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FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO
ESCOLA DE GOVERNO PROFESSOR PAULO NEVES DE CARVALHO
CURSO SUPERIOR DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Análise da Implantação do Processo Gestão Estratégica no Sistema de Defesa Social do
Estado de Minas Gerais, por meio do Balanced Scorecard
Renata Ferreira Leles Dias
Belo Horizonte
2009
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Renata Ferreira Leles Dias
Análise da Implantação do Processo Gestão Estratégica no Sistema de Defesa Social do
Estado de Minas Gerais, por meio do Balanced Scorecard
Monografia apresentada à Escola de Governo Professor Paulo Neves de Carvalho da Fundação João Pinheiro como requisito parcial para obtenção do título de bacharel em Administração Pública
Professor: Elisa Maria Pinto da Rocha
Belo Horizonte
2009
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RESUMO
Dentro da perspectiva mais ampla de Gestão Estratégica este trabalho apresenta a experiência
de utilização da ferramenta Balanced Scorecard (BSC) no âmbito do Sistema de Defesa
Social. Existem muitos estudos sobre a implantação de práticas gerencias inovadoras
principalmente orientadas à iniciativa privada. Contudo, nos últimos anos, o setor público
vem sendo pressionado a melhorar seu desempenho e demonstrar maior transparência em suas
ações. Neste contexto, algumas organizações públicas têm buscado no setor privado,
ferramentas gerenciais capazes de tornar o serviço público mais competente e orientado ao
cidadão. Este trabalho procurou analisar a experiência de implantação do BSC no Sistema de
Defesa Social. Para tanto, foi realizada uma revisão da literatura que delimitou conceitos e
definições acerca do processo de gestão estratégica e da ferramenta BSC. Além disso, buscou-
se caracterizar o cenário de reforma administrativa do Estado no qual o processo de gestão
estratégica e a utilização da ferramenta BSC se inserem, analisando como o Estado de Minas
Gerais vem aderindo às concepções da Administração Pública Gerencial. Em seguida, foi
realizada pesquisa documental para o detalhamento do processo de alinhamento estratégico do
Sistema de Defesa Social através da utilização da ferramenta de gestão estratégica BSC. Por
fim, foram analisados os resultados deste processo que demonstraram em que medida a
experiência do Sistema de Defesa Social seguiu as premissas apontadas na literatura para a
implantação do BSC como ferramenta de gestão estratégica.
PALAVRAS-CHAVE:
Gestão Estratégica, Balanced Scorecard no Setor Público, Sistema de Defesa Social, Estado
de Minas Gerais
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ABSTRACT
Within the broader perspective of strategic management this paper presents the experience of
using the tool Balanced Scorecard (BSC) under the System of Social Protection. There are
many studies about the implementation of innovative management practices mainly oriented
to the private sector. However, in recent years, the public sector is being pressed to improve
their performance and demonstrate greater transparency in their actions. In this context, some
public organizations have sought in private sector management tools capable of making the
public more responsible and oriented to the citizen. This study sought to examine the
experience of implementing the BSC in Social Protection System. For this, we performed a
literature review to define concepts and definitions about the process of strategic management
tool and the BSC. Furthermore, we tried to characterize the stage of administrative reform of
the State in which the process of strategic management and use of the tool BSC fall,
examining how the state of Minas Gerais is adhering to the concepts of Public Administration
Management. Then, research was conducted to document the details of the strategic alignment
of the System of Social Protection through the use of the BSC strategic management tool.
Finally, we analyzed the results of this process that demonstrated the extent to which the
experience of the System of Social Protection followed the assumptions outlined in the
literature for the implementation of the BSC as a tool for strategic management.
KEYWORDS:
Strategic Management, Balanced Scorecard in the Public Sector, System of Social Protection,
State of Minas Gerais
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LISTA DE ILUSTRAÇÕES
FIGURAS
Figura 1: Etapas do Processo de Gestão Estratégica......................................................... 23
Figura 2: BalancedScorecard: etapa de um processo contínuo........................................ 25
Figura 3: Mapa Estratégico de Minas Gerais.................................................................... 28
Figura 4: Cadeia de relações de causa e efeito entre as quatro perspectivas......................32
Figura 5: As quatro perspectivas do Balanced Scorecard..................................................36
Figura 6: Componentes do Balanced Scorecard................................................................40
Figura 7: Princípios da organização focalizada na estratégia............................................ 41
Figura 8: Relações de Causa e Efeito no BSC Adaptado ao Setor Público........................53
Figura 9: Organograma da Secretaria de Defesa Social.....................................................61
Figura 10: Estrutura do Colegiado de Integração do Sistema de Defesa Social................62
Figura 11: Sistema de Defesa Social .................................................................................64
Figura 12: Agenda de Responsabilidade da Dimensão Estratégica...................................76
Figura 13: Mapa Estratégico do Sistema de Defesa Social................................................77
QUADROS
Quadro 1: Principais Diferenças entre a Gestão Pública Burocrática e a Gerencial..........17
Quadro 2: Principais Diferenças entre o BSC original e o BSC adaptado ao Setor Público
............................................................................................................................................54
Quadro 3: Indicadores Finalísticos da Área de Resultado de Defesa Social......................71
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.......................................................................................................................6
1.1 Objetivos...............................................................................................................................8
1.2 Justificativa...........................................................................................................................8
2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS.......................................................................... 11
3 REVISÃO DE LITERATURA............................................................................................. 14
3.1 Reforma Administrativa do Estado.................................................................................... 14
3.2 Gestão Estratégica: Conceitos e Ferramentas.....................................................................20
3.2.1 Gestão Estratégica em Minas Gerais...............................................................................26
3.2.2 BSC como Ferramenta de Apoio ao Processo de Gestão Estratégica............................30
3.2.3 Considerações sobre a Adaptação do BSC ao Setor Público.........................................45
4 CARACTERIZAÇÃO GERAL DO SISTEMA DE DEFESA SOCIAL.............................56
5 A EXPERÊNCIA DE IMPLANTAÇÃO DO BSC NO SISTEMA DE DEFESA SOCIAL 66
5.1 Descrição do Alinhamento Estratégico da Integração do Sistema de Defesa Social........66
5.2 Análise da Implantação do Balanced Scorecard no Sistema de Defesa Social do Estado de
Minas Gerais.............................................................................................................................79
5.2.1 Análise dos Componentes do BSC no Sistema de Defesa Social...................................79
5.2.2 Cinco Princípios da Organização Focalizada na Estratégia............................................84
6 CONCLUSÕES.....................................................................................................................88
REFERÊNCIAS 93
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1 INTRODUÇÃO
A ênfase na eficiência e eficácia das ações do governo, conjugadas a uma visão de
profissionalização da burocracia estatal fazem com que um conjunto de conceitos, antes
limitados à área privada, seja utilizado crescentemente como novo meio de respostas às
demandas sociais. Assim, influenciado por um movimento de reforma administrativa, o setor
público vem buscando novas ferramentas que introduzam os preceitos de uma gestão
orientada a resultados, através da utilização de práticas da administração privada, na tentativa
de tornar o serviço público mais hábil e orientado ao cidadão (GHELMAN, 2006).
Neste contexto, o processo de gestão estratégica surge como uma oportunidade de respostas
às expectativas sociais por melhores serviços públicos, ou seja, como um conjunto de
procedimentos capaz de contribuir com o processo de planejamento governamental, no
sentido de aperfeiçoar as práticas de estabelecimento de metas, monitoramento e avaliação de
resultados.
As premissas envolvidas no conceito de gestão estratégica mostram-se amplamente
difundidas no âmbito da iniciativa privada e cada vez mais assumem lugar de destaque no
ambiente público no que diz respeito a alinhamento estratégico, medição de resultados e
feedback. Entretanto, tal abordagem ainda apresenta-se incipiente nos processos gerenciais
executados pela Administração Pública (PRIETO et al, 2006).
Desta forma, tendo em vista a abordagem mais ampla sobre gestão estratégica, o trabalho
pretende descrever a experiência do processo de alinhamento estratégico realizado pelo
Sistema de Defesa Social através da utilização do Balanced Scorecard, apontando em que
medida tal processo segue os preceitos contemplados na literatura para a implantação da
ferramenta.
No Brasil, de acordo com Leite (2008, p. 46), a aplicação do BSC como ferramenta para
implantação do processo de gestão estratégica no âmbito da Administração Pública ainda é
considerada incipiente, muito embora possam ser enumeradas diversas organizações que
adotaram a ferramenta como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), o
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Instituto Nacional do Câncer (INCA), a Secretaria de Gestão do Ministério do Planejamento
(SEGES) e várias secretarias do poder executivo do Governo de Minas Gerais como a
Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão (SEPLAG), a Secretaria de Estado de Ciência,
Tecnologia e Ensino Superior (SECTES), a Secretaria de Estado de Saúde (SES) e a
Secretaria de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (SEAPA).
O que se observa geralmente, é que a construção de instrumentos de planejamento, execução
e monitoramento de ações em busca de resultados e objetivos consistentes a determinada
estratégia, é percebida por grande parte dos gestores como simples atividade e não como um
processo contínuo de gestão. Ao observar a execução de processos estratégicos no âmbito
público, percebe-se que por vezes são investidas quantidades enormes de recursos para a
realização de um plano de ações que contemple as mais variadas demandas sociais, mas que
ao final acaba por se transformar em conjunto de documentos de pouca utilidade para os
propósitos mais amplos de melhoria da gestão pública (PEDRO, 2004).
Neste contexto, o alinhamento estratégico da integração do Sistema de Defesa Social pode
gerar duas diferentes situações: um ambiente em que o processo de gestão estratégica passa a
se configurar como elemento facilitador do processo de tomada de decisão no âmbito dos
órgãos que integram a área de Defesa Social, contribuindo positivamente para a integração
dos mesmos. Ou uma segunda situação, aquela em que a implantação da ferramenta BSC para
a construção do processo de gestão estratégica é percebida como simples projeto, ligado a
criação de um número extenso de objetivos abrangentes e desprendidos de quaisquer metas de
desempenho, incapazes de orientar, portanto as ações da política de integração do Sistema de
Defesa Social.
Desta forma, tanto pela importância que o processo de gestão estratégica vem assumindo
entre as organizações e, principalmente, pela necessidade de melhor compreender e utilizar-se
desta nova abordagem no âmbito da Administração Pública, optou-se por pesquisar como tal
processo vem sendo implantado nas organizações governamentais, descrevendo
especificamente a experiência do Sistema de Defesa Social na utilização da ferramenta BSC
na execução do alinhamento estratégico da integração.
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1.1 Objetivos
O objetivo geral do estudo é analisar a recente experiência de implantação do Balanced
Scorecard no Sistema de Defesa Social do Estado de Minas Gerais.
Para tanto, torna-se necessário:
a) sistematizar conceitos e definições sobre o processo de gestão estratégica e sobre a
ferramenta Balanced Scorecard (BSC), enfatizando sua utilização no Setor Público;
b) identificar em que medida a experiência de implantação do BSC no Sistema de Defesa
Social retrata os componentes do BSC, conforme apontado na literatura.
Assim, esta monografia procura discutir aspectos que podem ser retratados pelos seguintes
questionamentos: (a) Que componentes ou perspectivas deveriam ser retratados pelo BSC
quando de sua utilização em organizações públicas? (b) Em que medida a experiência de
implantação do BSC no Sistema de Defesa Social do Estado de Minas Gerais retrata os
aspectos apontados na literatura sobre os componentes do BSC e princípios da organização
focalizada na estratégia? (c) Em que momento do processo de gestão estratégica encontrar-se-
ia o Sistema de Defesa Social?
Espera-se com este trabalho contribuir para ampliação do conhecimento sobre a implantação
dos processos relacionados à gestão estratégica por meio da utilização da ferramenta BSC na
administração pública.
1.2 Justificativa
A ampliação do conhecimento no tocante a modelos gerenciais trouxe para empresas e
governos a oportunidade de aperfeiçoar seus resultados. Neste contexto, o processo de gestão
estratégica surge como um dos mecanismos empregados no aprimoramento da administração
de recursos em busca de melhores resultados. O balanced scorecard, por sua vez, é um dos
instrumentos utilizados para implantação do processo estratégico (ALDAY, 2000).
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A Administração Pública constitui-se campo que requer a ampliação da eficiência das ações
governamentais, visando a melhoria da prestação dos serviços ao cidadão. Temáticas como
planejamento, controle e monitoramento de atividades para alcance de metas assumem uma
forma prática e visível fazendo com que o Estado busque ferramentas que possam responder a
crescente exigência social por meio do controle e mensuração da eficácia, produtividade e
efetividade da utilização dos recursos públicos (BORGES, 2008).
Atualmente, estamos frente ao esgotamento de um modelo de Estado provedor, em larga
escala, de necessidades e demandas sociais sempre crescentes e em nível cada vez mais
sofisticado, circunscrito, entretanto, por uma oferta limitada de recursos. Tal fato induz à
busca por novas propostas que possam reduzir custos e aumentar a qualidade dos serviços
públicos, de modo que se possa direcionar a formulação de políticas públicas e intervir de
forma melhorada na complexa rede de relações que envolvem a sociedade (GHELMAN,
2006).
Neste sentido, é fundamental que haja um avanço contínuo da Administração Pública no que
diz respeito à sua capacidade de gerenciamento, com maior transparência das ações do
governo e ampliação de sua capacidade de resposta às demandas sociais, emergindo, neste
contexto, o processo de gestão de estratégica e a utilização da ferramenta BSC como
possibilidades de aperfeiçoamento das organizações públicas (BORGES, 2008).
Este trabalho está estruturado em seis capítulos. Neste primeiro capítulo é fornecida uma
visão geral a respeito dos temas abordados ao longo do trabalho e a problemática que norteou
todos os outros itens, bem como os objetivos que se pretende atingir e os motivos que dão
relevância a este estudo. No Capítulo 2 é descrita a estrutura metodológica que embasa a
pesquisa, onde é detalhada sua caracterização. No Capítulo 3 é apresentada a fundamentação
teórica que permite contextualizar aspectos importantes para a análise da experiência de
implantação do BSC no âmbito do Sistema de Defesa Social. Para tanto, foi feita pesquisa
bibliográfica que apontou as principais características do ambiente público em que se insere o
processo de gestão estratégica, sistematizando os conceitos e definições deste processo e da
ferramenta balanced scorecard. O Capítulo 4 apresenta a caracterização geral da estrutura do
Sistema de Defesa Social. No Capítulo 5 é descrito o processo de alinhamento estratégico
realizado pelo Sistema de Defesa Social e analisados os resultados da experiência de
implantação do BSC nesta estrutura. Finalmente, no Capítulo 6 são apresentadas as
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considerações finais do estudo em que se busca contribuir para a implantação do processo de
gestão estratégica por meio do BSC na política de integração do Sistema de Defesa Social.
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2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
De acordo com OLIVEIRA (2004, p. 56) metodologia é o estudo dos meios de investigação
que procuram delimitar um problema, de forma a analisar, criticar e interpretar fenômenos
observáveis, proporcionando o suporte científico necessário à execução de determinado
estudo. Nesta perspectiva, o método pode assim ser entendido, como um conjunto de
procedimentos que levam ao entendimento da realidade, ou seja, a forma pelo qual são
alcançados objetivos preliminarmente estabelecidos.
A escolha do instrumental metodológico a ser empregado em uma pesquisa depende
diretamente dos elementos que serão investigados, dos recursos financeiros e humanos
disponíveis, e, principalmente, do problema proposto para o estudo. Os métodos e técnicas
utilizados devem adequar-se a delimitação do objeto, das hipóteses formuladas e das
informações disponíveis, não se limitando à vontade do pesquisador, mas a necessidade do
caso em estudo (MARCONI; LAKATOS, 2007).
A metodologia de pesquisa possui pelo menos três diferentes abordagens de acordo com
OLIVEIRA (2004, p. 114): estudo descritivo, a abordagem quantitativa e abordagem
qualitativa.
O estudo descritivo abrange aspectos gerais de modo a permitir ao pesquisador uma melhor
compreensão das variáveis e fatores que influenciam no comportamento do objeto em análise.
A abordagem quantitativa pretende quantificar dados e informações coletados com o emprego
de recursos e técnicas estatísticas para descobrir a relação entre as variáveis, bem a relação de
causalidade entre tais elementos. Por sua vez, a abordagem qualitativa é usualmente
empregada no desenvolvimento de situações complexas, pois permite descrever determinadas
hipóteses e processos dinâmicos que não podem ser investigados por um método quantitativo,
ou seja, esta abordagem não tem a pretensão de medir já que a natureza do problema possui
domínios não quantificáveis (OLIVEIRA, 2004).
Para Tripodi e outros citado por Marconi e Lakatos (2007, p. 84) os tipos de pesquisa
dividem-se em três grandes grupos, a seguir descritos.
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Quantitativo-Descritivas: que consistem em pesquisas cuja finalidade é o delineamento ou
análise das características de determinado fenômeno utilizando-se métodos formais de
estatísticas para comprovação de hipóteses;
Exploratórias: que são investigações voltadas para a formulação de questões com três
diferentes objetivos: desenvolver hipóteses, aumentar a familiaridade do pesquisador com o
assunto e modificar ou clarificar conceitos. Podem ser encontradas descrições tanto
quantitativas como qualitativas do objeto de estudo.
Experimentais: são pesquisas empíricas que visam testar hipóteses que dizem respeito a
relações de causa e efeito e utilizam sempre projetos experimentais com seleção de amostras,
grupo de controle e manipulação de variáveis independentes.
De modo geral, este trabalho, busca descrever o processo de implantação e uso do Balanced
Scorecard como ferramenta de gestão estratégica no Sistema de Defesa Social podendo ser
classificado como exploratório e de caráter descritivo, cujo resultado esperado é aumentar o
conhecimento sobre as experiências de implantação de ferramentas de gestão estratégica no
setor público, proporcionando maior familiaridade com o tema.
A pesquisa caracteriza-se ainda como qualitativa, e visa descrever os componentes de uma
ferramenta gerencial e suas inter-relações de significados, analisando sua utilização no
processo de alinhamento estratégico do Sistema de Defesa Social.
O levantamento de dados de variadas fontes é intrínseco a efetivação de qualquer estudo e é
realizado com intuito de coletar informações acerca do objeto de interesse (MARCONI;
LAKATOS, 2007, p. 62). A obtenção de dados pode ser realizada por meio de três
procedimentos ou técnicas: pesquisa bibliográfica, pesquisa documental e contatos diretos.
A pesquisa bibliográfica corresponde ao apanhado geral de todas as diferentes contribuições
que já foram produzidas sobre determinado fenômeno ou assunto e abrange toda a literatura
disponível e já tornada pública (OLIVEIRA, 2004, p. 119). A pesquisa documental
caracteriza-se pela coleta de dados em documentos, tais como: arquivos oficiais, memórias de
reuniões, atas, relatórios, decretos, leis, etc. Já os contatos diretos ou pesquisa de campo são
levantamentos realizados no próprio local onde o fenômeno ocorre; este tipo de coleta de
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dados consiste na observação dos fatos e registro das variáveis consideradas relevantes para a
análise do objeto em estudo (MARCONI; LAKATOS, 2007, p. 71).
Os procedimentos utilizados na elaboração desta monografia foram a pesquisa bibliográfica e
a documental.
No que diz respeito à pesquisa bibliográfica, buscou-se sistematizar conceitos e idéias de
diferentes autores que discutem sobre administração pública, gestão estratégica e ferramentas
utilizadas para a implantação do processo estratégico no setor público.
A este respeito, especial atenção foi dada à ferramenta BSC, uma vez que tem sido bastante
utilizada no setor público, de modo geral. Foi realizado esforço de síntese das idéias de
autores que se preocupam em discutir as necessárias adaptações dos componentes do BSC
para sua utilização no setor público e os princípios que norteiam a implantação desta
ferramenta nas organizações focalizadas na estratégia. Neste sentido, autores como Pinto
(2005), Ghelman (2006), Albuquerque, Mota e Bentinho (2008) e Kaplan e Norton (2000),
dentre outros, foram referências importantes para este trabalho.
Tendo em vista os objetivos do trabalho, realizou-se levantamento documental em relatórios
institucionais da Secretaria de Defesa Social, especialmente o “Diagnóstico de Oportunidades
que Potencializem o Desenvolvimento do Projeto de Implantação do Sistema Integrado de
Defesa Social - SIDS” e “O processo de Alinhamento Estratégico da Integração dos Órgãos
de Defesa Social”. Este levantamento foi fundamental para descrever a experiência de
implantação do processo de gestão estratégica por meio do BSC no Sistema de Defesa Social.
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3 REVISÃO DE LITERATURA
Este capítulo tem por objetivo expor abordagens e conceitos necessários a análise da
experiência de implementação do Balanced Scorecard no Sistema Integrado de Defesa Social.
Inicialmente, procurar-se-á delimitar o contexto de surgimento da gestão estratégica no setor
público, discorrendo-se sobre os propósitos de sua utilização na administração pública. E em
seguida, serão delimitados os conceitos e principais características do processo de gestão
estratégica e da ferramenta BSC, enfatizando sua adaptação para uso no ambiente público.
3.1 Reforma Administrativa do Estado
Esta seção procura descrever o contexto de surgimento da gestão estratégica no setor público.
Para tanto, é realizada uma revisão bibliográfica dos princípios que norteiam as novas
tendências da Administração Pública no que diz respeito a emergência de uma Administração
Pública Gerencial ou New Public Management (NPM), dentro de um contexto de reforma
administrativa do Estado, aqui considerado como um fenômeno mundial.
Para efeito desta análise considera-se Administração Pública a organização de recursos
humanos e materiais para a consecução dos propósitos de um governo, através de ações
racionais que busquem maximizar a realização de objetivos que são públicos por definição.
Ou seja, a administração aplicada aos “negócios do Estado” (FILHO, 1997).
A Administração Pública compreende os meios de que se serve o Estado, entendido como ente soberano, organizado sobre um território para fins de defesa, bem-estar, ordem e progresso social, para efetivar o atendimento das necessidades públicas. Todo o conjunto da estrutura patrimonial de bens, equipamentos, tecnologias e servidores públicos, distribuídos sistematicamente em funções, programas, projetos e atividades, submetidos à lógica da captação e aplicação de recursos e organizados sob a égide da legalidade, impessoalidade, moralidade e publicidade dos atos, traduz a macro-entidade denominada de Administração Pública (FILHO, 1997, p. 12)
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A administração burocrática clássica baseada no princípio do mérito profissional descrito por
Max Weber foi implementada nos principais países europeus no final do século XIX. A
administração burocrática substituía a administração patrimonialista, na qual o patrimônio
público e privado se confundiam, e que se tornou incompatível com o capitalismo industrial e
democracias que emergiram no século XIX. Para o capitalismo era essencial uma clara
distinção entre mercado e o Estado; enquanto que a democracia necessitava da diferenciação
entre sociedade civil, formada pelo conjunto dos cidadãos, e o Estado que esta deveria
controlar, ou seja, o público e o administrador público (PEREIRA, 2005b).
O modelo burocrático valorizava o profissionalismo, a impessoalidade, a divisão
racionalizada do trabalho, a hierarquia funcional e a autoridade. Apesar de ter cumprido com
seu objetivo de erradicar a lógica patrimonialista, o formalismo e o excesso de normas da
administração burocrática orientada para o controle de processo e não nos resultados, revelou-
se, com o passar do tempo, ineficiente e pouco transparente (GHELMAN, 2006).
No momento em que o Estado liberal tornou-se um grande Estado social e econômico do
século XX, assumindo um número crescente de serviços sociais - educação, saúde,
previdência, assistência social - e de papéis econômicos - como estabilização da moeda e do
setor financeiro e regulação da economia - verificou-se que os pressupostos de racionalidade
da administração burocrática não mais garantiam rapidez, boa qualidade e baixo custo aos
serviços públicos (PEREIRA, 2005b).
A crise se caracterizou pela perda da capacidade do Estado de coordenar e intervir no sistema
social e econômico. Um aparato estatal inchado sustentado por uma estrutura governamental
burocrática não mais atendia às necessidades do governo/cidadãos. A tradicional hierarquia
burocrática, com seus procedimentos baseados em regras e a rigidez que estas regras geram,
passou a se vista como superada e inútil. Os cidadãos reclamavam da burocracia estatal que
não funcionava, da sua inflexibilidade, dos programas e organizações que se propunham e
impossibilitavam a coordenação e dos organismos públicos que pareciam mais interessados
em promover seus próprios negócios do que em servir os cidadãos (DINIZ, 1997).
Para superar a crise administrativa era preciso reconstruir o Estado dotando este de formas de
intervenção mais leves, em que a competição tivesse um papel mais importante. Era urgente
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uma administração não apenas profissional, mas principalmente, eficiente e voltada para o
atendimento das demandas sociais (ABRUCIO, 2005).
Neste âmbito, a reforma administrativa do Estado deve ser entendida dentro de um contexto
de redefinição do próprio papel do Estado, como uma resposta ao crescimento continuado e
decorrente diferenciação de estruturas e pauta de problemas a serem enfrentados pelo Estado.
Um novo panorama marcado por um complexo de inovações políticas, econômicas,
tecnológicas, sociais, culturais, administrativas, comerciais provocou alterações na
intensidade e foco de atuação do Estado e na forma de exercer suas funções (BRASIL, 1995
apud GHELMAN, 2006).
Diante desse quadro, um movimento de reformas no setor público ganhou destaque a partir da
década de 80. Essas reformas se caracterizavam pela introdução de práticas gerenciais no
aparato público e objetivavam aumentar a eficiência e a efetividade da intervenção pública,
expandir a cobertura dos serviços e melhorar a qualidade dos mesmos, caracterizando a
emergência de um novo paradigma denominado Administração Pública Gerencial (PEREIRA,
2005a).
A administração pública gerencial envolve uma mudança na estratégia de gerência que
precisa ser posta em prática em uma estrutura reformada do Estado. Assim, a idéia é que
sejam combinadas mudanças na estrutura organizacional do Estado através da
descentralização de políticas públicas, delegação de autoridade, mecanismos de
responsabilização e accountability; com práticas modernas da gestão empresarial, entre elas a
gestão orientada a estratégia, com foco em resultados e avaliação e controle do desempenho
por meio de metas quantificáveis (PEREIRA, 2005a).
Para Ghelman (2006, p. 18) a administração pública gerencial tem por orientação os seguintes
princípios:
^ gestão por resultados como reorientação dos mecanismos de controle, que devem
ser realizados a posteriori com a utilização de indicadores de desempenho,
revertendo a cultura burocrática de foco no controle dos meios e recursos;
^ ênfase na eficiência, racionalização dos recursos melhorando a qualidade dos
gastos públicos através do aumento da produtividade e da construção de uma
consciência de custos;
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^ Estado voltado ao atendimento das demandas da sociedade, a Administração
Pública deve satisfazer o interesse público, focando suas ações no bem estar do
cidadão;
^ descentralização dos controles gerenciais no sentido de fornecer maior autonomia,
responsabilização e flexibilização de procedimentos;
^ ampliação dos mecanismos de transparência da ação estatal permitindo o controle
social e intensificando o processo de cobrança da sociedade em relação ao
governo;
^ valorização dos servidores públicos, visto como o principal agente capaz de
proporcionar a modernização administrativa exitosa. A idéia é estimular uma
postura empreendedora e criativa dos funcionários para que estes passem a enfocar
suas atividades no bem estar social, vendo o cidadão como um consumidor.
O quadro 01 mostra uma síntese comparativa entre as principais características de uma gestão
pública burocrática e uma gestão pública gerencial:
Características Gestão Pública BurocráticaGestão Pública
Gerencial
M o d e lo de G estã o r íg id o e in e fic ie n te f le x ív e l e e f ic ie n te
Id e o lo g iafo rm a lism o e rigor
té c n ic ofle x ib ilid a d e ad m in istra tiva
A tr ib u tos
r id id ez n o s p r o ced im en to s co m e x c e s s iv a n orm as e
reg u la m en to s
m a io r a u to n o m ia e resp o n sa b ilid a d e
F o c o P o d er d o E stad o c id a d ã o /so c ie d a d e
Ê n fa sep r o c e s s o s / co n tro le d o s
m e io sresu lta d o s
In d icad ores p rod u çãoe fe tiv id a d e , e f ic á c ia e
e f ic iê n c ia
D e c is ã o cen tra liza d a d escen tra liza d a
S erv id o r P ú b lico e s tá v e lv a lo r iz a ç ã o d o serv id o r co m in v e s tim e n to e m ca p a c ita çã o
e g e s tã o d o co n h e c im e n to
C on tro leA d m in istra tiv o
"antes": co n tro le d os p r o c e sso s
"depois": co n tro le d o s resu lta d o s
Quadro 1: Principais Diferenças entre a Gestão Pública Burocrática e a Gerencial Fonte: Adaptado de Osório (2003) apud Ghelman (2006, p. 20)
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O movimento em prol da reforma do setor público tornou-se, a partir dos primeiros anos da
década de 1980, um consenso praticamente global. Desde então, a grande maioria dos
governos têm empreendido esforços para modernizar e agilizar a Administração Pública
(ABRUCIO, 2005).
O processo de modernização administrativa da Administração Pública no Brasil iniciou-se em
1995, no governo de governo de Fernando Henrique Cardoso, através do Plano Diretor de
Reforma do Aparelho do Estado (PDRAE). O documento produzido pelo Ministério da
Administração Federal e Reforma do Estado - MARE defendia a reforma do aparelho estatal
e o fortalecimento de sua capacidade de gestão como solução a crise do Estado brasileiro. O
plano expressava a visão estratégica do governo e orientava a realização dos projetos de
reforma e, a partir de um diagnóstico apontou os principais problemas da administração
pública brasileira nas dimensões institucional-legal, cultural e de gestão (BORGES, 2008).
A criação do Ministério da Administração Federal e Reforma do Estado deixou clara a
prioridade dada à reforma administrativa pelo governo federal. O órgão, que passou a
funcionar desde o primeiro momento de instalação do governo, além de suas funções
tradicionais de gestão assumiu o papel de coordenar e executar a reforma, implantado o
modelo de gestão pública gerencial (PEREIRA, 2005a).
A onda da reforma, entretanto, não se limitou ao governo federal e vem se desdobrando nos
demais entes federados, que também passaram a buscar novas formas de estruturas
administrativas e modelos de gestão que pudessem melhorar a prestação do serviço público.
Em Minas Gerais desde 2003 a reforma estatal se tornou um dos principais objetos do
planejamento governamental do Estado (LEITE, 2008).
Com a adoção das novas tendências da administração pública, o Estado de Minas Gerais
iniciou, a partir de 2003, processo de modernização administrativa intitulado Choque de
Gestão.
O programa tem como objetivos a simplificação de procedimentos e racionalização de gastos
de forma que se possa fazer melhor proveito dos recursos públicos para produção de
resultados mais eficientes. Segundo Vilhena, Martins e Marini (2006) as principais metas a
serem atingidas com o Choque de Gestão são o ajuste fiscal e o desenvolvimento econômico,
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político e social do Estado em bases sustentáveis no longo prazo a partir de uma perspectiva
integradora de políticas.
Para imprimir a Administração Pública mineira um ritmo condizente com a realidade
contemporânea e uma gestão mais eficiente, eficaz e efetiva, o Choque de Gestão foi
estruturado em cinco frentes de atuação (OLIVEIRA, 2006 apud BORGES, 2008, p. 47):
^ efetivação do planejamento e da estratégia na gestão pública por meio do
alinhamento das metas de longo prazo às ações do presente, fazendo com que
todos os servidores identificassem seu papel de contribuição da realização dos
objetivos do governo, além de permitir que planejamento e orçamento realmente
representassem uma projeção da realidade;
^ crescimento da receita através da eficiência na arrecadação: modernização do
sistema tributário e simplificação dos processos de abertura de novas empresas no
Estado para elevar a base tributária;
^ redução de despesa com a identificação e correção de possíveis pontos de
desperdício de recursos públicos;
^ reestruturação de processos de trabalho para adequação institucional em busca do
aumento da qualidade dos serviços públicos e redução do tempo e custo das
respostas às demandas sociais;
^ incorporação da metodologia de gerenciamento de projetos a estratégia do governo
para o aperfeiçoamento da gestão, possibilitando que os projetos fossem realizados
dentro de tempo e orçamento previamente determinados.
Desta forma, ao definir o programa Choque de Gestão o governo de Minas Gerais buscou
aderir aos preceitos da administração pública gerencial, de modo a reestruturar sua
organização e implantar uma prática gerencial inovadora, simplificando procedimentos,
racionalizando gastos e produzindo resultados eficientes para o cidadão. Ao focar suas ações
na reforma administrativa do aparato estatal o Governo de Minas Gerais pretende aproveitar
da melhor maneira os escassos recursos de que dispõe para produzir bens e serviços de
qualidade à sociedade mineira (BORGES, 2008).
-
20
3.2 Gestão Estratégica: Conceitos e Ferramentas
A passagem da economia industrial para a economia da informação compreende uma série de
mudanças no ambiente que não se limitam a alterações no panorama econômico, mas na
própria conjuntura política, social, cultural e tecnológica. O paradigma industrial,
caracterizado por processos operacionais baseados na produção a baixo custo e por
trabalhadores vistos como apêndices de máquinas, cedeu lugar a um paradigma pós-industrial
em que a qualidade total, serviços just-in-time, tecnologia de informação e capacidade de
inovação constituem uma revolução no âmbito das organizações (TACHIZAWA; REZENDE,
2000).
Se até então as organizações eram vistas como um sistema fechado em que regras de
racionalidade e eficiência predominavam como referência para a obtenção de lucros
crescentes, neste novo contexto, o sucesso somente pode ser alcançado se as organizações
levarem em conta o meio externo no qual estão inseridas. Esta abordagem de organização
aberta tornou necessária a análise de políticas e ações que considerem o ambiente e façam
frente às suas influências, esta nova concepção tornou necessária a construção de estratégias
(THOMPSON, 1967 apud BIGNETTI; PAIVA, 2002).
Para Ruas (2003, p. 04) estratégia é a forma pela qual uma organização atinge sua missão e
sua visão de longo prazo, ou seja, são planos estabelecidos pela administração para que se
consiga alcançar os objetivos gerais da empresa. Eisenhardt citado por Muscat, Biazzi e
Miguel (2007, p. 36) define estratégia como resposta a duas questões fundamentais para a
continuidade da organização: onde se pretende chegar e como chegar lá. Segundo Mintzberg
citado por Borges (2008, p. 18) a maior parte das definições de estratégia converge para uma
idéia de plano padrão a ser seguido por toda a organização em prol de um mesmo objetivo.
Para Garrison e Noreen (2001) “a estratégia é basicamente uma teoria sobre como alcançar as
metas da organização”. Bignetti e Paiva (2002, p. 106) definem estratégia como um caminho
capaz de agregar interesses diversos considerando um ambiente específico e a maneira com
que a organização interage com este.
Este cenário competitivo que se impõe após os anos 80 passa a exigir das organizações a
construção de um novo referencial na administração, ou seja, a criação de práticas de gestão
-
21
capazes de induzir os administradores a outro patamar gerencial. Nesta perspectiva, o
processo de gestão estratégica aparece como uma abordagem inovadora e coerente com o
ambiente empresarial (KAPLAN; NORTON, 1997).
Gestão estratégica é um processo de ação gerencial sistemática e contínua que pretende
assegurar à organização, uma direção no longo prazo e flexibilidade e agilidade para lidar
com um cenário complexo. Ela deve ser entendida como algo mais amplo e não como um
mero conjunto de atividades finitas, ou seja, um processo de adaptação continuada às
mudanças do contexto mercadológico com as quais as organizações se deparam diariamente
em sua busca pela excelência (TACHIZAWA; REZENDE, 2000).
Assim, através da gestão estratégica a organização define sua missão, valores, visão de futuro,
objetivos e metas, seleciona as estratégias de ação que serão utilizadas para alcançar os
resultados pretendidos e monitora por meio de indicadores de desempenho se esta estratégia
está de acordo com os objetivos organizacionais estabelecidos (TACHIZAWA; REZENDE,
2000).
A missão de uma organização define a razão de ser da empresa, para que ela serve, qual a sua
função social, fornecendo o “ponto de partida”. Os valores acompanham a missão e são os
princípios que orientam as ações da organização ao longo do tempo, ambos os fundamentos -
missão e valores - mantêm-se estáveis no tempo. A visão de futuro, por sua vez, define um
macro objetivo, não quantificável, capaz de orientar sua trajetória e indicar onde e como a
organização espera estar no futuro. Por fim, a estratégia descreve como a organização
pretende criar valor para seus acionistas e clientes. A estratégia não é estática e pode
desenvolver-se e adaptar-se às condições impostas pelo ambiente interno e externo
(KAPLAN; NORTON, 2000).
O processo de gestão estratégica para Lemos e outros (2004, p. 03) é uma evolução do próprio
processo de planejamento que se iniciou em 1950 com o planejamento de longo prazo
desenvolvido por Igor Ansoff; ainda nos anos de 60 surge o termo planejamento estratégico
que se ocupa na análise das mudanças no ambiente externo e tem por base uma habilidade
estratégica; e, a partir da década de 80, com a enorme mudança do contexto mercadológico no
qual as organizações estão inseridas, a gestão estratégica passa a prevalecer como referencial
na administração.
-
22
Mintzberg citado por Almeida (2000, p. 182) destaca que apesar da emergência desta nova
abordagem gerencial a passagem do planejamento estratégico para a gestão estratégica não
provocou transformações radicais no tocante ao pensamento sobre estratégia organizacional:
O que ocorreu, em verdade, foi a incorporação do planejamento estratégico à gestão estratégica, como um de seus componentes ou ferramentas, deixando o primeiro de ser o elemento principal do processo, ou a sua matriz (ALMEIDA, 2000, p.183)
Ansoff citado por Almeida (2000, p. 183) entende gestão estratégica como uma nova
sistemática gerencial que dá ênfase ao processo de tradução e comunicação da estratégia de
negócio para a organização como um todo, de forma que as iniciativas nos diferentes níveis
hierárquicos da empresa sigam em uma mesma direção.
Para Alday, (2000, p. 14) a gestão estratégica é um processo contínuo que tem por finalidade
garantir a sobrevivência de uma organização a partir de sua integração ao ambiente externo e
pode ser dividido em cinco etapas básicas:
Etapa 01: execução da análise do ambiente organizacional - fatores internos e externos - de
modo a identificar riscos e oportunidades que podem influenciar no alcance dos objetivos
gerais
Etapa 02: estabelecimento de uma diretriz organizacional através da definição da missão,
visão de futuro, objetivos e valores organizacionais.
Etapa 03: formulação da estratégia organizacional que é definida como um curso alternativo
de ações que garanta o atingimento dos objetivos e o sucesso empresarial
Etapa 04: implantação da estratégia organizacional
Etapa 05: controle estratégico que se ocupa na avaliação do processo de gestão estratégica no
sentido de assegurar seu funcionamento adequado.
O Balanced Scorecard alinha os processos de gestão integrando toda a organização na
execução de uma estratégia de longo prazo, através do fornecimento de uma estrutura capaz
de planejar e gerenciar a implantação da estratégia, enquanto possibilita ainda a avaliação
continuada dos resultados alcançados durante seu desenvolvimento. Com a metodologia é
possível não só gerenciar a implementação da estratégia, mas também formular novas
-
23
estratégias face às mudanças no ambiente competitivo da empresa. E, por isso, o BSC é visto
como uma ferramenta de gestão estratégica (KAPLAN; NORTON, 1997).
Segundo Kaplan e Norton (1997), o BSC consiste em uma metodologia que liga as atividades
de curto e longo prazo de uma organização com seus grandes objetivos e se insere no conceito
de gestão estratégica como uma ferramenta capaz de traduzir estes fundamentos gerais em
ações locais imediatas.
Ruas (2003, p. 09) distingue 03 diferentes fases do processo de gestão estratégica
demonstrando em qual delas o BSC é utilizado. Tais fases podem ser observadas na figura 01.
Figura 1: Etapas do Processo de Gestão Estratégica Fonte: Adaptado de Schwarz (2000) apud Ruas (2003, p. 10)
1a fase: planejamento estratégico - nesta etapa são definidas missão e visão de futuro da
empresa, análise dos pontos fortes e fracos e as oportunidades e ameaças à organização. A
definição e identificação de tais fatores auxiliam a construção da estratégia.
-
24
2a fase: implantando a estratégia - nesta fase o BSC é utilizado como forma de traduzir e
comunicar a estratégia de negócio, alinhando todos os níveis da organização através de
objetivos, indicadores, metas e planos de ação.
3a fase: monitoramento da estratégia - por fim, a estratégia deve ser constantemente
reavaliada e, caso necessário, deve sofrer alterações para melhor se adaptar a realidade da
organização. Também nesta situação é utilizado o BSC.
Neste contexto, a estratégia e sua execução por meio do Balanced Scorecard não devem ser
entendidas como um processo gerencial isolado, mas sim uma etapa dentro de um processo
contínuo lógico.
O ponto de partida para o início da implantação do BSC numa organização é a definição clara
de sua missão, visão de futuro e a estratégia da organização. Uma vez formulada a estratégia,
avança-se no processo de implantação, mensuração e monitoramento dos resultados obtidos
em que o BSC aparece como uma das várias ferramentas disponíveis na literatura que trata da
execução estratégica, alinhamento das ações e seu desdobramento em metas e indicadores de
desempenho (MUSCAT; BIAZZI; MIGUEL, 2007).
Kallás (2005) e Costa (2006) afirmam que o ponto de partida para o início da implantação do BSC numa organização é a definição clara dos fundamentos estratégicos, especificamente a missão e a visão de futuro, que são os direcionadores de todo o processo de planejamento e suas ferramentas de apoio, quais sejam: modelo de cinco forças de Porter, análise Strenght, Weakness, Opportunity, Threaths (SWOT), matriz Boston Consulting Group (BCG), análise de cenários, ente outras (TOSCANO, 2008, p. 41)
Toscano (2008, p. 42) destaca que deve-se estar atento ao fato de que o Balanced Scorecard
não é um modelo útil para definir a estratégia, mas para implementá-la, traduzindo algo
abstrato, ou seja, a visão de negócio da organização, em atividades palpáveis e medidas
mensuráveis. Neste contexto, já não há espaço para a discussão da estratégia, que foi
previamente estabelecida, mas sim seu alinhamento às atividades da empresa.
Também Silva (2003, p.62) entende o BSC como ferramenta apta a executar estratégias,
assimilar interferências e responder ao mercado, efetivando o que ele denomina de processo
estratégico. O processo estratégico se inicia quando há uma mudança de foco da formulação
para a fase de implantação da estratégia e é dividido em três etapas (FERNANDES, 2003
apud SILVA, 2003): 1. identificação de objetivos mensuráveis; 2. definição e comunicação de
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25
diretrizes operacionais; e 3. definição de um sistema de monitoramento e controle dos
resultados obtidos. De acordo com o autor o BSC abrange todas as etapas do processo, pois:
(...) oferece uma estrutura lógica capaz de fazer com que seus executivos percebam quais os fatores críticos de sucesso na implementação da estratégia, explicita a dinâmica da estratégia - fornecendo feedback sobre ela - e fortalece o processo decisório, permitindo que a organização fortaleça seu processo estratégico e implemente sua estratégia com mais eficácia (SILVA, 2003, p.71)
A figura 02 ilustra como o Balance Scorecard integra-se ao processo de gestão estratégica.
Figura 2: Balanced Scorecard: etapa de um processo contínuo Fonte: Kaplan e Norton (2000, p.33)
Assim, baseando-se na revisão da literatura realizada este trabalho entende ser o Balanced
Scorecard uma ferramenta de gestão estratégica que tem por finalidade executar a estratégia,
alinhar as atividades em torno dos fundamentos estratégicos organizacionais e monitorar o
processo estratégico, sendo sua utilização compreendida dentro de um processo contínuo
lógico de gestão estratégica.
Para melhor compreensão do Balanced Scorecard (BSC) serão sistematizados na seção 3.2.2
os conceitos e definições que caracterizam tal ferramenta.
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26
3.2.1 Gestão Estratégica em Minas Gerais
Como detalhado anteriormente, a concepção do programa Choque de Gestão previu cinco
frentes de atuação, entre elas, a efetivação do planejamento e da estratégia na gestão pública.
Assim, para a definição da estratégia governamental de Minas Gerais e a promoção do
alinhamento das organizações, das pessoas e dos sistemas administrativos à visão de longo
prazo do governo foram estabelecidos três diferentes instrumentos pelo governo: o Plano
Mineiro de Desenvolvimento Integrado (PMDI), o Plano Plurianual de Ação Governamental
(PPAG) e o Acordo de Resultado (BORGES, 2008).
O PMDI apresenta a visão de futuro do Estado de Minas Gerais, definindo a estratégia
governamental para o médio e longo prazo. O plano é previsto na Constituição Estadual e tem
como finalidade:
§ 2° - O Plano terá, entre outros, os seguintes objetivos:I. o desenvolvimento socioeconômico integrado do Estado;II. a racionalização e a coordenação das ações do Governo;III. o incremento das atividades produtivas do Estado;IV. a expansão social do mercado consumidor;V. a superação das desigualdades sociais e regionais do Estado;VI a expansão do mercado de trabalho;VII. o desenvolvimento dos Municípios de escassas condições de VIII. propulsãosocioeconômica;IX. o desenvolvimento tecnológico do Estado (COSTITUIÇÃO DO ESTADO DEMINAS GERAIS, 1989).
Em 2003, frente a uma situação financeira crítica e a ausência de instrumentos de
planejamento e controle; e, tendo em vista ainda a eleição do atual governador1 de Minas
Gerais que teve como uma das plataformas de sua campanha o revigoramento da gestão
pública, foi elaborado o Plano Mineiro de Desenvolvimento Integrado 2003-2020, contendo a
estratégia governamental e prevendo as ações da Administração Pública do Estado de Minas
Gerais até o ano de 2020 (LEITE, 2008).
O processo de elaboração do PMDI 2003-2020 aborda três questões: 1a) “Onde estamos?” que
forneceu bases para a constituição de um cenário de diagnóstico; 2a) “Aonde pretendemos
1 Governador Aécio Neves da Cunha
-
27
estar?” que descreve o cenário futuro; e, 3a) “Como chegar lá?” que define um cenário de
estratégias e programas prioritários.
O diagnóstico da situação atual para a elaboração do plano foi elaborado pelo Banco de
Desenvolvimento de Minas Gerais S.A. (BDMG) e recebeu o nome de Minas Gerais do
Século XXI. O cenário futuro foi construído a partir de quatro cenários exploratórios que
expressaram futuros plausíveis para o Estado em 2020 através do estabelecimento de riscos e
oportunidades que poderiam surgir. Neste contexto foi estabelecida a visão de longo prazo de
Minas Gerais, a saber, “Tornar Minas Gerais o melhor Estado para se viver” que procura
“recuperar a auto-estima dos mineiros, reconquistar seu orgulho pelo Estado e a confiança na
capacidade de construir o futuro” (MINAS GERAIS, 2003, p.80).
Por fim, partindo da visão de futuro, o PMDI elencou três opções estratégicas desdobradas em
dez objetivos estratégicos e uma agenda de prioridades, que tinham por finalidade orientar as
ações do Governo, permitindo o alcance do objetivo de longo prazo.
Em 2007 o PMDI foi reformulado para se adequar ao momento correspondente à segunda
gestão do Governador de Minas Gerais, que fora então reeleito. O PMDI 2007-2023
atualmente em vigência sustentou a elaboração do Plano Plurianual de Ação Governamental -
PPAG 2008-2011, plano este também previsto em lei, que detalha os programas e ações que o
governo pretende implementar, com as previsões financeiras e de realização física para o
médio prazo. O PPAG serve de base para a construção da Lei de Diretrizes Orçamentária e a
Lei do Orçamento Anual, funcionando como uma ponte entre o planejamento de longo prazo
e o de curto prazo, representados pelo PMDI e Orçamentos anuais, respectivamente. O PPAG
2008-2011 contempla uma série de iniciativas estratégicas ligadas aos objetivos priorizados
pelo PMDI e é base para a definição dos projetos do governo (LEITE, 2008).
Com a reformulação do PMDI iniciou-se a segunda geração do Choque de Gestão de segunda
geração. O plano reestruturado apresenta as estratégias setoriais do governo - perspectiva
integrada do capital humano, investimento e negócios, integração territorial competitiva,
sustentabilidade ambiental, rede de cidades e equidade e bem-estar - desdobradas em 11
Áreas de Resultado e dois pilares de atuação do Estado, a saber, Qualidade fiscal e Qualidade
e Inovação na Gestão Pública.
-
28
Para basear a criação do plano o governo agrupou os destinatários das políticas públicas em
cinco eixos estratégicos: I - Pessoas instruídas, qualificadas e saudáveis; II - Jovens
protagonistas; III - Empresas dinâmicas e inovadoras; IV - Equidade entre pessoas e regiões
e V - Cidades seguras e bem cuidadas. A figura 3 apresenta o mapa estratégico de Minas
Gerais que “materializa” as orientações estratégias do governo.
Figura 3: Mapa Estratégico de Minas GeraisFonte: Minas Gerais, Plano Mineiro de Desenvolvimento Integrado 2007/2023 (2007, p. 27).
As áreas de resultados são núcleos focais que refletem os serviços/produtos que o governo
pretende oferecer aos cidadãos, com a inserção dos destinatários das políticas públicas na base
do processo de planejamento; e, não está ligada a estrutura do Poder Executivo, ou seja, aos
órgãos da administração pública direta e indireta, entendidos como meios para alcançar os
objetivos governamentais e não como um fim em si mesmo (BORGES, 2008).
Cada uma das Áreas de Resultados possui um conjunto de ferramentas de gestão que
permitem a implantação da estratégia (MINAS GERAIS, 2008 apud BORGES, 2008, p.55):
^ objetivos estratégicos e indicadores finalísticos para cada Área de Resultado para
acompanhar o desempenho das ações governamentais;
^ portfólio de projetos estratégicos, conhecidos como Projetos Estruturadores, que
representam em termos concretos a estratégia; tais projetos têm forte relação com
-
29
os indicadores finalísticos e são direcionados para investimentos, caracterizando o
que se poderia chamar na iniciativa privada de “carteira de investimento” do
governo;
^ projetos associados aos Projetos Estruturadores com o objetivo de auxiliar a
execução desses e até mesmo ampliar sua repercussão, mas que se encontram
hierarquicamente abaixo na escala de prioridade;
^ Agenda Setorial de Gestão que contém proposta de iniciativas que removam os
gargalos críticos de gestão que impossibilitam a realização da estratégia; e
^ metas de desempenho desdobradas por órgão governamental associadas aos
indicadores finalísticos de cada Área de Resultados.
O terceiro instrumento utilizado para efetivar a implementação da estratégia governamental é
o Acordo de Resultado. Diferentemente do Plano Mineiro de Desenvolvimento Integrado não
é previsto constitucionalmente. Assim, o Acordo de Resultado constitui-se um instrumento
estruturado pela própria administração pública do governo de Minas Gerais quando da
concepção do programa Choque de Gestão em 2003.
O Acordo de Resultados é uma ferramenta gerencial que tem por objetivo alinhar as
atividades dos órgãos governamentais da administração direta e indireta a orientação
estratégica do governo. O modelo foi estabelecido com base na Lei n° 14.694, de 30 de junho
de 2003, e nos Decretos 43.674 e 43.675, de 04 de dezembro de 2003.
Este instrumento busca promover o ajuste das instituições através da fixação de metas de
desempenho e tem como finalidade aumentar a oferta e qualidade dos serviços prestados à
sociedade, aperfeiçoar o acompanhamento e o controle de resultados da gestão pública, dar
transparência às ações dos órgãos de governo, estimular servidores e o desenvolvimento dos
sistemas de avaliação de desempenho institucional. O Acordo de Resultado é baseado nos
princípios da gestão por resultado e vem conseguindo imprimir um dos princípios da
administração pública gerencial a estrutura de gestão da Administração Pública mineira
(LEITE, 2008).
O modelo é baseado na contratualização que significa a pactuação de resultados entre partes
interessadas. A Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão é o órgão da administração
direta do governo de Minas Gerais responsável pela execução dos Acordos de Resultados.
-
30
Para tanto, de Estado de Planejamento e Gestão celebra um contrato com o órgão acordante,
cabendo ao último executar efetiva e eficientemente o que foi pactuado no contrato. O acordo
é estabelecido entre os dirigentes dos órgãos.
Como contrapartida, é concedido ao órgão acordante um conjunto de autonomias que
possibilitam o alcance dos resultados esperados de modo a alinhar suas atividades a
orientação estratégica do governo. Estas autonomias são: possibilidade de abrir crédito
suplementar, alterar quantidade e valor de cargos de provimento em comissão, pagamento de
prêmio por produtividade aos seus servidores públicos, e outras (FURTADO, 2007 apud
BORGES, 2008).
3.2.2 BSC como Ferramenta de Apoio ao Processo de Gestão Estratégica
Em 1992 Robert Kaplan e David Norton, através de artigo intitulado “The Balanced
Scorecard - Measures That Drive Performance ” apresentaram um sistema apto a integrar
indicadores financeiros e não financeiros. Os indicadores originavam-se de objetivos
estratégicos que, associados a metas de desempenho em meio a uma relação lógica de causa e
efeito construíam o sistema Balanced Scorecard, capaz de traduzir e comunicar a visão e a
estratégia organizacional (KAPLAN e NORTON, 1997).
O Balanced Scorecard “é uma ferramenta para auxiliar a empresa a organizar suas ações no
sentido de implantar, gerir e cumprir a sua estratégia” (TOSCANO, 2008, p.22). O BSC
traduz de forma balanceada e integrada a visão empresarial por meio de objetivos coerentes,
medidas de desempenho e metas; organizados de maneira a possibilitar o alinhamento dos
esforços e recursos organizacionais com o posicionamento estratégico e servir de base para a
inserção de um processo de gestão estratégica.
Balanced Scorecard significa algo como “Indicadores Balanceados de Desempenho” e foi
concebido como um método de mensuração de desempenho dentro de um contexto em que os
bens intangíveis passam também a influenciar a competitividade das empresas. Além de
-
31
contemplar as medidas financeiras já utilizadas, o Scorecard propõe três perspectivas
complementares que possam controlar além de resultados financeiros (SILVA, 2003).
A ampla utilização da ferramenta, entretanto, fez com que as instituições percebessem no
BSC muito mais que um simples conjunto de medidas de desempenho, mas um sistema capaz
de alinhar as atividades de hoje com a visão de longo prazo da empresa, comunicando,
esclarecendo e gerenciando a estratégia. “Na realidade, o Balanced Scorecard deixou de ser
um sistema de medição aperfeiçoado para se transformar em um sistema gerencial essencial”
(KAPLAN; NORTON, 1997, p.09).
No final da década de 80 e início da década de 90, as críticas quanto aos sistemas de medição
de desempenho convergiam para o fato de que tanto as ações operacionais das organizações,
quanto as ações gerenciais, eram avaliadas de acordo com indicadores financeiros que pouco
diziam sobre a estratégia de longo prazo. Com este descompasso criava-se um vácuo entre a
elaboração da estratégia e sua implementação. Muito se falava sobre a formulação da
estratégia, mas poucos estudos acadêmicos eram encontrados para elucidar os processos de
implantação ou o modo pelos quais as organizações adaptavam suas estratégias às
contingências do contexto interno e externo (ZORZI, 2007).
De acordo com Kaplan e Norton (2000, p. 18) “a implantação da estratégia exige que todas as
unidades de negócios, unidades de apoio e empregados estejam alinhados e conectados com a
estratégia”. Mas para que isso aconteça é preciso um processo de comunicação da estratégia
que ressalte os pontos críticos para o desempenho da organização, bem como os processos e
sistemas que contribuem para sua implementação.
O Scorecard torna possível a tradução da estratégia de negócios da empresa em ações
específicas e concretas em nível local, para que as pessoas envolvidas com o processo e em
qualquer nível hierárquico dentro da empresa possam agir de acordo com as grandes
estratégias. Assim, ao definir o que é preciso fazer em termos operacionais torna-se possível
alinhar departamentos e indivíduos aos grandes anseios empresarias através da comunicação
dessas ações dentro da instituição (PRIETO et al, 2006).
A construção da ferramenta é feita por meio da tradução da visão e da estratégia em um
conjunto de objetivos estratégicos, que se desdobram em indicadores de desempenho. O
-
32
desempenho é medido sob a ótica de quatro perspectivas, a saber, perspectiva financeira,
perspectiva de clientes, perspectiva de processos internos e perspectiva de aprendizado e
crescimento (KAPLAN; NORTON, 1997).
A estrutura do BSC integra estes quatro parâmetros, numa relação de causa e efeito conforme
ilustrado na Figura 4, focando a atenção dos executivos e funcionários da empresa nos vetores
críticos do negócio. No BSC a estratégica é vista como um conjunto de hipóteses sobre causa
e efeito, expressas por uma sequência de afirmativas do tipo “se-então”. A estrutura lógica
mostra que para cada ação haverá um resultado o qual terá impacto sobre os objetivos gerais
do negócio, ou seja, na implementação da estratégia (SILVA, 2003).
Financeira
Figura 4: Cadeia de relações de causa e efeito entre as quatro perspectivas Fonte: Adaptada de Kaplan e Norton (1997, p.31)
-
33
A) Perspectivas do BSC
Conforme mencionado, o Balanced Scorecard é baseado na relação de causa e efeito entre
atividades-chave dispostas em quatro perspectivas complementares: Financeira, Clientes,
Processos Internos e Aprendizado e Crescimento, que permitem descrever a estratégia de
forma clara e balanceada.
Na Perspectiva Financeira é avaliado o desempenho da organização na geração de resultados
que satisfaçam seus acionistas e garantam a sua sobrevivência e crescimento. Os vetores de
performance financeiros indicam de que forma a estratégia de uma empresa e sua
implementação estão contribuindo para a melhoria da lucratividade e rentabilidade. Os
objetivos financeiros geralmente são medidos através de indicadores como receita
operacional, retorno sobre capital empregado, valor econômico agregado e outros (RUAS,
2003).
Os objetivos e medidas financeiros desempenham um papel duplo: além de definir o
desempenho financeiro esperado da estratégia, os indicadores devem resumir de forma
facilmente mensurável as conseqüências das ações tomadas tendo em vista as outras
perspectivas, ou seja, servir de meta principal para os demais objetivos (GHELMAN, 2006).
Pode-se afirmar que a Perspectiva Financeira demonstra se as ações realizadas nas
perspectivas cliente, processos internos e aprendizado e crescimento estão se convertendo em
melhor desempenho financeiro da organização (BIZ; AGNOL, 2006). De acordo com
Toscano (2008, p. 23), a perspectiva financeira “é o foco das outras três perspectivas, as quais
deverão conter objetivos que, numa relação de causa e efeito, culminam com a melhoria do
desempenho financeiro”.
Segundo Kaplan e Norton (2000, p. 13), nesta perspectiva, as empresas trabalham com dois
componentes básicos e balanceados: crescimento da receita e produtividade. A primeira, de
longo prazo, irá se refletir nas outras perspectivas, no sentido de gerar novas fontes de receita
provenientes de novos mercados, novos produtos ou novos clientes ou na ampliação do rela
cionamento com os clientes existentes, em busca da sustentabilidade do desempenho
financeiro. Já a estratégia de produtividade, de curto prazo, busca a execução eficiente das
-
34
atividades operacionais, com a melhoria da estrutura de custos e aumento da eficiência de
ativos físicos e financeiros, garantindo lucros no curto prazo.
A Perspectiva de Clientes determina em que segmento de clientes e negócios a organização
quer atuar identificando qual é o público alvo e quais suas expectativas, ou seja, quais as
propostas de valor que irão satisfazê-lo e o que ele espera receber da organização. A empresa
deve focar aqueles clientes que representam as fontes de receita da empresa para alinhar suas
medidas estratégicas (ATKINSON et al., 2000).
A organização deverá traduzir em medidas específicas os fatores importantes para os clientes.
Essas medidas representam metas para as operações, logística, marketing e desenvolvimento
de produtos e serviços da empresa. Normalmente os indicadores de desempenho relativos a
esta perspectiva devem incluir elementos como a satisfação dos clientes, captação,
participação de mercado, fidelidade, retenção e lucratividade (KAPLAN; NORTON, 1997).
A competição de mercado a qual todas as empresas estão sujeitas hoje faz com que uma
organização esteja fadada ao fracasso caso não consiga satisfazer as necessidades dos clientes
no curto e no longo prazo. Por isso, o BSC adequadamente implantado, requer na Perspectiva
de Clientes, a criação de vetores de desempenho que conduzam à satisfação das necessidades
dos clientes no presente e no futuro (GHELMAN, 2006).
Na Perspectiva de Processos Internos os gestores devem identificar os processos críticos que
sustentam a obtenção dos resultados financeiros e a capacidade de atrair e reter clientes, ou
seja, aqueles que permitem a realização dos objetivos correspondentes às duas perspectivas
anteriores (PRIETO et al., 2006). De acordo com Toscano (2008):
Processos produtivos eficientes e eficazes são prioridade em todas as organizações, em especial naquelas cuja estratégia genérica esteja ligada a excelência operacional. Assim, para ofertar preços mais baixos, é necessário alinhar a estratégia aos processos de operação da empresa, quais sejam: desenvolver e sustentar relacionamento com os fornecedores; produzir produtos e serviços; distribuir e entregar produtos aos clientes; e gerenciar riscos (TOSCANO, 2008, p.26).
Entretanto, não há como sustentar uma base estratégica somente na busca da melhoria dos
processos existentes, mas principalmente na identificação de processos inteiramente novos.
Neste âmbito encontram-se os processos de inovação que aparecem como um fator
-
35
determinante para o sucesso da empresa e são responsáveis pelo desenvolvimento de novos
produtos. Este componente permite que a empresa atribua a devida importância a processos
de pesquisa, projeto e desenvolvimento de novos produtos e serviços (SILVA, 2003).
Os indicadores desta perspectiva normalmente são medidas genéricas de desempenho de
processo de inovação, como projeto e desenvolvimento dos novos produtos e serviços
(componente de longo prazo) e de operações (componente de curto prazo), que impulsionam
as medidas genéricas da perspectiva de clientes (KAPLAN; NORTON, 1997).
Um processo é um conjunto de atividades estruturadas, desenhadas para produzir um
determinado produto para um cliente ou mercado. É como um conjunto de atividades através
do tempo e do espaço, com um início, um fim, com inputs e outputs claramente identificados:
é uma estrutura para a ação integrada. Assim, não se pode alinhar uma organização em
direção a uma estratégia de negócio se não alinharmos os processos internos da organização
nesse sentido (PEDRO, 2004).
A Perspectiva de Aprendizado e Crescimento tem seu foco orientado para treinamento e
qualificação de funcionários, aperfeiçoamento da tecnologia da informação e investimentos
em novos equipamentos e infra-estrutura, de modo a atender as necessidades dos clientes no
futuro e, portanto, garantir a sobrevivência da organização (RUAS, 2003).
Visto de maneira integrada, o Balanced Scorecard traduz o conhecimento, habilidades e sistemas que os empregados precisarão (seu aprendizado e crescimento), para inovar e construir as capacidades estratégicas certas e eficientes (processos internos) que entregarão valor específico ao mercado (clientes), os quais, eventualmente, proporcionarão o aumento do valor ao acionista (financeiro). (PRIETO et al., 2004, p.83).
Para completar o alinhamento de competências e tecnologia com a estratégia da organização,
é necessário estabelecer indicadores relacionados à construção e ao aperfeiçoamento da infra-
estrutura, os quais medem a capacidade da organização de mobilizar e sustentar o processo de
mudança imprescindível para executar a estratégia e gerar crescimento e melhoria a longo
prazo (BIZ; AGNOL, 2006).
Kaplan e Norton (2000, p. 15) destacam a importância de medidas estratégicas ligadas aos
funcionários. “Neste contexto o treinamento da força de trabalho é essencial para o
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desenvolvimento das competências e habilidades das pessoas, e deverá estar alinhado com as
medidas e objetivos estratégicos da organização.”
Através das relações de causa e efeito do BSC e do alinhamento das ações aos objetivos e
medidas estratégicas, é possível ter uma visão clara da importância do desenvolvimento das
pessoas para o atingimento das metas estratégicas. Os gestores passam a perceber que no
treinamento há uma agregação clara de valor para os clientes ou acionistas ao invés de
considerarem apenas como uma atividade geradora de custos. Os treinamentos impactam na
melhoria da satisfação dos clientes, e, por conseguinte na performance da empresa
(GHELMAN, 2006).
O esquema abaixo mostra, de maneira simplificada, como são agrupadas as quatro
perspectivas do Balanced Scorecard em torno da estratégia organizacional:
FINANCEIRA
Para obter sucesso financeiro como devemos
parecer aos nossos acionistas
CLIENTE
Para alcançar nossa visão como devemos parecer aos
nossos clientes
tVisão e
Estratégia
PROCESSOS INTERNOS
Para satisfazer nossos acionistas, em quais
processos de negócios devemos ser excelentes?
APRENDIZADO E CRESCIMENTO
Para alcançar nossa visão como sustentaremos nossa
habilidade de mudar e melhorar
Figura 5: As quatro perspectivas do Balanced Scorecard Fonte: Adaptada de Kaplan e Norton (1997, p.10)
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B) Os Componentes do Balanced Scorecard
A proposta do BSC “é tornar entendível, para todos os níveis da organização, a visão, a
missão e a estratégia para que todos saibam o que fazer e de que forma suas ações impactam
no desempenho organizacional” (COSTA, 2003 apud TOSCANO, 2008, p.22). A intenção é
canalizar os esforços, evitando a dispersão de recursos a serem empreendidos na
implementação da estratégia (TOSCANO, 2008).
Para tanto, são definidos objetivos estratégicos que contemplam os fins almejados pela
organização tendo em vista sua estratégia; tais objetivos são mensurados através de um painel
de medidas de desempenho equilibrado e de metas. As metas, por sua vez, são valores
previamente estabelecidos, os quais se pretendem atingir. Segundo a lógica do BSC, o
cumprimento das metas implica na realização da estratégia, determinada a relação de causa e
efeito implícita na construção da ferramenta (PEDRO, 2004).
Os objetivos estratégicos são objetivos organizados numa relação de causa e efeito que
traduzem a visão de futuro dos negócios. Eles são apresentados em uma espécie de diagrama,
o Scorecard ou mapa estratégico, que dispostos nas quatro perspectivas previstas para a
ferramenta - financeira, clientes, processos internos e aprendizado e crescimento -, revelam
as atividades que devem ser desenvolvidas para alcançar as metas da organização. Essas
perspectivas estão interligadas, o que significa que a execução de um objetivo tem impacto
em outro, atuando, deste modo, de forma integrada para proporcionar o alcance da estratégia
de negócios da empresa (KALLÁS; RIBEIRO, 2008).
O mapa estratégico é o principal elemento do BSC e é entendido como uma estrutura gráfica
que “materializa” a estratégia. Composto pelo conjunto de objetivos estratégicos devidamente
relacionados, o mapa fornece uma representação visual da dinâmica oferecida pelo BSC. O
mapa auxilia a fazer com que todos os indivíduos na organização entendam a estratégia e
como transformar ativos intangíveis em resultados tangíveis (LEITE, 2008).
O que o BSC faz através do mapa estratégico é ampliar o entendimento do conteúdo da
estratégia organizacional de forma significativa e sua comunicação. “Ao traduzir a estratégia
na arquitetura lógica do mapa estratégico e do Balanced Scorecard, as organizações criam um
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ponto de referência comum e compreensível para todas as unidades e empregados”
(KAPLAN; NORTON, 2000a apud SILVA, 2003).
O mapa explicita a lógica de gestão do BSC, onde há uma hierarquização dos objetivos
estratégicos organizacionais distribuídos nas quatro perspectivas (TOSCANO, 2008).
Com os objetivos financeiros no topo, pode-se descer pelas demais perspectivas e seus objetivos, cada um deles ajudando a executar o objetivo superior. As setas aparecem no sentido inverso da criação, mostrando uma lógica que segue de baixo pra cima, ou seja, que o objetivo de cima é atingido pela execução do objetivo inferior (TOSCANO, 2008, p.30).
A Perspectiva Financeira permanece no topo da hierarquia, tendo seus resultados alavancados
pela Perspectiva de Clientes. Por sua vez, ambas as perspectivas possuem seus resultados
alavancados pela Perspectiva de Processos Internos, que também teve seus resultados
alavancados pelos resultados da Perspectiva de Aprendizado e Crescimento. A lógica
implícita nesta relação de causa e efeito (de baixo para cima) significa que o aprendizado e
crescimento geram resultados que, por meio de melhores e mais precisos processos internos
permitem a organização atender melhor seus clientes, levando à melhores resultados
financeiros (SILVA, 2003).
Os objetivos estratégicos contidos em cada perspectiva precisam ser medidos para que haja
um processo de acompanhamento do progresso da organização em atingir suas metas e a
estratégia projetada. “Sem quantificação, o objetivo estratégico não passa de uma declaração
passiva de intenções” (TOSCANO, 2008, p.31).
Para tanto, a estrutura do modelo leva à criação de uma rede de indicadores de desempenho,
para medir e acompanhar o sucesso de cada objetivo. Os indicadores de desempenho são
formas quantificáveis de representação das características de produtos e processos, e devem
permitir a avaliação do desempenho da organização em um determinado período em relação
às metas estabelecidas e a outros referenciais. Eles são essenciais no planejamento e controle
das organizações. No planejamento eles permitem a quantificação de metas para os objetivos
organizacionais e seu desdobramento na organização. Com relação ao controle, estes
permitem verificar se os objetivos estão sendo alcançados e possibilitam a tomada de ações
corretivas caso isso não esteja ocorrendo (KIYAN, 2001).
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De acordo com Kaplan e Norton citado por Leite (2008, p. 32) o conjunto de indicadores deve
ser uma combinação adequada de medidas de resultados (indicadores de ocorrências) com
impulsionadores de desempenho (indicadores de tendências) ajustados à estratégia e
obedecendo a uma lógica de interdependência. Os indicadores de ocorrência mostram o
desempenho das ações que já foram executadas, a melhoria operacional na organização;
enquanto os indicadores de tendência indicam os prováveis resultados futuros, mostrando até
que ponto as melhorias imediatas contribuem para a expansão dos negócios e se a
implantação da estratégia será bem sucedida (ZORZI, 2007).
Para cada objetivo são estabelecidos indicadores e metas que se desejam alcançar, e as
iniciativas ou projetos estratégicos que levarão a organização aos resultados pactuados. As
metas são parâmetros de desempenho esperado ou a taxa de melhoria necessária para cada
indicador. As metas estratégicas deverão ser “quebradas” ao longo do tempo, permitindo uma
evolução do desempenho relacionado ao objetivo estratégico. “A definição de metas (...) é um
pressuposto em qualquer sistema de controle de desempenho, pois apenas dessa forma é
possível avaliar a performance da organização” (TOSCANO, 2008, p.31).
As iniciativas ou projetos estratégicos são ações que permitem alcançar as metas estipuladas.
O estabelecimento de um portfólio de ação, o plano de ação, evita a perda do foco estratégico
e o investimento de recursos em projetos que não levam à geração de resultados (KALLÁS e
RIBEIRO, 2008).
Estabelecidos, então, os vínculos entre objetivos estratégicos, indicadores e iniciativa, passa-se a monitorar o progresso desses indicadores no intuito de verificar seu andamento vis-à-vis à meta traçada e validar a hipótese - ou descartar, se for o caso - de correlação entre o objetivo estratégico, seu indicador e suas iniciativas no processo de revisão da estratégia (TOSCANO, 2008, p.33).
A figura 6 apresenta um mapa estratégico e um painel contendo objetivos estratégicos,
indicadores e metas, bem como as iniciativas estratégicas. No mapa estratégico os objetivos
referentes às quatro perspectivas são interconectados por relações de causa e efeito. A lógica
parte da hipótese de que os resultados financeiros somente serão alcançados se os clientes-
alvo estiverem satisfeitos. Os processos internos produzem os resultados esperados pelos
clientes e a perspectiva de aprendizado e crescimento identifica quais ativos intangíveis
respaldam os processos internos e sustentam os pilares da estratégia (KALLÁS; RIBEIRO,
2008).
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Figura 6: Componentes do Balanced Scorecard Fonte: Adaptada de Kallás e Ribeiro (2008, p. 04)
C) Princípios da Organização Focalizada na Estratégia
Muito embora cada organização tenha suas características e contextos, abordando de maneira
diferenciada a implantação de sua estratégia, de acordo com Kaplan e Norton (2000), existem
cinco pontos em comum à maior parte delas. Estes pontos foram denominados Princípios da
Organização Focalizada na Estratégia, e de acordo com Toscano (2008, p. 20) são tão
importantes quanto a definição de indicadores para medir o desempenho da organização e não
podem deixar de ser observados durante o processo de implementação do BSC.
Os cinco princípios são: traduzir a estratégia em termos operacionais, alinhar a organização à
estratégia, transformar a estratégia em tarefa de todos, converter a estratégia em processo
contínuo e mobilizar a mudança por meio da liderança executiva. Esses princípios são
destacados na figura 07 abaixo, e detalhados na seqüência.
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Figura 7: Princípios da organização focalizada na estratégia Fonte: Kaplan e Norton (2000) apud Zorzi (2007, p. 71)
1. Traduzir a estratégia em termos operacionais
O primeiro princípio torna possível a construção de um consenso entre todos os níveis da
organização em torno da estratégia de negócio. Para tanto, torna-se necessário operacionalizar
a estratégia (MUSCAT; BIAZZI; MIGUEL, 2007).
O BSC desdobra a visão de negócio em ações em nível local, para que tanto executivos,
quanto os demais funcionários possam agir de acordo com os objetivos estabelecidos. Como
detalhado anteriormente, os objetivos são dispostos em um diagrama (mapa estratégico)
através da relação lógica de causa e efeito das perspectivas propostas pela ferramenta. Para
cada objetivo são identificados indicadores de desempenho, a fim que seja possível a
mensuração de desempenho nos diversos níveis, tornando a análise da performance da
organização menos subjetiva. O resultado deste processo é a tradução da estratégia em termos
operacionais (KAPLAN; NORTON, 2000).
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A construção do mapa estratégico e do painel de indicadores permite a tradução e descrição
completa da estratégia, criando uma referência comum e compreensível por todos os
funcionários. O que se pressupõe é que a estratégia esteja no centro do processo gerencial e
que seja executada por todos da organização possibilitando assim, o alcance dos resultados
propostos e a obtenção de sucesso na consecução dos objetivos (ZORZI, 2007).
2. Alinhar a organização à estratégia
A complexidade estrutural das organizações modernas torna necessário que todos os seus
departamentos estejam alinhados à estratégia de negócio para se obter sucesso no atingimento
dos resultados propostos.
Uma estrutura com diversos departamentos, diretorias e funcionários faz com que cada setor
se especialize e se concentre apenas em seus próprios objetivos, dificultando a implementação
da estratégia organizacional. Assim, para que o desempenho organizacional seja superior à
soma