Renato Dagnino - Elementos Para Uma Teoria Crítica Da Tecnologia
-
Upload
cesar-hack -
Category
Documents
-
view
220 -
download
0
Transcript of Renato Dagnino - Elementos Para Uma Teoria Crítica Da Tecnologia
-
7/26/2019 Renato Dagnino - Elementos Para Uma Teoria Crtica Da Tecnologia
1/31
ELEMENTOSPARAUMATEORIACRTICADATECNOLOGIA
RenatoDagnino1
1 Professor Titular no Departamento de Poltica Cientfica e Tecnolgica da UNICAMP. Email:[email protected].
Resumo:Opresenteensaiodiscutea fragilidadeanalticoconceitualcomque se tem abordado a questo do desenvolvimento de tecnologiasalternativas tecnologia convencional (produzidapelaeparaaempresaprivada) e adequadas ao que se tem denominado, em nosso meio,empreendimentos solidrios. Nosso propsito neste trabalho dar umprimeiro passo na anlise sobre os elementos que deveria abarcar umateoriacrticadatecnologiaparadarcontadessedesafio.Oresultadomaisimportanteaquechegamos,tendoemvistanossoobjetivo,aproposiode que aquilo que caracteriza a tecnologia capitalista ou a tecnologia
convencionalno
a
propriedade
privada
dos
meios
de
produo
e
sim
o
tipodecontrolequeeladetermina.
Palavraschave:Tecnologiaalternativa;Propriedadeprivada;Teoriacrtica.
Elementsforacriticaltheoryoftechnology
Abstract:Thisessaydiscussesthefragilityanalyticalandconceptual ithasaddressedtheissueofdevelopingalternativetechnologiestoconventional
technology(produced
by
and
for
the
private
company)
and
appropriate
to
whathasbeencalledinBrazil,solidaryventures.Ouraim inthiswork isafirststep intheanalysisontheelementsthatshouldencompassacriticaltheoryof technology tohandle thischallenge.Themost important resultwe are reaching a view to our goal, is the proposition that whatcharacterizes the capitalist technologyor conventional technology is nottheprivatepropertyofmeansofproductionbutratherthetypeofcontrolthatitdetermines.
Keywords:Alternativetechnology;Privateproperty;Criticaltheory.
Introduo
Amotivaodestetrabalhoaconstataodafragilidadeanalticoconceitualcomquesetemabordadoaquestododesenvolvimentodetecnologiasalternativas
-
7/26/2019 Renato Dagnino - Elementos Para Uma Teoria Crtica Da Tecnologia
2/31
Pontodevista
RevistaBrasileiradeCincia,TecnologiaeSociedade,v.1,n.1,p.333,2jul/dez009.
4
tecnologia convencional (produzidapelaeparaaempresaprivada)eadequadas aoquese temdenominado,emnossomeio,empreendimentossolidrios.Estetrabalhotratadeumadasdificuldadesqueissotemimplicadoparaaquelesquenoscolocamosnumaperspectivaacadmica,ao ladodosmovimentossociaisquebuscama inclusosocial. Isto,o fatodequeessadificuldadeno tempermitidoaconcepodeum
conjuntode
indicaes
de
carter
scio
tcnico
alternativo
ao
atualmente
hegemnico
capazde viabilizaresseobjetivo. Eque,em conseqncia,no sedisponhadeumaplanilhade clculo capazdeorientarasaesdedesenvolvimento tecnocientficodosatoresenvolvidoscomessesempreendimentos:gestoresdaspolticassociaisedeC&T,professores e alunosque atuamnas incubadorasde cooperativas, tcnicosdeinstitutosdepesquisa,trabalhadoresetc.
Seuobjetivo,entretanto,notentarconceberesseconjuntodeproposies,coisa que tem preocupado um nmero crescente de pesquisadores do tema e quetemos tentado realizar em outros trabalhos. Isso porque no nos parece possvelavanar muito mais do que aquilo que tem sido sugerido2 caso no se altere aestratgia (ou procedimentometodolgico) que tem sido utilizada para construir omarco analticoconceitual necessrio para a concepo daquele conjunto deproposiescapazdeorientarodesenvolvimentode tecnologias. Isto,aestratgiaque procura construir esse marco e conceber esse conjunto, partindo de umaconsideraodoque seentende como implicaes (ouefeitos) sociais,econmicas,polticas,ambientaisetcnegativasdatecnologiaconvencional(TC)ecolocandocomometaaserperseguidaumatecnologiaquenodetermineestas implicaes.Ouseja,buscandoo desenvolvimento de algoqueno o que no queremos: a TecnologiaAlternativa(TA)3.
Estamos
conscientes
de
quo
longo
o
caminho
que
necessrio
percorrer
do
pontoemqueestamosataqueleemqueseremoscapazesdeconstruiressemarcoeconceberesseconjunto.Sebuscamosdesbravloporqueelenospareceessencialpara atingir o objetivo colocado pelo vis policy oriented que caracteriza nossotrabalho.
2Paraexemplificar,ecitandocontribuiesdeumdosautoresdestetrabalho,possveldestacarumadasprimeirasrealizadasnoBrasil(Dagnino,1978)eaquelesqueseguemaDagnino(2002),ondetemosdesenvolvidoapropostadeAdequaoSociotcnica.3 Contrariamente ao que temos feito em outros trabalhos, no usaremos agora, quando estamostentandoadotarumaestratgiadistintadaquelaquese temutilizado,aexpressoTecnologiaSocial.Por ter adquirido uma conotao especfica, fruto do processo semitico histrica e espacialmentedeterminadoquetemenvolvidoasuadefinioeemprego,epelofatodeelaserinterpretadapornscomosendomaisumamarcaregistradatilparadesignarecomunicarumaidiadoqueumconceitoadequadoparachegaraconceberoconjuntode indicaesdecartersciotcnicocapazdeorientaras aesdedesenvolvimento tecnocientfico,ousodaexpresso Tecnologia Socialnonospareceuadequado.
-
7/26/2019 Renato Dagnino - Elementos Para Uma Teoria Crtica Da Tecnologia
3/31
Pontodevista
RevistaBrasileiradeCincia,TecnologiaeSociedade,v.1,n.1,p.333,2jul/dez009.
5
Nossopropsitonestetrabalhoento,apartirdaestratgiaquepassamosaadotar4, dar um primeiro passo na anlise sobreos elementos que deveria abarcarumateoriacrticadatecnologiaparadarcontadessedesafio.Para isso,elebuscaseafastaromaispossveldatrajetriaqueaquelaestratgiaprivilegia.Epor issoqueele busca identificar, no mbito de um contexto socioeconmico genrico, as
caractersticasdo
processo
de
trabalho
em
que
se
envolvem
os
seres
humanos.
Dentre
elas,seconsideracomocentraleaomesmo tempovarivel,em funodeaspectosdaquelecontexto,ocontrole5.
A partirdessaabordagemgenricabuscamosentender asespecificidadesdatecnologia capitalista.O resultadomais importante dessa terceira seo, tendo emvistanossoobjetivodeproporcionarumreferencialparaodesenvolvimentodeTA,aproposio de que aquilo que caracteriza a tecnologia capitalista ou a tecnologiaconvencional no a propriedade privada dosmeios de produo e sim o tipo decontrolequeeladetermina6.
Umadas
inovaes
de
nossa
proposta
que
a
propriedade
privada
dos
meios
deproduodeveserconsideradaparafinsdeanlisecomoumelementoexgenoaoambiente produtivo. Por ser um elemento que condiciona o tipo de acordo socialnecessrioparaqueexistaacooperaoparaaproduoquequalquerconfiguraodo processo de trabalho demanda, a propriedade privada dos meios de produopossibilitaoestabelecimentodocontroleque irpresidiraconcepoeutilizaodatecnologiacapitalista.Tecnologiaqueeestaparansumaquestocentralpodeguardar consigo esse tipo controle mesmo quando deixe de existir esse elementoexgeno.
4Nonossa intenodar aentenderqueabuscadeumaestratgiadesse tipo seja algooriginal.Vrios autores tm procurado, por exemplo, deslocar o foco de preocupao do marxismo dasimplicaesdatecnologianoempregoenadistribuiodarendaedariquezadestacandoaimportnciadadominao.O resultadomais importantedessa terceira seo, tendo em vistanossoobjetivodeproporcionar um referencial para o desenvolvimento de TA, a proposio de que aquilo quecaracterizaatecnologiacapitalistaouatecnologiaconvencionalnoapropriedadeprivadadosmeios
deproduo
e
sim
o
tipo
de
controle
que
ela
determina
e
da
alienao
que
se
manifestam
no
cho
de
fbrica (ou no processo de trabalho), pormuito tempo negligenciada. Entre eles, Burawoy (1979),Braverman(1987),Feenberg(2002),Noble(1979),Thompson(1983),Zimbalist(1989).5EmboraaacepomaiscomumsejaaquelaregistradapeloAurlio:ato,efeitooupoderdecontrolar;domnio,governo.Encontramos,naEnciclopdiaBritnica,umadefiniomaiscoerentecomaquiloquenosinteressaaludir:skillintheuseofatool,instrument,technique,orartisticmdium.6Aidiadequeocontroleumacaractersticaimportantedatecnologiacapitalistanonova.Almdos autores citados na nota 3, podemos indicar, entre outros, Edwards (1990), Hirschorn (1984),Ramalho(1991).Oquesimnospareceoriginalaidiadequeocontrolesejaumatributoinerenteaqualquer formadeproduzir. Idia cujaorigemestemnossa intenodeexplicarporquenobastaparaconstruirformassolidriasdeproduoaaboliodapropriedadeprivadadosmeiosdeproduo.Mais alm desta relao social, seria um obstculo, cuja centralidade desproporcional pouca
importncia
que
ele
tem
at
agora
merecido,
o
tipo
de
controle
que
o
acordo
social
que
ela
impe
deixa
impregnadonaformadeproduzir(tecnologia)capitalista.
-
7/26/2019 Renato Dagnino - Elementos Para Uma Teoria Crtica Da Tecnologia
4/31
Pontodevista
RevistaBrasileiradeCincia,TecnologiaeSociedade,v.1,n.1,p.333,2jul/dez009.
6
Processodetrabalhoeatoressociais
Para chegar a um conceito adequado para explicitar a viso crtica queprocuramos desenvolver, iniciamos conceituando processo de trabalho. Ele
entendidocomo
uma
combinao
de
trabalho
vivoou
da
fora
de
trabalho
do
produtor direto e, eventualmente, de outros atores sociais, e trabalho morto(matriasprimas, instalaes, ferramentas,etc resultantesdeprocessosde trabalhoanteriores)comoobjetivodeproduzirumbemouservio(daquiparafrenteproduto).Esse processo se verifica no que denominamos ambiente produtivo, e nesteambienteondeseconcentranossofoco7.
O trabalho morto, devido a sua caracterstica de coisa construda pelo serhumano (emgeralobjetosmateriais)podeseracumulado;de formaqueummesmoindivduopossaconcentrarasuapropriedade.Apropriedadedotrabalhovivo,porsereleumaqualidadeintrnsecaaoserhumano,necessariamentedistribuda.
Acaractersticaquetemsidoentendidacomooquediferenciaoserhumanodeoutrosseresvivos,acapacidadedeaprender, implicaquecadavezqueelecogiteemrealizarumaao igualousemelhanteoutraquejrealizou,eleestejasempreinfluenciada pelo aprendizado posterior quela ao pretrita. A capacidade quedecorredesseaprendizadoequepassaa influenciarnomodocomoeledesempenhaassuasaesdenominamoscontrole(habilidaderelativaaousodeumconhecimentointangvel ou incorporado a artefatos tecnolgicos). Isso significa que qualquerprocessodetrabalho,independentementedascondieshistricosociaisedeoutrosaspectosquepresidamaformacomoserealize,implicanaexistnciadealgumtipodecontrole. Significa tambm que so essas condies que iro determinar ascaractersticasdessecontrole.
Sempre que houver mais de um produtor direto (aquele que operadiretamente os meios de produo que resultaram de processos de trabalhopretritos: trabalhomorto) envolvido num processo de trabalho necessrio que,independentementedecomoa sua relao foradoambienteprodutivo (amizade,rivalidadeetc),ocorranoseumbitoumacordodecooperao.Elaumacondioimprescindvelparaotrabalhocoletivoquepodeserobservadaatmesmoemgruposnohumanos(formigas,abelhas).
A durao mdia do processo de trabalho necessrio para produzir certo
produtodepende
das
condies
sociais,
histricas
e
espaciais
em
que
ele
realizado;
7O foconoprocessode trabalho,noprocessodeproduodebense serviosque se verificanumambiente produtivo, uma caracterstica de nossa abordagem (como se ver adiante, essacaractersticavai incidirnamaneira como se ir conceituar tecnologia).Elasedeve,porum lado,aoconvencimento de que os fenmenos que ocorrem neste ambiente em funo desse processo sofatoresdeterminantes,senoestruturantes,dasformasdeproduzir,promoverorelacionamentoentrepessoaseinstituies,gerarconhecimento,etcdominantesnumadadasociedade.E,poroutro,porquenossa percepo de que qualquer tentativa de implantar projetos polticos ou estilos dedesenvolvimentoscioeconmicoalternativosdemandaelementosestruturantesrelacionadosquelesfenmenos.
-
7/26/2019 Renato Dagnino - Elementos Para Uma Teoria Crtica Da Tecnologia
5/31
Pontodevista
RevistaBrasileiradeCincia,TecnologiaeSociedade,v.1,n.1,p.333,2jul/dez009.
7
por isto se denomina tempo de trabalho socialmente necessrio8. Ele depende,basicamente,daescassezrelativadamatriaprimaedadificuldadeoudahabilidaderequeridaparaasuaproduo.
Independentemente dessas condies, o proprietrio do trabalho vivo ,
sempre,
o
trabalhador
direto.
Quando
ele
tambm
proprietrio
do
trabalho
morto
(meiosdeproduo),aproduodoproduto sedde forma individualou coletiva,dependendodaescolhadostrabalhadoresdiretos.
Quandoo trabalhomortodepropriedadedeoutroator social,aproduosertambmumacombinaodessesdoisatores.Tambmnestecaso,aproduospoderocorrerseosdoisatoressociais,independentementedopoderrelativoquelhesconfereapossedosmeiosdeproduo,entrarememumacordodecooperaonoambienteprodutivo, talvezcommaior razo, issoumacondio imprescindvelparatanto.
Nosso foco, ao examinar o processo produtivo, identificar situaes de
mudanaoriginadas
pelo
controle
sobre
ele
exercido
pelos
atores
envolvidos9.
Em
particular as associadas a uma reduo do tempo de trabalho necessrio para aobtenodeumdadoproduto (sempreentendidoem termosquantitativos10,comocertovolumedeproduo),umavezqueelasimplicamumaalteraonaformacomoserealizaotrabalhovivoounaformacomoserealizouotrabalhomorto,incorporadonos insumos e equipamentos que so utilizados no processo de produo daqueleproduto.
Essa reduodo tempode trabalhonecessrioparaaobtenodeumdadoprodutopodeserentendidacomoumaumentodaquantidadedeprodutoproduzidadurante uma jornada de trabalho de tempo fixado. Ou como um aumento daquantidadedeprodutoproduzidaporunidadedetempodetrabalhoou,ainda,comooaumentodoprodutogeradoao longodeumciclodeproduoemrelaoaocicloanterior11.
Essareduopodeocorrermedianteumaumentodaenergiafsicaoumentaldotrabalhadordiretoduranteoprocessodeproduodaqueleproduto(intensificaodoritmodotrabalho)oumedianteasubstituiodetrabalhovivoportrabalhomorto.Isto,autilizao,naqueleprocessodeproduo,demeiosdeproduoquetragamincorporadoumaquantidademaiordetrabalhomorto.
8Tomamosotempodetrabalhocomoconceitobsicoparadesenvolvernossaviso.emrelaoaelequeiremosdefinirgrandepartedosconceitosqueaintegram.9Nossanfasenamudanadomododeproduzirtemavercomoprpriosentidoqueseirconferiraoconceitode tecnologia.Oqualseencontra ligadoauma idiadealgoempermanentemutao,emtudosemelhanteaoconceitodeinovao.10
No trataremos por enquantodemudanasqualitativasno produto, isto deumamudananascaractersticasdoprodutodeterminadapelaalteraonaformacomoserealizaotrabalho.11
Privilegiamosotempodetrabalhoenoaquantidadedeprodutoproduzidocomoelementovarivelporque parece ser, o primeiro, aquele que o ator que controla o processo de trabalho, seja ele otrabalhadordiretoouocapitalista,estinteressadoemmodificar.Comoiremosabordarmaisadiante,sobreoprimeiroelementooqueocapitalistapossuigovernabilidade.Esdepoisqueelesemostra
capazde,
atravs
do
controle
que
exerce
sobre
o
processo
de
trabalho,
diminuir
o
tempo
de
trabalho,
queelepoderdecidirseexistemcondiespropciasparaoaumentodeproduo.
-
7/26/2019 Renato Dagnino - Elementos Para Uma Teoria Crtica Da Tecnologia
6/31
Pontodevista
RevistaBrasileiradeCincia,TecnologiaeSociedade,v.1,n.1,p.333,2jul/dez009.
8
Quandoambosos tiposde trabalho sodepropriedadedomesmoator, suavontadenaturaldediminuirotempodetrabalhonecessrioparaobterumproduto,sejaparadispordemaistempo livre,sejaparaenvolversecomoutrosprocessosdetrabalho,tercomolimiteumadecisoindividual12.
Pode
ocorrer
que,
em
condies
especiais
(escassez,
emergncias
etc),
o
trabalhador individualtomeadecisodesacrificarseutempo livreeatasuasadepara reduzir o tempo de trabalho necessrio para obter um dado produto. Ou,inclusive,deaumentarotempoquededicaatrabalhar.
Nesse caso, como se um elemento exgeno em relao o processo detrabalho em si, e ao ambiente de trabalho, passasse a controlar aquela vontadenaturaldotrabalhadorindividual.
Quando o processo de trabalho envolve um coletivo voluntrio detrabalhadoresdiretosproprietriosdosmeiosdeproduo,ocontrolenecessrioparaenfrentarcondiesespeciaisno individualouunilateral.Ocontrole,nestecaso,
umadecorrncia
de
um
acordo
entre
trabalhadores
diretos
iguais,
que
transcende
aquele acordo de cooperao no ambiente produtivo. Ele envolve laos desolidariedadequesedoemfunodocontexto(social,poltico,econmicoetc),masque,noobstanteseguesendoexercidosobreoprocessode trabalhoquesednointeriordoambienteprodutivo.
Nestecaso,oslimitesrelativosreduodotempodetrabalhonecessrioparaa obteno de um dado produto so mais elsticos do que no caso do trabalhoindividual,epodem implicarsacrifciosaindamaioresdadoquedependemdaqueleslaos de solidariedade (o que muito diferente de acordos de cooperao) maisamplos,fortesecomplexos.
de se esperar que, simetricamente, quando no existam esses laos desolidariedadeentreos atoresqueparticipamdoprocesso deproduo, a aceitaodos sacrifcios envolvidos com a reduo do tempo de trabalho necessrio para aobteno de um dado produto, demande um acordo de cooperao interno aoambienteprodutivonumnvelmaiselevado.
Mais do que isso, quando, ao invs de solidariedade, o que se verifique nocontextosejaumenfrentamentoderivadodapossedesigualderiquezaerenda(e,porconseqncia,noambienteprodutivo,demeiosdeproduo),onveldeacordodecooperaonombitodoambienteprodutivonecessriopara viabilizaraproduo
terque
ser
bem
superior.
Esse nvel de acordo de cooperao poder ser alcanado em situaesespeciais, como as de enfrentamento a uma catstrofe natural ou a um inimigocomum, em estados de guerra. Em situaes normais, entretanto, ele exigir umcontrolenumgraubastantesuperiorquelequeexistenoscoletivosdetrabalhadoresdiretos.Essecontrolesupeumacoero ideologicamentelegitimadaeconsolidadano contexto que envolve o ambiente produtivo, que naturalize a existncia deproprietriosdosmeiosdeproduoeavendadaforadetrabalho.
12 Veblen(1898).
-
7/26/2019 Renato Dagnino - Elementos Para Uma Teoria Crtica Da Tecnologia
7/31
Pontodevista
RevistaBrasileiradeCincia,TecnologiaeSociedade,v.1,n.1,p.333,2jul/dez009.
9
Asespecificidadesdocontrolenatecnologiacapitalista
Nocapitalismo,osbensouserviossoproduzidosparaseremcomercializadospor um preo que, independentemente de seu valor de uso (ou da satisfao quepossacausaraoseucomprador)oscilaemtornodoseuvalordetroca;isto,otempode trabalho socialmente necessrio para produzilos. O controle do processo detrabalhoexercidopeloproprietriodotrabalhomorto (oumeiosdeproduo)quecontrataoprodutordireto remunerandoo comum salrioem trocadousode suaforadetrabalho.
Essecontrole facultaaoproprietriodo trabalhomorto (ouaseusprepostos)alteraroprocessodetrabalho(introduzirtecnologia)demodoaapropriarsedeumaparcelamaiordovalordamercadoria (bensouserviosproduzidosparaomercado)
produzida.
O
valor
de
troca
da
mercadoria
formado
por
trs
elementos
que,
no
decorrerdeumprocessodetrabalhocujaduraootempodetrabalhosocialmentenecessrioparaproduzila, se voaele incorporando.Soeles:o valordo trabalhomortosobreoqualtrabalhaotrabalhadordireto,ovalordotrabalhovivo(salrio)eolucroapropriadopelocapitalista,quecorrespondepartedotempodetrabalhoqueexcedesomadosvaloresanterioresque foramsendo incorporadosmercadoriaeaoseuvalor.
Olucrocorresponde,ento,aotempodetrabalhoexcedente,ouseja,aqueletempoque,depoisdeseterremuneradoasoutrasduasparcelasotrabalhomortoeotrabalhovivo ,ir,navisodaeconomianeoclssica,remuneraracapacidadedo
capitalistade
organizar
a
produo.
Nessa
viso,
da
mesma
forma
que
o
salrio
a
remuneraoconferidaaotrabalhadordiretodevidoaousodesuafora(capacidade)de trabalho, o lucro seria a remunerao que corresponde ao capitalista, no emvirtudedeseupoderdecoeroadvindodapropriedadedosmeiosdeproduo,masemfunodousoquefeitodesuahabilidade(capacidade)deorganizaretomarosriscosinerentesproduodemercadorias.
Ocapitalismotrazconsigoapossibilidadedequeotrabalhadordireto,quejno sofre violncia fsica no ambiente da produo (pelomenos como ocorria nosregimesescravocratas)adquiraaconscinciadequeaformacomoproduzjnopodesercontroladaporele.Quandoelepercebeque,aindaquenosofracoero fsica,
existeum
controle
a
ele
externo,
personificado
numa
pessoa
a
quem
ele
se
subordina
ouquesematerializaeminstrumentos,normasemquinas.Umapessoaresponsvelpela segmentaoehierarquizaodoprocessode trabalhoque seusantecessores,individualoucoletivamente,controlavamdesdea fasedeconcepodoprodutoouprocessoatadedeterminaododestinodoqueeraproduzido.
Essa possibilidade demorou a sematerializar porque essa forma de produzirhavia adquirido uma caracterstica de intermediao de uma relao de podercoercitivoquenosemanifestavacomotalnoambientedaproduo.
Mas houve um momento em que essa forma controladora do trabalho do
produtordireto
era
uma
alternativa
(nova)
quelas
ento
existentes,
que
hoje
chamaramosautogestionrias(associativas,solidriasoucooperativas).Elaspdese
-
7/26/2019 Renato Dagnino - Elementos Para Uma Teoria Crtica Da Tecnologia
8/31
Pontodevista
RevistaBrasileiradeCincia,TecnologiaeSociedade,v.1,n.1,p.333,2jul/dez009.
10
impormedianteuma coeroqueno semanifestava, comoocorriaemmomentoshistricosanteriores,noambientedaproduo.Elasesituavanocontextoexternoaesseambiente.
Ocontrolesobreaformadeproduzireragarantidopelasrelaessociaisquea
coero
vigente
no
contexto
externo
possibilitava.
E
era,
tambm,
um
substituto
superioraestacoero.Disfaradopelocartercooperativointrnsecoaprocessosdetrabalho coletivos antes existentes, em que trabalhadores associados estabelecemdemocraticamente normas para produzir, esse controle assumia o papel dessasnormasdemodoagarantircolaboraoepaznoambienteprodutivo.
Esse carter cooperativo intrnseco a qualquer tipo de trabalho coletivo(mesmoquenofossedenaturezaassociativa)era,porumlado,umobstculoparaoaumentodocontrolesobreoprocessodetrabalhoesobreoprpriotrabalhador.Mas,poroutro,eraumpoderosodisfarceparaencobrirocontrole,umavezqueelepodiaaparecer comoumanecessidade inerenteproduo coletivaque,deoutromodo,
nopoderia
dar
se
de
modo
organizado.
Mas, medida que se desfaziam os laos associativos que caracterizavam aformadeproduziranteriorequepossibilitavamaorganizaodaproduocoletiva,ocontrole passava a ser efetivamente, e no apenas na aparncia, um substitutoimprescindvelparaaquelasnormasdemocraticamenteestabelecidas.
Quando,nesteambientenocoercitivo,osobjetivosdaproduopassamaserassumidos pelo trabalhador direto, fica pronto o cenrio para que aquele controlepasse a ser entendido como "relaes tcnicas de produo". E no como umsubstituto, apropriado ao imperativo da cooperao, das "relaes sociais deproduo"quecercavamelegitimavamaqueleambiente13.
Quando, ademais, a figura do proprietrio dos meios de produo que,personificava a relao social de explorao garantida pelo contexto, vai sendosubstituda pelos "tcnicos", aquelas formas de produzir que chamaramos hoje desolidrias (e at autogestionrias), em relao s quais essa forma controladora deproduzireraumaalternativanova,jnomaispodiamserutilizadas.Elassubsistiam,cada vez mais marginalmente, nos ambientes produtivos noindustriais onde apropriedadeprivadadosmeiosdeproduonoeradominante.
De fato, foi no setor agrcola, onde a propriedade privada dos meios deproduonosegeneralizavatorapidamente,quesemantiverampormaistempoas
formasde
produzir
baseada
no
associativismo.
E
por
isso
que
seguem
sendo
no
setor
ruralondeathojeseconcentramdemaneiraavassaladoraaspropostasdeadoodetecnologiasdistintasdatecnologiaconvencional(oucapitalista)eondeosurgimentoe
13SegundoBurawoy (1979),apossibilidadequefacultadaaos trabalhadores(pelocapitalistaepelo
Estado)paraorganizaremaproduooque gerao consentimento esteelementoessencialparapermitir que uma idia da classe dominante se transforme em ideologia intrnseca ao modo deproduotornandomenosnecessriaacoero.Aqual,comosesabe,orecursomaiscustosoparao establishment: ao ser ativada, quando fracassa o controle ideolgico, ela desnuda o cartercontraditrioededominaodocapitalismo.Defato,comoressaltamBurawoy(1979)eTragtenberg
(1987),
por
exemplo,
a
caracterstica
do
capitalismo,
de
mesclar
conflito
e
consentimento,
tambm
se
manifestanoambienteprodutivo.Afbricadeveserumlugardcilepacfico",masquandoistocorreoriscodenoacontecer,acoeroutilizada.
-
7/26/2019 Renato Dagnino - Elementos Para Uma Teoria Crtica Da Tecnologia
9/31
Pontodevista
RevistaBrasileiradeCincia,TecnologiaeSociedade,v.1,n.1,p.333,2jul/dez009.
11
sobrevivnciadeformasdeproduziralternativasformahegemnicasopossveis.porquealiaindaexistem,senoapropriedadecoletiva,osvestgiosqueeladeixouemtermosdapossibilidadede trabalho cooperativo.Nomeiourbano, snas fabricasrecuperadas,ounascooperativasdecatadoresqueadicionamovalordesuaforadetrabalhoaumcapitalconstantecomumvalorpraticamentenulo,comoocasodo
lixo,onde
formas
de
produzir
alternativas
so
possveis.
medidaquevaiseexpandindoomododeproduocapitalistaindustrialeseconsolidando a superestrutura ideolgica que garante a manuteno de sua baseeconmicoprodutiva, se naturaliza, como tantas outras caractersticas intrnsecas aessemododeproduo,oexercciodocontrolesobreoprocessodetrabalhoesobreotrabalhadordiretonoambienteprodutivo.
Com vimos, o controle j existia nos modos de produo anteriores aocapitalismo.Neles,eleapareciaassociadoaoexercciodacoero(inclusivefsica)noambiente produtivo que o evidenciava e exacerbava para alm de imperativos
tcnicos.
em
virtude
da
dissociao
que
passa
a
existir
no
capitalismo,
entre
propriedade dos meios de produo e exerccio da violncia (que passa a sermonopolizadopeloEstado),queo controle,aodeixardeestarassociadocoero,pode aparecer de forma encoberta. E passar a ser visualizado como um atributotcnicodaformadeproduzircapitalista.
Maisumpassoimportantedessatrajetriadenaturalizao,queseverificademodo coorganizado com uma srie de outros processos que estavam ocorrendodentro e fora do ambiente produtivo, dado quando o controle deixa de estarpersonificadoecomeaaserexercido,demodoaindamaisnaturalizadoetcnico,pelasprpriasmquinasepelosmtodosdegestodoprocessodetrabalho.Soelas,
ento,que
passam
a
materializar
o
controle,
fazendo
com
que
ele
passe
a
ser
visto
comoumatributoestritamentetcnicoemfavordamaximizaodaprodutividadeeno como um imperativo colocado pela apropriao do aumento do tempo detrabalhoexcedentequelequeremuneraocapitalconstanteeotrabalhovivo.
Essa expanso e consolidao do modo de produo capitalista ocorreram,como se sabe,custadadestruiode formasdeproduziranteriores,baseadasnoassociativismo,namanufaturaeemoutrasqueadestruiodospilaresdofeudalismosepultou.Entreelas,aquehaviaderivadodosgrmiosdeartesosequechegouasecolocar,no inciodesteprocesso,comoumaalternativaorganizaocapitalistadotrabalho.
Contriburam para esse processo de naturalizao as derrotas polticas quesofreuaclasse trabalhadoranasua lutacontraocapital.Masnoporoutrarazoque cada vez que o movimento dos trabalhadores conseguiu alguma vitriaimportante,ocooperativismoeaautogestoemergiram,podesedizerquedascinzas,comoformasdeproduziredeorganizaralutacontraocontroleeopoderdocapital.
De forma muito provavelmente associada ao entendimento do marxismoortodoxo,dequeexistiriam relaes tcnicasdeproduo,no mbitodo ambienteprodutivo,erelaessociaisdeproduo,quenocontextodasociedadegarantiriamas primeiras, passa a diminuir no seio do movimento socialista internacional a
importnciarelativa
da
proposta
do
cooperativismo
e
da
autogesto.
-
7/26/2019 Renato Dagnino - Elementos Para Uma Teoria Crtica Da Tecnologia
10/31
Pontodevista
RevistaBrasileiradeCincia,TecnologiaeSociedade,v.1,n.1,p.333,2jul/dez009.
12
Como tentamosmostrar, talvez o noentendimento de que a caractersticafundamental da tecnologia capitalista no a propriedade privada dos meios deproduo,mas a existncia de um tipo particular de controle sobre o trabalhadordiretotenhasidoacausaprimeiradessasituao.Oquenoimplicadesconhecerqueaquilo que garanteo controle, que por sua vez garante a cooperao no ambiente
produtivo,
a
coero
que
vigora
no
contexto,
e
que
tem
como
fundamento
a
propriedadeprivadadosmeiosdeproduo.
Ela, entretanto, no aparece como tal no ambiente produtivo, no umelemento tecnolgico, uma varivel, passvel de ser incorporado prancheta doprojetista da tecnologia ou s planilhas dos responsveis pelos diversos aspectos(estgios, cadeias de produo, tempos emovimentos, layouts etc) do processo detrabalho. Ela no condiciona diretamente as caractersticas da tecnologia (e, porincluso,doprocessodetrabalho).
A propriedade privada dosmeios de produo uma relao social que se
estabeleceno
contexto
que
cerca
o
ambiente
produtivo.
como
se
essa
relao
social,
parapoderinterferircomoprocessodetrabalhoeparamoldaratecnologiaprecisassedealgoquearepresentassenoambienteprodutivo.Essetransdutorocontrole.ele,enoapropriedadeprivadadosmeiosdeproduo,quedeterminadiretamenteascaractersticasdomododeproduziredatecnologia.
Como apontamos acima, uma situao em que produtores diretos,proprietriosdosmeiosdeproduo,cooperamparaproduziralgo,tambmdemandacontrole.Nessecaso,diferentementedoqueocorrequandoosprodutoresdiretosnosoproprietriosdosmeiosdeproduo,ocontroleoresultadodeumacordo14eno de uma autoridade do capitalista, fundamentada na propriedadedosmeios de
produo.Mas
esse
acordo
,
tambm,
uma
relao
social.
Ela
se
estabelece,
analogamente, forado ambienteprodutivo,neste caso,apartirdeumprocessodetomada de deciso coletivo e democrtico.O qual, analogamente, orientado emltima instncia, pela vontade dos produtores diretos de manter a propriedadecoletiva dos meios de produo, de proporcionar retiradas compensadoras a cadacooperado,etc.Damesmaformaque,numaempresacapitalista,amanutenodocarterprivadodosmeiosdeproduo,aobtenodeumataxamnimade lucro oquemotivaejustificaaatividadeprodutiva.
Assim posto, fcil de entender que o tipo de controle que ir resultar derelaessociaistodiferentesser,tambm,diferente.
14Nossa viso, de que existiria um transdutor entre o que ocorre no ambiente produtivo e no seu
contexto introduz uma nuance na de outros pesquisadores. Claudio Dedecca (2003), por exemplo,ressaltaque"os trabalhadores trabalhamcomaarmadodesempregonacabea", ressaltandoqueotipodecoeroutilizadohojeemdiaodesemprego.MrciaLeite(2003)apontaquearotatividadeda
mode
obra
facultada
ela
legislao
trabalhista
que
limita
os
direitos
do
trabalhador
acaba
se
tornando
umaformadecoero.
-
7/26/2019 Renato Dagnino - Elementos Para Uma Teoria Crtica Da Tecnologia
11/31
Pontodevista
RevistaBrasileiradeCincia,TecnologiaeSociedade,v.1,n.1,p.333,2jul/dez009.
13
Conhecimentoecontrolenocapitalismo
Esta seo apresenta sumariamente como o conhecimento passa a sermonopolizadonocapitalismocomvistasa,porumlado,potencializarelegitimarasua
expanso.E,
por
outro,
a
viabilizar
o
tipo
especfico
de
controle
sobre
o
processo
de
trabalhoqueocaracteriza.
Semprehouve,aolongodahistria,certotipodeconhecimentocujaproduosedavadeformarelativamentecentralizada.Issoocorreumesmoemsociedadesondeamaioriadosbenseservioseraproduzidapelosindivduosqueosiriamconsumir;oupelos seus familiares. E que, para melhorar sua qualidade ou aumentar a suaproduo,seencarregavam,porsuaprpriacontaedeformadispersa,deincorporarosaberquepossuamassuasatividades.
Aquele primeiro tipo de conhecimento se relacionava a atividades no
diretamente
ligadas
produo
de
bens
e
servios.
E,
sim,
quelas
que
garantiam
as
condiesgeraisdevidaemsociedade,airrigao,adefesa,easadefsicaementaldosindivduos.
OsurgimentodoEstadosed,justamente,emsociedadesemqueovolumeeaescaladessetipodeatividades,cujaapropriaoocorredemodocoletivo,adquiriamumadimensoimportanteemrelaoquelasqueseverificamnombitodasfamliasequegarantiamsuasubsistnciaimediata.Umadasatividadesmaistpicasdessetipocentralizadoaqueatendenecessidadedegarantiradefesadeumdeterminadogruposocialdeoutrosquehabitamterritrioscontguos.Noporoutrarazoquea diferenciao e apartamento dessa atividade daquelas cuja realizao se d de
maneiradescentralizada,
nas
famlias
(por
sua
prpria
iniciativa
e
controle)
o
que
originaaForaArmadaemarcaosurgimentodoEstado.
O Estado capitalista conformado a partir de uma situao em que apropriedade dos meios de produo, j concentrada em mos de uma minoriadetentoradepodereconmico,sedesvinculadoexercciodacoeropolticasobreosindivduos.PassaaserfunodoEstado(capitalista),enomaisdeumaclassesocialparticular,omonopliolegtimodaviolncia.
essafuno,razoemltima instnciadesuaexistncia,oquefazcomqueelesejacapazdegarantir,nasociedadedaqualsedesprende,arelaodedominao
caracterstica
do
capitalismo.
Aquela
que
se
estabelece
entre
os
proprietrios
dos
meiosdeproduoeosdemais indivduosque,pornoospossuremeestaremporisto incapacitado para produzir os bens e servios com os quais seus antepassadosgarantiamsuasobrevivncia imediata,temquevendersuaforadetrabalho.Aquelarelaodedominaoconstitutivadocapitalismo,legitimadanasociedadepeloEstadocapitalista,quegaranteaordemsociale,nombitodaproduodosbenseserviosquepassamaserfabricadosparaomercado,arelaodecooperaofabril(enodecoero)mediadapelo salrioentreaquelasduas classesde indivduos.Enfim,arelaoentreaclassedominanteeaclassedominada.
-
7/26/2019 Renato Dagnino - Elementos Para Uma Teoria Crtica Da Tecnologia
12/31
Pontodevista
RevistaBrasileiradeCincia,TecnologiaeSociedade,v.1,n.1,p.333,2jul/dez009.
14
O Estado garante, tambm, que o conhecimento que passa a ser gerado nocapitalismo15 contribuapara sacramentarenaturalizara separaoentre trabalhointelectualemanual.Apropriedadeprivadadosmeiosdeproduocomeaaocorreremsimultneo,porumlado,segmentaoehierarquizaodoprocessodetrabalho(MARGLIN,1974).E,poroutro,expropriaodoconhecimentoentodisseminado
entreos
produtores
diretos
que
at
ento
lhes
permitia
subsistir
em
uma
economia
ainda no totalmente monetizada e assalariada. Esse conhecimento passa a sercodificado,sistematizadoeprivatizado16.
O capitalismo nascente passa a reservar aos proprietrios dos meios deproduoomonopliodotrabalhointelectualecondenaosquetmquevendersuaforade trabalhoaumavida inteirade trabalhomanualnaqualutilizamumapartenfima de sua capacidade inata de refletir e criar. A associao entre trabalhointelectual e posse dos meios de produo pelo capitalista proporciona umaexplicao naturalizada para a apropriao privada do excedente gerado pelotrabalhador no processo de trabalho. E que faz entender o lucro como umaremunerao sua indispensvel contribuio para a produo, oriunda de suacapacidadedeorganizla.
Antes de passar ao prximo ponto, convm sintetizar os resultados quealcanamos.Talvezomais importanteaquelequechegamosapartirdaabordagemgenrica proposta, acerca das especificidades da tecnologia capitalista. De fato, aproposio de que aquilo que caracteriza a tecnologia capitalista ou a tecnologiaconvencional no a propriedade privada dosmeios de produo e sim o tipo decontrole que ela determina o resultadomais importante para nosso objetivo deproporcionar um referencial para o desenvolvimento de TA. Por ser um elemento
exgeno
ao
ambiente
produtivo,
que
condiciona
o
tipo
de
acordo
social
necessrio
paraqueexistaacooperaoparaaproduoquequalquerconfiguraodoprocessode trabalho demanda, a propriedade privada dos meios de produo o que faz estabelecer o controle que ir presidir a concepo e utilizao da tecnologiacapitalista.Estatecnologia,portersidogeradanumambientemarcadoporessetipocontrole, passaria a estar contaminada por ele. Ela guardaria consigo ascaractersticas dele decorrentes mesmo quando deixasse de existir esse elementoexgeno.
15ConcordamoscomMarcosOliveira(2002,p.109)quandoescreveque,porestarodesenvolvimento
dacinciaedatecnologiamodernaintimamenteligadaaosurgimentoeaconsolidaodocapitalismo,possvel afirmarque a cinciae a tecnologiaque conhecemos souma cincia euma tecnologiacapitalistas.Equeoquehojeconhecidocomocinciarepresentaapenasumaabordagempossvel,motivadaporvaloresatribudossprticasdecontroledanaturezacaractersticasdocapitalismo.16
Parecepossvel argumentarque a separao estrita, generalizada, sacramentada,naturalizadae
semretorno
entre
trabalho
intelectual
e
manual
esteja
relacionada
com
a
secesso
imposta
pelo
capitalismo,deterritrios,hojeseparadosaindaquefronteirios,quevodaartecincia,passandopeloartesanato,pelatcnicaepelatecnologia.
-
7/26/2019 Renato Dagnino - Elementos Para Uma Teoria Crtica Da Tecnologia
13/31
Pontodevista
RevistaBrasileiradeCincia,TecnologiaeSociedade,v.1,n.1,p.333,2jul/dez009.
15
Atecnologiacapitalista,afbricaeomercado
Bens e servios produzidos para serem comprados por indivduos queproduzem outros bens e servios no mbito dessa relao social de produo
adquiremno
capitalismo,
ento,
um
valor
que
transcende
a
satisfao
que
seu
uso
possibilita. Seu valor de troca, formado mediante um processo de produotipicamentecapitalistapelasomadosmateriaisempregados,pelosalriopagoepelolucrodoempresrio, aqueleem tornodoqual ir flutuar seupreoefetivamenterealizadonomercado.
Eparadiminuirotempoduranteoqualotrabalhadordiretoretribuicomotrabalho que realiza o seu salrio, que cada empresrio passa a utilizar,crescentemente, conhecimento.Comoo aumento da produtividade do processo detrabalhoderivadodaadiodeconhecimentonumaempresatendeadarsetambmemcadaramodaproduo,oefeitodiretobuscadopeloempresrio,deaumentara
suataxa
de
lucro
individual,
se
soma
a
efeitos
indiretos
de
barateamento
dos
bens
consumidospelostrabalhadoresedosmateriaisnecessriosproduo.
Se,depoisdeserbemsucedidonoempregodeconhecimentoemsuaempresaaumentandosuataxade lucro,oempresrioconseguir impedirqueoutroso imitem,elepermanecerindefinidamenteauferindoolucroadicionalresultantedadiminuiodotempoduranteoqualotrabalhadorretribuioseusalrio;isto,doaumentodataxadeexploraoquepratica.
Como manter esse tipo de segredo tecnolgico difcil, natural que elerealizeoquepodeserentendido,noplanoanaltico,comoumsegundomovimento.
Abrirmo
de
uma
parte
de
sua
margem
de
lucro
baixando
o
preo
que
pratica,
e
expulsaralgunsdeseusconcorrentesdomercado.Assim,ecomoresultadocolaterale expost (embora provavelmente desde o incio pretendido) de um bemsucedidoempregodeconhecimentonasuaempresa,oempresrio,ademaisdolucroadicionaloriundodoaumentodaprodutividadedo trabalhoqueexecutam seusempregados,poder aumentar seu mercado. E, assim, novamente, sua margem de lucro. Oresultado de um terceiro movimento ser a diminuio do custo de produo deoutrosempresrios,emoutrosramos.
Esse mecanismo dinmico, causado por processos de emprego deconhecimentodenaturezaatomizadaenocoordenada,quepermitemaumentara
taxade
mais
valia
do
empresrio,
incessante
e
ciclicamente
perturba
o
equilbrio
concorrencial gerado no mercado. Sua natureza, ao mesmo tempo localizada egeneralizada,semanifestanonvelmacroeconmicodeduasformas:gerando,entreos empresrios, perdedores e ganhadores; e, entre o conjunto dos indivduosenvolvidos com a produo de mercadorias empresrios e trabalhadores umapotencial redundncia demodeobra e de diminuio dos salrios unitrios e damassasalarial.
compreensvel que esse mecanismo que tem possibilitado a expanso docapitalismo seja posto em evidncia pelo empresrio que dele se beneficia comopertencendo ao nvelmacroeconmico da concorrncia intercapitalista. Imputlo aummovimento que ele desencadeia no nvelmicroeconmico, ao invs de situlo
-
7/26/2019 Renato Dagnino - Elementos Para Uma Teoria Crtica Da Tecnologia
14/31
Pontodevista
RevistaBrasileiradeCincia,TecnologiaeSociedade,v.1,n.1,p.333,2jul/dez009.
16
comoumvitoriosoentreosseuspares,desnudariaoresultadobuscado,deaumentodataxadeexploraodeseusempregados.
Essemecanismoque temorigemnombitodeumcaractersticoprocessodeproduoqueocorrenaempresa,mascujamanutenogarantidapeloEstadoepela
ordem
capitalista,
legitimado
pelo
sistema
de
dominao
ideolgica
que
dela
emana.
Contribuiu para obscurecer o cartermoralmente questionvel do comportamentoempresarial e o consentimento da classe subordinada; contrapartida necessria noprocessode construodahegemonia (ideolgica)edo capitalismo.Aqual conferelegitimidadeaestaformadeutilizaodoconhecimentogeradopelasociedade.
Acausaprimeiradeproduoeutilizaodesseconhecimentoaumentarotrabalho no pago na rbita da produo no o que aparece com destaque narbita da circulao. E, tampouco, o que parece conferir dinamismo quelemecanismo.De fato,oempregodeconhecimentonaproduosemanifestaapenascomo fruto de uma compulso concorrencial que leva a um dinamismo no plano
macroeconmico.
O fato de que o lucro adicional s se realiza na rbita da circulao d aimpressodequeacausaprimeiradessemecanismoaconcorrnciaintercapitalista;da mesma forma que o fato de o valor da mercadoria s se realizar nomercadoobscurece seu carter de relao social. Porque a concorrncia intercapitalista seexpressanomercado viapreos,e leva expulsodosempresriosqueno foramcapazesdeempregaroconhecimento,asociedade tendeaesqueceroqueocorredentro das empresas, na rbita da produo. Originase um fetichismo quefreqentementeseverificaquandoosensocomumprocuraexplicarsituaesquesesituamnasfronteirasentreosocial,oeconmicoeoideolgico.
A causa daquele mecanismo, entretanto, o ato gerador da maisvaliaextraordinria,sesituanarbitadaproduo.aliondeolucroqueseirrealizarnomercado efetivamente gerado mediante o emprego do conhecimento,desestabilizando, continuamente, demodo localizado,mas tambm generalizado,obalano de foras entre empresrios e trabalhadores e entre os segmentos destasclassessociaisquesesituamemdiferentessetoresdaeconomia.
Mas como outros fetichismos, esse leva tambm legitimao e aofavorecimentodeumatorpresentenocenriopoltico.Eleaparececomoassociadosduas facetas inerentes ao esprito do capitalismo. A primeira o esprito
empreendedor(aquilo
que
hoje
se
repete
exausto
usando
o
termo
apologtico
empreendedorismo), que levaria o empresrio, inquieto e sempre desejoso demelhorar a maneira como se realiza a produo, a aumentar a produtividade doprocesso de trabalho em que esto envolvidos seus empregados. Mediante aintroduo de conhecimento a esse processo tornase possvel produzir, semaumentarajornadadetrabalho,ummaiorvolumedeproduto.Situaoquecostumaser interpretada,emfunodaquelefetichismo,comoumganhoparaotrabalhador,sobretudo seo conhecimento incorporado produo torna o seu trabalhomenospenoso.Defato,casoessemaiorvolumefossedepropriedadedotrabalhador,anovasituao implicariaqueseuesforoestariarendendomais,ouque,porunidadede
produto,
ele
seria
agora
menor.
Ou
ainda,
que
se
ele
tivesse
o
controle
daquele
-
7/26/2019 Renato Dagnino - Elementos Para Uma Teoria Crtica Da Tecnologia
15/31
Pontodevista
RevistaBrasileiradeCincia,TecnologiaeSociedade,v.1,n.1,p.333,2jul/dez009.
17
processo,elepoderiaproduziraquantidadeoriginalemmenostempoe,assimreduzirsuajornadadetrabalhooufazeraumentarsuaremunerao.
Aoutrafacetainerenteaoespritodocapitalismoqueseencontraassociadaquelefetichismooespritocompetitivodoempresrio(aquiloquehojeserepete
exausto
usando
o
termo
apologtico
competitividade).
A
par
da
qualidade
do
bomempresrioqueolevariaabuscaroaumentodaprodutividade,masquepodeserentendida comoumabatalha contra seusempregadosvisandoapropriaodeuma parcelamaior do seu tempo de trabalho haveria outra compulso aindamaisvirtuosa.Elaolevariaacompetirincessantementecomseusconcorrentesembuscadeuma parcela maior do mercado. E em situaes que embora cada vez menosfreqentestendemaservistascomoaregra,aaumentaramodeobraocupadaemsuaempresaeabaratearseuproduto.
interessante que tenha sido Merton, um weberiano pouco afeito aoquestionamentodasrelaesdeproduocapitalistaseconsideradoumdospaisda
sociologiada
cincia,
um
dos
poucos
autores
a
se
referir
de
forma
crtica
a
essa
compulso do empresrio inovador. Diz ele: entre indivduos de nvel social eeconmicoelevado,noraroqueapressoemfavordainovaotorneimprecisaadistinoentreasprticasregulareseirregulares.ComoVeblenobservou:
Emcertoscasosdifcil,porvezesimpossvel,atnojulgamentodotribunal, dizer que se trata de uma habilidade comercial digna deelogiooudeumadesonestidadequemereceapriso.Ahistriadasgrandes fortunas americanas a histria de indivduos tensos porinovaes de uma legitimidade duvidosa. (ALTER, 2001, p.64 apud
MERTON,1970)
Encerrandoessadigresso,e independentementedaperspectiva ideolgicaapartirdaqualsevisualizaessesdoisespritos,importantequeosdoismovimentosqueelesoriginamnoseconfundam.Distinguilosdeumaperspectivaanalticaumacondioparamelhorentenderosresultadosquefreqentemente,masnemsempre,aparecemdeformacombinadanadinmicadereproduocapitalista.
O que no implica em pensar que historicamente, ao longo da expanso docapitalismo, eles tenham ocorrido em seqncia, um depois do outro. E nem, por
exemplo,caricaturalmente,
que
o
empresrio
se
ocupe
nos
dois
primeiros
dias
de
sua
semanadetrabalhocomafrenteinternadasuabatalhadaacumulaodocapitalqueeletravatodososdiasno interiordesuaempresacomseusempregados.Eque,nosdois seguintes, se preocupe com a frente externa, onde ele se enfrentaperiodicamente, quando h uma conjuno de situaes favorveis na rbita daproduo da sua empresa e da circulao do mercado, do ambientemacroeconmico ,comoutrosempresrios.Eque,noquintoelevesuasprecesaoscusparaquetudodcerto...
-
7/26/2019 Renato Dagnino - Elementos Para Uma Teoria Crtica Da Tecnologia
16/31
Pontodevista
RevistaBrasileiradeCincia,TecnologiaeSociedade,v.1,n.1,p.333,2jul/dez009.
18
Atecnologiaeasduasfrentesdebatalhadocapitalista
Demodoadeixarmaisclaronossapercepoacercadessesdoisespritosedosdoismovimentosqueelesoriginam,vamosseguircomacaricaturarecmtraada
adicionandoa
ela
outra
metfora:
a
das
frentes
de
batalha.
Comecemospelafrentedebatalhainterna.Paraabordlapoderamospensarque o capitalista, nas segundas e terasfeiras, nela lutaria preocupandose emmaximizar o tempo de trabalho no pagomediante um processo de introduo deconhecimentonaproduocujascaractersticassodeterminadasporesteambientedeenfrentamento.
Nesta frente, a resistncia que seu adversrio lhe pode opor , ainda quecontnua, fraca (e,comaglobalizao,decrescente).Adicionalmente,ocapitalistaseencontra nesta frente inteiramente protegido pelo contrato social legitimado pelo
Estado
que
garante,
legitima
e
naturaliza
a
propriedade
privada
dos
meios
de
produoeacompraevendada forade trabalho.Hmuitopouco riscona frenteinterna.Amaiorpartedasvariveisqueinfluemnoxitonestafrentedebatalha,que de natureza ttica, esto sob seu controle, o ambiente em que ela se trava conhecido,suaautoridadeinquestionvel,seusoficiais(engenheirosegerentes)sode inteira confianaepossuemum critriobaseadonuma cinciae tcnica dura,poucosujeitasagrandesincertezas.
Esse processo de introduo de conhecimento tende, por isso, a serincrementalecontnuo.Seufocotemestadohistoricamenteconcentradonoprocessoprodutivo:nasegmentaoehierarquizaodoprocessodetrabalhoembenefciode
seumaior
controle,
na
separao
entre
as
tarefas
de
produo
(manuais,
repetitivas
e
crescentementedesprovidasdosaberquenaturalmentepossuram)edeconcepo(intelectuais,criativasereservadasaosengenheirosquesotreinadosparatornarasdemaisaindamaisrepetitivas).
Seufocotemestadotambmnacadnciadasoperaesatravsdavelocidadeedoritmodasmquinascujaintroduonoprocessodetrabalhossetornoupossvelpela sua prvia segmentao; nos tempos e movimentos; e na incorporao dedispositivos ou sistemas concebidos para, muitas vezes em prejuzo da eficincia,dificultar um boicote do trabalhador direto em situaes em que o clima decooperao no interior do ambiente da produo perturbado por uma crise de
hegemoniana
sociedade
etc.
Ou,
mais
recentemente,
nas
mudanas
na
organizao
dotrabalho,nocontrolecontnuoediludodaqualidade,notrabalhoadomiclioetc.Resumindo e retomando o fio da meada: o empresrio, nesta frente, no estariafocadonascaractersticasdoprodutoquefabricaesimnoprocessodesuafabricao.
Mas sigamos com a caricatura que nos permite, separando analiticamente,entender aqueles dois movimentos ou compulses que traduzem o espritocompetitivodocapitalismoequesujeitamoempresrioatravar,incessantementeesempedirquartel,abatalhadaacumulaodocapital.
Vejamosoqueocorrenafrenteexternadabatalhadocapitalista.Aquelaaque
elese
dedicaria
nas
quartas
e
quintas
feiras.
Ali,
naqueles
dias,
ele
perscrutaria
oportunidadesdemercadosuscetveisdeseremexploradasmediantea incorporao
-
7/26/2019 Renato Dagnino - Elementos Para Uma Teoria Crtica Da Tecnologia
17/31
Pontodevista
RevistaBrasileiradeCincia,TecnologiaeSociedade,v.1,n.1,p.333,2jul/dez009.
19
deumtipoparticulardeconhecimentoaoprocessodetrabalho;distintodaquelequeusualmentechama suaatenoquandoatuana frente interna.A isso tendeaestarassociada uma manobra no mais de natureza ttica, mas estratgica, e costumaocorrercoma introduodeumnovoprodutonomercado.Umprodutoparaoqualvisualizaumademandapotencialmenteexistenteou,comoocorrecrescentemente,
passvelde
ser
criada
mediante
a
sua
iniciativa
junto
aos
consumidores
e
para
cuja
produoseusconcorrentesnoestocapacitados17.
Nessecaso,seriamaisfreqentedoquenoanterioradecisodeaumentaracapacidadeinstaladadaempresa,implantarnovaslinhasdeproduo,concebernovosequipamentos etc. A introduo de conhecimento, neste caso, tenderia a estarassociadaaumaumentonaproduoe,por isso,aumacirramentodaconcorrnciaintercapitalista.O que no implica quemesmo nomomento em que o empresrioestejafocadonasuafrente internadeixemdeatuarasrestriesassociadasescaladeproduotimasemprecrescenteque temcaracterizadoahistriada tecnologianocapitalismoem funodabuscaporaumentaronmerode trabalhadoresqueomesmoempresriopodecontrolar(eexplorar).
De fato, elas fazem com que tenda a haver um impulso ao aumento daproduoemanutenodeumnvelrelativamentealtoaindaquevariveldevidoincidncia,inclusive,defatorestecnolgicosdeconcorrnciaintercapitalista.
Atentativadeobscureceroquesednaprimeirafrenteinterna debatalhaedestacarocartervirtuosodoqueocorrenasegunda,compreensivelmente,umobjetivodaclassecapitalistanasuacontinualutaporreforarasuahegemonia.Issorealizado,inclusive,pelacriaodenovosconceitos,comoodeempreendedorismo,oupelaresignificaodeoutros,comoodeinovao.
O conceito de inovao foi cunhado no contexto dos pases de capitalismoavanadoparadesignarumconjuntodeatividadesqueenglobadesdeaP&Datasnovas tcnicas de comercializao (passando pela introduo de novosmtodos degesto da fora de trabalho) que tem como objetivomelhorar a condio de umaempresa frente concorrncia intercapitalista e no para promover o "bemestarsocial".
Uma caracterstica desse contexto possibilitou a expanso semntica doconceito (com certa propriedade, verdade) para englobar uma condio desuperioridade dos atores empresas e pases inovadores. Essa condio de
superioridadese
traduzia,
no
caso
de
uma
empresa,
numa
maior
lucratividade
em
relao ao momento anterior introduo da inovao, visto que a tecnologiasubstitudaproporcionavaaapropriaodeumamenorquantidadede trabalhonopago (maisvalia relativa); e numa maior competitividade em relao a outrasempresas competidoras que, foradas a abandonar o mercado, possibilitavam sinovadoras um aumento ainda maior de sua lucratividade. No caso de um pas,entendido como um agregado de empresas, instituies, e de outras poresmaissignificativasdeoutroagregado,asociedade,quesepassouadenominarparafins
17Emboranosejaomomentodefazloaqui,seriainteressantepesquisararelaoquepodeexistir
entreas
frentes
interna
e
externa
e
os
conceitos
de
tecnologia
de
processo
e
tecnologia
de
produto.
E,
tambm,aosconceitosdeinovaoincrementaleinovaoradical.
-
7/26/2019 Renato Dagnino - Elementos Para Uma Teoria Crtica Da Tecnologia
18/31
Pontodevista
RevistaBrasileiradeCincia,TecnologiaeSociedade,v.1,n.1,p.333,2jul/dez009.
20
deentendimentodoprocesso inovativocomoumSistemaNacionalde Inovao,decompetitividade emrelaoaoexterior.
no contexto dos pases de capitalismo avanado onde surge o novoparadigma tecnoeconmicobaseadonaeletroeletrnica,que substituiodaeletro
mecnica,
onde
um
estado
do
bem
estar
garantia
um
nvel
razovel
de
desenvolvimento social, onde o trmino da Guerra Fria acirra a concorrnciaintercapitalistaeondeo crescimentodependiacadavezmaisdasoportunidadesdeexportaoe,portanto,dacompetitividade(entendidaemrelaoaoexterior).Assim,apesardeaexpressoestarhojecadavezmaispresentenoambientedeelaboraodepolticaspblicas latinoamericano, importantenoperderaprecisoconceitualnecessriaparaaatividadedepesquisaemqueestamosengajados.
Como compreensvel, tambm no contexto daqueles pases que surgeomarco analticoconceitual que temos denominado de Teoria da Inovao paradesignar um conjunto de elaboraes tericas que tem comoobjetivo, descrever e
explicaros
fenmenos
relativos
relao
Cincia
Tecnologia
Sociedade
tpicos
desse
contexto.Esseconjunto,queaquireferidomaispelosresultadosquesuautilizaoproduz do que pelos conceitos e relaes especficos que engloba tributrio devisescomoasdaEconomiaEvolucionria,daEconomiadaTecnologia,daVisoneoschumpeterianaedaTeoriadoAtorRede.Apesardesuassignificativasdiferenasemrelao a muitos aspectos, essas vises tm em comum um elemento: como compreensivel,elasnocolocamno seucentrodepreocupaes,nemdopontodevista descritivo e explicativo, nem do normativo, onde seu objetivo prescrevermedidas de poltica de C&T que busquem, atravs do aumento da lucratividade ecompetitividadedasempresasedospases,aquestodainovaosocialedosatores
sociais
com
ela
envolvidos.
Cabeparticularizar,dentreessesarranjos,odeSistemaNacionalde Inovao;conceito,cunhadonocontextodospasesdonortecomoummodelodescritivodeumarranjosocietaltpicodocapitalismoavanado(maduro).Arranjoemqueumateiadeatores densa e completa gera, no interior de um ambiente sistmico propcioproporcionado pelo Estado, sinais de relevncia que levam ao estabelecimento derelaes virtuosas entre pesquisa e produo, inovao nas empresas e competitividade do pas. E, naquele contexto e com o apoio de mecanismos deproporcionados por um Estado de bemestar bem conhecidos, a uma relativaigualdadeeconmicaesocial.
Posteriormente,o
Sistema
Nacional
de
Inovao
se
transforma
num
modelo
normativo para que estes pases semelhantes no plano social, econmico,institucional e cientficotecnolgico, e complementares em termos de comrcio orientassem seus governos e grandes empresas em busca da competitividade emrelaoaoexterior.Aquall,novamentecomcertapropriedade,podeserassimiladacompetitividadedasempresasdeumdadopaseumarelativa,aindaquecadavezmaisprecria,distribuiodosganhosdecompetitividadeentreocapitaleotrabalho.
Algoparecidoocorreu,tambm,nospasesperifricoscomooBrasil.NelessetentoucriarSistemasNacionais(ouLocais)deInovaoembuscadacompetitividade;
primeiro
das
empresas
e
dos
pases,
depois
de
arranjos
produtivos
bem
variados,
comoos chamados sistemas locaisde inovaoouarranjosprodutivos locais.E isso
-
7/26/2019 Renato Dagnino - Elementos Para Uma Teoria Crtica Da Tecnologia
19/31
Pontodevista
RevistaBrasileiradeCincia,TecnologiaeSociedade,v.1,n.1,p.333,2jul/dez009.
21
como se existissem aqui aquelas condies e aquele arranjo societal e como se aassimilao entre as partes (empresas) e o todo (sociedade) fosse aqui legtima (ecomo se o Estado apresentasse aqui as caractersticas de welfare, accountability,participaoetc.,quelpossui).
Isto
como
algo
a
ser
construdo
mediante
aes
planejadas
de
responsabilidade de um tipo particular de Estado capaz de promover oestabelecimentoderelaesvirtuosasentrepesquisaeproduoapartirdoseuplomaisdesenvolvido:eestruturapblicadepesquisaedeensinosuperior.Oque,depoisde mais de quinze anos, e por razes estruturais, apontadas h mais de 40 noocorreu.
Foi assim que conceitos como os de sistema e arranjo, entre tantos outros,passaramaseraquiutilizadosdeumaformaque,epistemologicamentefalando,muitose distancia daquela dos pases avanados. Isto com um sentido francamenteprescritivo(ounormativo)semquehouvessehavido,antes,algumaanlisedescritivo
explicativaque
constatasse
a
existncia
de
algo
semelhante
quilo
que
se
pretende
emular.
Poressasrazes,odilogo,entreas idiasqueapresentamosnestetrabalho,como a de propor um conceito genrico de tecnologia (ou, se quisssemos, deinovao) comvistasamaterializarcommaispropriedadea idiadeTecnologia (ouInovao) Socialeomarco analticoconceitualda Teoriada Inovaono tem sidofcil.AscaractersticasdosfenmenosdarelaoCinciaTecnologiaSociedadequesequer explicar, dos atores envolvidos, da orientao que se quer a eles imprimir e,numapalavra,daopo ideolgica inerenteaoconceitode inovao social, tendealimitar a sua simples transposio para o campo que ela privilegia. At mesmo a
utilizaode
alguns
de
seus
conceitos
chave
e
das
relaes
e
modelos
que
prope
(aindaqueemmenorgrau)bastantecomplicada.
No nos parece possvel, portanto, uma simples adaptao da Teoria daInovaoaocampodaInovaoSocial.Parecesernecessrioum"giroconceitual"damagnitudedoquetemospropostoaocunhareutilizaraexpressoinovaosocial(ouaquesetornoumaisconhecidaemnossomeio,deTecnologiaSocial).Eledeveincluira crtica ao prprio conceito de "inovao" freqentemente utilizado de mododescontextualizadopelosque adotam a Teoriada Inovaopara abordaro casodepasesperifricoscomoonosso.Paraproporsoluestecnolgicasvisandoinclusosocial, e por isto que este trabalho foi elaborado, parece ser necessria umaprofunda
reviso
acerca
de
conceitos
como
tecnologia
e
inovao.
Uma
reviso
que
tenhacomocentroacompreensodasrelaessociaisqueseencontramnaraizdoqueatualmentesealudecomessesconceitos. sapartirdeum "giroconceitual"como aquele que este trabalho pretende que ser possvel incorporar aomarcoanalticoconceitual que ele ir conformando os conceitos, relaes e modelosprovenientesdaTeoriadaInovaoquesemostraremteisparaaquelepropsito.
Outro termo hoje maciamente utilizado no ambiente da elaborao daspolticas de C&T orientadas a estimular os empresrios a inovar e a se tornarem
-
7/26/2019 Renato Dagnino - Elementos Para Uma Teoria Crtica Da Tecnologia
20/31
Pontodevista
RevistaBrasileiradeCincia,TecnologiaeSociedade,v.1,n.1,p.333,2jul/dez009.
22
competitivos,schumpeterianosodeempreendedorismo18.Tambmeletendeaobscureceraprimeira frente interna debatalha.Dseaentenderqueapenasosnoempreendedores perdem em funo da operao do mecanismo dinmico deintroduodoconhecimentonaproduo,quandonarealidade,podenosertravadanenhuma escaramua na frente externa. E que no h, entreos trabalhadores que
combatemna
frente
interna,
quem
perca
com
isso.
Na realidade, como se sabe,estaperda costuma se verificarempelomenosquatro mbitos. Primeiro, porque as inovaes tendem a intensificar o ritmo daproduo, causar maior tenso, acidentes e doenas e exigir do trabalhadorhabilidadesqueeleatentonopossua.Segundo,porquetendemadiminuirpostosde trabalho gerando um desemprego localizado cada vez mais difcil de sercompensadoemoutrasatividadeseconmicasderemuneraosemelhante.Terceiro,porquenumasituaoemqueodesempregodeixadeserconjuntural,osalriotendea ser comprimido.Quarto, porqueos empresrios quedeixamde produzir por noseremcompetitivosdespedemseusempregados.
VoltandoporummomentoHistria,sepodeentendercomoumaatividadequeocorreuemtodasassociedadesoempregodoconhecimentoparaaumentaraprodutividadedoprocessode trabalhopassaa serorientadaparauma finalidadeadicional,adeaumentarolucrodoproprietriodosmeiosdeproduoe,emfunodascaractersticasdocapitalismopassaaincorporarcaractersticasdistintivas.
Amaterializaodeumaidealizaocriadapelocapitalismo osurgimentodeumaesferadomercado,sobreaqualatuapreferentementeaempresaprivada,eumaesferapblica,ondesemanifestaopoderdoEstadocapitalista fazcomque,entremuitasoutras,aatividadedeproduodeconhecimentosecentralizeaindamaisna
rbitado
Estado
e
seus
apndices
(como
a
Escola,
por
exemplo).
Assim
como
sua
difusoparaossetoresdasociedadequedeveriamdeleseapropriar,aproduodeconhecimento passou cada vez mais a fazer parte do conjunto de atividades queproporcionavamaospasesacompetitividadesistmicaqueacompetioentreelesdemandava. Sua relativa inapropriabilidade e indivisibilidade fizeram do apoio produodoconhecimentonecessrioproduodebenseserviosumafunodoEstadocapitalista.Eporser,neste tipodesociedade,atribuiodaempresaprivadaessa produo de bens e servios, foi para atender s suas necessidades que esseapoiofoidirecionado.
natural,portanto,queoEstadocapitalista,cujafunoprimordialutilizarosrecursos
de
poder
que
concentra
para
garantir
a
reproduo
da
relao
de
subordinao que lhe d origem e sentido, oriente o desenvolvimento deconhecimento cientfico e tecnolgico (que como aquele conhecimento que sedestina a ser introduzido no processo de produo de mercadorias passou a serconhecido),nasua formadesincorporada,e incorporadaempessoas,paraatender
18 A idia em voga de que temos que produzir empresrios schumpeterianos..." soaria para
Schumpeter (1988) como uma heresia. Para ele, o empresrio (schumpeteriano) seria amaterializao de umprocesso social que ocorre concomitantemente (epormeioda) geraodeinovaes.Ou seja, nenhum empresrio poder ser, em sua prpria essncia, schumpeteriano. a
empresa,no
o
indivduo,
que
pode
estar
schumpeteriana
quando
introduz
no
mercado
uma
inovaoradical;edeixardesloquandoosefeitosdessainovaosedissiparem.
-
7/26/2019 Renato Dagnino - Elementos Para Uma Teoria Crtica Da Tecnologia
21/31
Pontodevista
RevistaBrasileiradeCincia,TecnologiaeSociedade,v.1,n.1,p.333,2jul/dez009.
23
empresaprivada.Oempresrio,aoempregaresseconhecimentoparaaumentaroseulucro estar cumprido sua funo social. Ao repassar parte dele para osconsumidoresbarateando seuprodutoe, atendendoamaiordemanda causadaporestefatorepelaexpulsodosnoinovadores,criar,aindaquenumaproporomenordoaumentodaproduo,novospostosdetrabalho,estarfechandoocrculovirtuoso
docapital.
Nele,
se
supe
que
o
Estado,
mediante
a
cobrana
de
impostos,
poder
reverter, mediante mecanismos redistributivos (que incluem o apoio gerao edifuso de conhecimento), a tendncia concentrao de riqueza inerente aocapitalismo.
Naverdade,nosdiasquecorrem,opapeldasinstituiespblicasnageraode conhecimentopassvelde serapropriadopelaempresaprivadadecrescente.Aempresa , atualmente, responsvel por 70% de toda a pesquisa que se realiza nomundo. Sendo que, desses, 70% realizada por empresas multinacionais (o que,fazendo as contas, aponta que 50% da pesquisa mundial realizada pelasmultinacionais).Emboraimpactantesparaosqueacompanhamaevoluodosgastosem C&T do psguerra, essas cifras no surpreendem aqueles que aceitam aconcepo da inovao aqui proposta. Eles no precisam do trusmoneoschumpeteriano de que a empresa o lcus da inovao para perceber atendnciadocapitalismocontemporneodesubmetercadavezmaisaproduodoconhecimentolgicadaacumulao.
Sobreanecessidadedeumaabordagemnocapitalista
Estaseo
se
inicia
explorando
um
desses
obstculos
que
hoje
se
colocam
ao
movimento da TS relacionado ainda escassa compreenso por parte dos atoresenvolvidoscomaES,oumaisamplamente,comconstruodeumaOutraEconomiasobreopapelquepodeassumiraTSnesseprocesso.Papelquenumprimeironvelmaisconcretoe imediatoasituacomoelementoviabilizadordassustentabilidades(econmica, social, poltica e cultura) dos ESs. Num segundo, como um elementoarticulador,pelaviadofortalecimentodaES,deformasdeproduoeorganizaodasociedadepervasivas,alternativasquelasengendradaspelocapital.E,num terceironvel,maisabrangenteede longoprazo,comooncleodo substratocognitivoquedevertomarolugardaTecnocincia,quehojeamalgamaegalvanizaainfraestrutura
econmicoprodutiva
e
a
superestrutura
poltico
ideolgica
do
capitalismo,
no
cenrio
emconstruodaOutraEconomia.
Emfavordabrevidade,sertratadoapenasofatodequenemaqueleprimeironvelfoialcanado.Oquepodeseravaliadopelaquasecompletaausnciadotemanaproduo bibliogrfica dos autores do campo da ES. Os quais interrompem suapreocupao com a rbita da produo nas questes relativas gesto dosempreendimentos e organizao do processo de trabalho sem perceber ainadequaodoconjuntodeaspectosdaTC (inclusiveasuadimensodehardware)como um obstculo sustentabilidade dos ESs.O que parece resultar de uma noassimilao da crtica contempornea viso neutra e determinista do marxismo
ortodoxoacima
aludida
(DAGNINO;
NOVAES,
2007).
-
7/26/2019 Renato Dagnino - Elementos Para Uma Teoria Crtica Da Tecnologia
22/31
Pontodevista
RevistaBrasileiradeCincia,TecnologiaeSociedade,v.1,n.1,p.333,2jul/dez009.
24
Ofatodequeessasituaopossaseratribudaaumanoassimilaodacrticaformuladanosanosde1970pormaostasetrotskistas(GORZ,1996;CORIAT,1976)forma como o marxismo ortodoxo e o socialismo real entendiam a tecnologiacapitalista (aqual ficou soterradapeloavanodoneoliberalismoeosescombrosdomurodeBerlim),chamaaatenoparaanecessidadedeumaprofundamentoterico
sobreo
tema.
Evidnciadissodescompassoentrea reflexo terica,ea radicalidadecomqueotemavemsendodiscutidoeaatuaoconcretadosatorescomeleenvolvidosnabuscadesoluesparaosproblemasquesecolocamnombitodosESs.
OrientardemodoeficazasaesatinentespromoodaTS,noplanodaspolticas pblicas, e no plano cognitivo do seu desenvolvimento, supe alterar aestratgia que tem sido adotada at agora. A qual parte das implicaes sociais,econmicas, polticas, ambientais etc negativas da TC buscando por excluso ounegao o desenvolvimento da TS; uma tecnologia que no determine estas
implicaes.Ou
seja,
buscando
o
desenvolvimento
de
algo
que
no
aquilo
que
no
queremos.
Concebendoumanovaabordagem
Temse procurado, nesse sentido, e ainda que sem abandonar a idia deconstruodeumautopiaquecaracterizaomovimentodaTS,adotarumaestratgiaquevnosentidoinverso.Paratantoseestformulandoadhocumaabordagemque ao mesmo tempo genrica, dado que permite o entendimento de qualquer
tecnologia,e
especfica,
na
medida
em
que
est
alinhada
com
os
princpios
da
TS.
Por
isso, ela no se preocupa em explicar a dinmica da inovao (ou tecnologia) deproduto,eoconceitoqueproporcionaselimitaaocasodainovaodeprocesso,quemaisinteressaaocampodaTS.
Ela parte da considerao do processo de trabalho em que se envolvem ossereshumanosnoambientedaproduodebenseservios,quepermitaderivarascaractersticasquedeveassumir a formadeproduzirpara tornarse funcionalaumcontextosocioeconmicoespecficoeaoacordosocialqueeleengendra.
Depoisdeexplicaraabordagememostrarqueelaexplicaascaractersticasda
TCa
partir
do
contexto
socioeconmico
capitalista,
se
expe
um
procedimento
inverso
quele proposto pela trajetria at agora seguida, indicando as caractersticas quedeveriateraTSparatornarsefuncionalNovaEconomia.
Oquadroeodiagramaapresentadosadiante ilustram,partindodoambienteprodutivo,oseuprimeiroemaisimportanteelemento:ocontrole.Entendidocomoahabilidaderelativaaousodeumconhecimento intangvelou incorporadoaartefatostecnolgicos, ele uma caracterstica inerente a qualquer processo de trabalho.Osegundo,tambmpertencenteaoambienteprodutivo,odecooperao(atodeagiremconjuntocomoutro(s)visandoaumbenefciopercebidocomomtuo),verificadoemprocessosdetrabalhogrupais.Oterceiro,relativoaocontratosocialengendrado
porum
dado
contexto
socioeconmico,
o
de
coero
(ato
de
compelir
algum
a
uma
ao ou escolha diretamente ou por meio de mecanismos ideolgicos). O quarto,
-
7/26/2019 Renato Dagnino - Elementos Para Uma Teoria Crtica Da Tecnologia
23/31
Pontodevista
RevistaBrasileiradeCincia,TecnologiaeSociedade,v.1,n.1,p.333,2jul/dez009.
25
pertencenteaessecontexto,aformadepropriedadedosmeiosdeproduooudotrabalho morto (a qual, nos processos de trabalho grupais pode ser coletiva ouprivada,resultando,nestecaso,navendadeforadetrabalhooutrabalhovivo).
Formulandoum
conceito
genrico
de
tecnologia
Aabordagemconduzaumconceitogenricodetecnologiaoqual,aindaqueheterodoxoequasehertico,permiteentendlademodomaiscoerentecomaidiadeTS.
Convm iniciarconceituandotecnologiacomooresultadodaaodeumatorsocialsobreumprocessodetrabalhonoqual,emgeral,atuamtambmoutrosatoressociaisqueserelacionamcomartefatostecnolgicosvisandoproduo.E, levandoemcontaapenasa formadepropriedade, isto,comoamodificaonoproduto
apropriadapelo
ator
social,
pode
se
ampliar
o
conceito
dizendo
que
tecnologia
o
resultado da ao de um ator sobre um processo de trabalho que permite umamodificao (qualitativaouquantitativa)noproduto (nosentidogenricodeoutput)geradopassveldeserapropriadasegundooseuinteresse.
Apenas para esclarecer o conceito, vale a pena apresentar uma primeiratentativa de diferenciar TC e TS. Ela levaria a um entendimento da TC como oresultado da ao do empresrio sobre um processo de trabalho que permite umamodificaonovalordetrocadoproduto(oudaproduo)geradopassveldeserporeleapropriada(sobaformademaisvaliarelativa).Modificaoestaquepodeseremtermosdequantidade(medianteaintroduodoqueseconhececomotecnologiade
processo)ou
de
qualidade
(mediante
a
introduo
do
que
se
conhece
como
tecnologia
deproduto).
E, a TS, como o resultado da ao de um coletivo de produtores sobre umprocessodetrabalhoquepermiteumamodificaonoprodutogeradopassveldeserapropriadasegundoadecisodocoletivo.
Demodoa sofisticaraanliseparachegaraum conceitomaisadequadoaopropsitodestaabordagemconveniente levaremcontaaspectosdos trsespaosou ambientes em que est inserido o ator social que atua sobre o processo detrabalho.
NaprimeiralinhadoQuadro1estoostrsambientes,decujaspeculiaridadesresultariam os tipos de tecnologia.Na segunda, os quatro elementos, ou variveis,adstritosaessesespaos.Naprimeiracolunaosatores tpicos (um individuale trsgrupais)dasquatrosituaesqueseaborda.Oquadroresumecomopossvel,emcada umadasquatro situaes,derivar as caractersticasda tecnologia apartirdosvaloresatribudosacadaumadasvariveis.
-
7/26/2019 Renato Dagnino - Elementos Para Uma Teoria Crtica Da Tecnologia
24/31
Pontodevista
RevistaBrasileiradeCincia,TecnologiaeSociedade,v.1,n.1,p.333,2jul/dez009.
26
contextosocioeconmico
contratosocial ambientedeproduoAtorquecontrolaoprocessodetrabalho
Formadepropriedade
Coero Controle Cooperao
Produtor
direto
individual
Coletivodeprodutores
coletiva associativismo autogesto voluntriaparticipativa
Senhordeescravos
privada fsica,pelosproprietriosdosmeiosdeproduo
coercitivodireto
forada
Compradorde
forade
trabalho
privada ideolgica,
peloEstado
imposto
assimtrico
taylorismo,
toyotismo
Quadro1.Aspectosdostrsespaosouambientesemqueestinseridooatorsocialqueatuasobreoprocessodetrabalho.
Fonte:elaboraoprpria.
A forma de propriedade dosmeios de produo no a responsvel diretapelascaractersticasdaTC.Elaumelementoexgenoaoambienteprodutivoe,por
isso,no
capaz
de
determinar
diretamente
as
variveis
de
controle
e
cooperao
que
soasqueefetivamentedefinemestascaractersticas.Issoficaclarocomparamos,porexemplo,osmodosdeproduoescravistaoufeudalcomocapitalista.Emtodoseles,a propriedade dos meios de produo privada. No obstante, o modo como sedesenvolveaproduonoambienteprodutivoconsideravelmentediferente.Entreoutrascoisas,eprincipalmente,pelaimpossibilidadedeque,nocapitalismo,existaalia violncia fsica que caracteriza, sobretudo, o escravismo. O que explica essadiferena a forma como se apresentamas relaesentreEstadoe sociedadequeenvolveepermeiamoambienteprodutivo.Ou,emoutraspalavras,otipodecontratosocialque essas relaes estabelecem e legitimam. Existe, ento,uma categoriade
mediao
entre
a
varivel
forma
de
propriedade
(adstrita
ao
contexto
scio
econmico)easvariveiscontroleecooperao(adstritasaoambienteprodutivo)avarivel coero (adstrita ao contrato social) que tambm responsvel peladeterminaodascaractersticasdatecnologia.
Aconsideraodessesaspectoslevaaentenderatecnologiacomooresultadodaaodeumatorsocialsobreumprocessodetrabalhoqueelecontrolaeque,emfuno das caractersticas do contexto socioeconmico, do acordo social, e doambiente produtivo emque ele atua,permite umamodificaonoproduto geradopassveldeserapropriadasegundooseuinteresse.
-
7/26/2019 Renato Dagnino - Elementos Para Uma Teoria Crtica Da Tecnologia
25/31
Pontodevista
RevistaBrasileiradeCincia,TecnologiaeSociedade,v.1,n.1,p.333,2jul/dez009.
27
Particularizandooconceitogenrico:aTecnologiaCapitalista
Apresentado o que denominamos de conceito genrico de tecnologia convenientecontrastlocomusualmenteencontradoparamostraraconveninciade
suaadoo.
Tanto
na
literatura
especializada
quanto
nos
dicionrios,
a
tecnologia
entendida como a capacidade originada pela aplicao prtica de conhecimentomtodos, materiais, ferramentas, mquinas e processos para combinar recursosvisandoaproduzirprodutosdesejadosdemodomaisrpidoouemmaiorquantidadeouaindaproporcionandoumprodutomaisbaratoecommaiorqualidade.
O conceito de tecnologia aqui proposto se diferencia do usualmenteencontradoemvriossentidos.Emprimeiro lugarporqueestenoserefereaoatorquemodifica o processo de trabalho e, por isso, no deixa claro que se ele no ocontrola (no sentido tcnico,do ambienteprodutivo)nohaver comoefetivar aintroduodeconhecimento;pormaisinteressante,novo,atrativo,oucientficoque
eleseja.
Em
segundo,
porque
o
conceito
usual
implicitamente
supe
que
qualquer
conhecimento que permita uma modificao no produto gerado (um aumento naquantidade de produto gerado durante certo tempo, por exemplo) poder serutilizadopeloatorquecontrolaoprocessodetrabalho,enquantoqueaquelepeemevidnciao fato de que isso ir ocorrer somente se o ator tiver a possibilidade deapropriarsedo resultadodestamodificao (quantitativaouqualitativa)noprodutogeradosegundooseuprpriointeresse.
Em terceiro lugar porque chama a ateno para o fato de que essapossibilidade facultada por um acordo social que legitima certa forma depropriedade.Equeseesteacordodeixardeexistir,aindaqueoatorsigacontrolandooprocessode trabalho,eleno ter interesseem introduzirconhecimentonovonoambienteprodutivo.
fcilperceber,comparandooconceitogenricoapresentadocomousualetendoemcontaasconsideraesacimacomoesteltimo,explcitaouimplicitamente por omisso , abstrai o contexto capitalista que o envolve e d sentido. Essacaracterstica, comobem sabida,comumamuitosoutrosconceitosdas cinciassociais e tambm das cincias duras que, por terem sido definidos sob a gide docapitalismo no fazem a ele referncia. E, nestamedida, propositalmente ou no,emprestamaelesumestatutodeuniversalidadeeatemporalidadequemascaraseu
carterde
construes
histrico
sociais.
Odiagrama (Figura1)quesegueapresentaoutravisualizaodaabordagem,agora particularizada para a tecnologia capitalista (ou TC). Ele evidencia que apropriedade privada dos meios de produo no a responsvel direta pelascaractersticasdaTC.Elaumelementoexgenoaoambienteprodutivoe,por isso,no capaz de determinar as variveis de controle e cooperao que so as queefetivamentedefinemestascaractersticas.
-
7/26/2019 Renato Dagnino - Elementos Para Uma Teoria Crtica Da Tecnologia
26/31
Pontodevista
RevistaBrasileiradeCincia,TecnologiaeSociedade,v.1,n.1,p.333,2jul/dez009.
28
Figura1.Caractersticasdatecnologiacapitalista.
Fonte:elaboraoprpria.
Estes, por sua vez, implicam uma forma de cooperao que preside aconcepoeutilizaodaTC.Tecnologiaqueeestaaquestocentralqueinteressadesdeo incioressaltarpodeguardarconsigoessestiposdecontroleecooperaomesmoquandodeixedeexistiraqueleelementoexgeno.
Talvez
o
resultado
mais
importante
dessa
tentativa
de
entender
as
especificidades da tecnologia capitalista seja a proposio de que aquilo quecaracterizaaTCnoapropriedadeprivadadosmeiosdeproduoesimotipodecontrole que esta determinaou faculta. Situar a propriedadeprivadadosmeios deproduocomoumelementoexgenoaoambienteprodutivo,quecondicionaotipode acordo social necessrio para que exista a cooperao para a produo (quequalquer configurao do processo de trabalho demanda), possibilita entender ascaractersticasdotipoespecficodecontroleque irpresidiraconcepoeutilizaoda tecnologia capitalista.Tecnologiaqueeestaaquesto centralque interessadesde o incio ressaltar para avanar com as questes relacionadas TS podeguardar consigo esse tipo controle mesmo quando deixe de existir esse elementoexgeno.
Em termosconceituais,aparticularizaodoconceitogenricode tecnologiaparao contexto scioeconmicocapitalista leva seguintedefiniodeTC.Elaoresultadodaaodoempresriosobreumprocessode trabalhoque,em funodeum contexto socioeconmico (que engendra a propriedade privada dos meios deproduo)edeumacordo social (que legitimaumacoero ideolgicapormeiodoEstado)queensejam,noambienteprodutivo,umcontrole (impostoeassimtrico)eumacooperao(detipotayloristaoutoyotista),permiteumamodificaonoprodutogeradopassveldeserporeleapropriada.
-
7/26/2019 Renato Dagnino - Elementos Para Uma Teoria Crtica Da Tecnologia
27/31
Pontodevista
RevistaBrasileiradeCincia,TecnologiaeSociedade,v.1,n.1,p.333,2jul/dez009.
29
Particularizandooconceitogenrico:aTS
De maneira anloga, a TS seria o resultado da ao de um coletivo deprodutores sobre um processo de trabalho que, em funo de um contexto
socioeconmico(que
engendra
a
propriedade
coletiva
dos
meios
de
produo)
e
de
umacordosocial(quelegitimaoassociativismo)queensejam,noambienteprodutivo,umcontrole (autogestionrio)eumacooperao (de tipovoluntrioeparticipativo),permite umamodificao no produto gerado passvel de ser apropriada segundo adecisodocoletivo.
A comparao das duas definies, tornada possvel pela abordagemdesenvolvidaevidenciaoqueestapossuideoriginalepromissor.Isto,aidiadequeocontroleumatributo inerenteaqualquerformadeproduzir,formulaoquenospermite avanar no desvelamento daquilo que qualificamos como uma espcie dehisteresequeenvolveriaa tecnologia.Ela coerente comaobservaodequeno
basta,para
construir
formas
solidrias
de
produo,
a
abolio
da
propriedade
privada
dosmeios de produo.O (tipo de) controle que o acordo social que esta relaosocial (a propriedade privada) impe fica impregnado na forma de produzir(tecnologia)capitalistaefuncionacomumobstculomudanasocial.Aconsideraodessecontrolepossuiumacentralidadedesproporcionalpouca importnciaqueeletematagoramerecido.
ConsideraesFinais
Apresentado o que denominamos de conceito genrico de tecnologia convenientecontrastlocomusualmenteencontradoparamostraraconveninciadesuaadoo. Tantona literaturaespecializadaquantonosdicionrios,a tecnologiaentendida como a capacidade originada pela aplicao prtica de conhecimentomtodos, materiais, ferramentas, mquinas e processos para combinar recursosvisandoaproduzirprodutosdesejadosdemodomaisrpidoouemmaiorquantidadeouaindaproporcionandoumprodutomaisbaratoecommaiorqualidade.
O conceito de tecnologia aqui proposto se diferencia do usualmenteencontradoemvriossentidos.Emprimeiro lugarporqueestenoserefereaoator
quemodifica
o
processo
de
trabalho
e,
por
isso,
no
deixa
claro
que
se
ele
no
o
controla (no sentido tcnico,do ambienteprodutivo)nohaver comoefetivar aintroduodeconhecimento;pormaisinteressante,novo,atrativo,oucientficoqueele seja. Em segundo, porque o conceito usual implicitamente supe que qualquerconhecimento que permita aumentar a quantidade de produto gerado durante otempo a ele dedicado poder ser utilizado pelo ator que controla o processo detrabalho, enquanto que aquele pe em evidncia o fato de que isso ir ocorrersomenteseoatortiverapossibilidadededividiraproduoresultantedeacordocomseu interesse. Em terceiro lugar porque chama a ateno para o fato de que essapossibilidade facultada por um acordo social que legitima certa forma de
propriedade.E
que
se
este
acordo
deixar
de
existir,
ainda
que
o
ator
siga
controlando
-
7/26/2019 Renato Dagnino - Elementos Para Uma Teoria Crtica Da Tecnologia
28/31
Pontodevista
RevistaBrasileiradeCincia,TecnologiaeSociedade,v.1,n.1,p.333,2jul/dez009.
30
oprocesso de trabalhoeleno ter interesseem introduzir conhecimentonovonoambienteprodutivo.
fcilperceber,comparandooconceitogenricoapresentadocomousualetendoemcontaasconsideraesacimacomoesteltimo,explcitaouimplicitamente
por
omisso
,
abstrai
o
contexto
capitalista
que
o
envolve
e
d
sentido.
Essa
caracterstica, comobem sabido,comumamuitosoutrosconceitosdascinciassociais e tambm das cincias duras que, por terem sido definidos sob a gide docapitalismo no fazem a ele referncia. E, nestamedida, propositalmente ou no,emprestamaelesumestatutodeuniversalidadeeatemporalidadequemascaraseucarterdeconstrueshistricosociais.
Apenas para esclarecer o conceito, vale a pena apresentar uma primeiratentativa de diferenciar TC e TS. Ela levaria a um entendimento da TC como oresultado da ao do empresrio sobre um processo de trabalho que permite umamodificaonovalordetrocadoproduto(oudaproduo)geradopassveldeserpor
eleapropriada
(sob
a
forma
de
mais
valia
relativa).
Modificao
esta
que
pode
ser
em
termosdequantidade(medianteaintroduodoqueseconhececomotecnologiadeprocesso)oudequalidade(medianteaintroduodoqueseconhececomotecnologiadeproduto).
Partindodo conceitogenricode tecnologia,entendida comoo resultadodaaodeumatorsocialsobreumprocessodetrabalhoquepermiteumamodificaono produto gerado passvel de ser apropriada segundo o seu interesse, chegamosinicialmenteaumconceitodeTCquecolocavaemevidnciaaidiadequeumapartedo valordessamodificaopudesse serporeleapropriada.Noteseque seexcluiapossibilidadedequeumatorquenocontrolaoprocessode trabalhooprodutor
direto,no
caso
da
TC
venha
a
modific
lo,
uma
vez
que
a
ao
concreta,
independentementedesuainteno,nopodesertomadaporele.
Ascaractersticasqueassumeatecnologiaeoprocessodetrabalhodependemda forma como se verifica a propriedade dos dois elementoschave da produo:trabalhomortoe trabalho vivo.Quandoambos sodepropriedadedomesmoatorsocial,oaumentodoexcedentegeradoserapropriadoporesteator(caso1).Quandoa produo se verifica mediante a intervenincia de dois atores sendo cada umproprietrio de um dos elementos, o aumento do produto gerado em funo daincorporaodatecnologiaserapropriadosegundoumaproporoquedependedoseupoderpolticorelativo(caso2).
Uma situao hipottica como a do caso 1 resultaria numa tecnologia comcaractersticas qualitativas e quantitativas de combinao de trabalho morto etrabalho vivo cuja determinao dependeria da vontade exclusiva (valores einteresses)doatorproprietriodesseselementos.
Se a partir dessa situao e com o surgimento de um segundo ator, fosseaparecendo uma separao da propriedade desses elementos (caso 2), ascaractersticasdesuacombinao (tecnologia)passariaadependerdacorrelaodeforasexistenteentreseusproprietrios.E,porisso,daevoluohistricadocontextopoltico,socialeeconmicoemquesedaproduo.
-
7/26/2019 Renato Dagnino - Elementos Para Uma Teoria Crtica Da Tecnologia
29/31
Pontodevista
RevistaBrasileiradeCincia,TecnologiaeSociedade,v.1,n.1,p.333,2jul/dez009.
31
Otrnsitodocaso1paraocaso2envolveriaumprocessorealimentadoacadaciclodeproduodeadaptaodatecnologia (combinaoqualitativaequantitativados elementos da produo) nova estrutura de propriedade. Completado essetrnsito, o proprietrio do trabalho morto (mquinas e matriaprima) passaria acontratar trabalho vivo (fora de trabalho) e a organizao do processo produtivo,
assimcomo
a
tecnologia
incorporada
a
este,
obedecer
aos
seus
interesses
de
apropriaodoexcedenteproduzido.EstaseraTecnologiaConvencional.
Para abordar a questo que nos interessa mais de perto, relacionada spossveis alternativas tecnol