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31 Revista Expansão RS • Dezembro 2012 30 E special REPORTAGEM INOVAR GANHAR PARA Empresas que investem em inovação podem abater em até 75% no ICMS incremental Por Caren Souza R ecentemente, o secretário es- tadual de Ciência, Inovação e Desenvolvimento Tecnológico, Cleber Prodanov, fez um chamamento às empresas para que se inscrevessem nos benefícios oferecidos pelo governo por meio de sua pasta, a SCIT. O motivo: há recursos disponíveis e poucas inscritas para recebê-los. Destas poucas, algu- mas não preenchem todos os requisitos para serem contempladas. O titular da secretaria aponta que, das 200 empre- sas previstas para se beneficarem do Pró-Inovação (programa que permite desconto de até 75% no ICMS incre- mental) em 2012, apenas 23 estão, de fato, usufruindo do incentivo. Ou seja, um aproveitamento em torno de 10%. O mesmo acontece quando a Secretária de Ciência, Inovação e Desenvolvimento Tecnológico abre editais. Muitas vezes, os recursos precisam ser aplicados em outros programas, ou reinvestidos na abertura de novos editais, por falta de uma cota de empresas suficiente para atingir a liberação da verba. Liberar incentivos Questionado sobre as causas da baixa procura das empresas, Prodanov é taxa- tivo. “Os empresários, em sua maioria, não entendem o conceito de inovação, que é nosso principal critério para libe- rar os incentivos.” De acordo com o titu- lar, muitos acreditam que inovar é ape- nas modernizar seu parque produtivo, ou ainda que é comprar novas tecnologias produzidas no exterior e vender aqui. “Isso traz um resultado financeiro a curto prazo, mas, a longo prazo, o que garante a sobrevivência e a competitividade da empresa é a inovação, que consiste em fazer algo diferente envolvendo a pesqui- sa científica, a transferência de conheci- mento entre empresa e universidade.” Faltam bons projetos Na opinião do secretário, não faltam recursos a serem investidos por parte do governo, mas bons projetos por par- te das empresas. De acordo com ele, a inovação está alicerçada no tripé Poder Público (que fomenta a inovação com re- cursos financeiros), universidades (que realizam a transferência de conhecimen- to) e empresas (que realizam, de fato, a inovação). “Falta uma cultura inovadora para as empresas, que tentamos desen- volver, e falta pró-atividade por parte das universidades, que estão realizando pesquisas, mas não transferem seu co- nhecimento. As condições estão dadas, nossas universidades estão bem classifi- cadas, tanto em âmbito nacional quanto internacional, mas falta ação.” Investimento recorde O secretário Prodanov aponta que, em 2012, foram investidos R$ 115 milhões – valor recorde nos 25 anos de ativida- des da SCIT. Neste valor estão incluídos recursos captados junto ao Banco Na- cional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Bird (Banco Mun- dial), Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), e editais no valor de R$ 85 milhões, com recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio Grande do Sul (Fa- pergs). “O valor destinado aos polos é “Os empresários, em sua maioria, não entendem o conceito de inovação, que é nosso principal critério para liberar os incentivos”, cinco vezes maior que no ano passado. Precisamos multiplicar o número de parques tecnológicos”, sentencia Pro- danov. Hoje, o Estado tem três parques consolidados e 12 em implantação.

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Reportagem na revista Expansão - SMR Consultoria - Incentivos Fiscais.

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31Revista Expansão RS • Dezembro 201230

E special • REPORTAGEM

Inovar ganhar

para

Empresas que investem em

inovação podem abater em até

75% no ICMS incremental

Por Caren Souza

Recentemente, o secretário es-tadual de Ciência, Inovação e Desenvolvimento Tecnológico,

Cleber Prodanov, fez um chamamento às empresas para que se inscrevessem nos benefícios oferecidos pelo governo por meio de sua pasta, a SCIT. O motivo: há recursos disponíveis e poucas inscritas para recebê-los. Destas poucas, algu-mas não preenchem todos os requisitos para serem contempladas. O titular da secretaria aponta que, das 200 empre-sas previstas para se beneficarem do Pró-Inovação (programa que permite desconto de até 75% no ICMS incre-

mental) em 2012, apenas 23 estão, de fato, usufruindo do incentivo. Ou seja, um aproveitamento em torno de 10%. O mesmo acontece quando a Secretária de Ciência, Inovação e Desenvolvimento Tecnológico abre editais. Muitas vezes, os recursos precisam ser aplicados em outros programas, ou reinvestidos na abertura de novos editais, por falta de uma cota de empresas suficiente para atingir a liberação da verba.

Liberar incentivosQuestionado sobre as causas da baixa

procura das empresas, Prodanov é taxa-

tivo. “Os empresários, em sua maioria, não entendem o conceito de inovação, que é nosso principal critério para libe-rar os incentivos.” De acordo com o titu-lar, muitos acreditam que inovar é ape-nas modernizar seu parque produtivo, ou ainda que é comprar novas tecnologias produzidas no exterior e vender aqui. “Isso traz um resultado financeiro a curto prazo, mas, a longo prazo, o que garante a sobrevivência e a competitividade da empresa é a inovação, que consiste em fazer algo diferente envolvendo a pesqui-sa científica, a transferência de conheci-mento entre empresa e universidade.”

Faltam bons projetosNa opinião do secretário, não faltam

recursos a serem investidos por parte do governo, mas bons projetos por par-te das empresas. De acordo com ele, a inovação está alicerçada no tripé Poder Público (que fomenta a inovação com re-cursos financeiros), universidades (que realizam a transferência de conhecimen-to) e empresas (que realizam, de fato, a inovação). “Falta uma cultura inovadora para as empresas, que tentamos desen-volver, e falta pró-atividade por parte das universidades, que estão realizando pesquisas, mas não transferem seu co-nhecimento. As condições estão dadas, nossas universidades estão bem classifi-

cadas, tanto em âmbito nacional quanto internacional, mas falta ação.”

Investimento recordeO secretário Prodanov aponta que, em

2012, foram investidos R$ 115 milhões – valor recorde nos 25 anos de ativida-des da SCIT. Neste valor estão incluídos recursos captados junto ao Banco Na-cional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Bird (Banco Mun-dial), Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), e editais no valor de R$ 85 milhões, com recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio Grande do Sul (Fa-pergs). “O valor destinado aos polos é

“Os empresários, em sua maioria, não entendem o conceito de inovação, que é nosso principal

critério para liberar os incentivos”,

cinco vezes maior que no ano passado. Precisamos multiplicar o número de parques tecnológicos”, sentencia Pro-danov. Hoje, o Estado tem três parques consolidados e 12 em implantação.

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E special • REPORTAGEM

Principal incentivoO principal incentivo oferecido hoje às

empresas é chamado de Pró-Inovação. Por meio dele, as empresas, que são ino-vadoras de fato e que atuam para o mer-cado global, ganham abatimento de até 75% no seu ICMS incremental, ou seja, na sua previsão de faturamento. Este va-lor deve ser comprovado no final do ano, e uma série de critérios deve ser atendida para que o desconto seja concedido. “É uma fonte de financiamento, pois o Esta-do abre mão do crédito”, atesta Prodanov.

Outro destaque da SCIT é o projeto Rede Riosul, que abre editais para pro-jetos nas áreas de petróleo, gás e tecno-logias da informação. “É uma iniciativa extremamente inovadora.” Em 2011, o então presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli, esteve no Rio Grande do Sul e anunciou investimento nesta área. Ele disse que dos 52 grupos cadastrados no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ) para pesquisa de petróleo e gás, 22 eram gaúchos. “Então, temos grande conhe-cimento; porém temos apenas cerca de cem empresas fornecendo para a Petro-bras no Estado. E apenas cinco projetos foram inscritos nesta área, e nenhum na área de TI. Isso significa que não há transferência de conhecimento por par-te das universidades”, analisa Prodanov.

Empresas gaúchas têmdificuldade em inovarConforme estudo realizado pelo Uni-

tec, que é o núcleo de pesquisas da Uni-versidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), em Porto Alegre (RS), e divul-gado para a Revista Expansão rS em

primeira mão pelo secretário Prodanov, apenas 1,67% das empresas gaúchas possuem alta intensidade tecnológica (que nada mais é do que a capacidade de inovar). A pesquisa aponta ainda que 52,47% possuem baixa intensidade tec-nológica e o percentual restante está di-vidido entre muitas variáveis.

"E apenas cinco projetos foram inscritos nesta

área, e nenhum na área de TI. Isso significa que não há transferência de conhecimento por parte

das universidades."

Há poucas delas no Rio Grande do Sul, mas seu trabalho garante benefícios impor-tantes para as empresas. As consultorias especializadas encaminham a documenta-ção das necessária e a inscrição para obter os recursos do governo. Em Novo Hambur-go, a SMR Assessoria e Consultoria Empre-sarial presta este serviço, tanto para obter recursos gaúchos quanto federais. Confor-me o sócio-diretor da SMR, Silvio Luciano dos Santos (foto à direita), responsável pelo núcleo de captação de recursos, há falta de conhecimento por parte das orga-nizações em relação aos recursos disponi-bilizados pelo governo. Entre seus clientes, ele destaca que os setores de química e metalúrgica estão entre os mais atuantes na captação. De acordo com o gestor de negócios da SMR, Gustavo de Paula (foto à esquerda), há vários tipos de recursos, porém os mais acessados pelas empresas

Consultorias encaminhamprojetos empresariais

são o Pró-Inovação, estadual, e a Lei do Bem, federal. Os recursos federais, conforme de Pau-la, geralmente são direcionados a empresas de maior porte, em função das exigências do go-verno. “A procura por este tipo de incentivo é muito pequena no Estado. Muitos empresários os desconhecem ou acreditam que sua empresa não se enquadra nas exigências”, explica.

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Algumas empresas do Vale do Sinos já procuram recursos para desenvolver produtos inovadores. Um exemplo é a Máquinas Erps, de Novo Hamburgo (RS). Conforme o diretor Marlos Schmi-dt, o trabalho de consultoria vem sendo desenvolvido desde 2010, quando a opor-tunidade foi identificada. “Trabalhar no ramo de máquinas para o setor do cal-çados exige uma dinâmica acelerada de atualizações tecnológicas, realizando constantes investimentos no desenvolvi-mento de novos produtos e novas alter-nativas na melhoria do processo produti-vo do calçados bem como nas adaptações às tendências da moda. Isso despertou nosso interesse em trabalhar a Lei do Bem, na busca de ter retorno de parte dos valores investidos no desenvolvi-mento em inovação dos produtos”, apon-ta Schmidt. Ele acrescenta que, como beneficio paralelo, houve a reestrutura-

ção da gestão da inovação na empresa, alterando a metodologia de trabalho no desenvolvimento de produtos e crian-do processos internos mais eficientes no acompanhamento desses produtos.

Mara Silva, diretora Tecpol (Campo Bom/RS), está encaminhando, pela pri-meira vez, os projetos para ingresso nos incentivos do governo estadual. “A em-presa sempre teve a cultura da inovação de produtos, o que sempre alavancou o faturamento, mas nunca teve nenhum benefício com isso”, justifica. A Tecpol está pleiteando o ingresso no Pró-Inova-ção através de um novo produto. O foco da empresa está na tecnologia em po-liuretano. Originalmente, a organização produzia componentes para calçados, depois passou a fazer palmilhas. De tão inovadora, já desenvolveu produtos para outros setores da economia, dando ori-gem a novas empresas.

InstitutoBuscando facilitar o envio

de projetos para o governo, e o trânsito das informações entre as empresas e universidades, a SMR Consultoria e Assesso-ria Empresarial está criando o Instituto Brasileiro de Apoio à Inovação (Ibrain), que ajudará também a disseminar a cultura inovadora nas empresas. “Já te-mos o hábito de palestrar nas empresas sempre que temos um novo projeto, para que to-dos entendam como funciona o processo. Mas o instituto deve potencializar as informações, abrangendo mais empresas”, assinala Santos.

Empresário destaca a importância do ambiente inovadorO sócio fundador da empresa Altus

de São Leopoldo (RS) e presidente do Conselho Diretor do Programa Gaúcho de Qualidade e Produtividade (PGQP), o empresário Ricardo Felizolla, frisa que é muito importante ter um ambiente inovador para estimular as empresas – o que ele define como um polo. “Cerca de 90% das empresas consideradas mais inovadoras do mundo estão sediadas nos Estados Unidos. Isso não significa que os americanos são mais inteligentes que nós, mas eles têm um ambiente mais fa-vorável, privilegiado por universidades conceituadas e também pelo sistema ca-pitalista, que propicia isso”, analisa. Ele foi o palestrante do evento 5ª do Empre-endedor, realizado pela Associação Co-mercial, Industrial e de Serviços de São Leopoldo (RS), em 18 de outubro.

“A inovação não é, ela acontece”, sentencia Felizolla. Ele esclarece que ela é um fenômeno gerador de riqueza, típico do ambiente econômico mun-dial e vigente, e que ocorre num espaço onde o mercado tem um papel preponderante. “O lançamento do iPhone5, por exemplo, é uma inovação. É um produto diferenciado, que em apenas dois dias sumiu das prateleiras. A empresa inovadora se joga no mundo, mas não há inovação se não há economia de mercado”, pontua. Ele define que o ambiente inovador é quase um Arranjo Produtivo Local, pois precisa ser definido geograficamente.

Empresas da região buscam benefícios

"Trabalhar no ramo de máquinas para o setor do calçados exige uma

dinâmica acelerada de atualizações tecnológicas,

realizando constantes investimentos no

desenvolvimento de novos produtos e novas alternativas na melhoria do processo produtivo do calçados bem como

nas adaptações às tendências da moda."

Design como evidência no calçadoO ciclo de palestras Rotas da Inovação, que começou pela cidade

de Novo Hamburgo (RS), em 25 de setembro, evidenciou a inovação e o design como estratégias para o desenvolvimento do setor calça-dista. Promovido pelo Instituto by Brasil, o evento ocorreu na sede da Associação Brasileira das Empresas de Componentes para Couro, Calçados e Artefatos (Assintecal), em 25 de setembro. A superinten-dente da Assintecal, Ilse Biason Guimarães, vê o design não apenas como enfeite, mas como estratégia de negócios. “É um meio para a inovação centrada no consumidor”, apontou Ilse, que palestrou so-bre o tema Inspiração, design e referências brasileiras. Ela lembra que o design é a ponte entre a ciência, a tecnologia e o consumidor. “É a ligação entre a criatividade e inovação”, sentencia.

Desenvolvimento “Resumindo em uma linguagem bem simples, inovar

é ganhar dinheiro fazendo algo diferente ou de um jeito diferente”, assinala o consultor Marcelo Adriano da Sil-va (foto), que abordou A importância da inovação como elemento estratégico das empresas. Ele deu exemplo das lojas de vendas de calçados on-line, que faturam bastan-te com menos funcionários que as lojas convencionais e menos encargos. O diretor da Dublauto, Evandro Wolfart, apresentou o case da empresa, produtora de tecidos e não-tecidos e dublagem com adesivos, e onde é realizada a gestão da inovação através da participação em eventos, feiras e editais de incentivo do governo.

Caren Souza/E

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