Relatorio Teste Germinacao Angico Tamboril

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS FLORESTAIS CURSO: ENGENHARIA FLORESTAL DISCIPLINA: PRODUÇÃO E TECNOLOGIA DE SEMENTES FLORESTAL RELATÓRIO DE AULA PRÁTICA TESTE DE GERMINAÇÃO Alunos: Jessica dos Santos Sá Valter Ferreira Rocha Junior

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS FLORESTAIS

CURSO: ENGENHARIA FLORESTAL

DISCIPLINA: PRODUÇÃO E TECNOLOGIA DE SEMENTES FLORESTAL

RELATÓRIO DE AULA PRÁTICA

TESTE DE GERMINAÇÃO

Alunos: Jessica dos Santos Sá

Valter Ferreira Rocha Junior

SÃO CRISTOVÃO – SE

OUT/2012

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1. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

A dormência é um mecanismo que distribui a germinação no tempo para

favorecer e garantir a sobrevivência das espécies (Popinigis, 1977; Carvalho &

Nakagawa, 1988; Bianchetti, 1991). Sementes dormentes não germinam mesmo

quando os fatores externos necessários ao processo de germinação (água, luz,

temperatura, oxigênio) são favoráveis.

A impermeabilidade do tegumento à água é um tipo de dormência bastante

comum, que tem sido constatado frequentemente em sementes das famílias

Leguminosae, Malvaceae, Geraniaceae, Chenopodiaceae, Convolvulaceae,

Solanaceae e Liliaceae (Kramer & Kozlowski, 1972; Popinigis, 1977; Cícero. 1986).

A dormência causada por fatores inerentes ao tegumento da semente, pode

ser interrompida por escarificação, termo que se aplica a qualquer tratamento que

provoque a ruptura ou o enfraquecimento do tegumento, de modo a permitir a

germinação. Na natureza, esse processo de escarificação envolve a participação e a

interação de microrganismos e temperaturas alternadas, além da atividade de

animais predadores (Carvalho & Nakagawa, 1988).

Em laboratório, diversos métodos têm sido utilizados na superação desse tipo

de dormência, sendo os mais utilizados a embebição em água, a escarificação

mecânica e a escarificação química, principalmente com ácido sulfúrico (Popinigis,

1977; Ramos & Zanon, 1985; Willan, 1990). Cada um desses tratamentos possui

vantagens e desvantagens, de modo que a metodologia de superação de dormência

de sementes de uma espécie deve ser determinada levando-se em conta, a

praticidade e o custo efetivo. Além disso, dentro de um mesmo lote, pode haver

sementes permeáveis e impermeáveis, de modo que o método deve ser efetivo na

superação da dormência, sem prejudicar as sementes não-dormentes.

O tamboril ou orelha-de-negro (Enterolobium contortisiliquum (Vell.) Morong)

é uma espécie da família Leguminosae, nativa do Brasil. A exploração intensiva para

utilização em serrarias, móveis e mesmo construção civil (Alcalay & Amaral, 1982),

tem contribuído para a diminuição das populações naturais. A multiplicação via

sementes é lenta e desuniforme devido ao mecanismo de dormência.

Lêdo (1977), estudando a causa da dormência de sementes dessa espécie,

não constatou a presença de inibidores de germinação nos embriões ou estruturas

circundantes, concluindo que ela é devida à impermeabilidade do tegumento à água.

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Ele comparou tratamentos de escarificação física, água fervente e imersão em ácido

sulfúrico (100%), concluindo ser este último o mais efetivo e destacando a pouca

eficiência da água quente.

Alcalay & Amaral (1982) também trabalharam com ácido sulfúrico,

recomendando, porém, uma concentração de 75%, em contraste com os 100%

utilizados por Lêdo (1977). Já Capelanes (1991) observou 100% de germinação de

sementes dessa espécie após 72 horas de imersão em água, comparado aos 8% de

germinação de sementes não tratadas.

O angico-vermelho (Anadenanthera macrocarpa (Benth) Brenan) é a espécie

de angico com maior abrangência geográfica no Brasil. É uma árvore da família

Mimosaceae (Leguminosae - Mimosoideae), ocorrendo indiferentemente em solos

secos e úmidos (Carvalho, 2003). A sua regeneração natural ocorre por sementes,

apresentando também rebrotação de tocos. Tem produção anual de grande

quantidade de sementes viáveis. Apresenta reprodução vigorosa, rapidez na

germinação, ausência de dormência, e uma alta germinalidade em uma ampla faixa

de temperatura e plantas com resistência ao dessecamento pela presença do órgão

de reserva (Maia, 2004). Segundo Lorenzi (2002), a característica de rápido

crescimento torna esta espécie interessante para ser aproveitada em

reflorestamentos de áreas degradadas, bem como para a produção de lenha e

carvão de alta qualidade.

A qualidade da semente é determinada através da padronização de

metodologias para analises de sementes, utilizando testes de germinação, pureza,

vigor e sanidade (Copeland & McDonald, 1985).

Os testes de germinação são realizados em laboratório sob condições ideais

de temperatura, substrato, teores de umidade para o substrato e outros fatores que

forneçam condições para que o lote de sementes possa expressar seu máximo

potencial de germinação (Figliolia et al, 1993). Onde o índice de velocidade de

germinação (IVG) é um índice calculado a partir dos dados de contagem das plantas

germinadas e que tem por objetivo estabelecer as diferenças na velocidade de

germinação de acessos, grupos ou lotes de sementes.

A avaliação da qualidade de um lote de sementes requer que se utilizem

metodologias padronizadas, de modo que os testes sejam reproduzíveis em

qualquer laboratório, com o mesmo material genético. As Regras para Análise de

Sementes (RAS) estabelecem e especificam então esses padrões a serem

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utilizados, desde o tamanho da amostra até o instrumento para realização das

análises de qualidade de sementes (Marcos Filho, Cicero, Silva, 1987; Carvalho &

Nakagawa, 1988).

2. OBJETIVO

O teste de germinação consiste em determinar o potencial germinativo de um

dado lote de forma a avaliar a qualidade fisiológica das sementes para fim de

semeadura e produção de mudas (Brasil, 1992; Carvalho e Makagawa, 2000 APUD

Ferreira e Borghetti, 2004) em sementes de Angico (Enterolobium contortisiliquum

(Vell) Morong) coletadas no Parque da Cidade (Aracaju-SE) em Novembro de 2011

e Tamboril (Adenanthera macrocarpa (Benth) Brenan) coletadas no Parque da

Cidade (Aracaju-SE) em Dezembro de 2008.

3. METODOLOGIA

O teste foi realizado no Laboratório de Sementes Florestais (DCF-UFS) com

auxilio da mestranda Andreza, instalado no dia 11 de Maio de 2012, onde foram

realizadas quatro repetições por espécie com 20 sementes cada, sendo as

sementes escolhidas aleatoriamente.

Para quebra de dormência das sementes de Tamboril, foi utilizado o método

de escarificação mecânica, com uso de uma lixa na parte oposta ao hilo.

Para minimizar ou evitar contaminações todas as sementes foram imersas em

solução de Hipoclorito de Sódio a 2% por dois minutos, em seguida passaram por

uma tripla lavagem com água destilada.

Substratos recomendados para minimizar a ação de fungos são vermiculita e

areia (Ferreira e Borghetti, 2004), no referido teste o substrato utilizado foi areia de

rio lavada com água destilada, esterilizada a 120oC durante 24h em estufa, onde as

20 sementes de cada repetição foram dispostas em gerbox sobre o substrato em

fileiras 5x4 com devido espaçamento, em seguida uma camada de areia é aplicada

sobre as sementes até que sejam cobertas, totalizando cerca de 240 gramas de

substrato por gerbox. (Figura 1).

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Figura 1. Instalação do Experimento em gerbox com utilização de areia como substrato

Fonte: Acervo Valter Rocha Jr.

Cada gerbox foi devidamente etiquetada e datada. As sementes foram

hidratadas com água destilada, sendo o teor de água controlado de acordo com as

exigências ecológicas da espécie e o substrato utilizado. Para controle de

temperatura foi utilizado um germinador com sistema de controle automático com a

temperatura sendo mantida a 25oC até a finalização do teste (Figura 2).

Figura 2. Sementes prontas para acomodação no germinador Fonte: Acervo Valter

Rocha Jr.

As sementes foram avaliadas num intervalo de 48 ou 72 horas, até o fim do

experimento Para analise e interpretação do teste foram utilizados os conceitos de

plântulas normais (N), anormais (A), deterioradas (D), emissões de radícula (ER),

duras (DU) e resíduo (R). De acordo com as RAS, são consideradas plântulas

normais aquelas que apresentam estruturas essenciais do seu embrião

desenvolvido e em condição de produzir uma plântula normal no campo (Figura 3).

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Figura 3. Plantulas Normais: A - Angico B – Tamboril . Fonte: Acervo Maxmüller Andrade

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES:

Os resultados do teste estão dispostos no Gráfico 1:

Gráfico 1. Sementes Deterioradas (%), Emissões de radícula (%), Normais (%), Duras (%), Anormais (%) e Resíduo (%).

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As sementes de Tamboril apresentaram altos índices de Plântulas normais

(81,25%) e Emissões de radícula (86,25%). Já as sementes de Angico

apresentaram baixos índices de plântulas normais (11,25%) e emissões de radícula

(8,75%).

As sementes de Angico apresentaram altos índices de sementes Deterioradas

(88,75%) e foram as únicas a apresentar plântulas anormais (1,25%). Em

contrapartida as sementes de Tamboril apresentaram um baixo índice de sementes

deterioradas (13,75%).

As sementes de Tamboril finalizaram o teste em 16 dias e as sementes de

Angico em 12 dias. No Angico o Índice de Velocidade de Germinação de Emissão

de Radícula e Plântulas Normais foram de 0,75 e 0,184, respectivamente. No

Tamboril o Índice de Velocidade de Germinação de Emissão de Radícula e Plântulas

Normais foram de 4,817 e 1,414, respectivamente.

As sementes de Tamboril morfologicamente são mais duras e com maior

quantidade de reserva; em relação ao Angico; além de apresentar um mecanismo

de dormência tegumentar, agregando assim a semente melhores características

para germinação em laboratório, mesmo após longos períodos de armazenamento,

os exemplares utilizados apresentavam 42 meses pós-coleta.

A germinação de angico em laboratório se adequa melhor com substrato de

areia ou vermiculita (Melo, 2005). As sementes de Angico apresentaram baixos

índices germinativos, podendo ser explicados por diversas situações:

Contaminação por Patógenos - A ação de fungos sobre sementes em

teste de germinação são um grande problema, devendo-se ter um tratamento sobre

todos os recipientes e um controle rigoroso de umidade.

Qualidade das Matrizes - As matrizes não apresentavam sementes de

boa qualidade.

Período da coleta das sementes - A coleta foi realizada fora do período

ideal para a espécie; imatura ou pós-dispersão (no chão).

Período e condições de Armazenamento – As sementes não

apresentam nenhum mecanismo de dormência e pouco material de reserva, sendo

assim, não recomendado o seu armazenamento por longos períodos.

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5. CONCLUSÕES

O teste aponta a viabilidade de longos períodos de armazenamento das

sementes de Tamboril e sua manutenção do poder germinativo.

As sementes de Angico apresentaram baixos índices germinativos em relação

à literatura, onde a contaminação por patógenos, a qualidade das matrizes, o

período da coleta, o período e condições de armazenamento, podem justificar o

déficit no referido teste.

Embora o RAS prescreva o uso de 400 sementes para o teste de germinação,

isso nem sempre é possível em espécies florestais. Estudos técnicos florestais

adotam o uso de 100 sementes (Ferreira e Borghetti, 2004) A realização de um

segundo teste com uma amostragem maior, pode elucidar os baixos índices

germinativos do Angico.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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