“A maior riqueza do homem

é a sua incompletude.

Nesse ponto sou abastado.

Palavras que me aceitam como

sou – eu não aceito.

Não aguento ser apenas um

sujeito que abre

portas, que puxa válvulas,

que olha o relógio, que

compra pão às 6 horas da tarde,

que vai lá fora,

que aponta lápis,

que vê a uva etc. etc.

Perdoai

Mas eu preciso ser Outros.

Eu penso renovar o homem

usando borboletas.”

Manoel de Barros

Este ano iniciou-se uma nova caminhada em minha vida de professora.

Depois de muito tempo trabalhando com a Turma do Jardim I, me vi as voltas com os

pequeninos da Turma do Maternal B.

O processo de adaptação foi tranquilo no sentido de que a maioria das crianças que

compõem este grupo já estudavam na escola e os alunos novos que chegaram foram

acolhidos com muito carinho por todos nós.

Relatório de grupo – 1º semestre/2019

Turma: Maternal B

Professora: Eliana Pereira Rollo

Professora auxiliar: Victoria Gordon

Coordenadora: Lucy Torres Ramos

Pois bem, “caminhante, não há caminho, o caminho é feito ao andar.”

E para começar ... Vamos brincar!

Sendo assim, diversas situações de brincadeiras foram propostas tanto dentro, quanto

fora da sala de aula. Pensando também na brincadeira livre, na brincadeira que

explora os espaços, que vai além dos limites, que transborda e que liberta.

(...) A capacidade de imaginar e fantasiar inicia com a espécie, porém seu desenvolvimento

está profundamente vinculado às possibilidades que o ambiente oferece para cada um. Ao

brincar as crianças desenvolvem argumentos narrativos, tomam iniciativas, representam

papéis, solucionam problemas, vivem impasses. Criam formas dilatadas da vida: fantasias,

reminiscências. Estimulam a invenção de modos de ser e estar no mundo e ampliam o campo

dos possíveis, fazendo apostas para o futuro. Se as crianças inventam mundos fictícios em

suas brincadeiras, maior disposição para a criação de novos mundos sociais, científicos e

culturais elas poderão vir a ter quando forem adultas." (BARBOSA, 2013, p.220).

Uma rotina foi começando a se compor.

E para minha surpresa e talvez pela pouca experiência com essa idade, nos primeiros

meses de adaptação, meus planejamentos quase não eram cumpridos, as atividades

que planejava não saiam do papel e isso começou a me incomodar.

Existia um outro tempo na nossa rotina, eu sabia que existia, ele se mostrava forte e

implacável e eu atordoada queria cumprir meu planejamento.

Queria fazer as atividades... Mas, aí... tinha o xixi.

“Quero fazer xixi!” “Xixi!” “O xixi está escapando...”

E não era um xixi, eram muitos xixis, cada um na sua hora.

Claro, crianças que até o final do ano usavam fraldas ainda estavam aprendendo a

controlar o xixi e por mais que tivéssemos algumas determinadas horas para ir ao

banheiro, elas, ainda, cada um no seu desenvolvimento estavam aprendendo a

controlar este xixi.

Assim, intuitivamente criamos o “Trem do Xixi”, era uma brincadeira que acontecia

várias vezes ao dia, uma chamada com barulho e apito de trem para lembrar e

oportunizar o momento para quem quisesse ir ao banheiro.

O tempo com os pequenos do Maternal no início do semestre era outro, era o tempo

do cuidado e do acolhimento.

Lavar as mãos, colocar os sapatos, alimentar, organizar a sala, exigia um outro olhar.

Por mais que quisesse o tempo do relógio, não era esse tempo.

Existia sim, o tempo cronológico que marcava as horas e o que era preciso fazer.

Entretanto, era preciso nesse momento, entender que o pedagógico necessário era

viver estes cuidados com qualidade e entrega.

E assim, cabia para nós professoras construir tempo para estar junto e fazer-se

presente, isto é, estar com as crianças, atentos, interessados, tranquilos, solícitos

(Fochi, 2013), acompanhando, estando junto, perguntando, inventando com elas. Ser

presença e guardar espaço para que a criança se torne presença no mundo (Biesta,

2013).

Dessa maneira, entendendo e aceitando que a construção da nossa rotina seria

baseada sim, num planejamento, mas também que (...) as experiências cotidianas de

cuidados educacionais compõem o currículo, como: carinho, beijo, toque, banho,

trocar fraldas, descansar, dormir quando tiver vontade, calçar os sapatos, vestir a

roupa, arrumar a sala, locomover-se, alimentar-se, passear, cantar, escalar, pular,

escorregar, brincar, conversar, pintar, modelar, desenhar, dramatizar, escrever,

pesquisar, dentre tantas outras práticas, intencionais, que na instituição de Educação

Infantil são planejadas e avaliadas, com a mesma importância na configuração

curricular, ou seja, desenhar não se sobrepõe a lavar as mãos para se alimentar e

trocar fraldas é tão importante quanto contar uma história. (CAMARGO, 2013, P.16).

Assim sendo, munidas deste pensamento e certas que todo o tempo investido

livremente pelas crianças nas coisas que lhes dizem respeito, nas coisas que as afetam,

naquilo que as desafia, que as distingue, não é perder tempo e sim é valorizar a criança

na sua inteireza permitindo que elas sejam crianças e vivam as suas infâncias fomos

aguçando nossos olhares para o trabalho com a Turma do Maternal B.

(...) respeitar a especificidade do seu momento de vida infantil significa preservar seu

modo poético de abarcar o vivido, sua maneira imediata e lúdica de enfrentar o

mundo e a si mesma. Implica considerar pedagogicamente o modo singular de cada

criança no seu encontro com o mundo, maravilhando-se ou horrorizando-se criando e

inventando significados que ultrapassam o sentido único, no desafio de conhecer a si

própria, no ato de imaginar, interpretar e constituir realidades. O modo poético é

como a criança expressa seu jeito simultaneamente particular e universal de ser e

estar no mundo, seu jeito de falar do mundo como uma maneira de falar de si.

(RICHTER, 2004, p. 32)

Isso posto, também, fomos criando um mundo poético para marcar esta rotina juntos

delas:

“Piuíiiiii.... Olha o trem do xixi.... Quem vai embarcar conosco nessa viagem até o

banheiro?”

Lavar as mãos com água e sabão!

“Olha lá uma bolinha de sa #

E lá vem outra bolinha de sa # # #

1,2,3 são bolinhas # # #

Eu adoro ver bolinhas de # sa # bão # .” (Palavra Cantada)

Olha lá, o Tic Tac Carambola está chamando a gente...

Era o Relógio apelidado carinhosamente de Tic Tac Carambola que nos chamava para

mudar de atividade.

A Música O Relógio de Vinicius de Moraes foi ouvida e pedida infinitas vezes pelas

crianças.

O Relógio

Passa, tempo, tic-tac

Tic-tac, passa, hora

Chega logo, tic-tac

Tic-tac, e vai-te embora

Passa, tempo

Bem depressa

Não atrasa

Não demora

Que já estou

Muito cansado

Já perdi

Toda a alegria

De fazer

Meu tic-tac

Dia e noite

Noite e dia

Tic-tac

Tic-tac

Dia e noite

Noite e dia

Além das brincadeiras e músicas que foram muitas e que nos permitiu nos agregarmos

como grupo, um momento importante para nós, na rotina, foi a Hora da Roda.

A Roda da Manhã para falarmos bom dia, para observarmos os amigos presentes na

escola, para combinarmos o dia, para uma massagem especial nas mãos, para

ouvirmos música, para cantarmos, para registramos no Livro da Vida, para ouvirmos

histórias, para cada criança, à sua maneira, pedir a palavra e se colocar, enfim...

Muitas histórias foram contadas:

A história da Lagarta Sonolenta nas primeiras semanas de aula desencadeou algumas

brincadeiras, audições de músicas e também observação do bicho in loco. Situação

esta que deixaram algumas crianças com medo, outras curiosas e outras bem corajosas

querendo passar a mão na lagartinha...

Agora, a história que chamou muito a atenção dos pequenos foi a História dos Lobos

de Todas As Cores.

Minha ideia ao trazer esta história era de fazer um trabalho de pintura com as cores

primárias e suas misturas.

Além, de ajudar a elucidar o trabalho com o Calendário das Cores que é uma

metodologia de trabalho na qual cada dia da semana é representado por uma cor e

também por uma imagem que representa a atividade principal do dia.

Estas eram as intenções.

Entretanto, para as crianças, o mais sensacional foi o Lobo.

AH! O Lobo...

O lobo e seus mistérios, o lobo e toda simbologia que ele envolve: o medo, o mal, o

poder, a ástucia e a inteligência.

O lobo foi um deleite para as brincadeiras de faz de conta das crianças.

A partir desta história, outras vieram:

E mais brincadeiras e jogos dramáticos...

As experiências com as tintas e cores foram muito prazerosas para as crianças.

Elas se divertiram pintando os papéis e as mãozinhas...

Continuando o trabalho com as cores, fizemos uma culinária com O Bolo Arco-Íris,

atividade esta que foi interessante para o grupo observar e colocar os ingredientes;

conhecer, mexer nos utensílios de medidas necessários para a preparação de uma

receita; observar a transformação do alimento cru e depois assado e para finalizar...

Experimentar o bolo que por sinal ficou delicioso!

A atividade foi tão interessante que repetimos mais uma vez para deleite dos

pequeninos...

Continuando a pensar na experiência das crianças com as tintas e cores, resolvemos

fazer algumas atividades nas quais as crianças observariam as tintas naturais.

Começamos, também, com uma outra proposta de Culinária: o Suco Verde.

Couve, limão e hortelã! Hum! Fizemos um suco verde delicioso! Para as crianças: “o

suco do Huck!”

Fizemos tinta de açafrão, tinta com terra e tinta de beterraba.

Vivenciamos usar o carvão como instrumento de desenho e pintura... Esta atividade foi

muito divertida para as crianças!

Para encerrarmos o semestre e como parte do Portifólio, as crianças levaram para casa

um cachecol que será tingido por cada uma delas com as cores do Arco-Íris. Atividade

esta que se dará depois da escrita deste relatório.

Outra vivência que foi muito prazerosa para as crianças foi a brincadeira com o

Barangandão Arco-Íris. O barangandão é um brinquedo feito com jornal e papel

crepom. Ele é um brinquedo que gira e faz vários movimentos.

As crianças ficaram encantadas com a manipulação dele, com a observação do seu

balanço no ar e a mistura das cores ao girá-lo.

Mais uma brincadeira muita divertida feita com papel crepom foi a brincadeira de

fazer água colorida! E não foi só uma vez não, as crianças sempre viam o papel crepom

e falavam: “Vamos fazer água colorida?”

Voltando para a história dos Lobos Coloridos e pensando nas cores, no escuro e nos

feixes de luz.

Vivenciamos experiências com O Teatro de Sombra e também brincadeiras com

lanternas.

Tomamos um Chá de Hortelã igualzinho ao Lobo Amarelo da história dos Lobos

Coloridos. Bem, a gente deduziu pela imagem do Livro que ele tomava um chazinho

bem aconchegante na sua página amarela...

Além das atividades ligadas ao assunto do Lobo e das Cores. Outras tantas

aconteceram...

Feitura e brincadeira com massa de modelar.

Aula de Educação Física com a Professora Andrea.

Aula de Música com o Professor Saulo.

Projeto de Leitura do Quinto Ano: as crianças desta turma iam contar história para a

gente! Esta experiência foi tão enriquecedora para as crianças que elas por diversas

vezes brincaram de contar histórias também.

Pensando no Tema do Ano da escola: Tinha um lixo no meio do caminho: o que eu

(não) faço com o que nos resta? , vivenciamos algumas atividades ligadas a este tema.

Colocamos um lixo dentro da sala e conversamos com o grupo sobre os lixos limpos e

sujos. A ideia era fazer com que as crianças, no dia a dia, começassem a separar o lixo

sujo do lixo reciclável.

Plantamos com terra da composteira e potinhos de iogurte os feijões doados por um

amigo do grupo.

Este dia tivemos uma experiência interessante com as minhocas que estavam na terra.

A Carol, mãe do Benjamim, veio até nós falar sobre o lixo no mar. As crianças atentas

escutavam a sua fala e observavam com curiosidade as imagens e os animais trazidos

por ela.

Outra experiência enriquecedora para as crianças e também para nós professoras foi a

vinda do Flávio, arte educador, que nos trouxe músicas e danças em duas manhãs na

escola.

E ele voltou, no Dia da Família, com contação de histórias e vivências.

Este dia, também foi muito especial porque toda comunidade escolar esteve envolvida

numa manhã gostosa com um delicioso piquenique e boas conversas, além do resgate

do Tema do Ano com as estações representando os “Cinco Rs” ((Reaproveitar/Reciclar,

Reduzir, Repensar, Ressignificar e Recusar) e o Desafio Da Árvore, no qual cada equipe

tinha que construir uma árvore usando os materiais de reaproveitamento.

A Turma do Maternal B se fez presente e atuante na construção de uma das árvores!

Carnaval com o Bloco Cupinzeiro.

Visita à Biblioteca para escolha, apreciação de livros e contação de histórias.

Piqueniques no espaço da escola.

E a nossa tradicional e maravilhosa Festa Junina organizada com muito empenho e

carinho por todos da escola.

E para nossa dança não podia faltar a brincadeira com os lobos, as lagartas e as

vivências com o Flávio.

Brincando com Alegria

Brincar e transformar a vida

Da barriga de um lobo

Uma lagarta se formou

E na transformação a borboleta voou...

A voar, a voar,

Borboletas nas ondas do mar.

E nessa brincadeira de se transformar

Uma peneira chegará

E junto com os maternais

Vamos todos brincar e dançar!

E assim em ritmo de festa nos despedimos deste primeiro semestre que fora cheio de

surpresas para a professora que aqui vos fala.

Por isso, deixo registrado o meu eterno agradecimento à Victoria, minha amiga e

companheira de trabalho. Obrigada pela parceria e pelo profissionalismo durante a

minha ausência em alguns momentos deste semestre!

Obrigada à escola, à minha coordenadora e aos queridos pais pela acolhida!

Aos pequeninos, ah...!

Eles são o motivo da alegria e de todo este trabalho realizado!

“Eu fico com a pureza

Da resposta das crianças

É a vida, é bonita e é bonita...

Gonzaguinha

Desejo a todos um ótimo descanso e um inverno bem aconchegante!

Referência Bibliográfica

BARBOSA, Maria Carmem. Tempo e Cotidiano – tempos para viver a infância. Leitura:

Teoria & Prática. Campinas, v. 31, n. 61, p. 213-222, nov. 2013.

Diretrizes Curriculares da Educação Básica para a Educação Infantil : um processo

contínuo de reflexão e ação : Prefeitura Municipal de Campinas, Secretaria Municipal

de Educação, Departamento Pedagógico / Organização : Miriam Benedita de Castro

Camargo / Coordenação pedagógica: Heliton Leite de Godoy. – Campinas, SP, 2013.

Histórias lidas:

A Árvore Magnífica - Nick Bland – Stephen Michael King

A Bruxa Salomé – Audrew Wood e Don Wood

A Casa Sonolenta – Audrew Wood e Don Wood

A História dos Lobos de Todas as Cores – Meneer Zee/Gitte Vancoillie

Boa Noite, Lagarta Sonolenta - Patrícia Hegarty e Thomas Elliott

Bruxa, bruxa venha à minha festa – Arden Druce e Pat Ludlon

Minha professora é um monstro - Peter Brown

Nada como o lar – Márcia Honora

O Grúfalo – Júlia Donaldson/ Axel Scheffler

O Lobinho Bom – Nadia Shireen

O Lobo Voltou – Geoffroy De Pennart

O Menino Azul – Cecília Meireles

O Urso Rabugento – Nick Bland

Rápido como um gafanhoto – Audrew Wood e Don Wood

Cds ouvidos e sugeridos

Arco de Noé

Adriana Partimpim

Crianceiras – Poesias de Manoel de Barros musicadas por Márcio de Camillo.

Grupo Rodapião – Dois a Dois