Renato Gheno dos Santos - UFSM

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ESTRUTURAS CURSO DE ENGENHARIA CIVIL Renato Gheno dos Santos PROPOSTA DE IMPLEMENTAÇÃO DO FLUXO BIM EM UM PROCESSO DE DETALHAMENTO DE PAREDES DE CONCRETO Santa Maria, RS 2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

CENTRO DE TECNOLOGIA

DEPARTAMENTO DE ESTRUTURAS

CURSO DE ENGENHARIA CIVIL

Renato Gheno dos Santos

PROPOSTA DE IMPLEMENTAÇÃO DO FLUXO BIM EM UM PROCESSO DE

DETALHAMENTO DE PAREDES DE CONCRETO

Santa Maria, RS

2018

Renato Gheno dos Santos

PROPOSTA DE IMPLEMENTAÇÃO DO FLUXO BIM EM UM PROCESSO

DE DETALHAMENTO DE PAREDES DE CONCRETO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Engenharia Civil da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, RS), como requisito parcial para obtenção do título de Engenheiro Civil.

Orientador: Prof. Dr. Almir Barros da Silva Santos

Santa Maria, RS

2018

Renato Gheno dos Santos

PROPOSTA DE IMPLEMENTAÇÃO DO FLUXO BIM EM UM PROCESSO

DE DETALHAMENTO DE PAREDES DE CONCRETO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Engenharia Civil da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, RS), como requisito parcial para obtenção do título de Engenheiro Civil.

Aprovado em 06 de julho de 2018:

__________________________________

Almir Barros da Silva Santos, Dr. (UFSM)

(Presidente/Orientador)

__________________________________

André Lubeck, Dr. (UFSM)

__________________________________

Gihad Mohamad, Dr. (UFSM)

Santa Maria, RS

2018

AGRADECIMENTOS

Poder chegar nesse marco da vida com a sensação de que está no caminho certo e com

orgulho da história que deixou para trás, certamente só foi possível graças ao apoio de muita

gente. Gostaria de agradecer cada pessoa que teve seu papel na minha trajetória e deixar um

agradecimento especial para:

- à minha família, que me apoiou nessa jornada desde o dia em que escolhi cursar engenharia

civil, destoando das carreiras dos familiares;

- à minha namorada, Luise Kipper, por estar do meu lado por todos os altos e baixos da vida

acadêmica, compartilhando amor e experiências ao longo de todos esses anos;

- ao Ammar Tomaleh e Bruno Saffi, dois dos meus maiores amigos da faculdade, que me

inspiraram a querer sempre mais e buscar o melhor de mim;

- a todos da i9 Liga de Empreendedorismo, que sempre acreditaram na mesma missão e

trabalharam duro para transformar a UFSM e Santa Maria numa cidade cada vez mais

empreendedora;

- ao pessoal da BIM Experts, Artur Feitosa, Guilherme Lobo e Mariana Macedo, por me

fazerem pensar fora da caixa e inovar na minha área de atuação;

- a RKS Engenharia de Estruturas, por ter me dado uma enorme oportunidade de

aprendizagem e confiar no meu trabalho para o futuro;

-ao professor Almir, por nunca medir esforços ao compartilhar seu conhecimento e sempre se

preocupar com o aprendizado de seus alunos;

- a todos os professores do curso de Engenharia Civil da Universidade Federal de Santa

Maria, pelo papel fundamental no futuro de tantos alunos e do país como um todo;

- e Verlei Oliveira, por ter me guiado no início do curso e ter sido uma inspiração da família

dentro do curso.

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“No mundo dos negócios, as mudanças ocorrem cada vez mais rápido. Para caminhar para

trás, basta ficar parado”

- Carlos Hilsdorf

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RESUMO

PROPOSTA DE IMPLEMENTAÇÃO DO FLUXO BIM EM UM PROCESSO DE DETALHAMENTO DE PAREDES DE CONCRETO

AUTOR: RENATO GHENO DOS SANTOS

ORIENTADOR: PROF. DR. ALMIR BARROS DA SILVA SANTOS

A falta de produtividade e qualidade nos projetos de engenharia pode ser, por vezes, resultado de erro humano em retrabalhos ou tarefas manuais repetitivas. Além disso, as vistas geradas em um projeto feito pelo método tradicional (CAD) são totalmente independentes uma das outras, o que pode fazer com que haja uma má interpretação por parte de projetistas ou trabalhadores que executam o empreendimento, e sem parametrizações, o que reduz a relação do tempo trabalhado versus resultado entregue. O presente trabalho propõe a aplicação de um novo fluxo, baseado na metodologia do Building Information Modeling (BIM), para o detalhamento de paredes de concreto. O principal objetivo foi aumentar a produtividade e a qualidade dos projetos através da automação e parametrização das etapas de detalhamento, especificamente utilizando a ferramenta da Autodesk, o Revit, para modelagem, e o software Cutlogic 2D. Foi feita uma análise no fluxo usado pela RKS Engenharia de Estruturas, ao qual foi adaptado para a metodologia BIM focando nos objetivos e necessidades específicas da empresa. Com o novo fluxo foi feito o projeto piloto, etapa na qual foram encontradas algumas barreiras na adoção, como nas representações gráficas e adequações aos padrões da empresa. Com a implementação desse novo processo foi atingida a redução de 27% no prazo de entrega do projeto, foi eliminado o retrabalho de renumeração das telas na ocorrência de erros, redução do tempo na colocação e quantificação das telas e uma redução de 5 horas para 4 minutos na otimização dos recortes de tela soldada, aumentando o aproveitamento de 88% para 96%. Concluiu-se que a adoção da metodologia realmente traz benefícios de grande magnitude para a empresa, se houver um planejamento e visão clara dos objetivos e obstáculos.

Palavras-chave: Modelagem da Informação da Construção, Paredes de Concreto, modelagem de estruturas.

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ABSTRACT

The lack of productivity and quality in engineering projects may be, sometimes, due to human error in repetitive rework or manual tasks. Besides that, the views generated in a project done in the traditional way (CAD) are totally independent from one another, which may cause a misunderstanding designers or on-site workforce, and has no parametrization, which decreases the ratio of time consumption versus delivered result. This study proposes the adoption of a new flow, based on the BIM methodology, for the detailing of concrete walls. The main objective was to increase the productivity and quality of project through the automation and parametrization of the detailing steps, specifically using Autodesk’s tool, Revit, for modeling, and the software Cutlogic 2D. An analysis was made in the flow used by RKS Engenharia de Estruturas, which suffered some adaptations to become a BIM process, focusing on the objectives and need of the company. With the new workflow, a pilot project was done, step in which few barriers were found, such as graphic representation and company standardization. With the new process, a 27% reduction of the deadline of the project was reached, along with the rework of re-enumerating the structural fabric, the reduction from 5 hours to 4 minutes of optimization of them and increasing the yield from 88% to 96%. The conclusion was that adopting the methodology really brings benefits of great magnitude to the company, if it has a good planning and a clear vision of the objectives and obstacles.

Key words: Building Information Modeling, Concrete walls, structural modeling.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Ciclo BIM – O BIM está presente em todas as etapas .......................................... 17

Figura 2 - Esforço vs Custo nas metodologias tradicional e BIM .......................................... 20

Figura 3 - Benefícios do BIM em cada etapa do projeto/ ...................................................... 23

Figura 4 - Teses, dissertações e artigos sobre a temática BIM - média de trabalhos publicados.

............................................................................................................................................ 29

Figura 5 - BIM BR Roadmap ............................................................................................... 30

Figura 6 - Mapa do processo de desenho de parede de concreto ........................................... 32

Figura 7 - Fluxo de projeto de edifício em paredes de concreto ............................................ 34

Figura 8 - Selos de prancha com erros oriundos de detalhamento ......................................... 35

Figura 9 – Novo fluxo para detalhamento de paredes de concreto ........................................ 37

Figura 10 - Modelo arquitetônico no Revit ........................................................................... 39

Figura 11 - Modelo da escada do pavimento tipo ................................................................. 40

Figura 12 - Modelo completo do pavimento tipo .................................................................. 41

Figura 13 - Modelo completo da platibanda ......................................................................... 41

Figura 14 - Arquivo hospedeiro do modelo estrutural ........................................................... 42

Figura 15 - Exibição dos resultados dos recortes de tela pelo software Cutlogic2D .............. 43

Figura 16 - Armadura complementar gerada no Revit .......................................................... 45

Figura 17 - Armadura complementar gerada no ZWCad ...................................................... 45

Figura 187 - Detalhamento da platibanda feito no softwarea ZWCad ................................... 46

Figura 198 - Detalhamento da platibanda feito no software REVIT ...................................... 46

Figura 20 - Forma do pavimento térreo gerado pro software Revit ....................................... 47

Figura 21 - Cortes do pavimento térreo gerados pelo Revit .................................................. 48

Figura 22 - Elevações e detalhamentos gerados pelo Revit ................................................... 49

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Custos adicionais pela inadequada interoperabilidade na construção civil, 2002 (em

milhões) ............................................................................................................................... 21

Tabela 2 - Troca na demanda dos profissionais em um projeto usual .................................... 25

Tabela 3 - Usos do BIM nas empresas AEC norte americanas .............................................. 27

Tabela 4 - Metas e mensuráveis para o novo fluxo ............................................................... 36

Tabela 5 – Análise dos resultados do tempo gasto em cada etapa do detalhamento das paredes

de concreto .......................................................................................................................... 50

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SUMÁRIO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA ...................................................................................................... 1

CENTRO DE TECNOLOGIA .................................................................................................................................. 1

DEPARTAMENTO DE ESTRUTURAS .................................................................................................................... 1

CURSO DE ENGENHARIA CIVIL .......................................................................................................................... 1

1. INTRODUÇÃO .............................................................................................................................................. 12

1.1 JUSTIFICATIVA ........................................................................................................................................... 12 1.2 OBJETIVOS ............................................................................................................................................... 13

1.2.1 Objetivo geral ............................................................................................................................... 13 1.2.2 Objetivos específicos ..................................................................................................................... 13

2. METODOLOGIA ........................................................................................................................................... 14

2.1 PESQUISA BIBLIOGRÁFICA ............................................................................................................................. 14 2.2 ESTUDO DE CASO ....................................................................................................................................... 14

3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ....................................................................................................................... 15

3.1 PAREDES DE CONCRETO ............................................................................................................................... 15 3.2 BIM: DEFINIÇÃO ....................................................................................................................................... 15 3.3 O MÉTODO TRADICIONAL ..................................................................................................................... 19 3.4 BENEFÍCIOS DO USO DO BIM ................................................................................................................ 21 3.5 DESAFIO NA ADOÇÃO DA METODOLOGIA .................................................................................................. 24 3.6 APLICAÇÕES DA MODELAGEM DA INFORMAÇÃO DA CONSTRUÇÃO ................................................................. 26

3.6.1 Projeto .......................................................................................................................................... 26 3.6.2 Construção .................................................................................................................................... 27 3.6.3 Operação e Manutenção............................................................................................................... 27 3.6.4 Os 25 Casos ................................................................................................................................... 27

3.7 BIM NO BRASIL................................................................................................................................. 28 3.8 O FUTURO DO MÉTODO ....................................................................................................................... 30

4. ESTUDO DE CASO ........................................................................................................................................ 32

4.1 OBJETIVOS ............................................................................................................................................... 32 4.2 FLUXO ATUAL DOS PROJETOS DE PAREDE DE CONCRETO........................................................................................ 33 4.3 NECESSIDADES DA EMPRESA ......................................................................................................................... 35 4.4 METAS E RECOMENDAÇÕES .......................................................................................................................... 35 4.5 FLUXO PROPOSTO PARA PROJETOS DE PAREDE DE CONCRETO ................................................................................. 36 4.6 EXECUÇÃO DO PROJETO PILOTO ..................................................................................................................... 38

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4.7 BARREIRAS NA ADOÇÃO ............................................................................................................................... 43

5. ANÁLISE DOS RESULTADOS ......................................................................................................................... 47

5.1 REDUÇÃO DO TEMPO DE MODELAGEM ............................................................................................................ 49 5.2 ELIMINAÇÃO DO RETRABALHO ....................................................................................................................... 51 5.3 REDUÇÃO DO TEMPO NA COLOCAÇÃO DAS TELAS E QUANTITATIVO .......................................................................... 51 5.4 RECORTES DE TELA AUTOMÁTICOS .................................................................................................................. 51

6. CONCLUSÕES .............................................................................................................................................. 52

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................................... 54

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1. INTRODUÇÃO

O fluxo tradicional de projetos na construção civil é praticamente o mesmo desde a

entrada do CAD (desenho com auxílio de computadores, em tradução livre) no mercado. Ele

se baseia em uma linha de produção pouco flexível, que gera projetos independentes contendo

vistas independentes que, no entanto, devem representar uma mesma edificação. Dessa

premissa de independência e tratamento individual de pranchas, aparecem erros, retrabalhos e

uma demanda de tempo gasto muito alto, além de aumentar a margem de erro caso haja

alguma má interpretação espacial.

Um problema frequentemente encontrado na elaboração dos projetos é o enorme

retrabalho derivado da metodologia atual, que usa vistas independentes, linhas e polígonos

para representação ao invés de objetos paramétricos que representam o empreendimento real.

Por outro lado, “as soluções BIM trabalham como gestores de bancos de dados, de forma que

qualquer alteração ou revisão realizada em qualquer parte de um modelo será

automaticamente considerada em todas as demais formas de visualização da correspondente

massa de dados e informações, sejam tabelas, relatórios ou desenhos (documentos), gerados a

partir do modelo (e em inexorável consequência do modelo)” (CATELANI, 2016, p. 29).

Uma mudança com o projeto num estado avançado de desenvolvimento gera uma série de

revisões e mudanças desnecessárias quando existe um modelo parametrizado, como o usado

num fluxo BIM.

Além disso, a geração de cada vista demanda trabalho braçal do desenhista, o que

pode gerar erros devido a uma eventual má interpretação da edificação e seus elementos e

demanda uma enorme quantidade de tempo para serem realizadas e detalhadas. Um modelo

tridimensional gerado em um software BIM gera vistas automaticamente, uma vez que o

protótipo da edificação é um elemento só e as vistas podem ser realmente consideradas como

visualizações de diferentes ângulos.

1.1 Justificativa

A Modelagem da Informação da Construção, ou Building Information Modeling

(BIM), que é uma realidade em muitos países desenvolvidos pelo mundo, tem em sua

principal diferença o modelo integrado, tanto relativo a vistas quanto a diferentes disciplinas,

o que agiliza, e muitas vezes automatiza, muitas etapas do projeto, deixando o trabalho

manual para a máquina e dando a oportunidade do engenheiro fazer o seu papel: engenhar.

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A adoção eficaz e planejada dessa metodologia faz com que se tenham projetos mais

ágeis, com menos revisões e com uma maior fidelidade e possibilidade de detalhamento do

que o fluxo convencional.

Grandes empresas do ramo da construção civil demonstram cada vez mais interesse na

Modelagem da Informação da Construção, e estão começando a exigir de seus contratados

(escritórios de arquitetura, engenharia de estruturas e projetos complementares) o uso do fluxo

BIM nos seus projetos. Por isso, de acordo com Leusin de Amorin (2015), é crescente o

número de equipes que estão se capacitando e implementando a metodologia nos seus

processos e escritório como um todo. O presente trabalho propõe então uma implementação

em um dos processos de um escritório em Florianópolis, que já tem projetos BIM a serem

realizados, e assim prepará-los para essa iminente mudança.

1.2 Objetivos

1.2.1 Objetivo geral

O seguinte trabalho tem como objetivo geral elaborar um plano de implementação

BIM para um escritório localizado em Florianópolis, Santa Catarina, visando reduzir gastos

na fase de projeto e de execução da edificação em paredes de concreto, além de aumentar a

qualidade do projeto em termos de fidelidade e detalhamento.

1.2.2 Objetivos específicos

Ø Otimizar a modelagem e reduzir o tempo para gerar as formas e as elevações do

projeto estrutural em edificações de paredes de concreto.

Ø Elaborar uma rotina em BIM para a geração e otimização automática dos recortes nas

telas soldadas.

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2. METODOLOGIA

2.1 Pesquisa bibliográfica

Serão pesquisados e comparados métodos para implementação BIM em escritórios,

planejamento do Plano de Execução BIM (BEP, na sigla em inglês) e execução do projeto

piloto. Além disso, serão estudados os benefícios do uso do fluxo BIM em projetos

estruturais, sobretudo em projetos com alto índice de repetição e cunho social (Minha Casa

Minha Vida - MCMV).

2.2 Estudo de caso

Durante o período do trabalho, será feito um estudo do atual fluxo de projeto de

paredes de concreto de um escritório em Florianópolis e realizado um plano de execução BIM

para esse processo em específico. Serão avaliados o tempo de execução do projeto, o que

implica nos honorários dos engenheiros e preço do projeto, e qualidade das pranchas, que

implica na redução de sobras e conflitos na obra.

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3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.1 Paredes de concreto

As paredes de concreto que são objeto deste estudo são as utilizadas em projetos de

edificações de cunho social (MCMV) e os requisitos e procedimentos usados nesse método

construtivo estão dispostos na norma técnica da Associação Brasileira de Normas Técnicas

16055. A definição da parede a qual a norma se aplica, segundo a ABNT (2012, p. 1), é:

[...] paredes submetidas à carga axial, com ou sem flexão, concretadas com todos os

elementos que farão parte da construção final, tais como detalhes de fachada (frisos,

rebaixos), armaduras distribuídas e localizadas, instalações (elétricas e hidráulicas),

quando embutidas, e considera as lajes incorporadas ao sistema por solidarização

com as paredes, tornando o sistema monolítico (funcionamento de placa e

membrana).

[...]

Para efeito deste Norma, considera-se edifício simplificado o edifício de paredes de

concreto de até cinco pavimentos, e que atende às seguintes condições:

Lajes de vão livre máximo de 4 metros e sobrecarga de 300 kgf/m². Não são

admitidas lajes pré-moldadas.

Piso a piso máximo da construção de 3 metros;

Dimensões em plante de no mínimo 8 metros.

3.2 BIM: Definição

O BIM não é tido como uma tecnologia nova. Ele está presente na indústria há

bastante tempo, sobretudo nos setores que possuem alto grau de repetição nos seus projetos e

tem mais recursos para despender mais energia e dinheiro, fazendo protótipos e um maior

número de projetos, de acordo com Catelani (2016). A metodologia da Modelagem da

Informação da construção é a representação das propriedades físicas e funcionais da

edificação, ou seja, um protótipo com o qual podemos prever o real comportamento da

construção e seus elementos, como interferências e vida útil de aparelhos, além de

disponibilizar ferramentas que lidam com o modelo de tal maneira, como se fossem o objeto

real, nos trazendo possibilidades de automação e agilidade na etapa de documentação.

O BIM é definido por Eastman et al. (2011, p. 16, tradução nossa) como uma

“tecnologia de modelagem e um conjunto associado de processos para produzir, comunicar e

analisar modelos de construção.” E segundo a National Building Information Modeling

Standards (2015), o BIM pode ser definido também como:

16

Uma representação digital das características físicas e funcionais de uma instalação.

Um modelo BIM é um recurso para o compartilhamento de informações sobre uma

instalação ou edificação, constituindo uma base de informações organizada e

confiável que pode suportar tomada de decisão durante o seu ciclo de vida; definido

como o período desde as fases mais iniciais de sua concepção até a sua demolição.

Uma das premissas básicas do BIM é a colaboração entre os diferentes agentes

envolvidos nas diferentes fases do ciclo de vida de uma instalação ou edificação,

para inserir, extrair, atualizar ou modificar informações de um modelo BIM para

auxiliar e refletir os papéis de cada um destes agentes envolvidos.

Adotar a metodologia pode trazer benefícios para toda a cadeia envolvida no projeto.

Esses vão desde um estudo de viabilidade econômica, antes mesmo de termos uma arquitetura

projetada, até um acompanhamento da operação e gerenciamento dos sistemas elétrico,

hidráulico e de ar-condicionado, por exemplo. Eastman et al. (2011) citam diversos desses

benefícios e os separa por classe beneficiada. Segundo os autores, pode-se listar os benefícios

trazidos aos proprietários da edificação, como estudo de viabilidade econômica, estudo de

diferentes layouts e orientações, estudos de sustentabilidade e desempenho energético; aos

projetistas, como uma visualização mais ágil e acurada da edificação como um todo,

correções automáticas de todas as vistas devido a parametrização do modelo e geração de

vistas 2D consistentes durante qualquer etapa do projeto, além de alto nível de colaboração e

automação de quantitativos; aos construtores e fornecedores, como a utilização do próprio

modelo para fabricação de peças sob demanda e de acordo com o cronograma do projeto –

propiciando a adoção da construção enxuta, descoberta de erros e interferências antes da

construção física; e aos técnicos e gerentes na pós construção, como acompanhamento da vida

útil da estrutura e de seus equipamentos e sensores, além da geração de uma lista de compra

dos equipamentos que foram planejados para serem usados no edifício real. A Figura 1 traz

todo o ciclo BIM e as fases do projeto que podem ser beneficiadas com a adoção da

metodologia.

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Figura 1 - Ciclo BIM – O BIM está presente em todas as etapas

Fonte: GM Arquitetura (2018)

Apesar da série de benefícios que a adoção do BIM traz para o fluxo de trabalho de

projetos, há alguns desafios que devem ser superados durante esse processo, e podem se

apresentar em maior ou menor intensidade dependendo da cultura e condições do escritório.

Além de uma grande necessidade de sincronia, computadores potentes e questões

legais delicadas, segundo Eastman et al. (2011), um dos principais problemas é a transição do

2D/3D para o BIM. Os autores afirmam que são necessárias mudanças em todos os aspectos

das empresas, e não somente “não fazer as mesmas coisas de uma maneira diferente”

(Eastman et al, 2011, p. 27). Segundo os autores, os principais aspectos dessa mudança são: i)

a necessidade de ter um gerente de alto escalão responsável pelo processo, ii) começar com

planejamento para a implementação e aplicação do mesmo em projetos piloto, iii) estender o

conhecimento aos próximos projetos de maneira gradual, e iv) periodicamente revisar e

buscar ao máximo o total proveito da metodologia.

A adoção do BIM em nível mundial vem crescendo cada vez mais rápido. Nos Estados

Unidos por exemplo, segundo Catelani (2016), a adoção do BIM foi a saída adotada por

diversas empresas afetadas pela crise imobiliária de 2008, que aproveitaram o período de

escassez para investir em inovação e conseguiram, através da melhoria de seus processos,

seguir atuando no setor com eficiência e qualidade.

Há também outros casos, onde a participação do governo teve um papel fundamental.

O mesmo autor cita que como uma política estratégica nacional, países como o Reino Unido,

18

Cingapura e Chile adotaram uma iniciativa “onde todas as obras financiadas com dinheiro

público precisam ser desenvolvidas com o uso da plataforma BIM.” CATELANI (2016, p.

41).

Como no Brasil o BIM é ainda uma metodologia incipiente, o principal benefício

ainda se mostra na questão de imagem de mercado, se tornando um diferencial nas

negociações, transparecendo ainda um ar inovador e de liderança por parte da empresa. Além

disso, Catelani (2016) cita órgãos públicos e bancos como os principais fomentadores da

implementação BIM, como Banco do Brasil e o Departamento Nacional de Infraestrutura de

Transporte (DNIT), seguidos por grandes empresas, como Odebrecht e Sinco.

De acordo com CATELANI (2016, p. 24), junto com a onda de adoção BIM, há quem

tente se aproveitar com iniciativas oportunistas, o chamado BIM Wash, que maquia soluções

para que se pareça com a metodologia da Modelagem da Informação da Construção. Outros

autores também expressam a importância de definir o que não é o BIM para evitar confusões,

como EASTMAN (2016) e LEICHT e MESSNER (2013).

Os 3 principais tópicos que descrevem o que é de fato BIM ou não são:

Ø Nem tudo que é 3D é BIM. Um modelo 3D que não é considerado BIM, é um

modelo que pode ser muito útil em situações nas quais é necessária a visualização em

três dimensões, seja para representação gráfica (render), ou para estudos e situação

espacial. Tais modelos podem ser compostos por sólidos e texturas, ou ainda por

desenhos 2D referenciados que se combinam para formar a edificação. Em ambos os

casos não há possibilidade de extração de quantidades ou análises, por exemplo. Por

outro lado, todos os fluxos BIM contarão com um modelo 3D, pois são sim capazes de

gerar essas informações e outras tantas.

Ø Soluções 3D que não são baseados em objetos paramétricas e inteligentes. Há

também soluções que utilizam de modelos 3D formados por elementos (por exemplo,

esquadrias, elementos estruturais ou tubulação) que não são paramétricos, ou seja, que

não possuem características que possam variar mudando apenas a(s) instância(s) mas

ainda assim tendo relação com outros elementos da mesma família.

Ø Modelos que não atualizam todas as vistas automaticamente. Softwares BIM

trabalham com um modelo integrado, ou seja, alterações feitas nos elementos são

refletidas em todas as vistas, que nesse caso representam realmente apenas “vistas” de

uma mesma edificação. Já as outras ferramentas de modelagem, que não são BIM,

19

exigem do projetista um enorme retrabalho com revisão e adaptação, além de abrir

margem para erros.

3.3 O método tradicional

“No uso pré-BIM (CAD) de ferramentas digitais, o foco era em tarefas separadas e

deslocadas (como geração de desenhos, estimativa de gastos, etc.) e dependia-se de operações

em papel”, Amorim (p. 93, 2015). Essa fragmentação das etapas, somada ao fato da

dependência do papel, acabava trazendo projetos muitas vezes desatualizados, com versões

distintas em diferentes prestadores e/ou contratantes, além de gerar uma demora excessiva na

atualização destas pranchas.

A solução parcial foi dar um passo além com a tecnologia e implementar os modelos

tridimensionais e as intranets. A mudança foi positiva, mas “pouco ajudou na severidade e

frequência dos conflitos causados por documentos em papel e seus equivalentes eletrônicos”

Eastman et al. (2016, p. 2). A necessidade de gerar pranchas em papel ainda era um

empecilho que não dava a flexibilidade e agilidade necessárias para um fluxo de projeto

eficiente e de qualidade.

Ainda segundo Eastman et al. (2016), além dessas barreiras, uma etapa onerosa no

fluxo tradicional devido ao tempo e energia gastos (como mostra a Figura 2) é a geração da

documentação executiva, com vistas, cortes, pranchas, orçamentação e quantitativos. O BIM

traz agilidade com a automação de certas etapas, além de trabalhar com objetos inteligentes e

com “informação embutida” (como o custo, por exemplo), isso faz com que essa fase seja

muito mais rápida, além de agilizar processos como análise energética, de sustentabilidade e

detalhamento de estruturas complexas.

O aumento da velocidade nas etapas de documentação faz com que a parte do

planejamento, projeto e detalhamento sejam feitas mais minuciosamente, demandando mais

tempo e energia, porém fazendo com que as decisões, adaptações e mudanças sejam feitas em

etapas de prototipagem em vez de execução, como explicado pelo autor. Dando a

possibilidade de levar à obra um projeto mais rico em detalhes e de mais fácil visualização,

evitando problemas de execução e, por fim, trazendo ainda mais economia para o

empreendimento.

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Figura 2 - Esforço vs Custo nas metodologias tradicional e BIM

Fonte: DOX Plan (2018)

Como apresentado por Hendrickson (2015), as estatísticas do uso do método

tradicional em projetos de grande porte, com orçamentos que passam dos 10 milhões de

dólares, mostram o impacto do uso de mídia física e dão um senso do nível de gestão

necessário para o devido correr da obra.

Ø Número de empresas envolvidas: 420

Ø Número de pessoas envolvidas: 850

Ø Tipos de documentos gerados: 50

Ø Páginas de documentos gerados: 5000

Ø Número de árvores de 50 cm de diâmetro, 15 metros de altura e 20 anos de idade

necessários para gerar esse volume de papel: 6

Ø Espaço ocupado pelos documentos digitalizados: 3GB

Em um estudo feito pelo Instituto Nacional de Normas e Tecnologia dos Estados

Unidos (NIST) foi analisado a troca e gerenciamento de informação usado em métodos

tradicionais na construção civil em 2002. Segundo Gallaher et al. (2004), percebeu-se que um

dos principais fatores é a incompatibilidade entre as plataformas utilizadas por diferentes

partes do projeto, pois inibe a troca rápida e acurada entre os membros da equipe.

21

Os resultados mostraram que, em reformas e manutenções, a cada metro quadrado

havia um aumento de quase US$ 2,50, e em novas construções esse valor chegava a um custo

adicional de mais de 65 dólares, tudo isso devido à falta de interoperabilidade entre as

plataformas utilizadas pelas equipes. O NIST elencou 3 como os principais fatores desse custo

sendo, i) redundância por falta de conhecimento, como servidores duplicados e gestão de

projetos ineficientes, ii) trabalho manual, com entrada manual de informações e permissões de

acesso, e iii) ócio de empregados e outros recursos por atrasos. A Tabela 1 mostra esses

custos adicionais causados pela incompatibilidade entre informações enviadas entre os grupos

envolvidos em diversas fases do projeto.

Tabela 1 - Custos adicionais pela inadequada interoperabilidade na construção civil, 2002 (em milhões)

Grupo

envolvido

Planejamento e

Engenharia

Execução Operação e

Manutenção

Total Adicional

Arquitetos e

Engenheiros

US$ 1007,2 US$ 147,0 US$ 15,7 US$ 1169,8

Empreiteiros

gerais

US$ 485,8 US$ 1265,3 US$ 50,4 US$ 1801,6

Subempreiteiros

e fornecedores

US$ 442,4 US$ 1762,2 - US$ 2204,6

Acionistas e

Operadores

US$ 722,8 US$ 898,0 US$ 9027,2 US$ 10648,0

Total US$ 2658,3 US$ 4072,4 US$ 9093,3 US$ 15824,0

Área construída

em 2002, em

metros

quadrados

100 mi 100 mi 3,6 bi -

Total

adicionado por

metro

quadrado

US$ 26,6 US$ 40,7 US$ 2,5 -

Fonte: Tabela 6.1 – Estudo do NIST (Gallaher et al. 2004)

3.4 Benefícios do uso do BIM

Embora a adoção esteja em sua fase mais inicial, sobretudo no Brasil, o BIM já traz

resultados mensuráveis para todas as partes da cadeia da construção civil. Vários autores

elencam os principais benefícios, apesar de nem todos serem atualmente aplicados,

22

comparados à metodologia tradicional em CAD. Os benefícios vão desde a possibilidade de

testar diferentes layouts pelo arquiteto, até a visualização em realidade virtual, aumentada ou

ainda ao gerenciamento de ar condicionados centrais durante a vida útil do empreendimento.

Leicht e Messner (2007) citam, por exemplo, a possibilidade de incluir informações

próprias dos objetos e suas texturas e acabamentos, além da geração de detalhes e

quantitativos automaticamente. Os autores também destacam a vantagem de uma detecção de

conflitos e compatibilização de projetos de diferentes disciplinas com uma alta agilidade e

confiabilidade, por causa da automação do processo e da fidelidade do modelo.

Já Catelani (2016) dá bastante ênfase na visualização em três dimensões, o que traz

“uma perfeita compreensão do que estava sendo projetado” (CATELANI, 2016 p. 28) e

facilita a detecção de interferências.

Outro ponto que o autor julga de suma importância é o ensaio da obra feita no

computador. Ele coloca que “costuma-se dizer que a construção civil é uma indústria de

protótipos. Quando finalmente sabe-se tudo sobre uma determinada obra, ela acaba.”

(CATELANI, 2016 p. 30). O que ele quer dizer com isso é que, por mais parecidos que dois

projetos possam ser, eles sempre terão suas peculiaridades, nem que seja a topografia ou até o

acesso a obra. Essa imprevisibilidade somada a falta de planejamento provoca muitas

mudanças em relação ao projeto original, o que pode acarretar em custos adicionais, atrasos e

perda de qualidade.

Eastman et al. (2011) relataram que uma das ferramentas presentes no leque de

possibilidades do BIM é o planejamento 4D, que consiste em um estudo de todas as etapas de

um projeto com detalhes e com tempo definido, como por exemplo, em qual dia serão

dispostas as bandejas de proteção na fachada do prédio em construção. Dependendo do porte

e da necessidade da obra, pode ser feito um estudo do layout do canteiro, disposição de gruas,

horários e sequência dos caminhões de concreto. Com esses estudos é possível identificar

interferências entre maquinário, aumentar a segurança dos trabalhadores e prever ordens de

compra com antecedência. Outros estudos também ocorrem na fase de protótipo virtual, como

simulações de consumo de energia, níveis de emissão de CO2, ventilação natural e

luminotécnico.

Catelani (2016) também destaca que os projetos estão ficando cada vez mais

complexos, com formas mais orgânicas ou até móveis, e isso aumenta ainda mais o desafio de

coordenar, compatibilizar e executar o projeto. A utilização de Modelagem da Informação da

23

Construção torna esse tipo de projeto viável, sobretudo quando a complexidade ultrapassa o

projeto em si e ocorre nos planejamentos de logística, prazos e fabricação, trazendo a

possibilidade de um maior uso da industrialização no empreendimento.

A Figura 3 apresenta um resumo dos benefícios trazidos pelo BIM a cada etapa da

vida útil de um empreendimento.

Figura 3 - Benefícios do BIM em cada etapa do projeto/

Fonte: Coletânea Implementação do BIM para Construtoras e Incorporadoras. Catelani (2016)

Eastman (2011) discorre bastante sobre o que o BIM representa para cada setor e etapa

em todo o fluxo do projeto. A abordagem é feita desde o investidor ao administrador do

empreendimento.

Para os benefícios trazidos pré-construção para os investidores, o autor cita que é

importante o estudo de viabilidade através de um “macro-modelo”, o qual dá noção do

orçamento por estar vinculado a uma base de custos. Essa análise mostra as condições de

prazo e custo para uma obra de certo tamanho, uso, padrão e prazos esperados, e pode

antecipar a inviabilidade de um dado empreendimento antes de ser despendido muito tempo e

24

dinheiro. Tais resultados ainda podem ser comparados com requisitos ambientais e

energéticos estipulados tanto pelo investidor quanto pela legislação.

Os benefícios para os projetistas partem de uma visualização fiel do que realmente é a

edificação, e essa já é gerada nos primeiros momentos do modelo devido à sua

parametrização. Outra vantagem relacionada à visualização é a ausência do erro humano na

hora de gerar diferentes vistas, seja um desalinhamento de elementos ou até a falta de tais

elementos.

A compatibilização pode ocorrer a qualquer momento do projeto, ou seja, problemas e

soluções são encontrados com uma maior antecedência, economizando tempo e possíveis

soluções não tão eficientes. Essa possibilidade de interação entre disciplinas em estágios

inicias do projeto também faz com que seja possível analisar e otimizar o orçamento, a

eficiência energética e nível de sustentabilidade.

O alto nível de detalhe em um modelo BIM dá às construtoras e aos fornecedores a

possibilidade de fabricar peças fora do canteiro com mais precisão e assertividade de prazos.

Os elementos do modelo podem possuir códigos próprios de fabricação, que em um estágio

ainda mais avançado de adoção BIM, podem ser lidos automaticamente pelas máquinas que

fabricam as peças. Estarem atrelados ao cronograma da obra faz com que as peças cheguem

nos dias corretos, evitando danos ao próprio pré-fabricado e liberando espaço nos depósitos.

Essa conexão entre o canteiro de obras, os fornecedores e as fábricas abre espaço para

o uso da construção enxuta (lean construction), pois possibilita que o material necessário

estará disponível exatamente no dia em que o trabalho deve ser feito. Ou ainda, dispositivos

portáteis, como tablets e smartphones, podem auxiliar no monitoramento e rastreabilidade das

peças, e tudo isso faz com que energia, tempo e dinheiro não sejam desperdiçados.

A última categoria abordada pelo autor é o estágio de pós construção, o qual expõe

que as informações coletadas dos sistemas de ar-condicionado, por exemplo, podem ser

introduzidas no modelo e entregues à administradora do edifício para checagem, supervisão e

manutenção programada. Além disso, o BIM proporciona o ambiente ideal para que se

popularizem novas tecnologias, como monitoramento em tempo real do desempenho do

edifício e de seus componentes.

3.5 Desafio na adoção da metodologia

A quantidade de benefícios é muito grande, as melhorias são mensuráveis, a

metodologia é conhecida há bastante tempo, porém a vasta adoção do BIM começa a dar seus

25

primeiros passos apenas no ano de 2018 com o lançamento da Estratégia BIM BR, lançada

pelo governo brasileiro em maio do referido ano. A demora para esse novo método deslanchar

é causada, sobretudo, pelo fato de que “os contratos atuais são personalizados para a práticas

baseadas no projeto em papel” (EASTMAN, 2011, p. 26).

Catelani (2016) cita que aspectos intrínsecos do BIM são uma barreira na adoção

ampla. Os benefícios não são tão imediatos ou palpáveis se comparados ao investimento em

esforço, aprendizagem, dinheiro e, inicialmente, até produtividade. Os cálculos de retorno

sobre o investimento são complexos e assustam, sobretudo por ser difícil de mensurar

“acertos”, pois estes não chamam a atenção. Por outro lado, os erros são facilmente

percebidos no cronograma e no orçamento. Além disso, há uma troca de alocação do esforço

em comparação com o método tradicional (Pré-BIM), como mostra a Tabela 2, a qual tira o

trabalho pesado de funções mais “braçais” como desenhistas ou estagiários, e foca em funções

de planejamento, criatividade e engenharia, como arquitetos e engenheiros.

Tabela 2 - Troca na demanda dos profissionais em um projeto usual

Horas de projeto

Profissional Pré-BIM Pós-BIM Variação

Proprietário 32 32 0%

Gestor de projetos 128 192 33%

Arquiteto projetista 192 320 40%

Arquiteto/Desenhista 320 192 -67%

Arquiteto Estagiário 320 96 -233%

Total 992 832 -19% Fonte: BIM Handbook, Eastman et al (2011)

A resistência às mudanças, ou zona de conforto, é outra barreira apontada pelo autor.

Para ocorrer uma mudança verdadeira, são necessários cinco aspectos bem definidos. São

eles: visão, capacitação, incentivos, recursos e o desenvolvimento de um plano de ação. Caso

algum deles não esteja definido, o resultado será o contrário do esperado.

Um destes aspectos está diretamente ligado a outro empecilho marcante na adoção do

BIM, o real entendimento e percepção dos benefícios. Um dos falsos entendimentos é que o

BIM veio como um substituto do CAD, quando na realidade veio como substituto do fluxo de

trabalho e de projeto como um todo, e além de uma inovação tecnológica, é uma inovação de

processos e recursos humanos. Ou seja, não é uma simples mudança de software e hardware

com treinamentos, e demandará o entendimento dos membros de maior influência, os

26

proprietários e investidores, de que o principal beneficiado são eles. Por isso as mudanças

necessárias em praticamente todos os aspectos da empresa serão em prol de um objetivo

maior.

A sugestão de Eastman et al. (2011) é de que o BIM deve ser estudado, assim como

processos relacionados, antes de qualquer mobilização quanto à adoção da metodologia. Há

também a possibilidade da contratação de um BIM Manager, sendo também o ideal que seja

alocado um supervisor de alto escalão na empresa para que atue como responsável pela

implementação, que tenha conhecimento de todos os aspectos relacionados ao

desenvolvimento dos projetos e possa impactá-los.

Os projetos geralmente envolvem várias empresas e diferentes escritórios realizando

diferentes partes do projeto. O uso do BIM demanda um compartilhamento do modelo entre

essas partes para a realização de um projeto eficiente e coordenado, e essa demanda pode

gerar desconforto para empresários que veem seus projetos como não compartilháveis, muitas

vezes por haver informação proprietária ou que demandou muito trabalho e há um esforço

para não ser copiado. Além disso, segundo Eastman et al. (2011), há uma preocupação com

quem é o responsável por toda a estrutura por trás dos dados envolvendo os projetos de todas

as disciplinas e quem deve responder por sua acurácia.

3.6 Aplicações da Modelagem da Informação da Construção

Um dos principais passos na adoção do BIM é traçar quais os objetivos a serem

alcançados, como descreve o guia do Plano de Execução de Projetos em BIM (Computer

Integrated Construction Research Program, 2010). Esses objetivos devem levar em

consideração aspectos internos, como processos do escritório por exemplo, e aspectos

externos, como os serviços e produtos fornecidos ao cliente.

Só depois da definição dos objetivos é que se aborda a questão da tecnologia, onde

entram os investimentos em software e hardware, além de treinamentos, que vão depender da

etapa anterior. O guia BIM da Asbea (Addor et al., 2013) relaciona alguns dos “principais

usos da tecnologia BIM ao longo do ciclo de vida do empreendimento” Addor et al. (2013,

pg. 9) e divide por Projeto, Construção e Operação e Manutenção:

3.6.1 Projeto

• Concepção

• Documentação

• Visualização

27

• Compatibilização

• Revisão

• Análise de eficiência energética e de critérios de sustentabilidade

• Análises de engenharia

• Extração de quantitativos

3.6.2 Construção

• Coordenação 3D

• Planejamento e controle 4D

• Logística

• Prototipagem virtual

3.6.3 Operação e Manutenção

• Modelo consolidado final

• Manutenção preventiva

• Gerenciamento do edifício e de espaços

• Plano de evacuação

3.6.4 Os 25 Casos

Um trabalho publicado pela Pennsylvania State University (2010) elencou 25 usos

para o Building Information Modeling, relacionados na Tabela 3, e classificou a taxa de uso

pelas empresas norte americanas da área de Arquitetura, Engenharia e Construção (AEC) e

quanto elas atribuíam esse uso às melhoras nos resultados.

Tabela 3 - Usos do BIM nas empresas AEC norte americanas

Uso do BIM Taxa de uso (%) Benefícios (-2 a +2)

Coordenação espacial 3D 60 1,60

Revisão de projetos 54 1,37

Design autoral 42 1,03

Projeto de sistemas construtivos 37 1,09

Modelagem das condições existentes 35 1,16

Controle e planejamento 3D 34 1,10

Programação 31 0,97

Planejamento de fases 4D 30 1,15

Modelagem de registros 28 0,89

Planejamento de utilização 28 0,99

28

Análises locais 28 0,85

Análise estrutural 27 0,92

Análise energética 25 0,92

Estimativa de custos 25 0,92

Avaliação LEED sustentabilidade 23 0,93

Análise do sistema de construção 22 0,86

Gerenciamento de espaço/rastreamento 21 0,78

Análise mecânica 21 0,67

Validação de códigos 19 0,77

Análise luminotécnica 17 0,73

Análises de outras engenharias 15 0,59

Fabricação digital 14 0,89

Gerenciamento de ativos 10 0,47

Planejamento de manutenção 5 0,42

Planejamento contra desastres 4 0,26

Fonte: Catelani (2016)

3.7 BIM no Brasil

No âmbito legal, o setor como um todo carece de uma estrutura regulatória forte.

Segundo Kassem e De Amorim (p 22, 2015), “existem poucas normas e regulamentos de

produtos e serviços da construção, sendo alguns desses documentos ultrapassados.”.

A difusão por fontes brasileiras se dá principalmente a partir de quatro documentos.

Os autores citam o Guia ASBEA de boas práticas em BIM, que é de um nível introdutório e

contém instruções para escritórios de arquitetura implementarem a metodologia; o manual

CBIC, que conta com 5 volumes e temas bastante específicos, além de serem abordados com

profundidade, tratando de várias etapas do fluxo; a comissão especial de estudo voltada ao

BIM da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT, que elaborou duas normas, a

NBA 12006 – parte 2 e a NBR 15965, que têm como referência padrões estrangeiros; e o

livreto da Estratégia Nacional de Disseminação do BIM do Comitê Estratégico do BIM, que

traz com detalhes os planos do governo brasileiro na adoção e exigência da modelagem da

informação da construção.

Na academia, o BIM é difundido principalmente através da Rede BIM Brasil, um grupo de pesquisa que reúne universidades como UFRGS, USP, UNICAMP e UFPR. Além

29

disso, o edital da FINEP 7/2009 e 06/2010, do programa com o tema de Saneamento Ambiental e Habitação, citam o

desenvolvimento de soluções inovadoras em tecnologia da informação e

comunicação aplicadas à construção, visando à melhoria da qualidade e

produtividade do segmento da habitação de interesse social, com destaque para:

Building Information Modeling (BIM) e outras soluções para suporte ao processo de

gerenciamento de projetos; simulação de desempenho; e operação de edificações.

A Figura 4 mostra o impacto desses editais, que fomentaram a publicação de teses,

dissertações e artigos sobre a temática BIM a partir de 2008.

. Figura 4 - Teses, dissertações e artigos sobre a temática BIM - média de trabalhos publicados.

Fonte: BIM no Brasil e na UE (Kassem e De Amorim, 2015)

O serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) oferece cursos BIM desde

2014. Kassem e de Amorim (2015) afirmam que no ano de 2015 foram identificadas apenas

duas faculdades, localizadas em São Paulo, que ofereciam disciplinas BIM.

Além disso, há registros do uso do BIM em obras de engenharia do exército brasileiro

que datam do ano de 2006, com o “Sistema OPUS”. Já as ações lideradas por governos

estaduais, iniciaram-se só em 2010, com a Biblioteca BIM.

30

Por fim, criado em julho de 2016, o comitê estratégico BIM lançou em maio de 2018

um livreto que traça objetivos agressivos e de abrangência nacional para a difusão do BIM, e

estes objetivos afetam tanto instituições públicas quanto privadas. A Figura 5 apresenta o

cronograma projetado para a difusão de BIM no Brasil até o ano de 2028.

Figura 5 - BIM BR Roadmap

Fonte: Livreto Estratégia BIM (Comitê Estratégico BIM, 2018)

3.8 O futuro do método

Várias iniciativas, tanto privadas quanto públicas, estão surgindo para concretizar a

adoção do Building Information Modeling, e junto delas, segundo Eastman et al. (2011), há

uma cobrança cada vez maior com o nível de sustentabilidade dos empreendimentos. Ainda

como relatam os autores, nos Estados Unidos o gargalo da disseminação é a escassez de

pessoas qualificadas, o que tornam ainda mais relevantes as iniciativas nacionais como a Rede

BIM Brasil para uma adoção sólida e eficiente.

“O BIM está mudando a maneira com que os edifícios se parecem, a maneira da qual

funcionam, e as maneiras em que são construídos” Eastman et al. (p. 355, 2011, tradução

nossa). A mudança do CAD para o BIM não é uma transição tão natural quanto do papel para

31

o CAD, ela envolve uma mudança de paradigma, do “desenhar” para o “modelar”, uma

completa transformação no desenvolvimento do projeto. Algumas das tendências que

Eastman et al. (2011) preveem são as crescentes demandas de investidores sofisticados com

contratos voltados totalmente para o BIM. Essas demandas, e a metodologia como um todo,

trarão novas funções de gestão dos projetos e as implementações de sucesso abrirão os olhos

dos gestores para benefícios além do fluxo e do projeto.

Outra tendência destacada pelos autores é a popularização de projetos em 4D e

verificação automática de conformidade com as normas, além da entrada massiva da

tecnologia nos canteiros de obra. O papel das pranchas impressas nos dias de hoje será

ultrapassado pela tecnologia quando ela se tornar suficientemente barata, pois elas

representam convenções e elementos em duas dimensões, herdadas da época do papel

manteiga e caneta nanquim. Elas darão lugar a telas com novos padrões de vistas e

representações, além de poder contar com aspectos específicos para cada tipo de visualizador,

como ênfase na orçamentação para um investidor ou um percurso virtual para um cliente.

O BIM e a construção enxuta compartilham de vários aspectos, como redução de erros

e retrabalho através de um projeto colaborativo, ou minimização da produção de lixo, como o

papel das plotagens; e o BIM oferece todas essas possiblidades. Eastman et al. (2011) dizem

que o BIM tem o potencial de reduzir o tempo gasto na fase de execução, porém que a

redução da etapa de projeto traz um impacto ainda maior, o que faz do BIM uma ferramenta

indispensável para o setor de Arquitetura, Engenharia e Construção (AEC) no futuro breve.

32

4. ESTUDO DE CASO

4.1 Objetivos

Este estudo teve como objetivo avaliar um fluxo em específico praticado pela empresa

RKS Engenharia de Estruturas, avaliar os problemas no atual procedimento e necessidades

para então propor uma mudança no fluxo de trabalho, tirando vantagens do benefício do

Building Information Modeling (BIM).

Para a análise, foi usado um mapeamento de processos existente, que contempla as

ações que devem ser tomadas desde o recebimento da arquitetura até o envio dos arquivos

gerados em .dwg (extensão do software) e .pdf (extensão do software). Durante a análise, foi

percebido que a situação atual da empresa demandava apenas uma mudança na emissão da

documentação e na maneira a qual eram geradas as vistas. Para tanto, foi isolado o processo

específico de desenho de paredes de concreto (Figura 06). De acordo com os gestores da

RKS, o processo visto na Figura 06 é um dos processos que mais consomem tempo e geram

revisões dentro da empresa, chegando por vezes a 8 revisões em uma única folha.

Figura 6 - Mapa do processo de desenho de parede de concreto

Fonte: Mapeamento RKS Engenharia de Estruturas

Pelo fato da demanda do uso da metodologia pelos clientes do escritório em questão

estar nos estágios iniciais e com projetos pilotos, foi escolhido um nível brando de adoção,

com uma baixa interferência inicial, mas que já demonstrasse a dimensão dos benefícios e

pudesse ser escalada para outros processos da empresa. Havia uma exigência de um cliente da

33

entrega de arquivos em um formato específico (gerado pelo software da Autodesk, o Revit) de

um dos documentos, e esse foi o ponto de partida para a criação da proposta para o fluxo

completo.

4.2 Fluxo atual dos projetos de parede de concreto

A RKS Engenharia de Estruturas possui dois fluxos de projeto que dependem da altura

do edifício de paredes de concreto, porém são bastante similares e diferem em alguns detalhes

das verificações e dimensionamentos. É apresentado na Figura 7 o fluxo geral, que é comum

aos dois casos.

34

Figura 7 - Fluxo de projeto de edifício em paredes de concreto

Recebimento da

arquitetura

•O cliente envia os arquivos da arquitetura e implantação do empreendimento•Extensão do arquivo: dwg

Limpeza da arquitetura

•São removidas as camadas indesejadas do desenho, como mobiliários, eixos e cotas

•Extensão do arquivo: dwg (ZWCad)

Preparação para rotina de cálculo

•As paredes são nomeadas e cotadas. Há uma pré análise para determinar paredes que recebem muita carga e são curtas demais

•Extensão do arquivo: dwg (ZWCad)

Planilha de cálculo

•São listadas todas a paredes e extraídas as cargas gravimétricas•Extensão do arquivo: xls (Excel)

Análise estrutural

•Do software de cálculo estrutural são extraídas as reações das lajes das paredes•Extensão do arquivo: prj (Eberick)

Planilha de Cálculo

•São calculadas as cargas por metro das paredes e suas tensões•Extensão do arquivo: xls (Excel)

Verificação de norma

•São feitas três verificações estabelecidas em norma através de planilhas•Extensão do arquivo: xls (Excel)

Detalhamento

•É feito o detalhamento das paredes, lajes, geradas as formas•Extensão do arquivo: dwg (ZWCad)

Térreo

•As plantas de cargas são geradas, enviadas e depois ocorre o detalhamento do Térreo

•Extensão do arquivo: dwg (ZWCad)

35

4.3 Necessidades da empresa

Outra análise foi realizada com o intuito de elencar quais pontos poderiam ser

melhorados no fluxo do desenho das paredes de concreto. A conclusão foi de que a etapa que

mais consumia tempo e gerava erros era a colocação das telas de aço soldadas e a otimização

dos recortes que precisam ser feitos nas telas adquiridas no comércio, além disso, outra parte

que representava o gargalo do processo era o quantitativo das telas e das armaduras

complementares. A Figura 8 mostra exemplos de selos de pranchas que tiveram que ser

revisadas por erros exclusivamente de desenho, provavelmente oriundas de erro do

desenhista.

Figura 8 - Selos de prancha com erros oriundos de detalhamento

O software de modelagem já havia sido especificado, seria usado o Revit, da

Autodesk, porém a empresa não possuía uma estação de trabalho com especificação suficiente

para o trabalho. Então, já que havia a obrigatoriedade do uso, foi feita a compra de uma

máquina capaz de rodar os programas necessários.

Mais de 90% dos projetos recebidos pela empresa eram na extensão dwg (oriunda dos

programas CAD), por isso era necessário um fluxo que pudesse ser usado tanto com a

metodologia BIM, quanto com projetos em CAD. Neste caso, os projetistas que precisassem

dos arquivos e documentos não poderiam ser prejudicados.

4.4 Metas e recomendações

A partir do mapeamento do processo de desenhos de paredes de concreto e da relação

das necessidades da empresa, foi possível repensar qual a abordagem de cada etapa desse

processo, como ele mudaria para se adaptar a um fluxo BIM e quais os benefícios que essas

mudanças trariam. Na Tabela 4 encontram-se metas que deveriam ser atingidas com a adoção

desse novo fluxo.

36

Tabela 4 - Metas e mensuráveis para o novo fluxo

Meta Mensurável

Reduzir o tempo para a geração das formas,

elevações e cortes

Diminuição em 30% do tempo necessário

Reduzir o número de revisões por erros de

desenho

Não haver mais revisão por má interpretação

espacial

Aumentar a eficiência e confiabilidade na

colocação das telas soldadas

Processo automatizado de identificação e

quantificação das telas nos padrões RKS

Aumentar a eficiência no uso das telas

soldadas e reduzir o tempo gasto para gerar

os leiautes de recortes

Redução de 90% na geração dos leiautes e

semi-automação no detalhamento

Na Tabela 5 há o uso do BIM e o software recomendado

Tabela 5 - Uso do BIM e o software recomendado

Uso do BIM Software

Modelagem 3D Autodesk Revit

Geração de vistas Autodesk Revit

Quantificação dos elementos Autodesk Revit

Otimização do uso das telas soldadas Cutlogic 2D

4.5 Fluxo proposto para projetos de parede de concreto

Apesar do fluxo antigo para projetos em parede de concreto ser diferente para cada

tipo de edificação (alto ou baixo), o fluxo proposto contempla ambos os casos pelo fato de

fazer parte de uma etapa em comum de ambos os métodos: o detalhamento das paredes de

concreto.

Na Figura 9 encontra-se a proposta para o novo fluxo de forma geral, a qual foi aceita

pela empresa e colocada em prática em três projetos, tidos como pilotos.

37

Figura 9 – Novo fluxo para detalhamento de paredes de concreto

1. Limpar a arquitetura: A etapa é feita no ZWCad caso a arquitetura venha no formato DWG,

removendo eixos, mobília e demais elementos indesejados. Por outro lado, se vier no formato

RVT, é apenas feita a configuração da visibilidade dos gráficos para uma modelagem mais

fácil.

2. Configurar hospedeiro: O arquivo hospedeiro é o arquivo que irá conter os vínculos

(arquivos dos pavimentos e escadas) e organizá-los de forma a representar a edificação. Em

um caso usual, por exemplo, haverá um vínculo do térreo, três vínculos do tipo, um vínculo

da cobertura e um vínculo da platibanda.

3. Modelagem da escada: Nessa etapa são modeladas duas escadas, uma para o pavimento

tipo e uma para o térreo. Há uma diferença entre as duas escadas pois a altura entre pisos (pé

direito estrutural) não é o mesmo.

4. Modelagem do pavimento tipo: Essa modelagem é feita a partir de um modelo (arquivo pré

configurado com os padrões da RKS) que contem em subjacência o modelo arquitetônico.

Nessa etapa são modeladas as paredes, as aberturas e os pisos.

5. Detalhamento das paredes: Ainda no modelo do pavimento tipo, são detalhadas as

elevações, e nelas são distribuídas as telas de aço soldadas, além de adicionadas as armaduras

complementares (com seus respectivos detalhamentos).

Limpar arquitetura

Configurar hospedeiro

Modelagem da escada

Modelagem do pavimento tipo

Detalhamento das paredes

(elevações, telas e armaduras)

Modelagem do pavimento térreo

e cobertura

Adaptações do detalhamento das

paredesModelagem da

platibanda

Detalhamento da platibanda

Vinculação com o hospedeiro Formas e cortes Recortes de tela

38

6. Modelagem do térreo e da cobertura: Nessa etapa, é feita uma cópia do arquivo do

pavimento tipo e são adaptadas as aberturas, pisos e eventuais paredes que diferem dos

demais.

7. Adaptação do detalhamento das paredes: Junto com as adaptações do modelo (paredes,

aberturas e pisos), se fazem necessárias adaptações nas elevações (cotas), distribuição de telas

e armaduras complementares, as quais são feitas nessa etapa.

8. Modelagem da platibanda: As paredes da platibanda são totalmente diferentes dos outros

pavimentos, por isso é aconselhado começar do modelo novamente (como feito para o

pavimento tipo), importando o modelo da arquitetura novamente para modelar com a

subjacência.

9. Detalhamento da platibanda: Novamente é feito o detalhamento das paredes, com

elevações, distribuição de telas e armadura complementar.

10. Vinculação com o hospedeiro: O arquivo que foi configurado no começo do fluxo recebe

agora os vínculos modelados e detalhados nas etapas anteriores. O vínculo do tipo é inserido

quantas vezes forem necessárias (assim como quaisquer outros pavimentos que se repetem).

Nesse passo é feito o compartilhamento das coordenadas (para posterior compatibilização e

implantação).

11. Formas e cortes: A partir do modelo vinculado ao arquivo hospedeiro, é feito todo o

restante do detalhamento (identificações de pisos, patamares e aberturas) e cortes

esquemáticos.

12. Recortes de tela: A partir dos recortes de tela gerados nos pavimentos anteriores, uma

planilha é exportada dos arquivos em RVT e importadas para o CutLogic 2D. O software

otimiza os recortes das telas em uma tela soldada de 6 metros por 2,45 metros (comercial) e

exporta no formato DWG. A partir daí há uma adaptação dos arquivos exportados para o

padrão da RKS.

4.6 Execução do projeto piloto

O projeto piloto teve início com a exigência de um cliente sobre o uso da ferramenta

Revit (Autodesk) e o software ProjectWise (Bentley), pois eles os utilizariam para posterior

compatibilização, apresentação para seus clientes e extração de quantitativos e orçamento.

39

No próprio software da Bentley, que é um gestor de arquivos, foi liberado o projeto

arquitetônico para os projetistas estruturais modelarem as paredes de concreto. A Figura 10

representa o modelo recebido pela equipe.

Figura 10 - Modelo arquitetônico no Revit

Fonte: Autoria própria (2018)

Os engenheiros estruturais executaram a rotina de cálculo para o dimensionamento das

paredes estruturais utilizando a norma NBR 16055 (2012) e constaram que a espessura

necessária para as paredes estruturais era de 10 centímetros. Como armadura, foi utilizada a

tela soldada da Gerdau Q92, além de haver reforços para ligação de pavimentos consecutivos

e evitar fissuras nas aberturas.

Para o detalhamento, foi utilizado um arquivo modelo cedido pelo cliente, com

algumas configurações de visualização e representação pré-inseridas. Com o modelo

arquitetônico em subjacência, foram modeladas as escadas do pavimento tipo e do térreo.

40

Figura 11 - Modelo da escada do pavimento tipo

Fonte: Autoria própria (2018)

Após a conclusão da modelagem da escada, mostrada na Figura 11, de acordo com o

fluxo proposto, é desenvolvida a etapa de modelagem dos pavimentos. São inseridas todas as

paredes de acordo com o modelo arquitetônico, além das aberturas (portas e janelas) e pisos.

O pavimento tipo é modelado primeiro, pois geralmente é o que contem elementos menos

específicos. Após feito esse passo, mostrado na Figura 12, são modelados o pavimento térreo,

com suas peculiaridades (portas no hall, por exemplo), e o último pavimento, que não contém

a escada e contém uma mureta que serve de guarda corpo para a escada.

Nessa etapa é feito o detalhamento de cada pavimento modelado, com cotas externas,

cotas internas, identificadores de janela e portas, além da simbologia das elevações (paredes

estruturais), identificadas por PAR mais o número correspondente da parede. Os quantitativos

de paredes, telas de aço soldado e armaduras complementares são gerados automaticamente e

ficam disponíveis em tabelas dentro do software.

41

Figura 12 - Modelo completo do pavimento tipo

Fonte: Autoria própria (2018)

O último pavimento a ser modelado e detalhado é a platibanda, mostrada na Figura 13,

que também é feita a partir da subjacência do modelo arquitetônico. O projeto piloto consistiu

de 4 tipos de pavimentos diferentes, mas nessa etapa devem ser modelados todos os

pavimentos existentes no empreendimento.

Figura 13 - Modelo completo da platibanda

Fonte: Autoria própria (2018)

A etapa seguinte é a vinculação dos arquivos nos seus hospedeiros. A escada do térreo

é vinculada ao pavimento térreo, assim como a escada do pavimento tipo é vinculada ao

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arquivo do pavimento tipo, e, por fim, os arquivos dos pavimentos são vinculados ao arquivo

hospedeiro configurado no início do processo, mostrado na Figura 14.

Figura 14 - Arquivo hospedeiro do modelo estrutural

Fonte: Autoria própria (2018)

Nesse novo arquivo que contém todos os vínculos é feito o detalhamento final,

gerando formas e cortes. É gerada também uma tabela geral com todas as quantidades de tela

de aço soldada e vergalhões que é exportada com a extensão CSV (valores separados por

vírgula, na sigla em inglês) para ser utilizada na otimização dos recortes de tela.

43

Figura 15 - Exibição dos resultados dos recortes de tela pelo software Cutlogic2D

Fonte: Autoria Própria (2018)

A partir dos leiautes e arquivos gerados pelo software CutLogic 2D, mostrado na

Figura 15, são feitas adaptações no programa ZWCad para os padrões da RKS Engenharia de

Estruturas serem atendidos. A documentação oficial é entregue em RVT e PDF, os PDF são

gerados no próprio arquivo hospedeiro, com exceção dos recortes de tela, que são adaptados

em um programa CAD e são gerados a partir dele.

4.7 Barreiras na adoção

O primeiro empecilho apareceu logo nos primeiros testes. A máquina que continha os

softwares e ferramentas para o fluxo não tinha os requisitos mínimos para utilização. Foi

necessária a aquisição de uma estação de trabalho que pudesse ser utilizada para o estudo,

mas que também suportasse a carga de trabalho por, no mínimo, 3 anos sem precisar de

atualizações, rodando outros softwares de análise estrutural e dimensionamento. Além disso,

há duas licenças antes não possuídas pela empresa, que são a do Revit e a do CutLogic2D.

O processo de dimensionamento e detalhamento das paredes de concreto vem se

atualizando durante os anos dentro da empresa, porém sempre teve a mesma base de

softwares e fluxo de etapas. Uma mudança tão drástica quanto a transição CAD – BIM,

muitas vezes comparada com a transição Papel – CAD, como citado já neste trabalho, traz

uma necessidade de adequação bastante grande por parte dos envolvidos atualmente

(engenheiros e desenhistas), pois além de ter uma ferramenta nova, com novas

funcionalidades e conceitos, a ordem dos passos também não se manteve a mesma. Caso a

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proposta seja aceita, haverá uma série de treinamentos para cada pessoa envolvida no

processo e, após, um acompanhamento para verificar as conformidades.

Um dos maiores problemas encontrados no estudo foi a representação gráfica de

alguns elementos, ou até a modelagem destes. O foco muitas vezes estava em reproduzir o

que era feito em CAD, quando na verdade a abordagem que se deve ter é: qual a informação

que este detalhe está entregando e como eu posso entregá-la de outra maneira? Geralmente é

possível sim ter uma representação idêntica, porém pode se perder alguns fundamentos do uso

da metodologia BIM, como retrabalho por exemplo, por uma rejeição na hora de mudar os

padrões, ou seja, quando não se aceita que a mesma informação possa ser dada de outra

maneira.

Alguns exemplos que necessitaram de alteração nos padrões foram:

i) na planta de formas, as cotas externas e internas contêm altura e peitoril quando

referenciadas em aberturas, o que não foi possível reproduzir fielmente no Revit. A solução

foi criar um identificador específico para essa causa, com exatamente os mesmos dados da

cota tridimensional, porém mostrados de outra maneira;

ii) na paginação das paredes de concreto, há uma representação das armaduras

complementares (Mostrada nas Figuras 16 e 17). As armaduras são representadas duas vezes

na mesma vista, uma vez em seu local na parede, e outra deslocado acima da parede com mais

informações. Essa segunda representação não pode ser feita no Revit, pois o elemento seria

contabilizado duas vezes (ou levaria muito tempo para fazer uma representação idêntica). A

solução foi colocar as informações contidas no vergalhão deslocado, no próprio vergalhão da

parede. Apesar disso, por vezes a vista ficava com informações demais, e então era apenas

sinalizado o número correspondente ao vergalhão e o resto das informações foram listadas em

tabelas.

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Figura 16 - Armadura complementar gerada no Revit

Fonte: Autoria Própria (2018)

Figura 17 - Armadura complementar gerada no ZWCad

Fonte: Autoria própria (2018)

iii) o número de repetições de cada parede costumava ficar do lado da paginação da mesma,

porém foi feita uma adaptação para tabelas.

iv) as telas soldadas de aço da platibanda são dobradas e embutidas na laje de cobertura, pois

não pode haver ligação com as paredes inferiores (como mostrado na Figura 18). O Revit não

possui a funcionalidade de dobrar as telas, ou seja, foi necessário adicionar um detalhe com

uma seta indicando a dobra, como visto na Figura 19.

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Figura 18 - Detalhamento da platibanda feito no softwarea ZWCad

Fonte: Autoria própria (2018)

Figura 19 - Detalhamento da platibanda feito no software REVIT

Fonte: Autoria própria (2018)

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5. ANÁLISE DOS RESULTADOS

Os resultados do fluxo tradicional foram obtidos através de ferramentas que

monitoram as horas dos engenheiros e desenhistas dentro da empresa e foram considerados

três dos últimos projetos que possuíam condições similares de tipologia e método construtivo.

De maneira similar, os resultados do novo fluxo foram obtidos através da mesma ferramenta,

porém foram considerados três projetos para a fase de forma, cortes e elevações e apenas um

projeto (piloto) para a fase de detalhamento das armaduras.

Os resultados obtidos são apresentados a seguir. Primeiro, as pranchas geradas pelo

Revit, visto na Figura 20.

Figura 20 - Forma do pavimento térreo gerado pro software Revit

Fonte: Autoria própria (2018)

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É observado que as cotas tridimensionais estão ausentes (ver Figura 20), porém a

solução trazida, de adicionar identificadores separados, mostra a mesma informação de uma

maneira diferente, sem comprometer o entendimento do cliente.

Figura 21 - Cortes do pavimento térreo gerados pelo Revit

Fonte: Autoria própria (2018)

Os cortes são inseridos na mesma prancha que a forma, e também são gerados de

maneira automática, diminuindo o tempo de trabalho e aumentando a confiabilidade das

vistas, como pode ser visto na Figura 21.

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Figura 22 - Elevações e detalhamentos gerados pelo Revit

Fonte: Autoria própria (2018)

A representação das elevações (representadas na Figura 22) contém muitos detalhes

que remetem especificamente à RKS Engenharia de Estruturas, muitas das informações

passadas para o cliente estão em um padrão específico, como o caso do posicionamento das

armaduras complementares. Essa parte causa perda de produtividade no novo fluxo caso as

informações não possam ser passadas de maneira diferente e eficiente. As soluções adotadas

foram pré-aprovadas e serão testadas para real conclusão, porém o ideal é aproveitar o que a

metodologia BIM proporciona e, se preciso, mudar os padrões.

O comparativo direto entre as duas metodologias mostra a potencial economia e

eficiência que a utilização consciente do BIM pode trazer para os projetos. Os números

trazidos representam a utilização da metodologia CAD de uma desenhista experiente, que faz

uso de um fluxo consolidado há muito tempo dentro da empresa. Enquanto os números do

BIM foram obtidos a partir do segundo projeto feito na história da empresa nessa

metodologia, o que significa que há muita margem para otimização no fluxo, no uso e nos

arquivos modelos para otimizar e diminuir ainda mais o tempo gasto com o projeto.

5.1 Redução do tempo de modelagem

O primeiro aspecto comparado foi o tempo de horas gasto em cada etapa do projeto.

As etapas do detalhamento foram divididas em função da distribuição de arquivos usados em

ambos os fluxos de projeto. A Tabela 5 apresenta os resultados referentes ao tempo gasto em

cada etapa do novo processo, separados pelo fluxo atual (Pré-BIM) e o fluxo proposto (BIM).

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Tabela 6 – Análise dos resultados do tempo gasto em cada etapa do detalhamento das paredes de concreto

Etapa do

projeto

Pré-BIM

(horas)

BIM (horas) Diferença

Formas e cortes 16 10 -37%

Elevações (Tipo

e Térreo)

8 12 +50%

Elevações (5o

pavimento

8 4 -50%

Elevações

(platibanda)

3 2 -33%

Cortes de tela 5 4 -20%

Quantitativo 6 1 -83%

Pranchas 2 2 0%

Totais 48 35 -27% Fonte: Autoria Própria (2018)

A modelagem completa de todos os pavimentos não afetou de maneira muito

expressiva o consumo de horas para gerar plantas de forma, por outro lado, a geração

automática dos cortes fez com que esta etapa em específico tivesse sua duração reduzida em

praticamente drasticamente, o que reduziu bastante o tempo no geral.

As elevações do primeiro pavimento realizado levaram mais tempo no novo fluxo.

Isso se deve muito em função da curva de aprendizagem que a adoção de uma nova

ferramenta e a procura por soluções e adaptações possui. Já nos outros pavimentos, a

parametrização se mostrou fundamental para uma ágil e confiável adaptação e o tempo gasto

foi menor que no método tradicional.

Os cortes de tela foram feitos de forma automática, porém a parte de adaptação trouxe

muito prejuízo para a produtividade, pois o software utilizado exportou os arquivos

separadamente e com um leiaute fora dos padrões da RKS.

O quantitativo é gerado de forma automática, porém são necessários alguns minutos

para a organização das tabelas geradas, aplicação dos filtros necessários e posicionamento nas

pranchas a serem plotadas.

Como um todo, o mesmo detalhamento teve uma redução de 27% no tempo gasto

quando usado o novo fluxo proposto, totalizando 35 horas de trabalho versus 48 horas do

fluxo tradicional.

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5.2 Eliminação do retrabalho

Não houve mudanças na arquitetura durante o estudo, por isso não foi possível

concluir se há um real benefício neste aspecto. Houve, porém, um conflito entre a numeração

das telas soldadas de aço entre os arquivos dos pavimentos tipo e a platibanda por uma

configuração errada nos arquivos, e a renumeração de todas as telas foi feita de maneira

automática assim que o erro foi percebido. Além disso, todas as vistas, incluindo formas,

cortes, e tabelas foram geradas e foram se atualizando de maneira automática, não sendo

necessário nenhum tipo de entrada específica de dados.

5.3 Redução do tempo na colocação das telas e quantitativo

Apesar do tempo total necessário para o detalhamento das elevações na metodologia

BIM ter sido apenas uma hora menor do que na metodologia tradicional, a parte que mais

demandou tempo nessa etapa foi a modelagem e detalhamento da armadura complementar,

que demandou a maior parte das adaptações e teve uma curva de aprendizagem mais

complexa.

5.4 Recortes de tela automáticos

Além de automatizados, os cortes de telas soldadas de aço foram otimizados por um

software especializado, tarefa que antes era feita manualmente e, segundo registros da RKS,

eram feitos em cerca de 5 horas, no novo fluxo a otimização é feita em menos de 4 minutos.

Com as duas ferramentas sendo usadas, tanto o Revit para a colocação das telas,

quanto o Cutlogic2D para a otimização, o aproveitamento das telas soldadas de aço foi de

88% para 96% (comparação feita no projeto piloto).

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6. CONCLUSÕES

O principal uso do BIM é de fato a coordenação espacial 3D, e o benefício dessa

aplicação da metodologia não se dá somente entre as disciplinas, pois dentro de apenas uma,

nesse caso a estrutural, foi visto como um modelo tridimensional com informação intrínseca a

cada elemento pode trazer melhorias de produtividade e qualidade para os projetos. Além

disso, a automação de etapas fez com que os gargalos do fluxo do detalhamento de paredes de

concreto, na empresa RKS Engenharia de Estruturas, fossem eliminados, trazendo agilidade e

assertividade aos projetos.

A mudança na demanda de mão de obra, sendo menos necessário o trabalho braçal

(dos estagiários), e mais necessário o trabalho intelectual (de engenheiros, arquitetos e

administradores), visto na Tabela 2, se tornou muito clara na medida que mais automações

eram implementadas no fluxo e os retrabalhos iam reduzindo de magnitude e frequência. A

inteligência, ou parametrização, que é inserida nos elementos de um modelo da informação da

construção faz com que as etapas que não necessitam de criatividade ou engenho se tornem

secundárias, dando espaço para os projetistas elaborarem um projeto melhor planejado e

eficiente. Isso foi visto na modelagem dos pavimentos no estudo de caso e o primeiro

detalhamento das elevações, pois muitos dos problemas e conflitos já foram resolvidos nessas

fases, assim como retrata a Figura 2.

Apesar de todos os efeitos e benefícios esperados terem sido observados no estudo, o

maior obstáculo foi a adequação dos padrões estabelecidos na era CAD (Pré-BIM) que eram

obrigados a serem reproduzidos em ferramentas e fluxos muitas vezes completamente

diferentes. O que foi percebido é que muitos desses padrões foram criados justamente por

limitações da própria metodologia tradicional, e, mesmo com esses limites borrados, houve

uma resistência muito grande por deixa-los para trás. Ou seja, a informação que antes não

podia ser dada, agora pode ser dada de maneira ainda mais trivial, e, mesmo que não seja o

caso, entregar a mesma informação de forma diferente em prol da produtividade pode evitar

que erros humanos sejam inseridos nos projetos por adaptações manuais.

Por exemplo, a planta de formas era gerada apenas para o pavimento tipo, contendo

detalhes para o térreo e o último com o intuito de diferenciar certas paredes, e no caso do

fluxo proposto, as formas são geradas automaticamente devido a modelagem total do

empreendimento. A liberação para gerar uma forma diferente para cada tipologia de

pavimento teve de passar por diversas aprovações até se tornar oficial.

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A crescente procura, ou por vezes demanda, de projetos entregues em BIM mostra que

tal mudança nos padrões, fluxos e metodologia de uma empresa a prepara para o futuro.

Atualmente é um diferencial na negociação de contratos ter um projeto entregue dessa

maneira, o que torna a transição CAD-BIM ainda mais vantajosa do ponto de vista

econômico.

Outra vantagem trazida com a transição sendo feita no ano de 2018, é que o país está

passando por uma crise econômica e imobiliária, o que faz com que o volume de projetos seja

inferior a outras épocas. Países como Japão e Estados Unidos aproveitaram fases semelhantes

a que o Brasil passa no momento para adotar a nova metodologia, pois os riscos são menores

e a inicial perda de produtividade não impacta tanto quanto se houvesse uma grande demanda

de projetos em paralelo.

54

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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moldada no local para a construção de edificações - Requisitos e Procedimentos. 1. ed. Rio de

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