RELATÓRIO TÉCNICO - CIENTÍFICO · anuais, a corrida com toras, o jogo de flecha e o jogo de...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO DIRETORIA DE PESQUISA PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA – PIBIC: CNPq, CNPq/AF, UFPA, UFPA/AF, PIBIC/INTERIOR, PARD, PIAD, PIBIT, PADRC E FAPESPA RELATÓRIO TÉCNICO - CIENTÍFICO Período: 02/ 2015 a 07/ 2015 ( ) PARCIAL (x) FINAL IDENTIFICAÇÃO DO PROJETO Título do Projeto de Pesquisa: Operações de ajuste de valência em verbos da Língua Parkatêjê (CNPq/ Processo n° 472101/2012-9) Nome do Orientador: Marília de Nazaré de Oliveira Ferreira Titulação do Orientador: Doutor Faculdade: Faculdade de Letras Instituto/Núcleo: Instituto de Letras e Comunicação Laboratório: Laboratório de Ciências da linguagem Título do Plano de Trabalho: Descrição das atividades tradicionais em Parkatêjê: um estudo morfológico. Nome do Bolsista: Luciana Renata dos Santos Vieira Tipo de Bolsa: ( x) PIBIC/ CNPq ( ) PIBIC/CNPq – AF ( ) PIBIC /CNPq- Cota do pesquisador ( ) PIBIC/UFPA ( ) PIBIC/UFPA – AF ( ) PIBIC/ INTERIOR ( ) PIBIC/PARD ( ) PIBIC/PADRC ( ) PIBIC/FAPESPA ( ) PIBIC/ PIAD ( ) PIBIC/PIBIT

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

DIRETORIA DE PESQUISA

PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA – PIBIC: CNPq,

CNPq/AF, UFPA, UFPA/AF, PIBIC/INTERIOR, PARD, PIAD, PIBIT, PADRC E FAPESPA

RELATÓRIO TÉCNICO - CIENTÍFICO Período: 02/ 2015 a 07/ 2015 ( ) PARCIAL (x) FINAL IDENTIFICAÇÃO DO PROJETO Título do Projeto de Pesquisa: Operações de ajuste de valência em verbos da Língua Parkatêjê (CNPq/ Processo n° 472101/2012-9) Nome do Orientador: Marília de Nazaré de Oliveira Ferreira Titulação do Orientador: Doutor Faculdade: Faculdade de Letras Instituto/Núcleo: Instituto de Letras e Comunicação Laboratório: Laboratório de Ciências da linguagem Título do Plano de Trabalho: Descrição das atividades tradicionais em Parkatêjê: um estudo morfológico. Nome do Bolsista: Luciana Renata dos Santos Vieira Tipo de Bolsa: ( x) PIBIC/ CNPq

( ) PIBIC/CNPq – AF ( ) PIBIC /CNPq- Cota do pesquisador ( ) PIBIC/UFPA ( ) PIBIC/UFPA – AF ( ) PIBIC/ INTERIOR ( ) PIBIC/PARD ( ) PIBIC/PADRC ( ) PIBIC/FAPESPA ( ) PIBIC/ PIAD ( ) PIBIC/PIBIT

INTRODUÇÃO

Atualmente a língua Parkatêjê é falada somente pelos mais velhos na

comunidade indígena Parkatêjê na TI Mãe Maria. Seus falantes estão

localizados no Km 30 da BR-222, no município de Bom Jesus do Tocantins, a

30 km da cidade de Marabá no sudeste do estado do Pará. O presente estudo

sobre os aspetos linguísticos da língua está inserido no projeto de pesquisa

Operações de ajuste de valência em verbos da Língua Parkatêjê (CNPq/

Processo n° 472101/2012-9).

O presente plano de trabalho propôs a descrição científica das principais

atividades culturais pertencentes ao povo Parkatêjê, tais como as festas

anuais, a corrida com toras, o jogo de flecha e o jogo de peteca. O

conhecimento tradicional de cada uma dessas atividades permite demonstrar

as características de ação, instrumentos, períodos, funções e outras

particularidades; e assim, por meio dessa descrição, atingir o objetivo principal

de analisar do ponto de vista morfológico, os termos do vocabulário, tendo

como referência as características morfológicas dos nomes em Parkatêjê que

foram estudados por Araújo (1989) e Ferreira (2003).

No primeiro semestre de realização do plano de pesquisa foram

apresentados os resultados parciais, nos quais constavam a descrição

cientifica integral das atividades tradicionais, a lista terminológica parcial e os

aspectos morfológicos principais da terminologia. Por sua vez, os resultados

apresentados no atual relatório apresentam os pontos principais da descrição,

a lista terminológica sistematizada em campos semânticos e os aspectos

morfológicos da terminologia organizados e explicados em quadros, nos quais

os processos referentes à morfologia e as análises morfológicas dos termos

exemplificam a ocorrência desses processos na terminologia estudada.

Busca-se, dessa forma, por meio do presente relatório de pesquisa,

corroborar a hipótese de que o vocabulário dos jogos e festas Parkatêjê

apresentam propriedades morfológicas comuns à língua, assim como promover

a documentação em áudios, vídeos e fotografias que fortaleça o registro

linguístico, histórico e antropológico das línguas Jê.

A língua Parkatêjê não apresenta um estudo sistematizado voltado, mais

especificamente para a descrição das atividades tradicionais da comunidade

indígena. Todavia, os trabalhos de Araújo (1989) e Ferreira (2003) apresentam

as principais características morfológicas encontradas no processo de

formação de palavras na língua Parkatêjê. Deste modo, com o presente plano

e, com o Trabalho de Conclusão de Curso resultante do mesmo, tem-se a

articulação dessas vertentes.

JUSTIFICATIVA

Como qualquer outra cultura, a cultura Parkatêjê é rica em atividades

tradicionais que ainda são praticadas na comunidade como as festas anuais, a

corrida de tora, o jogo de arco e flecha e o jogo da peteca.

O vocabulário referente a elas constitui-se em um universo de

particularidades que precisam ser investigadas e documentadas a fim de

refinar materiais para a compreensão das línguas Timbira, que partilham

muitos traços culturais. No caso de uma comunidade indígena, a descrição

científica dessas práticas contribui ainda mais para as pesquisas de

aprofundamento da descrição linguística, bem como para as pesquisas de

cunho antropológico.

As atividades culturais do povo indígena Parkatêjê, assim como dos

povos indígenas de uma maneira geral, fazem parte do patrimônio cultural

imaterial da humanidade. Tal patrimônio é composto pelas práticas,

conhecimentos, expressões, representações e instrumentos que os próprios

indígenas possuem o direito de manter e controlar, de acordo consta no artigo

31 das declarações da ONU; isto significa dizer que esses povos, de uma

maneira geral, têm os seus direitos plenos em relação a essas atividades.

Muito além das contribuições acadêmicas, o material resultante da

presente pesquisa também poderá ser utilizado como um recurso para o

processo de preservação e revitalização da língua Parkatêjê que corre risco de

extinção e das atividades culturais, hoje em dia, praticadas somente pelos mais

velhos e adultos, nos finais da semana e em dias de festas. Da mesma

maneira que também poderá ser utilizado no ensino da língua indígena na

escola da comunidade, pois uma das formas de ajudar na manutenção e

revitalização de uma língua indígena é contribuir para que ela seja objeto de

estudo constante na escola da comunidade falante. Desse modo, a língua e

cultura de determinada comunidade estão entrelaçadas e permitem a união do

ensino de língua com a prática e a troca de experiências culturais vividas.

OBJETIVOS

Geral : Descrever as principais atividades culturais do povo Parkatêjê

visando à análise morfológica do vocabulário pertinente a elas.

Específicos :

• Descrever as principais atividades tradicionais do povo indígena

de modo a demonstrar suas características de ação, instrumentos

empregados para sua execução, períodos de ocorrência, funções e

outras particularidades relacionadas às atividades.

• Analisar a composição morfológica dos termos do vocabulário,

tendo como referência as características morfológicas dos nomes em

Parkatêjê que foram estudados por Araújo (1989) e Ferreira (2003).

• Comparar as particularidades morfológicas encontradas com

outros estudos de cunho linguístico do Parkatêjê.

MATERIAIS E MÉTODOS

A metodologia usualmente utilizada em estudos de cunho descritivo é

aquela que se compreende nos trabalhos de Linguística Descritiva e de

pesquisas antropológicas, respectivamente os trabalhos de Araújo (1977, 1989

e outros), Ferreira (2003 e 2005) e Melatti (1978).

Em um primeiro momento os dados foram coletados e confirmados

pelos seus falantes em ambiente usual de fala. Em seguida foi realizada a

transcrição fonética dos termos referentes às atividades tradicionais. Após isso,

foi realizada a transcrição ortográfica da terminologia das atividades e por fim,

foi realizada uma análise morfológico, tendo sido apresentados aspectos

morfológicos dos termos do vocabulário, que tiveram como referência os

trabalhos de Araújo (1989) e Ferreira (2003).

RESULTADOS

Com base na metodologia adotada para a presente pesquisa,

organizamos os resultados em três tópicos: i. Descrição das atividades

tradicionais Parkatêjê; ii. Lista terminológica das atividades tradicionais; iii.

Aspectos morfológicos da terminologia das atividades tradicionais em

Parkatêjê. No primeiro deles descrevemos de forma resumida as atividades

tradicionais aqui tratadas. É válido ressaltar que nos resultados parciais

apresentados no primeiro semestre da pesquisa as atividades foram descritas

de forma integral, dessa forma o tópico mais aprofundado nesta fase final será

a análise morfológica da terminologia, a fim de que se alcance o objetivo geral

proposto. Por sua vez, o segundo tópico apresenta a lista terminológica das

atividades tradicionais na língua indígena Parkatêjê. Por fim o último tópico

trata dos principais aspectos morfológicos subjacentes à terminologia

específica com base nos trabalhos de Araújo (1977, 1989 e outros) e Ferreira

(2003 e 2005).

i. Descrição das atividades tradicionais Parkatêjê

As festas anuais, a corrida com tora, o jogo de flecha e o jogo da peteca

são atividades comuns aos Parkatêjê e foram estudadas durante trabalho de

campo com gravações de áudio e vídeo no contexto real da prática entre os

participantes das atividades.

No que diz respeito ao universo das festas anuais, as duas principais

festas tradicionais do Parkatêjê são obrigatórias e estão divididas em dois

grupos - o primeiro é formado pelas metades rituais1 Arara e Gavião; o

segundo é formado pelas metades do Peixe, da Arraia e da Lontra, ao todo

somam 5 “times”. No final dessas duas festas, iniciam as brincadeiras do 1 De acordo com Melatti (1976), as metades rituais são como grupos ou “times” que disputam, de certa forma, as atividades.

wakmẽre, do hapynãre, krowajõjõnõre e kôkôire.O wakmẽre é conhecido

também como a festa do cipó kupa; hapynãre, quando é tempo de a tora ser

caçada/buscada por uma única pessoa; krowajõjõnõre é realizada somente

pelos namorados e, por fim, o kôkôire que é a festa na qual se apresenta o

krixwỳ patantuwa, ou seja, nessa festa são apresentados os amigos formais ‘de

brincadeira’, de faz-de-conta.

Tendo conhecimento do local em que a tora preparada foi deixada, a

corrida de tora inicia quando os indígenas correm, em dois grupos, para busca-

la. Lá os grupos ajudam a levantar a tora que será levada por apenas um dos

corredores em direção ao centro do pátio da aldeia, local em que o vencedor

deverá lançá-la. Antes disso no decorrer da atividade, os companheiros de

grupo estão sempre atentos ao momento de revezamento da tora em que se a

passa de ombro a ombro sem a interrupção da corrida e de maneira muito

rápida. No pátio da aldeia, as mulheres esperam os corredores com baldes de

água fria para lançarem sobre eles como forma de refrescar-lhes e aliviar-lhes

o cansaço físico.

O jogo de arco e flecha é um dos mais praticados pelos Parkatêjê, visto

que a atividade é realizada o ano todo; em dias inteiros aos finais de semana e

feriados, com pequenas pausas individuais durante o decorrer do seu

desenvolvimento. O acampamento do povo Parkatêjê é o espaço reservado

para a realização de diversas e diferentes atividades tradicionais, dentre as

quais o arco e flecha, que assim como a corrida de tora, também é praticado

por mulheres adultas em grupos definidos - mulheres jogam flecha e correm

tora somente com outras mulheres.

Antes do início dos certames, os indígenas preparam suas flechas com

urucum e protegem seus dedos e punhos, enrolando-os em tiras finas de

embira, pois quando o fio do arco retrocede, após o disparo, os punhos são

atingidos por ele e frequentemente são machucados com a repetição dos

lançamentos de flechas. Durante o início de uma partida, de um ponto inicial,

vários índios podem jogar ao mesmo tempo, cada um com suas 5 flechas que

são marcadas com tinta ou com fios coloridos para não se confundirem às

outras dos companheiros de jogo. As flechas são lançadas, uma a uma, em

direção ao um espaço reservado, no qual, algumas vezes, há um tronco de

bananeira pendurado pelos indígenas, o qual possui a função de alvo, a cerca

de 30 a 50 metros do ponto inicial. O objetivo é acertar o máximo de flechas

possíveis no tronco, pois aquele que acerta o alvo, ganha novas flechas,

oriundas justamente daquele que erra e, portanto, cede as suas para o jogador

vencedor.

O jogo da peteca, de uma forma geral, é considerado uma brincadeira

essencialmente particular do universo das crianças indígenas, que foi

incorporado pela cultura lúdica brasileira. Em Parkatêjê, a brincadeira da

peteca começa em fevereiro na festa do milho verde. Nesse período, a peteca

é confeccionada pelos índios com materiais provenientes do milho verde.

Segundo o chefe da comunidade, apenas os homens podem fabricar e jogar a

peteca. Então podemos dizer que entre as brincadeiras acima descritas, essa é

a única que apresenta caráter exclusivamente masculino. A peteca possui um

período delimitado para sua fabricação, em função do tempo de colheita do

milho verde.

ii. Lista terminológica das atividades tradicionais :

Neste tópico é apresentada a lista com os termos coletados em trabalho

de campo na comunidade indígena Parkatêjê. Primeiramente os termos foram

transcritos foneticamente. Logo após a transcrição e confirmação, os termos

foram passados para a ortografia da língua Parkatêjê consolidada pela

professora Leopoldina Araújo, em (1974).

A lista terminológica das atividades tradicionais em Parkatêjê está

organizada em seis subcampos semânticos (alegorias; espaço físico; etapas e

processos; elementos humanos; partes e componentes e instrumentos e

peças). Os subcampos semânticos foram sistematizados com o intuito de

facilitar o encontro de possíveis particularidades morfológicas em subcampos

específicos da terminologia.

Lista 01:

TERMINOLOGIA DAS ATIVIDADES TRADICIONAIS

SUBCAMPOS SEMÂNTICOS

TERMO

TRADUÇÃO

ALEGORIAS

(FESTAS ANUAIS)

Hàk Kôkôire Pàn rop krã Têre Tep Xêxêtêre

‘Gavião’ ‘Macaco’ ‘Arara’ ‘cabeça da onça’ ‘Lontra’ ‘Peixe’ ‘ Arraia’

ESPAÇO FÍSICO

krĩ

pry

pry kairirirare

‘aldeia’

‘caminho’

‘caminho reto’

ETAPAS E PROCESSOS

aiho

airõ

apiê

hakre

hikwy

hipro

hitep

hõkrepoy

hyr

kre

kato

ko

‘pintar com jenipapo’

‘enrolar’

‘puxar’

‘ultrapassar’

‘flechar’

‘fazer’

‘cortar’

‘cantar’

‘furar’

‘furar’

‘chegar’

‘molhar’

kru

mẽn

têk1

pẽp

pre

prõt

ta

to

jakre

jikwy

jipro

jitep

xi

‘brincar’

‘derrubar’

‘jogar’

‘carregar’

‘ritual de iniciação’

‘amarrar’

‘correr’

‘cortar’

‘dançar’

‘ultrapassar’

‘flechar’

‘fazer’

‘cortar’

‘preparar’

ELEMENTOS HUMANOS

apendoxa

ikwỳ

krowajitepkatê

têk2

têkpeikatê

mẽprêkre

mprar

mprar pê

mprar mã

mpy

ntia

‘adversário’

‘companheiro’

‘cortador da tora’

‘jogador’

‘campeão’

‘os mais velhos’

‘corredor’

‘corredor antigo’

‘corredor atual’

‘homem’

‘mulher’

PARTES,

COMPONENTES,

ESPECIFICAÇÕES

E MEDIDAS

ara

haratẽk

hõrõti

hõtĩti

kai

‘pena’

‘tipo de pintura’

‘embira’

‘pesado’

‘cesta’

kaprêk

kõkõn

kraxê

krowa xykatyire

õmti jõru

parkre

pôruti

põhy tetet

pỳthi

py

tyk

tõn

‘vermelho’

‘água’

‘cabaça’

‘adorno para cabeça’

‘pau para fazer flecha’

‘corda do arco’

‘casca da arvore’

‘jenipapo’

‘milho verde’

‘ponta da flecha’

‘urucum’

‘preto’

‘cera’

INSTRUMENTOS

E PEÇAS

aprỳkrã

himpei

hõhĩ

krãkupu

krôxwa

krowa

krowapejre

krowajõjõnõre

kruwa

kuwê

kuwêti

kuwêre

kỳi

parpỳpxỳ

têkxà

watu

‘peteca’

‘flecha com osso’

‘buzina’

‘flecha amarrada’

‘dente do porco’

‘tora’

‘tora principal’

‘tora do palmito’

‘flecha’

‘arco’

‘arco grande’

‘arco pequeno’

‘faca’

‘pé de bananeira’

‘flecha para brincar’

‘flecha sem osso’

iii. Aspectos morfológicos dos termos das atividade s tradicionais

em Parkatêjê

O tópico em questão tem o objetivo de apresentar os principais aspectos

morfológicos da terminologia das atividades tradicionais na língua indígena

Parkatêjê e para alcançar este objetivo nos resultados aqui tratados

apresentaremos primeiramente os principais pontos concernentes aos

pressupostos teóricos estudados. Em seguida serão apresentados em quadros

os aspectos morfológicos da terminologia. Nesses quadros são organizados e

explicados os principais processos referentes à morfologia, os quais são

comuns ao Parkatêjê, bem como serão realizadas as análises morfológicas dos

termos que exemplificam a ocorrência desses processos na terminologia

pesquisada.

A língua Parkatêjê, de acordo com Araújo (1989), apresenta morfologia

simples, os nomes podem ser constituídos apenas de uma base nominal e de

bases acrescidas ou não de afixos, por exemplo, temos na língua Parkatêjê o

termo kok ‘vento’ apenas uma base nominal e em aprỳkrã ‘peteca’ temos duas

bases nominais.

De modo geral, o processo de formação de palavras mais produtivo no

Parkatêjê é a composição, na qual ocorre a junção de uma base a outra para

formar uma palavra. “Assim, dizemos que uma palavra é composta sempre que

esta apresenta duas bases” Basílio (1987, p.29). O processo de derivação, no

qual a palavra é constituída de uma base e afixo, também é ocorrente nesta

terminologia.

Segundo Ferreira (2005), as características principais de ordem

morfológica dos nomes na língua Parkatêjê podem ser organizadas a partir dos

principais pontos:

i. a categoria de posse dos nomes: nomes possuíveis e nomes

não- possuíveis; de modo que, os nomes possuíveis, ainda se

dividem em nomes alienavelmente possuídos e inalienavelmente

possuídos;

ii. os sufixos derivacionais -re e -ti;

iii. os nomes cujo referente é [+ humano] podem ocorrer com o

formativo mẽ, que indica plural;

iv. nomes não flexionados para gênero;

v. nomes marcados pela categoria de caso;

vi. raízes nominais podem ser derivadas a partir de itens de outras

classes de palavras;

vii. raízes verbais podem ser nominalizadas através do acréscimo de

formativo kate.

A partir dos principais elementos de caráter morfológicos apontados por

Ferreira (2005), pudemos encontrar alguns desses aspectos na formação de

palavras do vocabulário de atividades tradicionais Parkatêjê nos quadros

abaixo:

Quadro 1- Categorias de posse.

i. CATEGORIAS DE POSSE

Alienavelmente

possuídos (objetos da

cultura material)

(1) kruwa ‘flecha’

Piare j- õ kruwa

NPr Rel- Pos- flecha

‘flecha do Piare’

NOMES POSSUÍVEIS

Inalienavelmente

possuídos (partes de

um todo)

(2) ropkrã ‘ cabeça da

onça’

rop ø- krã

onça Rel- cabeça

(3) krôxwa ‘dente do

porco’

krô ø- xwa

porco Rel- dente

(4) aprỳkrã ‘peteca’

aprỳ ø- krã

palha Rel- cabeça

NOMES NÃO-

POSSUÍVEIS (nomes de pessoas, nomes de

planta)

_

Quadro 2- Formação de palavras por composição.

ii. COMPOSIÇÃO: BASE+ BASE

JUNÇÃO DE BASES NOMINAIS

(5) aprỳkrã ‘peteca’

aprỳ ø- krã

palha Rel- cabeça

(6) himpei ‘tipo de flecha com osso’

hi mpej

osso bom

Quadro 3- Formação de palavras por derivação.

iii. DERIVAÇÃO: BASE + AFIXO

1. OS SUFIXOS DERIVACIONAIS -re e –ti

SUFIXOS DERIVACIONAIS -re e -ti

(diminutivo e aumentativo,

respectivamente)

(7) kuwêti ‘arco grande’

kuwê -ti

arco grande

(8) kuwêre ‘arco pequeno’

kuwê -re

arco pequeno

2. OS SUFIXOS DERIVACIONAIS -xỳ (instrumentalizador) e -katê (agentivo)

-xỳ (instrumentalizador)

(9) parp ỳpxỳ ‘pé de banana’

par pỳp -xỳ

pau banana

(10) têkx ỳ ‘flecha para

brincar’

têk -xỳ

jogar

-katê (agentivo) (11) têkpeikatê ‘ campeão’

têk (m)pej -katê

jogador bom corajoso

(12) krowajitepkatê ‘cortador’

krowa j-itep katê

tora Rel- cortar corajoso

Quadro 4- Prefixos relacionais com os verbos.

iv. PREFIXOS RELACIONAIS COM VERBOS

CLASSE A

CLASSE B

So; Sio e O Especificados

So; Sio e O indefinidos

So; Sio e O expressos na locução verbal

So; Sio e O deslocados de sua posição original

ʒ-

y-

ʧ-

ø-

h-

ø-

h-

ø-

Referência a um So;

Sio e O expressos dentro da locução verbal em relação

sintagmática com o núcleo.

Referência a um So; Sio e

O conhecidos pelo contexto ou deslocados

para fora da locução verbal.

Referência a um So; Sio e O indefinidos.

Nesta terminologia, mais particularmente no subcampo semântico referente a

etapas e processos das atividades, os prefixos relacionais ocorrem em verbos

transitivos, tais como:

(13) h-itep ‘cortar’

(14) ʒ-itep ‘cortar’

(15) h-ipro ‘fazer’ (flecha)

(16) ʒ-ipro ‘fazer’ (flecha)

(17) h-akre ‘ultrapassar o outro corredor’

(18) ʒ-akre ‘ultrapassar o outro corredor’

Há também a ocorrência do prefixo relacional da classe A em palavras

compostas:

(19) krowajitepkatê ‘cortador de tora’

krowa j-itep katê

tora Rel- cortar corajoso

Quadro 5- A ocorrência de termo genérico e termos específicos no campo semântico do jogo de flecha.

v. TERMO GENÉRICO E TERMOS ESPECÍFICOS.

TERMO

GENÉRICO

TERMOS ESPECÍFICOS

kruwa

flecha

(20 ) himpei ‘flecha com osso’ lit.osso bom

(21) krãkupu ‘tipo de flecha que possui a ponta

amarrada’

lit.cabeça embrulhada

(22) têkxà ‘flecha para brincar’

(23) watu ‘flecha sem osso’

CONCLUSÃO

De acordo com os procedimentos metodológicos aplicados para a

descrição das atividades tradicionais e estudo dos aspectos morfológicos do

vocabulário da corrida de tora, do jogo de flecha, festas anuais e jogo de

peteca Parkatêjê, pudemos concluir nesta fase final da pesquisa que:

i. O vocabulário das atividades tradicionais pode ser sistematizado

de acordo com o seu campo semântico, no qual cada termo

específico é pertencente, de modo que essa sistematização

favoreça um melhor entendimento e funcionalidade. Isto é, no

campo semântico do vocabulário que concerne aos instrumentos

e peças, teremos uma presença maior de palavras formadas por

derivação e composição, visto que, em tal campo as palavras

possuem mais especificações.

ii. Em relação às expressões de posse, verificaram-se ocorrências

de nomes alienavelmente possuídos e inalienavelmente

possuídos, de modo que nessas subclasses de posse estão

presentes, respectivamente, objetos da cultura material e partes

de um todo. Na subclasse dos nomes não-possuíveis, não foram

encontrados registros, pois nessa categoria de nomes encontram-

se elementos ligados a nomes de pessoas, nomes de planta e

fenômenos da natureza em geral.

iii. Os termos das atividades tradicionais do Parkatêjê apresentam

formação de palavras por composição e derivação, de acordo

com as teses de Araújo (1989) e Ferreira (2005).

iv. A terminologia também apresentou a ocorrência de prefixos

relacionais das classes A e B em verbos transitivos como cortar,

fazer e ultrapassar. Constatou-se também a presença de termo

genérico e termos específicos no subcampo de instrumentos e

peças, mais particularmente ao termo kruwa ‘flecha’, o qual não

ocorre nas formações de palavras referentes aos tipos de flecha

utilizados no jogo.

Desta forma, os resultados finais obtidos são validados na medida em

que são comparados com os aspectos morfológicos gerais apresentados por

Araújo (1977, 1989 e outros) e Ferreira (2003 e 2005), visto que eles

confirmam a descrição já realizada.

PUBLICAÇÕES

Durante o primeiro e o segundo semestres de execução do atual plano

de trabalho, foram possíveis as apresentações de dois trabalhos e uma

publicação em capítulo de livro intitulada “Aspectos fonético-fonológicos e

lexicais do Kyikatêjê” (Livro: Descrição e ensino de línguas; Editora Pontes e

ISBN de número 978-85-7113-592-5). No que tange às apresentações de

trabalho, a primeira foi apresentada na Universidade Federal do Pará (UFPA) e

a segunda na Universidade Federal de Londrina (UEL), os quais seguem

abaixo:

Resumo do trabalho que será apresentado no XXV Semi nário de Iniciação Científica da UFPA, realizado no dia 9-19 de setemb ro de 2015. Autor(es): Luciana Renata dos Santos VIEIRA (Bolsista PIBIC/CNPq) [email protected] Curso de Letras, Faculdade de Letras, Instituto de Letras e Comunicação. Profa Dra Marília de Nazaré de Oliveira FERREIRA (Orientadora) – [email protected] Curso de Letras, Faculdade de Letras, Instituto de Letras e Comunicação.

A presente pesquisa tem como principal objetivo descrever as principais atividades

culturais do povo Parkatêjê e a partir disso, analisar a composição dos termos referentes a essas práticas tradicionais desenvolvidas na comunidade indígena e a partir disso contribuir significativamente para a pesquisa científica no estudo, análise e documentação da língua Parkatêjê, bem como das línguas Jê da região setentrional do país. O suporte metodológico utilizado para o desenvolvimento dessa pesquisa abrange os seguintes passos: primeiramente foi realizada uma pesquisa bibliográfica, a qual compreende os trabalhos de Linguística Descritiva e pesquisas antropológicas, respectivamente os trabalhos de Araújo (1977, 1989 e outros), Ferreira (2003 e 2005) e Melatti (1978); também foi realizada viagem de campo para a coleta de dados linguísticos e um melhor conhecimento da cultura tradicional do povo Parkatêjê; após essa etapa fundamental pudemos organizar os dados e analisá-los do ponto de vista morfológico. Com base na metodologia adotada, verificou-se que: a prática das atividades tradicionais apontam três possíveis funções; termos genéricos e específicos ocorrem com flechas e toras do vocabulário de práticas tradicionais Parkatêjê e também que os esquemas morfológicos encontrados ( i. nome + restritivo; ii. nome + sufixo de tamanho -re e -ti; iii. nome + descritivo + sufixo de tamanho; iv. nome + descritivo; v. nome + descritivo + descritivo; vi. nome + sufixo agentivo - katê) evidenciam a soma de itens lexicais que também formam compostos com significado diferente da soma de seus constituintes. Dessa forma, a pesquisa de um vocabulário tradicional possibilita novos resultados, o registro histórico e a documentação linguística de um patrimônio legitimamente brasileiro.

Resumo do trabalho apresentado no III Congresso Int ernacional de Dialetologia e Sociolínguistica, realizado no dia 0 7, 08, 09 e 10 de outubro de 2014. Autor(es): Luciana Renata dos Santos VIEIRA (Bolsista PIBIC/CNPq) [email protected] Curso de Letras, Faculdade de Letras, Instituto de Letras e Comunicação. Cintía de Lima Neves (Doutoranda/UFPA) Curso de Letras, Faculdade de Letras, Instituto de Letras e Comunicação.

Profa Dra Marília de Nazaré de Oliveira FERREIRA (Orientadora) – [email protected] Curso de Letras, Faculdade de Letras, Instituto de Letras e Comunicação.

Terminologia do jogo de flecha em Parkatêjê

Este trabalho tem por objetivo constituir-se como parte integrante da elaboração de um glossário terminológico referente às principais atividades tradicionais em Parkatêjê; língua indígena Timbira, tronco linguístico Macro-jê, família jê. As atividades culturais, neste trabalho, mais precisamente, o jogo de flecha, são praticadas pela comunidade indígena Parkatêjê no município de Bom Jesus do Tocantins, km 30 da BR-222, próximo da cidade de Marabá. Para elaboração desta pesquisa, utilizamos narrativas orais, relatos, áudios, vídeos e fotografias envolvidos no jogo de arco e flecha, todos, materiais coletados na comunidade indígena durante trabalho de campo. Em Parkatêjê, a atividade se desenvolve da seguinte maneira: durante o início de uma partida de flecha, vários índios podem jogar ao mesmo tempo, cada um com suas 5 flechas que são marcadas por tinta ou fios coloridos para não se misturarem com as outras. As flechas são lançadas, uma a uma, em direção ao um espaço reservado, no qual está localizado um tronco de bananeira que possui a função de alvo. O objetivo é acertar o máximo de flechas possíveis no tronco, pois aquele que acerta ganha novas flechas e o que erra perde as suas para o outro jogador.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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DECLARAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE OS DIREITOS DOS POVOS

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2002.

DIFICULDADES Nenhuma dificuldade encontrada. PARECER DO ORIENTADOR A discente LUCIANA RENATA DOS SANTOS VIEIRA realizou seu plano de trabalho a contento. Deste plano foi originado o Trabalho de Conclusão de Curso da discente, o qual intitula-se O LÉXICO DE DUAS ATIVIDADES TRADICIONAIS DO POVO PARKATÊJÊ: UMA ABORDAGEM ETNOLINGUÍSTICA, o qual deveria ter sido defendido em junho/2015, mas, em função da greve, o será tão logo as aulas retornem. A discente pretende submeter-se à seleção de mestrado assim que concluir sua graduação. DATA: 09/08/2015

ASSINATURA DO ORIENTADOR

____________________________________________ ASSINATURA DO ALUNO

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

FICHA DE AVALIAÇÃO DE RELATÓRIO DE BOLSA DE INICIAÇ ÃO CIENTÍFICA

O AVALIADOR DEVE COMENTAR, DE FORMA RESUMIDA, OS SEGUINTES ASPECTOS DO RELATÓRIO:

1. O projeto vem se desenvolvendo segundo a proposta aprovada? Se

ocorreram mudanças significativas, elas foram justificadas? 2. A metodologia está de acordo com o Plano de Trabalho ? 3. Os resultados obtidos até o presente são relevantes e estão de acordo com

os objetivos propostos? 4. O plano de atividades originou publicações com a participação do bolsista?

Comentar sobre a qualidade e a quantidade da publicação. Caso não tenha sido gerada nenhuma, os resultados obtidos são recomendados para publicação? Em que tipo de veículo?

5. Comente outros aspectos que considera relevantes no relatório.

6. Parecer Final:

Aprovado ( ) Aprovado com restrições ( ) (especificar se são mandatórias ou

recomendações) Reprovado ( )

7. Qualidade do relatório apresentado: (nota 0 a 5) _____________ Atribuir conceito ao relatório do bolsista considerando a proposta de plano, o desenvolvimento das atividades, os resultados obtidos e a apresentação do relatório.

Data : _____/____/_____.

________________________________________________ Assinatura do(a) Avaliador(a)