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FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO ESCOLA DE GOVERNO PROFESSOR PAULO NEVES DE CARVALHO CURSO SUPERIOR DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Análise da Implantação do Processo Gestão Estratégica no Sistema de Defesa Social do Estado de Minas Gerais, por meio do Balanced Scorecard Renata Ferreira Leles Dias Belo Horizonte 2009

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  • FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO

    ESCOLA DE GOVERNO PROFESSOR PAULO NEVES DE CARVALHO

    CURSO SUPERIOR DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

    Análise da Implantação do Processo Gestão Estratégica no Sistema de Defesa Social do

    Estado de Minas Gerais, por meio do Balanced Scorecard

    Renata Ferreira Leles Dias

    Belo Horizonte

    2009

  • Renata Ferreira Leles Dias

    Análise da Implantação do Processo Gestão Estratégica no Sistema de Defesa Social do

    Estado de Minas Gerais, por meio do Balanced Scorecard

    Monografia apresentada à Escola de Governo Professor Paulo Neves de Carvalho da Fundação João Pinheiro como requisito parcial para obtenção do título de bacharel em Administração Pública

    Professor: Elisa Maria Pinto da Rocha

    Belo Horizonte

    2009

  • RESUMO

    Dentro da perspectiva mais ampla de Gestão Estratégica este trabalho apresenta a experiência

    de utilização da ferramenta Balanced Scorecard (BSC) no âmbito do Sistema de Defesa

    Social. Existem muitos estudos sobre a implantação de práticas gerencias inovadoras

    principalmente orientadas à iniciativa privada. Contudo, nos últimos anos, o setor público

    vem sendo pressionado a melhorar seu desempenho e demonstrar maior transparência em suas

    ações. Neste contexto, algumas organizações públicas têm buscado no setor privado,

    ferramentas gerenciais capazes de tornar o serviço público mais competente e orientado ao

    cidadão. Este trabalho procurou analisar a experiência de implantação do BSC no Sistema de

    Defesa Social. Para tanto, foi realizada uma revisão da literatura que delimitou conceitos e

    definições acerca do processo de gestão estratégica e da ferramenta BSC. Além disso, buscou-

    se caracterizar o cenário de reforma administrativa do Estado no qual o processo de gestão

    estratégica e a utilização da ferramenta BSC se inserem, analisando como o Estado de Minas

    Gerais vem aderindo às concepções da Administração Pública Gerencial. Em seguida, foi

    realizada pesquisa documental para o detalhamento do processo de alinhamento estratégico do

    Sistema de Defesa Social através da utilização da ferramenta de gestão estratégica BSC. Por

    fim, foram analisados os resultados deste processo que demonstraram em que medida a

    experiência do Sistema de Defesa Social seguiu as premissas apontadas na literatura para a

    implantação do BSC como ferramenta de gestão estratégica.

    PALAVRAS-CHAVE:

    Gestão Estratégica, Balanced Scorecard no Setor Público, Sistema de Defesa Social, Estado

    de Minas Gerais

  • ABSTRACT

    Within the broader perspective of strategic management this paper presents the experience of

    using the tool Balanced Scorecard (BSC) under the System of Social Protection. There are

    many studies about the implementation of innovative management practices mainly oriented

    to the private sector. However, in recent years, the public sector is being pressed to improve

    their performance and demonstrate greater transparency in their actions. In this context, some

    public organizations have sought in private sector management tools capable of making the

    public more responsible and oriented to the citizen. This study sought to examine the

    experience of implementing the BSC in Social Protection System. For this, we performed a

    literature review to define concepts and definitions about the process of strategic management

    tool and the BSC. Furthermore, we tried to characterize the stage of administrative reform of

    the State in which the process of strategic management and use of the tool BSC fall,

    examining how the state of Minas Gerais is adhering to the concepts of Public Administration

    Management. Then, research was conducted to document the details of the strategic alignment

    of the System of Social Protection through the use of the BSC strategic management tool.

    Finally, we analyzed the results of this process that demonstrated the extent to which the

    experience of the System of Social Protection followed the assumptions outlined in the

    literature for the implementation of the BSC as a tool for strategic management.

    KEYWORDS:

    Strategic Management, Balanced Scorecard in the Public Sector, System of Social Protection,

    State of Minas Gerais

  • LISTA DE ILUSTRAÇÕES

    FIGURAS

    Figura 1: Etapas do Processo de Gestão Estratégica......................................................... 23

    Figura 2: BalancedScorecard: etapa de um processo contínuo........................................ 25

    Figura 3: Mapa Estratégico de Minas Gerais.................................................................... 28

    Figura 4: Cadeia de relações de causa e efeito entre as quatro perspectivas......................32

    Figura 5: As quatro perspectivas do Balanced Scorecard..................................................36

    Figura 6: Componentes do Balanced Scorecard................................................................40

    Figura 7: Princípios da organização focalizada na estratégia............................................ 41

    Figura 8: Relações de Causa e Efeito no BSC Adaptado ao Setor Público........................53

    Figura 9: Organograma da Secretaria de Defesa Social.....................................................61

    Figura 10: Estrutura do Colegiado de Integração do Sistema de Defesa Social................62

    Figura 11: Sistema de Defesa Social .................................................................................64

    Figura 12: Agenda de Responsabilidade da Dimensão Estratégica...................................76

    Figura 13: Mapa Estratégico do Sistema de Defesa Social................................................77

    QUADROS

    Quadro 1: Principais Diferenças entre a Gestão Pública Burocrática e a Gerencial..........17

    Quadro 2: Principais Diferenças entre o BSC original e o BSC adaptado ao Setor Público

    ............................................................................................................................................54

    Quadro 3: Indicadores Finalísticos da Área de Resultado de Defesa Social......................71

  • SUMÁRIO

    1 INTRODUÇÃO.......................................................................................................................6

    1.1 Objetivos...............................................................................................................................8

    1.2 Justificativa...........................................................................................................................8

    2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS.......................................................................... 11

    3 REVISÃO DE LITERATURA............................................................................................. 14

    3.1 Reforma Administrativa do Estado.................................................................................... 14

    3.2 Gestão Estratégica: Conceitos e Ferramentas.....................................................................20

    3.2.1 Gestão Estratégica em Minas Gerais...............................................................................26

    3.2.2 BSC como Ferramenta de Apoio ao Processo de Gestão Estratégica............................30

    3.2.3 Considerações sobre a Adaptação do BSC ao Setor Público.........................................45

    4 CARACTERIZAÇÃO GERAL DO SISTEMA DE DEFESA SOCIAL.............................56

    5 A EXPERÊNCIA DE IMPLANTAÇÃO DO BSC NO SISTEMA DE DEFESA SOCIAL 66

    5.1 Descrição do Alinhamento Estratégico da Integração do Sistema de Defesa Social........66

    5.2 Análise da Implantação do Balanced Scorecard no Sistema de Defesa Social do Estado de

    Minas Gerais.............................................................................................................................79

    5.2.1 Análise dos Componentes do BSC no Sistema de Defesa Social...................................79

    5.2.2 Cinco Princípios da Organização Focalizada na Estratégia............................................84

    6 CONCLUSÕES.....................................................................................................................88

    REFERÊNCIAS 93

  • 1 INTRODUÇÃO

    A ênfase na eficiência e eficácia das ações do governo, conjugadas a uma visão de

    profissionalização da burocracia estatal fazem com que um conjunto de conceitos, antes

    limitados à área privada, seja utilizado crescentemente como novo meio de respostas às

    demandas sociais. Assim, influenciado por um movimento de reforma administrativa, o setor

    público vem buscando novas ferramentas que introduzam os preceitos de uma gestão

    orientada a resultados, através da utilização de práticas da administração privada, na tentativa

    de tornar o serviço público mais hábil e orientado ao cidadão (GHELMAN, 2006).

    Neste contexto, o processo de gestão estratégica surge como uma oportunidade de respostas

    às expectativas sociais por melhores serviços públicos, ou seja, como um conjunto de

    procedimentos capaz de contribuir com o processo de planejamento governamental, no

    sentido de aperfeiçoar as práticas de estabelecimento de metas, monitoramento e avaliação de

    resultados.

    As premissas envolvidas no conceito de gestão estratégica mostram-se amplamente

    difundidas no âmbito da iniciativa privada e cada vez mais assumem lugar de destaque no

    ambiente público no que diz respeito a alinhamento estratégico, medição de resultados e

    feedback. Entretanto, tal abordagem ainda apresenta-se incipiente nos processos gerenciais

    executados pela Administração Pública (PRIETO et al, 2006).

    Desta forma, tendo em vista a abordagem mais ampla sobre gestão estratégica, o trabalho

    pretende descrever a experiência do processo de alinhamento estratégico realizado pelo

    Sistema de Defesa Social através da utilização do Balanced Scorecard, apontando em que

    medida tal processo segue os preceitos contemplados na literatura para a implantação da

    ferramenta.

    No Brasil, de acordo com Leite (2008, p. 46), a aplicação do BSC como ferramenta para

    implantação do processo de gestão estratégica no âmbito da Administração Pública ainda é

    considerada incipiente, muito embora possam ser enumeradas diversas organizações que

    adotaram a ferramenta como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), o

  • 7

    Instituto Nacional do Câncer (INCA), a Secretaria de Gestão do Ministério do Planejamento

    (SEGES) e várias secretarias do poder executivo do Governo de Minas Gerais como a

    Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão (SEPLAG), a Secretaria de Estado de Ciência,

    Tecnologia e Ensino Superior (SECTES), a Secretaria de Estado de Saúde (SES) e a

    Secretaria de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (SEAPA).

    O que se observa geralmente, é que a construção de instrumentos de planejamento, execução

    e monitoramento de ações em busca de resultados e objetivos consistentes a determinada

    estratégia, é percebida por grande parte dos gestores como simples atividade e não como um

    processo contínuo de gestão. Ao observar a execução de processos estratégicos no âmbito

    público, percebe-se que por vezes são investidas quantidades enormes de recursos para a

    realização de um plano de ações que contemple as mais variadas demandas sociais, mas que

    ao final acaba por se transformar em conjunto de documentos de pouca utilidade para os

    propósitos mais amplos de melhoria da gestão pública (PEDRO, 2004).

    Neste contexto, o alinhamento estratégico da integração do Sistema de Defesa Social pode

    gerar duas diferentes situações: um ambiente em que o processo de gestão estratégica passa a

    se configurar como elemento facilitador do processo de tomada de decisão no âmbito dos

    órgãos que integram a área de Defesa Social, contribuindo positivamente para a integração

    dos mesmos. Ou uma segunda situação, aquela em que a implantação da ferramenta BSC para

    a construção do processo de gestão estratégica é percebida como simples projeto, ligado a

    criação de um número extenso de objetivos abrangentes e desprendidos de quaisquer metas de

    desempenho, incapazes de orientar, portanto as ações da política de integração do Sistema de

    Defesa Social.

    Desta forma, tanto pela importância que o processo de gestão estratégica vem assumindo

    entre as organizações e, principalmente, pela necessidade de melhor compreender e utilizar-se

    desta nova abordagem no âmbito da Administração Pública, optou-se por pesquisar como tal

    processo vem sendo implantado nas organizações governamentais, descrevendo

    especificamente a experiência do Sistema de Defesa Social na utilização da ferramenta BSC

    na execução do alinhamento estratégico da integração.

  • 8

    1.1 Objetivos

    O objetivo geral do estudo é analisar a recente experiência de implantação do Balanced

    Scorecard no Sistema de Defesa Social do Estado de Minas Gerais.

    Para tanto, torna-se necessário:

    a) sistematizar conceitos e definições sobre o processo de gestão estratégica e sobre a

    ferramenta Balanced Scorecard (BSC), enfatizando sua utilização no Setor Público;

    b) identificar em que medida a experiência de implantação do BSC no Sistema de Defesa

    Social retrata os componentes do BSC, conforme apontado na literatura.

    Assim, esta monografia procura discutir aspectos que podem ser retratados pelos seguintes

    questionamentos: (a) Que componentes ou perspectivas deveriam ser retratados pelo BSC

    quando de sua utilização em organizações públicas? (b) Em que medida a experiência de

    implantação do BSC no Sistema de Defesa Social do Estado de Minas Gerais retrata os

    aspectos apontados na literatura sobre os componentes do BSC e princípios da organização

    focalizada na estratégia? (c) Em que momento do processo de gestão estratégica encontrar-se-

    ia o Sistema de Defesa Social?

    Espera-se com este trabalho contribuir para ampliação do conhecimento sobre a implantação

    dos processos relacionados à gestão estratégica por meio da utilização da ferramenta BSC na

    administração pública.

    1.2 Justificativa

    A ampliação do conhecimento no tocante a modelos gerenciais trouxe para empresas e

    governos a oportunidade de aperfeiçoar seus resultados. Neste contexto, o processo de gestão

    estratégica surge como um dos mecanismos empregados no aprimoramento da administração

    de recursos em busca de melhores resultados. O balanced scorecard, por sua vez, é um dos

    instrumentos utilizados para implantação do processo estratégico (ALDAY, 2000).

  • 9

    A Administração Pública constitui-se campo que requer a ampliação da eficiência das ações

    governamentais, visando a melhoria da prestação dos serviços ao cidadão. Temáticas como

    planejamento, controle e monitoramento de atividades para alcance de metas assumem uma

    forma prática e visível fazendo com que o Estado busque ferramentas que possam responder a

    crescente exigência social por meio do controle e mensuração da eficácia, produtividade e

    efetividade da utilização dos recursos públicos (BORGES, 2008).

    Atualmente, estamos frente ao esgotamento de um modelo de Estado provedor, em larga

    escala, de necessidades e demandas sociais sempre crescentes e em nível cada vez mais

    sofisticado, circunscrito, entretanto, por uma oferta limitada de recursos. Tal fato induz à

    busca por novas propostas que possam reduzir custos e aumentar a qualidade dos serviços

    públicos, de modo que se possa direcionar a formulação de políticas públicas e intervir de

    forma melhorada na complexa rede de relações que envolvem a sociedade (GHELMAN,

    2006).

    Neste sentido, é fundamental que haja um avanço contínuo da Administração Pública no que

    diz respeito à sua capacidade de gerenciamento, com maior transparência das ações do

    governo e ampliação de sua capacidade de resposta às demandas sociais, emergindo, neste

    contexto, o processo de gestão de estratégica e a utilização da ferramenta BSC como

    possibilidades de aperfeiçoamento das organizações públicas (BORGES, 2008).

    Este trabalho está estruturado em seis capítulos. Neste primeiro capítulo é fornecida uma

    visão geral a respeito dos temas abordados ao longo do trabalho e a problemática que norteou

    todos os outros itens, bem como os objetivos que se pretende atingir e os motivos que dão

    relevância a este estudo. No Capítulo 2 é descrita a estrutura metodológica que embasa a

    pesquisa, onde é detalhada sua caracterização. No Capítulo 3 é apresentada a fundamentação

    teórica que permite contextualizar aspectos importantes para a análise da experiência de

    implantação do BSC no âmbito do Sistema de Defesa Social. Para tanto, foi feita pesquisa

    bibliográfica que apontou as principais características do ambiente público em que se insere o

    processo de gestão estratégica, sistematizando os conceitos e definições deste processo e da

    ferramenta balanced scorecard. O Capítulo 4 apresenta a caracterização geral da estrutura do

    Sistema de Defesa Social. No Capítulo 5 é descrito o processo de alinhamento estratégico

    realizado pelo Sistema de Defesa Social e analisados os resultados da experiência de

    implantação do BSC nesta estrutura. Finalmente, no Capítulo 6 são apresentadas as

  • 10

    considerações finais do estudo em que se busca contribuir para a implantação do processo de

    gestão estratégica por meio do BSC na política de integração do Sistema de Defesa Social.

  • 2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

    De acordo com OLIVEIRA (2004, p. 56) metodologia é o estudo dos meios de investigação

    que procuram delimitar um problema, de forma a analisar, criticar e interpretar fenômenos

    observáveis, proporcionando o suporte científico necessário à execução de determinado

    estudo. Nesta perspectiva, o método pode assim ser entendido, como um conjunto de

    procedimentos que levam ao entendimento da realidade, ou seja, a forma pelo qual são

    alcançados objetivos preliminarmente estabelecidos.

    A escolha do instrumental metodológico a ser empregado em uma pesquisa depende

    diretamente dos elementos que serão investigados, dos recursos financeiros e humanos

    disponíveis, e, principalmente, do problema proposto para o estudo. Os métodos e técnicas

    utilizados devem adequar-se a delimitação do objeto, das hipóteses formuladas e das

    informações disponíveis, não se limitando à vontade do pesquisador, mas a necessidade do

    caso em estudo (MARCONI; LAKATOS, 2007).

    A metodologia de pesquisa possui pelo menos três diferentes abordagens de acordo com

    OLIVEIRA (2004, p. 114): estudo descritivo, a abordagem quantitativa e abordagem

    qualitativa.

    O estudo descritivo abrange aspectos gerais de modo a permitir ao pesquisador uma melhor

    compreensão das variáveis e fatores que influenciam no comportamento do objeto em análise.

    A abordagem quantitativa pretende quantificar dados e informações coletados com o emprego

    de recursos e técnicas estatísticas para descobrir a relação entre as variáveis, bem a relação de

    causalidade entre tais elementos. Por sua vez, a abordagem qualitativa é usualmente

    empregada no desenvolvimento de situações complexas, pois permite descrever determinadas

    hipóteses e processos dinâmicos que não podem ser investigados por um método quantitativo,

    ou seja, esta abordagem não tem a pretensão de medir já que a natureza do problema possui

    domínios não quantificáveis (OLIVEIRA, 2004).

    Para Tripodi e outros citado por Marconi e Lakatos (2007, p. 84) os tipos de pesquisa

    dividem-se em três grandes grupos, a seguir descritos.

  • 12

    Quantitativo-Descritivas: que consistem em pesquisas cuja finalidade é o delineamento ou

    análise das características de determinado fenômeno utilizando-se métodos formais de

    estatísticas para comprovação de hipóteses;

    Exploratórias: que são investigações voltadas para a formulação de questões com três

    diferentes objetivos: desenvolver hipóteses, aumentar a familiaridade do pesquisador com o

    assunto e modificar ou clarificar conceitos. Podem ser encontradas descrições tanto

    quantitativas como qualitativas do objeto de estudo.

    Experimentais: são pesquisas empíricas que visam testar hipóteses que dizem respeito a

    relações de causa e efeito e utilizam sempre projetos experimentais com seleção de amostras,

    grupo de controle e manipulação de variáveis independentes.

    De modo geral, este trabalho, busca descrever o processo de implantação e uso do Balanced

    Scorecard como ferramenta de gestão estratégica no Sistema de Defesa Social podendo ser

    classificado como exploratório e de caráter descritivo, cujo resultado esperado é aumentar o

    conhecimento sobre as experiências de implantação de ferramentas de gestão estratégica no

    setor público, proporcionando maior familiaridade com o tema.

    A pesquisa caracteriza-se ainda como qualitativa, e visa descrever os componentes de uma

    ferramenta gerencial e suas inter-relações de significados, analisando sua utilização no

    processo de alinhamento estratégico do Sistema de Defesa Social.

    O levantamento de dados de variadas fontes é intrínseco a efetivação de qualquer estudo e é

    realizado com intuito de coletar informações acerca do objeto de interesse (MARCONI;

    LAKATOS, 2007, p. 62). A obtenção de dados pode ser realizada por meio de três

    procedimentos ou técnicas: pesquisa bibliográfica, pesquisa documental e contatos diretos.

    A pesquisa bibliográfica corresponde ao apanhado geral de todas as diferentes contribuições

    que já foram produzidas sobre determinado fenômeno ou assunto e abrange toda a literatura

    disponível e já tornada pública (OLIVEIRA, 2004, p. 119). A pesquisa documental

    caracteriza-se pela coleta de dados em documentos, tais como: arquivos oficiais, memórias de

    reuniões, atas, relatórios, decretos, leis, etc. Já os contatos diretos ou pesquisa de campo são

    levantamentos realizados no próprio local onde o fenômeno ocorre; este tipo de coleta de

  • 13

    dados consiste na observação dos fatos e registro das variáveis consideradas relevantes para a

    análise do objeto em estudo (MARCONI; LAKATOS, 2007, p. 71).

    Os procedimentos utilizados na elaboração desta monografia foram a pesquisa bibliográfica e

    a documental.

    No que diz respeito à pesquisa bibliográfica, buscou-se sistematizar conceitos e idéias de

    diferentes autores que discutem sobre administração pública, gestão estratégica e ferramentas

    utilizadas para a implantação do processo estratégico no setor público.

    A este respeito, especial atenção foi dada à ferramenta BSC, uma vez que tem sido bastante

    utilizada no setor público, de modo geral. Foi realizado esforço de síntese das idéias de

    autores que se preocupam em discutir as necessárias adaptações dos componentes do BSC

    para sua utilização no setor público e os princípios que norteiam a implantação desta

    ferramenta nas organizações focalizadas na estratégia. Neste sentido, autores como Pinto

    (2005), Ghelman (2006), Albuquerque, Mota e Bentinho (2008) e Kaplan e Norton (2000),

    dentre outros, foram referências importantes para este trabalho.

    Tendo em vista os objetivos do trabalho, realizou-se levantamento documental em relatórios

    institucionais da Secretaria de Defesa Social, especialmente o “Diagnóstico de Oportunidades

    que Potencializem o Desenvolvimento do Projeto de Implantação do Sistema Integrado de

    Defesa Social - SIDS” e “O processo de Alinhamento Estratégico da Integração dos Órgãos

    de Defesa Social”. Este levantamento foi fundamental para descrever a experiência de

    implantação do processo de gestão estratégica por meio do BSC no Sistema de Defesa Social.

  • 3 REVISÃO DE LITERATURA

    Este capítulo tem por objetivo expor abordagens e conceitos necessários a análise da

    experiência de implementação do Balanced Scorecard no Sistema Integrado de Defesa Social.

    Inicialmente, procurar-se-á delimitar o contexto de surgimento da gestão estratégica no setor

    público, discorrendo-se sobre os propósitos de sua utilização na administração pública. E em

    seguida, serão delimitados os conceitos e principais características do processo de gestão

    estratégica e da ferramenta BSC, enfatizando sua adaptação para uso no ambiente público.

    3.1 Reforma Administrativa do Estado

    Esta seção procura descrever o contexto de surgimento da gestão estratégica no setor público.

    Para tanto, é realizada uma revisão bibliográfica dos princípios que norteiam as novas

    tendências da Administração Pública no que diz respeito a emergência de uma Administração

    Pública Gerencial ou New Public Management (NPM), dentro de um contexto de reforma

    administrativa do Estado, aqui considerado como um fenômeno mundial.

    Para efeito desta análise considera-se Administração Pública a organização de recursos

    humanos e materiais para a consecução dos propósitos de um governo, através de ações

    racionais que busquem maximizar a realização de objetivos que são públicos por definição.

    Ou seja, a administração aplicada aos “negócios do Estado” (FILHO, 1997).

    A Administração Pública compreende os meios de que se serve o Estado, entendido como ente soberano, organizado sobre um território para fins de defesa, bem-estar, ordem e progresso social, para efetivar o atendimento das necessidades públicas. Todo o conjunto da estrutura patrimonial de bens, equipamentos, tecnologias e servidores públicos, distribuídos sistematicamente em funções, programas, projetos e atividades, submetidos à lógica da captação e aplicação de recursos e organizados sob a égide da legalidade, impessoalidade, moralidade e publicidade dos atos, traduz a macro-entidade denominada de Administração Pública (FILHO, 1997, p. 12)

  • 15

    A administração burocrática clássica baseada no princípio do mérito profissional descrito por

    Max Weber foi implementada nos principais países europeus no final do século XIX. A

    administração burocrática substituía a administração patrimonialista, na qual o patrimônio

    público e privado se confundiam, e que se tornou incompatível com o capitalismo industrial e

    democracias que emergiram no século XIX. Para o capitalismo era essencial uma clara

    distinção entre mercado e o Estado; enquanto que a democracia necessitava da diferenciação

    entre sociedade civil, formada pelo conjunto dos cidadãos, e o Estado que esta deveria

    controlar, ou seja, o público e o administrador público (PEREIRA, 2005b).

    O modelo burocrático valorizava o profissionalismo, a impessoalidade, a divisão

    racionalizada do trabalho, a hierarquia funcional e a autoridade. Apesar de ter cumprido com

    seu objetivo de erradicar a lógica patrimonialista, o formalismo e o excesso de normas da

    administração burocrática orientada para o controle de processo e não nos resultados, revelou-

    se, com o passar do tempo, ineficiente e pouco transparente (GHELMAN, 2006).

    No momento em que o Estado liberal tornou-se um grande Estado social e econômico do

    século XX, assumindo um número crescente de serviços sociais - educação, saúde,

    previdência, assistência social - e de papéis econômicos - como estabilização da moeda e do

    setor financeiro e regulação da economia - verificou-se que os pressupostos de racionalidade

    da administração burocrática não mais garantiam rapidez, boa qualidade e baixo custo aos

    serviços públicos (PEREIRA, 2005b).

    A crise se caracterizou pela perda da capacidade do Estado de coordenar e intervir no sistema

    social e econômico. Um aparato estatal inchado sustentado por uma estrutura governamental

    burocrática não mais atendia às necessidades do governo/cidadãos. A tradicional hierarquia

    burocrática, com seus procedimentos baseados em regras e a rigidez que estas regras geram,

    passou a se vista como superada e inútil. Os cidadãos reclamavam da burocracia estatal que

    não funcionava, da sua inflexibilidade, dos programas e organizações que se propunham e

    impossibilitavam a coordenação e dos organismos públicos que pareciam mais interessados

    em promover seus próprios negócios do que em servir os cidadãos (DINIZ, 1997).

    Para superar a crise administrativa era preciso reconstruir o Estado dotando este de formas de

    intervenção mais leves, em que a competição tivesse um papel mais importante. Era urgente

  • 16

    uma administração não apenas profissional, mas principalmente, eficiente e voltada para o

    atendimento das demandas sociais (ABRUCIO, 2005).

    Neste âmbito, a reforma administrativa do Estado deve ser entendida dentro de um contexto

    de redefinição do próprio papel do Estado, como uma resposta ao crescimento continuado e

    decorrente diferenciação de estruturas e pauta de problemas a serem enfrentados pelo Estado.

    Um novo panorama marcado por um complexo de inovações políticas, econômicas,

    tecnológicas, sociais, culturais, administrativas, comerciais provocou alterações na

    intensidade e foco de atuação do Estado e na forma de exercer suas funções (BRASIL, 1995

    apud GHELMAN, 2006).

    Diante desse quadro, um movimento de reformas no setor público ganhou destaque a partir da

    década de 80. Essas reformas se caracterizavam pela introdução de práticas gerenciais no

    aparato público e objetivavam aumentar a eficiência e a efetividade da intervenção pública,

    expandir a cobertura dos serviços e melhorar a qualidade dos mesmos, caracterizando a

    emergência de um novo paradigma denominado Administração Pública Gerencial (PEREIRA,

    2005a).

    A administração pública gerencial envolve uma mudança na estratégia de gerência que

    precisa ser posta em prática em uma estrutura reformada do Estado. Assim, a idéia é que

    sejam combinadas mudanças na estrutura organizacional do Estado através da

    descentralização de políticas públicas, delegação de autoridade, mecanismos de

    responsabilização e accountability; com práticas modernas da gestão empresarial, entre elas a

    gestão orientada a estratégia, com foco em resultados e avaliação e controle do desempenho

    por meio de metas quantificáveis (PEREIRA, 2005a).

    Para Ghelman (2006, p. 18) a administração pública gerencial tem por orientação os seguintes

    princípios:

    ^ gestão por resultados como reorientação dos mecanismos de controle, que devem

    ser realizados a posteriori com a utilização de indicadores de desempenho,

    revertendo a cultura burocrática de foco no controle dos meios e recursos;

    ^ ênfase na eficiência, racionalização dos recursos melhorando a qualidade dos

    gastos públicos através do aumento da produtividade e da construção de uma

    consciência de custos;

  • 17

    ^ Estado voltado ao atendimento das demandas da sociedade, a Administração

    Pública deve satisfazer o interesse público, focando suas ações no bem estar do

    cidadão;

    ^ descentralização dos controles gerenciais no sentido de fornecer maior autonomia,

    responsabilização e flexibilização de procedimentos;

    ^ ampliação dos mecanismos de transparência da ação estatal permitindo o controle

    social e intensificando o processo de cobrança da sociedade em relação ao

    governo;

    ^ valorização dos servidores públicos, visto como o principal agente capaz de

    proporcionar a modernização administrativa exitosa. A idéia é estimular uma

    postura empreendedora e criativa dos funcionários para que estes passem a enfocar

    suas atividades no bem estar social, vendo o cidadão como um consumidor.

    O quadro 01 mostra uma síntese comparativa entre as principais características de uma gestão

    pública burocrática e uma gestão pública gerencial:

    Características Gestão Pública BurocráticaGestão Pública

    Gerencial

    M o d e lo de G estã o r íg id o e in e fic ie n te f le x ív e l e e f ic ie n te

    Id e o lo g iafo rm a lism o e rigor

    té c n ic ofle x ib ilid a d e ad m in istra tiva

    A tr ib u tos

    r id id ez n o s p r o ced im en to s co m e x c e s s iv a n orm as e

    reg u la m en to s

    m a io r a u to n o m ia e resp o n sa b ilid a d e

    F o c o P o d er d o E stad o c id a d ã o /so c ie d a d e

    Ê n fa sep r o c e s s o s / co n tro le d o s

    m e io sresu lta d o s

    In d icad ores p rod u çãoe fe tiv id a d e , e f ic á c ia e

    e f ic iê n c ia

    D e c is ã o cen tra liza d a d escen tra liza d a

    S erv id o r P ú b lico e s tá v e lv a lo r iz a ç ã o d o serv id o r co m in v e s tim e n to e m ca p a c ita çã o

    e g e s tã o d o co n h e c im e n to

    C on tro leA d m in istra tiv o

    "antes": co n tro le d os p r o c e sso s

    "depois": co n tro le d o s resu lta d o s

    Quadro 1: Principais Diferenças entre a Gestão Pública Burocrática e a Gerencial Fonte: Adaptado de Osório (2003) apud Ghelman (2006, p. 20)

  • 18

    O movimento em prol da reforma do setor público tornou-se, a partir dos primeiros anos da

    década de 1980, um consenso praticamente global. Desde então, a grande maioria dos

    governos têm empreendido esforços para modernizar e agilizar a Administração Pública

    (ABRUCIO, 2005).

    O processo de modernização administrativa da Administração Pública no Brasil iniciou-se em

    1995, no governo de governo de Fernando Henrique Cardoso, através do Plano Diretor de

    Reforma do Aparelho do Estado (PDRAE). O documento produzido pelo Ministério da

    Administração Federal e Reforma do Estado - MARE defendia a reforma do aparelho estatal

    e o fortalecimento de sua capacidade de gestão como solução a crise do Estado brasileiro. O

    plano expressava a visão estratégica do governo e orientava a realização dos projetos de

    reforma e, a partir de um diagnóstico apontou os principais problemas da administração

    pública brasileira nas dimensões institucional-legal, cultural e de gestão (BORGES, 2008).

    A criação do Ministério da Administração Federal e Reforma do Estado deixou clara a

    prioridade dada à reforma administrativa pelo governo federal. O órgão, que passou a

    funcionar desde o primeiro momento de instalação do governo, além de suas funções

    tradicionais de gestão assumiu o papel de coordenar e executar a reforma, implantado o

    modelo de gestão pública gerencial (PEREIRA, 2005a).

    A onda da reforma, entretanto, não se limitou ao governo federal e vem se desdobrando nos

    demais entes federados, que também passaram a buscar novas formas de estruturas

    administrativas e modelos de gestão que pudessem melhorar a prestação do serviço público.

    Em Minas Gerais desde 2003 a reforma estatal se tornou um dos principais objetos do

    planejamento governamental do Estado (LEITE, 2008).

    Com a adoção das novas tendências da administração pública, o Estado de Minas Gerais

    iniciou, a partir de 2003, processo de modernização administrativa intitulado Choque de

    Gestão.

    O programa tem como objetivos a simplificação de procedimentos e racionalização de gastos

    de forma que se possa fazer melhor proveito dos recursos públicos para produção de

    resultados mais eficientes. Segundo Vilhena, Martins e Marini (2006) as principais metas a

    serem atingidas com o Choque de Gestão são o ajuste fiscal e o desenvolvimento econômico,

  • 19

    político e social do Estado em bases sustentáveis no longo prazo a partir de uma perspectiva

    integradora de políticas.

    Para imprimir a Administração Pública mineira um ritmo condizente com a realidade

    contemporânea e uma gestão mais eficiente, eficaz e efetiva, o Choque de Gestão foi

    estruturado em cinco frentes de atuação (OLIVEIRA, 2006 apud BORGES, 2008, p. 47):

    ^ efetivação do planejamento e da estratégia na gestão pública por meio do

    alinhamento das metas de longo prazo às ações do presente, fazendo com que

    todos os servidores identificassem seu papel de contribuição da realização dos

    objetivos do governo, além de permitir que planejamento e orçamento realmente

    representassem uma projeção da realidade;

    ^ crescimento da receita através da eficiência na arrecadação: modernização do

    sistema tributário e simplificação dos processos de abertura de novas empresas no

    Estado para elevar a base tributária;

    ^ redução de despesa com a identificação e correção de possíveis pontos de

    desperdício de recursos públicos;

    ^ reestruturação de processos de trabalho para adequação institucional em busca do

    aumento da qualidade dos serviços públicos e redução do tempo e custo das

    respostas às demandas sociais;

    ^ incorporação da metodologia de gerenciamento de projetos a estratégia do governo

    para o aperfeiçoamento da gestão, possibilitando que os projetos fossem realizados

    dentro de tempo e orçamento previamente determinados.

    Desta forma, ao definir o programa Choque de Gestão o governo de Minas Gerais buscou

    aderir aos preceitos da administração pública gerencial, de modo a reestruturar sua

    organização e implantar uma prática gerencial inovadora, simplificando procedimentos,

    racionalizando gastos e produzindo resultados eficientes para o cidadão. Ao focar suas ações

    na reforma administrativa do aparato estatal o Governo de Minas Gerais pretende aproveitar

    da melhor maneira os escassos recursos de que dispõe para produzir bens e serviços de

    qualidade à sociedade mineira (BORGES, 2008).

  • 20

    3.2 Gestão Estratégica: Conceitos e Ferramentas

    A passagem da economia industrial para a economia da informação compreende uma série de

    mudanças no ambiente que não se limitam a alterações no panorama econômico, mas na

    própria conjuntura política, social, cultural e tecnológica. O paradigma industrial,

    caracterizado por processos operacionais baseados na produção a baixo custo e por

    trabalhadores vistos como apêndices de máquinas, cedeu lugar a um paradigma pós-industrial

    em que a qualidade total, serviços just-in-time, tecnologia de informação e capacidade de

    inovação constituem uma revolução no âmbito das organizações (TACHIZAWA; REZENDE,

    2000).

    Se até então as organizações eram vistas como um sistema fechado em que regras de

    racionalidade e eficiência predominavam como referência para a obtenção de lucros

    crescentes, neste novo contexto, o sucesso somente pode ser alcançado se as organizações

    levarem em conta o meio externo no qual estão inseridas. Esta abordagem de organização

    aberta tornou necessária a análise de políticas e ações que considerem o ambiente e façam

    frente às suas influências, esta nova concepção tornou necessária a construção de estratégias

    (THOMPSON, 1967 apud BIGNETTI; PAIVA, 2002).

    Para Ruas (2003, p. 04) estratégia é a forma pela qual uma organização atinge sua missão e

    sua visão de longo prazo, ou seja, são planos estabelecidos pela administração para que se

    consiga alcançar os objetivos gerais da empresa. Eisenhardt citado por Muscat, Biazzi e

    Miguel (2007, p. 36) define estratégia como resposta a duas questões fundamentais para a

    continuidade da organização: onde se pretende chegar e como chegar lá. Segundo Mintzberg

    citado por Borges (2008, p. 18) a maior parte das definições de estratégia converge para uma

    idéia de plano padrão a ser seguido por toda a organização em prol de um mesmo objetivo.

    Para Garrison e Noreen (2001) “a estratégia é basicamente uma teoria sobre como alcançar as

    metas da organização”. Bignetti e Paiva (2002, p. 106) definem estratégia como um caminho

    capaz de agregar interesses diversos considerando um ambiente específico e a maneira com

    que a organização interage com este.

    Este cenário competitivo que se impõe após os anos 80 passa a exigir das organizações a

    construção de um novo referencial na administração, ou seja, a criação de práticas de gestão

  • 21

    capazes de induzir os administradores a outro patamar gerencial. Nesta perspectiva, o

    processo de gestão estratégica aparece como uma abordagem inovadora e coerente com o

    ambiente empresarial (KAPLAN; NORTON, 1997).

    Gestão estratégica é um processo de ação gerencial sistemática e contínua que pretende

    assegurar à organização, uma direção no longo prazo e flexibilidade e agilidade para lidar

    com um cenário complexo. Ela deve ser entendida como algo mais amplo e não como um

    mero conjunto de atividades finitas, ou seja, um processo de adaptação continuada às

    mudanças do contexto mercadológico com as quais as organizações se deparam diariamente

    em sua busca pela excelência (TACHIZAWA; REZENDE, 2000).

    Assim, através da gestão estratégica a organização define sua missão, valores, visão de futuro,

    objetivos e metas, seleciona as estratégias de ação que serão utilizadas para alcançar os

    resultados pretendidos e monitora por meio de indicadores de desempenho se esta estratégia

    está de acordo com os objetivos organizacionais estabelecidos (TACHIZAWA; REZENDE,

    2000).

    A missão de uma organização define a razão de ser da empresa, para que ela serve, qual a sua

    função social, fornecendo o “ponto de partida”. Os valores acompanham a missão e são os

    princípios que orientam as ações da organização ao longo do tempo, ambos os fundamentos -

    missão e valores - mantêm-se estáveis no tempo. A visão de futuro, por sua vez, define um

    macro objetivo, não quantificável, capaz de orientar sua trajetória e indicar onde e como a

    organização espera estar no futuro. Por fim, a estratégia descreve como a organização

    pretende criar valor para seus acionistas e clientes. A estratégia não é estática e pode

    desenvolver-se e adaptar-se às condições impostas pelo ambiente interno e externo

    (KAPLAN; NORTON, 2000).

    O processo de gestão estratégica para Lemos e outros (2004, p. 03) é uma evolução do próprio

    processo de planejamento que se iniciou em 1950 com o planejamento de longo prazo

    desenvolvido por Igor Ansoff; ainda nos anos de 60 surge o termo planejamento estratégico

    que se ocupa na análise das mudanças no ambiente externo e tem por base uma habilidade

    estratégica; e, a partir da década de 80, com a enorme mudança do contexto mercadológico no

    qual as organizações estão inseridas, a gestão estratégica passa a prevalecer como referencial

    na administração.

  • 22

    Mintzberg citado por Almeida (2000, p. 182) destaca que apesar da emergência desta nova

    abordagem gerencial a passagem do planejamento estratégico para a gestão estratégica não

    provocou transformações radicais no tocante ao pensamento sobre estratégia organizacional:

    O que ocorreu, em verdade, foi a incorporação do planejamento estratégico à gestão estratégica, como um de seus componentes ou ferramentas, deixando o primeiro de ser o elemento principal do processo, ou a sua matriz (ALMEIDA, 2000, p.183)

    Ansoff citado por Almeida (2000, p. 183) entende gestão estratégica como uma nova

    sistemática gerencial que dá ênfase ao processo de tradução e comunicação da estratégia de

    negócio para a organização como um todo, de forma que as iniciativas nos diferentes níveis

    hierárquicos da empresa sigam em uma mesma direção.

    Para Alday, (2000, p. 14) a gestão estratégica é um processo contínuo que tem por finalidade

    garantir a sobrevivência de uma organização a partir de sua integração ao ambiente externo e

    pode ser dividido em cinco etapas básicas:

    Etapa 01: execução da análise do ambiente organizacional - fatores internos e externos - de

    modo a identificar riscos e oportunidades que podem influenciar no alcance dos objetivos

    gerais

    Etapa 02: estabelecimento de uma diretriz organizacional através da definição da missão,

    visão de futuro, objetivos e valores organizacionais.

    Etapa 03: formulação da estratégia organizacional que é definida como um curso alternativo

    de ações que garanta o atingimento dos objetivos e o sucesso empresarial

    Etapa 04: implantação da estratégia organizacional

    Etapa 05: controle estratégico que se ocupa na avaliação do processo de gestão estratégica no

    sentido de assegurar seu funcionamento adequado.

    O Balanced Scorecard alinha os processos de gestão integrando toda a organização na

    execução de uma estratégia de longo prazo, através do fornecimento de uma estrutura capaz

    de planejar e gerenciar a implantação da estratégia, enquanto possibilita ainda a avaliação

    continuada dos resultados alcançados durante seu desenvolvimento. Com a metodologia é

    possível não só gerenciar a implementação da estratégia, mas também formular novas

  • 23

    estratégias face às mudanças no ambiente competitivo da empresa. E, por isso, o BSC é visto

    como uma ferramenta de gestão estratégica (KAPLAN; NORTON, 1997).

    Segundo Kaplan e Norton (1997), o BSC consiste em uma metodologia que liga as atividades

    de curto e longo prazo de uma organização com seus grandes objetivos e se insere no conceito

    de gestão estratégica como uma ferramenta capaz de traduzir estes fundamentos gerais em

    ações locais imediatas.

    Ruas (2003, p. 09) distingue 03 diferentes fases do processo de gestão estratégica

    demonstrando em qual delas o BSC é utilizado. Tais fases podem ser observadas na figura 01.

    Figura 1: Etapas do Processo de Gestão Estratégica Fonte: Adaptado de Schwarz (2000) apud Ruas (2003, p. 10)

    1a fase: planejamento estratégico - nesta etapa são definidas missão e visão de futuro da

    empresa, análise dos pontos fortes e fracos e as oportunidades e ameaças à organização. A

    definição e identificação de tais fatores auxiliam a construção da estratégia.

  • 24

    2a fase: implantando a estratégia - nesta fase o BSC é utilizado como forma de traduzir e

    comunicar a estratégia de negócio, alinhando todos os níveis da organização através de

    objetivos, indicadores, metas e planos de ação.

    3a fase: monitoramento da estratégia - por fim, a estratégia deve ser constantemente

    reavaliada e, caso necessário, deve sofrer alterações para melhor se adaptar a realidade da

    organização. Também nesta situação é utilizado o BSC.

    Neste contexto, a estratégia e sua execução por meio do Balanced Scorecard não devem ser

    entendidas como um processo gerencial isolado, mas sim uma etapa dentro de um processo

    contínuo lógico.

    O ponto de partida para o início da implantação do BSC numa organização é a definição clara

    de sua missão, visão de futuro e a estratégia da organização. Uma vez formulada a estratégia,

    avança-se no processo de implantação, mensuração e monitoramento dos resultados obtidos

    em que o BSC aparece como uma das várias ferramentas disponíveis na literatura que trata da

    execução estratégica, alinhamento das ações e seu desdobramento em metas e indicadores de

    desempenho (MUSCAT; BIAZZI; MIGUEL, 2007).

    Kallás (2005) e Costa (2006) afirmam que o ponto de partida para o início da implantação do BSC numa organização é a definição clara dos fundamentos estratégicos, especificamente a missão e a visão de futuro, que são os direcionadores de todo o processo de planejamento e suas ferramentas de apoio, quais sejam: modelo de cinco forças de Porter, análise Strenght, Weakness, Opportunity, Threaths (SWOT), matriz Boston Consulting Group (BCG), análise de cenários, ente outras (TOSCANO, 2008, p. 41)

    Toscano (2008, p. 42) destaca que deve-se estar atento ao fato de que o Balanced Scorecard

    não é um modelo útil para definir a estratégia, mas para implementá-la, traduzindo algo

    abstrato, ou seja, a visão de negócio da organização, em atividades palpáveis e medidas

    mensuráveis. Neste contexto, já não há espaço para a discussão da estratégia, que foi

    previamente estabelecida, mas sim seu alinhamento às atividades da empresa.

    Também Silva (2003, p.62) entende o BSC como ferramenta apta a executar estratégias,

    assimilar interferências e responder ao mercado, efetivando o que ele denomina de processo

    estratégico. O processo estratégico se inicia quando há uma mudança de foco da formulação

    para a fase de implantação da estratégia e é dividido em três etapas (FERNANDES, 2003

    apud SILVA, 2003): 1. identificação de objetivos mensuráveis; 2. definição e comunicação de

  • 25

    diretrizes operacionais; e 3. definição de um sistema de monitoramento e controle dos

    resultados obtidos. De acordo com o autor o BSC abrange todas as etapas do processo, pois:

    (...) oferece uma estrutura lógica capaz de fazer com que seus executivos percebam quais os fatores críticos de sucesso na implementação da estratégia, explicita a dinâmica da estratégia - fornecendo feedback sobre ela - e fortalece o processo decisório, permitindo que a organização fortaleça seu processo estratégico e implemente sua estratégia com mais eficácia (SILVA, 2003, p.71)

    A figura 02 ilustra como o Balance Scorecard integra-se ao processo de gestão estratégica.

    Figura 2: Balanced Scorecard: etapa de um processo contínuo Fonte: Kaplan e Norton (2000, p.33)

    Assim, baseando-se na revisão da literatura realizada este trabalho entende ser o Balanced

    Scorecard uma ferramenta de gestão estratégica que tem por finalidade executar a estratégia,

    alinhar as atividades em torno dos fundamentos estratégicos organizacionais e monitorar o

    processo estratégico, sendo sua utilização compreendida dentro de um processo contínuo

    lógico de gestão estratégica.

    Para melhor compreensão do Balanced Scorecard (BSC) serão sistematizados na seção 3.2.2

    os conceitos e definições que caracterizam tal ferramenta.

  • 26

    3.2.1 Gestão Estratégica em Minas Gerais

    Como detalhado anteriormente, a concepção do programa Choque de Gestão previu cinco

    frentes de atuação, entre elas, a efetivação do planejamento e da estratégia na gestão pública.

    Assim, para a definição da estratégia governamental de Minas Gerais e a promoção do

    alinhamento das organizações, das pessoas e dos sistemas administrativos à visão de longo

    prazo do governo foram estabelecidos três diferentes instrumentos pelo governo: o Plano

    Mineiro de Desenvolvimento Integrado (PMDI), o Plano Plurianual de Ação Governamental

    (PPAG) e o Acordo de Resultado (BORGES, 2008).

    O PMDI apresenta a visão de futuro do Estado de Minas Gerais, definindo a estratégia

    governamental para o médio e longo prazo. O plano é previsto na Constituição Estadual e tem

    como finalidade:

    § 2° - O Plano terá, entre outros, os seguintes objetivos:I. o desenvolvimento socioeconômico integrado do Estado;II. a racionalização e a coordenação das ações do Governo;III. o incremento das atividades produtivas do Estado;IV. a expansão social do mercado consumidor;V. a superação das desigualdades sociais e regionais do Estado;VI a expansão do mercado de trabalho;VII. o desenvolvimento dos Municípios de escassas condições de VIII. propulsãosocioeconômica;IX. o desenvolvimento tecnológico do Estado (COSTITUIÇÃO DO ESTADO DEMINAS GERAIS, 1989).

    Em 2003, frente a uma situação financeira crítica e a ausência de instrumentos de

    planejamento e controle; e, tendo em vista ainda a eleição do atual governador1 de Minas

    Gerais que teve como uma das plataformas de sua campanha o revigoramento da gestão

    pública, foi elaborado o Plano Mineiro de Desenvolvimento Integrado 2003-2020, contendo a

    estratégia governamental e prevendo as ações da Administração Pública do Estado de Minas

    Gerais até o ano de 2020 (LEITE, 2008).

    O processo de elaboração do PMDI 2003-2020 aborda três questões: 1a) “Onde estamos?” que

    forneceu bases para a constituição de um cenário de diagnóstico; 2a) “Aonde pretendemos

    1 Governador Aécio Neves da Cunha

  • 27

    estar?” que descreve o cenário futuro; e, 3a) “Como chegar lá?” que define um cenário de

    estratégias e programas prioritários.

    O diagnóstico da situação atual para a elaboração do plano foi elaborado pelo Banco de

    Desenvolvimento de Minas Gerais S.A. (BDMG) e recebeu o nome de Minas Gerais do

    Século XXI. O cenário futuro foi construído a partir de quatro cenários exploratórios que

    expressaram futuros plausíveis para o Estado em 2020 através do estabelecimento de riscos e

    oportunidades que poderiam surgir. Neste contexto foi estabelecida a visão de longo prazo de

    Minas Gerais, a saber, “Tornar Minas Gerais o melhor Estado para se viver” que procura

    “recuperar a auto-estima dos mineiros, reconquistar seu orgulho pelo Estado e a confiança na

    capacidade de construir o futuro” (MINAS GERAIS, 2003, p.80).

    Por fim, partindo da visão de futuro, o PMDI elencou três opções estratégicas desdobradas em

    dez objetivos estratégicos e uma agenda de prioridades, que tinham por finalidade orientar as

    ações do Governo, permitindo o alcance do objetivo de longo prazo.

    Em 2007 o PMDI foi reformulado para se adequar ao momento correspondente à segunda

    gestão do Governador de Minas Gerais, que fora então reeleito. O PMDI 2007-2023

    atualmente em vigência sustentou a elaboração do Plano Plurianual de Ação Governamental -

    PPAG 2008-2011, plano este também previsto em lei, que detalha os programas e ações que o

    governo pretende implementar, com as previsões financeiras e de realização física para o

    médio prazo. O PPAG serve de base para a construção da Lei de Diretrizes Orçamentária e a

    Lei do Orçamento Anual, funcionando como uma ponte entre o planejamento de longo prazo

    e o de curto prazo, representados pelo PMDI e Orçamentos anuais, respectivamente. O PPAG

    2008-2011 contempla uma série de iniciativas estratégicas ligadas aos objetivos priorizados

    pelo PMDI e é base para a definição dos projetos do governo (LEITE, 2008).

    Com a reformulação do PMDI iniciou-se a segunda geração do Choque de Gestão de segunda

    geração. O plano reestruturado apresenta as estratégias setoriais do governo - perspectiva

    integrada do capital humano, investimento e negócios, integração territorial competitiva,

    sustentabilidade ambiental, rede de cidades e equidade e bem-estar - desdobradas em 11

    Áreas de Resultado e dois pilares de atuação do Estado, a saber, Qualidade fiscal e Qualidade

    e Inovação na Gestão Pública.

  • 28

    Para basear a criação do plano o governo agrupou os destinatários das políticas públicas em

    cinco eixos estratégicos: I - Pessoas instruídas, qualificadas e saudáveis; II - Jovens

    protagonistas; III - Empresas dinâmicas e inovadoras; IV - Equidade entre pessoas e regiões

    e V - Cidades seguras e bem cuidadas. A figura 3 apresenta o mapa estratégico de Minas

    Gerais que “materializa” as orientações estratégias do governo.

    Figura 3: Mapa Estratégico de Minas GeraisFonte: Minas Gerais, Plano Mineiro de Desenvolvimento Integrado 2007/2023 (2007, p. 27).

    As áreas de resultados são núcleos focais que refletem os serviços/produtos que o governo

    pretende oferecer aos cidadãos, com a inserção dos destinatários das políticas públicas na base

    do processo de planejamento; e, não está ligada a estrutura do Poder Executivo, ou seja, aos

    órgãos da administração pública direta e indireta, entendidos como meios para alcançar os

    objetivos governamentais e não como um fim em si mesmo (BORGES, 2008).

    Cada uma das Áreas de Resultados possui um conjunto de ferramentas de gestão que

    permitem a implantação da estratégia (MINAS GERAIS, 2008 apud BORGES, 2008, p.55):

    ^ objetivos estratégicos e indicadores finalísticos para cada Área de Resultado para

    acompanhar o desempenho das ações governamentais;

    ^ portfólio de projetos estratégicos, conhecidos como Projetos Estruturadores, que

    representam em termos concretos a estratégia; tais projetos têm forte relação com

  • 29

    os indicadores finalísticos e são direcionados para investimentos, caracterizando o

    que se poderia chamar na iniciativa privada de “carteira de investimento” do

    governo;

    ^ projetos associados aos Projetos Estruturadores com o objetivo de auxiliar a

    execução desses e até mesmo ampliar sua repercussão, mas que se encontram

    hierarquicamente abaixo na escala de prioridade;

    ^ Agenda Setorial de Gestão que contém proposta de iniciativas que removam os

    gargalos críticos de gestão que impossibilitam a realização da estratégia; e

    ^ metas de desempenho desdobradas por órgão governamental associadas aos

    indicadores finalísticos de cada Área de Resultados.

    O terceiro instrumento utilizado para efetivar a implementação da estratégia governamental é

    o Acordo de Resultado. Diferentemente do Plano Mineiro de Desenvolvimento Integrado não

    é previsto constitucionalmente. Assim, o Acordo de Resultado constitui-se um instrumento

    estruturado pela própria administração pública do governo de Minas Gerais quando da

    concepção do programa Choque de Gestão em 2003.

    O Acordo de Resultados é uma ferramenta gerencial que tem por objetivo alinhar as

    atividades dos órgãos governamentais da administração direta e indireta a orientação

    estratégica do governo. O modelo foi estabelecido com base na Lei n° 14.694, de 30 de junho

    de 2003, e nos Decretos 43.674 e 43.675, de 04 de dezembro de 2003.

    Este instrumento busca promover o ajuste das instituições através da fixação de metas de

    desempenho e tem como finalidade aumentar a oferta e qualidade dos serviços prestados à

    sociedade, aperfeiçoar o acompanhamento e o controle de resultados da gestão pública, dar

    transparência às ações dos órgãos de governo, estimular servidores e o desenvolvimento dos

    sistemas de avaliação de desempenho institucional. O Acordo de Resultado é baseado nos

    princípios da gestão por resultado e vem conseguindo imprimir um dos princípios da

    administração pública gerencial a estrutura de gestão da Administração Pública mineira

    (LEITE, 2008).

    O modelo é baseado na contratualização que significa a pactuação de resultados entre partes

    interessadas. A Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão é o órgão da administração

    direta do governo de Minas Gerais responsável pela execução dos Acordos de Resultados.

  • 30

    Para tanto, de Estado de Planejamento e Gestão celebra um contrato com o órgão acordante,

    cabendo ao último executar efetiva e eficientemente o que foi pactuado no contrato. O acordo

    é estabelecido entre os dirigentes dos órgãos.

    Como contrapartida, é concedido ao órgão acordante um conjunto de autonomias que

    possibilitam o alcance dos resultados esperados de modo a alinhar suas atividades a

    orientação estratégica do governo. Estas autonomias são: possibilidade de abrir crédito

    suplementar, alterar quantidade e valor de cargos de provimento em comissão, pagamento de

    prêmio por produtividade aos seus servidores públicos, e outras (FURTADO, 2007 apud

    BORGES, 2008).

    3.2.2 BSC como Ferramenta de Apoio ao Processo de Gestão Estratégica

    Em 1992 Robert Kaplan e David Norton, através de artigo intitulado “The Balanced

    Scorecard - Measures That Drive Performance ” apresentaram um sistema apto a integrar

    indicadores financeiros e não financeiros. Os indicadores originavam-se de objetivos

    estratégicos que, associados a metas de desempenho em meio a uma relação lógica de causa e

    efeito construíam o sistema Balanced Scorecard, capaz de traduzir e comunicar a visão e a

    estratégia organizacional (KAPLAN e NORTON, 1997).

    O Balanced Scorecard “é uma ferramenta para auxiliar a empresa a organizar suas ações no

    sentido de implantar, gerir e cumprir a sua estratégia” (TOSCANO, 2008, p.22). O BSC

    traduz de forma balanceada e integrada a visão empresarial por meio de objetivos coerentes,

    medidas de desempenho e metas; organizados de maneira a possibilitar o alinhamento dos

    esforços e recursos organizacionais com o posicionamento estratégico e servir de base para a

    inserção de um processo de gestão estratégica.

    Balanced Scorecard significa algo como “Indicadores Balanceados de Desempenho” e foi

    concebido como um método de mensuração de desempenho dentro de um contexto em que os

    bens intangíveis passam também a influenciar a competitividade das empresas. Além de

  • 31

    contemplar as medidas financeiras já utilizadas, o Scorecard propõe três perspectivas

    complementares que possam controlar além de resultados financeiros (SILVA, 2003).

    A ampla utilização da ferramenta, entretanto, fez com que as instituições percebessem no

    BSC muito mais que um simples conjunto de medidas de desempenho, mas um sistema capaz

    de alinhar as atividades de hoje com a visão de longo prazo da empresa, comunicando,

    esclarecendo e gerenciando a estratégia. “Na realidade, o Balanced Scorecard deixou de ser

    um sistema de medição aperfeiçoado para se transformar em um sistema gerencial essencial”

    (KAPLAN; NORTON, 1997, p.09).

    No final da década de 80 e início da década de 90, as críticas quanto aos sistemas de medição

    de desempenho convergiam para o fato de que tanto as ações operacionais das organizações,

    quanto as ações gerenciais, eram avaliadas de acordo com indicadores financeiros que pouco

    diziam sobre a estratégia de longo prazo. Com este descompasso criava-se um vácuo entre a

    elaboração da estratégia e sua implementação. Muito se falava sobre a formulação da

    estratégia, mas poucos estudos acadêmicos eram encontrados para elucidar os processos de

    implantação ou o modo pelos quais as organizações adaptavam suas estratégias às

    contingências do contexto interno e externo (ZORZI, 2007).

    De acordo com Kaplan e Norton (2000, p. 18) “a implantação da estratégia exige que todas as

    unidades de negócios, unidades de apoio e empregados estejam alinhados e conectados com a

    estratégia”. Mas para que isso aconteça é preciso um processo de comunicação da estratégia

    que ressalte os pontos críticos para o desempenho da organização, bem como os processos e

    sistemas que contribuem para sua implementação.

    O Scorecard torna possível a tradução da estratégia de negócios da empresa em ações

    específicas e concretas em nível local, para que as pessoas envolvidas com o processo e em

    qualquer nível hierárquico dentro da empresa possam agir de acordo com as grandes

    estratégias. Assim, ao definir o que é preciso fazer em termos operacionais torna-se possível

    alinhar departamentos e indivíduos aos grandes anseios empresarias através da comunicação

    dessas ações dentro da instituição (PRIETO et al, 2006).

    A construção da ferramenta é feita por meio da tradução da visão e da estratégia em um

    conjunto de objetivos estratégicos, que se desdobram em indicadores de desempenho. O

  • 32

    desempenho é medido sob a ótica de quatro perspectivas, a saber, perspectiva financeira,

    perspectiva de clientes, perspectiva de processos internos e perspectiva de aprendizado e

    crescimento (KAPLAN; NORTON, 1997).

    A estrutura do BSC integra estes quatro parâmetros, numa relação de causa e efeito conforme

    ilustrado na Figura 4, focando a atenção dos executivos e funcionários da empresa nos vetores

    críticos do negócio. No BSC a estratégica é vista como um conjunto de hipóteses sobre causa

    e efeito, expressas por uma sequência de afirmativas do tipo “se-então”. A estrutura lógica

    mostra que para cada ação haverá um resultado o qual terá impacto sobre os objetivos gerais

    do negócio, ou seja, na implementação da estratégia (SILVA, 2003).

    Financeira

    Figura 4: Cadeia de relações de causa e efeito entre as quatro perspectivas Fonte: Adaptada de Kaplan e Norton (1997, p.31)

  • 33

    A) Perspectivas do BSC

    Conforme mencionado, o Balanced Scorecard é baseado na relação de causa e efeito entre

    atividades-chave dispostas em quatro perspectivas complementares: Financeira, Clientes,

    Processos Internos e Aprendizado e Crescimento, que permitem descrever a estratégia de

    forma clara e balanceada.

    Na Perspectiva Financeira é avaliado o desempenho da organização na geração de resultados

    que satisfaçam seus acionistas e garantam a sua sobrevivência e crescimento. Os vetores de

    performance financeiros indicam de que forma a estratégia de uma empresa e sua

    implementação estão contribuindo para a melhoria da lucratividade e rentabilidade. Os

    objetivos financeiros geralmente são medidos através de indicadores como receita

    operacional, retorno sobre capital empregado, valor econômico agregado e outros (RUAS,

    2003).

    Os objetivos e medidas financeiros desempenham um papel duplo: além de definir o

    desempenho financeiro esperado da estratégia, os indicadores devem resumir de forma

    facilmente mensurável as conseqüências das ações tomadas tendo em vista as outras

    perspectivas, ou seja, servir de meta principal para os demais objetivos (GHELMAN, 2006).

    Pode-se afirmar que a Perspectiva Financeira demonstra se as ações realizadas nas

    perspectivas cliente, processos internos e aprendizado e crescimento estão se convertendo em

    melhor desempenho financeiro da organização (BIZ; AGNOL, 2006). De acordo com

    Toscano (2008, p. 23), a perspectiva financeira “é o foco das outras três perspectivas, as quais

    deverão conter objetivos que, numa relação de causa e efeito, culminam com a melhoria do

    desempenho financeiro”.

    Segundo Kaplan e Norton (2000, p. 13), nesta perspectiva, as empresas trabalham com dois

    componentes básicos e balanceados: crescimento da receita e produtividade. A primeira, de

    longo prazo, irá se refletir nas outras perspectivas, no sentido de gerar novas fontes de receita

    provenientes de novos mercados, novos produtos ou novos clientes ou na ampliação do rela

    cionamento com os clientes existentes, em busca da sustentabilidade do desempenho

    financeiro. Já a estratégia de produtividade, de curto prazo, busca a execução eficiente das

  • 34

    atividades operacionais, com a melhoria da estrutura de custos e aumento da eficiência de

    ativos físicos e financeiros, garantindo lucros no curto prazo.

    A Perspectiva de Clientes determina em que segmento de clientes e negócios a organização

    quer atuar identificando qual é o público alvo e quais suas expectativas, ou seja, quais as

    propostas de valor que irão satisfazê-lo e o que ele espera receber da organização. A empresa

    deve focar aqueles clientes que representam as fontes de receita da empresa para alinhar suas

    medidas estratégicas (ATKINSON et al., 2000).

    A organização deverá traduzir em medidas específicas os fatores importantes para os clientes.

    Essas medidas representam metas para as operações, logística, marketing e desenvolvimento

    de produtos e serviços da empresa. Normalmente os indicadores de desempenho relativos a

    esta perspectiva devem incluir elementos como a satisfação dos clientes, captação,

    participação de mercado, fidelidade, retenção e lucratividade (KAPLAN; NORTON, 1997).

    A competição de mercado a qual todas as empresas estão sujeitas hoje faz com que uma

    organização esteja fadada ao fracasso caso não consiga satisfazer as necessidades dos clientes

    no curto e no longo prazo. Por isso, o BSC adequadamente implantado, requer na Perspectiva

    de Clientes, a criação de vetores de desempenho que conduzam à satisfação das necessidades

    dos clientes no presente e no futuro (GHELMAN, 2006).

    Na Perspectiva de Processos Internos os gestores devem identificar os processos críticos que

    sustentam a obtenção dos resultados financeiros e a capacidade de atrair e reter clientes, ou

    seja, aqueles que permitem a realização dos objetivos correspondentes às duas perspectivas

    anteriores (PRIETO et al., 2006). De acordo com Toscano (2008):

    Processos produtivos eficientes e eficazes são prioridade em todas as organizações, em especial naquelas cuja estratégia genérica esteja ligada a excelência operacional. Assim, para ofertar preços mais baixos, é necessário alinhar a estratégia aos processos de operação da empresa, quais sejam: desenvolver e sustentar relacionamento com os fornecedores; produzir produtos e serviços; distribuir e entregar produtos aos clientes; e gerenciar riscos (TOSCANO, 2008, p.26).

    Entretanto, não há como sustentar uma base estratégica somente na busca da melhoria dos

    processos existentes, mas principalmente na identificação de processos inteiramente novos.

    Neste âmbito encontram-se os processos de inovação que aparecem como um fator

  • 35

    determinante para o sucesso da empresa e são responsáveis pelo desenvolvimento de novos

    produtos. Este componente permite que a empresa atribua a devida importância a processos

    de pesquisa, projeto e desenvolvimento de novos produtos e serviços (SILVA, 2003).

    Os indicadores desta perspectiva normalmente são medidas genéricas de desempenho de

    processo de inovação, como projeto e desenvolvimento dos novos produtos e serviços

    (componente de longo prazo) e de operações (componente de curto prazo), que impulsionam

    as medidas genéricas da perspectiva de clientes (KAPLAN; NORTON, 1997).

    Um processo é um conjunto de atividades estruturadas, desenhadas para produzir um

    determinado produto para um cliente ou mercado. É como um conjunto de atividades através

    do tempo e do espaço, com um início, um fim, com inputs e outputs claramente identificados:

    é uma estrutura para a ação integrada. Assim, não se pode alinhar uma organização em

    direção a uma estratégia de negócio se não alinharmos os processos internos da organização

    nesse sentido (PEDRO, 2004).

    A Perspectiva de Aprendizado e Crescimento tem seu foco orientado para treinamento e

    qualificação de funcionários, aperfeiçoamento da tecnologia da informação e investimentos

    em novos equipamentos e infra-estrutura, de modo a atender as necessidades dos clientes no

    futuro e, portanto, garantir a sobrevivência da organização (RUAS, 2003).

    Visto de maneira integrada, o Balanced Scorecard traduz o conhecimento, habilidades e sistemas que os empregados precisarão (seu aprendizado e crescimento), para inovar e construir as capacidades estratégicas certas e eficientes (processos internos) que entregarão valor específico ao mercado (clientes), os quais, eventualmente, proporcionarão o aumento do valor ao acionista (financeiro). (PRIETO et al., 2004, p.83).

    Para completar o alinhamento de competências e tecnologia com a estratégia da organização,

    é necessário estabelecer indicadores relacionados à construção e ao aperfeiçoamento da infra-

    estrutura, os quais medem a capacidade da organização de mobilizar e sustentar o processo de

    mudança imprescindível para executar a estratégia e gerar crescimento e melhoria a longo

    prazo (BIZ; AGNOL, 2006).

    Kaplan e Norton (2000, p. 15) destacam a importância de medidas estratégicas ligadas aos

    funcionários. “Neste contexto o treinamento da força de trabalho é essencial para o

  • 36

    desenvolvimento das competências e habilidades das pessoas, e deverá estar alinhado com as

    medidas e objetivos estratégicos da organização.”

    Através das relações de causa e efeito do BSC e do alinhamento das ações aos objetivos e

    medidas estratégicas, é possível ter uma visão clara da importância do desenvolvimento das

    pessoas para o atingimento das metas estratégicas. Os gestores passam a perceber que no

    treinamento há uma agregação clara de valor para os clientes ou acionistas ao invés de

    considerarem apenas como uma atividade geradora de custos. Os treinamentos impactam na

    melhoria da satisfação dos clientes, e, por conseguinte na performance da empresa

    (GHELMAN, 2006).

    O esquema abaixo mostra, de maneira simplificada, como são agrupadas as quatro

    perspectivas do Balanced Scorecard em torno da estratégia organizacional:

    FINANCEIRA

    Para obter sucesso financeiro como devemos

    parecer aos nossos acionistas

    CLIENTE

    Para alcançar nossa visão como devemos parecer aos

    nossos clientes

    tVisão e

    Estratégia

    PROCESSOS INTERNOS

    Para satisfazer nossos acionistas, em quais

    processos de negócios devemos ser excelentes?

    APRENDIZADO E CRESCIMENTO

    Para alcançar nossa visão como sustentaremos nossa

    habilidade de mudar e melhorar

    Figura 5: As quatro perspectivas do Balanced Scorecard Fonte: Adaptada de Kaplan e Norton (1997, p.10)

  • 37

    B) Os Componentes do Balanced Scorecard

    A proposta do BSC “é tornar entendível, para todos os níveis da organização, a visão, a

    missão e a estratégia para que todos saibam o que fazer e de que forma suas ações impactam

    no desempenho organizacional” (COSTA, 2003 apud TOSCANO, 2008, p.22). A intenção é

    canalizar os esforços, evitando a dispersão de recursos a serem empreendidos na

    implementação da estratégia (TOSCANO, 2008).

    Para tanto, são definidos objetivos estratégicos que contemplam os fins almejados pela

    organização tendo em vista sua estratégia; tais objetivos são mensurados através de um painel

    de medidas de desempenho equilibrado e de metas. As metas, por sua vez, são valores

    previamente estabelecidos, os quais se pretendem atingir. Segundo a lógica do BSC, o

    cumprimento das metas implica na realização da estratégia, determinada a relação de causa e

    efeito implícita na construção da ferramenta (PEDRO, 2004).

    Os objetivos estratégicos são objetivos organizados numa relação de causa e efeito que

    traduzem a visão de futuro dos negócios. Eles são apresentados em uma espécie de diagrama,

    o Scorecard ou mapa estratégico, que dispostos nas quatro perspectivas previstas para a

    ferramenta - financeira, clientes, processos internos e aprendizado e crescimento -, revelam

    as atividades que devem ser desenvolvidas para alcançar as metas da organização. Essas

    perspectivas estão interligadas, o que significa que a execução de um objetivo tem impacto

    em outro, atuando, deste modo, de forma integrada para proporcionar o alcance da estratégia

    de negócios da empresa (KALLÁS; RIBEIRO, 2008).

    O mapa estratégico é o principal elemento do BSC e é entendido como uma estrutura gráfica

    que “materializa” a estratégia. Composto pelo conjunto de objetivos estratégicos devidamente

    relacionados, o mapa fornece uma representação visual da dinâmica oferecida pelo BSC. O

    mapa auxilia a fazer com que todos os indivíduos na organização entendam a estratégia e

    como transformar ativos intangíveis em resultados tangíveis (LEITE, 2008).

    O que o BSC faz através do mapa estratégico é ampliar o entendimento do conteúdo da

    estratégia organizacional de forma significativa e sua comunicação. “Ao traduzir a estratégia

    na arquitetura lógica do mapa estratégico e do Balanced Scorecard, as organizações criam um

  • 38

    ponto de referência comum e compreensível para todas as unidades e empregados”

    (KAPLAN; NORTON, 2000a apud SILVA, 2003).

    O mapa explicita a lógica de gestão do BSC, onde há uma hierarquização dos objetivos

    estratégicos organizacionais distribuídos nas quatro perspectivas (TOSCANO, 2008).

    Com os objetivos financeiros no topo, pode-se descer pelas demais perspectivas e seus objetivos, cada um deles ajudando a executar o objetivo superior. As setas aparecem no sentido inverso da criação, mostrando uma lógica que segue de baixo pra cima, ou seja, que o objetivo de cima é atingido pela execução do objetivo inferior (TOSCANO, 2008, p.30).

    A Perspectiva Financeira permanece no topo da hierarquia, tendo seus resultados alavancados

    pela Perspectiva de Clientes. Por sua vez, ambas as perspectivas possuem seus resultados

    alavancados pela Perspectiva de Processos Internos, que também teve seus resultados

    alavancados pelos resultados da Perspectiva de Aprendizado e Crescimento. A lógica

    implícita nesta relação de causa e efeito (de baixo para cima) significa que o aprendizado e

    crescimento geram resultados que, por meio de melhores e mais precisos processos internos

    permitem a organização atender melhor seus clientes, levando à melhores resultados

    financeiros (SILVA, 2003).

    Os objetivos estratégicos contidos em cada perspectiva precisam ser medidos para que haja

    um processo de acompanhamento do progresso da organização em atingir suas metas e a

    estratégia projetada. “Sem quantificação, o objetivo estratégico não passa de uma declaração

    passiva de intenções” (TOSCANO, 2008, p.31).

    Para tanto, a estrutura do modelo leva à criação de uma rede de indicadores de desempenho,

    para medir e acompanhar o sucesso de cada objetivo. Os indicadores de desempenho são

    formas quantificáveis de representação das características de produtos e processos, e devem

    permitir a avaliação do desempenho da organização em um determinado período em relação

    às metas estabelecidas e a outros referenciais. Eles são essenciais no planejamento e controle

    das organizações. No planejamento eles permitem a quantificação de metas para os objetivos

    organizacionais e seu desdobramento na organização. Com relação ao controle, estes

    permitem verificar se os objetivos estão sendo alcançados e possibilitam a tomada de ações

    corretivas caso isso não esteja ocorrendo (KIYAN, 2001).

  • 39

    De acordo com Kaplan e Norton citado por Leite (2008, p. 32) o conjunto de indicadores deve

    ser uma combinação adequada de medidas de resultados (indicadores de ocorrências) com

    impulsionadores de desempenho (indicadores de tendências) ajustados à estratégia e

    obedecendo a uma lógica de interdependência. Os indicadores de ocorrência mostram o

    desempenho das ações que já foram executadas, a melhoria operacional na organização;

    enquanto os indicadores de tendência indicam os prováveis resultados futuros, mostrando até

    que ponto as melhorias imediatas contribuem para a expansão dos negócios e se a

    implantação da estratégia será bem sucedida (ZORZI, 2007).

    Para cada objetivo são estabelecidos indicadores e metas que se desejam alcançar, e as

    iniciativas ou projetos estratégicos que levarão a organização aos resultados pactuados. As

    metas são parâmetros de desempenho esperado ou a taxa de melhoria necessária para cada

    indicador. As metas estratégicas deverão ser “quebradas” ao longo do tempo, permitindo uma

    evolução do desempenho relacionado ao objetivo estratégico. “A definição de metas (...) é um

    pressuposto em qualquer sistema de controle de desempenho, pois apenas dessa forma é

    possível avaliar a performance da organização” (TOSCANO, 2008, p.31).

    As iniciativas ou projetos estratégicos são ações que permitem alcançar as metas estipuladas.

    O estabelecimento de um portfólio de ação, o plano de ação, evita a perda do foco estratégico

    e o investimento de recursos em projetos que não levam à geração de resultados (KALLÁS e

    RIBEIRO, 2008).

    Estabelecidos, então, os vínculos entre objetivos estratégicos, indicadores e iniciativa, passa-se a monitorar o progresso desses indicadores no intuito de verificar seu andamento vis-à-vis à meta traçada e validar a hipótese - ou descartar, se for o caso - de correlação entre o objetivo estratégico, seu indicador e suas iniciativas no processo de revisão da estratégia (TOSCANO, 2008, p.33).

    A figura 6 apresenta um mapa estratégico e um painel contendo objetivos estratégicos,

    indicadores e metas, bem como as iniciativas estratégicas. No mapa estratégico os objetivos

    referentes às quatro perspectivas são interconectados por relações de causa e efeito. A lógica

    parte da hipótese de que os resultados financeiros somente serão alcançados se os clientes-

    alvo estiverem satisfeitos. Os processos internos produzem os resultados esperados pelos

    clientes e a perspectiva de aprendizado e crescimento identifica quais ativos intangíveis

    respaldam os processos internos e sustentam os pilares da estratégia (KALLÁS; RIBEIRO,

    2008).

  • 40

    Figura 6: Componentes do Balanced Scorecard Fonte: Adaptada de Kallás e Ribeiro (2008, p. 04)

    C) Princípios da Organização Focalizada na Estratégia

    Muito embora cada organização tenha suas características e contextos, abordando de maneira

    diferenciada a implantação de sua estratégia, de acordo com Kaplan e Norton (2000), existem

    cinco pontos em comum à maior parte delas. Estes pontos foram denominados Princípios da

    Organização Focalizada na Estratégia, e de acordo com Toscano (2008, p. 20) são tão

    importantes quanto a definição de indicadores para medir o desempenho da organização e não

    podem deixar de ser observados durante o processo de implementação do BSC.

    Os cinco princípios são: traduzir a estratégia em termos operacionais, alinhar a organização à

    estratégia, transformar a estratégia em tarefa de todos, converter a estratégia em processo

    contínuo e mobilizar a mudança por meio da liderança executiva. Esses princípios são

    destacados na figura 07 abaixo, e detalhados na seqüência.

  • 41

    Figura 7: Princípios da organização focalizada na estratégia Fonte: Kaplan e Norton (2000) apud Zorzi (2007, p. 71)

    1. Traduzir a estratégia em termos operacionais

    O primeiro princípio torna possível a construção de um consenso entre todos os níveis da

    organização em torno da estratégia de negócio. Para tanto, torna-se necessário operacionalizar

    a estratégia (MUSCAT; BIAZZI; MIGUEL, 2007).

    O BSC desdobra a visão de negócio em ações em nível local, para que tanto executivos,

    quanto os demais funcionários possam agir de acordo com os objetivos estabelecidos. Como

    detalhado anteriormente, os objetivos são dispostos em um diagrama (mapa estratégico)

    através da relação lógica de causa e efeito das perspectivas propostas pela ferramenta. Para

    cada objetivo são identificados indicadores de desempenho, a fim que seja possível a

    mensuração de desempenho nos diversos níveis, tornando a análise da performance da

    organização menos subjetiva. O resultado deste processo é a tradução da estratégia em termos

    operacionais (KAPLAN; NORTON, 2000).

  • 42

    A construção do mapa estratégico e do painel de indicadores permite a tradução e descrição

    completa da estratégia, criando uma referência comum e compreensível por todos os

    funcionários. O que se pressupõe é que a estratégia esteja no centro do processo gerencial e

    que seja executada por todos da organização possibilitando assim, o alcance dos resultados

    propostos e a obtenção de sucesso na consecução dos objetivos (ZORZI, 2007).

    2. Alinhar a organização à estratégia

    A complexidade estrutural das organizações modernas torna necessário que todos os seus

    departamentos estejam alinhados à estratégia de negócio para se obter sucesso no atingimento

    dos resultados propostos.

    Uma estrutura com diversos departamentos, diretorias e funcionários faz com que cada setor

    se especialize e se concentre apenas em seus próprios objetivos, dificultando a implementação

    da estratégia organizacional. Assim, para que o desempenho organizacional seja superior à

    soma