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1 Renata Alencar Arte da Capa: Ysis dos Santos Cobra

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Renata Alencar

Arte da Capa:

Ysis dos Santos Cobra

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CAPÍTULO 09

Trégua...?

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—Watanabe Hiiro—

─ Droga, será que eles não viram que a luz ainda estava acesa? ─ a

Ootsuka reclama. Observo-a abrir sua mochila, e vasculhá-la em

procura de algo.

Após um minuto, ouço um tilintar. A representante de classe sorri

confiante, segurando um pingente com duas chaves que acabara de

retirar da mochila.

─ Eles me deram a chave dessa sala e a do clube de literatura. O clube

fica no primeiro andar, então... Acho que dá pra pular da janela.

─ E qual o próximo passo? Escalar o portão? É meio alto...

─ Você tem alguma ideia melhor? ─ ela me pergunta, levantando a

sobrancelha.

─ Não, mas sair nessa chuva é um pouco perigoso. A água pode nublar

nossa visão epodemos escorregar.

─ É verdade... ─ ela suspira, derrotada. ─ Certo. Vamos para o clube,

esperamos a tempestade passar, então daremos o fora daqui!

Ootsuka abre a porta e nós dois descemos para o primeiro andar. Eu

nunca havia entrado em nenhuma das salas das atividades extras até

agora, então fiquei um pouco surpreendido pelo espaço.

Do lado direito do cômodo, há duas estantes compostas por livros e

revistas. No centro, há duas mesas quadradas com almofadas ao seu

redor. Há alguns puffs espalhados pela sala, e até mesmo um gigante

urso de pelúcia, que prefiro não perguntar como veio parar aqui.

Há também um pequeno armário fechado, quase escondido no fundo

do cômodo. Ootsuka anda até ele e se abaixa, abre a porta e retira o que

parecem ser dois sacos de biscoito.

─ Você gosta de salgadinhos sabor cebola?

─ Acho que sim...?

─ Ótimo, porque o sabor queijo e presunto já é meu. ─ a representante

então se levanta e joga o pacote em minha direção.

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─ Obrigado.

Ootsuka não responde o meu agradecimento. Ela simplesmente vai

até uma das almofadas, se senta e saboreia os salgadinhos em silêncio.

Decido me sentar também, com o cuidado de manter certa distância da

minha colega de classe. Não sei quando ela vai parar de ser legal e me

atacar novamente, então é melhor prevenir do que remediar.

Enquanto isso, a intensidade da chuva só aumenta, com alguns raios e

trovões aparecendo de vez em quando.

A representante então se levanta e vai até uma das estantes,

recolhendo o que parece ser uma revista. Só quando ela se senta

novamente, é que consigo enxergar o título na capa.

Espera aí... Ela vai ler Science Fiction Lovers Became Time Travelers! ?

─ O que você está olhando? ─ Ootsuka me inquere, ao perceber que a

estava acompanhando com o olhar.

─ Nada, é só que eu não sabia que existiam mangás aqui no clube de

literatura e poesia. E que logo você gostava de lê-los.

─ Logo eu...? Sim, para a sua surpresa, eu gosto de ler mangás. Só

que de um gênero bem diferente do que você deve estar acostumado.

─ É aí que você se engana. Sou o maior fã de Science Fiction Lovers

Became Time Time Travelers existente nesse país. ─ Ootsuka dá uma

risadinha ao me ouvir falar com tanta convicção.

─ É sério? Então você pode me dizer o que acontece na página 13,

capítulo 17, volume 3?

─ A máquina do tempo quebra e Nejima fica preso em uma linha

temporal diferente da dele.

─ E como ele reconheceu que a linha temporal era diferente?

─ Ele foi até a “casa” dele e descobriu que os pais tinham um papagaio,

provavelmente comprado ilegalmente, chamado de Nejima.

─ Fácil demais. Rolaram muitos memes na internet sobre essa parte. ─

ela diz, coçando o queixo. ─ Então, você pode me dizer na página 28,

capítulo 2 do volume 4?

─ Nejima e Himeko viajam até o século 18 para encontrar um dos

cientistas que eles desconfiam terem participado da construção da

máquina do tempo. E então o maior plot twist da história acontece no

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capítulo seguinte, quando-

─ Ei, ei, ei! Pode parar por aí. Ainda não li capítulo seguinte. Não me dê

spoilers.

─ Então, já te convenci?

─ Bem, isso é um pouco surpreendente. ─ ela diz, fechando o mangá e

colocando-o no chão ao seu lado.

─ Qual é?! Você realmente chegou a acreditar que eu só lia eroges? ─

Sinceramente, não consigo conter minha revolta.

─ Era a impressão que dava com todo aquele papo de “garotas 3D” e

“não leve meu precioso mangá ecchi embora.” ─ Ootsuka tenta imitar a

minha voz, mas o resultado é ultrajante. E um pouco engraçado.

─ Fala sério! Eu não sou tão pervertido. Admito que sou um pouco,

talvez medianamente, mas não tanto assim!

Meu súbito ataque de honestidade faz Ootsuka cair na gargalhada.

Como um efeito dominó, eu começo a rir também e nós ficamos assim

por alguns minutos.

─ Eu admiro a sua sinceridade.

─ Muito obrigado. E eu admiro... sua capacidade de ser legal, quando

estamos sozinhos.

─ O que...?

Droga. Será que eu estraguei tudo?!

─ E-eu sinto muito-

─ Está tudo bem. ─ Ootsuka corta meu pedido de desculpas, vestindo

uma expressão séria no rosto. ─ Eu fui uma idiota no dia do fliperama.

Completamente idiota.

─ Não precisa se preocupar com isso. Eu fui idiota com você algumas

vezes também.

─ E eu estava magoada por causa da Akemi. Ela está apaixonada por

você e desejou tanto aquele dia... Ela estava ansiosa para passar algum

tempo sozinha com você.

─ Eu sei. Foi mal pelo o que Makoto fez. Nunca tive intenção de

transformar nosso passeio em um encontro de casais.

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Depois de eu ter falado isso, ela me olha de jeito estranho, mas logo

volta ao normal.

─ É claro. Foi presunção minha.

─ Você realmente se importa com a sua amiga, mas eu acho que já está

na hora de contar a verdade pra ela, não acha?

─ A verdade...?

─ É. Sobre eu não gostar dela, pelo menos não do jeito que ela gostaria.

Keiko me olha com uma expressão triste no rosto e diz:

─ Não sei se tenho coragem...

─ Vai ser pior se continuar fingindo que existe alguma chance entre nós

dois.

─ Você está certo. Vou tentar falar com ela de uma maneira sutil... Só

espero que ela não fique muito chateada.

Nós ficamos tão distraídos na conversa que não percebemos a

tempestade amansar.

─ A chuva está parando. ─ comento, enquanto me aproximo da janela.

─ Sim. Melhor nos prepararmos para ir embora.

Ootsuka pega a sua mochila e eu a minha. Nós andamos até a janela e

arrastamos o vidro.

─ Tem certeza que quer pular? ─ digo, olhando para baixo. ─ Você

machucou o seu tornozelo recentemente, pode acabar ferrando ele de

novo.

─ Alguma sugestão?

─ Eu posso pular na frente e, sei lá, te pegar quando for sua vez? Quer

dizer, te pegar no sentido de segurar e não deixar cair, e não no sentido

malicioso da palavra. ─ droga, posso sentir minhas bochechas

esquentarem. Devo estar parecendo ridículo.

─ Então devo me jogar diretamente nos seus braços, príncipe

encantado? Anda logo, vai na frente.

Obedeço os comandos da representante, e pulo da janela. Caio no chão

de joelhos, me erguendo logo em seguida.

─ Pode descer! ─ digo, levantando os braços. Sério, ainda bem que

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ninguém está nos filmando agora.

─ Certo... Coragem, Keiko... ─ ouço a dizer para si mesma. ─ 3... 2...1...

Ela salta direto para os meus braços e eu a seguro, sem a deixar cair.

Por um segundo, inalo um aroma agradável de shampoo feminino e

acabo me deixando ser distraído por ele.

─ Pronto! ─ ela diz, se desvencilhando de mim. Suas bochechas estão

um pouco coradas e eu me contenho de fazer alguma piadinha sobre

isso.

Juntos, andamos até o portão de entrada da escola.

─ Tome cuidado, o metal deve estar escorregadio.

─ Claro. V-você pode me dar impulso?

Me agacho e entrelaço as mãos em forma de rede para a Ootsuka

apoiar o pé.

─ Se tentar olhar para a minha calcinha, eu te mato.

─ Prometo que não vou. ─ digo, rindo de seu aviso mortal.

Com certa dificuldade, ela consegue escalar até o outro lado sem se

atrapalhar e dar de cara com o chão.

─ Nós estamos livres agora. ─ digo, ao terminar minha própria

escalada.

─ Droga! Eu sou tão estúpida! ─ minha colega tampa o rosto com as

mãos.

─ O que foi, o que aconteceu?

─ Esqueci completamente sobre a minha bicicleta.

─ Quer que eu tente pegar?

─ Não, você vai acabar se machucando. Acho que ninguém vai assaltar

uma escola à noite em busca de uma bicicleta, afinal. O jeito é ir

embora a pé.

─ Você não mora meio longe? É um pouco perigoso...

─ Acha que não posso tomar conta de mim mesma? ─ ela me olha de

um jeito cínico.

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─ Só tome cuidado. ─ eu me ofereceria para acompanha-la, mas já

percebi que com o orgulho da Ootsuka ninguém brinca.

─ Certo. Então, acho que ficamos por aqui... Até, Watanabe... ─ ela se

despede, mas antes que siga o caminho para a casa, decido perguntar

uma última coisa.

─ Ei, Ootsuka!

─ O que foi?

─ Aquele lance de que “nunca seremos amigos” ainda está valendo?

Ela dá um sorriso de lado e responde:

─ Depende. Você vai me comprar o novo volume de Science Fiction

Lovers Became Time Travelers?

— Ootsuka Keiko—

Sou a garota mais imbecil de todas as galáxias conhecidas e

desconhecidas pelo homem.

Que belo jeito de cortar o mal pela raiz, hein, Keiko? Tornando-se

amiga dele oficialmente! Como jardineira, você é uma ótima

representante de classe!

E além de tudo, tomei para mim mesma a missão de contar à Akemi

que o Watanabe não gosta dela. Não sei se vou conseguir ver minha

amiga ter todos os seus sonhos de paixonite juvenil destroçados na

minha frente.

A culpa é sua. Quem mandou não contar a ela sobre a confusão do dia

dos namorados?

Cale a boca, consciência!

É, não vai ter escapatória dessa vez. E o Watanabe tem razão, enrolar

mais só vai fazer com que Akemi crie ainda mais esperanças.

Deixo o meu corpo afundar no colchão, enquanto encaro o teto. Foi

um dia bastante cansativo, fiz um monte de escolhas estúpidas, mas

por algum motivo, no fundo, eu não me sinto tão mal assim.

Quem diria que eu encontraria outro fanático por Science Fiction Lovers

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Became Travelers e que seria justamente o Watanabe? Talvez, nós

realmente possamos ser amigos.

Apenas amigos, lembra minha consciência.

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FICHA TÉCNICA

Roteiro │ RENATA ALENCAR

Ilustração │ YSIS DOS SANTOS COBRA

Revisão │ DIOGO LIMA

Upload │ NOVELAND

@NoveLandOficial

Facebook.com/noveland

BR

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Um anjo desce à Terra e desafia a humanidade a um jogo. Neste jogo, as emoções negativas da humanidade tomam forma, e apenas algumas pessoas com poderes especiais, chamadas de “jogadores”, podem detê-las. Sem um objetivo claro num mundo à beira do Apocalipse, uma dupla se ergue para desafiar todas as possibilidades e dar um fim à tudo.

Autor(a): Diogo Lima

Ilustração: Aline Nyoh

Gêneros: Ação, Fantasia, Seinen

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