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Representação Gráfica de Projetos de Iluminação Cênica no Brasil Janeiro/2013 Representação Gráfica de Projetos de Iluminação Cênica no Brasil. Osvaldo Meirelles Perrenoud - [email protected] Pós-Graduação em Iluminação e Design de Interiores - IPOG Porto Alegre, 26 de junho de 2012 Resumo Atualmente os iluminadores em nosso país têm livre escolha para representar graficamente seus Projetos de Iluminação Cênica comumente chamados de plano, planta ou mapa de iluminação ou de luz. O problema investigado foi a existência, ou não, de uma padronização da representação gráfica de um projeto de iluminação cênica. O objetivo do estudo foi verificar quais informações estão contidas nos mapas de luz para a representação gráfica de projetos de iluminação cênica no Brasil e se há uniformidade nos mesmos. A pesquisa baseou-se na análise de mapas de luz nas áreas do teatro, dança e espetáculos musicais confeccionados por profissionais atuantes no mercado e coletados em empresas locadoras de iluminação cênica ou publicados na internet. Para esta verificação desenvolveu-se um questionário para investigar as características dos mapas e confeccionou-se tabelas com os resultados. Os resultados indicaram que não há uma uniformidade na forma de representar graficamente a montagem dos equipamentos de iluminação cênica no Brasil. Tendo em vista a importância da padronização de desenhos técnicos para melhor intercomunicação entre os profissionais que atuam na área da iluminação cênica conclui-se que há a necessidade do desenvolvimento de um estudo para a normatização dos mapas de luz. Palavras-chave: Iluminação cênica. Mapa de luz. Representação gráfica. 1. Introdução De acordo com Cunha (2004, p. 1) "a necessidade que o homem teve, desde sempre, de se comunicar com o seu semelhante levou-o inicialmente a procurar uma linguagem falada e, mais tarde, a recorrer à expressão escrita". O homem pré-histórico comunicou-se através de imagens de seus afazeres cotidiano, ainda que de forma inicialmente desorganizada, por intermédio das pinturas rupestres. A utilização destes desenhos de forma cada vez mais esquemática revela a melhoria do processo de comunicação escrita levando, lentamente, às escritas ideográficas. Na Mesopotâmia e no Egito antigos foram desenvolvidos, quase concomitantemente, sistemas particulares de escrita. Placas de barro com escrita cuneiforme eram empregadas pelos sumérios para registrar seu dia-a-dia e o mundo administrativo e econômico. Os egípcios, por sua vez, lançaram mão de duas formas específicas de representação simbólica: uma mais simplificada (demótica) e outra mais rebuscada composta por símbolos e desenhos (hieroglífica). Da mesma forma que os papiros egípcios contendo idéias e conceitos religiosos e políticos subsistem conservados até os dias de hoje, encontram-se pergaminhos romanos escritos com um alfabeto composto somente por letras maiúsculas. Durante a consolidação da forma escrita de comunicação os desenhos não abandonaram sua função de representar pensamentos e anseios de quem os utiliza.

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Representação Gráfica de Projetos de Iluminação Cênica no Brasil Janeiro/2013

Representação Gráfica de Projetos de Iluminação Cênica no Brasil.

Osvaldo Meirelles Perrenoud - [email protected]

Pós-Graduação em Iluminação e Design de Interiores - IPOG

Porto Alegre, 26 de junho de 2012

Resumo

Atualmente os iluminadores em nosso país têm livre escolha para representar graficamente

seus Projetos de Iluminação Cênica comumente chamados de plano, planta ou mapa de

iluminação ou de luz. O problema investigado foi a existência, ou não, de uma padronização

da representação gráfica de um projeto de iluminação cênica. O objetivo do estudo foi

verificar quais informações estão contidas nos mapas de luz para a representação gráfica de

projetos de iluminação cênica no Brasil e se há uniformidade nos mesmos. A pesquisa

baseou-se na análise de mapas de luz nas áreas do teatro, dança e espetáculos musicais

confeccionados por profissionais atuantes no mercado e coletados em empresas locadoras de

iluminação cênica ou publicados na internet. Para esta verificação desenvolveu-se um

questionário para investigar as características dos mapas e confeccionou-se tabelas com os

resultados. Os resultados indicaram que não há uma uniformidade na forma de representar

graficamente a montagem dos equipamentos de iluminação cênica no Brasil. Tendo em vista a

importância da padronização de desenhos técnicos para melhor intercomunicação entre os

profissionais que atuam na área da iluminação cênica conclui-se que há a necessidade do

desenvolvimento de um estudo para a normatização dos mapas de luz.

Palavras-chave: Iluminação cênica. Mapa de luz. Representação gráfica.

1. Introdução

De acordo com Cunha (2004, p. 1) "a necessidade que o homem teve, desde sempre, de se

comunicar com o seu semelhante levou-o inicialmente a procurar uma linguagem falada e,

mais tarde, a recorrer à expressão escrita".

O homem pré-histórico comunicou-se através de imagens de seus afazeres cotidiano, ainda

que de forma inicialmente desorganizada, por intermédio das pinturas rupestres.

A utilização destes desenhos de forma cada vez mais esquemática revela a melhoria do

processo de comunicação escrita levando, lentamente, às escritas ideográficas.

Na Mesopotâmia e no Egito antigos foram desenvolvidos, quase concomitantemente, sistemas

particulares de escrita. Placas de barro com escrita cuneiforme eram empregadas pelos

sumérios para registrar seu dia-a-dia e o mundo administrativo e econômico. Os egípcios, por

sua vez, lançaram mão de duas formas específicas de representação simbólica: uma mais

simplificada (demótica) e outra mais rebuscada composta por símbolos e desenhos

(hieroglífica).

Da mesma forma que os papiros egípcios contendo idéias e conceitos religiosos e políticos

subsistem conservados até os dias de hoje, encontram-se pergaminhos romanos escritos com

um alfabeto composto somente por letras maiúsculas.

Durante a consolidação da forma escrita de comunicação os desenhos não abandonaram sua

função de representar pensamentos e anseios de quem os utiliza.

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Como dizem os chineses, uma imagem vale por mil palavras e, fiéis aos seus ditados,

continuam até os dias de hoje representando a escrita através dos logogramas, símbolos

gráficos que denotam conceitos abstratos (ideogramas) ou concretos (pictogramas) da

realidade.

Ainda afirma Cunha (2004, p. 1) que "o desenho pode, assim, considerar-se uma linguagem e

como tal possuir uma gramática, uma ortografia e uma caligrafia próprias, cujo estudo é

necessário a quem pretenda ler e escrever corretamente essa linguagem."

Para representar determinado objeto em situação real empregam-se desenhos figurados ou

rigorosos no que diz respeito à semelhança com a realidade.

Levando-se em consideração a existência do registro gráfico distinguem-se dois tipos de

desenhos a saber: o Desenho Artístico e o Desenho Técnico.

Há uma diferença básica entre os desenhos artísticos e técnicos; aqueles apresentam

subjetividade de expressão em seu conteúdo, enquanto estes possuem códigos normativos

bem definidos e não permitem interpretações variadas.

A forma precisa de representar e visualizar objetos reais em desenhos, ou seja, o desenho

técnico, tem sua origem no Egito, Mesopotâmia e Roma de onde chegaram legados de

representações até os dias de hoje.

Os egípcios fizeram projetos para a construção de suas pirâmides com as especificações

necessárias a uma boa localização dentro das mesmas; alguns destes, é sabido, foram

destruídos ou escondidos justamente para não dar pistas se caíssem em mãos erradas. Os

sumérios, por sua vez também, construíram seus monumentos e edificações baseados em

plantas bem determinadas. Já os romanos edificaram fortalezas e aquedutos por intermédio de

seus engenheiros com o auxílio de ilustrações como a da figura abaixo:

Figura 1 - Secção transversal do aqueduto Aqua Appia em Roma.

Fonte: Roman Aqueducts, 2012.

Ainda na antiguidade Grécia e Roma vêem florescer a arte do teatro e, em paralelo com a

mesma, o desenvolvimento da cenografia e dos descritivos técnicos necessários à sua

construção.

A representação gráfica evolui desde então, para finalmente chegarmos a desenhos com maior

clareza e objetividade minimizando quase a zero as imprecisões em seu conteúdo. Segundo

Cunha (2004):

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É muito concludente a comparação de um desenho realizado no princípio do século

com um desenho atual. O desenho antigo, ainda próximo do Desenho Artístico, não

recorria praticamente a representações convencionais e simbólicas e procurava dar

uma ilusão do real, adotando procedimentos tais como sombras, cores, etc

(CUNHA, 2004, p. 1).

Modernamente as áreas de aplicação do Desenho Técnico são extremamente amplas; porém, o

presente estudo está circunscrito ao âmbito da sua utilização para representação do projeto de

luz na Iluminação Cênica.

A confecção dos efeitos de luz imaginados para determinado artista ou espetáculo é de

responsabilidade dos iluminadores cênicos, normalmente representados em planta baixa e são

chamados de planos de luz, mapas de iluminação ou mapas de luz.

A profissão de iluminador cênico foi criada pela Lei número 6.533, de 24 de maio de 1978

(BRASIL, 1978a) e regulamentada pelo decreto número 82.385, de 5 de outubro de 1978

(BRASIL, 1978b). Este mesmo decreto estipula a função do iluminador:

Cria e projeta a iluminação do espetáculo em consenso com a equipe de criação;

indica o equipamento necessário; elabora o plano geral de iluminação, o esquema

para instalação e adequação de refletores à mesa de luz, bem como a afinação dos

mesmos; prepara o roteiro para operação da mesa, ensaiando o operador (BRASIL,

1978c).

A forma de criação dos efeitos de luz que comporão as cenas de um espetáculo é trabalho

extremamente individual e realizado por estes profissionais que pintam com luz e cor,

emprestando seu talento através de uma arte de apoio aos artistas em cena.

Múltiplos efeitos de luz serão obtidos em cena com a utilização deste ou daquele equipamento

indicado pelo iluminador baseado na sua experiência curricular e prática através de seu

conhecimento técnico consolidado.

A iluminação já serviu unicamente para clarear o palco: o espaço do espetáculo a ser visto

pela plateia. Com o passar do tempo, e cada vez mais, ela define ambientes e cria climas,

estruturando as três dimensões do espaço cênico, modulando formas e volumes, revelando ou

ocultando determinadas partes do todo.

"Para um espectador médio é impossível se manter informado das proezas tecnológicas; já

seria muito se ele estivesse sensibilizado pela dramaturgia da luz" (PAVIS, 2003 p. 179).

Os avanços tecnológicos vividos pelo mundo nas últimas décadas tem reflexo imediato no

âmbito da Iluminação Cênica, tanto no que tange à modernização da aparelhagem como nas

ferramentas colocadas à disposição para a criação dos efeitos de luz bem como planificação,

programação e operação dos mesmos durante o espetáculo.

No capítulo Tomorrow do livro Stage Lighting escrito pelo produtor de teatro e iluminador

Richard Pilbrow pondera-se sobre o futuro da iluminação após discorrer-se sobre o processo

do desenho de luz para palco e suas problemáticas: "A evolução do mundo fora do teatro

estimula ainda mais a atividade no palco. Escritores, diretores e designers vão aprender a usar

cada vez mais, com expressão, este novo membro em seu elenco" (PILBROW, 1979, p. 125).

A representação gráfica da criação de luz para a atividade artística no palco é expressa

fisicamente em folhas de papel e convencionou-se chamar de plano de luz, mapa de

iluminação ou, simplesmente, mapa de luz.

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Mais adiante Pilbrow (1979, p. 129) apresenta uma gama de símbolos de projetores;

modernamente chamados de blocos por influência da utilização dos softwares de desenhos

assistidos por computador (CAD), utilizados no Reino Unido e nos Estados Unidos para

representar aparelhos reais, não sem antes ter preconizado que a forma dos mesmos mudaria

com o passar dos anos, o que realmente ocorreu e certamente continuará ocorrendo vide a

enxurrada de aparelhos a base de tecnologia LED oriundos de fabricantes chineses.

Hoje em dia também encontra-se o emprego do desenho 3D para a compreensão da forma de

montagem dos aparelhos e estruturas de sustentação na caixa cênica mas, os mapas de luz

ainda são os mais utilizados com esta finalidade e constituem o escopo do estudo.

2. Mapas de Luz

"Um mapa de luz graficamente apresenta os componentes físicos de um desenho (projeto) de

luz, mostrando as posições e atribuições elétricas de todos os instrumentos e aparelhos

elétricos usados para prover iluminação para uma produção" (SHELLEY, 1999, p. 29).

Os mapas de luz contêm os desenhos representativos dos aparelhos destinados à iluminação

cênica para mostrar as posições dos mesmos no ambiente da caixa cênica do palco e na plateia

bem como indicar seus atributos.

"Os símbolos dos aparelhos são desenhados cuidadosamente sobre uma representação em

escala do teatro/local do espetáculo" (FRASER, 1988, p. 45).

Para uma maior referência deve-se ter a representação do próprio local do espetáculo e,

normalmente, o mapa de luz é uma planta-baixa confeccionada a partir um corte feito a

determinada altura do piso deste local.

"É o palco com os aparelhos elétricos e de iluminação vistos de cima como se o telhado do

teatro houvesse sido retirado e estivéssemos olhando o palco desde o céu" (CUNNINGHAM,

1993, p. 101).

Provavelmente um corte feito na altura do céu implicaria em uma escala de redução bem

significativa, além da necessidade de se representar, além de nuvens, aviões e pássaros; toda a

sofita, grelha e o urdimento do teatro.

"A quantidade e tipo de informações mostrados em um mapa de luz podem variar muito."

(GILLETTE, 1978, p. 125).

Na realidade nacional, não há norma nem recomendações para a confecção destes mapas.

Cada iluminador pode empregar uma forma de sua livre escolha e compor esta representação

gráfica para utilização da iluminação em determinado espetáculo.

"[...] é um documento muito particular de cada projetista, mas deve guardar alguns requisitos

de universalidade para que possa ser entendido em qualquer lugar, estado ou país a que nosso

espetáculo vá, e não seja um complicado hieróglifo" (TORMANN, 2006, p. 130).

Não há nada que impeça a utilização, por parte dos iluminadores cênicos brasileiros, de

soluções importadas ou a criação de recursos individuais.

"Ao longo dos anos desenvolvi meu próprio método" (MOODY, 1998, p. 51).

"Planta de Luz. Este gráfico é o mais importante para a montagem das luzes, aonde o técnico

montador deve ter todos os dados necessários para dispor os aparelhos de forma rápida e

eficiente" (ELI SIRLIN, 2005, p. 249).

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Para a melhor compreensão das necessidades desta representação para que os técnicos

identifiquem e executem a montagem pretendida pelo iluminador, procuraram-se subsídios

nas normas descritas na NBR 6492 - Representação de Projetos de Arquitetura.

Em relação ao corte a norma afirma que é um "plano secante vertical que divide a edificação

em duas partes, seja no sentido longitudinal, seja no transversal" (ABNT, 1994, p. 1).

O corte mais executado para os mapas de Iluminação Cênica é efetuado tomando como base

um plano horizontal imaginário por sobre as varas de iluminação que estão no contra-luz, ou

seja, acima do piso do palco e dos artistas.

A escolha da cota deste corte determina uma situação definida para os aparelhos que estão

nesta altura e serão representados por um mapa de luz comumente chamado de mapa aéreo

ou, não raramente, mapa de teto.

Na prática observa-se que os projetores localizados no piso do palco são representados em um

mapa a parte chamado de mapa de piso ou mapa de chão.

Os aparelhos que estão em cotas diferentes destas devem ser representados através da

indicação das cotas verticais respectivas ou através da aplicação de novos cortes e a produção

de novos mapas de luz.

3 - Informações contidas nos cortes para desenho arquitetônico

Na secção 5.3.3.4 a NBR 6492 normatiza quais informações os cortes executados no desenho

arquitetônico devem conter:

a) simbologias de representação gráfica conforme as prescritas nesta Norma;

b) eixos do projeto;

c) sistema estrutural;

d) indicação das cotas verticais;

e) indicação das cotas de nível acabado e em osso;

f) caracterização dos elementos de projeto:

- fechamentos externos e internos;

- circulações verticais e horizontais;

- áreas de instalação técnica e de serviço;

- cobertura/telhado e captação de águas pluviais;

- forros e demais elementos significativos;

g) denominação dos diversos compartimentos seccionados;

h) marcação dos detalhes;

i) escalas;

j) notas gerais, desenhos de referência e carimbo;

k) marcação dos cortes transversais nos cortes longitudinais e vice-versa, podendo

ainda ser indicadas as alturas das seções horizontais (planta da edificação) (ABNT,

1994, p. 9).

Nem todas estas informações são necessárias em um mapa de luz mas estas recomendações

foram tomadas como referência para a análise das plantas-baixas de representação dos

projetos de iluminação cênica.

4 - Informações pertinentes aos mapas de luz

O mapa de luz é um desenho plano composto que fornece uma visão o mais

descritiva possível dos projetores para que o equipe técnica possa executar a

intenção do projeto mais eficientemente. Pode consistir em mais do que uma única

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prancha, no entanto, todas pranchas devem ter o mesmo tamanho para facilitar a

reprodução. As distâncias entre as posições para ancoragem dos aparelhos na plateia

(varas de frente) e na área do palco podem ser comprimidas em um mapa de luz

(USITT, 2006, p. 2).

Algumas das informações contidas nas plantas-baixas arquitetônicas servem de base para que

o iluminador projete mas não são essenciais para que o técnico de luz monte os equipamentos

previstos nos mapas de iluminação.

Os mapas se restringem aos compartimentos do palco e plateia e às varas de luz e deveriam

fornecer somente informações básicas sobre o local.

Os eixos do projeto não são essenciais pois normalmente só há um corte no plano horizontal e

as elevações quando apresentadas se dão num eixo externo ao local do palco.

A caracterização dos elementos de projeto: fechamentos externos e internos; circulações

verticais e horizontais; áreas de instalação técnica e de serviço; cobertura/telhado e captação

de águas pluviais; forros e demais elementos significativos são informações dispensáveis

pois, ou não existem na área do palco e plateia, ou não há a influência de nenhum destes itens

no posicionamento das varas de iluminação e dos projetores.

A marcação dos cortes transversais nos cortes longitudinais e vice-versa, são de menor

importância pois usa-se um único corte e dificilmente encontra-se representações em

elevação ou vista.

Para o estudo retirou-se das recomendações da NBR 6492 (ABNT, 1994, p. 9) os itens que

não são fundamentais ou não interessam à confecção dos mapas de luz resultando no que

segue:

4.1 - Simbologias de representação gráfica

No exterior existiu, nas décadas de 70 e 80, uma preocupação com a unificação de linguagem

dos desenhos técnicos em Iluminação Cênica, Warfel (1973, p. VI) na tentativa de dar

diretrizes para que o iluminador cênico faça seus mapas de luz menciona o seguinte: "este

manual é impresso com a plena consciência dos perigos da normatização, mas as razões para

sua existência são muitas" referindo-se à possível esterilização do processo criativo.

Ainda pode-se mencionar o fato de que as indústrias, que manufaturavam aparelhos,

distribuíam ou vendiam gabaritos correlacionados diretamente com os seus produtos, portanto

a escolha dos símbolos a serem utilizados estava atrelada ao fabricante e isto também poderia

ser arriscado.

Hoje em dia temos a utilização dos mais variados meios para esta representação, desde o

desenho a mão livre até blocos eletrônicos para utilização com softwares tipo CAD (Desenho

Assistido por Computador) específicos para projetar.

As recomendações do Instituto de Tecnologia Teatral dos Estados Unidos (USITT, 2006, p. 2)

é que os blocos colocados no mapa recebam anexadas a ele algumas das informações

descritas a seguir:

a) número de identificação do projetor que é o número individual de cada aparelho.

b) ângulo de facho ou o tipo de facho do aparelho para fornecer a informação em graus

do facho de luz emitido pelo aparelho ou seu tipo, como para as lâmpadas PAR

(Refletor Parabólico Aluminizado) cuja diferenciação é feita por foco.

c) indicação de acessórios internos ou externos ao aparelho.

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d) canal de mesa ou designação de controle indicando em que potenciômetro este

aparelho será comandado no console de iluminação.

e) axis do filamento para lâmpadas PAR, pois a posição do filamento da PAR é oblongo

e permite ser colocado na horizontal (deitado) ou na vertical (de pé).

f) dado de afinação informando para que ponto do palco ou plateia o aparelho será

apontando com a finalidade de iluminar.

g) potência, dado que nos fornece a potência do aparelho em Watts.

h) circuito elétrico ou canal de dimmer visto que para emitir luz os aparelhos necessitam

de energia proveniente de dimmers ou tomadas diretas. Neste item existe a ressalva de

que pode-se deixar um espaço para que o técnico decida como energizar o aparelho e

coloque a sua informação no mapa de luz.

i) indicação de two-fers que são junções para dois aparelhos em paralelo (estes receberão

a mesma voltagem) ou em série (cada unidade receberá metade da voltagem fornecida

para o conjunto).

j) anotação da cor - vários fabricantes fornecem filtros, também chamados de gelatinas

para serem colocados a frente dos aparelhos e dar colorido a luz emitida por estes.

k) indicação das cores para scroolers que são aparelhos eletrônicos colocados à frente

dos projetores convencionais que aumentam em muito o número de cores que o

aparelho pode emitir.

l) indicativo da utilização de gobo que é um disco de metal ou vidro colocado nos

aparelhos do tipo elipsoidal alterando a forma do facho de luz e criando formas

geométricas projetadas.

Os símbolos devem transmitir ao técnico montador; responsável pela execução do mapa de

luz, informações precisas sobre cada um dos aparelhos constantes no mesmo.

No que tange à caligrafia técnica procurou-se saber qual é a posição de escrita dos dados em

relação ao texto na folha do papel, se estas informações estão sempre no sentido da leitura da

folha ou variam.

4.2 - Sistema estrutural

Os aparelhos necessitam de uma estrutura de ancoragem para estarem colocados no local de

posicionamento indicado em planta.

Algumas casas de espetáculo têm varas de luz (eletrificadas ou não) e basta ao iluminador

dispor os aparelhos nestas estruturas.

Quando em turnê ou em apresentações em locais onde não haja estas conveniências precisa-se

de um projeto de estrutura efêmera para que os aparelhos possam cumprir o papel lumínico

desejado pelo criador dos efeitos de luz.

4.3 - Indicação das cotas verticais

A indicação das cotas verticais é de extrema importância para não incorrer-se em equívocos

ou erros em função do mapa de luz referir-se a uma única cota horizontal.

Quando o iluminador confecciona seu mapa de luz em forma de planta-baixa está definindo,

consciente ou inconscientemente a altura do corte para esta representação. Esta informação

deveria estar clara na apresentação gráfica do projeto de iluminação, qual seja, o pé-direito

necessário para a montagem da iluminação deste espetáculo.

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Os aparelhos que não estão nesta cota deveriam ser representados de outra forma, uma

possibilidade é a indicação de uma cota vertical para estas individualidades.

Em uma análise piloto investigou-se impressões dos técnicos de iluminação e iluminadores

com relação ao posicionamento vertical de varas de luz utilizando símbolos comumente

usados para o aparelho PAR64.

Apresentou-se a seguinte planta baixa enviada por email ou em um de dois eventos da ABRIP

(Associação Brasileira de Iluminação Profissional), o Lighting Day e a Lighting Week Brasil

ambos em São Paulo no ano de 2011:

Figura 2 - Vara de luz com 6 PAR64 em planta baixa.

Fonte: o autor, 2011.

Fez-se a seguinte pergunta:

- A vara com as lâmpadas está em que posição em relação ao piso do palco?

Coletaram-se 57 respostas por escrito como mostra a tabela a seguir:

Respostas quantidade percentual

Uma altura específica entre 2m e 8m 9 15,79%

Lateral esquerda 6 10,53%

Paralela ao piso do palco 6 10,53%

Lateral 5 8,77%

Não sei precisar 5 8,77%

Chão (Piso) 4 7,02%

Deitada 3 5,26%

Vertical 3 5,26%

Horizontal 2 3,51%

Horizontal esquerda 2 3,51%

Paralela mas faltam dados para precisar a altura 2 3,51%

Topo (Teto) 2 3,51%

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Diagonal 2 3,51%

Lateral e horizontal 1 1,75%

Lateral esquerda, horizontal e suspensa 1 1,75%

Lateral esquerda no piso 1 1,75%

Paralela não tendo inclinação 1 1,75%

Perpendicular ao piso do palco 1 1,75%

Transversal 1 1,75%

Tabela 1 - Respostas dos técnicos baseados no mapa da figura 1.

Fonte: o autor, 2011.

Os dados coletados indicam a prática de uma representação gráfica sem informação precisa;

neste caso a altura da vara e dos aparelhos, gerando dúvidas no profissional de iluminação que

lida com projetos de iluminação cênica, seja aquele que o produz, seja aquele que o lê e

interpreta.

4.4 - Indicação das cotas de nível do palco acabado

"Piso de palco é o plano de piso no palco executado sobre uma caixa de ressonância com um

espaço interno livre que permita uma boa emissão sonora, aberturas e elevações do mesmo.

Com altura máxima de 1,10m com relação ao piso da plateia" (CTAC, 2003, p. 48).

Uma das cotas de nível a ser considerada em um espetáculo é aquela do nível zero do piso da

platéia em relação ao piso do palco e que indicará o conforto visual do público para assistir ao

espetáculo, seja sentado ou em pé.

A medida desta cota é feita com o palco acabado já considerando o material de revestimento,

em geral madeira.

Ao encontrar-se a ausência desta cota em um mapa de luz é possível haver dúvidas em relação

ao posicionamento das varas de iluminação e dos aparelhos desejado pelo projetista no

momento de sua criação e planejamento.

A diferença de um metro na altura, se levarmos em consideração a altura de cinco metros

como usual para a altura das varas é significativa, pois representa 20% deste valor e alterará a

execução do projeto.

4.5 - Denominação dos compartimentos seccionados: palco e plateia

Os compartimentos do interesse do iluminador para espetáculos de teatro, dança e música

apresentados em palco italiano (com o público assistindo o espetáculo frontalmente) são o

palco utilizado pelos artistas e o local destinado à plateia.

O compartimento que se considerou primordial para estar indicado no mapa de luz é o próprio

palco acima do qual são colocados a maior parte dos aparelhos, mas isto não exclui a

denominação da plateia que normalmente abriga as varas de luz de frente.

4.6 - Escalas

A NBR 6492 (ABNT, 1994, p. 2) afirma que escala é a "relação dimensional entre a

representação de um objeto no desenho e suas dimensões reais."

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Os objetos a serem representados obrigatoriamente no mapa de luz são os aparelhos que

fornecerão a iluminação do espetáculo.

É de extrema valia para compreensão dos planos de luz termos a representação em escala das

estruturas de sustentação (varas de luz ou estrutura efêmera) e, em alguns casos, da cenografia

presente no espetáculo ou do posicionamento dos artistas.

No momento em que se define uma escala de redução de 1:100 ou 1:50; por exemplo, deve-se

levar em consideração o tamanho do local do espetáculo e a folha de papel que será utilizada.

Quando o mapa de luz vem desenhado ou impresso em folhas A4 ou tamanho ofício é que as

informações contidas nos blocos ficam difíceis de serem interpretadas e, em alguns casos,

ilegíveis nesta configuração.

Após a definição da escala a ser utilizada o iluminador deve escolher qual a forma dos

símbolos que representação os aparelhos, "e um gabarito nesta escala obviamente é uma

necessidade" (WARFEL, 1973, p. 6).

Os dois gabaritos de fabricantes a seguir possuem escalas. Na figura 3 podemos ver a

indicação de escala para os aparelhos em polegadas; já o gabarito da figura 4 possui uma

régua na escala de 1:50 em metros.

Mas conforme discorreu-se anteriormente, os gabaritos são fornecidos por fabricantes e os

blocos são representação de seus produtos particulares, portanto não poderiam ser a norma.

Figura 3 - Gabarito da ETC.

Fonte: acervo do autor.

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Figura 4 - Gabarito da Translux.

Fonte: acervo do autor.

4.7 -Notas gerais, desenhos de referência e carimbo

Ainda segundo a NBR 6492 a planta-baixa deve vir acompanhada de um carimbo e legenda

com as informações pertinentes ao projeto arquitetônico: "O carimbo (sic) inferior direito das

folhas de desenho deve ser reservado ao carimbo destinado à legenda de titulação e

numeração dos desenhos" (ABNT, 1994, p. 2). A palavra "carimbo" no início da citação pode

estar equivocada e o correto seria "canto".

Fazendo-se um paralelo com estas normas, a legenda de um mapa de luz deverá mostrar

claramente todos os símbolos de referência que representam objetos concretos e reais, isto é,

aqueles que serão usados no espetáculo para o qual foi confeccionado o mapa de luz.

O carimbo deveria fornecer informações indicativas sobre o artista, nome do espetáculo, local

e datas da apresentação, nome do iluminador que criou o projeto de iluminação cênica, datas

desta criação, versão do mapa de luz, meio de confecção do mesmo e nome do arquivo

eletrônico que guardará o mapa em versão eletrônica entre outras informações que o

iluminador julgar pertinente.

Os mapas podem ter o logotipo do cliente ou artista estampado para uma rápida identificação

do mesmo entre outros mapas.

5 - Informações pesquisadas nos mapas de luz

Diante da realidade prática do profissional quando necessita projetar a instalação dos

equipamentos de iluminação cênica, procurou-se identificar de que forma os iluminadores

confeccionam seus mapas de luz.

A experiência de um conjunto de profissionais da área, no que tange aos itens considerados

essenciais para a compreensão mínima de um projeto de iluminação cênica, subsidiou a

formulação das perguntas que almejou-se responder:

Representação Gráfica de Projetos de Iluminação Cênica no Brasil Janeiro/2013

Estarão os mapas de iluminação para espetáculos representados em planta-baixa ou em outra

forma de representação?

Estarão os mapas analisados em escala?

Os mapas possuem cotas?

Haverá indicação do local do palco e da plateia nos mapas de luz seja através da indicação

nominal ou de um desenho representativo dos mesmos?

A altura usada pelos iluminadores para fazer o corte estará indicada?

Os projetos estarão divididos em mapa aéreo e mapa de piso?

Conterão os mapas indicação das cotas de nível acabado do piso do palco?

Haverá indicação de cotas verticais considerando-se a planta-baixa analisada?

Existirá indicação de sistema estrutural seja existente no local previsto para a apresentação ou

em local efêmero?

Serão anexadas indicações de cota para estas estruturas?

Os símbolos estarão inseridos precisamente com indicação de cotas?

Terão os símbolos (blocos) relação de semelhança com o aparelho real?

Existirão blocos rotacionados em ângulos diferentes de 0º, 90º, 180º ou 270º? Considerou-se

este dado pois nos projetos arquitetônicos ocorre uma ancoragem fixa de luminárias e na

iluminação cênica o posicionamento dos aparelhos é efêmero podendo ser redirecionados para

os seus objetivos quando da afinação dos equipamentos.

Para as seguintes informações levou-se em consideração a presença dos dados não

importando se estarão dentro ou fora dos blocos: número de identificação do aparelho, ângulo

de facho de abertura ou tipo do aparelho, canal de mesa, dimmer ou circuito elétrico, filtro de

cor, potência, peso, afinação do aparelho, acessórios.

Particularmente as PAR64 possuirão indicação de posição do filamento? O filamento da

PAR64 pode ser girado 360º em volta de seu eixo.

As informações estarão somente no sentido da leitura da folha ou em vários sentidos que

podem ser reposicionados girando-se a folha?

Os mapas possuirão legenda indicando os vários elementos componentes utilizados no mapa

de iluminação?

Haverá a presença de carimbo?

Quais destas informações serão encontradas no carimbo: nome do artista, nome do espetáculo,

local de apresentação, datas das apresentações, nome do projetista, datas de confecção do

projeto, versão do projeto, número total de folhas contendo os mapas do projeto, número do

mapa?

6. Método adotado

Utilizou-se a análise qualitativa através de uma pesquisa documental de mapas de luz

propiciando que os mesmos pudessem ser reexaminados segundo uma ótica complementar a

do presente estudo.

Para tanto foram coletadas 450 representações gráficas de projetos de iluminação cênica

confeccionadas por profissionais atuantes no mercado nas áreas do teatro, dança e espetáculos

musicais.

Os mapas de luz foram obtidos em empresas locadoras de equipamento de Iluminação Cênica

ou recolhidos na internet, durante o ano de 2011 e 2012.

Representação Gráfica de Projetos de Iluminação Cênica no Brasil Janeiro/2013

Para a análise utilizou-se 10% das representações totalizando uma amostra de 45 mapas

escolhidos ao acaso.

Como os iluminadores cênicos costumam trabalhar com mais de um artista poder-se-ia

incorrer em erro tabulando duas ou mais vezes a mesma forma de representação, considerou-

se somente o primeiro mapa coletado de cada profissional para a análise dos dados.

Investigaram-se as informações contidas ou ausentes em cada mapa de luz da amostra

utilizando o questionário na tabela 2 a seguir:

Artista:

Iluminador:

Mapa número:

sim

não

Mapas de Luz

O mapa está em planta-baixa?

Escala

O mapa está em escala?

O mapa possui cotas?

Denominação dos diversos compartimentos seccionados

Há indicação do local do palco no mapa de luz?

Há indicação do local da plateia no mapa de luz?

Indicação da cota do corte

A altura usada pelo iluminador para fazer o corte está indicada?

O projeto está dividido em mapa aéreo e de piso?

Indicação das cotas de nível acabado

O mapa contém a indicação das cotas de nível acabado do piso do palco?

Indicação das cotas verticais

Há indicação de cotas verticais?

Sistema estrutural

Há indicação de sistema estrutural?

O sistema estrutural possui indicação de cota?

Simbologias de representação gráfica - símbolos

Os símbolos estão inseridos precisamente com indicação de cotas?

Os símbolos (blocos) tem relação de semelhança com o aparelho real?

Existem blocos rotacionados em ângulos diferentes de 0º, 90º, 180º ou 270º?

Informações contidas nos símbolos

Os blocos contém indicação de número de identificação do aparelho?

Os blocos contém indicação de ângulo de facho ou tipo?

Os blocos contém indicação de canal de mesa, dimmer ou circuito elétrico?

Os blocos contém indicação de filtro?

Os blocos contém indicação de potência do aparelho?

Os blocos contém indicação de peso do aparelho?

Os blocos contém indicação de afinação do aparelho?

Os blocos contém indicação de acessórios?

As PAR64 possuem indicação de posição do filamento?

Caligrafia técnica nos blocos

As informações estão somente no sentido da leitura da folha?

Notas gerais, desenhos de referência e carimbo

Possui legenda?

Possui carimbo?

Consta nome do artista?

Consta nome do espetáculo?

Representação Gráfica de Projetos de Iluminação Cênica no Brasil Janeiro/2013

Consta local de apresentação?

Constam datas das apresentações?

Consta nome do projetista?

Consta data de confecção do projeto?

Consta versão do projeto?

Consta número total de mapas no projeto?

Consta número do mapa?

Consta tipo de meio para confecção do mapa?

Consta nome do arquivo eletrônico que guardará o mapa?

Tabela 2 – análise de mapas de iluminação cênica.

Fonte: o autor, 2012.

7. Análise dos Resultados

Analisando-se o conjunto dos mapas verificou-se que nenhum possui exatamente as mesmas

características de outro, ou seja, a distribuição da presença de parte das 37 características nos

mapas não se dá de forma homogênea demonstrando que não há padrão nos mapas avaliados.

Tabulou-se os resultados quantitativos das perguntas investigadas através de duas tabelas.

A tabela 3 a seguir mostra a quantidade de mapas contendo determinado número de

características encontradas nos mapas e o respectivo percentual.

Número de características quantidade percentual do total

1 0 0

2 0 0

3 1 2,7

4 0 0

5 2 5,4

6 1 2,7

7 2 5,4

8 3 7,1

9 3 7,1

10 7 17,9

11 3 7,1

12 7 17,9

13 3 7,1

14 2 5,4

15 3 7,1

16 2 5,4

17 3 7,1

18 1 2,7

19 1 2,7

20 1 2,7

21 a 37 0 0

Tabela 3 - número de informações presentes nos mapas.

Fonte: o autor, 2012

Representação Gráfica de Projetos de Iluminação Cênica no Brasil Janeiro/2013

A distribuição das características presentes em cada mapa demonstra a diferença de

pensamento, de necessidades específicas ou de conhecimento dos iluminadores que

confeccionaram os mapas.

Verificou-se que a concentração da maior parte dos mapas, totalizando 17, se dá na zona que

contempla entre 10 e 12 destas informações mas nem sempre são as mesmas características

encontradas nestes projetos.

Constatou-se que nenhum dos mapas possui mais que 20 características contempladas e que

acima de 18, ou seja acima da metade do número de informações contempladas somente há 3

mapas, 7% do total aproximadamente.

Apurou-se que um dos mapas só possui 2,7% das informações consideradas primordiais

representadas tornando a montagem deste projeto um exercício de imaginação praticamente

inviável.

Procurou-se investigar os mapas através do mesmo instrumento da tabela 2 e tabulou-se, sob

outra ótica, as características pesquisadas individualmente.

Na tabela 4 encontra-se o total de respostas "sim" para cada uma das informações que buscou-

se encontrar nos mapas e os percentuais relativos aos 45 mapas analisados.

Características dos mapas quantidade de "sim" percentual

Os mapas estão em planta-baixa? 42 93

Os mapas estão em escala? 17 37

Os mapas possuem cotas? 20 44

Há indicação do local do palco nos mapas de luz? 15 33

Há indicação do local da plateia nos mapas de luz? 4 8

A altura usada pelos iluminadores para fazer o corte está indicada? 3 6

Os projetos estão divididos em mapa aéreo e de piso? 10 22

Os mapas contém a indicação das cotas de nível acabado do piso do palco? 0 0

Há indicação de cotas verticais? 7 15

Há indicação de sistema estrutural? 42 93

Os sistemas estruturais possuem indicação de cota? 11 24

Os símbolos estão inseridos precisamente com indicação de cotas? 0 0

Os símbolos (blocos) tem relação de semelhança com o aparelho real? 22 48

Existem blocos rotacionados em ângulos diferentes de 0º, 90º, 180º ou 270º? 20 44

Os blocos contém indicação de número de identificação do aparelho? 1 2

Os blocos contém indicação de ângulo de facho ou tipo? 22 48

Os blocos contém indicação de canal de mesa, dimmer ou circuito elétrico? 29 64

Os blocos contém indicação de filtro? 33 73

Os blocos contém indicação de potência do aparelho? 0 0

Os blocos contém indicação de peso do aparelho? 0 0

Os blocos contém indicação de afinação do aparelho? 2 4

Os blocos contém indicação de acessórios? 2 4

As PAR64 possuem indicação de posição do filamento? 0 0

As informações estão somente no sentido da leitura da folha? 25 55

Possuem legenda? 29 64

Possuem carimbo? 32 71

Consta nome do artista? 34 75

Consta nome do espetáculo? 28 62

Consta local de apresentação? 13 28

Constam datas das apresentações? 8 17

Consta nome do projetista? 33 73

Constam datas de confecção do projeto? 4 8

Representação Gráfica de Projetos de Iluminação Cênica no Brasil Janeiro/2013

Consta versão do projeto? 2 4

Consta número total de mapas no projeto? 2 4

Consta número dos mapas? 3 6

Consta tipo de meio para confecção do mapa? 5 11

Consta nome do arquivo eletrônico que guardará cada um dos mapas? 3 6

Tabela 4 - informações contidas na representação gráfica de projetos de Iluminação Cênica no Brasil. Fonte: o autor, 2012

Conforme se pode observar na tabela 4 acima se confirmou que a maior parte dos

iluminadores, no Brasil, utiliza a planta-baixa como forma de representar graficamente os

projetos de iluminação cênica, embora nem sempre este mapa esteja em escala e; quando está,

muitas vezes não existe a indicação da mesma.

Em geral aqueles feitos por computador estão em escala pelo fato de que o arquivo de saída

do programa contempla uma escala, mas em poucos casos está claramente indicada.

Em alguns mapas encontraram-se representações em 3D, vistas frontais ou vistas laterais para

auxiliar na compreensão dos mesmos.

Poucos mapas possuem cotas gerais, quando ocorre está no sistema métrico e em metros e

denota a preocupação com as dimensões e localização dos elementos no mapa para auxiliar a

montagem real dos aparelhos. Para este item não existe um padrão gráfico.

Em um dos mapas encontrou-se indicação de medidas para toda a extensão do palco, no eixo

y (profundidade) e no eixo x (comprimento). As coordenadas no eixo x continham números

positivos a esquerda do centro e negativos a direita do mesmo de quem olha da plateia.

Boa parte dos mapas possui indicação do palco, no entanto poucos indicam a posição da

plateia. Aparentemente os iluminadores confeccionam os mapas julgando que ao representá-lo

no sentido da visão desde a plateia automaticamente definem o posicionamento da mesma.

Quase nenhum mapa indica a altura usada para fazer o corte. Em três mapas conseguiu-se

deduzir esta altura somente pelo fato de incluírem a informação do pé-direito pretendido. Em

um dos mapas encontrou-se a expressão pé-direito para indicar que a altura a serem colocadas

as varas de luz é a máxima permitida pelo pé-direito do local.

Com relação à divisão em mapa aéreo e de piso somente 1/4 dos projetos encontra-se dividido

desta forma, outro 1/4 contém representação no mesmo mapa e metade não possui aparelhos

no chão, portanto não carecem desta divisão.

Em nenhum dos mapas constatou-se a presença das cotas do nível acabado do palco o que

sugere que a referência a ser utilizada é o próprio piso do palco ou que os iluminadores não

saibam da importância deste dado.

Em pouquíssimos mapas há a indicação de cotas verticais e quando isto ocorre, na maior parte

das vezes dá-se nos mapas de piso para indicar colocação de moving lights em cima de pilares

(pirulitos). Encontrou-se raramente vistas frontais ou laterais para auxiliar na compreensão

das alturas em que os aparelhos estão colocados.

A representação das estruturas de sustentação dos aparelhos está presente na quase totalidade

dos mapas de luz, mas somente em 1/4 deles está cotada.

Em nenhum dos mapas analisados há cotas para a inserção dos símbolos que representam

aparelhos, ou seja, não há a intenção (ou necessidade?) de transmitir a informação de onde

exatamente o aparelho deve ser colocado e parece que centímetros de diferença não irão

alterar o resultado almejado.

Representação Gráfica de Projetos de Iluminação Cênica no Brasil Janeiro/2013

Os símbolos utilizados são os mais variados através de desenhos artísticos criados pelo

próprio iluminador até a representação em escala dos aparelhos inseridos nos mapas.

Quase metade dos mapas possui algum aparelho rotacionado, principalmente os que tem

descrição de afinação dos aparelhos, o que talvez demonstre porque o interesse do iluminador

em girar os símbolos.

Das informações contidas no bloco as que mais aparecem nas representações são ângulo do

facho de abertura, canal de mesa e filtro.

A indicação para os aparelhos muitas vezes não estão presentes nos símbolos, somente na

legenda ou em documento a parte.

Os filtros aparecem indicados das mais diversas formas: somente por números, por nomes de

cores abreviados, através da inicial do fabricante seguida do número do filtro ou colorindo os

aparelhos na legenda e no mapa.

Nenhum iluminador colocou número de identificação do aparelho o que vai no caminho

contrário à novíssima tecnologia utilizada nos modernos consoles de iluminação que

permitem fixture exchange, ou seja, quando há troca de aparelho eletrônico não se perde a

programação dos efeitos de luz pois estão baseadas no seu ID. Além disto a identificação faz

com que o mesmo aparelho, aparecendo em um corte ou uma vista explicativa, não seja

montado duas vezes.

Em dois mapas encontraram-se informações por escrito em função do iluminador, ao usar um

software, ter copiado e espelhado o aparelho junto com os caracteres nele contidos.

Potência, peso, afinação e acessórios dos aparelhos são raramente indicados na planta, quando

isto ocorre são vinculados à legenda ou à lista de equipamento.

Nenhum dos iluminadores julga que a informação do posicionamento do filamento das

PAR64 seja importante constar no mapa de luz para a montagem e, deste modo, os refletores

somente terão a posição da lâmpada definida na afinação dos aparelhos.

Metade dos mapas possui as informações no sentido de leitura da folha.

A legenda, encontrada em locais variados entre os mapas amostrados, está presente em 64%

das plantas indicando que a maior parte dos iluminadores faz uso desta importante referência,

porém 36% dos profissionais julgam que a simples representação dos aparelhos é suficiente

para a compreensão do projeto de iluminação.

Para referir-se à legenda encontraram-se os termos gabarito, chave e o termo key em inglês.

Os carimbos nem sempre estão representado por um quadro com as informações pertinentes,

muitas das vezes a informação está estampada na folha em locais variados.

O nome do artista e o nome do projetista têm alto índice de presença nos mapas de luz, seja

através de grafia normal, logotipo artístico, através de carimbo pequeno ou como plano de

fundo da folha.

O nome do espetáculo consta em menor percentual.

Muitas vezes encontrou-se, principalmente no caso de espetáculos musicais, o ano da turnê

(turnê 2011, por exemplo) e não o nome do espetáculo, CD ou DVD referente ao espetáculo.

Chamou a atenção o fato de que existem muitos erros de nomenclatura dos aparelhos, filtros,

acessórios e estruturas.

Outro dado alarmante é a presença de email e telefone do iluminador para contatos

esclarecedores: "Em caso de dúvidas ligar para...". Antecipadamente os iluminadores parecem

saber que vai haver discrepâncias no entendimento do mapa de luz, mas não tem ciência exata

de aonde isto ocorrerá pois, caso contrário, resolveriam o problema na sua planificação.

Representação Gráfica de Projetos de Iluminação Cênica no Brasil Janeiro/2013

8. Conclusão

Os objetivos de verificar quais informações estão contidas nos mapas de luz para a

representação gráfica de projetos de iluminação cênica no Brasil e se há uniformidade nos

mesmos foram alcançados.

Os resultados indicaram que não há uma uniformidade na forma de representar graficamente a

montagem dos equipamentos de iluminação cênica no Brasil.

A distribuição desorganizada de elementos coincide o pensamento de autores como Warfel e

Moody, citados neste estudo.

Não obstante teria sido de extrema valia dispor de mais tempo e meios para aprofundar esta

análise aumentando a quantidade de mapas analisados bem como acrescendo o número de

características pesquisadas o que proporcionaria uma visão mais ampla desta forma de

representação gráfica.

Verificou-se que um estudo comparativo com mapas de luz feitos em outros países expandiria

nossa visão a respeito do assunto e talvez trouxesse uma proposta de soluções para os

problemas encontrados.

Tendo em vista a importância de uma uniformidade na comunicação dos desenhos técnicos na

área da Iluminação Cênica no Brasil, conclui-se que há a necessidade do desenvolvimento de

um estudo mais aprofundado com vistas à padronização da representação gráfica dos mapas

de luz em nosso país.

9. Referências

ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 6492 - Representação de Projetos

de Arquitetura. Rio de Janeiro: ABNT, 1994.

BRASIL. Ministério do Trabalho. Lei número 6.533, de 24 de maio de 1978. Brasília, 1978a

BRASIL. Ministério do Trabalho. Decreto lei 82.385, de 5 de outubro de 1978. Brasília,

1978b

BRASIL. Quadro Anexo ao Decreto nº 82.385, de 5 de outubro de 1978 - títulos e

descrições das funções em que se desdobram as atividades de artistas e técnicos em

espetáculos de diversões. Brasília, 1978c

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Janeiro: Funarte, Centro Técnico de Artes Cênicas, 2003.

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Representação Gráfica de Projetos de Iluminação Cênica no Brasil Janeiro/2013

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