grandes ruminantes (cabeças de gado bovino) – expresso em cabeças de gado/km2

Alimentação Suplementar

CAAN Campos de alimentação de aves necrófagas - Distância mínima (metros) de cada território potencial ao campo de alimentação suplementar para abutres

mais próximo que se encontra ativo

Habitat/Uso do solo

AGRIPERM Culturas agrícolas permanentes – expresso em área ocupada pelo habitat (hec-tares)

FLORESTA Coberto vegetal florestal/outros – expresso em área ocupada pelo habitat (hec-tares)

HERBACEA Pastagens e vegetação herbácea natural (prados) – expresso em área ocupada pelo habitat (hectares)

AFLROCH Afloramentos rochosos/escarpas – expresso em área ocupada pelo habitat (hectares)

Competição Interespecífica (outras espé-

cies rupícolas)

ABUTRES Localização dos territórios/ninhos ocupados outras aves exclusivamente necró-fagas: abutre-preto (Aegypius monachus) e grifo (Gyps fulvus) - Distância míni-ma (metros) de cada território potencial de britango ao território/ninho de outras

espécies de abutres mais próximo

KER_ABUT Densidade kernel de outras aves exclusivamente necrófagas: abutre-preto (Aegypius monachus) e grifo (Gyps fulvus)

31

TIPO NOME (VARIAVEL EXPLICATIVA)

DESCRITIVO (SIMPLIFICADO)

OUTRAS Localização dos territórios/ninhos ocupados por outras aves rupícolas: águia-real (Aquila chrysaetos), águia de Bonelli (Aquila fasciata), falcão-peregrino (Falco peregrinus), bufo-real (Bubo bubo) e cegonha-preta (Ciconia-nigra) - Distância mínima (metros) de cada território potencial de britango ao territó-

rio/ninho de outras espécies rupícolas mais próximo

KER_OUTR Densidade kernel de outras espécies de aves rupícolas: águia-real (Aquila chrysaetos), águia de Bonelli (Aquila fasciata), falcão-peregrino (Falco pere-

grinus), bufo-real (Bubo bubo) e cegonha-preta (Ciconia-nigra)

Competição Intraespecífica

CBRITA_12_16 Territórios/ninhos ocupados por britango (confirmado 2012 a 2016 - 5 anos) – distância mínima (metros) de cada território potencial de britango ao territó-

rio/ninho ocupado mais próximo (confirmado) da mesma espécie, pelo menos uma vez nos últimos 5 anos (2012-2016)

Outros fatores potenciais de perturbação

VENENO Casos de envenenamento conhecidos e suspeitos – índice de intensidade de-terminado com base na frequência de casos detetados e na certeza ou suspeita

dos mesmos (valores do índice: 0; 0,5; 1; 2; 3).

FOGO Área ardida entre 2011-2015 (5 anos) – área total cumulativa (somatório) das áreas ardidas em anos prévios à ocupação de cada território/ninho na época de

reprodução seguinte, expresso em hectares

No processo de análise dos dados foi ainda tida em consideração a potencial existência de colineari-

dade entre as variáveis, ou seja, correlações fortes entre variáveis explicativas (Dormann et al., 2013).

Este é um problema comum em ecologia, onde as variáveis ambientais tendem a variar em conjunto e

formar gradientes, sendo difíceis de definir com recurso a descritores únicos (Carrascal et al., 2009).

Por exemplo, estatisticamente não é possível distinguir entre o efeito da proximidade a uma estrada,

ou a uma linha elétrica se a localização de ambas for quase coincidente.

Para contornar esta questão, isto é, de modo a reduzir o número de variáveis explicativas para um

conjunto menor de componentes não correlacionados, mantendo o poder explicativo, foi aplicada a

regressão dos mínimos quadrados parciais (MQP) (Garthwaite 1994, Carrascal et al., 2009). Esta

regressão MQP produz um conjunto de novas variáveis denominadas “Componentes” que são conju-

gações (combinações lineares) das variáveis explicativas originais. Estas Componentes são, portanto,

utilizados como variáveis para explicar a resposta, neste caso po e pb.

O número de Componentes utilizadas nos modelos finais, bem como a determinação de quais as

variáveis explicativas (individuais) a incluir nos Componentes finais foram avaliados com base na obra

de Bastien et al. (2005).

A análise estatística foi realizada com recurso ao software R (R-Core Team 2016), utilizando o RStu-

dio (RStudio Team 2015) como interface, recorrendo-se à utilização dos packages necessários para

consecução das análises (Bertrand et al., 2014; Breheny & Burchett 2016; Wei and Simko 2016).

Construção de cartografia para a população reprodutora de britango na área em estudo (inclu-

indo Carta de risco)

Foram construídos mapas cartográficos baseados nos resultados dos modelos anteriormente descri-

tos. O objetivo desta análise foi representar a distribuição espacial da probabilidade de ocupação po e

a probabilidade de sucesso reprodutivo pb da espécie, previstos através da modelação.

Adicionalmente, foi determinado um índice geral para a população reprodutora baseado no produto de

po e pb, que se traduz na probabilidade de ocorrência de sucesso reprodutor num dado território/ninho

(probabilidade de sucesso multiplicada pela probabilidade de ocupação). No seguimento desta análi-

32| Relatório da Ação A1. Recenseamento de aves e Estudo de Avaliação de vulnerabilidade à perturbação Action A1. Census of nests and evaluation of their vulnerability to disturbance

se, foi calculado um índice de risco de que a espécie não se reproduza com sucesso num territó-

rio/ninho, como inverso do descrito anteriormente:

RISCO = 1 – (po*pb)

Para o mapeamento e construção da cartografia, foi considerada uma área constituída por um buffer

de 2,5km em torno das principais linhas de água que intercetam a área de estudo. Esta estratégia de

representação da predição dos modelos baseou-se no facto de que todos os territórios/ninhos conhe-

cidos na área de estudo se localizarem ao longo destas zonas, ou seja, por constituírem os locais

onde haverá potencial para que a espécie aqui se estabeleça para fins reprodutivos. Ao polígono re-

sultante do referido buffer foi sobreposta uma grelha de quadrículas de 500mx500m, resultando em

cerca de 8500 quadrículas a intercetar a área em estudo. Todas as variáveis explicativas foram então

processadas e medidas para esta cartografia.

Estes valores estimados para as variáveis explicativas, foram depois introduzidos nos modelos ajus-

tados para po e pb, para que fosse possível prever estes parâmetros (probabilidades) para cada qua-

drícula na grelha de 500x500m. Foi ainda determinado o erro-padrão das predições e foi extraído o

valor para cada componente dos MQP. Por fim, foi calculado o índice de risco com base nos valores

médios previstos para po e pb, em cada quadrícula.

Como foi referido anteriormente, verificou-se a falta de dados para algumas variáveis explicativas

coincidentes com a localização de territórios/ninhos estudados em zona exclusivamente espanhola.

Para que a representação visual do mapeamento não resultasse numa proporção considerável da

área de estudo sem informação, procedeu-se à interpolação dos valores nas quadrículas que interce-

tam estas zonas com base na moda dos valores das variáveis explicativas nas quadrículas nas zonas

para as quais existem dados. Ressalva-se que, apesar deste processo ser uma solução para a falta

de informação, o poder preditivo e a robustez dos resultados será consideravelmente mais forte para

as zonas portuguesas e transfronteiriças, devidamente caracterizadas.

4.2 Apresentação e discussão dos resultados obtidos

Em seguida apresentam-se e discutem-se os resultados obtidos nas analises multivariadas, de forma

diferenciada para as análises à modelação de ocupação de territórios e do sucesso reprodutor de

britango na área de estudo. Não obstante, em relação às inferências retiradas nos próximos subcapí-

tulos, considera-se relevante ressalvar alguns pressupostos e limitações do estudo:

i. Foi necessário assumir uma deteção perfeita do britango na eventualidade dos indivíduos es-

tarem presentes no território/ninho. É possível que sejam negligenciados alguns territórios

ocupados pela espécie, o qual é uma condicionante conhecida em estudos de ocupação do

território (MacKenzie et al., 2003; Olea & Mateo-Tomas, 2011). Caso os territórios ocupados

não fossem detetados de forma aleatória, não existira problema, contudo, a probabilidade de

deteção é geralmente relacionada com fatores ambientais, como acessibilidade aos locais ou

a orografia do terreno, por exemplo. Estas dificuldades podem traduzir-se em resultados envi-

esados, dificultando a distinção entre fatores que levam as espécies a ocupar territórios mais

frequentemente e aqueles que condicionam os próprios observadores na recolha de dados.

Esta situação ilustra a importância de que sejam realizadas várias deslocações ao terreno

melhorar a probabilidade de deteção (MacKenzie et al., 2003, Olea & Tomas, 2011).

33

ii. Este estudo considera um elevado número de covariáveis para explicar a probabilidade de

ocupação e sucesso de reprodutivo do britango. Embora estas variáveis tenham sido selecio-

nadas pela suspeita na sua influência no processo de reprodução desta ou de outras espé-

cies relacionadas, a grande quantidade de testes estatísticos e modelos processados

aumenta a probabilidade de encontrar resultados significativos por acaso. Este tipo de estu-

dos observacionais, com conjuntos de dados relativamente grandes e inúmeros preditores,

são ferramentas valiosas para gerar hipóteses. No entanto, é recomendável contrastar, recor-

rendo a desenhos experimentais conduzidos por hipóteses, qualquer um dos efeitos deteta-

dos usando esta abordagem;

iii. A informação utilizada para medição das variáveis corresponde, em algumas situações, a da-

dos anuais, enquanto os dados de ocupação e sucesso reprodutivo do britango dizem respei-

to ao período 2012-2016. Ao estudando um período maior, é possível extrair informação mais

robusta sobre a espécie, embora a informação ambiental possa variar durante o período es-

tudado. Não obstante, foi utilizado um período de 5 anos, uma vez que neste espaço temporal

a maioria das variáveis consideradas na análise não são suscetíveis variar de forma significa-

tiva;

iv. O estudo analisa a qualidade dos territórios de britango e não a seleção dos habitats de nidifi-

cação. Ao analisar apenas as áreas ocupadas, ou suspeitas de terem sido ocupadas no pas-

sado, por esta espécie, não é possível contrastar a seleção de habitats com a disponibilidade

dos mesmos. Não obstante, consegue perceber-se como a espécie favorece alguns territórios

sobre outros, desde que ambos tenham sido selecionados previamente para fins reprodutivos.

Face ao exposto, é expectável que o leque de condições ambientais estudadas seja reduzido

para aquelas que de alguma forma têm efeito sobre a espécie e, como tal, a confirmação de

efeitos destas covariáveis torna-se mais difícil o que, por consequência, resultará num menor

poder explicativo dos modelos obtidos. Salienta-se que apesar de ser, em geral, preferível es-

timar parâmetros de populações desconhecidas de base, a rede de locais para os quais se

conhece terem sido ocupados no passado constituiu efetivamente a unidade de interesse

neste estudo, considerando especialmente o facto de tratar-se de uma espécie ameaçada

(cujas populações têm estado em declínio), o recurso a esta abordagem acaba por ser rele-

vante para estudos de conservação a nível local para a área em estudo (MacKenzie & Royle,

2005; Olea & Mateo-Tomas, 2011);

v. Seguindo a mesma linha de raciocínio do ponto iv, refere-se que a análise de modelação foi

realizada com informação baseada num leque de valores expectáveis para territórios de nidi-

ficação (conhecidos) e que, por outro lado, as predições do modelo foram determinadas para

zonas envolventes que podem ou não constituir territórios. Desta forma, ressalva-se que, em

termos cartográficos, uma determinada zona que represente uma elevada probabilidade de

sucesso reprodutor, por exemplo, poderá não ser de imediato uma área favorecida pela espé-

cie, mas sim, uma área que, com base na modelação realizada, poderá constituir um ambien-

te com boas condições para a reprodução da espécie (caso houvesse ninho). Pelas mesmas

razões, o intervalo de valores considerados para as variáveis usadas na predição acaba por

ser maior do que o usado no ajustamento de modelos, o que aumenta a incerteza da predição

de valores na área envolvente aos locais de amostragem.

34| Relatório da Ação A1. Recenseamento de aves e Estudo de Avaliação de vulnerabilidade à perturbação Action A1. Census of nests and evaluation of their vulnerability to disturbance

4.2.1 Modelação da ocupação de territórios/ninhos

4.2.1.1 Resultados da análise multivariada

A análise de modelação para a ocupação de territórios/ninhos por britango resultou num modelo final

composto por 3 Componentes. Essas Componentes são compostas, por sua vez, por várias variáveis

explicativas, que se relacionam de diferentes formas entre si. Cada componente exerce determinada

influência (efeito positivo ou negativo) sobre a variável resposta.

O Quadro 9 descreve a composição das Componentes do modelo obtido para a ocupação. Através da

interpretação do quadro, descreve-se em seguida a forma em como cada unidade de paisagem (vari-

ável explicativa) se insere na Componente MQP e qual o seu papel. Salienta-se que, nesta fase não

se pretende descrever de que forma os componentes impactam a variável resposta (discutido mais a

frente), mas sim expor a forma como as variáveis que constituem os diferentes componentes se rela-

cionam.

• Componente 1 (“occu_comp1”), relaciona positivamente áreas próximas de povoações com

abundante rede de caminhos agrícolas e zonas de agricultura permanente, que estejam pró-

ximas de campos de alimentação de aves necrófagas. Estas zonas tenderiam a ser afastadas

de territórios de espécies exclusivamente necrófagas, incluindo tanto o grifo (Gyps fulvus), o

abutre-preto (Aegypius monachus) e o britango.

• Componente 2(“occu_comp2”), considera áreas com orientação a Oeste, próximas de territó-

rios de outras espécies de aves rupícolas, mas relativamente mais afastadas de espécies de

abutres. A distância entre outros territórios de britango é menor quando ocorrem campos de

alimentação de aves necrófagas. As áreas ardidas tendem a coincidir com áreas ricas em

afloramentos rochosos (topo de arribas).

• Componente 3 (“occu_comp3”), composta mais uma vez por áreas com orientação a Oeste,

relativamente bem servidas de rede de caminhos agrícolas e com baixa densidade populacio-

nal humana e tráfego fluvial também relativamente baixo. Considera ainda elevada abundân-

cia de abates de coelho-bravo e baixa de pombos. Existe alguma atividade pastoril de peque-

nos ruminantes (gado ovino e caprino), mas em áreas próximas de campos de alimentação

de aves necrófagas. Estas áreas incluem também elevada densidade de outras espécies de

abutres e outras espécies de aves rupícolas.

É importante neste ponto referir que, da listagem total de variáveis explicativas estudadas inicialmen-

te, apenas as que exercem um peso relevante nas Componentes (variáveis identificadas a negrito no

Quadro 9) contribuem de forma significativa para a interpretação da influência sobre a variável res-

posta (frequência de ocupação de territórios/ninhos). Assim, por oposição, todas as variáveis explica-

tivas que não constam das Componentes não serão significativas em termos do seu efeito sobre a

probabilidade de seleção de territórios por britango na área em estudo. São exemplos desta situação

as variáveis de declive da encosta (“DECLIVE”), as linhas elétricas (de ambas as topologias de ten-

são, inferior ou superior a 60Kv, “LINF60” e “LSUP60”), a intensidade de tráfego fluvial (“TFGFLUVI-

AL”), as áreas florestadas (“FLORESTA”), entre outras (Quadro 9).

35

Quadro 9 | Composição dos componentes do MQP do modelo reduzido para a probabilidade de ocupação do

território. Os números representam o peso de cada variável na composição do componente. A soma dos pesos (quadrados) de todas as variáveis é igual a 1. São representadas a negrito as variáveis com mais peso para cada

componente.

MODELO REDUZIDO

Variável occu_comp_1 occu_comp_2 occu_comp_3

ALTITUDE 0.028 0.118 0.174

EXPO_NS 0.000 0.000 0.000

EXPO_EW -0.174 -0.278 -0.299

DECLIVE -0.088 -0.233 -0.163

sqtCAMINHO 0.313 0.181 0.244

sqtESTRADA 0.335 0.079 0.101

sqtLINF60 0.000 0.000 0.000

sqtLSUP60 0.212 -0.182 -0.204

logPOP_HUMA 0.095 -0.143 -0.540

LOCALID -0.257 -0.087 -0.045

TFGFLUVIAL 0.210 -0.103 -0.235

PERTURISMO 0.134 0.113 -0.148

AGRIPERM 0.263 0.220 0.236

FLORESTA 0.053 0.067 0.224

HERBACEA 0.103 -0.162 0.003

AFLROCH -0.042 -0.022 -0.037

logFOGO 0.160 0.112 0.131

sqtVENENO -0.006 0.189 0.084

logCOEL 0.048 0.231 0.241

logJAVA 0.066 0.035 0.208

logPERD -0.131 0.070 -0.064

logLEBR 0.000 0.196 0.094

logPOMB 0.029 -0.146 -0.326

logOVICA -0.038 -0.111 -0.233

logBOVI 0.000 0.000 0.000

sqtABUT 0.274 0.397 0.217

sqtOUTRAS -0.145 -0.243 -0.128

sqtKER_ABUT -0.125 -0.055 0.371

sqtKER_OUTR 0.079 0.262 0.241

sqtCBRITA 0.272 0.325 0.156

CAAN -0.235 0.017 -0.139

AGRIPERM.logFOGO 0.213 0.202 0.260

FLORESTA.logFOGO 0.000 0.000 0.000

HERBACEA.logFOGO 0.131 -0.210 0.132

AFLROCH.logFOGO 0.105 0.312 0.211

logCOEL.CAAN 0.000 0.000 0.000

logJAVA.CAAN 0.225 0.023 -0.082

logPERD.CAAN 0.195 -0.044 0.044

logLEBR.CAAN 0.003 -0.129 0.046

logPOMB.CAAN 0.000 0.000 0.000

logOVICA.CAAN 0.140 0.160 0.444

36| Relatório da Ação A1. Recenseamento de aves e Estudo de Avaliação de vulnerabilidade à perturbação Action A1. Census of nests and evaluation of their vulnerability to disturbance

MODELO REDUZIDO

Variável occu_comp_1 occu_comp_2 occu_comp_3

logBOVI.CAAN 0.000 0.000 0.000

sqtABUT.CAAN 0.051 -0.101 0.073

sqtOUTRAS.CAAN 0.000 0.000 0.000

sqtKER_ABUT.CAAN 0.000 0.000 0.000

sqtKER_OUTR.CAAN 0.000 0.000 0.000

sqtCBRITA.CAAN 0.033 -0.284 -0.442

Os resultados do MLG composto pelas 3 Componentes MQP, ou seja, o modelo final, são resumidos

no Quadro 10. Verifica-se a existência de uma evidência substancial de um efeito positivo de todos os

componentes na variável resposta (ocupação do território), ou seja, à medida que a representativida-

de da Componente aumenta, também aumenta a probabilidade de ocorrência de ocupação de territó-

rio/ninho, embora o poder explicativo do modelo seja relativamente fraco (apenas 17% da desviância).

Da análise ao quadro, observa-se ainda que o efeito do primeiro componente é mais importante do

que os restantes.

Quadro 10 | Resumo do modelo MLG de ocupação do território. Os coeficientes são expressos na escala logit.

Coeficiente Estimativa erro-padrão z-value p-value

(Intercept) -0.306 0.069 -4.433 <0.001

occu_comp1 0.360 0.048 7.514 <0.001

occu_comp2 0.226 0.052 4.321 <0.001

occu_comp3 0.128 0.042 3.053 0.002

Desviância nula: 506.76 em 188 graus de liberdade

Desviância residual: 420.21 em 185 graus de liberdade

AIC: 692.15

4.2.1.2 Interpretação e discussão dos resultados

Deverá ter-se alguma cautela na interpretação dos resultados do modelo, sendo necessário ter em

conta a proporção de variabilidade que é explicada, uma vez que apenas 15-20% da variação na

ocupação do território é explicada pelo modelo. Esta situação não constitui uma surpresa, sendo ex-

pectável que os modelos tivessem um poder explicativo relativamente baixo devido ao detalhe fino da

análise que se pretende efetuar.

Com base no modelo final obtido para a ocupação de territórios por britango é de salientar, em primei-

ro lugar, a existência de uma relação positiva entre a probabilidade de ocupação de territórios/ninhos

e as zonas com uma boa rede de caminhos agrícolas, relativamente próximas a pequenas povoa-

ções, como evidenciado pelo peso destas variáveis nas explicativas em todas as Componentes

(Quadro 9). Esta associação positiva poderá estar mais relacionada com uma melhor acessibilidade

dos observadores no terreno a este tipo de locais, e não tando uma seleção positiva destes locais em

particular, pela espécie em estudo (ver ponto i na raiz do Subcapítulo 4.2). Para além da acessibilida-

de, que condiciona a detetabilidade, na área em estudo uma boa proporção de caminhos agrícolas

localiza-se adjacente dos rios, em particular do rio Douro internacional e conduzem, em parte, às bar-

37

ragens que se localizam no canhão do rio, em zonas fortemente escarpadas. Para além desta situa-

ção, outra hipótese que ajude a explicar este resultado poderá relacionar-se com as pequenas povoa-

ções localizadas na envolvente das arribas, onde a atividade rural, em particular as atividades agrosil-

vopastoris possa representar uma vantagem em termos da ocupação de ninhos/territórios, por pro-

porcionar alguma disponibilidade alimentar, parâmetro que se relevou um fator de peso, como expos-

to nos parágrafos abaixo.

Não obstante, é de notar que apesar de se localizarem em zonas próximas de povoações, os locais

mais frequentemente favorecidos pela espécie ocorrem geralmente em zonas de baixa densidade

populacional humana, variável que parece ser sistematicamente selecionada, com um peso importan-

te em, pelo menos, duas componentes. Este resultado sugere alguma sensibilidade à perturbação

humana, pelo que o britango tenderá a evitar zonas de maior densidade populacional ao selecionar os

territórios/ninhos a ocupar, o que se encontra de acordo com estudos direcinados à espécie em Es-

panha (e.g. Mateo-Tomás & Olea, 2009).

No que diz respeito à competição inter- e intraespecífica, os resultados obtidos evidenciam que estas

são variáveis relevantes, que podem condicionar os locais mais selecionados para ocupação pela

espécie. Os territórios/ninhos mais afastados de outras espécies de aves exclusivamente necrófagas

– que na área de estudo são maioritariamente representadas pela população de grifos - tendem a ser

mais frequentemente favorecidos para ocupação por britango. Por outro lado, o britango não parece

evitar a presença de outras espécies de aves rúpiclas, uma vez que que áreas próximas de territórios

de destas espécies tem maior probabilidade de uso pelo britango. Este resultado poderá indicar que a

espécie-alvo poderá sofrer uma maior competição interespecífica com outras espécies de aves necró-

fagas e tende a estabelecer os seus territórios/ninhos a uma maior distância das colónias de abutres.

Em termos de competição intraespecífica, o comportamento dos britangos relativamente à presença

de outros territórios da mesma espécie parece ser semelhante ao verificado para outras espécies de

abutres. Assim, o britango tende a ocupar mais frequentemente territórios que estejam mais isolados

de casais da mesma espécie. Ressalva-se que, se vários locais de nidificação muito próximos entre si

forem ocupados pelo mesmo casal em anos sucessivos, a taxa de utilização individual será mais bai-

xa, enquanto o território poderá ter efetivamente um padrão de ocupação normal.

Em todo o caso, em termos da potencial competição com outras espécies de abutres, os resultados

evidenciam que a disponibilidade alimentar, nomeadamente, a atividade pastoril de pequenos rumi-

nantes (gado ovino e caprino) e a presença de pontos de alimentação artificiais de aves necrófagas,

atenua esta situação, o que também é verificado em termos do afastamento entre casais de britango.

Este resultado sugere que a disponibilidade de recursos poderá constituir um fator determinante nos

locais favorecidos para ocupação pela espécie-alvo do estudo, havendo propensão para uma maior

tolerância territorial quando as condições ecológicas alimentares são mais favoráveis. De facto, este

resultado vai de encontro a outros estudos que apontam a disponibilidade alimentar como um dos

fatores determinantes no uso do espaço por britango (e.g. López-López et al., 2014) e que a presença

de britango surja também associada a atividade agropastoril, em particular de gado ovino (Mateo-

Tomás & Olea, 2009). Salienta-se ainda que, segundo um estudo de Mateo-Tomás & Olea (2015), os

autores apontam para que o uso do solo tenha um papel crucial na determinação da distribuição de

britango e que a existência de densidades favoráveis de gado caprino e ovino constitua um bom indi-

cador da adequabilidade de habitat para o britango, referindo que o abandono destas atividades po-

derá ter um efeito negativo na distribuição da espécie. De facto, a degradação na qualidade do habitat

38| Relatório da Ação A1. Recenseamento de aves e Estudo de Avaliação de vulnerabilidade à perturbação Action A1. Census of nests and evaluation of their vulnerability to disturbance

e da disponibilidade alimentar correspondem a fatores associados ao abandono de territórios por bri-

tango (Carrete et al, 2007).

Os resultados obtidos para o modelo final sugerem ainda que áreas com uso do solo dominadas por

agricultura permanente tendem a ser preferencialmente selecionadas face a outros tipos de coberto

de vegetação (e.g. áreas florestais), situação que é particularmente evidente em áreas recentemente

ardidas. Como hipótese, é possível que este resultado se encontre também relacionado com a ativi-

dade agropastoril, uma vez que as áreas ardidas em regeneração tendem a ser utilizadas para o pas-

toreio, pela quantidade de matéria verde jovem disponível para o gado.

No que concerne às características dos locais de ocupação quanto à orografia do terreno, os territó-

rios com uma orientação predominante de oeste são favorecidos pelo britango, não tendo sido identi-

ficada qualquer distinção entre locais de orientação norte-sul.

Por fim, é de referir que, entre as variáveis explicativas estudadas com o intuito de avaliar o seu efeito

de perturbação, apenas a densidade populacional humana parece ser relevante na seleção de territó-

rios/ninhos por britango, como referido anteriormente. Não foi registado um peso significativo das

variáveis relacionadas com outras infraestruturas humanas, como as estradas asfaltadas, linhas elé-

tricas ou a potencial perturbação causada pelo turismo ou pelo tráfego fluvial (no caso do rio Douro

internacional). Desta forma, estes fatores não serão condicionantes para o favorecimento de certos

locais, em detrimento de outros, para ocupação de territórios/ninhos pelo britango. Da revisão biblio-

gráfica efetuada para estudos sobre a espécie, estes tipos de variáveis não são geralmente identifica-

dos como determinantes, pelo menos no que concerne aos principais fatores que influenciam o esta-

belecimento de territórios.

4.2.2 Modelação do sucesso reprodutor de britango

4.2.2.1 Resultados da análise multivariada

Do universo amostral considerado, apenas 159 territórios/ninhos tiveram a sua ocupação confirmada

pelo menos uma vez entre 2012 e 2016 (dos quais 76 tiveram sucesso reprodutor pelo menos uma

vez) e, portanto, foram estes os territórios/ninhos utilizados para modelar o sucesso reprodutivo de

britango na área de estudo.

A análise de modelação para o sucesso reprodutivo de britango resultou num modelo final também

composto por 3 Componentes. Essas Componentes, são compostas por sua vez, por várias variáveis

explicativas, que se relacionam de diferentes formas entre si. Cada componente exerce determinada

influência (efeito positivo ou negativo) sobre a variável resposta.

No Quadro 11 é representada a composição das Componentes que constam no modelo obtido para o

sucesso reprodutor. Através da interpretação do quadro, descreve-se em seguida a forma em como

cada unidade de paisagem (variável explicativa) se insere na Componente MQP e qual o seu papel.

Seguindo a mesma estrutura do modelo de ocupação, nesta fase não se pretende descrever de que

forma os componentes impactam a variável resposta, mas sim expor a forma como as variáveis que

constituem os diferentes componentes se relacionam entre si.

• Componente 1 (“succ_comp1”), diferencia áreas de maior incidência de tráfego fluvial e de

menor altitude, que são dominadas por biótopos de vegetação herbácea natural. A abundân-

cia de grandes ruminantes (gado bovino) surge inversamente associada a esta componente,

ou seja, a atividade agrosilvopastoril de gado bovino é menor, tendência que também se veri-

39

fica para a abundância de perdiz-vermelha e de lebre (dados de atividade cinegética). Verifi-

ca-se a interação entre estas referidas três variáveis e a variável campos de alimentação de

abutres, sendo que a presença desta última compensa, ou atenua, o efeito negativo das ante-

riores;

• Componente 2 (“succ_comp2”), compõe-se por áreas relativamente próximas a povoações

numa orientação a Este, com baixa densidade de estradas e de linhas elétricas (de tensão in-

ferior a 60kV) e com maior intensidade de tráfego fluvial. Estas áreas têm menores densida-

des de outras espécies de abutres (representados pelos grifos e abutre-preto), embora este-

jam próximas de locais de nidificação de outras espécies de aves rupícolas e outros britan-

gos, em particular quando há presença de campos de alimentação de aves necrófagas;

• Componente 3 (“succ_comp3”), corresponde a áreas com abundante disponibilidade de aflo-

ramentos rochosos com orientação a Este, neste caso com menor representatividade de trá-

fego fluvial, fade às componentes anteriores, e com alguma densidade de linhas elétricas de

maior tensão (superior a 60kV). Estas zonas estão relativamente longe de locais de nidifica-

ção de outras espécies de aves rupícolas.

Mais uma vez, salienta-se que, as variáveis explicativas que não constam das Componentes não

foram consideradas significativas em termos do seu efeito sobre o sucesso reprodutor de britango na

área em estudo. São exemplos desta situação as variáveis de declive da encosta (“DECLIVE”), os

caminhos agrícolas (“CAMINHO”), a intensidade de perturbação por atividades de turismo (“PERTU-

RISMO”), as áreas ardidas (“FOGO”), entre outras (Quadro 11). Note-se ainda que a variável campos

de alimentação de aves necrófagas (“CAAN”) só por si, não surge com um peso relevante nas Com-

ponentes, mas sim em termos da sua interação com outras variáveis explicativas (representados no

quadro como, por exemplo, “PERD.CAAN”), conforme descrito na listagem anterior.

Quadro 11 | Composição dos componentes do MQP do modelo reduzido para o sucesso reprodutivo. Os núme-

ros representam o peso de cada variável na composição do componente. A soma dos pesos (quadrados) de todas as variáveis é igual a 1. São representadas a negrito as variáveis com mais peso para cada Componente.

MODELO REDUZIDO

Variável succ_comp1 succ_comp2 succ_comp3

ALTITUDE -0.219 -0.183 -0.049

EXPO_NS 0.048 0.151 0.120

EXPO_EW 0.144 0.453 0.593

DECLIVE 0.034 -0.047 -0.007

sqtCAMINHO 0.067 -0.061 -0.030

sqtESTRADA -0.127 -0.355 -0.134

sqtLINF60 -0.044 -0.206 0.084

sqtLSUP60 0.101 0.031 0.204

logPOP_HUMA 0.000 0.000 0.000

LOCALID -0.098 -0.203 -0.170

TFGFLUVIAL 0.282 0.250 -0.248

PERTURISMO 0.038 0.185 -0.130

AGRIPERM 0.074 -0.068 0.131

FLORESTA 0.096 -0.338 -0.076

HERBACEA 0.273 -0.050 0.138

AFLROCH -0.322 0.033 0.423

logFOGO 0.152 0.090 0.070

sqtVENENO 0.000 0.000 0.000

40| Relatório da Ação A1. Recenseamento de aves e Estudo de Avaliação de vulnerabilidade à perturbação Action A1. Census of nests and evaluation of their vulnerability to disturbance

MODELO REDUZIDO

Variável succ_comp1 succ_comp2 succ_comp3

logCOEL 0.000 0.000 0.000

logJAVA 0.104 0.062 0.033

logPERD -0.270 -0.045 -0.175

logLEBR -0.260 0.099 0.181

logPOMB -0.190 0.011 -0.038

logOVICA 0.000 0.000 0.000

logBOVI -0.234 0.069 0.024

sqtABUT -0.021 0.225 0.195

sqtOUTRAS -0.089 -0.164 0.090

sqtKER_ABUT -0.054 -0.201 -0.020

sqtKER_OUTR 0.070 0.231 -0.301

sqtCBRITA -0.115 -0.204 -0.156

CAAN -0.130 -0.061 -0.054

AGRIPERM.logFOGO 0.010 -0.004 0.090

FLORESTA.logFOGO 0.000 0.000 0.000

HERBACEA.logFOGO 0.170 0.030 0.074

AFLROCH.logFOGO -0.065 -0.191 -0.260

logCOEL.CAAN 0.000 0.000 0.000

logJAVA.CAAN 0.019 0.027 0.058

logPERD.CAAN 0.222 -0.029 0.084

logLEBR.CAAN 0.281 0.102 0.218

logPOMB.CAAN 0.351 0.162 0.119

logOVICA.CAAN 0.000 0.000 0.000

logBOVI.CAAN 0.000 0.000 0.000

sqtABUT.CAAN 0.000 0.000 0.000

sqtOUTRAS.CAAN 0.090 0.119 0.022

sqtKER_ABUT.CAAN -0.019 0.107 0.003

sqtKER_OUTR.CAAN 0.022 0.079 0.154

sqtCBRITA.CAAN -0.082 -0.283 -0.101

Os resultados do modelo final, que inclui as três Componentes MQP descritas anteriormente, são

resumidos no Quadro 12. Através da sua análise é possível verificar qual a influência que cada uma

das Componentes exerce sobre o sucesso reprodutivo de britango na área em estudo, verificando-se

que todas as componentes exercem um efeito positivo significativo sobre a variável resposta, ou seja,

à medida que a representatividade da Componente aumenta, também aumenta a probabilidade de

ocorrência de sucesso reprodutor. O modelo de sucesso reprodutivo tem uma melhor qualidade do

ajustamento do que o modelo de ocupação do território/ninho, explicando 32,8% da desviância.

Quadro 12 | Resumo do modelo de sucesso reprodutivo. Os coeficientes são expressos na escala logit.

Coeficiente Estimativa erro-padrão z-value p-value

(Intercept) -1.189 0.138 -8.641 < 0.001

succ_comp1 0.486 0.074 6.589 < 0.001

succ_comp2 0.409 0.092 4.452 <0.001

succ_comp3 0.310 0.112 2.773 0.006

Desviância nula: 232.48 em 158 graus de liberdade

Desviância residual: 156.18 em 155 graus de liberdade

41

AIC: 261.77

Desviância explicada: 32.8%

4.2.2.2 Interpretação e discussão dos resultados

As mesmas ressalvas apontadas para o modelo de ocupação do território deverão ser aplicadas ao

modelo do sucesso reprodutivo. A deteção de crias e/ou juvenis recentemente voadores é muitas

vezes dificultada pela falta de acessibilidade e/ou de boas condições de visibilidade. Ao mesmo tem-

po, o poder explicativo do modelo é de cerca de 33%, o que deixa parte da variabilidade inexplicada,

o que não é incomum nos estudos ecológicos (ver também os pressupostos apontados no ponto iv,

na raiz do Subcapítulo 4.2).

Os resultados para a modelação do sucesso reprodutor na área revelam que zonas de altitude menos

elevada e com uma orientação a Este na área em estudo favorecem o sucesso reprodutor de britan-

go. Da mesma forma, a presença de afloramentos rochosos que providenciam bons locais para esta-

belecimento de ninhos tem também um peso relevante, situação que seria esperada, dados os requi-

sitos ecológicos desta ave rupícola. No que respeita à altitude, o resultado encontra-se de acordo com

um estudo em Espanha (Mateo-Tomás & Olea, 2009), que aponta como preferenciais locais de nidifi-

cação situados na base de grandes escarpas rochosas. Em termos da orientação da escarpa, uma

maior probabilidade de ocorrência de sucesso reprodutor associada à orientação a Este poderá rela-

cionar-se com a exposição solar e com as condições de temperatura proporcionadas ao longo do dia,

com maior incidência de sol da parte da manhã, o que permitindo uma termorregulação dos ninhos

mais favorável às crias, em particular quando os dias começam a ficar mais quentes, evitando assim a

exposição solar direta nas horas de maior calor.

Os resultados da análise indicam que áreas com maior intensidade de tráfego fluvial coincidem com

as áreas onde há maior probabilidade de ocorrência de sucesso reprodutor. Salienta-se que a análise

para a ocupação de territórios/ninhos não identificou esta como uma variável relevante (positiva ou

negativa) no favorecimento de locais. No caso do sucesso reprodutor, o resultado obtido não era es-

perado, sendo improvável que haja uma dependência com zonas de maior intensidade de tráfego

fluvial. Contudo, uma hipótese que possa explicar este resultado, prende-se com o facto destes locais

onde os percursos de barcos turísticos são mais intensos correspondem em geral a zonas de tráfego

entre barragens, que se distribuem entre algumas das zonas mais escarpadas do canhão do rio Dou-

ro, que como visto no parágrafo anterior, são favorecidas em termos do sucesso reprodutor. A variá-

vel de intensidade de tráfego fluvial, assim como a perturbação por turismo (a qual não se revelou

significativa na análise) foram estudadas com base na hipótese de que a perturbação exercida sobre

a espécie poderia ter um efeito negativo no seu sucesso reprodutor, atendendo a que a perturbação

humana surge como um dos fatores que influenciam a reprodução de britango (Zuberogoitia et al.,

2014). No caso do presente estudo, a hipótese de que o tráfego fluvial causará a um potencial efeito

negativo sobre a reprodução da espécie não se confirma, pelo menos nos moldes atualmente pratica-

dos. É possível que a suscetibilidade à perturbação humana seja maior quando a mesma ocorre mui-

to próxima dos locais de nidificação e não tanto em zonas mais afastadas, como a passagem de bar-

cos no rio Douro, contudo, seria necessário dados mais detalhados, associados aos eventos de per-

turbação localizada junto dos ninhos para que se pudesse realizar uma análise mais robusta.

42| Relatório da Ação A1. Recenseamento de aves e Estudo de Avaliação de vulnerabilidade à perturbação Action A1. Census of nests and evaluation of their vulnerability to disturbance

Em termos de outras infraestruturas ou presença humana, os resultados da análise de modelação

indicam que os territórios/ninhos ocupados perto de povoações, mas com baixa densidade de estra-

das asfaltadas e de linhas de baixa a média tensão terão maior probabilidade de sucesso reprodutor.

Tal como verificado para o estudo da ocupação de territórios/ninhos, esta situação poderá estar rela-

cionada com uma associação a povoações, mas onde a rede de infraestruturas seja pouco represen-

tativa, como reflexo de uma baixa densidade populacional humana (embora esta última variável não

tenha um peso relevante em termos do efeito no sucesso reprodutor, poderá estar indiretamente rela-

cionada). No que respeita às linhas de maior tensão (alta a muito alta), esta variável surge em apenas

uma das Componentes, dando ainda como favorecidos para sucesso reprodutivo, os casais que nidi-

fiquem em zonas de maior proximidade às linhas. De notar que, tal como discutido para o tráfego

fluvial, não é provável que o britango favoreça zonas de maior proximidade às linhas, mas que estes

locais coincidam com zonas onde outras características de habitat sejam favoráveis ao sucesso re-

produtivo da espécie. Neste aspeto, refere-se mais uma vez a presença das barragens que se situam

no canhão do rio Douro internacional, por vezes coincidentes com as zonas mais profundas e com

elevada disponibilidade de escarpas para nidificação. Estas infraestruturas de aproveitamento hidroe-

létrico correspondem a locais de término/início de uma quantidade considerável de linhas de muito

alta tensão, na área em estudo. Não obstante, em termos do potencial efeito de perturbação, este

resultado indica que não haverá um efeito negativo da presença destas linhas sobre o sucesso repro-

dutor de britango. Efetivamente, é conhecido o impacte potencial negativo destas infraestruturas so-

bre o britango devido à mortalidade, sendo esta uma espécie considerada como sensível à colisão

com linhas elétricas (risco de colisão intermédio) em Portugal (ICNB, 2010), contudo, para este estu-

do em particular, não são conhecidos dados de mortalidade da espécie nas linhas que intercetam a

área de estudo que pudessem ser cruzados em análise. Desta forma, caso na área em estudo as

linhas elétricas tenham um impacto negativo devido à mortalidade por colisão com a espécie, esta

situação não se reflete na probabilidade de sucesso reprodutor nos ninhos ocupados na envolvente

às mesmas.

Os resultados obtidos para o modelo final indicam ainda que, em termos das variáveis ecológicas que

podem influenciar o sucesso reprodutor, não parece existir uma clara preferência por determinados

usos do solo ou de presas específicas. Quanto muito, a probabilidade de existência de sucesso re-

produtor será favorecida em áreas onde a atividade cinegética é menor, resultando de menores quo-

tas de abate de perdiz e de lebre. Não obstante, este efeito desaparece quando em maior proximida-

de de campos de alimentação de aves necrófagas. Embora alguns estudos apontem a disponibilidade

alimentar como um dos fatores preponderantes que na performance reprodutiva de britango (e.g.

Margalida et al. 2012; Mateo-Tomas & Olea, 2009), este padrão não é claro, havendo autores que

sugerem que a disponibilidade alimentar não esteja tanto relacionada com a produtividade, mas prin-

cipalmente com a seleção e ocupação de territórios por britango (Dobrev et al., 2015), o que poderá

ser o caso do presente estudo.

No que diz respeito à potencial competição inter- e intraespecífica, o modelo final aponta ainda para

que a existência de sucesso reprodutor de britango seja provavelmente condicionada pela presença

de outras espécies de abutres (na sua maioria representados pela população de grifos), na área de

estudo, havendo maior sucesso reprodutor em locais mais afastados das colónias, o que acaba por

estar em concordância com o verificado para o modelo de ocupação de ninhos/territórios. Esta situa-

ção não se verificou em termos da competição de casais de britango, não se evidenciando resultados

que sugiram a competição intraespecífica influencie negativamente o sucesso reprodutivo.

43

Por fim, considera-se que os resultados da analise de modelação permitiram retirar menos elações do

que os resultados para as análises de ocupação de territórios/ninhos. É possível que as variáveis

explicativas estudadas tenham efetivamente um papel mais ativo no favorecimento de locais a serem

ocupados pela espécie. No caso do sucesso reprodutivo, os resultados parecem apontar sistemati-

camente a significância de variáveis explicativas que acabam por se relacionar indiretamente com a

sua localização adjacente às escarpas. Desta forma, é possível que outros fatores não abrangidos por

este estudo, que exigiriam uma análise a microescala ou com outras variáveis, possam estar a contri-

buir para a probabilidade de ocorrência de sucesso reprodutor de britango na área de estudo. Por

exemplo, as condições atmosféricas são apontadas como um fator relevante, havendo um efeito ne-

gativo da precipitação durante a época de reprodução, em particular nos primeiros dias de vida das

crias (Zuberogoitia et al., 2014), e possivelmente também as condições de humidade, temperatura e

outras relacionadas com o ninho propriamente dito, para além da potencial mortalidade de adultos,

como já referido anteriormente. Desta forma, será interessante efetuar mais estudos que permitam a

medição de outras variáveis que possam contribuir para explicar o sucesso reprodutivo na área do

Projeto.

4.2.3 Construção de Cartografia com base nos modelos de ocupação e suces-

so reprodutor

Os resultados do mapeamento da predição dos modelos para a probabilidade de ocupação e probabi-

lidade de sucesso reprodutor, bem como a carta de risco (mapeamento da probabilidade a espécie

não se reproduza com sucesso no território), apresentam-se na Figura 11, Figura 12 e Figura 13,

respetivamente.

Desta forma, os resultados sugerem que a probabilidade de ocupação de territórios será maior na

envolvente às zonas sul, de Aldeadávila, Saucelhe até Poiares e Águeda Internacional, assim como

uma mais a Norte e em zona espanhola, coincidente com Castro e Villalcampo. Nos cursos de água e

zonas escarpadas situadas exclusivamente em Espanha, a cartografia obtida indica que, aí, a proba-

bilidade de ocupação de territórios/ninhos será consideravelmente menor, pelo menos dadas as con-

dições ecológicas atuais. É de notar que, como referido na metodologia, para algumas variáveis expli-

cativas não foram obtidos dados para Espanha, tendo-se utilizado para a cartografia os dados trans-

fronteiriços mais próximos, por interpolação. É o caso da densidade populacional humana, por exem-

plo, pelo que as predições para Espanha devem ser consideradas com alguma cautela. Não obstante,

por exemplo comparando com os resultados obtidos para a confirmação de territórios em 2016 (tarefa

A1.I - Figura 2 e Figura 3), os resultados acabam por estar em concordância. Assim, no centro da

área de estudo, sectores como Picote, Tormes e Águeda Nacional surgem na Figura 11 como locais

com menor probabilidade de virem a ser favorecidos para ocupação por britango.

A interpretação pode ser feita para a cartografia da probabilidade de ocorrência de sucesso reprodu-

tor na área em estudo, Figura 12. De forma genérica, os locais com maior probabilidade são coinci-

dentes com os locais para ocupação de territórios, evidenciando uma maior probabilidade de sucesso

reprodutivo na metade sul da área de estudo. Ressalva-se, contudo, que como discutido para os re-

sultados da análise de modelação, outros fatores não avaliados neste estudo poderão influenciar o

sucesso reprodutor de britango.

44| Relatório da Ação A1. Recenseamento de aves e Estudo de Avaliação de vulnerabilidade à perturbação Action A1. Census of nests and evaluation of their vulnerability to disturbance

Por fim, da análise à carta de risco na Figura 13, que se traduz na probabilidade de não haver suces-

so reprodutivo num território/ninho, a sua representação surge como o inverso da conjugação das

probabilidades das Figuras 11 e 12. Desta forma, haverá menor risco de que a espécie não se repro-

duza na zona do rio Douro internacional, do que, por exemplo, em algumas das zonas exclusivamente

em Espanha. De notar que, uma vez que não foram encontrados resultados significativos para fatores

de perturbação, que tenham comprovadamente efeitos negativos sobre a espécie, esta designada

carta de “risco”, traduz essencialmente os locais onde as restantes condições ecológicas (dados os

fatores que se verificaram relevantes) não serão tão favoráveis à espécie – resultando num “risco”

maior.

45

Figura 11 | Mapeamento da probabilidade de ocupação de territórios por britango na área em estudo, tendo em

conta os resultados da análise de modelação realizada para esta variável.

46| Relatório da Ação A1. Recenseamento de aves e Estudo de Avaliação de vulnerabilidade à perturbação Action A1. Census of nests and evaluation of their vulnerability to disturbance

Figura 12 | Mapeamento da probabilidade de ocorrência de sucesso reprodutor na área em estudo, tendo em

conta os resultados da análise de modelação realizada para esta variável.

47

Figura 13 | Carta de risco construída para população de britango na área em estudo, como reflexo da probabili-

dade de que não haja sucesso reprodutor no território.

48| Relatório da Ação A1. Recenseamento de aves e Estudo de Avaliação de vulnerabilidade à perturbação Action A1. Census of nests and evaluation of their vulnerability to disturbance

4.3 Implicações para a conservação da espécie-alvo Os resultados obtidos para a tarefa A1.III permitem tirar algumas elações no que respeita aos fatores

ambientais que se revelaram mais relevantes para a ocupação de territórios/ninhos e ao sucesso

reprodutivo, através da conjugação destes parâmetros para favorecimento a população nidificante de

britango na área de estudo.

Os resultados obtidos permitiram comprovar que a disponibilidade alimentar constitui um dos fatores

que influenciam de forma significativa a ocupação de locais e que as exigências territoriais face a

outras espécies de abutres serão menores quando os recursos tróficos ocorram em maior abundân-

cia. Desta forma, na área de estudo as ações de conservação a implementar deverão focar na melho-

ria destas condições para a espécie. Deverá promover-se o pastoreio extensivo, recorrendo a reba-

nhos de gado ovino e caprino, contrariando uma tendência de abandono destas atividades agropasto-

ris que se tem vindo a verificar nos últimos anos. A disponibilidade alimentar proporcionada pelos

campos de alimentação de aves necrófagas (pontos de alimentação artificiais) constitui, sem dúvida

uma mais valia para o britango na área em estudo. É de notar que, à data do presente estudo apenas

se encontram ativos campos de alimentação suplementares em Espanha, não havendo estruturas

ativas em Portugal. Desta forma, será relevante retomar a disponibilização alimentar em pontos su-

plementares em Portugal, bem como aumentar a rede de pontos com esta finalidade.

Estas ações de conservação poderão ser implementadas com as zonas identificadas em cartografia

como tendo maior “risco” de insucesso, desde que outras características de habitat sejam favoráveis.

De notar que alguns dos fatores identificados como relevantes para a espécie, como a orientação e a

disponibilidade de escarpas rochosas não são geríveis do ponto de vista de medidas de conservação,

pelo que eventuais medidas a implementar deverão ter em conta estas condicionantes. Da mesma

forma, a implementação de ações de conservação em zonas relativamente próximas de pequenas

povoações não será um problema, desde que a densidade populacional humana seja baixa.

Ao nível da conservação da espécie, é de referir que nas análises efetuadas à população nidificante

de britango, em nenhuma das situações se verificou a variável de casos de envenenamento como

significativa na área em estudo. Não obstante, a morte por envenenamento tem vindo a ser identifica-

da em estudos sucessivos como uma das principais causas de mortalidade de britango e do decrés-

cimo das suas populações na Europa (Donazár et al., 2002; Hernández & Margalida, 2009 Grubac et

al., 2014). No presente estudo, é possível que a estrutura da variável disponível (traduzida num índi-

ce) possa não ter sido a mais adequada, sendo desejável a disponibilidade das contagens, localiza-

ções e dados concretos de casos de envenenamento, para que se pudesse realizar uma análise mais

robusta e despistar ou confirmar a relevância deste fator na área de atuação do Projeto Rupis LIFE.

49

5| A1.IV – Descrição de Protocolo Metodológico para Monitorização da população de Britango

A Ação A1.IV visou o desenvolvimento de um Protocolo Metodológico para monitorização da popula-

ção reprodutora de britango que ocorre na área de atuação do projeto LIFE RUPIS, numa base anual,

tendo em vista um horizonte temporal de 10 anos. Nos subcapítulos seguintes é descrito o procedi-

mento metodológico adotado para consecução dos objetivos propostos, assim como os resultados

obtidos (incluindo a sua discussão).

5.1 Âmbito e objetivos

O presente Capítulo constitui o Protocolo Metodológico para Monitorização da População de Britango

(Neophron percnopterus). O Protocolo, em seguida descrito, foi delineado para o horizonte de 2019-

2029, constituindo um modelo metodológico de implementação numa base anual.

Este Protocolo de monitorização (PM) tem como objetivo geral acompanhar a evolução da tendência

demográfica da população de britango que ocorre na zona nordeste de Portugal/noroeste-oeste de

Espanha, mais especificamente na área de atuação do LIFE RUPIS. O mesmo foi delineado com

vista a que a informação recolhida seja comparável ao longo do tempo, incluído com os dados obtidos

no estabelecimento de situação de referência do projeto em 2016 (Ação 1 - Recenseamento de aves

e Estudo de Avaliação de vulnerabilidade à perturbação). Tem como objetivos específicos:

• Identificar oscilações no número de efetivos (abundância) que constituem a população de bri-

tango na área em estudo – casais presentes;

• Avaliar eventuais flutuações nos padrões de ocorrência e dinâmica espacial da população de

britango na área em estudo;

• Avaliar o sucesso reprodutor da população de britango que ocorre na área de estudo, bem

como a existência de alterações nos padrões de distribuição espacial de ocorrência do referi-

do sucesso;

• Avaliar se as Ações de conservação implementadas no âmbito do projeto LIFE RUPIS têm

efeitos (médio prazo) sobre a população de britango, ao nível da ocupação de territórios e do

seu sucesso reprodutor na área de estudo;

No presente PM é apresentada a metodologia e o plano de trabalhos de monitorização delineados

para o efeito.

5.2 Parâmetros a monitorizar

Para estudo da tendência demográfica da população de britango serão avaliados, anualmente, os

seguintes parâmetros:

• Abundância de territórios ocupados/casais presentes;

50| Relatório da Ação A1. Recenseamento de aves e Estudo de Avaliação de vulnerabilidade à perturbação Action A1. Census of nests and evaluation of their vulnerability to disturbance

• Abundância de casais nidificantes;

• Êxito reprodutor;

• Produtividade média;

• Taxa de voo média.

5.3 Locais e frequência de amostragem

A monitorização da população reprodutora de britango terá por base uma subamostragem dos locais

de amostragem considerados para a área de atuação do Projeto Rupis LIFE em 2016, de forma a que

a avaliação da situação populacional da espécie seja comparável a médio-longo prazo. Assim, a

amostragem da espécie será realizada num número representativo de locais nas áreas coincidentes

com o Douro Internacional PN-SIC-ZPE do Douro Internacional e PN-LIC-ZEPA Arribes del Duero,

prevendo-se a sua estratificação pelos sectores de amostragem, de forma a facilitar posteriores análi-

ses de dados recolhidos, bem como o estudo de distribuição da espécie.

Contudo, deve ser tido em consideração que sendo esta uma avaliação que se pretende a médio-

longo prazo, a escolha do número de locais a amostrar deve permitir a identificação de flutuações nas

tendências demográficas da espécie. No ano de 2016 foram controlados 69 casais de britango, tendo

sido verificado um sucesso reprodutivo da espécie na área de estudo de 68%, com um intervalo de

confiança de 9,2%. A sub-amostragem dos locais de reprodução deverá, assim, ter em consideração

que o número escolhido deverá permitir estimar de forma comparável o sucesso reprodutivo no hori-

zonte temporal 2019-2029 com uma margem de erro aceitável estatisticamente. A Figura 14 demons-

tra o efeito do tamanho da amostra na margem de erro associada à estimativa do sucesso reproduti-

vo, ilustrando especificamente os cenários de amostragem de 30, 45 ou 60 casais. Para estes cená-

rios afiguram-se respetivamente margens de erro de 14%, 11.4% e 9.9%, produzindo os seguintes

intervalos de confiança de 95%: [54; 82], [56.6; 79.4] e [58.1; 77.9], para um sucesso reprodutivo de

68%. Para os mesmos tamanhos de amostra, mas com diferentes valores de sucesso reprodutivo as

margens de erro não se desviam muito dos valores referidos.

Assim, e considerando o exposto acima, é recomendada a sub-amostragem de cerca de 60 locais, o

que permitirá obter estimativas anuais com uma margem de erro de aproximadamente 10%. Tendo

em atenção que a utilização de um tamanho amostral de 45 locais representa um aumento baixo na

margem de erro face à monitorização de 60 locais (1,5%), este deverá ser considerado como o núme-

ro mínimo de casais a monitorizar na área em estudo.

Como referido anteriormente, os locais de amostragem deverão ser estratificados por sector de amos-

tragem, sendo apresentada no Quadro 3 uma recomendação para o número mínimo de locais a

amostrar por sector, tendo em consideração o sucesso reprodutivo da espécie identificado em 2016.

51

Figura 14 | Margem de erro esperada na estimativa de sucesso reprodutor, considerando tamanhos de amostra de 30, 45 ou 60 locais de reprodução de Britango (Neophron percnopterus) na área de atuação do Projeto Rupis

LIFE - Douro Internacional (PN-SIC-ZPE) e Arribes del Duero (PN-LIC-ZEPA).

Quadro 13 | Número de locais de amostragem propostos para o programa de monitorização (PM), considerando

3 cenários - tamanhos de amostra de 30, 45 ou 60 locais, para cada um dos sectores de amostragem na área em estudo – Douro Internacional (PN-SIC-ZPE) e Arribes del Duero (PN-LIC-ZEPA).

Localização Sector Casais

Controlados (2016)

Tamanho amostral (PM)

n = 60 n = 45 n = 30

Sectores Trans-fronteiriços (Portu-

gal/Espanha)

Miranda 0 0 0 0

Picote 8 7 5 4

Bemposta 6 5 4 3

Aldeadávila 12 10 8 5

Saucelhe 17 15 11 7

Poiares 2 2 1 1

Águeda Internaci-onal

9 8 6 4

Exclusivamente português

Douro Nacional 0 0 0 0

Exclusivamente espanhol

Castro 1 1 1 0

Villalcampo 2 2 1 1

Tormes 1 1 1 0

Uces 0 0 0 0

Huebra 11 9 7 5

Águeda Nacional 0 0 0 0

Total geral 69 - - -

Tendo em conta que os casais da espécie-alvo tendem a utilizar o mesmo território em anos sucessi-

vos (Donazár, 1993), para seleção dos locais concretos a monitorizar, a definir pela equipa responsá-

52| Relatório da Ação A1. Recenseamento de aves e Estudo de Avaliação de vulnerabilidade à perturbação Action A1. Census of nests and evaluation of their vulnerability to disturbance

vel pela monitorização futura, deverá ser dada especial atenção aos locais onde houve confirmação

de ocupação de territórios/ninhos e onde se identificaram casais controlados. Para o efeito, no Anexo

D encontra-se, em formato vetorial (shapefile), a localização de todos os territórios de britango cons-

tantes em base de dados. Este ficheiro inclui, em tabela de atributos, os resultados obtidos na época

de reprodução de 2016 – identificação dos locais que foram ocupados bem como dos locais onde se

confirmou sucesso reprodutor – informação que pode ser incorporada num projeto SIG (Sistemas de

Informação Geográfica). Adicionalmente, e tendo em conta a dinâmica da espécie, caso nos locais de

amostragem que venham a ser selecionados para monitorização sistemática não seja registada ocu-

pação de territórios em determinado ano, recomenda-se que seja feita a prospeção de escarpas nas

proximidades ou que sejam prospetados locais próximos alternativos, tendo por base a rede de terri-

tórios já conhecidos da espécie (Mateo-Tomas & Olea, 2010; Oppel et al., 2016) na área em questão,

incluindo locais históricos e até 2016, no sentido de despistar a ocupação de uma zona adjacente por

um casal que ocupe um dado território.

A monitorização de territórios/ninhos deve basear-se na metodologia de amostragem adotada em

2016, de forma a que os dados recolhidos sejam comparáveis. Recomenda-se a realização de pontos

de observação fixos (Sessões Intensivas em Pontos Fixos – SIPFix). Estes pontos deverão ser pré-

definidos e distribuídos ao longo de toda a área de estudo, em locais estratégicos, proporcionando

boa amplitude de visão, devendo localizar-se preferencialmente no topo de esporões rochosos nas

escarpas. A realização destes pontos será realizada com o intuito de confirmar a presença ou ausên-

cia de casais nos territórios, bem como a confirmação do uso dos ninhos. Deverá ser sempre ser ga-

rantida a realização de pontos de observação a uma distância que não perturbe as aves. Dada a loca-

lização dos ninhos/territórios conhecidos até 2016 e a distribuição dos sectores de amostragem na

área em estudo, deverão ser realizados pontos tanto em território português, como espanhol. Uma

vez que alguns dos territórios/ninhos a amostrar podem não ter visibilidade a partir de locais acessí-

veis nas encostas, deverá ainda ser equacionada a realização de visitas de barco ao longo dos troços

de rio navegáveis, de forma a complementar a amostragem.

No que respeita à frequência de amostragem, deverão realizar-se visitas à área de estudo que permi-

tam abranger corretamente toda a época de reprodução de britango, genericamente, entre os meses

de março a agosto (BWPi, 2004). Segundo Hardey et al. (2006), para a generalidade das aves de

rapina, são necessárias 4 visitas para que seja possível confirmar e avaliar a reprodução de um casal.

Contudo, no caso específico do britango, um estudo direcionado à espécie revela que se trata de uma

ave de difícil deteção, em termos reprodutivos, e que é necessário um mínimo de 5 visitas para que

seja atingido um nível de certeza de 95% de que um território está efetivamente desocupado (Olea &

Mateo-Tomas, 2011), sendo esta a média de visitas que tem vindo a ser realizada em estudos direci-

onados à reprodução desta espécie (e.g. Garcia-Ripollés & Lopéz-Lopéz, 2006; Mateo-Tomas & Olea,

2010; Zuberogoitia et al., 2014). Desta forma, recomenda-se a realização de 5 visitas aos territórios e

locais de nidificação de britango, as quais deverão ser concretizadas, anualmente, entre os meses de

março a agosto, considerando-se que 4 visitas será o mínimo viável.

5.4 Técnicas e métodos de recolha de dados

Durante o início do período reprodutor (e.g. março a maio) será necessário um maior esforço de

amostragem, que permita uma avaliação da ocupação dos territórios, bem como a utilização dos ni-

nhos. A observação a partir de Pontos Fixos deve realizar-se em períodos contínuos, de duração não

53

inferior a 1 hora (Sessões Intensivas em Pontos Fixos – SIPFix). Após este período, as observações

poderão ser de menor duração, para os locais que se encontrem ocupados e com localização de ni-

nho confirmada devendo, contudo, garantir-se esforço suficiente para que sejam recolhidos os parâ-

metros necessários à determinação do estado de reprodução dos casais. Nesta fase não é possível

prever a duração de cada ponto segundo esta estratégia considerando-se, a titulo orientador, que

uma duração média de 20 minutos por ponto ou até que o casal seja confirmado no seu território den-

tro desses 20 minutos (Olea & Mateo-Tomas, 2011), poderá ser um bom compromisso em termos de

esforço de amostragem.

Todos os pontos de observação deverão ser realizados por um ou mais observadores, com auxílio de

um GPS e com recurso a telescópio e binóculos (Bibby et al., 2000) e máquina fotográfica. A amos-

tragem deverá ser realizada em dias com condições favoráveis em termos meteorológicos.

A unidade de quantificação da população corresponderá ao casal ou parelha de indivíduos (ou nal-

guns casos em termos de trio), ou seja, 2 indivíduos que se encontram em interação reprodutiva nu-

ma dada época. Cada casal da espécie em estudo deverá ocupar um ninho conhecido ou um território

conhecido. Esta metodologia permitirá classificar cada território/ninho em termos da sua ocupação por

casais de britango, devendo ainda ser registada informação acerca da sua situação reprodutiva. Des-

ta forma, no caso de deteção de aves deve proceder-se ao registo, em ficha de campo, do movimento

e do comportamento e interpretação da fenologia, nomeadamente:

• Número de indivíduos observados (tempo de observação);

• Idade dos indivíduos observados;

• Comportamento dos indivíduos observados:

o Voo – defesa territorial, nupcial, caça, interação inter e/ou intraespecífica;

o Pousado - alimentação, interação, vigia;

o Reprodutivo (interação, cópula, transporte de materiais para o ninho (constru-

ção/manutenção do ninho), alimentação das crias, proteção de crias)

• Outros (estado de plumagem, defeitos ou marcas, doenças).

Especificamente, em termos da informação da situação reprodutiva, para cada território/casal devem

ser registados:

• Estado do ninho;

• Número de ovos e data da postura (se possível);

• Número e idade das crias (se possível);

• Ameaças identificadas;

• Registo fotográfico de todos os ninhos ocupados e vazios.

No caso se virem a ser identificados novos territórios e/ou ninhos, estes deverão ser devidamente

caracterizados e amostrados, seguindo a mesma metodologia descrita anteriormente.

Para todos os locais prospetados deve ser registada a localização geográfica de todos os ninhos, com

auxílio de GPS, para posterior integração em SIG. No caso de não se conhecer ninho ou o casal não

54| Relatório da Ação A1. Recenseamento de aves e Estudo de Avaliação de vulnerabilidade à perturbação Action A1. Census of nests and evaluation of their vulnerability to disturbance

estar a nidificar, na época reprodutiva em questão, deve considerar-se o centro da área defendida

territorialmente, através dos movimentos e comportamentos registados. Salienta-se, neste ponto, que

deverão ser contabilizados os casais que defendem os respetivos territórios de nidificação, mesmo os

que não se reproduzem com êxito.

Por fim, para além do registo direto pela observação dos indivíduos/ninhos, os dados recolhidos pode-

rão ser suplementados com recurso à realização de inquéritos locais (Grubac et al., 2014) a entidades

como, por exemplo, os operadores turísticos que operam na zona do Douro Internacional e cujos co-

nhecimentos da área em estudo poderão contribuir para complementar a informação existente.

5.5 Métodos de tratamento de dados

Os dados recolhidos anualmente permitirão determinar os territórios ocupados e respetivos casais

confirmados (classificação de casais), bem como avaliar a sua situação reprodutiva. Para que sejam

comparáveis temporalmente, recomendam-se que sejam adotados os critérios e categorias conside-

rados para análise dos dados conforme descrito para a tarefa A1.I (Censo e seguimento da reprodu-

ção de casais de Britango; Capítulo 2):

• Para a classificação de casais, os resultados obtidos deverão ser expressos nas seguintes

categorias (Quadro 2 da tarefa A1.I): “Casal Confirmado”; “Casal possível”; “Casal ausente”

(ou local/ninho vazio); “Trio confirmado”; e “Indivíduos não reprodutores”.

• Para a avaliação da situação reprodutiva dos casais, anualmente, os resultados obtidos deve-

rão ser expressos considerando as seguintes categorias (Quadro 2 da tarefa A1.I): “Casal

Controlado” (subcategorias com ou sem sucesso reprodutivo); e “Casais sem nidificação con-

firmada”;

• Em termos da avaliação do sucesso reprodutor, para os casais controlados, deverão ainda

ser estimados 3 parâmetros, que expressem a situação reprodutiva da população nidificante

de britango e que poderão ser utilizados para comparações anuais:

o Êxito reprodutor - traduz-se na percentagem de casais com sucesso dentro do grupo

dos casais controlados.

o Produtividade - determinada segundo Postupalsky (1974): Número de juvenis pré-

voadores ou voadores / Número de casais controlados;

o Taxa de Voo – determinada segundo Cheylan, (1981): Número de juvenis pré-

voadores ou voadores / Número de casais com crias voadoras).

A determinação e comparação, numa base anual, dos parâmetros reprodutivos permitirá acompanhar

a evolução da tendência demográfica da população de britango que ocorre na área de estudo, no seu

conjunto, as áreas classificadas do Douro Internacional (PN-SIC-ZPE) e Arribes del Duero (PN-LIC-

ZEPA). Em termos comparativos, deverão também ser integrados na análise os resultados obtidos no

estabelecimento da situação de referência para o Projeto Rupis LIFE, relativos à época de reprodução

de 2016.

O tratamento dos dados, para além da componente descritiva, deverá ser realizado sempre que pos-

sível com recurso a análise estatística formal, que dependerá da robustez e qualidade dos dados

obtidos. A título de orientação apresentam-se algumas linhas gerais do que poderá ser considerado

no tratamento dos dados inerentes aos objetivos propostos.

55

No caso do estudo da tendência demográfica da espécie, deverão ser conduzidas análises que permi-

tam testar a existência de diferenças significativas na população nidificante ao longo da monitoriza-

ção. Poderá ser utilizada, como variável resposta, a abundância de casais que se reproduziu com

sucesso na área de amostragem. É expectável que os dados recolhidos não cumpram os pressupos-

tos de normalidade de homocedasticidade, pelo que se poderá recorrer a testes não-paramétricos,

sendo exemplo o teste de Kruskal-Wallis que poderá ser utilizado para o estudo de tendências popu-

lacionais em intervalos de tempo previamente estabelecidos (Cortez-Avizada et al., 2009). Outras

abordagens para a avaliação de tendências demográficas, como o recurso a modelos estatísticos do

grupo dos Modelos Lineares Generalizados (MLG) serão também adequadas. Por exemplo, o recurso

a Modelos Lineares Generalizados Mistos constitui uma técnica mais robusta de analisar dados eco-

lógicos a médio-longo termo, por permitirem a integração de preditor(es) aleatório(s) na análise de

modelação, de forma a que seja tida em conta a falta de independência temporal e/ou espacial dos

dados recolhidos (Bolker et al., 2008). Uma vez que o principal objetivo da análise será a avaliação da

tendência populacional ao longo do tempo, tomando por exemplo o ninho como unidade de amostra-

gem (Olea & Mateo-Tomas, 2011; Margalida et al., 2012), o ano de monitorização deverá ser integra-

do no estudo como variável explicativa, devendo os dados ser estudados em função da situação de

referência (2016) ou do primeiro ano de monitorização (2019). Adicionalmente, caso se considere

relevante para o estudo da demografia da espécie, poderão ser incluídas em análise modelação ou-

tras covariáveis que possam influenciar a ocupação de territórios e/ou o sucesso reprodutor de britan-

go e que possam contribuir para explicar a situação na área de estudo, nos quais se podem listar

variáveis relacionadas com o habitat (disponibilidade alimentar; localização dos ninhos, etc.), presen-

ça/perturbação humana, e condições meteorológicas registadas durante a época de reprodução (Car-

rete et al., 2007; Mateo-Tomas & Olea, 2010; López-López et al., 2014; Olea & Mateo-Tomas, 2014;

Zuberogoitia et al., 2014; Oppel et al., 2016). Eventuais ações de conservação realizadas na área de

atuação do Projeto Rupis LIFE poderão também ser integradas em análises estatísticas, como variá-

veis explicativas, com o intuito de avaliar o seu efeito na população nidificante de britango.

Por fim, o presente Protocolo não deverá ser considerado como estático, mas ser sujeito a avaliação

periódica, numa perspetiva de melhoria contínua, seguindo o ciclo PDCA (do inglês Plan-Do-Check-

Act). Assim, ao longo do programa de monitorização deverá ainda ser avaliada a eficácia do Protocolo

de monitorização no cumprimento dos objetivos definidos, procedendo-se à sua alteração caso a

equipa responsável considere pertinente.

56| Relatório da Ação A1. Recenseamento de aves e Estudo de Avaliação de vulnerabilidade à perturbação Action A1. Census of nests and evaluation of their vulnerability to disturbance

6| Conclusões e recomendações

No âmbito dos trabalhos previstos para o Recenseamento de aves e Estudo de Avaliação de vulnera-

bilidade à perturbação - Ação A1 no âmbito do projeto LIFE NAT/PT/000855, foram realizados estu-

dos tendo como espécie-alvo o britango (Neophron percnopterus). Esta espécie encontra-se ameaça-

da de extinção em Portugal e a nível internacional, e constituiu o objeto dos estudos abrangidos pelo

presente relatório.

Foram realizadas quatro tarefas, designadas Ação A1.I a Ação A1.IV visando um estudo da popula-

ção nidificante de britango na área de atuação do Projeto Rupis LIFE, nomeadamente a zona do Dou-

ro Internacional (PN-SIC-ZPE) e Arribes del Duero (PN-LIC-ZEPA) recorrendo aos dados recolhidos

em 2016 e/ou em anos anteriores, conforme fornecido pelo Instituto da Conservação da Natureza e

das Florestas.

No âmbito da Ação A1.I - Censo e seguimento da reprodução de casais de Britango, foram confirma-

dos 121 casais de britango na área de atuação do projeto, aos quais se adicionam mais 14 casais

possíveis. Da listagem de casais confirmados, 69 casais apresentaram comportamento que sugeriu

nidificação potencial, pelo menos uma vez durante as visitas realizadas em campo (designados ca-

sais controlados). Foram estimados parâmetros reprodutivos que resultaram na seguinte avaliação da

situação reprodutiva em 2016: Êxito reprodutor = 68,1% de casais com sucesso; Produtividade = 0,72

crias voadoras por casal controlado; Taxa de voo = 1,06 crias voadoras por casal com sucesso repro-

dutor. Quando comparados com outros estudos que avaliaram a performance reprodutiva de britango

na Península Ibérica, os resultados obtidos no presente estudo sugerem valores ligeiramente inferio-

res (em alguns casos) e equivalentes ou superiores (mais pontualmente). Considera-se, desta forma,

que os resultados obtidos para a população atual de britango na área em estudo se enquadram den-

tro dos normais ecológicos da espécie. Recomenda-se que os valores aferidos em 2016 para a área

abrangida pelo Rupis LIFE sejam utilizados como referência em eventuais análises comparativas

(temporais) entre anos de monitorização, incluindo na avaliação do sucesso de eventuais ações de

conservação que venham a ser implementadas, direcionadas ao fomento da população nidificante de

britango.

Para a Ação A1.II – Construção de uma Base de Dados sobre a população de britango (1995 – 2016),

foi desenvolvida uma base de dados, formato Access, com recurso ao histórico de informação forne-

cido pelo ICNF para o período em causa. Salienta-se que esta base de dados não é estanque, pelo

que se recomenda que a mesma seja atualizada ao longo dos próximos anos, de acordo com a reco-

lha de informação para a espécie em causa.

Visando o cumprimento dos objetivos da Ação A1.III – Estudo de Avaliação de Ameaças sobre a po-

pulação de Britango – 2016, foram realizadas análises de modelação que incluíram informação relati-

va à população de nidificante de britango na área de estudo, não só em 2016, mas para o período de

2012-2016, para uma análise mais robusta. As analises focaram-se em modelações distintas, com

base em 2 objetivos principais: 1) estudar os fatores que influenciam o favorecimento de locais para

ocupação de territórios/ninhos por britango na área de estudo; 2) estudar os fatores que influenciam a

ocorrência de sucesso reprodutivo da espécie na área de estudo. Em termos gerais, destaca-se a

evidência da disponibilidade alimentar como um dos fatores com maior relevância no favorecimento

territórios/ninhos por britango. Desta forma, a melhoria de recursos tróficos para a espécie, em parti-

57

cular em zonas onde estes sejam menos abundantes, é identificada como um dos principais parâme-

tros de atuação para ações de conservação da população nidificante de britango.

No que respeita às potenciais limitações das análises realizadas recomenda-se ainda que os resulta-

dos discriminados por cada visita realizada ao território/ninho, por época de reprodução, sejam utili-

zados para aferir a deteção real da espécie na área em estudo. Com base na bibliografia consultada

neste aspeto, seria desejável o aumento do número de visitas a cada território/ninho por ano – situa-

ção que foi integrada na proposta de Protocolo Metodológico para monitorização da espécie.

Por fim, em termos dos padrões de ocorrência e reprodução da espécie na área de estudo, identifica-

ram-se limitações nos dados que poderão ter tornado os resultados menos conclusivos. É o caso do

estudo do sucesso reprodutor, sobre o qual se levanta a possibilidade se estarem em atuação outros

fatores ambientais, como os meteorológicos e outras características associadas ao ninho propriamen-

te ditos, que possam ter uma influência significativa no sucesso reprodutivo e que não foram abrangi-

dos pelo estudo. Seguindo o mesmo raciocínio, seria desejável que em estudos futuros, e caso haja

dados disponíveis, que se tenham em consideração eventuais ocorrências de mortalidade da espécie

na área de estudo. Por exemplo, a existência de dados de eletrocussões/colisões em linhas elétricas

poderia levar a resultados mais conclusivos, bem como distinguir mais claramente entre o efeito des-

tas e o efeito das estradas/caminhos agrícolas. A obtenção de uma medida da perturbação humana

medida diretamente no local de nidificação forneceria igualmente informações valiosas (Zuberogoitia

et al., 2014) e permitiria separar claramente a atividade humana próxima aos locais de nidificação da

atividade geral na área, dado que algumas atividades humanas podem ter mais impacto que outras.

Por fim, seria também desejável a compilação e disponibilização dos casos concretos de envenena-

mento (localização e contagens) de forma a realizar uma análise mais robusta.

Por fim, em relação à Ação A1. IV – Descrição de Protocolo Metodológico para Monitorização da Mo-

nitorização da população de Britango, foi desenvolvido e apresentado um protocolo metodológico que

se considera adequado para dar resposta aos objetivos pretendidos no mesmo – avaliação da ten-

dência demográfica da população de britango, numa base anual, para o horizonte temporal de 2019-

2029. No delineamento experimental, recomenda-se que seja definida uma subamostragem de 60

ninhos/territórios, distribuídos uniformemente pelos sectores amostrados na área de estudo em 2016,

para que os dados sejam comparáveis. A não ser possível amostrarem-se 60 locais numa base anual,

considera-se que a amostragem de 45 territórios/ninhos constitui o número mínimo viável, tendo em

conta as margens de erro esperadas. Recomenda-se ainda o aumento na frequência de visitas para

amostragem, no sentido de procurar garantir uma melhor detetabilidade, para um mínimo de 4 visitas

durante a época de reprodução, idealmente 5 visitas.

58| Relatório da Ação A1. Recenseamento de aves e Estudo de Avaliação de vulnerabilidade à perturbação Action A1. Census of nests and evaluation of their vulnerability to disturbance

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61

ANEXOS A – Localização dos pontos de observação fixos e complementares nos sectores Picote, Bemposta,

Aldeadávila e Saucelhe

(anexo em formato digital - pdf)

B – Fichas de registo por território/ninho amostrado em 2016

(anexo em formato digital - pdf)

C – Registo fotográfico de cada território/ninho amostrado em 2016

(anexo em formato digital - jpeg)

D – Localização dos centros de território/ninhos conhecidos de britango na área de atuação do

Projeto Rupis LIFE

(anexo em formato digital - shapefile)

E – Base de dados Access construída sobre a população de britango (1995-2016)

(anexo em formato digital – Microsoft access)

F – Suplemento técnico - Exposição detalhada do procedimento de análise multivariada efetuada

para a Ação A1.III

(anexo em formato digital - pdf)