Report Design Atelier 2

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Relatório OD2 por Pedro Pinto da Silva

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Report Design Atelier 2, brandbook report

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Relatório OD2por Pedro Pinto da Silva

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1. Introdução

Enquadramento teóricoObjectivo

2. Abordagem conceptual

Enquadramento históricoA forma octogonalOctógono, o labirintoEstudos de RzihaPorquê generativo?

3. Intervenção

MaqueteProjecção

4. Estudos abandonados

Panóptico, a silhuetaOuroboros

5. Bibliografia

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Introdução

A identidade visual aqui documentada é o resultado do trabalho final da disciplina de Oficina de Design 2, leccionada pelos professores Lizá Ramalho e Pedro Cruz, no mestrado de Design e Multimédia da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra. É uma análise crítica ao Estabelecimento Prisional de Coimbra(EPC) como elemento material de extrema importância devido à sua arquitectura, mas também como elemento imaterial de grande relação com a sociedade. Este relatório tem como objectivo descrever todo o processo criativo, qual o conceito que está subjacente, quais as fontes de inspiração, obstáculos encontrados, estudos abandonados e toda a informação necessária para realizar a intervenção da identidade em vários contextos.

Objectivo

O projecto teve a sua origem numa perspectiva crítica pessoal, onde me compro-meti a não ceder ao paradigma existente:

“aquilo que os membros de uma comunidade partilham e, inversamente, uma comunidade científica consiste em homens que partilham um paradigma”(Kuhn, p. 60).

Detectar os preconceitos inerentes a este tipo de estabelecimento para entender a sua essência e o papel que desempenha na sociedade. A óptica subjacente à identi-dade visual teve como suporte a obra de Michel Foucault, Surveiller et punir e de L. Stoobant, Annales de la Société d’histoire de Gand.

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2. Abordagem conceptual

Enquadramento histórico

A arquitectura do edifício foi estudada, ignorando a visão pessoal inerente ao con-ceito prisão, para que o resultado não fosse influenciado por factores sem funda-mento e por isso foi necessário fazer o enquadramento histórico. Projecto de uma cadeia distrital, da autoria do Engenheiro Ricardo Júlio Ferraz, construído entre 1876 e 1901 e posteriormente adaptada pelo governo, em 1888, a Estabelecimento prisional nacional. Com uma imponente forma octogonal central “assinalado por uma cúpula monumental, com estrutura de ferro, a partir da qual se desenvolvem, em planta cruciforme, quatro alas. A disposição planimétrica é, valha a verdade, radial, uma vez que, nos pisos inferiores, os restantes quatro lados do octógono formam também alas, embora mais baixas e mais curtas, com celas diferenciadas e outros equipamentos. As alas têm o espaço central vazio, com pé direito triplo e o acesso aos três pisos de celas faz‐se através de galerias, suportadas por consolas em aço. Logo abaixo da cúpula central, sob o lanternim, localiza-se o panóptico, também com uma forma octogonal.” (Bandeirinha, 2007)

2.01 Interior da cúpula com cerca de 40 m.

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A forma octogonal

A forma octogonal em penitenciarias apenas é visível em Coimbra e em Lisboa, sendo por isso distintivo além de conseguir ser uma forma de tão fácil construção como o quadrado e que, no entanto, possui uma área e um anglo de visão superior que este. Mas este património oitocentista colimbriense continua a produzir uma grande influência paisagística mais especificamente o seu panóptico, oriundo do modelo de vigilância total defendido nas premissas de Bentham [2.02].

O EPC possui algo que o distingue dos demais: a dupla vigilância, pois se em Bentham o vigilante “na torre central, vê-se tudo, sem nunca ser visto” (Foucault), aqui além do vigilante observar todos os condenados, também a cidade assume uma posição de vigia em relação à cúpula, devido à sua latitude. Uma relação forte

de envolvência e dupla analogia.

2.02 Princípio de Bentham: “na periferia uma construção em anel; no centro, uma torre; esta é vazada de largas janelas que se abrem sobre a face interna do anel; a construção periférica é dividida em celas, cada uma atravessando toda a espessura da construção; elas têm duas janelas, uma para o interior, correspondendo às janelas da torre; outra, que dá para o exterior, permite que a luz atravesse a cela de lado a lado. Basta então colocar um vigia na torre central, e em cada cela trancar um louco, um doente, um condenado, um operário ou um escolar” (Foucault)

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2. Abordagem conceptual

2.03 Artefacto encontrado da antiga Babilónia, imagem representativa do sol e das oito partes que o constituem.

2.04 Mosaico constituído por pedras que formam um labirinto de linhas rectas e o Minotauro ao centro, situado nas ruínas de Conimbriga.

Octógono, o labirinto

No século XX construi-se no topo noroeste do terreno prisional oficinas, lugar onde os condenados podiam e podem até aos dias de hoje aprender um vasto leque de ofícios, marcenaria, encadernação serralharia artistíca, sapataria, alfaia-taria, prestando serviços à comunidade. Corrigindo o que a história já mostrou estár errado:

“mendigo assim mandado de um lugar para o outro terminará sendo enforcado, enquanto que se houvesse sido acostumado ao trabalho não chegaria a esse mau caminho”(L. Stoobant).

Facto que reforça de forma vincada a relação bilateral entre a cidade e a prisão. Esta que procura regenerar os seus indivíduos, encaminhando-os propondo caminhos para a quebra com o anterior eu e o novo eu que trabalha reconhecendo e respeitando o outro. Este conceito aponta novamente para o octógono e a sua quantidade de faces, oito. Número que significa auto-destruição, assim como remete para o renascer ou o sol como acontecia na Babilónia [2.03]. Isto depende da escolha entre vários caminhos que pode ou não ser bem sucedida.Tendo como inspiração as ruínas de Conímbriga, nomeadamente o mosaico que representa o labirinto do Minotauro [2.04], tornou-se clara que a escolha do caminho a seguir não é mais que um labirinto, ideia que reforça o que a forma octogonal já apontava:

A prisão, o portal para o bem, através da escolha de caminhos acertada.

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Estudos de Rziha

A abordagem conceptual definida requeria que a identidade fosse marcadamente geométrica e ao mesmo tempo singular, icónica. De forma a ir de encontro com esta exigência, consultei os últimos estudos de Rziha (Mollerup, 1997) que se debruçavam sobre símbolos antigos executados em pedra [2.05], e que serviam de assinaturas especialmente se tivermos em conta que a maioria dos pedreiros não sabia escrever. Rziha aplicou os pilares básicos da geometria, criados por Euclid, e descobriu assim as grelhas subjacentes aos signos, foi através desta leitura que criei uma grelha octogonal, e na qual fiz esboços [2.06].

2.05 Grelhas fruto dos estudos de Rziha.

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2. Abordagem conceptual

Porquê generativo?

Um só signo, uma só combinação de traços ou até um leque finito de opções provou não responder a todas as necessidades que a identidade visual obrigava, porque os caminhos possíveis a percorrer não são sempre os mesmos, dependem dos instintos individuais – os arquétipos do inconsciente colectivo:

“O arquétipo representa essencialmente um conteúdo inconsciente, o qual se modifica através de sua consciencialização e percepção, assumindo matizes que variam de acordo com a consciência individual na qual se manifesta” (Jung, p. 17).

Tomada esta decisão, foi altura de determinadas algumas regras que o software deveria de obdecer como o desenho de apenas traços rectos, variação apenas entre os ângulos 45 e 90, o número de traços que não deve ser menor que 3 ou maior que 8 e por fim a sua espessura.

2.05 Estudo pessoal, esboços com várias grelhas, sendo que a última engloba todas as opções antecedentes e por isso é a grelha final.

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Maquete

O uso do signo pode ser aplicado no mundo real ou virtual, criando estruturas citadinas que tanto no primeiro como no segundo caso são resultado de uma construção que tem como planta o signo gerado do software cedido. A intervenção em contexto específico é alcançada, por entre meio de construções espalhadas pela cidade que têm como objectivo o reforçar da relação entre a penitenciária e da sua comunidade circundante, e para isto são expostos os trabalhos executados pelos reclusos no âmbito do programa das oficinas do estabelecimento.

Intervenções interactivas são passíveis de serem feitas, como é o caso de uma viagem virtual a três dimênsões do interior destes octógonos. É recomendado que para qualquer destas hipóteses seja feito primeiramente o modelo 3d, de forma a evitar desperdícios de material.

3.01 Simulação de como seria na realidade em ruas longe do EPC e distribuídas de forma provocatória, convidando a entrar.

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3. Intervenção

3.02 O software cedido permite a exportação do signo num peso mais leve e a tracejado, ideal para servir de base a pro-gramas de animação.

3.03 Projecção possivel no ecrã gigante do mercado municipal, em que o signo é construído a medida que os anos (número central) vão passando.

Projecção

A divulgação dos trabalhos realizados pelos reclusos é algo de grande significado, não apenas para dar a conhecer à comunidade, mas para demonstrar que o EPC é um local de escolha de caminhos e que já são visíveis alguns frutos positivos dessa filosofia que esta instituição abarca.

Esta difusão pode também ser realizada intervindo de forma activa nas ruas da cidade, na consciência cívica através de pequenos vídeos projectados em lugares com bastante afluência, onde as várias imagens resultantes da construção do signo, através do programa, são usadas como sequência de frames para serem conjugados com frases fortes

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Panóptico, a silhueta

A força da arquitectura do EPC aqui já referida fez de motivo para um das primei-ras tentativas para este projecto. A estrutura do panóptico foi posta em destaque e separa de todo o resto, concentrado toda a atenção para a sua silhueta, a mesma silhueta que é vista todos os dias pelos olhos citadinos, aqui a tónica situa-se na vigilância que a cidade pratica em relação ao dispositivo vigilante. Este conceito foi abandonado por ser semelhante a tantas outras torres ou edificações derivadas como é perceptível em [4.01], renegando o verdadeiro potencial desta instituição e reduzindo-o a uma torre.

4.01 Página retirada de (Mollerup, 1997) onde são mostradas identidades baseadas em edifícios

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4. Estudos abandonados

4.02 Esboços da estru-tura panóptica.

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Ouroboros

O símbolo de uma serpente a morder a sua cauda [4.03] surgiu como hipótese para significar a metamorfose que os reclusos vivem durante a sua clausura, uma transformação que seja positiva ou negativa nunca é finita, nunca é um objectivo em si mesmo, mas antes uma metamorfose contínua, cíclica, onde é desejado que o sujeito tente sempre ser um ser humano melhor. A ruptura do presente com o passado para abraçar as oportunidades futuras. Todos estes significados estão bem presentes neste símbolo:

“An Ouroboros snake motif swallows it’s own tail while forming a circle, archetypal symbol of cyclic continuity, with is body. The Ouroboros can be dividec into three parts, each one of which symbolizes one of the three phases of a Serpent Cycle. The snake’s heas at the top of the Ouroboros represents the initial creation of the serpent life force. The middle part the Ouroboros represents the growth/matura-tion period of the serpent life force, and the point where the snake swallows its own tail represents the destruction or transformation of the forms crystallized out of the Serpent life force.” (Pinkham, 1998, p. 354)

Vários esboços foram feitos inspirados em alguns objectos/imagens, contudo esta solução apresentava vários problemas desde o seu conceito até ao seu impacto visual. Em primeiro lugar este signo já é usado na Câmara Municipal da Cidade de Coimbra o que poderia ser confuso, visto que não existia distinção, em segun-do lugar, e depois de uma pesquisa mais profunda, Ouroboros possui segundas interpretações e ambiguidades dependendo da religião e cultura, deixando de ser um símbolo universal, de um significado só e em terceiro e último lugar os signos que tinham sido desenhados ou se aproximavam muito do signo original ou se af-astavam demasiado tornando a relação com a origem quase imperceptível e ainda mais com o Estabelecimento.

4.03 O primeiro aparecimento deste símbolo foi em 1600 AC no Egipto, mas tarde passou para os Fenícios e depois para os gregos, que chamaram-no de Ouroboros, o que significa devorar à própria cauda.

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4. Estudos abandonados

4.04 À esquerda referências imagéticas, à direita esboços de conceitos variados.

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Bibliografia

Bandeirinha, J. A. (2007). Poderá a arquitectura servir para justificar as funções às quais se destina? Revista Património – Estudos do IPPAR , pp. 26-37.

Foucault, M. Surveiller et punir. In M. Foucault, Surveiller et punir (R. Ramalhete, Trad.). Editora Vozes.

Franz, M.-L. v. (1980). Alchemy: an introduction to the symbolism and the psychology. Inner City Books.

Jung, C. G. Os Arquetipos e o Inconsciente Coletivo. (M. L. Appy, & D. M. Silva, Trads.) Editora Vozes.

Kuhn, T. S. The Structure of Scientific Revolutions. In T. S. Kuhn, The Structure of Scientific Revolutions (p. 60).

Mollerup, P. (1997). Marks of Excellence: The History and Taxonomy of Trademarks. London, UK: Phaidon Press.

Pinkham, M. A. (1998). The Return of the Serpents of Wisdom. Adventures Unlimited Press.